Você está na página 1de 7

Departamento de Matemática

ÁLGEBRA LINEAR

RESOLUÇÃO DO EXAME PARA PRATICAR

LMAC E LEFT

(1) Seja V o espaço vetorial dos polinómios reais de grau ≤ 3.


(a) Mostre que o conjunto B = {1 − t + t3 , 2 + 3t2 − t3 , 2 + 3t + 4t2 , 1 − 5t + 2t2 } é
uma base para V .
(b) Determine a matriz de mudança de coordenadas da base B para a base
B 0 = (t2 , t, 1, t3 ).
(c) Determine a terceira coordenada do vetor t3 na base B.
Resolução:
(a) Os coeficientes de uma combinação linear nula dos elementos de B
correspondem a um elemento do núcleo de
     
1 2 2 1 1 2 2 1 1 2 2 1
 −1 0 3 −5  L2 +L1  0 2
  −→  5 −4  − 32 L2  0 2
 L3−→ 5 −4 
2  L4 + 2 L2  0 0 − 72 8 
 
 0 3 4 2  L4 −L1  0 3 4 3

1 −1 0 0 0 −3 −2 −1 0 0 11 2
−7
Claramente a última matriz tem caracterı́stica 4, logo o núcleo é trivial.
Conclui-se que o conjunto B é linearmente independente. Como R4 tem
dimensão 4 e B tem 4 elementos, B é necessariamente uma base.
(b) As colunas da matriz SB→B 0 são dadas pelas coordenadas dos elementos da base
B na base B 0 logo
 
0 3 4 2
 −1 0 3 −5 
SB→B 0 = 
 1

2 2 1 
1 −1 0 0
−1
(c) Trata-se da entrada 34 de SB→B 0 logo a resposta é

0 3 2
−1 0 −5
1 2 1 0 − 15 − 4 − 0 + 3 − 0
(−1)4+3 = −
0 3 4 2 3 4 2 0 4 2
−1 0 3 −5 (−1)4+1 0 3 −5 + (−1)4+2 · (−1) · −1 3 −5
1 2 2 1 2 2 1 1 2 1
1 −1 0 0
−16
= −
−(9 − 40 + 0 − 12 − 0 + 30) − (0 − 20 − 4 − 6 + 4 + 0)
16
=
39

(2) Calcule o determinante do endomorfismo T : R4 → R4 determinado pelas seguintes


condições
• O espaço próprio de 2 é gerado por (1, 3, −1, 1) e (0, 2, −1, 0).
• T (0, 0, 1, 0) = (1, 3, −1, 1) e T (0, 0, 0, 1) = (1, 2, 1, 1).
T é um isomorfismo? Justifique.
Resolução: O vetor (1, 3, −1, 1) − 2(0, 0, 1, 0) = (1, 3, −3, 1) pertence ao núcleo de T
logo T não é um isomorfismo. O determinante é portanto igual a zero.
Resolução alternativa: O conjunto
B = ((1, 3, −1, 1), (0, 2, −1, 0), (0, 0, 1, 0), (0, 0, 0, 1)) é uma base para R4 (uma matriz
com linhas formadas pelos vetores de B está em escada de linhas). As coordenadas
de (1, 2, 1, 1) nesta base acham-se resolvendo o sistema
   
1 0 0 0 | 1 1 0 0 0 | 1
 3
 2 0 0 | 2   L2−→ −3L1  0 2 0 0 | −1 
 
 −1 −1 1 0 | 1  L3 +L1 ,L4 −L1  0 −1 1 0 | 2 
1 0 0 1 | 1 0 0 0 1 | 0
 
1
 −1 
Que tem como solução [(1, 2, 1, 1)]B =  2 
 3 . Conclui-se que nesta base, a
2
0
transformação linear T é representada por
 
2 0 1 1
 0 2 0 −1 
AT,B,B =  2 
 0 0 0 3 
2
0 0 0 0
Temos det(T ) = det AT,B,B = 0 pelo que T não é invertı́vel e portanto não é um
isomorfismo.

(3) Mostre ou dê um contra-exemplo para a seguinte afirmação: O produto de duas


matrizes n × n simétricas
  é uma
 matriz
 simétrica.

0 1 1 1 1 2
Resolução: = não é simétrica.
1 0 1 2 1 1

(4) Seja V = F (N, R) o espaço vetorial das sucessões de números reais. Seja T : V → V a
função definida por T (un ) = un+1 (Por exemplo T ( n1 ) = n+1
1
).
(a) Mostre que T é uma transformação linear.
(b) Determine os valores e vetores próprios de T . T é diagonalizável?
(c) Determine a solução geral da equação linear T 3 (un ) = 4n − 2 · 9n .
Resolução:
(a) Sejam α, β ∈ R e (un ), (vn ) ∈ V . Temos
T ((αu + βv)n ) = (αu + βv)n+1 = αun+1 + βvn+1 = αT (un ) + βT (vn )
logo T é uma transformação linear.
(b) T (un ) = λun ⇔ un+1 = λun para todo o n ≥ 1. Isto acontece se e só se
un = λn−1 u1 é uma progressão geométrica de razão λ. Conclui-se que todos os
número reais são valores próprios de T e os vetores próprios de λ são as
progressões geométricas (não nulas) de razão λ.
T não é diagonalizável porque a sucessão n! não pertence à expansão linear dos
vetores próprios de T (cresce muito mais depressa do que qualquer combinação
linear de progressões geométricas).
(c) Uma vez que 4n e 9n são vetores próprios de T 3 associados aos valores próprios
43 e 93 respetivamente, uma solução particular desta equação linear é a sucessão
4−3 4n − 2 · 9−3 9n . O núcleo de T 3 é o conjunto das sucessões (un ) tais que
un+3 = 0 para todo o n ≥ 1, logo o conjunto das soluções da equação é
{un ∈ V : un = 4n−3 − 2 · 9n−3 para n ≥ 4}
(sendo u1 , u2 , u3 quaisquer).

(5) Considere em M2×2 (R) o produto interno definido por hA, Bi = tr(At B). Seja
T : M2×2 (R) → M2×2 (R) o endomorfismo definido por
 
1 −1
T (A) = A
2 −2
 
1 1
(a) Determine a distância da matriz à imagem de T .
2 1
(b) Existe alguma
 matriz na imagem de T que faça um ângulo de π4 com a matriz
1 1
? Justifique.
2 1
Resolução:
(a) Como
    
x y 1 −1 x + 2y −x − 2y
=
z w 2 −2 z + 2w −z − 2w
a imagem de T é o conjunto
 
a −a
{ : a, b ∈ R}
b −b
   
1 −1 0 0
Uma base para Im T é portanto dada por , . O produto
0 0 1 −1
interno dado corresponde ao produto interno usual em R4 mediante a
4
identificação das matrizes 2 × 2 com
 vetores de R logo a base acima é ortogonal.
1 1
A projeção ortogonal de sobre Im(T ) é dada por
2 1
       
1 −1 1 1 0 0 1 1
h , i  h , i
0 0 2 1 1 −1 2 1

1 −1 0 0
+
0 0 1 −1
   
1 −1 0 0
k k2 k k2
0 0 1 −1
   
1 −1 0 0
= 0 + 21
0 0 1 −1
e portanto a distância pretendida é
    r r
1 1 0 0 9 9 13
k − 1 1 k= 1+1+ + =
2 1 2
−2 4 4 2
   
a −a 1 1
(b) O coseno do ângulo de uma matriz na imagem de T com é
b −b 2 1
dado por
   
a −a 1 1
h , i
b −b 2 1 b b 1
    =√ √ =√ √
a −a 1 1 2 2
2a + 2b 7 2 2
a + b 14
k kk k
b −b 2 1
Como | √a2b+b2 | ≤ 1, esta quantidade não pode ser igual a √12 = cos π4 e portanto
não existe nenhuma matriz na imagem de T satisfazendo a condição requerida.

(6) Seja T : C4 → C4 a transformação linear definida por


T (x, y, z, w) = (3y − 2z − 2w, −x + 2y − 2z − w, −x + y − 2z − w, −y + 2z + 2w)
(a) Determine a forma canónica de Jordan de T e uma base com respeito à qual T
fica em forma canónica de Jordan.
(b) Indique os valores de k para os quais T k é diagonalizável.
Resolução:
(a) Os valores próprios de T são os valores de λ para os quais a caracterı́stica da
seguinte matriz não é máxima
   
−λ 3 −2 −2 0 3 − λ −2 + λ2 + 2λ λ − 2
 −1 2 − λ −2 −1  −λL3  0 1−λ λ 0 
  L1−→  
 −1 1 −2 − λ −1  L2 −L3  −1 1 −2 − λ −1 
0 −1 2 2−λ 0 −1 2 2−λ
 
0 0 λ2 + 4 (2 − λ)2
L2 +(1−λ)L4  0 0 2 − λ (1 − λ)(2 − λ) 
−→  
L1 +(3−λ)L4  −1 1 −2 − λ −1 
0 −1 2 2−λ
Conclui-se que o polinómio caracterı́stico de T é
p(λ) = (λ2 + 4)(1 − λ)(2 − λ) − (2 − λ)3
= (2 − λ)(−λ3 + λ2 − 4λ + 4 − (4 − 4λ + λ2 )) = −(2 − λ)λ3
Portanto os valores próprios de T são 0 e 2 com multiplicidades algébricas 3 e 1
respetivamente. Os vetores próprios de 0 são os elementos não nulos do núcleo
da matriz
  
0 0 4 4 a

 0 d = −c

 0 2 2  b 
  = 0 ⇔ b = 0
 −1 1 −2 −1   c  
a = −2c − d = −c
0 −1 2 2 d
Conclui-se que a multiplicidade geométrica de 0 é 1, pelo que a forma canónica
de Jordan de T é
 
0 1 0 0
 0 0 1 0 
(1) 
 0

0 0 0 
0 0 0 2
Uma cadeia de Jordan correspondente ao vetor próprio v1 = (1, 0, −1, 1) de 0,
isto é vetores v2 e v3 tais que Av2 = v1 e Av3 = v2 obtém-se resolvendo
    
0 3 −2 −2 a 1
 −1 2 −2 −1   b   0 
 −1 1 −2 −1   c  =  −1 
    
0 −1 2 2 d 1
Por inspecção vemos que v2 = (0, 1, 1, 0) é uma solução e então, claramente,
v3 = (−1, 0, 0, 0) é uma solução de Av3 = v2 . Finalmente, para achar um vetor
próprio v4 de λ = 2 resolvemos o sistema
  
0 0 8 0 a

 0 c = 0

 0 0 0 
 b  = 0 ⇔ b = 0
 
 −1 1 −4 −1   c  
a + d = 0
0 −1 2 0 d
Conclui-se que uma base com respeito à qual T está na forma canónica de
Jordan (1) é B = ((1, 0, −1, 1), (0, 1, 1, 0), (−1, 0, 0, 0), (1, 0, 0, −1)).
(b) Na base B determinada na alı́nea anterior, T k calcula-se elevando cada bloco de
Jordan à potência k. Para k ≥ 3, temos
 
0 0 0 0
 0 0 0 0 
AT k ,B,B = 
 0 0 0 0 

0 0 0 2k
logo T k é diagonalizável. Como já vimos, T não é diagonalizável. Uma vez que
 
0 0 1 0
 0 0 0 0 
AT 2 ,B,B = 
 0 0 0 0 

0 0 0 2k
a multiplicidade algébrica do valor próprio 0 é 3 para T 2 , mas a multiplicidade
geométrica (a dimensão do núcleo de T 2 ) é apenas 2. Logo T 2 não é
diagonalizável. Conclui-se que T k é diagonalizável se e só se k ≥ 3.

(7) Enuncie o Teorema Espectral.


Resolução: Teorema Espectral: Seja V um espaço vetorial real ou complexo de
dimensão finita, com produto interno, e T : V → V uma transformação linear. Se T é
unitária, auto-adjunta ou anti-adjunta no caso complexo, ou auto-adjunta no caso
real, então T é diagonalizável por uma base ortogonal de V .

(8) Seja A uma matriz m × n complexa e A = U1 DU2 uma decomposição em valores


singulares para A. Ache uma decomposição em valores singulares para a matriz AT .
Resolução: Temos AT = U2T DT U1T . Por definição de transposição, as únicas
entradas não nulas de DT são os valores singulares de A ao longo da diagonal por
ordem decrescente. Resta apenas ver que a transposta de uma matriz unitária é
ainda unitária:
(U T )∗ (U T ) = (U ∗ )T U T = (U U ∗ )T = I T = I

(9) Seja f : Rn → R uma forma quadrática e 0 ≤ r ≤ n, 0 ≤ s ≤ n respetivamente o


número de valores próprios positivos e negativos da matriz simétrica associada a f .
O par (r, s) chama-se a assinatura de f .
(a) Mostre que se a assinatura de f é (r, s) existe uma base B para Rn tal que,
escrevendo (y1 , . . . , yn ) para as coordenadas de v ∈ Rn na base B, temos
2
f (v) = y12 + . . . + yr2 − yr+1 2
− . . . − yr+s
para todo o v ∈ Rn .
(b) Mostre que se f e g são duas formas quadráticas com a mesma assinatura então
existe um isomorfismo φ : Rn → Rn tal que g ◦ φ = f .
(c) Mostre que se a assinatura é (r, 0) então com respeito a bases como na alı́nea
(a), qualquer isomorfismo como na alı́nea (b) é representado por uma matriz da
forma  
A 0
C D
com A uma matriz r × r ortogonal e D uma matriz (n − r) × (n − r) invertı́vel.
Sugestão: Considere a função bilinear (v, w) 7→ f (v + w) − f (v) − f (w)
associada a uma forma quadrática f .
Resolução:
(a) Seja A a matriz n × n simétrica tal que f (v) = v T Av. Pelo Teorema espetral
existe uma matriz ortogonal S tal que A = SDS T com
 
λ1 0 ··· 0
.. 
 0 ...

 . 0 . 
.

D =  .. 0 λr+s . .
 

 ... 

 0 0 

..
0 ··· 0 .
onde λ1 , . . . , λr > 0 e λr+1 , . . . λr+s < 0 são os valores próprios de A. Seja S 0 a
matriz
p que se obtém de S dividindo as colunas de ı́ndice i = 1, . . . , r + s por
|λi | (mantendo as restantes colunas inalteradas). Então

 1
···

0 0
|λ1 |
 .. .. 
 0
 . 0 . 

 . .
0T . .

S S= . 0 √ 1 . 
 |λr+s | 
..
 

 . 1 0 

...
0 ··· 0
Seja B a base formada pelas colunas de S 0 . Sendo y = [v]B temos v = S 0 y e então
f (v) = v T Av = y T S 0T SDS T S 0 y = y T (S 0T S)D(S 0T S)T y
A matriz
(2) Λ = (S 0T S)D(S 0T S)
é diagonal, tendo como i-ésima entrada da diagonal

1
 se 1 ≤ i ≤ r
√1 λi √1 = −1 se r + 1 ≤ i ≤ r + s
|λi | |λi | 
0 se i ≥ r + s + 1
Logo f (v) = y T Λy = y12 + . . . + yr2 − yr+1
2 2
− . . . − yr+s como requerido.
n
(b) Sejam B1 e B2 bases de R com respeito às quais f, g respetivamente têm a
forma da alı́nea (a). Seja φ : Rn → Rn o isomorfismo que envia o i-ésimo vetor
da base B1 no i-ésimo vetor da base B2 . Então φ induz a identidade em
coordenadas:
[φ(v)]B2 = [v]B1
Logo, usando a notação (2) temos
g(φ(v)) = [φ(v)]TB2 Λ[φ(v)]B2 = [v]TB1 Λ[v]B1 = f (v).
(c) Se f (v) = v T Av com A simétrica então
B f (v, w) = f (v + w) − f (v) − f (w) = (v + w)T A(v + w) − v T Av − wT Aw = v T Aw + wT Av
= v T Aw + v T AT w = v T Aw + v T Aw = 2v T Aw
(onde na terceira igualdade usámos que uma matriz 1 × 1 é igual à sua
transposta) é uma função bilinear. Na base B1 esta função bilinear é
representada pela matriz 2Λ, isto é
B f (v, w) = 2[v]TB1 Λ[w]B1
e analogamente
B g (v, w) = 2[v]TB2 Λ[w]B2
Seja φ : Rn → Rn um isomorfismo tal que g(φ(v)) = f (v) para todo o v ∈ Rn .
Então temos também B g (φ(v), φ(w)) = B f (v, w) e portanto
[φ(v)]TB2 Λ[φ(w)]B2 = [v]TB1 Λ[v]B2
para todos os v, w ∈ Rn . Escrevendo [φ(x)]B2 = Aφ,B1 ,B2 [x]B1 obtemos
(3) ATφ,B1 ,B2 ΛAφ,B1 ,B2 = Λ
Podemos escrever as matrizes na equação anterior por blocos como
   
A B I 0
Aφ,B1 ,B2 = Λ=
C D 0 0
onde, para escrever Λ, usámos o facto de as assinaturas de f e g serem (r, 0) (os
blocos no canto superior esquerdo são r × r). A equação (3) fica então
 T     
A CT I 0 A B I 0
=
B T DT 0 0 C D 0 0
 T T
   
A C A B I 0
=
B T DT 0 0 0 0
 T   
A A AT B I 0
=
BT A BT B 0 0
Logo B T B = 0 ⇒ B = 0, o que por sua vez implica que B T A = AT B = 0. A
condição AT A = I diz precisamente que A é uma matriz r × r ortogonal.
Conclui-se que  
A 0
Aφ,B1 ,B2 =
C D
com A ortogonal, e uma vez que φ é invertı́vel, a matriz D tem de ser invertı́vel.

Você também pode gostar