Você está na página 1de 121

2023

COMISSÃO ORGANIZADORA

Adailton Junior Costa Magalhães Marcos Rafael Andrade de Melo


Ana Clara Alves Ramos Maria de Fátima Batista Vieira
Ana Cláudia Costa Pereira Natan Magalhães Silva
Bárbara Dezembrina Barros da Silva Gabriel de Assis Rodrigues

COORDENADORA
Raquel Machado Gonçalves Campos Salomon

APOIO
Faculdade de História
FUNAPE - Fundação de Apoio à Pesquisa - UFG
Programa de Pós-Graduação em História
Universidade Federal de Goiás
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO..................................................................................................................11

SIMPÓSIO TEMÁTICO - A HISTÓRIA ORAL E A LITERATURA COMO FERRAMENTAS TEÓRICA E


METODOLÓGICA NA PESQUISA HISTÓRICA............................................................................................14

O ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: AS INTERAÇÕES ENTRE OS


PROFESSORES DAS ESCOLAS PÚBLICAS REGULARES DE GOIÂNIA E OS ESTUDANTES
COM DEFICIÊNCIA..................................................................................................................................... 14

TANTO BATE ATÉ QUE PEDRA: DA POESIA PARA A CENA, ENTRE MEMÓRIAS DA
REALIDADE CONCRETA E A ENCENAÇÃO DO DEVIR DO IMAGINÁRIO SOCIAL GOIANO.... 14

OCTO MARQUES: TRAJETÓRIA E NARRATIVA DO COTIDIANO DA CIDADE DE GOIÁS NO


SÉCULO XX (1915-1988)...............................................................................................................................15

A PRESENÇA DAS TRADIÇÕES ORAIS EM PESQUISAS DE PROFESSORES/ PESQUISADORES


INDÍGENAS DA LICENCIATURA INTERCULTURAL (UFG).................................................................15

A HISTÓRIA E MEMÓRIA DA IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA NAS CIDADES DE


ANHANGUERA, CUMARI, GOIANDIRA E CATALÃO.......................................................................... 16

FORMAÇÃO DE SINDICATOS DE TRABALHADORES RURAIS NO PRÉ E NO PÓS GOLPE DE


1964, O QUE DIZEM OS JORNAIS?.......................................................................................................... 17

PONTOS DIACRÍTICOS E SUAS FRONTEIRAS: HISTÓRIA E MANUTENÇÃO CULTURAL DE


UMA COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA NO CAMPO DAS VERTENTES............ 17

A HISTÓRIA ORAL COMO MÉTODO APLICADO NA COMPREENSÃO DA PROSTITUIÇÃO NO


NORTE DO TOCANTINS........................................................................................................................... 18

A HISTÓRIA ORAL COMO FERRAMENTA DE ESCUTA E ANÁLISE DOS DISCURSOS,


PERFORMANCES E SUBJETIVIDADES DE MULHERES TRANS DE ARAGUAÍNA-TO................. 19

"DOM E DOCÊNCIA, PRESENTE!": DISCURSOS SIMBÓLICOS E OS SENTIDOS DO OFÍCIO


DOCENTE NAS MEMÓRIAS E NARRATIVAS DE PROFESSORAS.....................................................19

EM BUSCA DOS ATORES E DA IDENTIDADE DO PT DE GOIÂNIA: DIÁLOGOS


ENTRE TRAJETÓRIA PARTIDÁRIA E RELATO PESSOAL........................................... 20
SIMPÓSIO TEMÁTICO - A IDADE MÉDIA E A IDADE MODERNA EM PERSPECTIVA:
REFLEXÕES SOBRE CULTURA E SOCIEDADE................................................................21
DIOGO DO COUTO (1542-1616), CRONISTA E GUARDA-MOR DA CASA DO TOMBO
DE GOA, E SUA INTERPRETAÇÃO SOBRE O ESTADO PORTUGUÊS DA ÍNDIA...... 21
SAÚDE E BELEZA: A COSMÉTICA COMO PRÁTICA FEMININA (SALERNO-
SÉCULOS XI E XII)..........................................................................................................21
“AN PAPA POTEST ERRARE?”: AS INTERPRETAÇÕES DE DUAS BULAS PAPAIS
PELOS ESPIRITUAIS FRANCISCANOS (SÉC. XIV)......................................................22
MARSÍLIO FICINO E A QUESTÃO DA MELANCOLIA NO SÉCULO XV....................... 22
SIMPÓSIO TEMÁTICO - A PESQUISA EM HISTÓRIA POR MEIO DAS FONTES
IMPRESSAS E DA IMPRENSA............................................................................................ 23
OS SENTIDOS E USOS DO TERMO “CIDADE HISTÓRICA” NOS PERIÓDICOS O
JORNAL E JORNAL DO BRASIL (1916-1937)................................................................23
A IMPRENSA OITOCENTISTA COMO PORTA-VOZ ABOLICIONISTA: ANDRÉ
REBOUÇAS, JOSÉ DO PATROCÍNIO, JOAQUIM NABUCO E O USO DOS JORNAIS
ANTIESCRAVISTAS (1850-1881).................................................................................... 23
A ESCOLHA DO NEGRO ROQUE E O SEU SILENCIOSO GRITO DE DESESPERO:
UMA HISTÓRIA DE RACISMO ESCONDIDA NO JORNAL DO COMMERCIO (RJ)......24
IMPRENSA HIGIENISTA E ESPETACULARIZAÇÃO DO COMÉRCIO SEXUAL: A ZONA
DO MERETRÍCIO DE CAXIAS DO SUL (RS) NARRADA PELO JORNAL “O PIONEIRO”
(1948-1991)......................................................................................................................25
O JÓQUEI CLUBE DE GOIÁS NAS PÁGINAS DO JORNAL DE NOTÍCIAS (GO).........25
IMPRENSA E GUERRA: O CASO DA QUESTÃO CISPLATINA (RIO DE JANEIRO,
1825-1828)....................................................................................................................... 26
POR DE TRÁS DA PALAVRA IMPRESSA: LIMITES E DESAFIOS DA PESQUISA
HISTÓRICA SOBRE TRAJETÓRIAS NO SÉCULO XIX................................................. 26
DESAFIOS E CUIDADOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA HISTÓRICA EM
PERIÓDICOS ANARQUISTAS: UMA ANÁLISE A PARTIR DO LA VOZ DE LA MUJER
(BUENOS AIRES, 1896-1897).........................................................................................27
“INDEPENDÊNCIA OU MORTE”: INTERPRETAÇÕES DO PASSADO E DO PRESENTE
28
JORNALISMO E POLÍTICA O LIBERALISMO NA REVISTA MAQUIS (1956-1959)...... 28
“CORRE QUE LÁ VEM OS HOME!”: VIOLÊNCIA, ESTADO E MOVIMENTO LGBTIA+
NO BRASIL CONTEMPORÂNEO....................................................................................29
SAMBISTAS NEGROS E SUA (IN)VISIBILIDADE NOS CÂNONES DA CRÍTICA
MUSICAL BRASILEIRA................................................................................................... 30
O MASSACRE DO CARANDIRU (1992) A PARTIR DA IMPRENSA: ANÁLISE DE
COMO OS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E ESTADO DE SÃO PAULO
NARRARAM O MASSACRE............................................................................................30
MARIA GRAHAM E MARIANNE NORTH ATRAVÉS DOS IMPRESSOS BRIT NICOS.. 31
BUSCANDO OS MOTIVOS DOS SILÊNCIOS: REMONTANDO OS DISCURSOS QUE
JUSTIFICAVAM O AFASTAMENTO DAS MULHERES DO MUNDO PÚBLICO E DOS
IMPRESSOS.................................................................................................................... 32
ROMPENDO SILÊNCIOS: O USO DOS IMPRESSOS OFICIAIS COMO FONTE DE
PESQUISA PARA A HISTÓRIA DAS MULHERES..........................................................32
A GUERRA NAS PÁGINAS DO DIÁRIO DE PERNAMBUCO: O ATAQUE ALEMÃO E A
RESISTÊNCIA POLONESA (1939)................................................................................. 33
A AUTORIA EM DEBATE NAS GRAVURAS DE JOHANNES STRADANUS (SÉC. XVI)...
34
DOENÇAS, MORRER E MORTE NA IMPRENSA CEARENSE NO OITOCENTOS.......34
AS MULHERES AS CRIANÇAS MIGRANTES NORDESTINAS NAS
FOTORREPORTAGENS DA REVISTA O CRUZEIRO (1951-1955)............................... 35
O INDEPENDENTE: UM JOVEM AUTOR DE COR DE UM JORNAL MODERADO NA
IMPRENSA CARIOCA (1832-1833).................................................................................35
SIMPÓSIO TEMÁTICO - AJUSTAR PONTEIROS NAS HISTÓRIAS: MULHERES NEGRAS
TECEM NARRATIVAS E DECOMPÕEM SILÊNCIOS..........................................................36
CATARINA E EVA: AS MULHERES ESCRAVIZADAS DA FAMÍLIA DE AZEVEDO E
SOUZA, E SUAS EXPERIÊNCIAS DE BUSCA E CONQUISTA DA LIBERDADE
(PELOTAS, RIO GRANDE DO SUL, 1871-1888)............................................................ 36
OS “ANOS DOURADOS” NA OBRA “QUARTO DE DESPEJO - DIÁRIO DE UMA
FAVELADA”: UMA CONTRA NARRATIVA (1955-60)...................................................... 37
QUANTAS PROFESSORAS NEGRAS VOCÊ JÁ TEVE? MULHERES NEGRAS NA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS: TRAJETÓRIAS E RESISTÊNCIAS.................38
MULHER E NEGRA NO YOUTUBE: UMA ANÁLISE DA REDE DE INTERAÇÃO DO
CANAL “GABI OLIVEIRA”................................................................................................38
SIMPÓSIO TEMÁTICO - BIOGRAFIA, HISTÓRIA E EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA.......... 40
“CRESPOS ESTÃO SE A[R]MANDO”: O USO ICONOGRÁFICO DA VIDA DE
CAROLINA MARIA DE JESUS NAS SALAS DE AULA...................................................40
A INDEPENDÊNCIA PARA ALÉM DA NARRATIVA HEGEMÔNICA: A LUTA DE MARIA
FELIPA OLIVEIRA............................................................................................................40
MULHERES NEGRAS: RELIGIOSIDADE, SOCIABILIDADE, E TRABALHO NA
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX............................................................................41
CÉLIA C MARA: O MECENATO PRIVADO EM GOIÁS (1975-1998)..............................41
AFETOS QUE TRANSGRIDEM: DIÁLOGOS EDUCACIONAIS E IDENTIDADES NO
MUNDO DO DESAMOR.................................................................................................. 42
MEDITAÇÃO: LEMBRANÇAS E SILÊNCIOS NA MEMÓRIA (AUTO)BIOGRÁFICA DE
GONÇALVES DIAS..........................................................................................................42
A CULTURA HIP-HOP COMO AÇÃO INTERVENTORA NA EDUCAÇÃO
ANTIRRACISTA............................................................................................................... 43
JOSÉ ANTÔNIO DE JESUS: A TRAJETÓRIA BIOGRÁFICA DE UM PROFESSOR
NEGRO EM GOIÁS ENTRE 1880 E 1890.......................................................................44
A VIDA E A OBRA DE LIMA BARRETO: PROPOSTAS PARA O ENSINO E A
APRENDIZAGEM EM HISTÓRIA.................................................................................... 44
NA ROTAS DAS REMOÇÕES: BRÁS DE PINA E REFLEXÕES SOBRE HISTÓRIAS DE
VIDA E O ENSINO DE HISTÓRIA................................................................................... 45
ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS NOS 20 ANOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA LEI
10.639/2003..................................................................................................................... 46
SIMPÓSIO TEMÁTICO - ESTUDOS ASIÁTICOS E CULTURAS ORIENTAIS.................... 47
KYOIKU CHOKUGO: A EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DO YAMATO DAMASHII.......... 47
FILHOS DO AMOR: OS “MESTIÇOS” NA OBRA SONHOS BLOQUEADOS.................47
FLEXIBILIZAÇÕES DA IDENTIDADE ÉTNICA E DA CULTURA IMAGÉTICA GREGA
NA ÁSIA CENTRAL: UM ESTUDO DE CONTATOS CULTURAIS NO ORIENTE...........48
SIMPÓSIO TEMÁTICO - FUTEBOL: HISTÓRIA E RACISMO.............................................49
ENTRE O PRESTÍGIO INTERNACIONAL E O RACISMO INSTITUCIONAL: A
POLÍTICA DE CONTRATAÇÃO DE JOGADORES DE FUTEBOL ESTRANGEIROS NA
ESPANHA FRANQUISTA.................................................................................................49
ENTRE O INFERNO E O CÉU: O FUTEBOL COMO PONTO DE PARTIDA PARA A
DISCUSSÃO RACIAL EM SALA DE AULA DO ENSINO BÁSICO................................. 49
NO CAMPO DE PESQUISA: FUTEBOL, LOCOMOÇÃO NA CIDADE E “PIT-DOG”......50
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA E TEORIA DA HISTÓRIA.....50
OS USOS POLÍTICOS DO PASSADO E AS DISPUTAS PELA MEMÓRIA DA
DITADURA MILITAR BRASILEIRA NO BOLSONARISMO..............................................51
A MULTIDIRECIONALIDADE DA MEMÓRIA ENTRE A SHOAH E A DITADURA
MILITAR NA LITERATURA BRASILEIRA........................................................................ 51
HOLOCAUSTO E ESTUDO DE GENOCÍDIOS: DISPUTAS HISTORIOGRÁFICAS...... 51
A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA NÃO-ICÔNICA ENTRE 1970–2001: DINÂMICAS
DO CAMPO A PARTIR DAS PALAVRAS-CHAVE........................................................... 52
MÃOS DE MIDAS: ALEGORIA E NARRATIVA HISTÓRICA EM WALTER BENJAMIN.53
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA DAS AMÉRICAS EM DEBATE: PERTENCIMENTO,
RESISTÊNCIA E DIÁLOGO TRANSNACIONAL................................................................. 53
A EXCEPCIONALIDADE AOS HOMENS EXCEPCIONAIS: UMA ANÁLISE DO RELATO
DE ALVAR NÚÑEZ CABEZA DE VACA...........................................................................53
AS POPULAÇÕES INDÍGENAS NO CONTEXTO DA PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA
DO IHGB NO SÉCULO XIX............................................................................................. 54
A TRAGÉDIA DA PRISCA: ALIANÇA NEGRO-INDÍGENA NO ENFRENTAMENTO AO
COLONIALISMO.............................................................................................................. 54
HISTÓRIA DAS AMÉRICAS E A EDUCAÇÃO BÁSICA: METODOLOGIAS, FORMAÇÃO
DOCENTE E EXPERIÊNCIAS.........................................................................................55
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DAS CIÊNCIAS....................... 55
ESTUDO SOBRE A CONCEPÇÃO DE HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS DE HÉLÈNE
METZGER........................................................................................................................55
A CONCEPÇÃO DE TEMPORALIDADE HISTÓRICA EM MARC BLOCH..................... 56
A HISTÓRIA DOS METEORITOS URUAÇU E CAMPINORTE E A ORGANIZAÇÃO DE
UMA EXPOSIÇÃO DE METEORITOS NA COMUNIDADE ESCOLAR...........................57
PROSTITUIÇÃO E SÍFILIS: DOIS ELEMENTOS DO RACISMO NA COLÔMBIA DE
INÍCIOS DO SÉCULO XX................................................................................................ 58
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA E LITERATURA.......................................................... 59
SUBVERSÕES DO GÊNERO HISTÓRICO DURANTE A GUERRA PENINSULAR: O
ELOGIO DA PLEBE DA NAÇÃO ESPANHOLA (1808)................................................... 59
RECEPÇÃO E DISCUSSÃO DA OBRA “O DEMÔNIO FAMILIAR” (1857) NA
SOCIEDADE E IMPRENSA OITOCENTISTA..................................................................59
AS TEORIAS RACIAIS NA LITERATURA DO SÉCULO XIX.......................................... 60
O ACERVO FUNDACIONAL DO GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA DA BAHIA E
O CONTEXTO DA LITERATURA NACIONAL................................................................. 61
LIA CORRÊA DUTRA (1908-1989) E A LITERATURA BRASILEIRA NAS REVISTAS
NEORREALISTAS PORTUGUESAS NA DÉCADA DE 1930.......................................... 61
IDENTIDADES E AUTENTICIDADES: O SAMBA NOS LIVROS DE SÉRGIO CABRAL....
62
CORDÉIS E O ENSINO DE HISTÓRIA: UMA PROPOSTA ELETRIZANTE...................63
HISTÓRIA E LITERATURA: A INFLUÊNCIA DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL NOS
ROMANCES DE AGATHA CHRISTIE............................................................................. 63
A RECEPÇÃO DA LITERATURA DOS JUDEUS SOBREVIVENTES DOS CAMPOS
PUBLICADA NO BRASIL: O CASO DE INFERNO EM SOBIBOR (1968)...................... 64
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA REGIONAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL –
PROBLEMÁTICAS PARA O PRESENTE.............................................................................64
APRENDIZAGEM HISTÓRICA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL...................................... 64
OS POVOADOS DO OESTE GOIANO NOS RELATOS DE FRANCIS CASTELNAU.... 65
PRESERVAÇÃO DE ASPECTOS URBANOS DA ANTIGA PROVÍNCIA DE SÃO
PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL: ANÁLISE DOS RELATOS DE ARSÉNE ISABELLE.
66
DESFILES ‘CÍVICOS’ EM GOIÂNIA E HEGEMONIA: NAÇÃO E REGIÃO ENSINADAS
NAS RUAS....................................................................................................................... 66
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA, CIDADE E LITERATURA: DISCUSSÕES SOBRE
RAÇA, GÊNERO E RACISMO.............................................................................................. 67
IRACEMA: A CONSTRUÇÃO IMAGÉTICO-DISCURSIVA DE MULHER INDÍGENA E
RAÇA............................................................................................................................... 67
ÉLISABETH VIGÉE LE BRUN, UM PARALELO HISTÓRICO- ARTÍSTICO DE GÊNERO.
A CONSTRUÇÃO DO CENÁRIO ARTÍSTICO FEMININO NA FRANÇA DO SÉCULO
XVIII, COM O VIÉS CONTEMPORÂNEO DE SUA EXPOSIÇÃO NO MET.................... 68
ROMPENDO LAÇOS: A TRAJETÓRIA MARIA FIRMINA DOS REIS.............................68
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA, MEMÓRIA E TEMPO PRESENTE............................ 69
O TRAUMA NA MEMÓRIA DO FOGO DE 1951 NOS JORNAIS O MOMENTO,
IMPRENSA POPULAR E NA OBRA BARRA VELHA, O ÚLTIMO REFÚGIO................. 69
EFEITO MANDELA - COMO A INTERPRETAÇÃO DE UM ACONTECIMENTO SE
RELACIONA A MEMÓRIA COLETIVA DE UM EVENTO................................................ 70
HISTÓRIA DE VIDA DE EMPREGADAS DOMÉSTICAS DE ARAGUAÍNA –
TOCANTINS: ENTRE LUTAS, VIOLÊNCIAS E RESISTÊNCIAS....................................70
LENTES DA MEMÓRIA: ANÁLISE SÓCIO-HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO EM CIDADES
INTERIORANAS RIO-GRANDENSES (1950-2020)........................................................ 71
O QUILOMBO DA ILHA DE SÃO VICENTE ARAGUATINS-TO: A CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE E A RESISTÊNCIA NO PROCESSO DE RECONHECIMENTO DA
COMUNIDADE (2010-2019)............................................................................................ 71
HISTÓRIA E MEMÓRIA NA TRANSMISSÃO INTERGERACIONAL DE SABERES E
FAZERESCOM PLANTAS MEDICINAIS NO QUILOMBO DONA JUSCELINA.
(MURICILÂNDIA-TO)....................................................................................................... 72
MEMÓRIA E RESISTÊNCIA REPRESENTADAS: A ERVA-MATE NA EXPOSIÇÃO
ARTÍSTICA “EU MEMÓRIA, EU FLORESTA: HISTÓRIA OCULTA” (2021)....................73
ENTRE MEMÓRIAS E ESQUECIMENTO: NARRATIVAS ORAIS DOS FERROVIÁRIOS
NO CEARÁ (1988-1997).................................................................................................. 73
MEMÓRIA DO POVO: AS IMPLICAÇÕES DO USO DA MEMÓRIA COMO FONTE DE
PESQUISA E SEU IMPACTO NA AMPLITUDE DOS ESTUDOS HISTÓRICOS
CONTEMPORÂNEOS..................................................................................................... 74
RELATOS DE MEMÓRIA SOBRE O CLIENTELISMO NA CIDADE DE CAROLINA-MA...
75
A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA, MEMÓRIA E HISTÓRIA NA PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO HISTÓRICO.......................................................................................75
REVISITANDO UMA VIDA: A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA DE LÍGIA REBELO A
PARTIR DA ESCRITA DE SI, SOBRE SI E PARA SI...................................................... 75
O DIREITO CONSUETUDINÁRIO E O DIREITO CONSTITUCIONAL SOBRE A.......... 76
PROPRIEDADE DA TERRA DOS REMANESCENTES DE QUILOMBO NO RIO
GRANDE DO SUL............................................................................................................76
ECONONOMIA MORAL, COSTUMES E TRADIÇÕES: AS PRÁTICAS E OS SABERES
DOS RIBEIRINHOS DO ASSENTAMENTO VITÓRIA RÉGIA / ARAGOMINAS-TO
(1996-2023)......................................................................................................................77
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA, RELIGIÕES E POLÍTICA.......................................... 78
AS EPÍSTOLAS PAULINAS E AS PÓLEIS DO PRINCIPADO: ORIENTAÇÕES,
ASSISTÊNCIAS E REPREENSÕES DO APÓSTOLO PAULO (SÉCULO I D. C)........... 78
CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA E ELEMENTO DIPLOMÁTICO: O DUPLO PAPEL DA
RELIGIÃO NA CAMPANHA DE ALEXANDRE MAGNO (336-323 A.C.)......................... 78
HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DAS GENTES DOS ANGLOS: UMA ANÁLISE DA OBRA
DE BEDA, O VENERÁVEL (c. 673-735)..........................................................................79
OS QUAKERS E ESCRAVIDÃO NO NOVO MUNDO: O DEBATE CRISTÃO ACERCA
DO TRÁFICO E CATIVEIRO DE AFRICANOS NO SÉCULO XVIII.................................79
MOVIMENTO SOCIAL MESSIÂNICO: BELO MONTE E A UTOPIA SERTANEJA.........80
FASCISMO PORTUGUÊS? O SALAZARISMO, A IGREJA CATÓLICA E UMA
DEFINIÇÃO DO CARÁTER POLÍTICO DO ESTADO NOVO..........................................80
DOM HELDER CAMARA: DA JUSTIÇA SUBVERSIVA À “PAZ INQUIETA”................... 81
SIMPÓSIO TEMÁTICO - JOVENS PESQUISADORES: CONTRIBUIÇÕES PARA A
PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO................................................................ 81
OS FIN(S) DE MUNDO(S) NA FICÇÃO CIENTÍFICA - O ANTROPOCENO EM TELA.. 81
OS REGO BARROS DE PERNAMBUCO: LAÇOS POLÍTICOS E ACUSAÇÕES NO
IMPÉRIO DO BRASIL...................................................................................................... 82
O PROCESSO-CRIME COMO FONTE HISTÓRICA E SEU USO EM SALA DE AULA.83
A EXPLORAÇÃO DE SALITRE NA AMÉRICA PORTUGUESA: UMA ANÁLISE
HISTÓRICO-AMBIENTAL................................................................................................ 83
SIMPÓSIO TEMÁTICO - MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA: DIÁLOGOS SOBRE A
DITADURA MILITAR NO BRASIL.........................................................................................84
GOIÁS COMO LUGAR DE MEMÓRIA: A ATUAÇÃO POLÍTICA DE DIRCE MACHADO
DA SILVA NO PERÍODO DA DITADURA MILITAR..........................................................84
O PROCESSO DE JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DAS LEIS
Nº 6.683 DE 1979 E Nº.9140 DE 1995............................................................................ 84
A GUERRILHA DO ARAGUAIA ATRAVÉS DAS ESTRATÉGIAS E TÁTICAS
UTILIZADAS PELOS GUERRILHEIROS DO PC do B.................................................... 85
“A PRIMEIRA COISA QUE ELES FAZEM É MANDAR VOCÊ TIRAR A ROUPA”:
TERRORISMO DE ESTADO E VIOLÊNCIA SEXUAL DE MULHERES NA DITADURA
DE SEGURANÇA NACIONAL BRASILEIRA (1964-1985).............................................. 86
MEMÓRIAS UCRÔNICAS OU DESFECHOS POSSÍVEIS? A TRAVESSIA DE LEONEL
BRIZOLA RUMO AO EXÍLIO NO URUGUAI (1964)........................................................86
AMYLTON DE ALMEIDA À CONTRAPELO: UMA LEITURA BENJAMINIANA DE
LUGAR DE TODA POBREZA (1983).............................................................................. 87
O CASO PANAIR: MEMÓRIA, TRAUMA E RESISTÊNCIA NA DITADURA MILITAR.... 87
SIMPÓSIO TEMÁTICO - “RAÇA E RACISMO”: DEBATES ACERCA DO USO DE
CONCEITOS E TEMAS ATUAIS NAS PESQUISAS BRASILEIRAS LIGADAS ÀS
ANTIGUIDADES MEDITERRÂNEAS E AO MEDIEVO........................................................ 88
RAÇA E RACISMO: UMA DISCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA SOBRE O TEMA NOS
ESTUDOS DO MEDITERR NEO ANTIGO...................................................................... 88
MENELAU E HELENA EM HOMERO E EURÍPIDES: UMA ANÁLISE COMPARADA
DAS RELAÇÕES DE PODER ATRAVÉS DO CASAMENTO NA ANTIGUIDADE GREGA
(SÉCULOS VIII e V a.C.)................................................................................................. 88
MEMÓRIAS E IDENTIDADES: A REPRESENTAÇÃO DE TRÓIA PRESENTE EM
ENEIDA............................................................................................................................ 88
AS CARTAS COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE DAS RELAÇÕES DE PODER E
CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIA: UM ESTUDO DE CASO DAS CORRESPONDÊNCIAS
DE PLÍNIO, O JOVEM E TRAJANO (98 – 113 D.C.).......................................................89
O "OUTRO" PARA SÊNECA: AS ADJETIVAÇÕES DE ALEXANDRE, O GRANDE EM
SOBRE OS BENEFÍCIOS................................................................................................90
RAÇA NAS TRAGÉDIAS MEDEIA E FEDRA DE SÊNECA............................................ 90
O MANUSCRITO VIDAS E DOUTRINAS DOS FILÓSOFOS ILUSTRES, DE DIÓGENES
LAÉRCIO (III D.C), CARACTERÍSTICAS E TRAJETÓRIA............................................. 90
OS LIMITES DOS CONCEITOS DE SAGRADO E PROFANO NA ANTIGUIDADE UMA
ANÁLISE DA NOÇÃO DE RELIGIÃO NAS DIVINAS INSTITUIÇÕES DE LACTÂNCIO
(SÉC IV D. C.).................................................................................................................. 91
AS INTERPRETAÇÕES ACERCA DA PROVIDÊNCIA DIVINA EM DE MORTIBUS
PERSECUTORUM DE LACTÂNCIO (SÉC. IV D.C.).......................................................91
A APROPRIAÇÃO DOS ESCRITOS BÍBLICOS NA OBRA HISTÓRIA ECLESIÁSTICA
DE EUSÉBIO DE CESARÉIA E A REESTRUTURAÇÃO DO PODER EM ROMA NA
ANTIGUIDADE TARDIA...................................................................................................91
FLORENÇA SOB O OLHAR DE DANTE ALIGHIERI: UMA ANÁLISE DAS MENÇÕES
AO CRESCIMENTO POPULACIONAL DE FLORENÇA N’A DIVINA COMÉDIA (SÉCS.
XIII-XIV)............................................................................................................................92
SIMPÓSIO TEMÁTICO - (RE)EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAS E OS
20 ANOS DA LEI 10639/03................................................................................................... 93
RACIALIZAÇÃO DO ENSINO DE HISTÓRIA..................................................................93
SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/03. COLUNA
NOSSAS HISTÓRIAS DO SITE GELEDÉS.....................................................................93
20 ANOS DA LEI 10.639/03: EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA E AS MICROAÇÕES
AFIRMATIVAS COMO POSSIBILIDADES INSURGENTES NO COTIDIANO DA
ESCOLA...........................................................................................................................94
ENSINO DE HISTÓRIA E QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS EM PORTUGAL E NO
BRASIL: LIMITES E POSSIBILIDADES DE UM ESTUDO COMPARADO..................... 95
O QUE OS ESTUDANTES SABEM EM RELAÇÃO À HISTÓRIA E CULTURA DE
PERSONALIDADES HISTÓRICAS AFRO-BRASILEIRAS?............................................95
DIA NACIONAL DE TEREZA DE BENGUELA E DA MULHER NEGRA E OS
CAMINHOS ABERTOS PELA LEI 10639/03................................................................... 96
OS DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO LETRAMENTO RACIAL COMO UM CENÁRIO
METODOLÓGICO NO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA E
EFETIVIDADE DA LEI 10.639/03.................................................................................... 96
SIMPÓSIO TEMÁTICO - QUITANDA DAS MINAS: DIVERSAS MULHERES E HISTÓRIAS.
97
FONTES, TESES E ACERVOS: PESQUISANDO MULHERES
ARTISTAS/ESCRITORAS EM GOIÁS, CAMINHOS POSSÍVEIS................................... 97
NUDEZ, DEPRAVAÇÃO E DOMINAÇÃO: ANÁLISES DAS REPRESENTAÇÕES
SOBRE AS MULHERES NA REVISTA PLACAR (1980 – 1990)..................................... 98
IMPRENSA E POLÍTICA: JACINTA PASSOS E A ESCRITA PECEBISTA NO JORNAL
‘O IMPARCIAL’................................................................................................................. 98
PARA ALÉM DA BRUNA SURFISTINHA: AS TRAJETÓRIAS DAS PROSTITUTAS DA
BOATE CHANTECLER EM RECIFE (1939-1984)...........................................................99
NAS PÁGINAS DO JORNAL O JEQUITINHONHA: REFLEXÕES ACERCA DO
DIVÓRCIO E DOS PARADIGMAS SOBRE AS MULHERES NA SOCIEDADE
DIAMANTINENSE DO SÉCULO XIX...............................................................................99
CARTOMANTES E MÃES DE SANTO NO RIO DE JANEIRO OITOCENTISTA: UMA
PERSPECTIVA INTERSECCIONAL SOBRE MAGIA E AFRO-RELIGIOSIDADE........ 100
COLETTE SIMONE DIALLO: UMA VOZ ALÉM DOS ESTEREÓTIPOS - O IMPACTO DA
MÍDIA NA NARRATIVA DA PRIMEIRA ESTUDANTE AFRICANA NO BRASIL............101
DIACUÍ CANUALO AIWUTE, AYRES CÂMARA CUNHA E DIACUÍ CUNHA DUTRA:
PERFORMANCES DOS GÊNEROS, MODELOS DE CIVILIDADE E UM PROJETO DE
NAÇÃO MODERNA (1952-1960)...................................................................................101
SUBJETIVIDADES FEMININAS: AS REPRESENTAÇÕES DAS RELAÇÕES
HOMOAFETIVAS NA TRAJETÓRIA E ESCRITA DE VANGE LEONEL ENTRE 1990 E
2014............................................................................................................................... 102
BAIANAS OITOCENTISTAS : UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO FOTOGRÁFICA DE
RODOLPHO LINDEMANN.............................................................................................103
SIMPÓSIO TEMÁTICO - TRAVESSIAS: GOVERNANÇA, ADMINISTRAÇÃO E PODER
NAS AMÉRICAS (SÉCULOS XVI-XIX)............................................................................... 104
NAS ENTRELINHAS DO PODER: ANALISANDO OS REGIMENTOS DE
GOVERNADORES COLONIAIS.................................................................................... 104
A LEGITIMAÇÃO DA RESTAURAÇÃO INGLESA PELA CARTOGRAFIA DO ESTREITO
DE MAGALHÃES (SÉCULO XVII)................................................................................. 104
TERRITORIALIZAÇÃO E CIRCUITOS POLÍTICOS NAS ALAGOAS: ESTUDO DE
CASO SOBRE A ALDEIA DE SANTO AMARO DO PALMAR (C. 1699 –C. 1726)....... 105
A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO TRATADÍSTICO CATÓLICO NAS TROCAS
COMERCIAIS NA ROTAS DE TROPEIROS ENTRE VIAMÃO E SOROCABA............ 106
IMPRESSÕES REBELDES: UMA ANÁLISE DA REVOLTA DE CAMAMU DE 1691.... 106
O COMÉRCIO ILEGAL NA AMÉRICA COLONIAL: AS COLÔNIAS BRITÂNICA,
ESPANHOLA, PORTUGUESA E FRANCESA ENTRE O SÉCULO XVII E O XIX........ 107
“PASSOU O TEMPO DAS SELVAGERIAS”: A ADMINISTRAÇÃO DO PODER
JUDICIÁRIO NA VILA DE ÁGUA BRANCA, PROVÍNCIA DE ALAGOAS, CERCA DE
1870-1890...................................................................................................................... 108
ADMINISTRAÇÃO SUBALTERNA E TRANSMISSÃO DE SABERES: UMA ANÁLISE DA
TRAJETÓRIA GOVERNATIVA DE JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA NO RIO
GRANDE DE SÃO PEDRO (1764-1769)....................................................................... 108
SIMPÓSIO TEMÁTICO - POR UM ENSINO ANTIRRACISTA: INTERVENÇÕES
CONTRA-HEGEMÔNICAS NO ENSINO DE HISTÓRIA.................................................... 109
A LUTA DOS INDÍGENAS NAMBIQUARA CONTRA O PRECONCEITO E O RACISMO..
109
"O MARACATU DE BAQUE SOLTO É UMA CULTURA NOBRE MANTIDA POR GENTE
POBRE" LETRAMENTO CULTURAL DENTRO DO MARACATU A PARTIR DAS
VIVÊNCIAS DOS BRINCANTES DE NAZARÉ DA MATA - PE..................................... 109
CONSIDERAÇÕES SOBRE O FENÔMENO DA BELLE ÉPOQUE NA MÚSICA EM
FORTALEZA COM BASE NO PENSAMENTO PÓS-COLONIAL E NO GIRO
DECOLONIAL................................................................................................................ 110
QUADRINHOS HISTÓRICOS: ELABORANDO MATERIAIS DIDÁTICOS/AFETIVOS
VOLTADOS PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA.................................................111
ESCOLAS DE SAMBA COMO FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
AFRO-BRASILEIRA........................................................................................................111
PARA UMA AÇÃO DO PRESENTE E UM FUTURO ANTIRRACISTA: LEI 10.639 COMO
INSTRUMENTO DE DEBATE........................................................................................ 112
O CABEÇA DE NEGRO: UMA INTERVENÇÃO DECOLONIAL NO ENSINO DE
HISTÓRIA.......................................................................................................................112
QUEM MANDOU CENSURAR MARIELLE? CERCEAMENTOS NO ENSINO DE
HISTÓRIA.......................................................................................................................113
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA (IN)DISCIPLINADA: INTELECTUAIS E PRODUÇÕES
DISSIDENTES..................................................................................................................... 114
CIDADES E IDEIAS PLURAIS: CIRCULAÇÃO, DEBATE E IMPLEMENTAÇÃO DE
PROPOSTAS HABITACIONAIS EM UMA ZONA DE CONTATO (SÃO PAULO,
1893-1922)..................................................................................................................... 114
EXERCÍCIO PRELIMINAR PARA UMA LEITURA COMPARA DE LEANDRO KONDER E
MICHAEL LÖWY SOBRE WALTER BENJAMIN............................................................115
FANON LEITOR DE MARX: A APROPRIAÇÃO DO MARXISMO NA LUTA
ANTICOLONIAL............................................................................................................. 115
PROTAGONISMO INDÍGENA E ENSINO DE HISTÓRIA: ESCOLA COMO ESPAÇO
PLURIEPISTÊMICO E DE RESISTÊNCIA.................................................................... 116
UMA ANÁLISE DECOLONIAL SOBRE “NUEVA CORÓNICA Y BUEN GOBIERNO”
(1615) DE FELIPE GUAMAN POMA DE AYALA........................................................... 116
APRESENTAÇÃO

Ao elegermos Raça, Racismo, Antirracismo como tema desta edição, entendemos que na
condição de historiadores e historiadoras, nossa função social é insistir na historicidade desses
conceitos e romper com qualquer tipo de naturalização dos discursos que fundamentam práticas
racistas. Desse modo, a mobilização desses conceitos é fundamental para refletirmos sobre os
problemas que permeiam a sociedade à qual pertencemos. Em relação à historicidade e à história
do conceito de raça chamamos atenção para os seus usos, os seus deslocamentos e as suas
ressignificações.
A ideia de raça, tal como conhecemos hoje, como bem aponta Antônio Guimarães,
pressupõe uma noção chave para a ciência moderna. A biologização do conceito de ‘raça’, no
século XIX, permitiu a construção de um discurso classificatório baseado nas ciências naturais
que estabelecesse marcadores de diferenças atrelados a uma ideia de natureza definidora de
determinado caráter, capacidade intelectual e psicologia. É isso, portanto, que difere a ideia
moderna desse termo de outros momentos. Por isso, ao percorremos a história desse conceito
nos deparamos primeiro com uma ideia teológica que justificasse a escravidão, e somente depois
científica. Ao acompanharmos, por exemplo, o conceito de ‘raça’ em sua historicidade,
percebemos como, no Brasil, ele foi mobilizado para explicar a sociedade e, ao mesmo tempo,
conceber um projeto político de nação. Naquele momento, o conceito explicaria as diferenças
culturais entre os povos e fundamentaria o modo como foram incorporados no sistema de
expansão e conquista dos países europeus1. Os nossos intelectuais e cientistas sociais, ao se
dedicarem a introduzir a teoria das raças, deram especial atenção à miscigenação e ao seu
potencial para o que ficou conhecido como embranquecimento.
Assim, mesmo quando o conceito de raça havia perdido seu lugar no campo intelectual e
científico, mestiçagem e embranquecimento tornaram-se juntos fundamentais para as discussões
do século XX, direcionando políticas raciais no Brasil. É nesse período também que o termo ‘raça’
passa a ser rejeitado, por motivos ligados ao âmbito (inter) nacional, e aqui cabe mencionar os
genocídios e assassinatos em massa ocasionados pelo racismo, como a segregação racial nos
Estados Unidos, o apartheid, na África do Sul e o Holocausto. Primeiro, no início do século XX, há
uma reinvenção da raça, ou seja, a dissociação entre raça e cultura, influenciada pela
antropologia cultural2. Isso mostra como ‘raça’ não desapareceu, mas deslocou-se, reinventou-se.
Do ponto de vista político e intelectual, a ideia que passou a definir a formação brasileira e da sua
cultura foi a de democracia racial. Já do ponto de vista burocrático e popular, o termo ‘cor’ passou
a substituir ‘raça’, deixando claros muitos elementos das teorias racistas3. Da mesma forma, o
termo ‘etnia’ passou a ser mobilizado em um sentido mais generalizado no período pós-guerra
como sinônimo de ‘raça’ para evitar o seu emprego.
Ao localizamos o retorno de 'raça' para a linguagem atual, destacamos, com Antonio
Guimarães, além do seu uso cotidiano, seu emprego nos censos demográficos do IBGE em 1991
(quem não lembra da pergunta “Qual é a sua cor?” em “Qual é a sua cor/raça?”). Ademais, o
retorno e ressignificação desse conceito pôde ser claramente observado com o movimento negro
da década de 70. Isso porque o reaparecimento do conceito ganhou outra dimensão: agora, como
estratégia política, ou melhor, estratégia de valorização, inclusão e reivindicação. Foram os
movimentos sociais os protagonistas dessa transformação. Foi com o intuito de desvelar uma

1
GUIMARÃES. Antonio Sérgio Alfredo. Raça, cor, cor da pele e etnia. Cadernos de campo, São Paulo, n. 20,
p. 1-360, 2011.
2
MARTÍNEZ-ECHAZÁBAL, L. O culturalismo dos anos 30 no Brasil e na América Latina: deslocamento
retórico ou mudança conceitual? In: MAIO, M.C., and SANTOS, R.V., orgs. Raça, ciência e sociedade
[online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; CCBB, 1996.
3
GUIMARÃES. Antonio Sérgio Alfredo. Raça, cor, cor da pele e etnia. Cadernos de campo, São Paulo, n. 20,
p. 1-360, 2011.

11
democracia racial inexistente, escancarar as desigualdades, as diferenças de oportunidades para
homens e mulheres negras no Brasil que esses movimentos deram outro significado para ‘raça’. O
historiador Amilcar Pereira também nos ajuda a entender esse processo ao se debruçar sobre a
constituição do movimento negro contemporâneo no Brasil. Ele destaca como ‘raça’, principal
foco da luta política desses movimentos, perpassa dois pontos importantes: combate ao racismo
e denúncia do mito da democracia racial, bem como afirmação de uma identidade negra
positivada4.
Logo, chegamos a outra questão fundamental: o racismo. Aliás, há história do Brasil sem
racismo? Como bem lembra a historiadora Ynaê Lopes, lutar contra o racismo pode mudar nosso
olhar sobre nossa realidade, nossa forma de ser e estar no mundo, assim como nossas
perspectivas5. Dessa maneira, concordamos com ela quando diz que se há algo positivo em
estudar o racismo a partir de uma perspectiva histórica, é entender que essa história é complexa,
polifônica e disputada. Sendo assim, pretende-se também pensar essas discussões em outras
sociedades e outros espaços, examinar as particularidades sociais e culturais de determinados
lugares, bem como esses conceitos funcionam em contextos diferentes.
A importância desse tema, sobretudo considerando o nosso contexto, soma-se este ano a
um marco na educação brasileira: a inclusão, há 20 anos, do Art. 26 - A na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (Lei no 9.394/1996). Nos referimos à Lei 10.639/2003, que estabeleceu a
obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira. 2023 coloca-se, assim, como um
ótimo momento para discutirmos a construção de uma educação antirracista. Por isso,
levantamos algumas questões: Que balanço podemos fazer sobre a Lei 10.639/03 e a sua
implementação? Se podemos falar em um certo avanço nos últimos anos com essa importante
legislação, quais ainda são os desafios a serem superados? Como podemos buscar uma educação
de fato antirracista, que privilegie outros olhares sobre a negritude e a formação histórica
brasileira? Como auxiliar os professores a contornar a abordagem, às vezes superficial e
assentada em estereótipos, que se encontra em muitos livros didáticos?
Falar de raça, racismo e antirracismo, também é falar de uma busca constante para
contornarmos os obstáculos na educação. Trazer questões relacionadas à história e à cultura
africana e afro-brasileira perpassa o problema de trabalhar negritude na sala de aula para além
de racismo e escravidão, já que lidamos concomitantemente com um racismo religioso arraigado.
Parece ser preciso então romper com determinados lugares e redirecioná-los. É preciso abordar a
história desses sujeitos, por séculos marginalizados, reduzidos a história de escravização, de
modo potente: abordar a criatividade, a tecnologia, a literatura, a esperança na perspectiva da
negritude. Então, é essa reflexão indispensável que tem que estar na formação dos professores,
para que dessa maneira os alunos, crianças e adolescentes possam projetar outras possibilidades,
ver a si mesmo em outros lugares. Em termos psicanalíticos, podemos lembrar de Grada Kilomba,
que destaca que o sujeito negro é sempre colocado como “outro” do branco e nunca como “eu”6,
problema de que também trata Frantz Fanon, quando fala das experiências cotidianas de racismo
e reflete sobre o existir do negro7. Em suma, quando chamamos ao debate com essa chave
temática, estamos, ao mesmo tempo, falando de reconstruir “eu’s”.
Para além disso tudo, a questão racial é uma responsabilidade de todos. A
conscientização de uma sociedade antirracista e a elaboração de políticas públicas direcionadas
a esse objetivo são meios de repensar as estruturas, as agendas, os espaços, as posições, as
relações subjetivas, os vocabulários e outros tantos aspectos. Se retomamos esse tema, é
também para afirmar nosso papel, enquanto historiadores e historiadoras, na luta antirracista,
compreendendo que ela se faz por meio de uma compreensão histórica da raça e do racismo.
4
PEREIRA, Amilcar Araújo. “Sou Negro”: raça e racismo na perspectiva do movimento negro
contemporâneo. In: SAMPAIO Gabriela dos Reis; LIMA. Ivana Stolze; BALABAN. Marcelo (Org.).Marcadores
da diferença: raça e racismo na história do Brasil. Salvador: EDUFBA, 2019. 283-315 p.
5
SANTOS, Ynaê Lopes dos. Racismo brasileiro: uma história da formação do país. São Paulo: Todavia, 2022.
6
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
7
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

12
Comissão Organizadora.

13
SIMPÓSIO TEMÁTICO - A HISTÓRIA ORAL E A LITERATURA COMO
FERRAMENTAS TEÓRICA E METODOLÓGICA NA PESQUISA HISTÓRICA

O ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: AS INTERAÇÕES ENTRE OS PROFESSORES


DAS ESCOLAS PÚBLICAS REGULARES DE GOIÂNIA E OS ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA

Emanoel Borges Correia (graduando - FH/UFG)


E-mail: emanoelborges@discente.ufg.br.

A tentativa de efetivar a inclusão das pessoas com deficiências (PcDs) nas escolas regulares do
Brasil é, relativamente, uma proposta recente. Esse movimento vem se fortalecendo
paulatinamente, e tem seus marcos principais com a promulgação da Constituição de 1988, e
essencialmente com a Política nacional de educação especial na perspectiva da educação
inclusiva, publicada em 2008. A presente proposta de comunicação é parte integrante do projeto
de iniciação à pesquisa que em desenvolvimento busca, mesmo que inicialmente, suprir o
número ainda ínfimo de trabalhos que fazem a interdisciplinaridade entre os campos do Ensino
de História e da Educação Inclusiva. Possui o objetivo principal de analisar as interações entre os
professores das escolas públicas regulares de Goiânia e os seus estudantes com deficiência.
Utilizando de teorias desenvolvidas pela História Oral, aplicamos a metodologia de entrevistas
semi-estruturadas. Foram 9 docentes entrevistados, de 5 escolas-campo vinculadas ao programa
de estágio-supervisionado do curso de História da UFG. A análise dessas fontes está em
andamento, mas entre os resultados parciais está a majoritária falta de compreensão dos
professores entrevistados quanto a adaptação de materiais pedagógicos, algo fundamental para a
inclusão escolar de PcDs. Desprovidos de uma formação mais especializada no assunto, e pouco
incentivados para isso, muitos docentes apenas “simplificam” as atividades.

Palavras-chave: Ensino de História; Educação Inclusiva; História Oral.

TANTO BATE ATÉ QUE PEDRA: DA POESIA PARA A CENA, ENTRE MEMÓRIAS DA REALIDADE
CONCRETA E A ENCENAÇÃO DO DEVIR DO IMAGINÁRIO SOCIAL GOIANO
Edimar Pereira Silva (Mestrando em Artes da Cena
PPGAC – UFG)

O que dizem as fontes quando estão no campo do teatro? As subjetividades ali presentes devem
ser abordadas com mais cautela para não nos atrair por leituras superficiais. O presente trabalho
realiza uma análise crítica sobre as memórias narradas dos membros do grupo teatral de Senador
Canedo na década noventista, em especifico a poesia do escritor goiano Delermando Vieira, teve
sua adaptação livre para o teatro feita pelo diretor de teatro Altair Ceará do poema Tanto Bate Até
que Pedra que cria diálogos e dissidências dos contextos vivenciados e descritos por parte dos
envolvidos, que extrapolam as fronteiras das dimensões estéticas para as sociais, históricas e
políticas. Este trabalho tem como objetivo contribuir para diminuir as lacunas sobre a história do
teatro feito no Estado de Goiás. Contudo, se valendo dos estudos de memória e sociedade de
Ecléa Bossi e no que tange a referência investigativa para trazer a luz as narrativas, histórias e
experiências teatrais em terras goianas vivenciadas membros fundadores da Cia. Esta discussão
levantada aqui são reverberações da pesquisa em andamento: Em busca de identificações
metodológicas dos processos criativos no grupo teatral O Mundo É Nossa Casa nos anos 90, e

14
pela disciplina: os caminhos teóricos-metodológicos da produção historiográfica sobre Goiás
promovida pelo professor. Dr. Rildo Bento na PPGH da UFG. A ter como instrumento de análise
dramatúrgica se utiliza o paradigma do indiciário de Carlo Guinsburg, que nos convida a estar
atentos aos detalhes e sinais sutis deixados nas fontes e/ou nos objetos do passado, que podem
revelar seus contextos. Aqui dramaturgia e sociedade goiana se cruzam, a poesia e a realidade
concreta se encontram nas narrativas ao modo benjaminiano, seja aquele que conta história de
um mesmo lugar ou dos vários lugares por onde percorreu. Todavia, o artigo mostra como o
processo (poesia, dramaturgia e encenação) do grupo de teatro canedense escolhe e trabalha
temas sensíveis como a ditadura militar, a ideia de nacionalismo subversivo pelo um modelo de
valor humano que ao mesmo tempo estratifica o acesso e o pertencimento de quem faz parte da
sociedade brasileira, sendo que, a encenação feita pelo grupo de teatro que viveu um processo de
estratificação social em contexto goiano também. Essas duas realidades transitam entre realidade
e ficção.
Palavras-chave: Poesia, História do Teatro Goiano, Dramaturgia.

OCTO MARQUES: TRAJETÓRIA E NARRATIVA DO COTIDIANO DA CIDADE DE GOIÁS NO


SÉCULO XX (1915-1988)
Ruan Lucas Marciano (Mestrando pelo
PPGH-UFG)

O presente texto busca relacionar a obra literária e artística do pintor Octo Outurino Marques
(1915-1988) à retratação do cotidiano em Goiás na primeira metade do século XX. Sua trajetória,
bem como a relevância de suas obras, foram fatores notáveis no processo de patrimonialização
da Cidade de Goiás; em suas pinturas e contos, o artista relacionou, a partir da subjetividade e
contato com sujeitos ordinários, os diversos cenários da Cidade de Goiás às relações sociais
mantidas por ele. Sobretudo, trata-se um artista social, o qual se destacou por adicionar o labor
como forma estética. Debruçaremos sobre as diversas relações mantidas pelo escritor e artista
plástico ao longo de sua vida, a fim de problematizar sua representação enquanto participante no
processo de patrimonialização da antiga capital do Estado de Goiás, bem como evidenciar as
relações de poder nesse processo. Nesse caminho, utilizaremos autores como Bourdieu (2006)
no qual problematiza o uso da biografia como fonte primária de pesquisa; Certeau (2004) que
esmiuça as principais dinâmicas de poder relativas ao cotidiano; Faria (2018) que em seu
mestrado intitulado Registros de um Cronista Visual relacionou a vida de Octo Marques à
História de Goiás do século XX, entre outros autores não mencionados no resumo.
Palavras-chave: Conto; Cotidiano; Octo Marques.

A PRESENÇA DAS TRADIÇÕES ORAIS EM PESQUISAS DE PROFESSORES/ PESQUISADORES


INDÍGENAS DA LICENCIATURA INTERCULTURAL (UFG)
Thalia da Costa Carvalho (Mestranda PPGH/UFG)

A licenciatura intercultural do Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena (NTFSI/UFG),


construída no âmbito da Universidade Federal de Goiás em 2007, é resultado das reivindicações

15
de ocupações dos povos indígenas dentro da universidade. Desde então, a licenciatura
intercultural tem se tornado um espaço efetivo em que os estudantes indígenas possam se
desenvolver como professores e pesquisadores, fortalecendo sua identidade cultural e
contribuindo para a preservação e revitalização de suas línguas e saberes tradicionais. Essa
formação é essencial para que eles possam atuar como agentes de mudança em suas
comunidades, oferecendo uma educação que seja relevante, contextualizada e respeitosa com a
cultura e a cosmovisão indígena. Em vista disso, o presente trabalho busca investigar os
resultados de práticas de pesquisas elaborados por esses alunos indígenas que atuam como
professores e pesquisadores na academia e em sua comunidade. Dentro desta investigação,
propõe-se destacar a presença de tradições e narrativas orais que são muito marcantes nas
produções de pesquisas indígenas, buscando compreender em como a pesquisa indígena é uma
prática fundamental para o resgate e valorização dos saberes, línguas e tradições indígenas por
meio das práticas da oralidade. Como metodologia, serão analisados os diversos artigos
publicados nos sete volumes da Revista Articulando e Construindo Saberes do NTFSI em busca
de evidenciar dados qualitativos da presença de narrativas orais que foram coletadas de anciãos,
anciãs e membros indígenas da comunidade tradicional desses pesquisadores e pesquisadoras.
Observa-se, portanto, que ao realizarem pesquisas sobre seus povos, aldeias, festas tradicionais e
escolas indígenas, há uma presença marcante dos usos das oralidades das tradições orais, a fim
de resgatar os saberes ancestrais. Isso demonstra a grande importância da formação de
professores/pesquisadores indígenas dentro da perspectiva da interculturalidade crítica, que
segundo Catherine Walsh (2009) é um meio da construção de um diálogo horizontal e
transformador entre diferentes culturas, desafiando as desigualdades e estruturas de poder que
permeiam as relações interculturais. Por muito tempo a História oficial negligenciou ou
subestimou a contribuição dos povos indígenas para a formação das sociedades, neste sentido,
pesquisadores indígenas têm um papel crucial na recuperação e reinterpretação da história e
memória indígena, como também na preservação e revitalização desse conhecimento ancestral,
que muitas vezes é transmitido oralmente e está em risco de ser perdido. Suas pesquisas
contribuem para documentar e valorizar esses saberes, fortalecendo a identidade cultural
indígena.

Palavras-chave: Pesquisadores indígenas; Tradições orais; Licenciatura intercultural.

A HISTÓRIA E MEMÓRIA DA IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA NAS CIDADES DE ANHANGUERA,


CUMARI, GOIANDIRA E CATALÃO

Erick Marcus dos Reis e Cruz

O presente projeto de pesquisa procura investigar a história, trajetória e a memória da imigração


sírio-libanesa na região sudeste de Goiás entre as décadas de 1910 e 1940. Esses marcos
cronológicos se justificam porque, é exatamente na década de 1910 que ocorre a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) e a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no estado de Goiás, tendo como
porta de entrada a referida região. O desenrolar da Primeira Guerra Mundial e o caos que ela
trouxe, contribuiu para acelerar a vinda de imigrantes para o Brasil. A chegada da ferrovia na
região por sua vez, melhorou os meios de transporte e deu início a um processo de urbanização
nas cidades, o que acabou atraindo a vinda dos imigrantes para a região sudeste. Já na década de
1940, houve uma certa estabilidade política e econômica no Líbano, principalmente após a sua
independência em 1943, e a retirada das tropas francesas em 1946, o que colaborou para diminuir
consideravelmente o número de imigrantes sírio-libaneses que vieram para o Brasil. Além disso, o
período marca também, o prolongamento dos trilhos da estrada de ferro para Anápolis e a nova

16
capital Goiânia, fatos que estimularam a mudança de um grande número de famílias de
imigrantes para lá em busca de melhores mercados de atividades, diminuindo consideravelmente
o número de imigrantes sírios e libaneses que permaneceram aqui na região sudeste.

Palavras-chave: Imigração; Sírio; Libaneses; Memória.

FORMAÇÃO DE SINDICATOS DE TRABALHADORES RURAIS NO PRÉ E NO PÓS GOLPE DE


1964, O QUE DIZEM OS JORNAIS?

Patrícia Schneid Altenburg, mestranda do PPGH


da UFPel

A presente proposta de comunicação é parte integrante da dissertação de mestrado em


desenvolvimento por esta pesquisadora junto ao Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Pelotas a qual objetiva em linhas gerais, analisar o desenrolar do
sindicalismo de trabalhadores rurais no estado do Rio Grande do Sul durante as décadas de 1960
e 1970 e parte de 1980, período que abrange a eclosão do Golpe Civil-Militar de 31 de março de
1964 e a consequente implantação do regime ditatorial no Brasil. Temática esta, ainda pouco
explorada pela academia, sobretudo pela Historiografia a qual tem privilegiado majoritariamente
o estudo de movimentos sindicalistas de caráter embativo e beligerante, grupos, cuja atuação é
sem dúvidas merecedora de atenção, mas que não resumem toda a movimentação do período,
considerando que é necessário reconhecer a existência de práticas sindicais diferentes, que
necessitam “ser melhor compreendidas através de seu histórico, das condições que, ao longo do
tempo, levaram a sua constituição.” (NORA, 2002, p. 48). Posto isso, aqui, a ênfase recai sobre a
análise de uma entidade em especial e um viés específico, trata-se do estudo da construção,
afirmação e manutenção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Lourenço do Sul/RS
(1959-1980) por meio da imprensa local. Desse modo busca-se compreender quais os fatores que
contribuíram para a formação de um sindicato vinculado a Frente Agrária Gaúcha (FAG),
organização fundada por clérigos e leigos católicos, sobretudo no intuito de disputar a tutela do
campesinato gaúcho com o Movimento dos Agricultores Sem Terra (MASTER) e combater ao
comunismo no campo (PICOLOTTO, 2011); bem como entender quais os aspectos que
caracterizam as ações realizadas e as relações construídas por essa entidade com figuras políticas
vinculadas ao partido situacional do governo militar, a ARENA (Aliança Renovadora Nacional).
Como fonte de pesquisa e reflexão são utilizados exemplares de jornais que circularam em São
Lourenço do Sul, em períodos distintos: “Voz do Sul” (1960-1963) e “O Lourenciano” (1973-1980),
cujas colunas e matérias auxiliam a responder as indagações arroladas, respostas que
pretende-se apresentar aqui de forma inicial.

Palavras-Chave: Sindicalismo de Trabalhadores Rurais – Ditadura Civil-Militar – Fonte impressa

PONTOS DIACRÍTICOS E SUAS FRONTEIRAS: HISTÓRIA E MANUTENÇÃO CULTURAL DE UMA


COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA NO CAMPO DAS VERTENTES

Letícia Silva Almeida (Mestranda - Universidade


Federal de São João Del Rei)

17
Neste trabalho irei apresentar a aplicação da teoria do autor Frederick Barth sobre os pontos
diacríticos, no estudo da história de uma comunidade possivelmente remanescente quilombola
na região das vertentes em Minas Gerais, para isso foram analisadas duas entrevistas cedidas por
um casal de moradores, Fátima e José Geraldo. A comunidade São Pedro da Carapuça surgiu em
meados de 1920, oriunda de uma fazenda escravocrata que havia no local, chamada “Fazenda da
Carapuça”, no hoje município de São Tiago, na região das vertentes em Minas Gerais. A
proprietária da fazenda, Belmides vende a fazenda em 1923 para um homem chamado Américo.
O novo proprietário observou que vivia na fazenda muitos ex escravos, assim delimitou um
território em volta da antiga casa para edificar uma pequena comunidade. Neste relato podemos
perceber a ligação que os moradores atuais possuem com o território. Tais moradores são
descendentes dos ex escravos que ali viveram há séculos, e permanecem no local até os dias de
hoje. A permanência no local em conjunto fez com que houvesse uma manutenção de tradições,
costumes e ritos como congado, folia de reis e reisado, além também de culinária, linguagem,
formas de medicação natural e uma forte ligação parental dentro da comunidade, fortalecendo
ainda mais a questão da etnicidade. Devido a estas características podemos perceber que a
comunidade se identifica dentro daquele círculo social, e as comunidades externas a define como
tal. Para existir uma pertença é necessário que exista uma linha de demarcação. Segundo Barth
quando usamos o termo sociedade, acaba ficando vago. Assim não analisamos os grupos étnicos
de maneira sistemática, os grupos étnicos são pequenos grupos dentro desta sociedade, cada um
terá sua especificidade, cultura, signos e manifestações. Tais especificidades de cada grupo, é o
que podemos chamar de fronteiras, e o autor chama de traços diacríticos (BARTH, 1998). Nas
entrevistas cedidas pelo casal, percebemos muitos pontos diacríticos, ou seja, que originam uma
fronteira entre a comunidade e o restante da sociedade. Neste caso, a ligação que os
descendentes dos ex escravizados tem com o território devido a história e o tempo que vivem no
local, os costumes, a memória do cativeiro, formando o que chamamos de memória coletiva
(HALBWACHS,2006), a referência do território ao redor da comunidade como “aí por fora”, se
considerar uma comunidade quilombola em conjunto, são as fronteiras, e o que podemos chamar
de pontos diacríticos da teoria de Barth.

Palavras-chave: Fronteiras, escravidão, quilombo.

A HISTÓRIA ORAL COMO MÉTODO APLICADO NA COMPREENSÃO DA PROSTITUIÇÃO NO


NORTE DO TOCANTINS

Lailson Costa Duarte (Mestrando -PPGHIST


UNIFESSPA)

Nosso trabalho tem como objetivo discutir os desafios e as possibilidades do uso das fontes orais
na problematização e discussão do cotidiano das trabalhadoras do sexo. O primeiro contato com
as entrevistadas, as percepções durante as entrevistas, a transcrição, o retorno a campo, todas
essas questões fazem parte da nossa proposta em refletir as possibilidades dessa metodologia.
Partimos da experiência de pesquisa desenvolvida no lugar de prostituição localizado na cidade
de Araguatins - TO. A partir disso buscamos argumentar as possibilidades que a História Oral nos
trás para a compreensão das vivências dessas mulheres, sua construção de identidades e
memória. Discutimos também os desafios que surgiram e continuam a surgir no que se refere à
utilização da metodologia da História Oral para o estudo da prostituição, bem como as
estratégias para enfrentar esses desafios.

18
A HISTÓRIA ORAL COMO FERRAMENTA DE ESCUTA E ANÁLISE DOS DISCURSOS,
PERFORMANCES E SUBJETIVIDADES DE MULHERES TRANS DE ARAGUAÍNA-TO

Lucrécia Borges Barbosa (Mestra -


PPGCULT/UFNT)

E-mail: slucreciaborges@gmail.com

Esta comunicação tem o objetivo de descrever as análises realizadas acerca das performances de
gênero e discursos de empoderamento subjetivo das identidades femininas. O método de
pesquisa utilizado para o desenvolvimento do estudo foi a pesquisa qualitativa proposta por Uwe
Flick (2009), os pontos de vistas da subjetividade formam o primeiro ponto de partida. Sendo
assim, a pesquisa qualitativa dirige-se à apreciação de casos concretos em suas particularidades,
locais e temporais, essa apreciação concreta parte das expressões e atividades das pessoas em
seus contextos locais. Para recontar as histórias de vida das mulheres trans protagonistas da
pesquisa, o estudo foi embasado pela História oral balizada pelos escritos de Alessandro Portelli
(2016). Para esse autor, a história oral é a história dos eventos, história da memória e história da
interpretação dos eventos através da memória. Esta pesquisa teve como escopo
teórico-metodológico e científico os estudos de Guacira Lopes Louro (2008), Berenice Bento
(2008), Letícia Lanz (2015), Judith Butler (2003) e Rubra Pereira de Araújo e Flávio Pereira
Camargo (2012). As protagonistas deste estudo foram mulheres trans do munícipio de
Araguaína-TO. Esta pesquisa está balizada nos estudos sobre transexualidade, história oral de
vida, discursos, performatividade, territorialidade etc. O estudo evidenciou as performances e os
discursos de subjetividades de não acolhimento por parte das instituições: família, escola, do seu
território e lugar de vivências. No entanto é perceptível o reconhecimento identitário de gênero
com o gênero oposto ao que lhes foi designado ao nascer desde a mais tenra infância até a
contemporaneidade momento em que começaram as suas transições de gênero mesmo em indo
em desacordo com as normas socioculturais impostas ao gênero e ao sexo biológico que lhes foi
atribuído ao nascer. As histórias de vida tornam-se agora.

Palavras-chave: Transexualidade. História oral. Performance de gênero.

"DOM E DOCÊNCIA, PRESENTE!": DISCURSOS SIMBÓLICOS E OS SENTIDOS DO OFÍCIO


DOCENTE NAS MEMÓRIAS E NARRATIVAS DE PROFESSORAS

Maicon Douglas Holanda (Mestrando -


ProfHistória/UFNT)

E-mail: maicondouglasholanda@gmail.com

Esta comunicação visa analisar os discursos simbólicos do dom e da vocação para a docência
presentes nas memórias e narrativas de vida de quatro professoras aposentadas do município de
Santa Fé do Araguaia, que iniciaram suas carreiras nos anos 1960, 1970 e 1980 no antigo Norte
Goiano, atual estado do Tocantins. O estudo visa buscamos reconstruir as vozes do passado
educacional por intermédio de narrativas orais, compreendendo alguns fatores que ordenaram a

19
escolha da docência, bem como os sentidos atribuídos para a profissão, tendo em vista que elas
são consideradas “boas professoras” em sua comunidade. A metodologia utilizada foi da história
oral, oriunda da realização de entrevistas semiestruturadas realizadas com as professoras que
exerceram carreira profissional na educação básica da rede pública do município. Os resultados
da pesquisa indicam que existem fatores intrínsecos às mulheres que motivaram a escolha da
docência, que se ancoram em discursos de naturalização do dom, da vocação, do sacrifício e
amor pelo "ofício de ser mestre". Além disso, existe alguns fatores extrínsecos que direcionaram a
vida dessas mulheres-professoras, como a dádiva do reconhecimento social, as situações das
condições físicas e materiais das escolas, as dificuldades financeiras de seus grupos familiares, a
má distribuição da institucionalização do ensino superior no interior do Brasil. Esses fatores, de
ordem intrínseca e extrínseca, acabaram interferindo nos percursos socioespaciais e nos planos
pessoais e profissionais dessas professoras aposentadas.

Palavras-chave: Dom e docência. História e memória. Vida de professoras.

EM BUSCA DOS ATORES E DA IDENTIDADE DO PT DE GOIÂNIA: DIÁLOGOS ENTRE


TRAJETÓRIA PARTIDÁRIA E RELATO PESSOAL

Sarah Lidia Silva Bento (graduanda em História -


UFG)

A presente pesquisa busca compreender a formação do Partido dos Trabalhadores em Goiânia,


realizando um balanço sobre sua trajetória desde a fundação (1980) até a disputa e vitória no
pleito à prefeitura em 1992, suas frentes de atuação política, funcionamento interno e relato
pessoal de militantes que vivenciaram essa construção. Na pretensão de trazer visibilidade à
memória político partidária e aos atores dessa construção na capital goiana, optei pela orientação
histórica das narrativas orais como metodologia de pesquisa, por dentre as mais diversas formas
de escrever a história de um partido, ser a que mais endossa as trajetórias pessoalizadas da
militância. Outrossim, o cruzamento das narrativas orais com outras fontes é a, o que implica a
coleta de documentação, fotografias e demais registros para a elaboração dessa discussão.

Palavras-chave: História Oral; PT; Goiânia.

20
SIMPÓSIO TEMÁTICO - A IDADE MÉDIA E A IDADE MODERNA EM
PERSPECTIVA: REFLEXÕES SOBRE CULTURA E SOCIEDADE

DIOGO DO COUTO (1542-1616), CRONISTA E GUARDA-MOR DA CASA DO TOMBO DE GOA, E


SUA INTERPRETAÇÃO SOBRE O ESTADO PORTUGUÊS DA ÍNDIA
Elby Aguiar Marinho (Mestre em História pela UFG; Doutorando
em História pela UFG)

Na Ásia, Diogo do Couto viveu por duas vezes, totalizando 57 anos dos 74 de sua vida. Quando
mais jovem, fora soldado e, posteriormente, após inúmeras experiências, executaria diferentes
atividades no aparelho administrativo-militar do Estado, recebendo, em suas últimas décadas de
vida, o importante cargo de guarda-mor da Casa do Tombo, em Goa, e o de cronista do Estado da
Índia. Por todos aqueles anos, sempre defendeu e criou propostas para a manutenção daquele
grande império que viu entrar em crise. Ganhou notoriedade com a segunda versão de seu
Soldado Prático, organizada na forma antiga de diálogos entre o soldado e o vice-rei,
caracterizando-o como escritor político de intervenção, e seus nove volumes das Décadas da
Ásia, obra de grande extensão e inestimável valor documental-histórico sobre as ações
portuguesas e os povos naquela vasta região.

Palavras-chave: Ásia, Império, Portugal.

SAÚDE E BELEZA: A COSMÉTICA COMO PRÁTICA FEMININA (SALERNO- SÉCULOS XI E XII)

Andressa Rocha Lima (Mestranda - PPGH/UFG)

No medievo as mulheres faziam uso de cosméticos, seja em prol de cuidados com a aparência,
ou para prevenir e tratar doenças. A partir do século XI, difundiu-se no Ocidente Medieval novas
teorias e práticas médicas destinadas a manutenção da saúde corporal, por meio das
significativas contribuições dos textos greco-árabes traduzidos por Constantino, o Africano na
abadia de Monte Cassino. Recomendações referentes à cosmética foram incorporadas nos novos
escritos, pois estes cuidados também visavam a saúde corporal, aspecto necessário para se ter
uma boa aparência. Salerno, no sul da Itália, o epicentro do saber e das práticas médicas neste
período, produziu uma figura importante e ao mesmo tempo misteriosa: Trotula de Salerno,
membro da Escola Médica de Salerno a quem é atribuído o tratado de cosmética De Ornatu
Mulierum (Cosméticos Femininos). O manuscrito foi produzido entre os séculos XI-XII, e é
estruturado em 6 capítulos, no qual apresenta o lado prático dos textos Trotula, reunindo em
suas receitas preocupações ligadas aos cabelos, depilação corporal, cuidados com a pele do
rosto, lábios, dentes e algumas discussões ginecológicas. Assim, para este trabalho, o foco são as
preocupações relacionadas à face feminina, bem como a composição de cosméticos para estes
cuidados.

Palavras-chave: Escola Médica de Salerno. Mulheres. Cosméticos.

21
“AN PAPA POTEST ERRARE?”: AS INTERPRETAÇÕES DE DUAS BULAS PAPAIS PELOS
ESPIRITUAIS FRANCISCANOS (SÉC. XIV)

Gabriel Rodrigues de Souza (UFG)

Resumo: Nesta comunicação temos por objetivo apresentar as problemáticas fundamentais


relacionadas a recepção à duas bulas papais referentes a discussão da pobreza evangélica pelo
partido dos Espirituais Franciscanos. A cisão ocorrida, entre os séculos XIII e XIV, dos Frades
Menores em sua interpretação da pobreza evangélica, as constantes intervenções das hierarquias
eclesiásticas e, mais significativamente, do Romano Pontífice, acabariam por intensificar o debate
acerca da autoridade papal e seu papel em definir a forma-de-vida dos menores. Dessa forma,
analisaremos a postura do partido dos Espirituais referente a interpretação das bulas Exiit qui
Seminat (1279) de Nicolau III, e, Cum inter nonnullos (1323) de João XXII, aparentemente
contraditórias entre si em sua interpretação acerca da autoridade papal e de seu poder em
interferir nos rumos da Ordem Franciscana. Como resultados esperamos analisar a contribuição
do partido dos Espirituais no questionamento das teorias tradicionais do poder papal no século
XIV.

Palavras-chave: Espirituais Franciscanos, Infalibilidade Papal, Usus Pauper.

MARSÍLIO FICINO E A QUESTÃO DA MELANCOLIA NO SÉCULO XV

Me. Natan Magalhães Silva (Doutorando do PPGH -


UFG)

Observa-se no Ocidente um recorrente interesse pelas investigações sobre a natureza da


melancolia, evidenciado pela quantidade de obras produzidas desde o mundo antigo até o
contemporâneo. Sabe-se que a primeira definição foi elaborada pelo médico grego Hipócrates de
Cós (460 a.C. – 370 a.C.), que a definiu como um estado de desequilíbrio dos humores decorrente
da predominância da bílis negra (melankholía). Essa primeira definição foi responsável por
estabelecer uma tênue relação entre melancolia e doença, situando esse objeto no campo das
investigações médicas. No entanto, os debates sobre a melancolia não podem ser sumariamente
interpretados como discursos e saberes exclusivamente médicos. É importante considerar que os
saberes sobre melancolia são polissêmicos e foram produzidos a partir de diferentes óticas e
concepções. Ainda na Antiguidade, um texto atribuído a Aristóteles (Problema XXX. I) introduziu
uma nova concepção sobre a melancolia. Não mais como estado de enfermidade apenas, mas
como um sinal de distinção entre os homens. Embora os debates sobre a natureza da melancolia
perduraram ao longo de toda Idade Média, essa concepção atribuída a Aristóteles só foi retomada
apenas a partir do século XV. Marsílio Ficino (1433 - 1499), filósofo florentino renascentista, foi o
responsável por retomar e difundir o debate sobre a correlação entre excelência/ genialidade e
melancolia. O objetivo deste trabalho, portanto, é analisar a concepção inaugurada (retomada)
por Ficino e investigar a sua relação e ruptura com os saberes sobre a melancolia na Idade Média.

Palavras-chave: Melancolia, Saberes, Renascimento.

22
SIMPÓSIO TEMÁTICO - A PESQUISA EM HISTÓRIA POR MEIO DAS
FONTES IMPRESSAS E DA IMPRENSA

OS SENTIDOS E USOS DO TERMO “CIDADE HISTÓRICA” NOS PERIÓDICOS O JORNAL E


JORNAL DO BRASIL (1916-1937)

Natasha Viana Mosley (graduanda em Licenciatura


em História na UNIRIO)

A pesquisa estuda os sentidos e usos da expressão “cidade histórica” nos periódicos O Jornal e
Jornal do Brasil - fontes primárias selecionadas por apresentarem mais ocorrências da expressão
na Hemeroteca Digital entre 1916 e 1937. Busca-se analisar se há variações na semântica e/ou na
utilização do termo antes da criação do IPHAN, órgão federal de proteção do patrimônio histórico
nacional.

Palavras-chave: Patrimônio Histórico; Brasil República; Imprensa.

A IMPRENSA OITOCENTISTA COMO PORTA-VOZ ABOLICIONISTA: ANDRÉ REBOUÇAS, JOSÉ


DO PATROCÍNIO, JOAQUIM NABUCO E O USO DOS JORNAIS ANTIESCRAVISTAS (1850-1881)

Mateus Corrêa Neves (Mestrando/UFES)

Podemos considerar: André Rebouças, José do Patrocínio e Joaquim Nabuco como vozes
polifônicas ou teóricos da abolição. Desta forma, como objetivos, buscamos analisar o impacto
dos teóricos abolicionistas na linguagem política dos impressos (1850-1881). Logo, compreender
como se formou um ideário contra a escravidão, além de identificar a importância da circulação
impressa na luta contra o escravagismo. Entenderemos as ideias e o vocabulário político
conforme proposto por autores como John Pocock e Quentin Skinner. Compreendemos que os
impressos e teóricos abolicionistas desempenharam um papel importante na derrocada do
escravismo no Brasil.

Palavras-chave: Império, abolicionistas e impressos.

A ESCOLHA DO NEGRO ROQUE E O SEU SILENCIOSO GRITO DE DESESPERO: UMA HISTÓRIA


DE RACISMO ESCONDIDA NO JORNAL DO COMMERCIO (RJ)

Lucas Ferreira Rodrigues (PPGH-UFG)

A imprensa nunca cansa. Ela é uma fábrica de novidades. Ela fala sem interrupção. Todo dia, de
manhã, de tarde e à noite. E ainda assim, há coisas que o jornal não diz. No Brasil do final do
século XIX, quando os jornais eram o principal veículo de informação, havia em uma folha um
silencioso (e escondido) grito de desespero. O Jornal do Commercio (RJ), do dia 9 de abril de 1891,
apresenta na coluna “Casa de Correção” um caso curioso sobre o negro Roque, assim escreveu o
jornalista, segundo lê a transcrição de um trecho do documento:

23
Ha um condemnado que está em uma posição curiosa. É um preto, Roque,
condemnado por haver, quando escravo, assassinado a um feitor. Segundo nos
informão, o Dr. Campos Salles, quando ministro chegou a expedir alvará
perdoando-o; o que não impede que elle lá continue. É o sentenciado que está a
mais tempo na correção: cumpre sua sentença há 28 anos. (JORNAL DO
COMMERCIO, grifo meu).

Como não achar curioso? O negro cumpria a pena de galés, pena máxima depois da pena de
morte, de acordo com o Código Criminal de 1830, e mesmo assim escolheu continuar preso do
que viver em liberdade. Além disso, é importante lembrar que na teoria os anos deveriam ser de
mais esperança para os negros, haja vista, a Lei Áurea, de 1888, e o Código Penal Republicano, de
1890. Porém na prática nem um nem outro foram capazes de gerar alguma esperança no coração
de Roque. Ele preferia “a cela”. Mas por quê? Porque o preço de ser um negro “livre” não
significava paz. Roque deveria saber que naquela sociedade sua cor de pele o colocava em
condição de constante agressão. A abolição da escravidão ou a mudança de um código penal
pouco (ou nada) valia para ele. Roque nunca experimentou a condição de não ser escravo,
tampouco de não sofrer violência, que, conforme mostra Silvia Hunold Lara (2000), estava em
todos os lugares. Roque sabia disso, e sabia que não eram meras formalidades que
transformariam a realidade. A escolha de Roque é, portanto, um grito de desespero e, também,
de sabedoria. Ele aprendera a viver (resistir) em uma prisão, que do seu ponto de vista era menos
violenta do que uma vida em liberdade em uma cidade racista. E quem é a gente para dizer que
ele estava errado?

Palavras-chave: Jornal, negro e racismo.

IMPRENSA HIGIENISTA E ESPETACULARIZAÇÃO DO COMÉRCIO SEXUAL: A ZONA DO


MERETRÍCIO DE CAXIAS DO SUL (RS) NARRADA PELO JORNAL “O PIONEIRO” (1948-1991)

André Luiz Paz (mestrando em História no


PPGH-UFSM)

O jornal “O Pioneiro” foi criado em Caxias do Sul (RS) em 1948, a partir da iniciativa do de alguns
membros da antiga Ação Integralista Brasileira (AIB), reunidos a partir de 1945 sob a sigla do
Partido de Representação Popular (PRP). Sua fundação teve duas ordens de influência: uma
voltada para a valorização das raízes socioculturais de imigrantes italianos na região e outra
político partidária, ligada à AIB (POZENTATO E GIRON, 2004). Desde suas primeiras publicações
destinou espaço para discussões e denúncias, de caráter higienista, sobre a presença da
prostituição no centro urbano da cidade acentuando a necessidade de uma localização específica
para a existência da prática, movimento que resultou na criação da Zona do Meretrício em 1954.
Embora esse projeto disciplinar tenha se concretizado, a prática nunca esteve efetivamente
contida nos limites territoriais propostos. A partir do final do século XIX e início do século XX a
prostituição se configurava como um espaço visível de espetacularização e quantificação por
policiais, médicos, jurista e jornalistas (RAGO, 1997). Nesse sentido, o periódico continuou a
publicar denúncias sobre meretrício fora da Zona, além de produzir reportagens e notícias sobre
intervenções policiais e médico-sanitárias na região, reforçando a necessidade de vigilância sobre
as meretrizes. Na década de 1970, fabricou a imagem do local como região perigosa, com altos
índices de criminalidade, no mesmo sentido que narrava o funcionamento da economia sexual;
informa-se que possuía pelo menos 50 casas de meretrício, com 300 mulheres que trabalhavam
no local, em sua maioria vindas de outras cidades do país, principalmente de cidades vizinhas
menores do estado. Próximo dos anos 1980, o jornal assume uma nova postura editorial, visto

24
que, em 1981 passou a ser considerado como jornal comunitário, dessa maneira, passa a abordar
o assunto através de entrevistas e depoimentos das meretrizes, espetacularizando a experiência
da prostituição na região. A partir desse período, aponta indícios da diminuição no número de
casas e a dificuldade das trabalhadoras sexuais para se manterem no local, em função da falta de
policiamento, dos valores altos dos aluguéis e das novas formas de comércio sexual que se
configuravam na cidade, além de retratar a intervenção de instituições religiosas de caráter
assistencialista nas vivências das meretrizes. Em 1988, publica uma reportagem sobre a ascensão
e a “melancólica” queda da Zona do Meretrício, embora seja possível reconhecer através do
próprio jornal que a Zona ainda tenha sido mantida precariamente em funcionamento até 1991.

Palavras-chave: Imprensa, Caxias do Sul, Zona do Meretrício.

O JÓQUEI CLUBE DE GOIÁS NAS PÁGINAS DO JORNAL DE NOTÍCIAS (GO)

Ma. Natane Rincon Azevedo (Doutoranda em


História - UFG)

O Jóquei Clube de Goiás foi o primeiro clube esportivo e social fundado em Goiânia, na década
de 1930. A primeira sede social do clube apareceu nos depoimentos dos moradores pioneiros da
cidade, coletados em livros de memória. Além disso, o Jornal de Notícias (GO) fez uma farta
cobertura dos eventos do Jóquei Clube na década de 1950. Dessa maneira, esse jornal e os livros
de memória são as principais fontes para esta comunicação. Essa primeira sede posteriormente
foi demolida, mas outra foi construída no mesmo local, assim, quando em 2017 a segunda sede
também poderia ser demolida, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO)
entrou com o processo de tombamento do Jóquei Clube de Goiás junto ao Iphan. Isso foi
amplamente abordado pelos jornais goianienses, que revisitaram a “história” do Jóquei Clube de
Goiás desde a sua fundação, que teve a presença de políticos importantes do período. Portanto, o
objetivo deste trabalho é comparar as representações dos jornais atuais com aquelas presentes
no Jornal de Notícias (GO) e nos depoimentos dos primeiros moradores de Goiânia. A narrativa
jornalista é uma fonte da História. Assim, de um lado há a construção de uma edificação como
pertencente à história e à memória de Goiânia pelos jornais, do outros as lacunas das suas
representações que podem ser investigadas a partir da comparação entre esses jornais. Os
principais aportes teóricos sobre representação foram Chartier (2002), Hall (2016), Traquina
(2012, 2016) e Tuchman (1999).

Palavras-chave: representação jornalística; Jóquei Clube de Goiás; patrimônio cultural.

IMPRENSA E GUERRA: O CASO DA QUESTÃO CISPLATINA (RIO DE JANEIRO, 1825-1828)

Fabíula Paulo de Freitas Manhães (Doutoranda –


PPGH/UFES)

Esta comunicação objetiva demonstrar, por meio da Questão Cisplatina e seu desdobramento
mais dramático, a Guerra da Cisplatina, as possibilidades de estudo de cenários de guerra por
meio da imprensa periódica. Será utilizado para ilustração o caso de cinco jornais circulantes na
Corte fluminense entre 1825 e 1828, período em que a guerra se desenrolou. É reconhecido o
papel basilar desempenhado pelo fenômeno impresso na vida política, social e cultural do Brasil

25
no século XIX. No processo de edificação do Estado nacional, os debates, projetos e conflitos
travados no âmbito da opinião pública foram não somente elementos, mas partícipes ativos. O
contexto que abrigou a deflagração do conflito pela Província Cisplatina – atual República
Oriental do Uruguai – não foi diferente. No decurso da empresa bélica, distintos escritores
públicos lhe lançaram atentos olhares, emitindo suas opiniões, indagações e prognósticos.
Partindo dessas premissas, buscamos elucidar as características assumidas pelos discursos
políticos dos jornais investigados em meio ao cenário de guerra. Destacaremos, assim, as
principais demandas exprimidas pelos redatores no que concernia ao conflito, bem como às
tensões existentes entre os próprios homens de letras. Os anos iniciais do Brasil oitocentista
foram marcados pela aceleração e ampliação da circulação de notícias. O “tempo da política”,
denominação concedida por Elias Palti (2020) ao XIX, foi profundamente perpassado pelas
discussões e disputas realizadas nos espaços públicos. Nesse sentido, nos propomos a aclarar as
maneiras pelas quais a dinâmica da produção, difusão e publicização de informações se deu em
um momento sui generis, tal qual a Guerra da Cisplatina.

Palavras-chave: Questão Cisplatina; Imprensa; Brasil oitocentista.

POR DE TRÁS DA PALAVRA IMPRESSA: LIMITES E DESAFIOS DA PESQUISA HISTÓRICA SOBRE


TRAJETÓRIAS NO SÉCULO XIX

Marcela de Oliveira Santos Silva (Mestrado - PPHR


UFRRJ)

Tamires Oliveira Souza da Silva (Mestrado - PPHR


UFRRJ)

A década de 1830 pode ser caracterizada como um período de grandes transformações,


inquietações e possibilidades. O movimento, impulsionado em 1831 após a abdicação de d. Pedro
I – mas que já estava sendo incorporado desde 1822–, foi capaz de tornar a política efetivamente
pública e criar “novas” formas de sociabilidade, aproximando grupos socialmente distanciados.
O objetivo deste trabalho é analisar o principal instrumento desse movimento: a imprensa. A
imprensa foi, nesse momento, o local de surgimentos e inesperadas formas de competição
política. Esse foi um período em que se viveu uma liberação política jamais vista antes na história
brasileira, momento em que os periódicos foram o principal meio de popularização das novas
formas políticas que se moldavam. Os jornais não eram meros noticiadores, mas também
produtores de acontecimentos. A imprensa adotou enfoques políticos e raciais não apenas como
uma forma de fornecer informações, mas com a capacidade de influir nos acontecimentos a partir
de certas tendências políticas. A partir da narrativa criada em torno da trajetória de um homem
de cor, Maurício José de Lafuente, este trabalho busca discutir os limites e desafios teóricos e
metodológicos da pesquisa histórica sobre trajetórias no século XIX, tendo a imprensa como o
local em que essas estratégias eram colocadas em prática.

Palavras-chave: imprensa; trajetória; Lafuente.

26
DESAFIOS E CUIDADOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA HISTÓRICA EM PERIÓDICOS
ANARQUISTAS: UMA ANÁLISE A PARTIR DO LA VOZ DE LA MUJER (BUENOS AIRES, 1896-1897)

Gabriela Schwengber (mestranda - PPGH/ UFSM)

O La Voz de La Mujer foi um periódico publicado por um grupo de mulheres anarquistas em


Buenos Aires — Argentina, entre 1896 e 1897. Em suas páginas se dedicavam a múltiplas
temáticas, desde as mais frequentes no movimento libertário como expor a exploração burguesa,
criticar a Igreja, denunciar as injustiças das guerras, comentar e criticar acontecimentos locais
publicados na grande imprensa. Até as demarcadas pelo gênero, como ao denunciar a exploração
que as mulheres sofriam — tanto pelos seus patrões quanto pelos maridos, e convocar as leitoras
para uma revolução social através do comunismo anárquico, uma novidade no contexto
bonaerense. Ao utilizar periódicos anarquistas, operários e/ou femininos, enquanto fontes para a
pesquisa histórica, encontram-se alguns desafios característicos deste tipo de imprensa. Afinal,
possuem menores condições financeiras e de produção, logo, publicam com menos frequência.
De maneira geral, contam com redes de solidariedade e sociabilidade para a divulgação,
financiamento e produção da folha, além de possuírem posicionamentos políticos contrários aos
poderes institucionais ou a algumas práticas sociais, criando tensões, que igualmente dificultam a
permanência de publicação dos periódicos. Devido a possíveis represálias, também é muito
comum a utilização de pseudônimos nas publicações, o que torna-se um desafio para a(o)
historiador(a) para traçar indivíduos e suas trajetórias. Desta forma, o objetivo deste trabalho é
debater os desafios e cuidados metodológicos necessários para a pesquisa com esta imprensa —
operária, feminina e libertária, através da análise do La Voz de La Mujer. Enquanto metodologia,
foi utilizada a hermenêutica tradicional de análise de fontes históricas, na qual se desenvolve uma
análise da linguagem e construção do discurso, assim como do contexto de produção do
documento. Ao encontro disso, também foram aplicados os cuidados metodológicos na utilização
de periódicos, conforme destacado por Tânia de Luca (2008), e as colocações de Eduardo Cunha
(2018) foram imprescindíveis para a compreensão da organização dos periódicos anarquistas. Foi
possível observar através das fontes e também de outras pesquisas, como de Laura Maciel (2016)
e Ingrid de Souza (2018), a sociabilidade e inserção dessas mulheres no meio anarquista de
Buenos Aires, além de traçar hipóteses sobre quais indivíduos e grupos sociais liam o periódico,
em função das listas de colaboração financeira que constava nome (ou pseudônimo) e valor da
contribuição. Entre as dificuldades, mantém-se a de mapear quem eram estas anarquistas e quais
suas trajetórias. Ainda faltam outros vestígios históricos, para que seja possível cruzar fontes e
propor possibilidades.

Palavras-chave: Metodologia; Periódico anarquista; La Voz de La Mujer.

“INDEPENDÊNCIA OU MORTE”: INTERPRETAÇÕES DO PASSADO E DO PRESENTE

Dr.° Arthur Ferreira Reis (UFES)

O consagrado Grito do Ipiranga proclamado, segundo narrativa clássica da independência do


Brasil, no dia 7 de setembro, foi e é um evento bastante discutido e comemorado no país. Sua
centralidade para a política e sociedade brasileira deve-se à sua representação como evento
fundador da nova nação, algo que é frequentemente revisitado e revisado por historiadores e

27
interessados em busca de reforçar determinadas narrativas políticas.O objetivo dessa
comunicação é explorar as repercussões do “Grito do Ipiranga” em 1822, momento em que teria
acontecido, e em 2022, durante as comemorações do bicentenário da independência do Brasil.
Essa investigação pretende entender os usos políticos do acontecimento tanto por seus
contemporâneos quanto da sociedade atual, já que o bicentenário coincidiu com um ano
eleitoral. Para isso, primeiro vamos proceder com uma exploração de como periódicos de 1822
retrataram o acontecimento. Por meio da análise das notícias e dos discursos veiculados nesses
documentos, buscaremos compreender como o fato foi noticiado e utilizado politicamente pelos
diversos grupos políticos da época. Após, vamos examinar as repercussões do dia 7 de setembro
de 2022 na internet por meio da mineração de textos e redes de sociabilidade do Twitter. Com o
auxílio de softwares como o Gephi e o Iramuteq, vamos entender como a sociedade atual utilizou
esse mesmo acontecimento para defender ideias e grupos políticos.

Palavras-chave: independência; imprensa; twitter.

JORNALISMO E POLÍTICA O LIBERALISMO NA REVISTA MAQUIS (1956-1959)

Caio César Cuozzo Pereira (doutorando -


PPHR/UFRRJ)

O jornalista Fidélis dos Santos Amaral Netto (1921-1995) fundou a Editora Reforma S.A. em 1956
objetivando produzir uma revista jornalística intitulada Maquis. O capital para esse projeto foi
alcançado através de uma subscrição pública de ações da editora. Políticos de diversos partidos
adquiriram ações, principalmente aqueles que formavam na União Democrática Nacional (UDN).
Alguns deles, inclusive, acabaram se tornando colaboradores da revista, principalmente na
função de colunista. A primeira edição de Maquis foi posta em circulação em 05 de agosto de
1956. A data marcava o aniversário de dois anos do homicídio do major Rubens Florentino Vaz,
assassinado durante um atentando contra o jornalista e político Carlos Lacerda (UDN). No
editorial de lançamento, Amaral Netto indicou que a política era a pauta principal de Maquis e
afirmou que a revista se propunha a lutar pela reforma do Brasil. Assim, Maquis se notabilizou
pela oposição que foi construindo no jornalismo ao governo Juscelino Kubitschek (1956-1961),
principalmente a sua política econômica desenvolvimentista. Tendo em vista tais apontamentos
sobre a relação de Maquis com o campo político, este artigo pretende investigar e analisar as
ocorrências dos termos liberal e liberalismo em suas páginas entre 1956 e 1959. Inicialmente,
apresentaremos um panorama sobre a revista e seu jornalismo para justificar o recorte e a
escolha temática propostos. A seguir, desenvolveremos uma análise quantitativa e qualitativa das
fontes. Esse encaminhamento servirá tanto para apreender posicionamentos manifestados por
seus produtores quanto para compreender como tais termos figuravam em suas reportagens
políticas. No fim, defenderemos que a investigação empreendida permitiu entrever alguns
aspectos constituintes da ideia de reforma política que Amaral Netto preconizou no editorial de
lançamento da revista.

Palavras-chave: Jornalismo – Maquis – Imprensa.

28
“CORRE QUE LÁ VEM OS HOME!”: VIOLÊNCIA, ESTADO E MOVIMENTO LGBTIA+ NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO

Victor Hugo S. G. Mariusso (Mestre em História -


PPGH/UFG)

Objetiva-se por meio deste trabalho, analisar a violência policial contra a população LGBTIA+ no
período marcado pelo declínio na ditadura militar no Brasil, mais especificamente entre os anos
de 1978 e 1981, período de publicação do jornal Lampião da Esquina. Tal periódico, foi o primeiro
feito por e para homossexuais a circular em nível nacional, em pelo menos quatorze capitais.
Além do mais, fez parte da formação do chamado movimento de afirmação sexual brasileiro no
final da década de 1970. A partir de tais análises, é possível perceber, não somente a conjuntura
na qual o jornal e o movimento LGBTIA+ estavam inseridos, mas, também observar como essa
violência ainda permeia a contemporaneidade, embora, não se vivencie mais um regime militar.
Ou seja, entende-se, que não há luto/justiça para a população LGBTIA+ no Brasil, bem como, a
democracia não chega a essa parcela da sociedade. Nesse sentido, parte-se do presente,
tentando entender o porquê da manutenção dessa violência (apoiados em discursos do
ex-presidente da república Jair Bolsonaro e de práticas do seu governo), retorna-se ao passado
por meio do Lampião da Esquina (1978-1981), observando um Estado extremamente violento no
campo dos costumes, para em seguida, compreender aquilo que se modifica e se mantém no que
tange as práticas de violência por parte do Estado, direcionadas a população LGBTIA+, bem
como, a ações que permeiam o movimento organizado.

Palavras-chave: Ditadura militar; Estado; Brasil Contemporâneo.

SAMBISTAS NEGROS E SUA (IN)VISIBILIDADE NOS CÂNONES DA CRÍTICA MUSICAL


BRASILEIRA

Lellison de Abreu Souza (doutorando


-PPGHIS/UnB)

A diáspora negra espalhou milhões de negros escravizados pelo continente americano,


resultando na formação de diversos gêneros musicais como Cumbia, Currulao, Juga, Bunde,
Abozao, Patacoré na Colômbia; Rumba, Son Cubano, Son Montuno em Cuba; Merengue na
República Dominicana; Bomba e Plena, em Porto Rico; Zamacueca e Festejo no Peru; Albazo no
Equador; Chacarera, Chamamé, Milonga e Tango na Argentina; Cueca no Chile; Saya na Bolívia;
Candombe no Uruguai; Carimbó, Maracatu, Frevo, Cacumbi, Congada, Marujada, Moçambiques,
Calango, Jongo, Folia de Reis, Coco, Embolada, Tambor de Crioula, Samba e Choro no Brasil.
Todavia, nem sempre a contribuição fundamental dos negros nestes gêneros musicais foi
respeitada, de modo que processos de invisibilização atuaram ao longo do tempo. Pensando no
caso brasileiro, a presente comunicação versa sobre a presença de sambistas negros (homens e
mulheres) em instrumentos de construção de cânones, a saber: listas de melhores e mais
importantes artistas e discos e listas de vendagens de discos, que perfazem o recorte temporal de
1965 até 2023, buscando apreender como que mecanismos racistas atuaram na construção de tais
instrumentos e no consequente estabelecimento de cânones musicais. As listas compreendem
basicamente o material produzido pela influente revista Rolling Stone (edição brasileira) e os
índices de vendagem produzidos pelo NEOPEM a partir de 1965. Tais instrumentos de construção
de cânones são relevantes por influenciarem a opinião pública, além de constituírem espaços de

29
inclusão e exclusão de artistas e de projeção de memórias, atuando como elemento constitutivo
de referências para o público consumidor. O objetivo principal é investigar a frequência de
aparições de sambistas negros nas referidas listas, levando em conta os responsáveis pela
seleção dos artistas mencionados, o histórico das publicações e os critérios informados como
adotados como referências para a seleção. Diversos autores (LOPES, 1992, 2004 e 2008;
CANDEIA, 1978 e SIMAS, 2015) atestam a importância do samba para a música popular brasileira,
bem como da contribuição de artistas negros para a criação e desenvolvimento do samba, de
modo que é possível rastrear a presença de sambistas negros nos textos dos críticos desde o
estabelecimento da crítica musical como campo autônomo de atuação.

Palavras-chave: Sambistas negros, Cânone.

O MASSACRE DO CARANDIRU (1992) A PARTIR DA IMPRENSA: ANÁLISE DE COMO OS


JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E ESTADO DE SÃO PAULO NARRARAM O MASSACRE.
Gustavo Vasconcelos (graduando em História,
Universidade Estadual Vale do Acaraú)

Este trabalho tem como principal objetivo entender como foi narrado o episódio conhecido como
Massacre do Carandiru, evento em que mais de 100 pessoas foram assassinadas pela polícia
militar em um presídio público do Estado de São Paulo em 1992. Para isto, iremos investigar como
dois, dos principais jornais impressos do Brasil narraram o evento: O jornal Folha de São Paulo e
Estado de São Paulo (Estadão). Iremos analisar especificamente os números que se dão a partir
do dia 30 de setembro (dois dias antes do ocorrido) até o último dia que o massacre ainda ganha
notoriedade dentro dos jornais mencionados. Estes documentos serão acessados de maneira
online, por meio de seus respectivos acervos digitais que são disponibilizados pelos próprios
jornais de forma gratuita no caso do periódico Estado de São Paulo, e com necessidade do
pagamento de um valor simbólico mensal no caso do Jornal Folha de São Paulo. A ideia é
entender como esses jornais narraram o caso, buscando compreender principalmente as
seguintes questões: Como os jornais se utilizaram da linguagem escrita e gráfica para narrar o
caso? Como estes sujeitos (corpos negros, em grande maioria) foram apresentados no conteúdo
gráfico e linguísticos dos jornais? Qual opinião pública pretendia formar com isso? Havia
perspectivas divergentes entre os dois jornais (e no interior de cada jornal)? Para respondermos
tais perguntas articularemos as informações obtidas a partir da pesquisa nos jornais e da
bibliografia que compõe a pesquisa. Nesse sentido, organizamos a pesquisa em três capítulo,
sendo o primeiro intitulado "O que é uma prisão? Quem são os prisioneiros?", neste texto
tentamos apresentar uma perspectiva de como se forma historicamente a prisão, partindo
especialmente da visão foucaultiano (2015) da Prisão enquanto instituição moderna, e então
construindo um repertório teórico metodológico a partir de Foucault (2015), ngela Davis (2020) e
Michelle Pehot (2021). No segundo capítulo, intitulado "As prisões no Brasil", tentamos
apresentar a maneira com que a prisão se constituiu no Brasil a partir de suas especificidades
históricas brasileiras, especialmente o racismo. E por fim, tratamos propriamente da análise dos
periódicos, pensando a maneira com que a imprensa se relaciona com eventos de desrespeito
aos direitos humanos no Brasil.

Palavras-chave: Prisão; Massacre do Carandiru; Imprensa.

30
MARIA GRAHAM E MARIANNE NORTH ATRAVÉS DOS IMPRESSOS BRIT NICOS
Ma. Flaviana Aparecida da Silva (doutoranda -
UFJF)

As transformações advindas da criação da prensa por Gutenberg promoveram na Europa uma


maior disseminação de informações, notícias, ideias, representações e discursos. A presente
comunicação tem como objetivo apresentar como as viajantes inglesas Maria Graham e Marianne
North aparecem na imprensa britânica. A pesquisa está em sua fase inicial, portanto, está sendo
realizado o mapeamento dos impressos que estão digitalizados no The British Newspaper
Archive, que em parceria com a British Library e a Findmypast disponibilizaram um grande
acervo do século XIX na plataforma digital. Maria Graham nasceu na Inglaterra em 1785 e realizou
viagens pela Índia, Itália, Brasil e Chile. Filha e esposa de membros da Marinha Britânica, além de
viajante, ela também era uma escritora e botânica, e publicou diversos gêneros literários como
literatura de viagem, história, arte e contos infantis. Em sua viagem ao Império do Brasil, Maria
Graham visitou as províncias de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, e esteve inserida em redes
de sociabilidade onde estavam presentes portugueses, ingleses, políticos, marinheiros e a Família
Real. Marianne North nasceu em 1830 em uma família tradicional de políticos britânicos. Seu pai,
Frederick North, era membro do Partido Liberal, e durante boa parte de sua vida ela o
acompanhou nas viagens a serviço da política. Quando seu pai morreu, ela iniciou uma série de
viagens pelo mundo para fazer o que mais gostava: pintar flores. Assim como Maria Graham,
Marianne North era uma botânica e realizou diversas atividades na área da história natural. As
duas personagens, portanto, foram mulheres que se destacaram na área das letras, da botânica e
das artes. Nesse sentido, os jornais britânicos noticiavam sobre suas viagens e produções. Em
relação a Maria Graham, há inúmeras informações sobre seus diários de viagem. Já Marianne
North foi muito representada através dos seus trabalhos de botânica. Inserida na área da história
das mulheres e das relações de gênero, a presente pesquisa que é um recorte da tese de
doutorado que está em andamento, busca entender as atuações das viajantes por meio do
percurso dos jornais.

Palavras-chave: Maria Graham; Marianne North; Imprensa britânica.

BUSCANDO OS MOTIVOS DOS SILÊNCIOS: REMONTANDO OS DISCURSOS QUE


JUSTIFICAVAM O AFASTAMENTO DAS MULHERES DO MUNDO PÚBLICO E DOS IMPRESSOS

Isadora de Mélo Escarrone Costa (Doutoranda -


PPGH/UERJ)

Muitas vezes, ao longo da História, as mulheres foram vistas como o motivo do pecado original,
como aquela que apresentava uma inclinação natural ao vício, vaidade e falsidade. Tais discursos
foram evocados desde a Antiguidade, firmados por pessoas vistas como autoridade no
pensamento ocidental: Platão, Aristóteles, os escritos bíblicos de Paulo, Kant, Rousseau e outros
são apenas alguns dos muitos homens que escreveram sobre as mulheres e perpetuaram
estereótipos e limites de suas atuações. Com a Revolução Francesa, ao mesmo tempo em que
algumas vozes se levantaram a favor das mulheres, a busca por igualdade, na prática, acabou
tomando meios tortuosos quando se cogitava a ampliação dos direitos das mulheres em relação
aos homens. O que, certamente, perpetuou a associação das mulheres à natureza e a não-razão
entre seus contemporâneos e até mesmo entre os próprios revolucionários franceses. Esse ponto
de vista foi utilizado para legitimar a não-incorporação das mulheres em muitas funções,

31
profissões e até mesmo na própria vida pública, na político-partidária e no mundo do livro e dos
impressos. Com base nesse contexto, o presente trabalho busca compreender como os discursos
acerca da interiorização das mulheres foram se construindo e perpetuando-se ao longo dos
diferentes escritos, desde a Antiguidade. Além disso, busca-se entender como tais escritos
influenciaram a relação entre as mulheres e a imprensa do próprio Império do Brasil. Para isso,
utiliza-se da História Política Renovada e da História Cultural – especialmente as contribuições
conceituais de Roger Chartier e a História das Mulheres aos moldes de Michelle Perrot.

Palavras-chave: Mulheres; Império do Brasil; Imprensa.

ROMPENDO SILÊNCIOS: O USO DOS IMPRESSOS OFICIAIS COMO FONTE DE PESQUISA PARA
A HISTÓRIA DAS MULHERES

Ana Luzia Pereira Martins (Mestranda - UERJ)

A presente comunicação tem como objetivo apresentar os Anais do Parlamento Imperial como
fontes de pesquisa para a história das mulheres. A partir da liberdade de imprensa, em 1821, a
palavra impressa tomou corpo incendiando as muitas das discussões que culminaram na
independência do Brasil. Debates que envolviam questões políticas, econômicas, culturais, entre
tantas outras, foram amplamente discutidos no meio público pela palavra impressa. O processo
de Independência possibilitou a inserção das mulheres no debate público por meio dos
periódicos. Os redatores escreviam visando ensiná-las o sentimento de amor e obrigação cívica
que deveriam ter com a pátria (LYRA, 2006, p.113), sendo a atitude retribuída com manifestações
escritas por elas, e que muitas vezes foram publicadas nos periódicos. No Parlamento (Câmara
dos Deputados e Senado), surgido no Brasil em 1826, a atuação feminina ficou restrita ao
instrumento de petição, direito que foi garantido na constituição de 1824. As petições
encaminhadas para Câmara eram analisadas pelas comissões responsáveis e posteriormente,
levadas para serem discutidas nas sessões do Parlamento. As mulheres que peticionaram nesse
momento, buscavam a resolução de problemas individuais, sendo a maioria, relacionada à falta
de recursos financeiros. Nesse sentido, a comunicação pretende identificar quem foram essas
mulheres e suas principais demandas. Para tal, serão utilizados os Anais, compilações impressas
pertencentes ao acervo bibliográfico da Câmara e do Senado, como fonte de análise. Por buscar
observar os recursos utilizados pelas mulheres para obtenção de direitos nessa conjuntura, assim
como o posicionamento dos políticos sobre as mulheres, as considerações teórico-metodológicas
da História Política renovada e da História Cultural mostram-se relevantes, principalmente dos
historiadores franceses Roger Chartier, com o conceito de representação e Michelle Perrot. Por se
tratar de ações femininas, o campo da História das mulheres, permite trabalhar a agência
feminina, as lutas e as expectativas femininas.

Palavras-chave: Anais; Impressos; Mulheres.

A GUERRA NAS PÁGINAS DO DIÁRIO DE PERNAMBUCO: O ATAQUE ALEMÃO E A RESISTÊNCIA


POLONESA (1939)

Messias Araujo Cardozo (Doutorando – UFRGS)

32
As guerras foram eventos históricos que tiveram presença maciça na imprensa. Com uma tiragem
quase diária, o Diário de Pernambuco tematizou sobre variados assuntos no que concerne à
política internacional europeia, apesar de ser um jornal de circulação quase que exclusivamente
regional. Nesse sentido, tomando o jornal como fonte, podemos fazer a seguinte
problematização: como a invasão alemã da Polônia foi presente nas páginas do Diário de
Pernambuco? Desde o início da invasão, até o colapso da resistência polonesa, o periódico
retratou o evento de uma maneira peculiar. Ao analisar as páginas dos periódicos, o historiador
deve estar atento ao caráter polifônico das narrativas, as intencionalidades, as perspectivas
ideológicas e as posições políticas assumidas ou veladas. Afinal, “todo jornal organiza os
acontecimentos e informações segundo seu próprio filtro” (ZICMAN, 1985, p. 90). Interessa
mencionar a posição ambígua do governo de Vargas frente ao conflito iniciado em 1939. Ao menos
no início das hostilidades, a posição oficial do governo brasileiro era de neutralidade. As relações
comerciais e diplomáticas com os países do eixo Roma-Berlim-Tóquio se manteriam até o Brasil
entrar oficialmente no conflito, fato ocorrido somente em 1942, quando do afundamento de
navios brasileiros na costa brasileira por submarinos alemães. Essa ditatura em âmbito nacional
produziu mudanças políticas na maioria dos estados brasileiros, Pernambuco não ficou alheio. O
estado nordestino vivia sob o governo do Interventor Federal Agamenon Magalhães (1893-1952),
escolhido por Vargas para assumir o governo do estado. Naquela conjuntura política
estado-novista, assim como a imprensa brasileira em geral (ROMANCINI; LAGO, 2007), os jornais
pernambucanos eram objeto de censura, tendo o Diário de Pernambuco e outros periódicos sido
objeto de censura algumas vezes, da parte dos censores do governo estadual (NASCIMENTO,
1967). A campanha nazi-soviética na Polônia durou apenas surpreendentes 35 dias (01/09/1939 a
06/10/1939). Durante aquele curto período, o Diário de Pernambuco deu ampla cobertura ao
conflito, presente em todas as capas das edições o assunto. A movimentação das tropas alemãs,
as esperanças na coalização franco-inglesa, a heroica resistência polonesa até o ataque soviético
à traição das linhas polonesas, todos esses eventos figuram nas páginas do periódico.

Palavras-chave: Guerra. Jornal. Polônia.

A AUTORIA EM DEBATE NAS GRAVURAS DE JOHANNES STRADANUS (SÉC. XVI)

Augusto Godinho Vespucci (doutorando -


PPGH/UFG)

A autoria nos séculos XV e XVI passava por amplas transformações. Um pintor, gravurista ou
escultor, não era responsável por seus produtos de forma isolada. Os mecenas, em muitos casos,
comissionavam obras com um conteúdo já pré-definido, preços a serem pagos e locais onde a
obra seria vista. Nesse sentido, o mecenas é também um autor? Os partícipes numa produção
artística dos séculos XV e XVI não se limitam ao artista e o mecenas. Os integrantes da produção
de uma obra de arte são diversos e nos levantam questionamentos a cerca da possibilidade de
colocarmos em debate a existência de uma autoria individual. Nas gravuras de Johannes
Stradanus (1523-1605), um gravurista belga que viveu grande parte de sua vida em Florença,
podemos perceber que a autoria das gravuras era um processo complexo de compartilhamento
de famas e influências, assim como de habilidades e interesses, não limitando a autoria somente
ao gravurista, mas ao inventor, o escultor, o executor, o mecenas e também os homenageados na
obra. Discutiremos no trabalho a seguir se a autoria nos séculos XV e XVI era una ou diversa,
empenhando nosso enfoque na produção de gravuras.

33
Palavras-chave: Gravuras; Autoria; Impressão.

DOENÇAS, MORRER E MORTE NA IMPRENSA CEARENSE NO OITOCENTOS.

Daniel de Sá Aguiar (doutorando -UFPI)

Dr° Francisco Gleison da Costa Monteiro (UFPI)

A pesquisa em fase de desenvolvimento estuda como se processou ações sanitaristas com foco
na política de construção de cemitérios registrada nos periódicos cearenses do século XIX. Os
sepultamentos neste período passam a ter o controle estatal ao serem feitos nos cemitérios
públicos para evitar contaminações e proliferações de doenças que são preocupações da
província que conviveu com epidemias. Será analisado práticas e discursos contrários ou que
questione estas políticas públicas tendo em vista os embates dos interesses das elites provinciais
diante destes avanços da racionalidade Médico-Sanitária que busca interferir no tratamento dos
corpos doentes e mortos. As práticas e representações simbólicas em relação ao morrer e morte
vão sofrendo mudanças diante do avanço de novos conhecimentos e modos de enxergar o
mundo, que se verifica nos jornais tendo na morte uma preocupação com a vida que neste século
XIX vai sendo mais racionalizada a partir do olhar científico que passa a orientar as políticas
públicas de saúde do império. Mesmo diante deste cenário os periódicos registram a perspectiva
religiosa da igreja católica como religião oficial do estado imperial que detinha um grande poder
sobre a ritualização em relação as doenças a morte e o morrer. Dentre os periódicos cearense
com maior destaque para os estudos temos: Gazeta Official, O Cearense, O Sol, e Pedro II,
Gazeta do Norte, entre os anos de 1840-1890. A história cultural e a micro-história são as
correntes historiográficas que nos ajudam a fundamentar a pesquisa com destaque para os
trabalhos de ARIÉS (2012), BURKE (2011), FERNANDES (2004), LUCA (2005), PINHEIRO, LEMOS
(2016).

Palavras-chave: Doenças – Sanitarismo- Cemitério – Imprensa.

AS MULHERES AS CRIANÇAS MIGRANTES NORDESTINAS NAS FOTORREPORTAGENS DA


REVISTA O CRUZEIRO (1951-1955)
Márcio Douglas de Carvalho e Silva (Graduando em
Filosofia-UFPI)

Durante a década de 1950, houve um expressivo fluxo migratório de nordestinos em direção aos
principais centros urbanos do Brasil, especialmente às importantes cidades de São Paulo e Rio de
Janeiro. Para alcançarem seus destinos desejados, essas pessoas frequentemente recorriam a
meios de transporte precários conhecidos como "pau de arara". Essa árdua jornada despertou a
atenção da imprensa da época, que, entre outros aspectos, divulgava as condições de vida desses
migrantes durante o percurso e após a chegada, muitas vezes estendendo-se por semanas. Um
veículo de comunicação que se destacou nesse contexto foi a revista O Cruzeiro, que produziu
uma série de fotorreportagens enfatizando as imagens dos rostos das mulheres nordestinas e o
sofrimento das crianças migrantes. Infelizmente, em alguns casos, essas crianças não resistiam à
exaustiva jornada e faleciam durante o percurso. Através de sete edições publicadas entre os
anos de 1951, 1952 e 1955, este texto tem como objetivo analisar a migração das de mulheres e
crianças nordestinas com base nas fotorreportagens veiculadas na revista O Cruzeiro.

34
Palavras-chave: Migração; Nordestinos; Fotorreportagem; O Cruzeiro.

O INDEPENDENTE: UM JOVEM AUTOR DE COR DE UM JORNAL MODERADO NA IMPRENSA


CARIOCA (1832-1833)

Maria Eduarda de Abreu Cavalcante

O objetivo deste trabalho é analisar as diferentes biografias escritas sobre a trajetória de vida de
Francisco Sales Torres Homem, um homem de cor que, ao longo de sua trajetória profissional e
política, publicou diversos jornais tais como O Independente (1832-1833), O Libelo do Povo (1849),
entre outros. Os jornais lhe possibilitaram acúmulo de pecúlio e status social para ascender aos
cargos públicos, sendo eleito Deputado, Ministro da Fazenda e, Senador, no parlamento, exerceu
um memorável papel, posicionando a favor da Lei do Ventre Livre de 1871. Conforme mostram as
biografias, Torres Homem mudava constantemente de posicionamento, sendo, primeiramente,
Liberal Moderado, depois, Liberal, Conciliador e, por fim, Conservador. Em cada uma das
diferentes “fases” de sua vida, Torres Homem publicou jornais e panfletos que lhe deram fama
suficiente para chegar ao Senado, o que levou a criação de uma imagem sobre o mesmo como
um “oportunista”, alguém que mudava de posição afim de atender suas ambições pessoais. Essa
opinião sobre Torres Homem, era estimulada pela sua conhecida origem social: filho de uma
“preta quitandeira” e de um “padre negocista”, motivo pelo qual, muitos de seus opositores
enfatizavam sua “malandragem”, descrevendo-o como “um crioulo malandro”. O fato, porém, de
Torres Homem “ocultar sua mulatice”, através de recursos estéticos, levou a uma terceira imagem
to mesmo, o homem de cor agorrante, que se vestia e se comportava como se fosse “o único
mulato do mundo”. De fato, foi através de várias estratégias: a ilustração, as mudanças de
posicionamento e, a ocultação da negritude, levaram Torres Homem a ascender socialmente,
chegando a ser, primeiramente, um grande jornalista Liberal, o famoso “Timandro”, em segundo,
um grande financista, presidente do Banco do Brasil e Ministro da Fazenda, um defensor da
conciliação e, traidor dos liberais, um grande orador e parlamentar Conservador e, por fim, o
Visconde abolicionista de Inhomirim, o paladino da Lei do Ventre Livre. Cada uma destas
imagens - o jovem jornalista Moderado; o Liberal Timandro; o Conciliador Torres Homem; o
Conservador Visconde de Inhomirim e o Mulato Abolicionista - são mais, ou, menos enfatizadas
nas seis biografias que serão destrinchadas neste estudo. O que se visa com o estudo das
biografias é mostrar como a figura de Torres Homem, foi retratada por cada biógrafo,
compreendendo, como a memória deste personagem histórico fez, e continua fazendo, parte de
um jogo de interesses. E nesse jogo, visa-se entender, qual imagem de Torres Homem, prevaleceu.

Palavras-chave: Torres Homem, biografias, imagens cristalizadas.

SIMPÓSIO TEMÁTICO - AJUSTAR PONTEIROS NAS HISTÓRIAS:


MULHERES NEGRAS TECEM NARRATIVAS E DECOMPÕEM SILÊNCIOS

35
CATARINA E EVA: AS MULHERES ESCRAVIZADAS DA FAMÍLIA DE AZEVEDO E SOUZA, E SUAS
EXPERIÊNCIAS DE BUSCA E CONQUISTA DA LIBERDADE (PELOTAS, RIO GRANDE DO SUL,
1871-1888)

Marina Ribeiro Cardoso (mestranda, PPGH/UFPel)

A história das mulheres escravizadas tem sido amplamente discutida nos últimos anos, bem
como suas experiências de busca e conquista da liberdade a partir de formas diversas de
agenciamento e resistência. Marina Camilo Haack (2019) pontua que agência ou “agir humano”,
está atrelada a todas as práticas exercidas por pessoas contra opressões e sistemas opressivos
impostas a elas. São movimentações e articulações que partem de suas experiências cotidianas
particulares, atravessadas por questões específicas, como o gênero e, dentro deste vasto recorte,
a maternidade, por exemplo. Assim, as agências e resistências praticadas dia após dia estavam
representadas desde as práticas mais explícitas, como as fugas e formações de quilombos nos
arredores das cidades, às mobilizações mais sutis pela conquista da liberdade, tal como a carta
de alforria e a construção da família (MOREIRA, 2006). Desta maneira, mulheres escravizadas
lutavam pela sua liberdade e pela liberdade de outras pessoas, buscando formas de negociação,
reivindicando direitos na justiça e, até mesmo, aprendendo a ler e a escrever, como descreveu
Angela Davis (2016) para os Estados Unidos. Já na cidade de Pelotas, no sul do Império do Brasil,
duas mulheres articularam-se como podiam para garantir a liberdade e, também, auxiliar outras
pessoas neste processo. Seus nomes eram Catarina e Eva. Duas mulheres com histórias distintas,
que tinham em comum a pertença à mesma família senhorial dos Azevedo e Souza. Apesar deste
ser um aspecto importante por representar possíveis ligações de proximidade pessoal entre elas,
o que interessou-se em refletir, até o presente momento, foi sobre suas experiências distintas na
busca e conquista pela condição jurídica de livres. Portanto, o presente trabalho a ser
apresentado discorrerá sobre as vivências de ambas as mulheres e como elas refletem em
importantes referências de agência e resistência. Com finais distintos, será observado, mais
especificamente, os processos que percorreram em suas histórias e como elas podem representar
a luta de outras milhares de mulheres oprimidas pela escravidão. Assim, através de uma análise
qualitativa de cartas de alforria, registros de batismos, inventário post-mortem e processos crime,
visou-se reconstruir os vestígios que deixaram pela cidade que ficou conhecida, no século XIX,
pela sua ampla produção de charque.

Palavras-chave: Escravidão; Liberdade; Gênero.

OS “ANOS DOURADOS” NA OBRA “QUARTO DE DESPEJO - DIÁRIO DE UMA FAVELADA”:


UMA CONTRA NARRATIVA (1955-60)

Rafaela Barroso Araújo (Mestranda –


PPGHCE/UECE)

A pesquisa tem como objeto de estudo a obra literária “Quarto de Despejo - Diário de uma
Favelada” (1960), de Carolina Maria de Jesus, em diálogo com outras fontes
historiográficas/documentais entre os anos de 1955 - 1960. A presente fonte nos oferece
elementos que podem ser problematizados e historicizados numa perspectiva interseccional
(gênero, raça e classe). O texto caroliniano além do seu valor literário e estético, também
apresenta valor histórico, uma vez que temos o discurso da autora-protagonista, uma mulher
negra, periférica que narra a sua história em primeira pessoa, nos trazendo dados importantes

36
sobre o cotidiano de grande parcela da população brasileira alocada de forma precarizada nos
grandes centros urbanos. Em “Quarto de Despejo”, é possível fazer a análise de um dado
contexto histórico partindo de um lugar incomum: o de uma mulher narradora de sua própria
história e que ao mesmo tempo fornece um arcabouço para repensarmos como se davam as
práticas políticas, os discursos midiáticos e uma visão “glamourizada” de uma época em que a
nação brasileira ostentava o status de “anos dourados”. A autora a partir de seus relatos escritos
em cadernos-diários, traz narrativas com cenas do cotidiano. O cenário apresentado por Carolina
contradiz o período histórico de prosperidade no qual o Brasil se apresentava enquanto uma
nação em pleno desenvolvimento econômico e cultural. Momento também marcado pela forte
atuação de figuras públicas relacionadas às políticas populistas. A exemplo temos o então
presidente da República Juscelino Kubitscheck e o desenvolvimentismo como marcador político
vigente na época. Com este estudo pretendo apresentar uma reflexão sobre relações coloniais e
colonialidade a partir do debate trazido por Anibal Quijano, (colonialidade do saber/poder) e
como tais práticas implicam na produção e validação/negação de determinados saberes e
epistemologias, bem como suscitar a problematização a respeito da produção do conhecimento
histórico e seus espaços de disputa.

Palavras-chave: Quarto de Despejo; interseccionalidade; anos dourados.

QUANTAS PROFESSORAS NEGRAS VOCÊ JÁ TEVE? MULHERES NEGRAS NA UNIVERSIDADE


FEDERAL DE GOIÁS: TRAJETÓRIAS E RESISTÊNCIAS

Ma. Talita Michelle de Souza (doutoranda -


PPGH/UFG)

Essa comunicação objetiva refletir sobre o papel das acadêmicas no protagonismo histórico
(2000- 2020), fixa-se em expectativas que protagonizam as vozes e experiências de discentes
negras na Universidade Federal de Goiás (UFG), em particular no curso de Licenciatura Plena em
História. Somado a isto, pretende-se analisar a permanência dessas mulheres negras nos
programas de graduação e de pós-graduação (Lato e Stricto sensu) ofertados pela mesma
instituição. O recorte dessa pesquisa está situado entre os anos de 2000 e 2020 pelo fato de que
este período reflete o antes e o depois da inserção das cotas raciais na UFG e da criação do
programa UFGInclui. Segundo Vaz (2012) o Projeto UFGInclui visa ampliar o número de
estudantes oriundos de escola pública e de alunos(as) negros(as) e indígenas aprovados no
processo seletivo da UFG, a fim de gerar uma composição social e racial entre os discentes desta
Universidade que minimamente reflita a composição sócio-racial da sociedade brasileira e,
especialmente, goiana. Segundo o último censo do IBGE, Censo 2000, a composição por cor/raça
da população de Goiás é a seguinte: 50,7% de cor/raça branca; 48% de cor/raça negra (4,5% preta
e 43,5% parda), 0,2% de cor/raça amarela e 0,3% de cor/raça indígena. (Contraproposta do
Projeto UFGInclui, 2007). Nesse espaço de diálogo buscamos refletir a respeito do

37
distanciamento das mulheres negras na Universidade e suas trajetórias marcadas por
silenciamentos e exclusões.

Palavras- chave: Relações de Gênero, Feminismos Negro e Intercessionalidade.

MULHER E NEGRA NO YOUTUBE: UMA ANÁLISE DA REDE DE INTERAÇÃO DO CANAL “GABI


OLIVEIRA”

Ma. Camila Lima Pontes de Mello (Doutoranda do


Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em
Direitos Humanos/UFG)

Na era digital, identidades e comunidades desenvolvem-se fora das definições tradicionais


geográficas e constrangimentos físicos e/ou culturais. Os indivíduos buscam, em comunidades
virtuais, temas e opiniões que conjuguem com seus próprios anseios e características, assim, esta
pesquisa busca investigar como uma rede de interação é formada a partir de um canal de uma
mulher negra no YouTube. O YouTube é uma plataforma de geração de conteúdo em vídeo.
Lançado em 2005, é o segundo site mais visitado do Brasil e do mundo, atrás apenas do Google.
O teor do site é diversificado e global e oferece a oportunidade de divulgar conteúdo a um
público amplo de visitantes. Estudar as características que fazem tais sites atraentes para as
pessoas é crucial para entender o futuro das mídias sociais, pois se tornam a cada dia recursos
específicos de interação social, fonte de informações, notícias e entretenimento. O YouTube
possui algoritmos que organizam comunidades por temas ou nichos de representatividade e os
usuários são incentivados a consumir conteúdo de canais similares. Isso torna a interação com a
plataforma mais fluida. As comunidades virtuais são especialmente relevantes para a afirmação
da identidade negra pois, dentro da cultura participativa as vozes negras encontram espaço
contra-hegemônico. Neste contexto, esta proposta visa responder ao seguinte problema de
pesquisa: como se estrutura a rede das principais interações do canal de temática negra “Gabi
Oliveira” a partir da análise dos canais destacados na sua página no YouTube? O objetivo central
deste estudo é analisar antropologicamente os temas retratados por essa comunidade e a rede de
interação que constrói dentro do YouTube, sob à luz da Análise de Redes Sociais (ARS). A
metodologia envolve a coleta de dados por meio do software (crawler) YouTube Data Tools,
desenvolvido pelo Digital Methods Initiative. O referido software ainda permite segmentar a rede
na qual insere-se um canal no YouTube, para tanto, gera um arquivo na extensão .gdf, o qual
conta com a interpretação e tratamento dos dados do software Gephi, que oferece ferramentas
para gerar grafos de rede. Sendo assim será necessário examinar as características do próprio
YouTube, conceituar comunidades virtuais com base nos ensinamentos de Howard Rheingold
(1996) e discutir os conceitos de raça segundo Antonio Sergio Alfredo Guimarães (2012) e a
negritude segundo Fanon (2008), Gomes (2005) e Neusa Santos Souza (2021), além de ventilar
acerca do feminismo negro de acordo com Patricia Hill Collins (2016, 2019).

38
SIMPÓSIO TEMÁTICO - BIOGRAFIA, HISTÓRIA E EDUCAÇÃO
ANTIRRACISTA

“CRESPOS ESTÃO SE A[R]MANDO”: O USO ICONOGRÁFICO DA VIDA DE CAROLINA MARIA


DE JESUS NAS SALAS DE AULA
Núbia de Sousa Rodrigues (Mestranda/UFRJ;
NECOHM/UERJ)
Shelda Souza Martins (Graduanda/UERJ;
NECOHM/UERJ)

Dialogando com a pauta da educação antirracista, mobilizamos em nossa análise o uso de


materiais didático iconográfico, cuja centralidade se dá na figura de Carolina Maria de Jesus, pois,
compreendemos que tal abordagem permite educar o olhar do alunato de modo crítico sobre si e
sua realidade. Em vista disso, atendendo o estipulado pela Lei 10.639/03 e pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais, objetivamos suscitar o debate
sobre a representação do corpo negro, em especial do corpo da mulher negra na sociedade
brasileira, bem como os lugares que esse corpo ocupa, levando-se em consideração as inúmeras
tentativas de dominação e domesticação desses corpos (GONZALEZ, 2020), que constantemente
são postos a margem da sociedade. Ademais, como o debate gira em torno desses corpos e dos
simbolismos que eles carregam, visamos também a reflexão acerca da autoestima dos(as)
alunos(as) negros(as), tendo em vista que, o combate ao racismo é atravessado por diversas
etapas, que vão da aceitação ao amor e a apreciação pelos próprios traços fenotípicos, dentre
eles, os crespos que se armam como símbolo de aceitação, pertencimento e resistência. Pois,
como bem destaca Gomes, o cabelo é elemento identitário de um grupo social (GOMES, 2003),
que ao recusarem o alisamento, resistem a um padrão estético branco que se mostra perverso
para crianças e adolescentes, especialmente dentro do ambiente escolar, ao serem alvo de
comentários depreciativos. Cabelo esse que nas imagens clássicas da autora de Quarto de despejo,
está constantemente coberto por um lenço. Decorre daí também, pensarmos o porquê da
insistência recorrente em se propagar essa imagem de Carolina como mera “favelada”, com seu
cabelo escondido. Afinal, sabemos hoje que a autora foi muito mais do que uma mulher pobre,
preta e moradora de um barraco na favela do Canindé. Logo, nossa escolha por trabalhar com tal
tema e partindo deste olhar, corresponde ao que é ressaltado por Paulo Freire, ao afirmar que a
educação deve fazer sentido para o educando no seu principal objetivo, sendo este, o processo
emancipatório (FREIRE, 1987). Portanto, acreditamos que trabalhar com a história de vida de
Carolina Maria de Jesus, em sala de aula, através de uma abordagem iconográfica, se justifica
tanto pela sua atualidade, como pela simbologia que suas imagens carregam, afinal, os registros
evidenciam que a autora foi muito além das imagens clássicas de sua pobreza.

Palavras-chave: Carolina Maria de Jesus; Educação Antirracista; Estética Corporal

A INDEPENDÊNCIA PARA ALÉM DA NARRATIVA HEGEMÔNICA: A LUTA DE MARIA FELIPA


OLIVEIRA.

Maria Manuela Vitoria Fonseca Lourenço

39
O processo de Independência do Brasil, por vezes, é trabalhado em sala de aula escolar a partir
da experiência da Corte imperial, reforçando-se, com isso, tanto a ideia de uma memória
unificada a serviço de uma identidade nacional, quanto o mito de uma suposta pacificidade
brasileira. Recorrendo a outras narrativas, nos faremos valer da Lei 10.639/2003, voltando nosso
olhar para a Bahia, e a atuação de Maria Felipa de Oliveira, mulher negra, ganhadeira e líder do
‘Batalhão das Vedetas’, grupo pró independência. Para tanto, utilizaremos do livro ilustrado
‘Maria Felipa- Uma heroína baiana’, de Lívia Prata da Silva, quanto para sua presença em outras
narrativas historiográficas, em busca de uma abordagem antirracista na luta de emancipação.
Nosso propósito será discutir conceitos como liberdade e mulheridades na educação básica.

Palavras-chave: Ganhadeira; Independência do Brasil; Liberdade; Maria Felipa de Oliveira;


Memória subterrâneas; Mulheridades.

MULHERES NEGRAS: RELIGIOSIDADE, SOCIABILIDADE, E TRABALHO NA SEGUNDA METADE


DO SÉCULO XX

Ma. Nana Luanda Martins Alves (Professora -


SEC/Bahia)

O presente artigo busca apresentar aspectos da religiosidade negra de matriz africana a partir das
micro trajetórias de mulheres de candomblé na cidade de Alagoinhas na Bahia. O resgate da
memória através da fonte oral revela que as relações constituídas a partir das famílias religiosas
construíram uma ampla rede de sociabilidade e solidariedade, que fornecia não apenas a troca
de saberes religiosos, mas também formas de ocupação e trabalho para essas mulheres e sua
comunidade. Desenvolvendo funções como fateiras, charuteiras, feirantes, baianas de acarajé e
lavadeiras, elas participavam ativamente do cotidiano da cidade, movimentando a economia local
durante a segunda metade do séc. XX.

Palavras-chave: mulheres negras; religiosidade; trabalho

CÉLIA C MARA: O MECENATO PRIVADO EM GOIÁS (1975-1998)

Bianca Cristina Barreto Casanova (Doutoranda -


PPGH/UFG)

Este trabalho se propõe a biografar parte da vida de Célia Câmara, que, atuando como marchand,
estabeleceu um alto nível de negociações de arte em Goiás. O mercado de arte em Goiânia se
consolidou com a abertura da Casa Grande Galeria de Arte, inaugurada em 1975 por Célia
Câmara, que criou uma nova estrutura de venda de arte, ajudando a construir e profissionalizar o
mercado de arte goiano. Célia lançou mão do aparato midiático de seu marido, Jaime Câmara,
principalmente através do jornal O Popular, com colunistas que cobriam seus eventos, e uma
agenda repleta de exposições de artistas plásticos renomados nacionalmente, que agregavam
valor tanto à galeria quanto aos artistas locais com quem ela trabalhava. Além disso, Célia se
preocupava com o que chamava de “interiorização da arte”, fazendo conexões com políticos de
cidades do interior de Goiás para levar exposições de artistas goianienses. De todos os feitos de

40
Célia Câmara, merece destaque o estabelecimento, em 1977, do Concurso Novos Valores, que foi
o mais importante e acreditado salão de arte de Goiás, com o objetivo de contemplar, via
concurso, novos artistas que tentavam a entrada no mercado de arte.

Palavras-chave: Biografia; Célia Câmara; Mercado de Arte.

AFETOS QUE TRANSGRIDEM: DIÁLOGOS EDUCACIONAIS E IDENTIDADES NO MUNDO DO


DESAMOR

Fernando L. P. de Almeida (SEDUC-GO/DOCENTE


– mestrando / PPGEEB/CEPAE - UFG)

Apesar da formação educacional marcada pelas mazelas do racismo e tendo a escola como um
local de memórias negativamente marcantes, assim como foi e é para muitas pessoas negras ,
percebi que ali poderia encontrar redenção ao trazer para os meus alunos e alunas diálogos
respeitosos que buscassem construir uma educação emancipadora dos sujeitos e a formação de
suas identidades (GOMES, 2003). Procurando um espaço de (r)existência, encontrei no chão da
escola um local de diálogo, escuta e acolhimento. Para os negros o lecionar – o educar –
fundamentalmente político, tem raízes na luta antirracista (HOOKS, 2019) e fazer isso trazendo
aos alunos a visão que o “despertar para o amor só pode acontecer se nos desapegarmos da
obsessão pelo poder e pela dominação” (HOOKS, 2021, p. 123) vem sendo minha inquietude.
Quando falamos do amor, estamos dando significado ao ato do cuidado coletivo, das escutas
atentas às vozes. Dentro de uma sociedade onde o individualismo molda as maneiras de vir a ser
dos sujeitos, trazer o afeto para dentro da sala de aula é um desafio (HOOKS, 2019). As
brutalizações influenciadas pelo racismo e pelo egoísmo contemporâneo atravessaram as vidas
dos sujeitos, fazendo surgir críticas à sociedade do desamor e suas consequências no cotidiano
dos indivíduos que mais sentem, no corpo e nos nervos, as ações violentas (MBEMBE, 2021).
Contudo, “aqui a dor cria a noção; a indignação; o conceito; a dignidade; o discurso" (SOUZA,
1984, p. 13). Tendo em vista todas essas problemáticas das relações sociais, do racismo e do
individualismo, foi no território escolar que conseguimos trazer questionamentos e ações que
buscassem fortalecer o processo de formação dos alunos e a fragmentação das imagens
estereotipadas dos sujeitos negros (ACEVEDO e NOHARA, 2008). Nas aulas das trilhas
formativas que conectam experiências educativas com as múltiplas realidades goianas
encontramos um espaço de diálogo (DC-GO, 2018). Na oportunidade que apareceu em 2022, foi
realizado um trabalho que trazia novo entendimento sobre quem eles eram e como poderiam vir
a ser. Alunos dos mais diversos grupos étnicos expressaram suas subjetividades através de textos
e puderam compartilhar momentos de enriquecimento de suas identidades de forma a respeitar
as outras existências que conheciam no contexto educacional. Naquelas aulas, os alunos e alunas
tiveram a oportunidade de exercer autonomia e adquiriram um discurso sobre si. “Discurso que
se faz muito mais significativo quanto mais fundamento no conhecimento concreto da realidade”
(SOUZA, 1984, p.31).

Palavras-chave: Diálogos Educacionais; Identidades

MEDITAÇÃO: LEMBRANÇAS E SILÊNCIOS NA MEMÓRIA (AUTO)BIOGRÁFICA DE GONÇALVES


DIAS
Prof.ª Dr.ª Andréa Camila de Faria Fernandes

41
(NUBHES-UERJ / PNAP BIBLIOTECA NACIONAL)

O poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias é até hoje identificado como um dos grandes
nomes da nossa literatura. Alçado ao pantheon literário brasileiro já a partir da publicação de sua
obra inaugural, os “Primeiros Cantos”, que vieram a luz em 1847 e eram iniciados pela, hoje
célebre, “Canção do exílio”, não tardou muito para que sua vida e sua obra, fossem consagradas
como signos de uma identidade nacional brasileira que se construía. Mas toda construção de
memória é, como sabemos, um processo marcado por escolhas, mais ou menos deliberadas,
entre o que deve ser lembrado e o que deve ser esquecido, e na consagração da memória de
Gonçalves Dias como “poeta nacional” não foi diferente. Na busca por consagrar seu nome no
cenário letrado do Brasil oitocentista, Gonçalves Dias lançou as bases de um processo de
construção identitária que o tornava, por sua vida e sua obra, uma espécie de representante ideal
do ser brasileiro, quase um ícone de identidade, de tal modo que, da data do seu nascimento aos
temas de suas principais obras, passando pela sua filiação, já que era filho de pai português e
mãe cafuza, tudo foi associado à sua memória de poeta nacional. E nesse processo de
lembranças e esquecimentos, alguns silenciamentos, ao nosso ver, tornam-se bastante
significativos. No âmbito específico deste trabalho, pensamos nos silêncios em torno da obra
“Meditação”. Poema em prosa escrito por Gonçalves Dias entre 1845 e 1846, portanto,
contemporaneamente à publicação dos “Primeiros Cantos”, “Meditação” é uma obra onde o
autor criticava a escravidão e o fato desta “maldição que passa de pais a filhos”, como escreveu,
ser a base econômica do Império do Brasil. De caráter polêmico, a obra, que só foi publicada em
1849, na Revista Literária Guanabara, da qual Dias era editor, não encontrou a mesma celebridade
dos poemas indianistas e líricos de Gonçalves Dias, nem mereceu menção em sua narrativa
autobiográfica. No nosso entender, esses silêncios não se explicam pela qualidade literária da
obra, nem tampouco de seu autor, dado que a celebridade do poeta é inquestionável.
“Meditação” foi silenciada pois não corroborava a imagem de brasileiro ideal que Gonçalves Dias
representava e procurava representar, e é isso que procuraremos mostrar a partir da
problematização da memória (auto)biográfica do poeta e de sua fortuna crítica.

Palavras-chave: Meditação. Gonçalves Dias. Memória (auto)biográfica.

A CULTURA HIP-HOP COMO AÇÃO INTERVENTORA NA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

Felipe Freire Magalhães Lima


Carlos Alberto Rodrigues dos Santos

Conceição Evaristo explicou, em entrevista para o programa Roda Viva em 2021, que a
"escrevivência" é diferente de uma escrita narcísica, uma vez que ela parte da vivência individual
para revelar a história de uma coletividade. Em um caminho parecido, em 2017, Emicida afirmou
em entrevista para o programa Espelho que, ao cantarem sobre suas próprias vidas, o grupo
Racionais MC's talvez não tivesse consciência de que estavam retratando a vida de milhares de
pessoas. A "escrevivência" dos rappers, juntamente com as melodias do gênero musical, contam
sobre a vida cotidiana de jovens negros nas periferias do Brasil, e podem ser utilizadas como
facilitadores pedagógicos para conectar o conteúdo “tradicional” de História com a vida dos
estudantes.

42
Palavras-chave: Escrevivência; Cultura; Hip-Hop; Antirracismo

JOSÉ ANTÔNIO DE JESUS: A TRAJETÓRIA BIOGRÁFICA DE UM PROFESSOR NEGRO EM GOIÁS


ENTRE 1880 E 1890

Mariana do Nascimento Sousa (Graduando - UEG)

Pedro Henrique Martins de Morais (Graduando -


UEG)

Este artigo analisa a trajetória biográfica de José Antônio de Jesus, um professor negro que iniciou
sua vida pública em Goiás entre o final do século XIX e início do XX. Com ênfase na prática
institucional, perseguimos as contradições existentes nas obras que narraram a sua vida no
Sertão do Brasil Central. Nascido na cidade de Diamantina – MG, José é descrito como filho de
um homem que enriqueceu por meio da mineração. Segundo FRANÇA (1998), ainda na infância,
ele teria ficado órfão e ao ter sido entregue pelas tias ao Bispo de Diamantina, teria recebido
formação rígida e erudita. Quando jovem, mudou-se para Goiás e foi internado no tradicional e
elitista Seminário Santa Cruz. De lá, casou-se com a filha de um renomado latifundiário da cidade
de Jaraguá. José Antônio de Jesus foi professor, jornalista, político e pai de Leodegária de Jesus,
primeira mulher a publicar um livro de poemas em Goiás. A pesquisa se deu por meio da
abordagem teórico-metodológica da micro-história, bem como pela revisão bibliográfica de textos
memorialísticos e artigos de opinião. Por fim, verificou-se a ausência do uso de fontes
documentais que comprovassem as informações apresentadas pelos autores, em especial, no
período que antecede a sua chegada à Goiás.

Palavras-chave: José Antônio de Jesus; professor negro; Goiás.

A VIDA E A OBRA DE LIMA BARRETO: PROPOSTAS PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM EM


HISTÓRIA

Giselle Pereira Nicolau (PPGH – UNIVERSO)

O presente trabalho constitui-se de uma intervenção pedagógica realizada no bojo do centenário


de falecimento de Afonso Henriques de Lima Barreto, escritor e jornalista carioca, que denunciou
a sociedade e a política oligárquica, bem como o racismo existente no Brasil, por meio de seus
escritos. Tendo por objetivo refletir sobre a vida e a obra desse autor sob o fio condutor da
história, foram selecionados textos de livros, como “Triste fim de Policarpo Quaresma”, “Clara
dos Anjos” e “República dos Bruzundangas”, por exemplo, para amparar na abordagem de temas
de história do Brasil, previstos para o primeiro trimestre, de acordo com o currículo escolar do 9º
ano. Ao lado do conteúdo previsto, a saber: a Revolta da Armada e a República oligárquica, foram
privilegiados assuntos como: os bairros do Rio de Janeiro, a mulher negra, o alcoolismo e o
racismo, com a finalidade de propor aos discentes uma experiência diferenciada com a disciplina,
a partir do diálogo com a literatura.

43
Palavras-chave: Lima Barreto – Ensino de história – Literatura.

NA ROTAS DAS REMOÇÕES: BRÁS DE PINA E REFLEXÕES SOBRE HISTÓRIAS DE VIDA E O


ENSINO DE HISTÓRIA.

Ma. Profa. Rita de Cássia Ribeiro da Silva -


SEEDUC)

Este trabalho é um exercício de reflexão sobre a histórica local, histórias de vida e ensino de
História. Essa apresentação é parte do desenvolvimento do projeto “História Local e o ensino das
Humanidades: do reconhecimento à valorização da comunidade escolar e de seus sujeitos
históricos”, coordenado pela Profªª Drª. Marcia de Almeida Gonçalves do Núcleo de Estudos
sobre Biografia, História, Ensino e Subjetividades (NUBHES). Esse laboratório é vinculado ao
Departamento de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e tem
financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Brás de
Pina é um bairro localizado na zona norte do Rio de Janeiro, local onde está situado o Colégio
Estadual Professor José de Souza de Marques, no qual é desenvolvido o projeto. Entre os
objetivos do mesmo está a reflexão sobre a construção desse local a partir da perspectiva dos
sujeitos históricos dessa região. Com a participação de alunos do Ensino Médio e da
universidade, privilegiamos a história local de Brás de Pina, sua interlocução com ensino de
História e suas possíveis contribuições para a educação básica. Parte dos moradores de Brás de
Pina são oriundos de uma política de remoção de favelas do Rio de Janeiro empreendida na
década de 1960 pelo então Governador do Estado da Guanabara Carlos Lacerda. Essa população
foi encaminhada para conjuntos habitacionais como os do Quitungo e Guaporé, situados no
bairro. Por meio de uma perspectiva antirracista, buscamos através do exercício da história oral,
ouvir a voz daqueles que, muitas vezes, são marginalizados pela sociedade e pela historiografia.
Ao longo do tempo, os conjuntos habitacionais e o bairro de Brás de Pina como um todo tem
sofrido com a falta de políticas públicas e o aumento da criminalidade e violência. No entanto, a
partir da prática docente ligada à história local buscamos reconhecer esses sujeitos históricos e
construir uma memória local. Sendo assim, o exercício de escuta, registro e análise de
depoimentos e entrevistas são fundamentais para realização de um trabalho que envolve vários
sujeitos – alunos, professores e moradores de Brás de Pina. Além disso, a pesquisa documental
associada à história oral nos possibilita à formação de discentes na prática científica do ensino de
História e nos permite transformar a escola em produtor de narrativas historiográficas.

Palavras-chave: Brás de Pina; Histórias de vida; Ensino de História.

44
ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS NOS 20 ANOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/2003

Claudia Helena Araújo da Silva (Graduanda


História - UERJ)

A Lei nº 10.639/2003, é uma legislação brasileira que há 20 anos passou a estabelecer a


obrigatoriedade do ensino da História e Cultura afro-brasileira e africana nas escolas. Busca
combater o racismo, promover a valorização da cultura afrodescendente e contribuir para a
construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Então, promoveu uma alteração no artigo
26 da LDB – Lei de Diretrizes e Base (L. 9.394/1996), principal diploma regulamentador da
educação brasileira, instituindo que nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio,
oficiais e particulares, tornassem obrigatório e ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira. No
conteúdo programático deveria constar o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos
negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. Sua
implementação conquistou significativos avanços para a educação brasileira, trazendo aspectos
positivos, tais como, a valorização da diversidade, quando do reconhecimento da importância da
diversidade étnico-racial e cultural presentes na sociedade brasileira, promovendo o respeito às
diferentes identidades e um enfrentamento ao racismo estrutural possibilitando uma educação
mais inclusiva livre de preconceitos. Mas nem só de aspectos positivos se pauta a Lei 10.639/03. É
mister observar que alguns feitios negativos enfraquecem episódios importantes dos benefícios
gerais da mesma. Tem enfrentado muita resistência e preconceitos por parte de segmentos da
sociedade que insistem em não reconhecer a importância da diversidade étnico-racial, o que
gerou alguns obstáculos à efetivação da lei. Outro aspecto que esvaziou parcialmente a
aplicabilidade da lei 10.639/2003, foi a falta de capacitação dos professores para ministrarem os
conteúdos relacionados à história e cultura afro-brasileira e africana nas instituições. Muitos
educadores não receberam a preparação adequada para abordar esses temas de forma
contextualizada, uma vez que tratam de temas muito sensíveis. Oferecer às professoras e aos
professores informações e conhecimentos estratégicos para a compreensão e da discriminação
racial nas relações pedagógicas e educacionais nas escolas brasileiras é tão importante. (BRASIL.
Coleção Educação para todos. 2005) É importante ressaltar que o impacto de uma lei desse porte
não pode ser considerado de forma isolada. O avanço eficaz na promoção da igualdade racial e
no combate ao racismo depende de uma abordagem mais abrangente, onde envolva políticas
públicas, educação e conscientização de toda sociedade. E, é neste contexto que pretendo pautar
uma narrativa que contribua ainda mais para uma educação de qualidade e antirracista.

Palavra-chave: Ensino – História - Antirracismo.

45
SIMPÓSIO TEMÁTICO - ESTUDOS ASIÁTICOS E CULTURAS ORIENTAIS

KYOIKU CHOKUGO: A EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DO YAMATO DAMASHII


Samira Pizolio Curi (graduanda em Pedagogia pelo
Centro Universitário Sagrado Coraçã)

O presente resumo faz parte de um projeto de Iniciação Científica apresentado ao Centro


Universitário Sagrado Coração; o projeto obteve a aprovação necessária e a abertura oficial do
programa será no mês de agosto, portanto, a pesquisa ainda não foi iniciada. O Período Meiji ou
Restauração Meiji (1868-1912) é escrito com os kanjis 明治 e significa “reino iluminado”. Após dois
séculos de isolamento (鎖国 - sakoku) o Japão viu a necessidade de se modernizar para se
equiparar às grandes potências mundiais, entretanto, a modernização deveria acontecer sem que
o yamato damashii, “espírito japonês”, (大和魂), fosse perdido. O Kyoiku Chokugo (居育勅雄), ou
Edito Imperial para a Educação, foi assinado pelo Imperador Mutsuhito em 1890 e abolido após a
Segunda Guerra Mundial. O Kyoiku Chokugo foi distribuído para todas as instituições
educacionais e os alunos deveriam recitá-lo diariamente, nele estavam contidos os princípios e
valores da educação do período (OMURO, 2013, p 10) e também o que se esperava dos cidadãos
japoneses. O principal objetivo desta pesquisa é analisar os princípios descritos no Kyoiku
Chokugo assim como analisar o perfil ideal de cidadão que buscavam formar. A pesquisa terá
como abordagem o método qualitativo, visando analisar o papel do Kyoiku Chokugo na formação
do povo japonês e consolidação do nacionalismo exacerbado no Japão pós-abertura. Para tanto,
será analisado o documento Kyoiku Chokugo com base em sua versão traduzida para o inglês,
retirada do livro Educational Thought and Ideology in Modern Japan: State Authority and Intellectual
Freedom de Teruhisa Horio. A fonte será estudada em duas etapas, no primeiro momento será
realizada uma investigação geral da fonte em seus aspectos físicos, em seguida realizar-se-á uma
análise do conteúdo da fonte em conjunto com seu contexto histórico. Sugere-se que o Kyoiku
Chokugo teve um papel fundamental na formação do nacionalismo e patriotismo japonês e que
sua influência ainda perdura no Japão contemporâneo.

Palavras-chave: Kyoiku Chokugo; Yamato Damashii; Japão.

FILHOS DO AMOR: OS “MESTIÇOS” NA OBRA SONHOS BLOQUEADOS


Luana Martina Magalhães Ueno
(doutoranda/UNESP)

Os filhos de casamento entre nikkeis e brasileiros eram denominados de ainoko, os filhos do amor,
ou de mestiços, salientando a situação bipartida: japonês e brasileiro. Muitas vezes, esses
indivíduos eram vistos de modo diferente pela colônia japonesa, às vezes até de forma
preconceituosa, por não serem considerados “japoneses puros”. Da mesma maneira,
frequentemente, negavam-lhes a pertença ao grupo japonês e os colocavam em uma espécie de
subgrupo. Desse modo, o objetivo deste artigo é analisar as personagens mestiças no livro
“Sonhos Bloqueados”, escrito por Laura Honda-Hasegawa, publicado em 1991 pela editora
Estação Liberdade. Buscamos compreender quais as visões existentes sobre os mestiços, que

46
mudam conforme a posição e de acordo com os níveis classificadores. Além de serem inseridos
em uma região fronteiriça que os definem como mestiços.
Palavra-chave: Mestiços; Sonhos Bloqueados; Imigração Japonesa.

FLEXIBILIZAÇÕES DA IDENTIDADE ÉTNICA E DA CULTURA IMAGÉTICA GREGA NA ÁSIA


CENTRAL: UM ESTUDO DE CONTATOS CULTURAIS NO ORIENTE

Cristian de Silveira (Mestrando em História no PPG


- UFRGS)

A região da Ásia Central foi, desde a Antiguidade, habitada por uma pluralidade de sociedades e
culturas. Como uma região que se localizava entre as diversas civilizações da Antiguidade, a Ásia
Central se tornou palco para transmissões culturais intercontinentais entre as civilizações que a
cercavam, também salientando as próprias civilizações dessa região (GOODY, 1996, p. 250-261). A
inserção da cultura helenística na região através das conquistas de Alexandre, o Grande, no
quarto século A.E.C., seguido pela disseminação de produções culturais gregas pelos reinos
helenísticos que sucederam o Império de Alexandre, como o reino Greco-Báctrio, estabeleceu
uma conexão contínua da cultura helenística com essa região que perdurou séculos, e que fez
com que aspectos culturais helenísticos, tais como suas produções imagéticas, fossem
disseminados na Ásia Central, e se tornassem parte do contexto cultural local (BARISITZ, 2017, p.
26-29). Contatos culturais entre diferentes civilizações são um fenômeno histórico constante, e,
portanto, destaca-se a importância de considerar as condições políticas, econômicas e sociais
para compreender os processos de contatos culturais e o desenvolvimento de identidades étnicas
na Ásia Central. Utilizando produções imagéticas, serão analisadas dinâmicas transculturais e
estratégias de conciliação entre manifestações culturais identitárias teoricamente antagônicas e
práticas culturais diversas. Para isso, será abordada a questão da identidade étnica grega no
contexto da Ásia Central, com ênfase na questão de uma população que conferia grande
importância a sua auto-identificação como gregos, mas que se inseria num contexto de alta
flexibilização cultural, levando em consideração as transformações contínuas de suas
manifestações culturais, visto os processos de sincretismos decorrentes da diversidade cultural
presente no contexto da Ásia Central (BENTLEY, 1993, p. 2-18; MAIRS, 2008, p. 28-38). Propõe-se
que as influências e transformações ocorridas na cultura grega presente na Ásia Central reflitam,
ao mesmo tempo, uma transformação nas práticas culturais por trás da identificação étnica
grega, como também o uso de diferentes produções culturais gregas por diferentes grupos,
salientando possíveis ressignificações de seus símbolos culturais. Salientando a agência dos
povos locais da Ásia Central para a mediação entre as diferentes vertentes culturais em diálogo,
os sincretismos culturais salientados nas produções imagéticas visam desenvolver um argumento
que quebre com moldes eurocentristas, que reforçam um protagonismo grego nas produções
nessa região, e desconsideram os grupos locais que eram participantes ativos na cultura da Ásia
Central.

Palavras-chave: Contatos Culturais, Iconologia, Identidade Étnica.

47
SIMPÓSIO TEMÁTICO - FUTEBOL: HISTÓRIA E RACISMO

ENTRE O PRESTÍGIO INTERNACIONAL E O RACISMO INSTITUCIONAL: A POLÍTICA DE


CONTRATAÇÃO DE JOGADORES DE FUTEBOL ESTRANGEIROS NA ESPANHA FRANQUISTA

Ana Paula Florisbelo da Silva (Mestra em


História/UFCAT)

O presente trabalho tem, por objetivo, analisar a posição das instituições que regulamentavam o
futebol espanhol sobre a contratação de jogadores estrangeiros no período da Ditadura
Franquista (1939-1975), e as causas que levaram ao fim da proibição nos períodos em que clubes
espanhóis puderam contratar estrangeiros. Durante os quase 40 anos do regime, a contratação
de jogadores de futebol estrangeiros oscilava entre aberturas e proibições. Através da
interposição da bibliografia sobre a história do regime de Franco, do futebol espanhol sob o
franquismo e de fontes (jornais espanhóis tradicionais do período, como ABC, El Mundo Deportivo
e La Vanguardia) podemos inferir que o posicionamento das instituições oficiais do futebol
espanhol foi diretamente influenciado pelas diferentes fases por qual passou a ditadura, e
também pela pressão dos clubes espanhóis. Nos momentos em que a ditadura recrudescia,
voltando-se para seus ideais nacionalistas e xenofóbicos de uma suposta hispanidade a ser
protegida, a proibição de jogadores estrangeiros entrava em vigor. Em fases que a ditadura se
preocupava com sua imagem internacional, inclusive usando o futebol como parte de sua
diplomacia em busca de aceitação e promoção do regime, voltava a permitir a entrada de
jogadores estrangeiros. Por fim, a última abertura sob o franquismo é uma perfeita analogia para
se compreender a fase final da ditadura e sua relação de poder com a sociedade.

Palavras-chave: Ditadura Franquista. Racismo. Jogadores estrangeiros.

ENTRE O INFERNO E O CÉU: O FUTEBOL COMO PONTO DE PARTIDA PARA A DISCUSSÃO


RACIAL EM SALA DE AULA DO ENSINO BÁSICO

Me. Harian Pires Braga (Prefeitura Municipal de


Campinas-SP)

Ao longo do século XX o futebol apresentou-se como um importante campo de disputa social no


Brasil, justamente pela sua amplitude enquanto discurso horizontal (BRAGA, 2015), atingindo
diferentes agentes, e pela sua variada gama de embates. Questões de relevância na formação
social brasileira puderam ser compartilhadas nos campos de futebol, como distinção de classes,
papeis de gênero, identidades nacionais e racismos (SETTANI & PRONI, 2021). Num país de fortes
heranças escravistas, as práticas de divertimento não estiveram alheias às exclusões raciais e aos
discursos forjados no racismo estrutural (ALMDEIDA, 2018), fosse com momentos de proibição e
criminalização, como no caso da capoeira, fosse na tentativa de aplicação higienista, beirando à
eugenia, para impedir pessoas não brancas de participar das práticas esportivas. Toda a exclusão
material e simbólica pela clivagem racial ainda encontrou coro numa construção de identidade
nacional, na qual se pretendeu, em muitos momentos, uma narrativa de branquitude
hegemônica. Isso foi especialmente perceptível no futebol do começo do século XX, com
polêmicas sobre a participação de trabalhadores fabris e de negros nos times masculinos de
futebol. Essa segregação é parte de um processo mais amplo, que ajuda a pensar o futebol nem

48
como singularidade, nem como espelho de uma realidade social, mas sim como um de seus
componentes. Justamente por ser parte da composição social brasileira, o futebol também esteve
suscetível aos embates teóricos e às ações práticas que hora viam a ascendência negra e/ou
mestiça como algo negativo e razão da tragédia brasileira, hora como salvação nacional e segredo
do sucesso do país. Neste trabalho, um relato de experiência docente, mobilizo parte de minhas
pesquisas na História e na Sociologia do Esporte para discutir o racismo no Brasil na primeira
metade do século XX, em salas de aula de 9º ano do Ensino Fundamental e da Educação de
Jovens e Adultos, na rede municipal de Campinas, São Paulo. Além de trazer um embasamento
teórico para a discussão, apresento algumas possibilidades de fontes a serem utilizadas, bem
como sequências didáticas já aplicadas ou em curso, buscando compreender como o racismo no
Brasil, estrutural, pode ser visto e debatido a partir do futebol.

Palavras-chave: Futebol; Ensino De História; Racismo.

NO CAMPO DE PESQUISA: FUTEBOL, LOCOMOÇÃO NA CIDADE E “PIT-DOG”

Gabriel Sulino Martins (PPGAS)

A ensaio tem como objetivo apresentar a discussão do impacto do futebol no campo de pesquisa.
Levando em consideração a ida ao campo, o estar no local e a volta em dia de jogo. Para executar
a pesquisa se utilizou da etnografia, entendo está enquanto uma teoria viva. A partir disto se
construiu um texto que ressaltou as dificuldades de locomoção na cidade, futebol e alimentação
pós-jogo. Por fim, trago a locomoção na cidade por meio do transporte público e o local de
pesquisa. Nisto o futebol se faz presente em todos os momentos nos dias de jogos, entendendo,
assim como Galeano (2004) que aponta que uma vez por semana os torcedores esquecem de
seus problemas do cotiano para viver a experiência de torcer para o seu time. Devo acrescentar
que toda vez que seu time jogo, pelo menos por algumas horas, esses problemas desaparecem.
Pelo fato da frase, “nós jogamos hoje”, resumidamente, não é apenas os jogadores que jogam,
mas os torcedores também.

Palavras-chave: Futebol; Cidade; Alimentação.

49
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA E TEORIA DA
HISTÓRIA
OS USOS POLÍTICOS DO PASSADO E AS DISPUTAS PELA MEMÓRIA DA DITADURA MILITAR
BRASILEIRA NO BOLSONARISMO
Aurélio Henrique Barros Arruda Rocha
(Graduando em História - FH/UFG)

O objetivo desse trabalho é compreender a relação da nova direita brasileira com a ditadura
militar, analisando o pós-golpe, tendo ênfase nas políticas de memória por parte do Estado e as
consequências dessas políticas para a maneira como tal período seria retratado no imaginário
brasileiro. Além das políticas de memórias, também será discutido como a nova direita conseguiu
usufruir das políticas de memória pautadas em promover a conciliação por meio do
esquecimento, para fortalecer a sua narrativa política prol do regime. Para realizar essa análise,
contaremos com os estudos de Paul Ricoeur sobre os usos (e desusos) políticos do passado e a
sua ideia do perdão para realizar o tratamento das feridas sociais, de modo que elas não sejam
esquecidas, mas sim que sua memória já não cause mais dor.

Palavras-chave: Memória; Usos Políticos Do Passado; Bolsonarismo.

A MULTIDIRECIONALIDADE DA MEMÓRIA ENTRE A SHOAH E A DITADURA MILITAR NA


LITERATURA BRASILEIRA
Dra. Sabrina Costa Braga (UFG)

Nesta comunicação, apresentarei as reflexões iniciais de um projeto recente acerca da


multidirecionalidade da memória entre a Shoah e a Ditadura Militar a partir da literatura
produzida no Brasil a respeito de ambos os eventos. A história da Shoah e do antissemitismo está
amplamente presente na literatura que trata da ditadura, geralmente tomada como uma metáfora
na elaboração do novo (e ainda presente) trauma originado pela tortura institucionalizada e
assassinato de grupos específicos. Por outro lado, a violência revelada durante a ditadura faz
reemergir uma literatura sobre a Shoah no Brasil. Isso revela como múltiplos passados
traumáticos se encontram em um presente heterogêneo. Para esboçar a hipótese, portanto, as
fontes utilizadas serão textos ficcionais contemporâneos produzidos pela segunda e terceira
gerações após a Segunda Guerra Mundial (a saber, descendentes brasileiros de sobreviventes do
Holocausto), bem como por familiares de vítimas da ditadura militar brasileira. Em minha análise,
mobilizarei conceitos como memória multidirecional (Michael Rothberg), pós-memória (Marianne
Hirsch) e noções como a de uma transmissão transgeracional do trauma.

Palavras-chave: Shoah; Ditadura Militar; Memória Multidirecional.

HOLOCAUSTO E ESTUDO DE GENOCÍDIOS: DISPUTAS HISTORIOGRÁFICAS

Fernando Gomes Garcia, Doutorando


(PPGH/UFRGS)

50
É de se imaginar que os estudos do Holocausto e os estudos de outros genocídios, pela natureza
dos eventos, andassem pari passu em suas preocupações teóricas e resultados de pesquisa. No
entanto, acontece o contrário, com uma competição ou mesmo uma hostilidade entre os campos.
O Holocausto, como genocídio paradigmático, tende a ser colocado por seus estudiosos como
um caso único, incomparável e apartado dos demais genocídios. Aliás, a própria categoria
genocídio é questionada para este evento. Os estudos de genocídio, que surgiram
posteriormente, preocupam-se igualmente com o Holocausto e outros eventos que partilham da
problemática concepção de genocídio, comparando os eventos e partindo de um ponto de vista
mais generalista do que enfatizando nas especificidades de cada evento. Desta maneira,
instaura-se uma polêmica, mais do que continuidades e contribuições entre as duas áreas de
estudos, tão próximas. Esta comunicação tem por objetivo explorar teoricamente as origens
dessas divergências, elaborar o conceito de genocídio que está no centro das discussões e, como
objetivo final, refletir sobre a capacidade prescritiva dos estudos sobre violências promovidas
pelo estado em prevenir tais eventos de se repetirem – ou seja, a pertinência do slogan “nunca
mais” aplicado à utilidade dos estudos históricos.

Palavras-chave: Genocídio; Holocausto; Pragmática Da História.

A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA NÃO-ICÔNICA ENTRE 1970–2001: DINÂMICAS DO CAMPO A


PARTIR DAS PALAVRAS-CHAVE

Guilherme Costa Silva (Graduando — FH/UFG)

Dr. Cristiano Pereira Alencar Arrais (PPGH/UFG)

Tradicionalmente os livros foram os principais instrumentos de comunicações dos historiadores;


entretanto, principalmente a partir do estabelecimento dos Programas de Pós-Graduação em
História (PPGH) no Brasil, na segunda metade do século XX, e a necessidade desses de
publicarem, as revistas especializadas se estabeleceram e adquiriram espaços no cenário
acadêmico brasileiro de produção e disseminação da historiografia (FICO, 2015). Muitas dessas
revistas encontram-se vinculadas a esses programas de pós-graduação em História e fazem parte
de um momento de maior institucionalização, profissionalização e notável pretensão de
autonomia da História perante as demais áreas do conhecimento (BENTIVOGLIO, 2017). Por
meio dessas revistas é possível examinar a história da historiografia além do que se entende
como estabelecido, ou seja, a partir de uma perspectiva não-canônica, e compreender as
dinâmicas internas desse campo, local de digladiação entre os dotados de capital simbólico
(BOURDIEU, 1997). As revistas permitem caminhar para a desconstrução dos chamados “ícones
geracionais” ou “exemplos historiográficos”, em suma, repensar o panorama excludente aos
“grandes historiadores”; vislumbra-se a pluralidade de vozes no campo histórico, com distintas
concepções, metodologias e correntes teóricas (ARRAIS, 2017), relacionadas aos processos de
apropriação e condições endógenas de reconstrução do passado. Seguindo essa lógica e
considerando a infinita complexidade de qualquer parcela da realidade (MARROU, 1974), as
revistas se revelam como objeto de estudo “autossuficiente”, não só como plano de fundo, mas
por si próprias. A pesquisa aqui apresentada, ainda em execução, insere-se na esteira de um
projeto mais amplo e anterior. Ao todo foram analisadas 36 revistas de História, a maioria delas
vinculadas a um PPGH, e suas publicações entre 1970 e 2001, tal recorte temporal se dá pela
dilatação da produção historiográfica nesse momento (CAPES, 2019). Em um primeiro
delineamento, esforços foram empregados, em particular, na análise das palavras-chave, espaço
que se tornou mais recorrente a partir de 1990 e que pode ser sintomático das alterações
ocorridas no campo; uma vez que essas se dão mais por pequenas transformações que por

51
grandes rupturas (GRAFTON, 1998). Nesse sentido, a presente comunicação busca apresentar os
resultados parciais do trabalho e expor brevemente a respeito dos rumos que se espera tomar
para a continuidade das investigações que, provavelmente, destina-se ao exame da chamada
“virada antropológica”, nas revistas de História brasileiras.

Palavras-chave: Teoria da História; História da Historiografia; Revistas de História.

MÃOS DE MIDAS: ALEGORIA E NARRATIVA HISTÓRICA EM WALTER BENJAMIN

Danillo Freire Pacheco (mestrando - PPGHIS/UEG)

Este trabalho consiste na investigação do conceito de alegoria na obra Origem do drama trágico
alemão, de Walter Benjamin (1928). A concepção de história encontra-se conectada à ideia de
ruína, fragmentada e de miséria da criatura. Benjamin se ocupa do alegorista para trazer
significados aos fragmentos, salvar os mortos dos destroços e da aniquilação do tempo. A
salvação pelas mãos do alegorista se transforma em “ficção” no sentido de Hayden White (1994),
que ao analisar o passado o historiador seja um investigador e não um inventor. Nesse texto,
objetiva-se explorar a tarefa do alegorista de Benjamin sob a óptica da “narrativa histórica” de
White.

Palavras-chave: Alegoria. Ficção. Hayden White. Narrativa Histórica. Walter Benjamin.

SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA DAS AMÉRICAS EM DEBATE:


PERTENCIMENTO, RESISTÊNCIA E DIÁLOGO TRANSNACIONAL

A EXCEPCIONALIDADE AOS HOMENS EXCEPCIONAIS: UMA ANÁLISE DO RELATO DE


ALVAR NÚÑEZ CABEZA DE VACA
Júlia Delage Gomes Sabino (mestranda - UFJF)

O trabalho tem como intuito analisar a estrutura narrativa, através de uma perspectiva
historiográfica, do relato de cativeiro e naufrágios de Alvar Núñez Cabeza de Vaca em sua
expedição para a Flórida, através do relato publicado em conjunto com o segundo livro de Cabeza
de Vaca: La Relación y Comentarios del Gobernador Alvar Núñez Cabeza de Vaca. de lo acaecido en las
dos jornadas a las Indias, de 1555 em Valladolid. Para tal, será utilizado o conceito de Matthew
Restall (2006), o mito dos homens excepcionais, pensando na ideia da excepcionalidade dentre os
chamados homens excepcionais da conquista, tendo em vista a singularidade da narrativa
construída por Cabeza de Vaca. Sendo assim, o trabalho seria pautado na construção narrativa da
relacíon de servicios de uma expedição fracassada, em uma narrativa de transformação pessoal de
Cabeza de Vaca e de um novo discurso conquistador voltado para a pacificação, em detrimento
da conquista bélica.

Palavras-chave: Conquista; América; Relación;

52
AS POPULAÇÕES INDÍGENAS NO CONTEXTO DA PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DO IHGB
NO SÉCULO XIX

Aline de Souza Dias (Mestranda - PPGH UFG)

A questão indígena experimentou profundas mudanças ao longo do século XIX a partir da


transição nos moldes governamentais, de colônia para Império, com a declaração de
independência em 1822. Vários projetos foram implementados para garantir a consolidação do
Estado Nacional, como a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. A fundação do
Instituto ressaltou, por parte do governo imperial, a urgência de se dar prioridade a trabalhos
inéditos que foram sendo produzidas em diversos campos, como o da História, da Geografia, da
Etnografia e Arqueologia. A produção de novos trabalhos permitiu que alguns intelectuais se
voltassem para a temática em torno dos indígenas. Segundo Guimarães (1988), a questão
indígena ocupa a maior parte dos trabalhos presentes na Revista. Questões relativas aos
diferentes grupos, seus usos, costumes, sua língua e as diferentes experiências de catequese e
mão de obra indígena estão presentes nas publicações. A temática encontrava espaço dentro do
projeto de construção da nação, possibilitando pensar o lugar das populações indígenas e
definindo um saber referente às diferentes etnias que seria fixada e transmitida na sociedade.
(1988: 20) Além disso, o papel do historiador mudou de perspectiva influenciando o processo de
escrita da nova história brasileira que ficou a cargo dos intelectuais do IHGB. As narrativas
estavam ligadas a uma nova forma de se olhar para o passado e presente do país com base nos
ideais europeus de progresso e civilização, na qual “a nova nação brasileira se reconhece
enquanto continuadora de uma certa tarefa civilizadora iniciada pela colonização portuguesa.”
(GUIMARÃES, 1988: 06) Portanto, este trabalho tem como proposta entender como o IHGB
constrói a nacionalidade brasileira a partir da Revista, através da análise dos relatos de viagem
publicados a partir de 1839, criação do instituto, até a década de 1880. O intuito é analisar como
as narrativas dos viajantes sobre as populações indígenas foram sendo produzidas, a partir da
escolha dos indígenas como identidade nacional pelo o governo imperial, tendo em vista as
diversas formas de se olhar para as comunidades durante os oitocentos, desde a construção dos
mitos de origem influenciadas pelo o Romantismo, até as ações intervencionistas realizadas pelo
império em meados do século XIX.

Palavras-chave: Indígenas; Relatos de viagem; Nação.

53
A TRAGÉDIA DA PRISCA: ALIANÇA NEGRO-INDÍGENA NO ENFRENTAMENTO AO
COLONIALISMO

Gleisson Ferreira (Doutorando – PPGF/UFG)

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma história de resistência à escravidão e luta contra
a ocupação de terras indígenas no Norte de Goiás, região do Alto Tocantins. Trata-se do episódio
conhecido como “Massacre da Prisca” ou “tragédia da Prisca”, fato ocorrido em razão de uma
aliança entre escravizados da Fazenda da Prisca, em Lavrinhas de São Sebastião (no atual
município de São Luiz do norte) e indígenas Avá-Canoeiros que atacam a fazenda e fogem em
direção ao Rio Maranhão. |Tal feito demonstra a capacidade de articulação e organização de
escravizados e indígenas em resistência à opressão colonial. Essa narrativa foi recolhida de
memórias locais no ano de 1919, pelo advogado paulista Carlos Pereira de Magalhães, e publicada
postumamente no livro “Cartas de Goiás no princípio do século XX”.

Palavras-chave: Colonialismo, Memória, Resistência.

HISTÓRIA DAS AMÉRICAS E A EDUCAÇÃO BÁSICA: METODOLOGIAS, FORMAÇÃO DOCENTE


E EXPERIÊNCIAS

Marcos Vinicius Ferreira Trindade (Doutorando –


PPGHIST/UEMA)

Para este trabalho, apoiamos nossa reflexão nas práticas desenvolvidas na Educação Básica, mais
precisamente na Unidade Integrada Januário Carvalho, escola situada na zona rural de
Rosário/MA, cujas metodologias, recursos, fontes, processos de formação docente e experiências
em sala de aula durante o presente ano letivo (2023) direcionaram para a efetivação do ensino de
História das Américas e o percebe-se integrante do continente por parte dos discentes. Assim,
temos como objetivo refletir de forma teórica, metodológica, problematizadora e interdisciplinar
a maneira que o Ensino de História das Américas está disposto nos atuais referenciais que
orientam a educação, a saber: Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e, no caso específico, o
Documento Curricular do Território Maranhense (DCTMA). Apesar de ser um campo já
consolidado, a História das Américas ainda é marcada por apagamentos e silenciamentos,
portanto, o seu estudo é primordial para o entendimento das múltiplas identidades que
compõem o território, para promover a reflexão sobre as historiografias das Américas que são
construídas nos espaços de formação, além de proporcionar sentido prático aos atores do
processo de ensino-aprendizagem, por conseguinte, características indispensáveis para
construção de uma formação cidadã. Apoiados em autores como AZEVEDO; LIMA (2011);
BITTENCOURT (1997); BOSI (2002); CANDIDO (2011); CAPELATO (2009); CHARTIER (1990),
PESAVENTO (2003) e PRADO (2012), oportunizamos a compreensão do fazer historiográfico a
partir da América, direcionando o debate para o entendimento que a história não é só a memória
de acontecimentos passados, principalmente europeus, mas também a prática diária dos sujeitos
históricos em seus territórios.

Palavras-chave: Ensino de História; História das Américas; Prática Pedagógica.

54
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DAS CIÊNCIAS

ESTUDO SOBRE A CONCEPÇÃO DE HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS DE HÉLÈNE METZGER

Isadora de Melo e Silva Bastos


(Graduanda - FH/UFG)

Hélène Metzger foi uma química e historiadora das ciências que, apesar da significativa
quantidade de trabalhos publicados, não recebeu a devida atenção da historiografia geral e das
ciências. Todavia, mesmo diante da falta de interesse demonstrada por seus contemporâneos,
Metzger possui uma impactante contribuição para a área de história das ciências. O objetivo é
lançar luzes para as concepções teóricas desenvolvidas por Metzger. Ela era administradora,
tesoureira e bibliotecária do Centre International de Synthese, na unidade da Section d’Histoire des
Sciences, o que a colocava em uma importante posição na produção e na circulação da disciplina.
A época de elaboração dos trabalhos de Metzger corresponde ao período entreguerras na França,
o que denota a sua participação logo nos primeiros passos da história das ciências. Nesse mesmo
contexto, a história enfrentava uma crise, na qual o tempo cronológico, linear e cumulativo era
colocado em questão pelos intelectuais. A história não era mais uma ciência capaz de oferecer
certezas, assim como o tempo histórico. Consequentemente, a noção de “precursor” também era
definida como problemática, e Metzger quem nomeou essa nova perturbação dos historiadores:
“trata-se de filosofia, de filosofia da história, e não de história” (Metzger 1989 [1939], 79). Ela se
encontrava na centralidade dos debates da história das ciências e possuía vínculos com grandes
nomes da historiografia francesa. Buscava definir a história para além de um instrumento à
disposição da filosofia; a compreensão de que história da cristalografia (seu principal objeto de
estudo) estava conectada com a história geral da humanidade, assim como todo saber científico;
o entendimento dos processos mentais e científicos por trás das teorias elaboradas pelos
cientistas do passado, através da ótica do passado: “o historiador das ciências devia fazer-se
contemporâneo dos cientistas de quem ele falava” (METZGER, 1933); as noções de “pensamento
expansivo” e “pensamento reflexivo”, integrantes de sua teoria científica, são alguns exemplos de
sua contribuição, encontrada nas suas resenhas em revistas como Archeion, Thàles, Scientia,
Annales, por meio das quais Metzger conseguia dialogar e colaborar com a produção intelectual
do período entreguerras na França. Dessa maneira, a comunicação busca apresentar e
desenvolver algumas de suas noções e denotar mais detalhadamente a contribuição dada por
Metzger para o entendimento do panorama de crise histórica e da emergência da história das
ciências para a atualidade.
Palavras-chave: Temporalidade, Crise, Historiografia.

55
A CONCEPÇÃO DE TEMPORALIDADE HISTÓRICA EM MARC BLOCH
Yasmin Garcez Nogueira de Lima (Graduanda -
FH/UFG)

A partir do início do século XX, a concepção de temporalidade na qual o conhecimento histórico


pretendeu fundar sua cientificidade passou a ser seriamente questionada. A ideia de um tempo
unitário e uniforme foi posta em questão pelas importantes transformações científicas então
curso. Desde a segunda metade do século XIX, a história pretendeu se constituir como
conhecimento verdadeiro a partir das categorias científicas de causalidade e determinação
(SALOMON, 2018). Tornava-se necessário estabelecer ligações entre os acontecimentos por meio
de causa e efeito. As críticas ao determinismo colocavam em questão esse pressuposto. Pretendo
tratar a concepção de temporalidade histórica de Marc Bloch no quadro das transformações
citadas. Pretendo enriquecer meu projeto compartilhando o trabalho realizado até agora com
meus pares e assim explorar de que modo se pode aproximar o trabalho de Bloch da teoria
bergsoniana e de suas formulações acerca do tempo e suas distinções. Também explorar como a
mobilização do conceito de “duração” por Bloch possibilitou a elaboração de novas injunções
epistêmicas e metodológicas. Essa apresentação justifica-se na medida em que nos permite não
só explorar a dinâmica da história como ciência, mas também refletir acerca das particularidades
da renovação dos alicerces teóricos da história em uma perspectiva interdisciplinar com a
filosofia do tempo irreversível. A importância situa-se no esforço de compreender as formas de
temporalização sob novos caminhos. Se o tempo é o “plasma” que reveste a história e a duração
é a matéria concreta do tempo (BLOCH, 1949), captar os atributos contínuos e descontínuos num
paralelo entre autores tão fundamentais permite esclarecer um pouco as condições que tornaram
possível a transformação dos saberes. Trata-se de compreender como foi possível que o conceito
de duração de Bergson fosse importado por Bloch à medida que esse rompe com noções
cronológicas tão cristalizadas na produção oitocentista. Como a considerada “ciência do
passado”, postulada sob tábuas divididas temporalmente (BERGSON, 1922), e por tantos anos
refém das fragmentações de calendários, se remodelaria a partir da perspectiva de um tempo
contínuo em um fluxo perpétuo de transformações? O foco é analisar as respostas, implicações,
aspectos e dinâmicas da remodelação teórica do tempo, assim, possibilitando reconstituição do
modo que o conhecimento histórico foi desenvolvido diante de novas categorias e como se deu a
transformação de seu estatuto epistemológico.
Palavras-chave: Temporalidade, Marc Bloch, Henri Bergson.

56
A HISTÓRIA DOS METEORITOS URUAÇU E CAMPINORTE E A ORGANIZAÇÃO DE UMA
EXPOSIÇÃO DE METEORITOS NA COMUNIDADE ESCOLAR
Me. Douglas Cesar de Almeida (Mestrando
Profissional em Ensino de História PROFHISTÓRIA
UFRJ/UFG)
E-mail: douglascesardealmeida@hotmail.com

O objetivo da pesquisa é escrever a história dos achados dos Meteoritos Uruaçu e Campinorte, e
ao mesmo tempo, repensar esses fatos históricos nas comunidades escolares locais envolvidas
através de ações pedagógicas em sala de aula. Os meteoritos Campinorte e Uruaçu foram
encontrados, coincidentemente no mesmo ano de 1992, respectivamente nos municípios
limítrofes de Campinorte e Niquelândia, localizados no norte goiano. A metodologia utilizada na
pesquisa foi o resgate dessas histórias a partir de fontes primárias, no caso o Meteoritical
Bulletin, banco de dados sobre meteoritos identificados e catalogados pela comunidade científica
global. A partir do uso dos dados obtidos do Meteoritical Bulletin foi possível identificar uma
ampla variedade de fontes complementares na imprensa, seja textual ou iconográfica, assim
como fontes secundárias sobre o assunto, como a produção científica acadêmica derivada dos
estudos dos meteoritos, como os realizados por Scorzelli et al. (2010), Zucolotto (2014) e Oliveira
(2020) que descrevem, além de informações técnicas, brevemente a história dos meteoritos
brasileiros. Ao longo da pesquisa, também foi possível identificar novos fatos sobre a história, a
pesquisa científica relacionada aos meteoritos Campinorte e Uruaçu, bem como identificar os
locais exatos de encontro dos meteoritos e a indicação de sua provável localização atual. A
pesquisa indica também que o campo da ciência Meteorítica brasileira é praticamente
inexplorado pelos cientistas e nunca foi abordado efetivamente pelos historiadores. A única
exceção encontrada refere-se ao maior meteorito brasileiro, o Meteorito Bendegó, através da
contribuição dos estudos realizada por Carvalho (2010) sobre a História e a Ciência relacionadas
ao meteorito. Nesse caso, nossa pesquisa indica alguns caminhos que podem ser trilhados por
historiadores e por professores de história, que queiram escrever a história de meteoritos
encontrados em suas cidades, a partir do uso de fontes impressas e iconográficas, utilizando a
metodologia da micro-história, da história vista de baixo e, com algumas ressalvas, da história
oral. A relativa abundância de imagens relacionadas aos meteoritos e às suas histórias, também
indicam um valor estético intrínseco aos meteoritos. De fato, meteoritos contam histórias, e elas
precisam ser conhecidas e expostas para o público, já que estão conectados a pessoas comuns
responsáveis pela sua observação e identificação. Nesse caso sugerimos a organização de uma
exposição em sala de aula como propositiva de ensino.
Palavras-chave: Meteorítica; Patrimônio, Acervos e Museus; Ensino de História.

57
PROSTITUIÇÃO E SÍFILIS: DOIS ELEMENTOS DO RACISMO NA COLÔMBIA DE INÍCIOS DO
SÉCULO XX
Jeferson Orlando García Mazo (doutorado -
PPGH/UFG)

Entre 1900 e 1920, Colômbia testemunhou o desenvolvimento de grandes cidades, a


industrialização do país, a migração do campo para a cidade e as capitais mais importantes
aumentaram sua população (HENDERSON, 2001). Este feito levou o presidente e os prefeitos
considerarem os médicos como os guardiões das cidades; assim, os regulamentos sobre higiene
e saúde eram documentos elaborados por eles e ajudavam a regular as pessoas em seu contexto
cotidiano (ÁLVÁREZ, 1905; ROBLEDO, 1907a; CASTRO, 1912; REVISTA DE HIGIENE, 1916; ÁNGEL,
1920). Neste contexto de desenvolvimento económico e demográfico, os médicos indicaram um
aumento na prostituição e nas doenças sexualmente transmissíveis (ÁLVÁREZ, 1905; REVISTA DE
HIGIENE, 1916; JIMÉNEZ, 1920c), gerando preconceitos raciais (herança) sobre o povo da
Colômbia, especialmente da população pobre e da classe trabalhadora (ROBLEDO, 1920b;
PARRA, 1910). Dessa forma, o objetivo da minha apresentação é mostrar como o discurso médico
procurou abordar a prostituição e a sífilis; também como esses conceitos foram fundamentais
para a percepção racial sobre o povo (pobre e classe trabalhadora) na Colômbia de inícios do
século XX (LUQUE, 1919, JIMÉNEZ, 1920ª; JIMÉNEZ, 1920b).
Palavras-chave: Degeneração, Raça, Doenças Sexuais.

SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA E LITERATURA

SUBVERSÕES DO GÊNERO HISTÓRICO DURANTE A GUERRA PENINSULAR: O ELOGIO DA


PLEBE DA NAÇÃO ESPANHOLA (1808)
Me. José Alves de Oliveira Júnior (Doutorando
PPGH-UFG)

O trabalho analisa o folheto anônimo Elogio da Plebe da Nação Espanhola, publicado pela
Imprensa Régia de Lisboa em 1808, no contexto das ocupações napoleônicas em Portugal. O
Elogio é uma tradução de outro folheto espanhol, o Elogio del Pueblo Español, também de 1808, em
que se exorta a luta das classes populares espanholas contra o exército napoleônico.
Tradicionalmente, o gênero elogio, tal como pensado desde a Antiguidade, pertencia ao conjunto
heteróclito de formas historiográficas submetidas aos preceitos da retórica antiga (PÉCORA,
2002). A unidade desse gênero histórico residia no preceito de que a escrita da história deveria
seguir as regras do gênero retórico demonstrativo, aquele que, conforme Aristóteles e Quintiliano,
servia ou para elogiar ou para censurar. Além desse aspecto, a tradição letrada determinava que
apenas aquelas matérias (sujeitos) consideradas dignas de memórias deveriam ser objeto desse
tipo de escrito. Desde a Antiguidade, o elogio servia para homenagear as qualidades morais de
personagens ilustres, como príncipes, generais ou membros da aristocracia. Em contraposição à
essa perspectiva historiográfica, o Elogio da Plebe surge como uma subversão dos preceitos

58
retóricos na escrita da história, promovendo não somente o louvor das classes populares, mas
também o seu inteiro reconhecimento como sujeito da história.

Palavras-chave: Retórica. Arte histórica. Povo.

RECEPÇÃO E DISCUSSÃO DA OBRA “O DEMÔNIO FAMILIAR” (1857) NA SOCIEDADE E


IMPRENSA OITOCENTISTA

Lara de Sousa Lutife (Mestranda - PPGHCE)

A pesquisa ora apresentada se insere nos estudos que versam sobre os domínios da História e
Literatura, na medida em que propõe analisar a historicidade da produção literária O Demônio
Familiar (1857). A obra em questão é uma peça teatral publicada pelo escritor José de Alencar
(1829-1877) e traz abordagem com enfoque, sobretudo, na escravidão e abolicionismo. No cenário
da segunda metade do século XIX, esses temas fervilhavam na sociedade brasileira, sendo que as
discussões a esse respeito se faziam presentes no Parlamento, na Imprensa, produções literárias
e tantos outros meios de expressão. Sabendo disso, é de interesse do presente estudo, analisar
como a obra O Demônio Familiar foi recebida pelos críticos e intelectuais da época e como isso
reverberou na capital do Império. Nessas condições, se utiliza o acervo da Hemeroteca Digital para
analisar periódicos da época que trazem a repercussão da peça quando encenada e publicada.
Diante disso, serão fontes da pesquisa, periódicos como O Diário do Rio de Janeiro (1857) e o
Correio Mercantil (1857), a fim de notar como a elite letrada se posicionou frente às discussões
provocadas pela obra. Essa, por sua vez, possibilita entender os debates sobre a escravidão
naquele período, principalmente, através do personagem Pedro, o escravo e responsável pelas
ações ao longo do livro. Para tanto, se estabelece nessa pesquisa, diálogos com o teórico Chartier
(1988) ao pensar sobre a representação da escravidão nesse personagem e as intencionalidades
de José de Alencar ao fazer tal escolha. A partir do exposto, pretende-se com o referido estudo,
desenvolver reflexões que possam demonstrar as possibilidades que o entrecruzamento História
e Literatura oferecem para a pesquisa científica, entendendo a produção literária e seus
elementos de produção como parte de um registro social que possibilitam desenvolver análise
historiográfica sobre determinada época e os acontecimentos que dela fazem parte.
Palavras-chave: Escravidão; Imprensa; Literatura.

AS TEORIAS RACIAIS NA LITERATURA DO SÉCULO XIX

Me. Jaqueline Martinho dos Santos (doutoranda em


História Social / PPGHS-USP)

A partir das décadas finais do século XIX, com a adesão de políticos e intelectuais brasileiros às
teorias raciais provenientes dos Estados Unidos e da Europa, que não apenas classificavam os
grupos raciais em diferentes níveis de desenvolvimento, mas também estabeleciam qualidades e
defeitos inerentes a cada um deles, diversas consequências puderam ser observadas na
sociedade brasileira — sobretudo no destino de homens e mulheres egressos da escravidão —,
que repercutem ainda hoje no Brasil. “Degenerados”, “intelectualmente inferiores”, “inclinados à
vadiagem e à bandidagem” ou “pouco propensos ao trabalho”, eis as definições que recebiam

59
comumente negros, indígenas e mestiços na imprensa, nos discursos de políticos, mas também
em obras literárias de autores naturalistas e pré-modernistas, publicadas nos rodapés dos jornais
ou em livros, sobretudo, entre as décadas finais do século XIX até os anos de 1930 do século XX.
Entre essas obras, tem-se o romance A Carne (1888), de Júlio Ribeiro; O Cortiço (1890), de Aluísio
Azevedo; e o pouco conhecido romance Palmares (1880), de Joaquim de Paula Souza; os quais,
atualmente, servem de fontes para os estudos do pensamento racial brasileiro da época.
Seguindo essa ideia, a proposta de comunicação a ser apresentada tem como objetivo a
discussão dessas obras levando em consideração a semelhança que todas apresentam no que
concerne na descrição dos personagens de diferentes grupos raciais com base nas teorias raciais,
ainda que seus autores tivessem opiniões políticas divergentes, por exemplo, a respeito da
abolição da escravatura. Isso, por sua vez, revela o alcance das teorias raciais no Brasil, que se
não se restringiram a opiniões de conservadores e donos de escravizados, pelo contrário,
alastrando-se entre indivíduos de diferentes grupos sociais e opiniões políticas.

Palavras-chave: Teorias raciais; Literatura brasileira; Século XIX.

O ACERVO FUNDACIONAL DO GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA DA BAHIA E O


CONTEXTO DA LITERATURA NACIONAL
Leonardo Coelho Marques de Jesus (Bacharelando
em Língua Estrangeira – UFBA)
Profa. Dra. Alícia Duhá Lose (Setor de Filologia –
ILUFBA)

O exercício de olhar para os gabinetes de leitura está diretamente atrelado à prática de estudo da
história do livro, uma vez que, nesses espaços, havia um processo de salvaguarda de obras
literárias que, ao serem disponibilizadas, estimulavam a prática de leitura da sociedade. Na
Bahia, a cultura dos gabinetes chega em 1863, graças à atuação de um grupo de portugueses
liderados por Manoel Joaquim Rodrigues e Francisco Rodrigues Pereira. Agora, através de uma
pesquisa realizada por pesquisadores vinculados à Universidade Federal da Bahia, analisam-se
que autores e obras estiveram presentes na constituição do acervo fundacional do Gabinete
Português de Leitura da Bahia. Para tanto, faz-se um levantamento das obras e autores da
biblioteca da instituição, tomando por base as atas administrativas dos primeiros 12 anos de
fundação do Gabinete. Esse levantamento tenta considerar ainda a relevância dessas obras
fundacionais do acervo da instituição para o contexto literário nacional da época. Os resultados,
ainda em construção, já indicam que o gabinete foi (e ainda é) um importante polo de circulação
da cultura e valores portugueses na capital baiana fundado no séc XIX e, frente a isso, percebe-se
a importância de construção de pesquisas que valorizem e preservem tanto o gabinete quanto a
sua história social.
Palavras-chave: Acervo; História da Literatura; Gabinete Português de Leitura

60
LIA CORRÊA DUTRA (1908-1989) E A LITERATURA BRASILEIRA NAS REVISTAS NEORREALISTAS
PORTUGUESAS NA DÉCADA DE 1930
Laura Martins dos Reis (mestranda – PPGH /UFG)

Em 6 de agosto de 1938 a escritora e crítica literária brasileira, Lia Corrêa Dutra, escreve a primeira
parte de um caderno sobre José Lins do Rêgo para a revista portuguesa “Seara Nova”. Lia Corrêa
Dutra (1908-1989) foi uma escritora, poeta, crítica literária, feminista e militante do Partido
Comunista Brasileiro (PCB). A Seara Nova foi uma revista portuguesa de publicação muito
extensa que existiu de 1921 até 1984. Criada por um grupo de intelectuais que reunia, Raul
Brandão, Raul Proença, Aquilino Ribeiro, Câmara Reis, Jaime Cortesão e Augusto Casimiro, a
revista tinha o objetivo de promover uma reforma no pensamento e na mentalidade portuguesa.
No caderno de três partes, Lia percorre toda carreira de José Lins até aquele momento e traz uma
luz a recepção de obras de literatura de autores brasileiros em Portugal. Quase um ano após a
publicação de Lia, o autor Alves Redol escreve uma crítica ao no nº 34 da revista Sol Nascente.
Essa primeira publicação de Lia Correa e a posterior crítica de Redol, revela, junto com outras
publicações, uma vasta troca entre a literatura brasileira da década de 1930 e a literatura
neorrealista portuguesa. Visto que, essas revistas faziam parte de uma tradição de neorrealistas e
em diversas publicações disponíveis digitalizadas no repositório digital da Universidade de Nova
Lisboa encontramos inúmeros artigos sobre literatura brasileira. O caderno na revista Seara Nova,
evidencia também uma autora por vezes esquecida ou pouco analisada. Lia Corrêa Dutra,
escreveu algumas obras e um número expressivo de contos, artigos e crônicas publicados em
inúmeros jornais. Só para o jornal carioca Correio da Manhã no ano de 1933 ela publicou cerca de
vinte e quatro textos. Além de várias outras publicações em outros jornais cariocas e paulistas.
Dessa forma, é essencial abordar a relevância do caderno escrito pela autora, a fim de
compreender tais intercâmbios e, acima de tudo, celebrar a notável trajetória de uma figura
singular no cenário literário do Brasil.
Palavras-chave: Literatura; Periódicos; Neorrealismo.

IDENTIDADES E AUTENTICIDADES: O SAMBA NOS LIVROS DE SÉRGIO CABRAL.


Dr. Wilton Silva (UNESP – Campus de Assis-SP)

Sérgio Cabral (1937- ) foi um renomado agente cultural e pesquisador musical amplamente
referenciado sobre a música popular brasileira e o samba, em particular. Autor de mais de uma
dezena de livros sobre a MPB e o samba, entre suas obras destacam-se As Escolas de Samba - o
que, quem, onde, como, quando e porque (1974), ABC do Sérgio Cabral (1979), As Escolas de
Samba do Rio de Janeiro (1996), e Mangueira - Nação Verde e Rosa (1998), que unem tanto fontes
históricas originais e material jornalístico do autor como também uma escrita autorreferenciada,
oferecendo de uma forma canônica a apreensão de uma história da música brasileira, com textos
e imagens sobre personagens, eventos e grupos locais que que se projetam como nacionais e
reflexo de múltiplas identidades. Tais publicações constituem-se não apenas como fontes
recorrentes em estudos sobre o tema, como também como material privilegiado para a discussão
da memória enquanto processo sócio-cultural de construção e compartilhamento de lembranças
e referenciais, e que, em relação à obra dos memorialistas da música popular brasileira, ainda
não está suficientemente estudado. Tal qual o conhecimento, que nas palavras de Gaston
Bachelard é uma frágil lanterna que em um sótão escuro quando ilumina um canto deixa outros
na escuridão, a memória oferecida afirma o reconhecimento e a legitimação de certos indivíduos

61
e grupos ao mesmo tempo em que produz o esquecimento. Os livros apresentam uma memória
social do samba com três características: a dimensão de vivência pessoal, de um dos maiores
estudiosos do tema no Brasil no século XX, a identificação do ritmo como parte do
nacional-popular e as tensões derivadas disso e, por último, a consolidação de uma memória
periférica que dá visibilidade à alguns personagens e oculta outros da cultura do samba, criando
diferentes níveis de exclusão, constituindo bases posteriormente legitimadas para a
transformação de uma memória cultural grupal e/ou regional em referenciação acadêmica
hegemônica nos estudos da música popular brasileira. Pretendemos, a partir da apresentação e
análise dos textos e algumas das imagens e fotos, problematizar a relação
vivencial-memorialística, a defesa de uma matriz cultural entendida como autêntica e as
fragmentações presentes na identidade de periférico-excluído ali presentes como vestígios de
disputas de lembranças na intersecção entre memórias sociais, história pública e história
acadêmica.
Palavras-chave: Memória. Sérgio Cabral. MPB.

CORDÉIS E O ENSINO DE HISTÓRIA: UMA PROPOSTA ELETRIZANTE


Dr. Cleberson Vieira de Araújo (CENID/ México)
E-mail: cleberson.historiador@gmail.com

O cordel pode figurar como uma importante metodologia para o ensino de história, mediante a
cultura popular. Uma atividade dinâmica e estruturada a partir do uso de folhetos de cordel pode
gerar o ambiente favorável para desenvolvimento de uma atividade interdisciplinar, que envolva
história e disciplinas afins. Assim, esse trabalho tem objetivo geral: Apresentar uma proposta de
trabalho interdisciplinar envolvendo cordéis promovendo ao mesmo tempo o fomento à
valorização da leitura histórica e da cultura popular. Já sua metodologia parte de uma análise de
caráter qualitativo com uma pesquisa descritivo-exploratória e como aporte teórico e
metodológico para embasar a pesquisa são utilizados autores como Abreu (2006), Lucena (2021),
Severo (2021) entre outros.
Palavras-chave: Cordel. Leitura. Ensino de história.

HISTÓRIA E LITERATURA: A INFLUÊNCIA DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL NOS ROMANCES


DE AGATHA CHRISTIE
Lucas Matheus Araujo Bicalho (Graduando em
História - Unimontes )

Conhecida por sua habilidade em usar venenos em seus romances policiais, Agatha Christie,
possuía um enorme conhecimento sobre diversas substâncias letais e é aclamada pelas suas
famosas obras de romance policial, que ainda fazem sucesso mesmo após a sua morte em 1976.
Por mais, a escritora juntou-se ao Departamento de Ajuda Voluntária da Cruz Vermelha durante a
Primeira Grande Guerra Mundial e exerceu diversas funções, bem como aprendeu a criar e
administrar venenos. Sendo assim, este estudo tem por objetivo conhecer a atuação de Agatha

62
Christie na Cruz Vermelha e, posteriormente, analisar a influência da Primeira Guerra Mundial
desempenhou em suas obras. O recorte espacial e temporal da pesquisa insere-se na Inglaterra
em 1914, ano em que Agatha inseriu-se na Cruz Vermelha e, encerra-se em 1920, data de
publicação do seu primeiro livro. A orientação-metodológica deste trabalho é de revisão
bibliográfica narrativa, tendo sido utilizado a Christie (1997) Ferguson (2014), escritos
fundamentais sobre a vida da autora e Harkup (2020), que apresenta os venenos utilizados nos
assassinatos da trama. Desse modo, este estudo é importante para os leitores de Christie e aos
estudantes de história e literatura, uma vez que retrata a influência da Guerra em suas obras, em
especial nos assassinatos, assim como contribuir para a disseminação do conhecimento científico
de qualidade na reflexão crítica.
Palavras-chave: Agatha Christie; Primeira Guerra Mundial; Veneno.

A RECEPÇÃO DA LITERATURA DOS JUDEUS SOBREVIVENTES DOS CAMPOS PUBLICADA NO


BRASIL: O CASO DE INFERNO EM SOBIBOR (1968)
Átila Fernandes dos Santos (Doutorando -
PPGH-UFG)

A pesquisa aborda a recepção e circulação dos livros de memórias escritos por judeus
sobreviventes que migraram para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial. Nosso objetivo é
compreender a interpretação dessas memórias durante os anos de 1960 a 1980, através dos
jornais. Nossa hipótese gira em torno da recepção e produção desses livros, estabelecendo
relações entre as obras, os sobreviventes e o tema dos nazistas no Brasil. No simpósio,
apresentaremos um recorte do texto que discute a publicidade e propaganda em torno da
principal obra analisada: Inferno em Sobibor, de Stanislaw Szmajzner publicada primeiramente em
1968.
Palavras-chave: Judeus, Literatura, Recepção.

SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA REGIONAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL


– PROBLEMÁTICAS PARA O PRESENTE

APRENDIZAGEM HISTÓRICA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Mariana Archanjo Soares (mestrando -


PROFHISTÓRIA)

Estar em sala de aula como professor de História, nos impõem inúmeros desafios. Durante muito
tempo se estabeleceu e se pretendia no processo educacional a formação integral do cidadão, do
ser humano. Aqui, vamos refletir sobre essa formação que conta com participação ativa dos
estudantes por meio de diálogos, perguntas, questionamentos, troca de experiências,
contribuindo para construção de um cidadão crítico e consciente do seu lugar na sociedade e do
seu poder de transformar essa sociedade na qual estamos inseridos. Essa educação humanista e
dialógica perpassa pelas ciências humanas que leva para sala de aula um currículo decolonial,

63
dando voz e vez ao invisibilizados, com discussões de temas sensíveis como o racismo,
homofobia, gênero, tornando nossos alunos pessoas mais éticas e respeitosas. E não meros
técnicos, executores de máquinas que desenvolvem competências básicas e forma mão de obra
para atender as demandas do mercado. A ausência, ou o enfraquecimento das ciências sociais
promove a reprodução do conceito de patrimônio restrito, perpetuado pela historiografia
tradicional, é necessário que tenhamos uma abordagem crítica e ética do patrimônio, para
entendermos que o patrimônio, a memória, e seus usos, são fruto de contexto históricos, políticos
e econômicos atravessados pela relação de poder que cada instância estabelece com a sociedade
e seu tempo. Assim, este relato de experiência busca compreender como se dá a inserção do
patrimônio pelo ensino escolar de História. Para isso, apropriamo-nos do estudo de caso, de base
qualitativa, enquanto procedimento metodológico, a fim de enfatizar a relevância dos
documentos de linguagem verbal tendo em vista a perspectiva de Yin (2005). Nesse sentido,
refletimos sobre a abordagem decolonial de patrimônio, ressignificando a presença de outras
vozes, outros personagens que vão além dessa predominância europeia de currículo, o que
significa incluir mulheres, povos originários, povos escravizados na perspectiva patrimonial.
Concluímos que é necessário ressignificar o que vem a ser patrimônio para podermos ampliar
esse conceito, em sala de aula, e tratarmos do que é presente e vivo na cultura da população, mas
que por muito tempo não foi visto como patrimônio cultural e tampouco como cultura.

Palavras-chave: aprendizagem histórica, ciências humanas e educação patrimonial

OS POVOADOS DO OESTE GOIANO NOS RELATOS DE FRANCIS CASTELNAU

Henrique Guimarães Silva (graduando – UFJ)

No século oitocentista, algumas expedições estrangeiras adentraram no sertão goiano, dentre


essas, destaca-se a de Francis Castelnau (1810-1880), naturalista inglês que veio à América do Sul
no ano de 1843 com financiamento da corte francesa. Seu objetivo era percorrer o espaço entre
Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, à Lima, capital do Peru, a fim de estudar as
potencialidades econômicas sul-americanas. Com isso, em 1844, o viajante europeu realizou a sua
expedição por Goyaz para registrar possíveis rotas de acesso à província sertaneja. Como
resultado dessa viagem, Castelnau escreveu relatos sobre as vilas, os arraiais, as aldeias
indígenas, a cidade de Goyaz, os povoados goianos, as estradas e os rios Araguaia e Tocantins.
Contudo, após ir ao norte da província e retornar à sua velha capital (a cidade de Goyaz), o
naturalista deu continuidade ao trajeto traçado para chegar até Lima, assim, partindo de Goyaz
com destino a Cuiabá. Nesse percurso, o viajante acabou visitando e redigindo sobre dois
povoados do Oeste goiano, Rio Claro (Pilões), arraial diamantífero, e Registro do Rio Grande
(Araguaia), comunidade localizada às margens do rio Araguaia. A partir de suas anotações,
Castelnau publicou o livro Expedição às regiões centrais da América do Sul (1857), o qual segue as
convenções e os padrões estéticos do gênero literário relato de viagem. Nessa obra, encontram-se
descrições a respeito do sertão de Goyaz, onde não só há escritos sobre os aspectos econômicos
do local, mas também dos quesitos culturais, sociais, políticos, ambientais e urbanos. Esta
pesquisa, que é financiada pelo PROLICEN-PIBIC (UFJ), tem como objetivo compreender a
urbanização do Oeste goiano no século XIX e a sua economia, principalmente a diamantífera.
Além disso, também vale ressaltar a importância em assimilar os temas de memória, identidade e
patrimônio com o povoado de Rio Claro, visto que este arraial sofreu um apagamento histórico.
Para chegar a este estudo, os seguintes procedimentos foram executados: análise da obra de
Castelnau; discussões de textos historiográficos que tratam do mesmo período e correlacionam
com as temáticas abordadas pelo viajante; cotejamento com outros documentos da época e

64
trocas de informações com os colegas do grupo “Goyaz no século XIX”. Através disso, será
possível ampliar o conhecimento acerca do aglomerado de Registro do Rio Grande e do extinto
núcleo urbano do Arraial de Rio Claro, com vistas à análise de suas composições urbanas
narradas nos escritos de Castelnau.

Palavras-chave: Castelnau, Relatos de viagem, Oeste goiano.

PRESERVAÇÃO DE ASPECTOS URBANOS DA ANTIGA PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO


RIO GRANDE DO SUL: ANÁLISE DOS RELATOS DE ARSÉNE ISABELLE.
Larissa Barth (Graduanda - UFJ)

Durante o século XIX, muitos viajantes passaram a vir ao Brasil, devido a abertura dos portos às
nações amigas, e tinham o intuito de descobrir e explorar algo que para eles era considerado
“novo”. Dentre os viajantes, temos Louis-Fredéric Arséne Isabelle, francês que viajou para
Argentina, Uruguai e Brasil a partir de 1830. Arséne Isabelle era comerciante, diplomata, jornalista
e naturalista, e realizou sua expedição sem patrocínio financeiro, por interesse próprio. O
viajante chegou na antiga província de São Pedro do Rio Grande do Sul em 1833, permanecendo
na mesma até 1834, onde escreveu seus relatos que resultaram no livro Viagem ao Rio Grande do
Sul. O uso dos relatos de viagem como fonte de pesquisa é enriquecedor, ao passo que podemos
analisar diferentes aspectos destacados pelo viajante, como a questão social, religiosa, racial, de
gênero, e no meu caso a urbana. Pela leitura de seus relatos, nota-se que a antiga província
gaúcha já apresentava seus aspectos urbanos no século XIX, pois já existiam vilas e cidades com
construções de variados tipos, como prédios públicos, comerciais e de moradia. Ademais, é
possível perceber relações sociais, que são necessárias para urbanização de um espaço. Dentre
as localidades pelas quais o viajante passou no século XIX, a maioria existe até os dias de hoje, e
é a partir das discussões de patrimonialização e preservação, que se pode perceber que
elementos urbanos presentes nos relatos de Arsène Isabelle, estão constituídos ainda nos dias de
hoje, sendo em alguns casos, bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN). A preservação desses locais é importante para a memória de um povo, e essas
discussões são necessárias para manter a identidade dos mesmos. Com minha pesquisa
pretendo preencher lacunas bibliográficas sobre os estudos dos relatos de viagem, e viajantes,
mas principalmente de Arséne Isabelle em específico, pois encontrei poucos trabalhos que
tratam do mesmo. Ademais, viso compreender as ações de preservação e patrimonialização dos
lugares pelos quais Arséne Isabelle passou no século XIX, e que estão presentes ainda nos dias de
hoje, pois esses possibilitam um estudo sobre a construção da identidade do povo. Portanto
entender as relações de preservação e patrimonialização dos aspectos urbanos, com a
constituição da identidade e memória do povo, torna-se crucial.
Palavras-chave: Relatos; Preservação; Memória.

65
DESFILES ‘CÍVICOS’ EM GOIÂNIA E HEGEMONIA: NAÇÃO E REGIÃO ENSINADAS NAS RUAS

Dra. Miriam Bianca Amaral Ribeiro (UFG)


Dra. Cristina Helou Gomide (UFG)

Este trabalho é parte do projeto ‘Comemorações e datas históricas, cultura histórica e história
ensinada: mudanças e permanências’, em execução. Nessa ação, no decorrer dos desfiles de 7 de
setembro e 24 de outubro de 2018, coletamos entrevistas entre os presentes. A problematização
da pesquisa se dá na discussão das relações entre a origem dos desfiles na constituição da ideia
de nação e seus significados para a afirmação da hegemonia. Discutimos como isso compõe as
relações entre usos públicos da história e história ensinada, a partir da ressignificação de sua
edição, anualmente, ao longo das contradições e disputas hegemônicas historicamente dadas. A
criação da história como disciplina escolar se inseriu no processo de elaboração e consolidação
do Estado nacional, como parte integrante de um projeto de produção e afirmação da
nacionalidade brasileira, implementado a partir do império. Esse processo formador encontrou
na República um momento de redefinição, agora considerando a necessidade das articulações
entre centro e regiões, resenhadas pela reordenação do pacto oligárquico, mas mantendo a
noção de nação como eixo. Em 1930, o centralismo se impôs como projeto político e como
metáfora da nação. Outra vez, reorganizava-se o projeto educativo para o ensino de história, para
dentro e fora das salas de aula, mantendo o eixo de nação um como projeto. Ao longo dos
governos Vargas e também ao longo da Ditadura Civil militar de 1964, a história ensinada dentro e
fora da sala de aula ocupou lugar central nas articulações políticas e produção e manutenção da
hegemonia, onde as comemorações foram centrais. Ao longo desses processos, a eleição de
datas, heróis e fatos a serem ensinados compõe a constituição e a manutenção dessa hegemonia,
incluindo sua reafirmação através das comemorações. Nos dias que se passam, essa lógica se
reedita a partir dos interesses hegemônicos presentes e aí se inserem os desfiles comemorativos
de datas cívicas, ressignificados no presente, como se faz desde a segunda metade do século XIX.
E temos, então, ainda, todos os anos, os desfiles cívicos. Para nos ajudar, contamos com Enzo
Travesso (2004) e sua discussão sobre usos públicos da história, Raymond Willians (1984), e seus
conceitos de ressignificação, o residual e o emergente, e Jaques Le Goff (1992) e a cultura
histórica.

SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA, CIDADE E LITERATURA: DISCUSSÕES


SOBRE RAÇA, GÊNERO E RACISMO

IRACEMA: A CONSTRUÇÃO IMAGÉTICO-DISCURSIVA DE MULHER INDÍGENA E RAÇA

Dra. Pra. Rosilene Dias Montenegro (UFCG)

O presente trabalho propõe refletir sobre questões centrais das existências e resistências de
populações à margem no contexto atual da história e política brasileira. Essas questões se
relacionam com os direitos dos povos indígenas, suas práticas e saberes, dentre eles o lugar das
mulheres indígenas para a existência e resistência desses povos. O foco nas mulheres indígenas

66
constitui desafio pela complexidade e centralidade desse tema no debate atual e seus
marcadores de gênero, raça e classe social em tempos de avanço do pensamento e política
neoliberal, do biopoder e da necropolítica. O avanço do neoliberalismo por meio das práticas de
extrema-direita põe em risco de destruição os povos originários. A proposta de analisar o
imaginário social sobre as mulheres indígenas a partir do romance Iracema, do escritor e político
José de Alencar, visa questionar o pensamento colonial, suas epistemologias, conceitos e visão de
mundo incutidos na sociedade brasileira, marcada pelo racismo, a desigualdade de gênero e o
autoritarismo. Os objetivos deste trabalho são: analisar as construções imagéticas-discursivas de
mulher indígena no romance Iracema e a relação desse imaginário com o projeto de identidade
nacional do Brasil; e, questionar a reprodução e/ou ressignificação de determinismos raciais e
racistas na atualidade. A análise fará uso da metodologia de perspectiva integradora, adotando
procedimentos exploratórios a partir de análises que relacionam história das mulheres, história
de mulheres indígenas, e o papel da literatura romântica na construção de ideais de nação, neste
caso, a identidade nacional de Brasil e sua relação com os povos, povos indígenas, e mulheres,
neste estudo, mulheres indígenas. Para isso será feito o uso de estratégias analíticas visando
identificar os deslocamentos que dizem respeito às epistemologias de matriz europeia, por um
lado; e, os usos de aproximações que favoreçam o questionamento das construções de imagens
de mulher indígena, por outro lado. A análise tomará como referenciais teóricos contribuições de
Aníbal Quijano (1992), Enrique Dussel (2016), e Catherine Walsh (2009).
Palavras-chave: Imaginário, Mulher indígena, Racismo

ÉLISABETH VIGÉE LE BRUN, UM PARALELO HISTÓRICO- ARTÍSTICO DE GÊNERO. A


CONSTRUÇÃO DO CENÁRIO ARTÍSTICO FEMININO NA FRANÇA DO SÉCULO XVIII, COM O
VIÉS CONTEMPORÂNEO DE SUA EXPOSIÇÃO NO MET.
Caroline de Oliveira Primo (PUC-RS)

Élisabeth Vigée Le Brun (1756-1842), protagoniza este emblemático artigo em que busco de forma
comparativa estabelecer um paralelo historiográfico abrangente. Whitney Chadwick,
Griselda Pollock além de Koselleck, são fundamentais para elencar significado nas tramas
artísticas presentes em Memoirs of Madame Vigée Lebrun. Como resultado busco exprimir o
paralelo artístico feminino vigente do período revolucionário francês, indiciadas em sua
exposição no MET em 2016, de modo a estabelecer seus parâmetros artísticos.
Ao embarcar de forma minuciosa nas suas memórias busco exprimir o complexo das relações,
aspirações, influências, obras e a contextualização de sua vida, primeiro no que tange ao seu
contato com a aristocracia francesa e a monarquia de Louis XVI, seguido das possíveis
motivações e desdobramentos que a Revolução Francesa ocasionou em sua vida e carreira.
Reinhart Koselleck, em Futuro do Passado, introduz o pensar no estudo da história dos conceitos
como uma premissa a compreender as diferenças e convergências dos conceitos antigos, com os
atuais e suas especificidades. Whitney Chadwick, em “Amateurs And Academics: A
New Ideology of Femininity In France And England", quinto capítulo do livro Women, Art And
Society. Me amplia as conjunturas em mais dois elementos fundamentais para o esmiuçar da
teoria de gênero, sobre mulheres artistas no século XVIII e o enlace teórico do espaço natural
feminino. Griselda Pollock em Vision and Difference: Feminism, femininity and the histories of art é
importante para compreender a teoria feminista, de forma a argumentar o estudo das relações
sociais e as condições de produções artísticas e sociais de mulheres, como um campo de
elementar estudo e nuances a serem consideradas.
Por fim, através do catálogo de 2016, do The Metropolitan Museum of Art, New York
intitulada Vigée Le Brun dos autores Joseph Baillio, Katharine Baetjer e Paul Lang. É possível

67
compreender em estruturas de difusão artística Élisabeth como artista importante em seu
circuito.

Palavras-chave: elizabeth vigee lebrun; história da arte; gênero e arte.

ROMPENDO LAÇOS: A TRAJETÓRIA MARIA FIRMINA DOS REIS

Andreia Rodrigues de Andrade (Universidade


Federal de Santa Maria)
Francisca Cibele da Silva Gomes (Universidade
Federal do Piauí)

Este artigo objetiva descrever a trajetória de vida, a escrita de Maria Firmina dos Reis, o seu
protagonismo na escrita e na Literatura afrodescendente brasileira. Neste aspecto, este estudo
tem como objeto central de pesquisa Maria Firmina dos Reis, apontada como uma abolicionista.
Neste sentido, trabalha-se a importância histórica de Maria Firmina dos Reis considerada por
diversos estudiosos uma mulher à frente de seu tempo, que rompeu as barreiras de gênero e cor
em um momento em que ler e escrever era algo predominantemente de homens e brancos. Ao
feminino, o espaço literário foi por muito tempo negado era, muitas vezes, necessário escrever
sob pseudônimos para dar voz às inquietações e dom da produção feminina. A metodologia
pauta-se em uma pesquisa de caráter bibliográfico, sobre a história de vida e a pertinência de
Maria Firmina dos Reis na escrita e na Literatura afrodescendente brasileira. Dialoga-se com:
SCHMIDT; NAVARRO (2007), ALVES (2010), MONTEIRO (2016), ZIN (2016), ARAÚJO; OLIVEIRA
(2018), MACHADO (2019). Este estudo aborda de forma acadêmica e holística, o legado
intelectual de Maria Firmina dos Reis. Busca-se compreender, pois, a participação de Maria
Firmina dos Reis entre os séculos XIX e XX enquanto uma mulher negra empoderada e defensora
dos direitos dos negros, em um contexto caracterizado pela escravidão, o patriarcalismo e o
preconceito social e racial existentes na época.

Palavras-chave: Literatura afrodescendente. Maria Firmina dos Reis. Mulher. Escrita.

SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA, MEMÓRIA E TEMPO PRESENTE

O TRAUMA NA MEMÓRIA DO FOGO DE 1951 NOS JORNAIS O MOMENTO, IMPRENSA POPULAR


E NA OBRA BARRA VELHA, O ÚLTIMO REFÚGIO.
Camila Margon Massi (mestranda - UFES). E-mail
para contato: camilamargon.massi@gmail.com.

Esta comunicação parte do Projeto de Mestrado aprovado em 2023 e busca apresentar as leituras
feitas nos primeiros meses de pesquisa. Analiso o Fogo de 1951, um evento violento ocorrido na
comunidade indígena Pataxó de Barra Velha, localizada no extremo Sul da Bahia. Frente as
diversas narrativas, parte-se do pressuposto, nesta pesquisa, de uma iniciativa policial para fazer
frente à tentativa dos Pataxó de retomada do território do Parque Nacional Monte Pascoal, que foi
desapropriada dos indígenas em 1943, frente ao Decreto Oficial do estado da Bahia (CARVALHO,

68
2009). A obra Barra Velha: o último refúgio (1985), escrita por Cornélio Vieira Oliveira será uma das
fontes principais, permitindo o acesso a um conjunto de depoimentos concedidos ao autor, nos
quais o modo de coleta é desconhecido. Estes relatos versam principalmente acerca do Fogo de
1951, abordando desde acontecimentos anteriores ao evento até o movimento de diáspora
posterior ao episódio, destacando o principal tema: uma narrativa daqueles que vivenciaram o
Fogo de 1951 (OLIVEIRA, 1985). Fontes jornalísticas também serão utilizadas para compreender a
narração do evento, as edições de maio e junho de 1951 dos jornais Imprensa Popular (Rio de
Janeiro) e O Momento (Bahia). O jornal O Momento trata o episódio de maneira inédita, buscando
a versão dos indígenas acerca do acontecimento (O MOMENTO, 26.05.1951). Já a reportagem que
noticia o Fogo de 1951 no jornal Imprensa Popular foi uma republicação da matéria originalmente
divulgada no jornal O Momento. Diante desse cenário, considera-se os periódicos como um lugar
de memória, segundo a conceitualização de Pierre Nora (1993). Além de pensar o evento como
um lugar de memória, o estudo acompanha as discussões propostas pelo historiador
norte-americano Dominick LaCapra, objetivando analisar a dimensão traumática do Fogo de 51 e
sua representação nas fontes impressas selecionadas. O historiador e teórico Henry Rousso, em
seus apontamentos sobre memória também será mobilizado tendo em vista sua atualidade.
Utilizando-se de uma análise comparada e de conteúdo das fontes selecionadas, pretende-se
alcançar a construção de uma narrativa do evento, destacando o viés traumático do Fogo de 1951.
Palavras-chave: Fogo de 1951; memória e trauma; História Indígena.

EFEITO MANDELA - COMO A INTERPRETAÇÃO DE UM ACONTECIMENTO SE RELACIONA A


MEMÓRIA COLETIVA DE UM EVENTO.

Otto Borges Fagundes dos Santos (Graduando em


História - Universidade Estadual do Piaui)

As memórias falsas na psicologia são um fenômeno em que uma pessoa recorda de maneira
incorreta ou distorcida um evento ou informação que não ocorreu ou não é factualmente preciso.
Em outras palavras, é uma lembrança que parece real, mas, na verdade, é uma fabricação da
mente. As pessoas podem reinterpretar eventos passados para se encaixarem em suas narrativas,
isso tende de prejudicar a forma com que se é analisado um acontecimento. É comum que
quanto maior um acontecimento, maior a quantidade de pessoas a testemunhá-lo, e a
possibilidade de que uma ou mais pessoas que testemunharam tal evento se criem essas falsas
memorias a partir de interpretações erradas cresce conforme quanto mais pessoas o percebam.
Mas o que acontece quando em duas ou mais pessoas que sofreram desse fenômeno de falsa
memória se encontram? Suas narrativas começam a se misturar, e então a afirmação dessa falsa
memoria começa a se retroalimentar, fazendo com que essa falsa narrativa saia de um núcleo
fechado de pessoas com percepções enganosas de algo e passe a se propagar por entre outras
pessoas, espalhando essas memorias falsas, esse fenômeno de falsas memórias coletivas tem-se
o nome de Efeito Mandela, proposto pela jornalista Fiona Broome em 2010, sendo um fenômeno
recente bastante curioso que lida com a memória e como ela nem sempre é a história factual.

Palavras-chave: Efeito Mandela, Memória coletiva, Memória falsa.

HISTÓRIA DE VIDA DE EMPREGADAS DOMÉSTICAS DE ARAGUAÍNA – TOCANTINS: ENTRE


LUTAS, VIOLÊNCIAS E RESISTÊNCIAS

Gabriela Silva Nogueira (SEMED - TO)

69
Esta pesquisa propõe-se a conhecer e problematizar a história de vida das empregadas
domésticas do município de Araguaína-TO sob a perspectiva das próprias trabalhadoras, ou seja,
a partir de suas experiências e histórias de vida. Além disso, buscamos compreender seu
cotidiano, vivências e relações bem como as práticas de trabalho, marcados por lutas, opressões
e processos de resistências. Considerando a especificidade do objeto, destacamos que o recorte
espaço-temporal desta investigação é a cidade de Araguaína (TO), a partir dos anos de 1990.
Localizada no Norte do Tocantins, a cidade de Araguaína é considerada um dos municípios mais
importantes do estado do Tocantins e da Região Norte do país. Metodologicamente, fez-se uso da
História Oral com a técnica da história de vida, pois esse método de investigação nos permite
apreender os relatos dessas mulheres a partir da sua ótica de vida. Para adentrarmos na
hodiernidade do trabalho doméstico das empregadas domésticas do município de Araguaína,
tem-se a necessidade de compreendermos o seu surgimento histórico e seu desdobramento
histórico e na historiografia, Gilberto Freyre (2006) explica acerca desse surgimento histórico e
discute acerca do trabalho escravo atrelado a formação racial e cultural do país bem como, sua
relação com o trabalho doméstico. Outrossim, compreender um pouco acerca dos conceitos de
história e memória é crucial para darmos início a discussão do trabalho, bem como compreender
a relação deles com o trabalho doméstico. Ao longo do estudo notou-se, como o trabalho
doméstico na vida dessas mulheres está presente desde a infância, ademais, ao compartilharem
suas histórias podemos perceber o processo de construção da memória e toda uma vivência
dentro do trabalho doméstico. Por fim, trazer ao centro do debate historiográfico as narrativas e
vivências das trabalhadoras, torna-se relevante para a História Regional do Tocantins por enfatizar
e visibilizar as histórias e narrativas das empregadas domésticas de Araguaína como mulheres
que sofreram diversas opressões, mas que também construíram resistências em seu cotidiano.

Palavras-chave: História de Vida. Trabalhadoras domésticas. Memória.

LENTES DA MEMÓRIA: ANÁLISE SÓCIO-HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO EM CIDADES


INTERIORANAS RIO-GRANDENSES (1950-2020)

João Alberto Zanandréa (Graduando - UNIFAEL)


Dra. Lorena Zomer (UNIFAEL )

Essa comunicação tem por objetivo debater sobre práticas educacionais ligadas às memórias das
Escolas Municipais e Estaduais de Maximiliano de Almeida no Rio Grande do Sul e tem como
recorte temporal 1950-2020. A análise desse contexto e das fontes concentra-se nos campos da
História da Educação e da Memória. Esta é um fragmento da nossa realidade e, em outras
palavras, é uma (re)construção da realidade experienciada no passado, filtrada pelas emoções,
sentimentos e pelas perguntas do presente. Sua subjetividade não diminui a validade quanto
objeto de estudo da história, da qual é a fonte principal em diversos suportes. Dessa forma, a
memória por se tratar de algo vivo, fluido e subjetivo dialoga e contribui para além das lacunas
que são próprias do ato de rememorar, de imaginar, processos que podem ser
corroborados/confrontados pelo debate entre fontes(RICOEUR, 2007). Com a análise e o
confronto de fontes a memória não é enaltecida, mas sim colabora com uma elaboração de uma
narrativa crítica sobre o tema da educação das pequenas cidades interioranas, a qual apesar de
haver documentação e registros tem deixado evidências. Assim, analisamos por meio de uma
teoria e metodologia da memória e da História Oral entrevistas (cinco) com ex-professores e
pessoas que vivenciaram tais momentos ao longo do período, dialogando com registros escolares
disponíveis nos acervos e secretarias, inseridos no recorte temporal de 1950 até 2020. Além disso,
consideramos o contexto educacional, metodologias de ensino e a percepção do olhar para
escola no século XX em contraponto com o XXI, com o intuito de compreender a escola como
lugar de vínculos sociais e memória.

70
Palavras-chave: Memória; História Local; História Oral.

O QUILOMBO DA ILHA DE SÃO VICENTE ARAGUATINS-TO: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE


E A RESISTÊNCIA NO PROCESSO DE RECONHECIMENTO DA COMUNIDADE (2010-2019)

Amanda Silva Martins (Seduc-TO)

Nesta pesquisa, pretende-se problematizar a formação da Comunidade Remanescente de


Quilombo Ilha de São Vicente, localizada em Araguatins, no Norte do Estado do Tocantins, na
região do Bico do Papagaio; além do processo de construção da identidade quilombola ao
resistirem na luta pelo reconhecimento enquanto remanescente. Portanto, destacamos que o
recorte-temporal deste trabalho é entre os anos de 2010 e 2019. Metodologicamente, fez-se uso
do método de analises documentais, tendo a tese de doutorado intitulada "Identidade e
territorialidade na Comunidade Remanescente de Quilombo Ilha de São Vicente na Região do
Bico do Papagaio-Tocantins”, de Rita de Cássia Domingues Lopes (2019) como a principal fonte
documental para o desenvolver da pesquisa, portanto busco interpretar os dados adjunto desta
analise documental a partir da História Social, com base na discussão de José D’Assunção Barros
(2005) e Eric Hobsbawm (2013), entende-se que a História Social nada mais é que o ramo da
História que se propõe a examinar a dimensão social de uma sociedade, que busca entender os
processos de transformações da sociedade na qual se encaixam os movimentos sociais, que estão
expostos às diferenças e às desigualdades sociais. Diante disso, dentro desta pesquisa foi
necessária a mobilização de dois conceitos essenciais, sendo eles o de identidade e o de
resistência, que estruturam todo o desenvolvimento das narrativas desta pesquisa. Sendo assim,
assume-se então as colocações dos autores que se propõem a discutir esses conceitos a partir
das formações de comunidades quilombola, dentre eles, Schwartz (2001); Turatti, Manzoli,
Carvalho (2002); e Nascimento (2020). Ainda, conclui-se que o presente trabalho se torna
relevante para a contribuição da valorização da história regional do Tocantins ao visibilizar o
processo de resistência e identidade da Comunidade Remanescente de Quilombo Ilha de São
Vicente.

Palavras-chave: Comunidade Quilombola. Identidade. Resistência.

HISTÓRIA E MEMÓRIA NA TRANSMISSÃO INTERGERACIONAL DE SABERES E FAZERESCOM


PLANTAS MEDICINAIS NO QUILOMBO DONA JUSCELINA. (MURICILÂNDIA-TO)

Amanda de Oliveira Rosa de Sousa (Graduanda em


História - UFNT)

Neste trabalho vamos problematizar a transmissão intergeracional dos saberes de cura com
plantas medicinais entre as mulheres da comunidade Quilombola Dona Juscelina, situada na
zona urbana de Muricilândia - TO. Para tal, mobilizaremos os saberes advindos da Etnobotânica
(ALCORN, 1995) e trabalharemos com a abordagem metodológica da História Oral que, segundo
Alessandro Portelli (2016), pode ser configurada como “primordialmente uma arte da escuta”
(2016.p. 10). Podemos observar, a partir das conversas com as mulheres, a relação entre história e
memória, que são moldadas a partir do momento em que a narrativa oral é iniciada e se configura
em saberes partilhados coletivamente. Ao articular História Oral e Memória concebemos que o
historiador, como ensina Portelli (2016), deve “traçar um caminho complexo, partindo de três
níveis distintos, mas interconectados: um fato do passado (um evento histórico); um fato do
presente (a narrativa que ouvimos) e uma relação fluida, duradoura (a interação entre esses dois

71
fatos)” (2016, p. 18). No caso das mulheres quilombolas, o aprendizado com as plantas medicinais
percorre toda a sua existência do passado para o presente, em um processo permanente de
reelaboração, onde os significados aparecem conforme os valores sociais do grupo se formam
enquanto cultura de cura. Nossos estudos nos levaram a compreender que as mulheres da
comunidade quilombola Dona Juscelina possuem um repertório consistente sobre o cultivo e os
usos das plantas medicinais, destacando-se principalmente o cultivo em seus quintais de
espécies de uso coletivo. Esses saberes são preservados nas memórias das mais velhas e dos
griôs da comunidade e são socializados conforme as demandas e necessidades do grupo por
soluções de saúde.

Palavras-chave: Memória; Plantas Medicinais; Intergeracional.

MEMÓRIA E RESISTÊNCIA REPRESENTADAS: A ERVA-MATE NA EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA “EU


MEMÓRIA, EU FLORESTA: HISTÓRIA OCULTA” (2021)

Rayanne Matias Villarinho (Doutoranda - PUCRS)

Nativa da região oriental do Paraguai, nordeste da Argentina e sul do Brasil, a Ilex paraguariensis,
popularmente conhecida como erva-mate, integrava a vida dos nativos sul-americanos desde
muito antes dos colonizadores. Nesse sentido, este estudo (que integra um projeto de tese em
desenvolvimento) busca analisar a exposição “Eu memória, eu floresta: história oculta” (2021)
que integra ao programa Circuito Aumentado – Acervos em Circulação, iniciativa de cooperação
entre instituições culturais que busca promover o patrimônio relacionado à erva-mate sob uma
perspectiva histórica, antropológica, artística e cultural. O programa é desenvolvido pelo Espaço
Cultural BRDE – Palacete de Leões e o Museu Paranaense (MUPA). A exposição integra um
conjunto de obras do artista indígena wapichana Gustavo Caboco e aborda principalmente
temáticas relativas à identidade, sociabilidade, cultura, memória, ancestralidade, floresta,
cosmogonia, sustentabilidade e representação. Enquanto forma de expressão e comunicação, a
arte é parte da conservação e preservação do patrimônio cultural e da memória de uma
sociedade, constituindo-se como um modo de expressão da identidade cultural que carrega
valores e que transmite tradições, crenças e saberes ao longo de gerações. Através das mais
variadas manifestações culturais, materiais e imateriais, a memória se revela como um elemento
fundamental na formação da identidade. A arte se constitui como uma dessas tantas expressões,
mantém viva a memória e a identidade cultural de uma determinada comunidade,
principalmente às ameaçadas de desaparecimento devido ao passado colonial e homogeneização
por contextos globalizados, como é o caso indígena. As exposições artísticas têm o potencial de
estabelecer uma conexão significativa com a memória, podendo, portanto, abordar diferentes
emoções e memórias assim como problematizar e questionar narrativas históricas dominantes,
permitindo repensar a história “oficial” sob uma perspectiva decolonial. A erva-mate, a partir da
chegada dos colonizadores europeus e o processo de colonização, foi culturalmente apropriada;
e os povos indígenas, marginalizados, tendo seus direitos negados, suas práticas desvalorizadas
além da exploração de seus recursos naturais. O silenciamento da memória indígena integra um
projeto colonialista e que torna fundamental a discussão da história com criticidade. Portanto,
trata-se de um caminho possível para compreender a representação da erva-mate como
elemento cultural vinculado à cultura indígena, que além de subsistência, dispõe profundos
significados culturais e espirituais e nos convida a refletir sobre dinâmicas de poder,
desigualdade e apropriação cultural.

72
ENTRE MEMÓRIAS E ESQUECIMENTO: NARRATIVAS ORAIS DOS FERROVIÁRIOS NO CEARÁ
(1988-1997)

Jaciara Azevedo Rodrigues (Mestranda em História


pela Universidade Estadual do Ceará)

Tendo em vista que o trabalho na ferrovia cearense foi constituído por diversos departamentos,
um dos espaços de trabalho foi na via permanente. A categoria dos trabalhadores de via
permanente possuía a incumbência de realizar manutenção da linha, para que fosse viável o
percurso do trem com segurança. Sendo assim, o objetivo dessa pesquisa é analisar as histórias e
memórias dos ferroviários da via permanente, uma vez que executavam o seu trabalho de forma
braçal, e independente das intempéries da natureza, teriam que se fazer presentes, carregando
no corpo as marcas do seu trabalho, onde a produtividade aparecia em primeiro plano. Logo,
estão inseridos no grupo que realizou um dos serviços “mais pesados” da ferrovia. Desse modo,
demonstra-se que após o contexto da Ditadura militar, ainda houve conflitos que marcaram sua
trajetória. Embora todo o trabalho dessa categoria de ferroviários englobe um núcleo de
atividades comuns, há alguns desvios de acontecimentos inseridos em seu cotidiano, como as
marcas de hierarquização entre os cargos, as punições aplicadas no trabalho e organização de
greves. Logo, ao analisar esses conflitos, pode-se dialogar com Certeau (1994) ao afirmar que se
manifestam nas táticas difusas do homem comum que age e transforma o mundo. Com isso, o
cotidiano desses ferroviários não está caracterizado apenas pelo ato de marcar seu ponto,
assentar dormentes, e retornar para casa ao final do dia. Esse cotidiano será trazido à tona
através das memórias que serão acessadas a partir da metodologia de História Oral, como
também fontes documentais tais como periódicos, fotografias e as fichas funcionais que contêm
as trajetórias de trabalho. Além da análise teórica de Certeau (1994), a pesquisa toma por base,
Candau (2012) discutindo como a memória e o esquecimento auxiliam na formação da identidade
desses sujeitos. Ademais, Portelli (2016) como uma bibliografia especialista na metodologia de
História Oral e Mattos (2009) para compreender os trabalhadores no Brasil. Diante disso,
podemos pensar o cotidiano através das experiências que envolvem as condições de trabalho e
as formas de manifestação dessa classe, tornando-se perceptível as conquistas e os instrumentos
de repressão da Rede Ferroviária Federal perante os trabalhadores mais engajados politicamente.
Portanto, abordar acerca dessas tensões, leva-nos à compreensão efetiva da realidade do tempo
de serviço dos ferroviários no Ceará.

Palavra-chave: cotidiano; ferroviários; memória.

MEMÓRIA DO POVO: AS IMPLICAÇÕES DO USO DA MEMÓRIA COMO FONTE DE PESQUISA E


SEU IMPACTO NA AMPLITUDE DOS ESTUDOS HISTÓRICOS CONTEMPORÂNEOS

Lanna Letícia Lemos dos Santos (UFPI)


Samuel Jorge Barreto (UFPI)

Este artigo tem por objetivo apresentar um pouco dos rumos que a História toma ao longo do fim
do século XIX e começo do século XX, com ânimos de se renovar como ciência, que levou a
ampliação da perspectiva dos historiadores quanto aos temas e as fontes, trazendo à tona os
estudos sobre a memória e as subjetividades, que são pilares fundamentais nas pesquisas
históricas contemporâneas. Buscou ser percebido a contribuição dos Annales nesse processo, e
da perspectiva da longa história de Fernand Braudel, ainda analisando como a crise da História
afetou os historiadores e os guiou para novos caminhos, com objetivos de sair do marasmo que a
disciplina estava vivendo por meio da produção histórica tradicional. Essa nova perspectiva abriu
portas para o uso de novas fontes que antes eram negligenciadas, mas que não ampliou

73
totalmente o olhar histórico para a questão da Memória e dos relatos pessoais. O uso da
documentação escrita não foi questionado, ao contrário, houve uma valorização maior das
técnicas de pesquisa dessa fonte, ao passo que outras contribuições para a História como as
práticas, o imaginário popular, as peculiaridades dos indivíduos e seus sentimentos, foram
consideradas fontes de pouca confiança, e fáceis de serem manipuladas. Somente a partir de
1980, com os historiadores sucessores dos Annales, como Philippe Ariès, que buscaram o estudo
da História Cultural, passam a observar as subjetividades dos indivíduos como fontes históricas
válidas, e assim, com o avanço dessa perspectiva e dos estudos desses pesquisadores, a Memória,
individual ou coletiva, e seus desdobramentos, ganha lugar na Historiografia. Com isso,
concluímos que esse processo, lento e cheio de nuances, contribuiu para que os estudos
históricos tenham ampliado, não apenas as possibilidades de olhar o passado e o campo de
pesquisa, como também as expectativas de alcançar uma abrangência do consumo da História
para além da Academia.

Palavras-chave: Annales; História Cultural; Memória.


RELATOS DE MEMÓRIA SOBRE O CLIENTELISMO NA CIDADE DE CAROLINA-MA

Karolaine Paulo da Silva (Graduanda –UFNT)

Neste trabalho apresentaremos os elementos constitutivos do clientelismo especialmente no que


se refere ás relações sociais e políticas na cidade de Carolina-MA, localizada no Sul do Maranhão
fazendo divisa com estado do Tocantins, tem sua origem no final do século XVIII, especialmente
em razão da formação de fazendas de gado na região. A pecuária promoveu a concentração de
terras e fortaleceu as práticas coronelistas (LEAL,1948). Utilizando a metodologia História Oral e
dialogando com a memória buscamos interpretar as narrativas dos anciões e anciãs da cidade
sobre as relações clientelísticas e a forma que essas relações se inserem no município,
influenciando as eleições e a política partidária. Segundo Alessandro Portelli (2016) em “História
Oral como a arte de escuta”, “A memória na verdade não é um mero depósito de informações,
mas um processo contínuo da elaboração e reconstrução de significados” (2016, p.18). Joel
Candau (2014) na obra “Memória e Identidade” ressalta a questão de como a memória pode ser
modificada mediante o tempo e as narrativas, essa alteração ocorre durante a vida do sujeito
conforme o meio no qual ele está inserido, e as relações construídas com outros grupos sociais.
Assim, as memórias dos anciões e anciãs trazem as vivências do passado sobre a política de
trocas em benefício próprio, típicas do clientelismo, onde essa estrutura se mantém desde a
fundação da cidade fortalecendo o poder das famílias pioneiras

A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA, MEMÓRIA E HISTÓRIA NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO


HISTÓRICO

Bruna Maria Batista Pereira (Mestranda/UFPI)


Erismar Alves dos Santos (Mestrando/UFPI)

O presente trabalho visa compreender o diálogo entre literatura, história e memória. Nesse
sentido, iremos pontuar questões relacionados aos períodos históricos considerados traumáticos
e como a literatura se tornou meio para que os sobreviventes possam testemunhar os horrores
desses sistemas autoritários, trazendo em seu corpo discussões políticas, de natureza crítica
sobre o Holocausto e sobre a ditadura civil na América Latina, ou seja, que nos permitem fazer
leituras para compressão e apreensão de acontecimentos políticos históricos do passado, por
meio da literatura e a memória de sujeitos, literatura esta vista como testemunho das pessoas
que viveram aquilo que escreveram, que discorre sobre suas experiências políticas, sobretudo.
Nesse sentido, para o desenvolvimento desse estudo, alguns autores serão indispensáveis, tais

74
como: David Lowenthal (1998), Sandra Jatahy Pesavento (2002/2006), Beatriz Sarlo (2016) e
Antônio Celso Ferreira (2012).

Palavras-chave: História. Literatura. Memória.

REVISITANDO UMA VIDA: A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA DE LÍGIA REBELO A PARTIR DA


ESCRITA DE SI, SOBRE SI E PARA SI

Vinícius Felipe Leal Machado (Doutorando


-PPGH-UFG)

O presente trabalho visa apresentar parte de pesquisa que está sendo desenvolvida, sob
orientação da professora Dra. Maria Elízia Borges, como tese de doutoramento a ser defendida
junto ao PPGH-UFG. Tomando a abordagem prosopográfica como ponto de vista
narrativo-biográfico e método analítico, lançamos um olhar sobre a trajetória profissional de Lígia
Maria Coelho Rebelo (1917-2016), educadora goiana que se consagrou, nos anos 1950-1960, como
a icônica diretora do mais antigo colégio público de Campinas, bairro histórico de Goiânia: o
Colégio Estadual Professor Pedro Gomes, fundado em 1947. Como contributo ao campo da
História da Educação Regional, o objetivo do trabalho é apresentar a personagem aos
interessados sob a justificativa da constatação da inexistência, até o momento, de trabalhos que
elucidem as contribuições de Dona Lígia - como era socialmente conhecida - à educação escolar
no Estado de Goiás. Sustentamos, a partir da análise de vasta documentação primária,
constituída por manuscritos autobiográficos, recortes de jornais e outros, a hipótese de que D.
Lígia Rebelo foi uma figura feminina de destaque em seu tempo. Sua trajetória a caracteriza como
referencial de liderança e competência nos campos da docência e da gestão escolar.
Considerando que a educação é um fenômeno social eminentemente político, os documentos
corroboram a tese de que ela se empenhou a contendo no cumprimento das missões que lhes
eram atribuídas no exercício de suas funções, as quais iam desde a condução de processos de
fundação, implantação e expansão de escolas, até a negociação com autoridades políticas de alto
calibre nos cenários regional e nacional, passando, é claro, pelo exercício de competências
pedagógicas e gerenciais próprias do trabalho cotidiano que caracteriza o ambiente escolar. A
partir deste esforço elucidativo acerca da personagem, busca-se refletir como a narrativa
autobiográfica se insere na historiografia como fonte e objeto. Propõe-se, assim, discutir as
correlações entre o gênero de escrita biográfica academicamente orientado e a autobiografia
espontânea tomada como fonte, dentro da Ciência Histórica.

Palavras-chave: Biografia – Prosopografia – Lígia Rebelo

O DIREITO CONSUETUDINÁRIO E O DIREITO CONSTITUCIONAL SOBRE A


PROPRIEDADE DA TERRA DOS REMANESCENTES DE QUILOMBO NO RIO GRANDE DO SUL

Áxsel Batistella de Oliveira (Doutorando -


Universidade de Passo Fundo)

Propomos compreender, neste estudo, a problemática acerca das dicotomias entre o direito
consuetudinário e o direito constitucional sobre a propriedade da terra, com base em processos
judiciais e administrativos referentes às comunidades remanescentes de quilombo que já contam
com sua propriedade reconhecida no estado do Rio Grande do Sul. Portanto, nosso recorte
espacial e temporal se dá a partir dos processos administrativos e judiciais finalizados e que

75
estão disponíveis para consulta pública no Incra/RS e nas comarcas da Justiça Federal do RS,
referentes a 21 comunidades com o seu território reconhecido através de decreto presidencial.
Para desenvolver este estudo, utilizamos como fontes os Processos Administrativos do Incra e os
Processos Judiciais de desapropriação por interesse social. Esses processos são referentes às
comunidades que se encontram com os territórios reconhecidos por decreto presidencial e
também as que estão com a propriedade titulada, sendo que o primeiro tipo de processo é de
responsabilidade de tramitação do Incra. Já o processo judicial ocorre em varas federais para
realizar a desapropriação por interesse social e só inicia sua tramitação depois de o processo
administrativo ser finalizado. Assim, buscamos contextualizar e analisar os conflitos acerca da
propriedade da terra referente aos quilombolas remanescentes no Rio Grande do Sul,
problematizando as dicotomias entre o direito consuetudinário e o direito constitucional, de
forma a compreender a formação das comunidades quilombolas reconhecidas no Rio Grande do
Sul com base no processo de ocupação da terra através do costume. Temos por objetivo,
também, compreender como o conceito de propriedade da terra é concebido e aplicado nos
processos judiciais e administrativos do Incra e os discursos usados para legitimá-lo, analisando
as implicações da concessão de terras (certificação e titulação de propriedade quilombola) pela
determinação constitucional de preservação de patrimônio cultural, problematizando histórica e
juridicamente a função social da propriedade. Nesse sentido, buscamos, por meio desta obra,
responder aos seguintes questionamentos: como é vista e defendida a propriedade da terra por
seus agentes e sujeitos (quilombolas, legislativo, estado, agricultores, Incra)? Temos a titulação
coletiva como outra forma de uso da terra em contrapartida da propriedade privada? Há uma
(re)territorialidade da terra dos remanescentes de quilombo?

Palavras-chave: Quilombola; Propriedade da Terra; Direito.

ECONONOMIA MORAL, COSTUMES E TRADIÇÕES: AS PRÁTICAS E OS SABERES DOS


RIBEIRINHOS DO ASSENTAMENTO VITÓRIA RÉGIA / ARAGOMINAS-TO (1996-2023)

Suzana Silva Spíndola de Ataíde


(Graduanda-UFNT)

Nossa apresentação problematiza a memória transmissora de costumes e saberes repassados


entre os sujeitos em sociedade. Nossa discussão toma por base a pesquisa em andamento,
referida no título, que consiste em investigar os saberes tradicionais de uma comunidade
ribeirinha localizada às margens rio Araguaia, no município de Aragominas-TO. Tal pesquisa
baseia-se nos princípios da História Oral e mobiliza a categoria de análise Memória para nossas
interpretações. De acordo com Maurice Halbwachs, um indivíduo pode, a partir da relação
consigo mesmo, da sua visão do mundo atual, da sua experiência vivida e dos seus constantes
acesso aos depoimentos de outras pessoas, compartilhar seus costumes e saberes adquiridos
para a comunidade e para outros indivíduos. A Memória foi, não poucas vezes, confrontada pela
História devido sua carga de subjetividade, entretanto, sua relação com a história vem se
estreitando, e, atualmente exerce significativa influência no campo da História. Entendida como
um elemento constitutivo de identidade, a memória age diretamente na construção de uma
narrativa. Tal característica faz com que a oralidade e a memória seletiva atuem juntas
transformando uma narrativa do passado em um discurso que ainda está em processo de
finalização. A partir dessa compreensão, Halbwachs (1968) reflete: “Se o que vemos hoje tivesse
que tomar lugar dentro de nossas lembranças antigas, inversamente essas lembranças se
adaptariam ao conjunto de nossas percepções atuais”. Ou seja, a memória é seletiva, dinâmica e
consegue ser elaborada no momento do relato, de forma a criar um filtro da linguagem e de
promover novos significados a um determinado evento (Portelli, 2016). Do ponto de vista das
técnicas da História Oral optamos pela História de Vida, onde o narrador entrevistado terá total

76
liberdade para narrar suas experiências. Tal técnica permite que o narrador fique à vontade para
comentar aquilo que para ele é importante e que, mais tarde, se mostrará significativo à análise
do pesquisador. Na concepção de PERAZZO (2015, p. 123): “Não se busca a verdade, já que cada
sujeito narra a partir de sua subjetividade, uma vez que cada um vê o objeto a partir do seu lugar
no mundo e constrói sua narrativa de forma seletiva, marcando sua trajetória de acordo com sua
concepção de mundo”.A memória revelada por uma narrativa pode e deve ser analisada pelo
historiador, pois, o relato produzido oralmente sempre possuirá um caráter seletivo a partir de
experiências, contextos sociais e significados atribuídos pelo narrador.

Palavras-chave: Economia Moral; costumes; memória

SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA, RELIGIÕES E POLÍTICA

AS EPÍSTOLAS PAULINAS E AS PÓLEIS DO PRINCIPADO: ORIENTAÇÕES, ASSISTÊNCIAS E


REPREENSÕES DO APÓSTOLO PAULO (SÉCULO I D. C)

Davi Taylor Pompermayer (Mestrando em História


Social das Relações Políticas Universidade Federal
do Espírito Santo)

Na presente comunicação, apresentaremos a relação das Epístolas Paulinas autênticas (Romanos,


1Coríntios, 2Coríntios, 1 Tessalonicenses, Gálatas, Filipenses e Filemom), como uma forma de
materialização da presença do Apóstolo Paulo à distância, assim, incluindo as Epístolas como
uma das táticas utilizadas pelo Apóstolo para disputar influência nas póleis do Principado.
Segundo Certeau (2008, p. 101), a tática pode ser definida como a “arte do fraco”, isto é aquele
que, não detendo uma posição estável de poder, é obrigado, no cotidiano, a lançar mão de
expedientes que lhe permitam agir nas brechas do poder constituído, encarnado nas instituições,
a exemplo da administração municipal e das sinagogas, e no uso de epístolas, que visavam
orientar e assistir as comunidades cristãs em seus dilemas cotidianos, oferecendo-lhes instruções
práticas. As epístolas se manifestam como uma extensão da figura de Paulo, permitindo que o
Apóstolo, mesmo a distância, se faça presente na interação conflituosa dos grupos já
estabelecidos na póleis com essa vertente da fé judaica propagada por Paulo, o cristianismo.
A tentativa de mobilizar os habitantes das cidades do Oriente em prol do cristianismo, sobretudo
os integrantes da diáspora judaica, ocorre nos núcleos urbanos, espaços socioculturais inseridos
na dinâmica da pólis helênica e fortemente marcados por vários interlocutores, entre eles os
gregos e romanos (IZIDORO, 2010, p. 79). Dessa forma, é possível perceber que o conteúdo das
Epístolas varia de acordo com a realidade e dilemas de cada comunidade plantada por Paulo,
possuindo um conteúdo ora mais ríspido e disciplinar ora um conteúdo mais gentil e de gratidão.

Palavras-chave: Epístola; Póleis; Táticas.

CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA E ELEMENTO DIPLOMÁTICO: O DUPLO PAPEL DA RELIGIÃO NA


CAMPANHA DE ALEXANDRE MAGNO (336-323 A.C.)

77
Thiago Henrique dos Passos Felix (Mestrando em
História das Relações Políticas e Sociais
Universidade Federal do Espírito Santo)

Segundo aponta o Piero Ostellino (1998) podemos definir diplomacia como a condução das
relações internacionais por meio de negociações que são guiadas e reguladas por embaixadores e
encarregados, que detém o que pode-se chamar de “arte diplomata”. Devido a vacância de
testemunhos precisos, os primeiros registros dessa experiência diplomática realizada pelos
homens remonta ao século V a.C., durante a Guerra do Peloponeso (ibid, 1998). Nesse contexto, o
uso do conceito de diplomacia revela uma autonomia e a tentativa de evitar conflitos por parte
dos agentes políticos da antiguidade. Por isso, dentre as principais formas de manifestação dessa
relação podemos destacar a proxenia, uma das três principais características das embaixadas
presentes na Antiguidade que caracteriza-se como a instituição da fidelidade entre amigos,
lações entre indivíduos ou famílias, e fatores extra-familiares como a política estatal que liga as
comunidades e cidades-estados, e nesse caso, a religião e a cultura com seus rituais são a
principal forma de aproximação identitária entre os povos (MARTINS, 2009, p. 1-2)
Nesse sentido, além da função diplomática é indispensável associar o papel da religião na
construção de identidades. O conceito de identidade, nesse cenário, apresenta-se também como
uma relação social de maneira que sua definição está sujeita à relações de poder, a disputas
(SILVA, 2004, p. 81). Dessa forma, na presente comunicação, será discutido a partir da Biblioteca
Histórica de Diodoro Sículo, a forma que Alexandre utilizou-se da religião enquanto um artifício
diplomático, a fim de poupar esforços militares e submeter as populações do Oriente, além de
um uso identitário objetivando legitimar sua campanha militar, colocando-se tanto como
descendente do deus grego Hércules, como amigo do deus egipcio Amon no processo de
construção do Império Universal.

Palavras-chave: Diplomacia; Identidade; Religião.

HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DAS GENTES DOS ANGLOS: UMA ANÁLISE DA OBRA DE BEDA, O
VENERÁVEL (c. 673-735)

Flavianny Mendes de Paula (UFG)

A presente comunicação tem por objetivo analisar o primeiro contato dos povos anglos e os
saxões com os bretões abordado no livro 1 da obra A História Eclesiástica das gentes dos anglos
escrita por Beda, O Venerável, de forma a compreender as relações entre os bretões, saxões e
anglos. Esta obra foi escrita no século VII, com o intuito de descrever a guerra espiritual ocorrida
na Bretanha antes dessa região se tornar cristã, Beda faz uma descrição do estado da Bretanha
desde o século IV, com a chegada dos romanos e sua conquista. Nosso escopo consiste em
abordar o processo de cristianização e a junção entre povos habitantes da Bretanha na formação
da Inglaterra. Metodologicamente, realizaremos uma análise hermenêutica da fonte buscando
uma maior compreensão acerca das possibilidades que ela pode nos fornecer em torno do nosso
objeto de investigação. Como resultados, esperamos aprofundar nas interações interculturais e
religiosas além das modificações resultantes do contato com outros povos.

Palavras-chave: Bretanha; Beda, o Venerável; Cristianização.

OS QUAKERS E ESCRAVIDÃO NO NOVO MUNDO: O DEBATE CRISTÃO ACERCA DO TRÁFICO E


CATIVEIRO DE AFRICANOS NO SÉCULO XVIII

78
Sofia Zambelli Menck (Graduada - UNESP - FCHS)

Pelo menos em sua primeira metade, o século XVIII, como ocorrera com seus precedentes,
testemunhou as, à época, mais destacadas nações do Ocidente sancionarem o tráfico de cativos
africanos para o Novo Mundo. Salvo raras exceções, a escravidão permaneceu nos quadros legais
de diferentes países europeus, mesmo daqueles em que a instituição havia caído em desuso
séculos antes. Inserida em um ambiente de perseguição a grupos religiosos que não
compartilhavam as mesmas crenças da Igreja da Inglaterra, a Sociedade dos Amigos – em
especial na região do Delaware Valley, nos atuais Estados Unidos da América (DRAKE, 1965, pp.
11-20) – construiu seu lugar de poder econômico e político através da mão de obra escrava
(DAVIS, 1999, p.226; SODERLUND, 1985, p.34). Contudo, suas peculiares perspectivas cristãs e sua
teologia perfeccionista fizeram com que muitos dos membros da Sociedade questionassem o
sistema escravista então vigente. Por meio do manejo de novas convicções a respeito do pecado,
os quakers, como eram comumente conhecidos, passaram a temer o seu próprio envolvimento
com o trabalho cativo (DAVIS, 2001, pp.327-370). Atento à importância dos argumentos quakers
para o que mais tarde comporia movimentos de cunho abolicionistas, o presente trabalho
pretende, a partir do estudo de textos produzidos por alguns dos mais destacados membros da
Sociedade dos Amigos, assim como considerando o cenário da época em que a instituição existiu,
mapear e compreender diferentes argumentos que compuseram a construção de um sentimento
contrário à escravidão moderna durante o Setecentos.

Palavras-chave: Quaker, Religião, Escravidão.

MOVIMENTO SOCIAL MESSIÂNICO: BELO MONTE E A UTOPIA SERTANEJA.

Leticia Queiroz Silva (PPGH-UFG)

O intuito aqui é analisar o movimento social messiânico de Canudos e o seu líder religioso,
Antônio Conselheiro. O movimento messiânico de Canudos foi objeto de diversos estudos que
mostram diferentes interpretações sobre o conflito, pesquisas que vão desde a perspectiva
euclidiana até as ideias que divergem em muitos aspectos desse pensamento. Muitas delas se
debruçam em compreender a figura de Antônio Conselheiro, líder religioso do movimento, sujeito
de fundamental importância para os acontecimentos em torno da comunidade messiânica de
Belo Monte. Esse trabalho busca compreender a figura de Conselheiro, assumindo como fonte
principal os seus escritos “Prédicas aos canudenses e um discurso sobre a república”. A partir daí
refletiremos acerca de como uma forma religiosa de visão de mundo dialoga com a realidade
material vivida por ele e ganha corpo político manifesto em sua liderança na região de Canudos.

Palavras-chave: Movimento Social Messiânico; Canudos/Belo Monte; Antônio Conselheiro.

FASCISMO PORTUGUÊS? O SALAZARISMO, A IGREJA CATÓLICA E UMA DEFINIÇÃO DO


CARÁTER POLÍTICO DO ESTADO NOVO

Me. Edmilson Antonio da Silva Junior (Doutorando


em História pela UFRPE)

Fruto de intenso debate na historiografia acerca do Estado Novo português (1933 – 1974) ao longo
do século XX, o caráter fascista, ou não, do regime gerido por Olivera Salazar entre os anos de
1933 e 1968 ainda tem suscitado questões analíticas nos mais recentes trabalhos produzidos
sobre o assunto. Importantes intelectuais a respeito do tema, como Fernando Rosas (2015),

79
Duncan Simpson (2014), Filipe Ribeiro de Meneses (2011), Rita Almeida de Carvalho (2013) e
Waldir José Rampinelli (2011) possuem perspectivas distintas a respeito da definição política do
salazarismo e, portanto, investigam a temática, e mais propriamente seus respectivos objetos, de
maneira particular. Nossa crítica, articulada com a História Cultural e com a perspectiva da
História Transnacional, preocupa-se com as análises que ou circunscrevem o regime de Oliveira
Salazar ao território lusitano na Europa, ou consideram apenas o seu aspecto no ultramar, sem
articular essas duas dimensões do salazarismo junto ao apoio elementar da Igreja Católica, seus
membros da hierarquia e fiéis dedicados ao projeto da Cúria romana. Buscamos dialogar com as
diferentes perspectivas historiográficas que discorrem sobre o eixo político do Estado Novo e, por
conseguinte, propor uma nova perspectiva de reflexão levando em consideração a centralidade
do catolicismo para a manutenção da ditadura lusitana ao longo de seus 41 anos de vigência.

Palavras-chave: fascismo português; salazarismo; Igreja Católica.

DOM HELDER CAMARA: DA JUSTIÇA SUBVERSIVA À “PAZ INQUIETA”

João Filipe Santos da Silva Xavier (Mestrando pelo


PGH UFRPE)

A jovem democracia brasileira sofreu um duro golpe, ao ser instaurado abruptamente, em 1964,
uma Ditadura Civil-Militar, pelos quais, foram desenvolvidas políticas repressivas geradoras de
violências, perseguições e assassinatos. Em contrapartida, setores católicos inspirados na
Teologia da Libertação protagonizaram sinais de resistências e conscientização, sobretudo, pelas
aspirações de Dom Helder Camara, um grande baluarte na defesa dos direitos humanos e sociais.
Neste contexto, o então Arcebispo de Olinda e Recife, rotineiramente, escrevia Cartas Circulares
para um grupo de leigos engajados conhecidos por Família Mecejanese. No início, tais
correspondências tinham como finalidade narrar o dia-a-dia das sessões do Concílio Ecumênico
Vaticano II, sendo uma espécie de diário, contendo algumas das principais ideias. “As cartas são,
desse conjunto, a parte mais rica, no sentido e que apresentam um panorama mais amplo e
analítico a respeito da construção da memória que Helder Camara faz de si” (PINA NETA, 2013).
Posteriormente, com o término do Concílio, ele continua escrevendo, mas, agora, com o intuito de
apregoar e potencializar aquilo que ele chamou de “Abertura da Ação Justiça e Paz para um
Plano Mundial.” (CAMARA, 2022). Esse tema foi impulsionado quando o então Papa Paulo VI
criou a Pontifícia Comissão Justiça e Paz, em janeiro de 1967, com o objetivo de fomenta estudos
referente aos problemas relacionados à justiça social e, com isso, contribuir para o
desenvolvimento dos países. As Cartas Circulares cuja temática supracitada fora escrita dentro de
uma conjuntura de repressão e destruição política e social vivenciada na sociedade brasileira. A
partir de década de 1970, elas tinham como cerne organizar ações em âmbito local, regional,
nacional e mundial, visando a promoção da paz através da justiça social. Dessa forma,
objetivamos apresentar em linha gerais o conjunto das Cartas Circulares Ação Justiça e Paz
destacando as principais ideias abordadas e os assuntos mais recorrentes, relacionando assim
com algumas chaves de leituras que facilitem a compreensão destes textos, bem como, aludir
toda a metodologia desenvolvida por Dom Helder que lançou os alicerces de fomentação para o
Movimento também intitulado de Ação Justiça e Paz na Arquidiocese de Olinda e Recife. E, por
fim, pretendemos estabelecer aproximações com a História dos Povos Subalternos, numa
perspectiva da História Vista de Baixo.

Palavras-chave: Dom Helder Camara, Cartas Circulares, Ação Justiça e Paz.

80
SIMPÓSIO TEMÁTICO - JOVENS PESQUISADORES: CONTRIBUIÇÕES PARA
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO

OS FIN(S) DE MUNDO(S) NA FICÇÃO CIENTÍFICA - O ANTROPOCENO EM TELA

Vitor da Silva Xavier (Graduando - Universidade do


Estado de Minas Gerais)

Atualmente, a Teoria da História tem discutido muito o tema dos diagnósticos de crise do tempo
histórico na contemporaneidade, que apontam para uma desorientação da nossa forma de
compreensão do tempo, podendo citar Hartog (2013), Turin (2019), Gumbrechet (2015). Neste
sentido, nos aproximamos de autores como Zoltan Simon (2020), que compreende o presente
como uma temporalidade “sem precedentes”, repleta de mudanças incessantes, sem fortes
orientações, às mudanças tecnológicas, bioquímicas e climáticas para o nosso presente e futuro.
A nova era geológica, conhecida como o “Antropoceno”, se insere nessa discussão
reconfigurando nossa forma de habitar o mundo e pensar nossa relação com o tempo (passado,
presente e futuro). Assim, de acordo com as teorias do “Antropoceno”, o homem se tornou um
novo agente geológico, sendo consequentemente, capaz de produzir seu próprio fim, se dirigindo
a uma catástrofe “cósmica” (TURIN, 2022).Contudo, vemos que muitas narrativas se direcionam
para o discurso de um possível fim de mundo/fatalismo da história, sendo assim, buscamos
através dos diálogos de Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro (2017) propõe novas
formas de pensar nossa relação com o futuro e esse fim anunciado, outros autores como Donna
Haraway (2016), Fernando Silva e Silva & André Araújo (2017) propõe pensar através das
fabulações especulativas/ficções cientifíca como forma de se orientar diante da crise climática.
Diante do exposto, ressaltamos que a tensão temporal vivenciada na atualidade pode ser
estudada a partir de diversas fontes de pesquisa e análise, como por exemplo as grandes
produções cinematográficas e suas narrativas de futuros distópicos e de catástrofes ambientais.
Deste modo, buscamos em nosso trabalho analisar como cinema pode ser eficiente devido ao seu
alcance na sociedade contemporânea para construção desses imaginários de um futuro fechado,
o que faremos a partir de produções cinematográficas da ficção científica como por exemplo
Wall-E (2008), Love Death + Robots (2019), Interestelar (2014). Por fim, pensaremos como as
ficções científicas trabalham sua relação com a temporalidade, reimaginando outros tipos de
futuros, sejam eles para uma salvação, ou uma distopia que apontam para esses fin(s) de
mundo(s).

Palavras-chave: Ficção científica; Antropoceno; Futuro.

OS REGO BARROS DE PERNAMBUCO: LAÇOS POLÍTICOS E ACUSAÇÕES NO IMPÉRIO DO


BRASIL

Ismaelene Santos (Graduanda - Universidade


Católica de Pernambuco)

Este trabalho tem por objetivo estudar as interações dos Rêgo Barros, mais especificamente,
Francisco do Rego Barros (Barão da Boa Vista) com seus aliados do Império do Brasil, como

81
também, as suas ambições pelo poder e as acusações por roubos de escravizados em
Pernambuco, a partir dos jornais O Diário Novo e o Diário de Pernambuco, entre os anos do
governo do Barão da Boa Vista em Pernambuco (1837-1844). O principal foco da historiografia
sobre a época que antecede a Insurreição Praieira tem sido a oposição aos Cavalcanti de
Albuquerque, como era o caso dos praieiros, ou até mesmo os ditos “cavalgados”, tais como os
seguidores de Borges da Fonseca, os escravos e a “população” do Recife. Em quase todas as
interpretações de tal insurreição, a característica mais importante está na atitude tomada por
seus autores, que assumiram uma postura pró-Praia. Ao grupo dos Cavalcanti de Albuquerque,
que ficará conhecido como “guabiru”, foi reservado o papel do vilão, do opressor injusto
(MARSON, 1980, p.23). As relações serão investigadas por meio dos periódicos a partir das buscas
de nomes preestabelecidos através das leituras bibliográficas, identificando as suas trajetórias,
compreendendo os problemas políticos e reconhecendo algumas alianças. A apuração ocorrida
busca analisar as relações e reações que fazem as pessoas se cruzarem em determinados
momentos, como ensina Carlos Ginzburg, indo do diferencial entre todos: o nome. Usando-o
como um fio condutor, tentando traçar as intenções, alianças e os conflitos dessas pessoas. Desse
modo, tentaremos entender como Francisco do Rego Barros trabalhava em redes, visando
explorar esse indivíduo em seu espaço de poder no envolvimento sociopolítico no oitocentos
pernambucanos.

Palavras-chave: Alianças. Brasil Império. Política.

O PROCESSO-CRIME COMO FONTE HISTÓRICA E SEU USO EM SALA DE AULA

Stefany Reis Marquioli (Mestranda - UNIMONTES)


Ioli Ferreira Santiago (Mestranda -UFV)

O presente trabalho apresenta uma análise da utilização de processos-crime enquanto fonte de


pesquisa histórica e a sua utilização em sala de aula, visto que contêm informações importantes a
respeito da atuação da Justiça, do cotidiano, dos conflitos e dos aspectos culturais de diferentes
grupos sociais ao longo do tempo, entre eles os escravizados e livres. Para tanto, a metodologia
consiste na revisão narrativa sobre as contribuições de tais fontes para a historiografia e o ensino
da disciplina de História. Isso porque o uso de processos-crime em sala de aula possibilita aos
estudantes a investigação e elaboração de hipóteses acerca do conhecimento e, assim, assumem
uma posição mais ativa no processo de ensino-aprendizagem. Diante disso, observou-se que os
arquivos da justiça criminal são de grande relevância para o campo da História.

Palavras-chave: Historiografia; Processo-crime; Sala de aula.

A EXPLORAÇÃO DE SALITRE NA AMÉRICA PORTUGUESA: UMA ANÁLISE


HISTÓRICO-AMBIENTAL

Mailson Moreira dos Santos Gama (Mestrando


PPGH - UNEB)
E-mail: mailsongama50@gmail.com

A partir dos aportes teóricos da História Ambiental e Social esta comunicação busca perceber
como se deu a interação das sociedades com os recursos minerais ao longo do tempo na
sociedade setecentista. A abordagem histórico-ambiental do beneficiamento do salitre nas Serras

82
dos Montes Altos revela como este mineral serviu como um aparato inteiramente ligado aos
interesses políticos e econômicos da coroa portuguesa para a conquista e ocupação dos sertões
baianos, mas também ocasionou alterações geomorfológicas, biológicas, hídricas e atmosféricas
naquele território. A documentação que subsidiou a pesquisa foi selecionada no acervo digital
do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Projeto Rede da Memória Virtual Brasileira e Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ), composta essencialmente da comunicação política efetuada
entre a coroa portuguesa e autoridades coloniais do além-mar sobre a exploração de salitre nos
sertões baianos. Por fim, busca-se contribuir para uma História Ambiental dos sertões,
demonstrando os diversos impactos ambientais e seus efeitos tanto para a natureza quanto para
a região nitrosa.

Palavras-chave: Salitre; História Ambiental; América Portuguesa.

SIMPÓSIO TEMÁTICO - MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA: DIÁLOGOS


SOBRE A DITADURA MILITAR NO BRASIL

GOIÁS COMO LUGAR DE MEMÓRIA: A ATUAÇÃO POLÍTICA DE DIRCE MACHADO DA SILVA


NO PERÍODO DA DITADURA MILITAR

Eduarda Sousa Fideles (Mestranda- PPGH-UFG)

Considerando as representações na construção da memória das mulheres do movimento


militante que lutaram contra a Ditadura Civil-Militar no estado de Goiás a partir de 1964, torna-se
necessário que seja debatido sobre a construção de narrativas e perspectivas históricas presentes
nos depoimentos escritos ao qual resguardam a memória, tendo como eixo condutor a vivência e
o protagonismo de Dirce Machado da Silva, que era camponesa e militante do Partido Comunista
Brasileiro (PCB). Sendo assim, analisamos os livros Memórias transcritas: depoimentos (2013), e A
Ditadura Militar em Goiás Depoimentos para a História (2008). Logo, há uma discussão sobre a
resistência e luta das mulheres no período do regime ditatorial no Brasil, particularmente, em
Goiás. Em seguida, um debate sobre memória, testemunho e gênero com o objetivo de
compreender as intencionalidades sociais e políticas marcadas por um período de tortura, luta e
resistência. E, por último, os relatos e as memórias dessa ex-militante a partir dos seus
depoimentos. Assim, buscamos refletir a partir dos seus depoimentos os parâmetros para a
construção de uma memória em torno do lugar da mulher dentro da política brasileira e os seus
desdobramentos para a história.

Palavras-chave: Memória; Dirce Machado da Silva; Ditadura militar.

O PROCESSO DE JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DAS LEIS Nº 6.683 DE


1979 E Nº.9140 DE 1995

Isadora Silva Gomes (Mestranda PPGHIS/UFRJ)

Este trabalho tem como proposta refletir sobre o processo de Justiça de Transição no Brasil e do
papel que a anistia ocupa na elaboração de seus eixos e das políticas públicas de resgate à
memória. Nesse cenário, os desaparecimentos forçados representam um ponto nodal na
construção desse processo de justiça de transição. Além disso, debater esse resgate auxilia
também no pensar como se desenrolou a construção do Estado Democrático de Direito no Brasil
e a cultura de direitos humanos. Para essa análise utilizaremos duas fontes judiciais: em primeiro

83
lugar, a Lei Nº 6.683 promulgada pelo general João Figueiredo, em 1979, que concedida anistia
tendo sido conhecida, portanto, como Lei de Anistia. E em segundo lugar, a Lei Nº 9.140
promulgada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995, que reconhecia como mortas
as pessoas desaparecidas que participaram, ou foram acusadas de participar, em ações políticas.
Essa ficou conhecida como a Lei dos Desaparecidos Políticos. As leis serão analisadas através da
metodologia de análise de documentação oficial de Estado por meio da qual compreenderemos
como elas lidaram com o passado violento decorrente da ditadura militar, seus desdobramentos
no presente e com a memória dos mortos e desaparecidos políticos. Os períodos de transição de
um regime ditatorial para um democrático, com o estabelecimento da democracia política
enquanto um valor coloca na agenda dos debates políticos mundiais a urgência na elaboração de
medidas de justiça de transição (ABRÃO, TORELLY, 2010). O Estado brasileiro optou pela
consolidação da “ideologia da reconciliação nacional” através da qual o processo de transição foi
marcado não por uma ruptura com o passado ditatorial e suas estruturas repressoras, mas sim
pela permanência delas na construção democrática (BAUER, 2012). Nessa disputa entre os
movimentos sociais e os setores apoiadores dos militares percebemos como os desaparecidos
políticos e seus familiares foram postos à margem desse processo sendo isolados politicamente
do embate em questão. Essa movimentação favoreceu a construção da narrativa de que os
desaparecimentos forçados se referiam a situações pontuais e não à uma prática sistemática do
Estado. Nesse sentido, a não realização de medidas reparatórias pelo Estado transparece a ideia
de fragilidade dessa democracia. Portanto torna-se necessário cada vez mais a construção de
uma nova cultura política através da elaboração de novos debates, novas narrativas, reflexões e
do reconhecimento pelo Estado das vítimas enquanto cidadãos para que assim esse processo de
autoconsciência acerca da sua própria história se instale.

Palavras-chave: justiça de transição, desaparecimento forçado, memória

A GUERRILHA DO ARAGUAIA ATRAVÉS DAS ESTRATÉGIAS E TÁTICAS UTILIZADAS PELOS


GUERRILHEIROS DO PC do B
Guilherme Rodrigues Maia Pimenta (Mestrando -
PPGH-UFG)

Esta pesquisa em andamento tem como objeto a Guerrilha do Araguaia através das Estratégias e
Táticas utilizadas pelos guerrilheiros do PC do B, especificamente no sul dos estados do Pará e do
Maranhão, e no norte do estado de Goiás, hoje Tocantins, entre os anos de 1972 a 1974. Portanto,
busca-se responder a seguinte questão: Quais foram as estratégias e táticas utilizadas pelos
guerrilheiros e de que modo a compreensão delas pode contribuir para a apreensão das
múltiplas determinações sobre a Guerrilha? Para tanto, os objetivos específicos são: 1. conceituar
historicamente as estratégias e táticas utilizadas pelos guerrilheiros; 2. compreender de que
modo os guerrilheiros elaboraram essas estratégias e táticas; 3. compreender como as estratégias
e táticas foram fundamentais para a ação dos guerrilheiros; 4. observar o que do proposto pelos
guerrilheiros se efetivou na prática da Guerrilha por meio dessas estratégias e táticas. Este estudo
se caracteriza como uma pesquisa qualitativa de caráter documental, partindo dos pressupostos
materialistas histórico dialéticos, nos quais se busca o conhecimento do objeto a ser estudado e a
compreensão das contradições que permeiam essa materialidade. O caráter documental se
justifica, pois entende-se que, ao catalogar a maneira que o Partido e os combatentes planejavam
os conflitos, com o fim de sobreviver e criar um ponto de combate à Ditadura brasileira, pode-se
compreender a Guerrilha do Araguaia em sua totalidade. Destacam-se as contribuições de
Hernecker (2021) em sua obra Estratégia e Tática, pautada nas contribuições teóricas de Marx,

84
Engels e Lenin na construção dos conceitos por uma linguagem política. As fontes documentais
selecionadas até então são: o Diário da Guerrilha - Maurício Grabois, Operação Araguaia: os
arquivos secretos da Guerrilha, o Relatório Arroyo e Guerra Popular: O Caminho da Luta Armada no
Brasil. Salienta-se as contribuições dos estudos de Mechi (2012) e Campos Filho (1995) pela
discussão teórica que estes autores traçam a respeito da linha estratégica seguida pelos
guerrilheiros.
Palavras-chave: Guerrilha; Estratégia; Trática.

“A PRIMEIRA COISA QUE ELES FAZEM É MANDAR VOCÊ TIRAR A ROUPA”: TERRORISMO DE
ESTADO E VIOLÊNCIA SEXUAL DE MULHERES NA DITADURA DE SEGURANÇA NACIONAL
BRASILEIRA (1964-1985).

Natália Silva Lima (Graduanda em História -


Universidade do Estado da Bahia)

Os crimes de lesa-humanidade praticados por agentes do Estado Terrorista durante as ditaduras


de Segurança Nacional no Cone Sul, provocaram traumas corrosivos contra os chamados
“inimigos internos”, penetrando o tecido social e gerando uma ferida aberta. Deste modo, o
presente trabalho tem como objetivo investigar e compreender a dimensão e extensão do uso da
violência sexual sofrida pelas mulheres na ditadura civil-militar brasileira, facultado pelos agentes
da repressão, amparado ideologicamente na DSN e no TDE. Para isso, utilizarei relatos de
mulheres que sofreram tal violência, coletados e produzidos pela Comissão Nacional da Verdade
(CNV). Nesta pesquisa, o conceito de gênero, tendo como referência Joan Scott (SCOTT, 1995),
será utilizado para analisar a penetração e a naturalização da violência, sobretudo a sexual,
contra os corpos femininos e como esses atos operam por meio da violência, impondo a
submissão de um em relação ao outro.

Palavras-chave: Ditadura militar; Gênero; Terrorismo de estado;

MEMÓRIAS UCRÔNICAS OU DESFECHOS POSSÍVEIS? A TRAVESSIA DE LEONEL BRIZOLA


RUMO AO EXÍLIO NO URUGUAI (1964)

Ma. Darlise Gonçalves de Gonçalves (doutoranda


em história - UFPel)

A presente comunicação é parte de um estudo mais amplo e visa discutir as diferentes narrativas
existentes em torno do episódio da partida de Leonel de Moura Brizola rumo ao seu exílio em
Montevideo no ano de 1964. Em especial nos deteremos aqui nas versões de que essa passagem
teria ocorrido pela fronteiriça e interiorana cidade de Jaguarão, município gaúcho de pequeno
porte situado na fronteira entre Brasil. Localmente, essas versões a respeito da partida
clandestina de Brizola por esse espaço são narradas enquanto um dos grandes feitos da esquerda
local, sendo inclusive reivindicadas por diferentes personagens. No intuito de refletirmos a
respeito desse movimento narrativo, nos apoiamos no conceito de memórias ucrônicas
empregado por Alessandro Portelli em seu estudo sobre o imaginário, os desejos, o “errado” que
envolvem as narrativas dos trabalhadores comunistas do setor naval de fundição de aço em Teni,
Itália central. Tal conceito é empréstimo da teoria literária que muito nos serve para pensarmos

85
“a representação de um presente alternativo, uma espécie de universo paralelo no qual se cogita
sobre o desdobramento de um evento histórico que não se efetuou” (PORTELLI, 1993, p.50), ou
que nesse caso, não se efetuou como o narrado. Nesse sentido, não se trata de narrar a forma
como a história aconteceu, mas sim como ela poderia ter acontecido em um cenário ideal para o
narrador, pois “as hipóteses ucrônicas permitem ao narrador “transcender” a realidade como
dada e recusar a se identificar e se satisfazer com a ordem existente” (PORTELLI, 1993, p. 50).
Diante disso, discutiremos os antecedentes locais que solidificam esses argumentos, bem como,
os seus desdobramentos, uma vez que, essa narrativa política acionada em seu sentido de
unidade acabou por construir um elemento folclórico para a região.

Palavras-chave: Memórias ucrônicas, Leonel Brizola; Ditadura civil-militar.

AMYLTON DE ALMEIDA À CONTRAPELO: UMA LEITURA BENJAMINIANA DE LUGAR DE TODA


POBREZA (1983)

Kelly Alves Andrade (Mestranda - PPGHIS/UFES)

O artigo discute o compromisso da produção cultural de Amylton de Almeida com a realidade


dos oprimidos durante a metropolização de Vitória. O documentário Lugar de Toda Pobreza,
gravado em parceria com Henrique Gobbi em 1983, obteve reconhecimento nacional e
internacional ao tornar pública a rotina dos moradores que sobreviviam do lixo na região da
Grande São Pedro, formado majoritariamente por migrantes que chegaram à capital capixaba
atraídos pelos Grandes Projetos e as benesses do Milagre Econômico ao longo do regime militar.
Um número expressivo não conseguiu oportunidade de emprego e moradia, e ocuparam áreas
periféricas, resultando em um conglomerado de famílias que viviam em situação de extrema
miséria, a exemplo dos moradores de São Pedro que só conheceram amparo do poder público e
ajuda da população após a exibição do documentário pela TV Gazeta. A partir de uma
abordagem benjaminiana, busca-se interpretar Lugar de Toda Pobreza como um registro histórico
à contrapelo das narrativas otimistas sobre o processo de formação da Grande Vitória e o
impacto da Ditadura Militar no Espírito Santo.

Palavras-chave: Amylton de Almeida; Milagre Econômico; Walter Benjamin.

O CASO PANAIR: MEMÓRIA, TRAUMA E RESISTÊNCIA NA DITADURA MILITAR

Letícia Martins da Cruz (Mestranda - UFJF)

O Caso Panair foi um emblemático evento ocorrido em 1965, onde o Presidente Humberto
Alencar Castello Branco cassa as Linhas da Panair do Brasil, considerada a maior no setor de
aviação brasileira e uma das maiores do mundo naquele período. A Ditadura Civil-Militar proibiu
o funcionamento de uma das empresas mais bem-sucedidas economicamente e com atuação
internacional daquele período, deixando cinco mil funcionários desempregados, alegando:
“problemas econômicos irreparáveis”. (SASAKI, 2015) O evento, fruto de uma trama política
articulada entre membros da Ditadura Militar e da empresa Varig, marca o início de uma
perseguição patrimonial contra os donos da Panair, ilustrando, mais uma face da repressão e
violência cometida pela Ditadura: a violência simbólica. Através de um trabalho monográfico,
utilizando História Oral, análise de periódicos e demais fontes bibliográficas como recurso
complementar, a presente pesquisa apresenta o impacto da repressão de um Governo Ditatorial
em toda a estrutura econômica e social, bem como sua violência no âmbito simbólico e jurídico,
explicitando uma faceta pouco explorada da Ditadura Militar. No Brasil o conceito de “memória

86
manipulada” (RICOUER, 2007) pode ser observado durante o período ditatorial, sobretudo no
Caso Panair. Através da mídia, da violência jurídica e até da própria narrativa histórica, a Ditadura
Militar tentou forçar o esquecimento da Panair do Brasil no imaginário coletivo brasileiro,
promovendo um apagamento do que a empresa simbolizava para o cenário nacional. Nesse
sentido, através de um estudo de caso, a pesquisa buscou compreender o processo de
preservação da memória da Panair relacionando os conceitos de: “esfacelamento de memória”
(ARENDT, 2008), “dever de memória” (RICOUER,2007), “memória coletiva” (HALBWACHS. 1990),
esclarecimento da memória através da pesquisa histórica (RÜSEN, 2011) e “trauma” (LACAPRA,
2001). Afinal, mesmo cassada há mais de cinquenta anos, ex-funcionários e herdeiro dos sócios
ainda realizam encontros anuais, onde relembram os eventos iniciados através do decreto de 10
de fevereiro de 1965 e buscam responder a emblemática pergunta: "Por que fecharam a minha
Panair?"

Palavras-chave: Panair do Brasil; Memória Coletiva; Ditadura Militar.

SIMPÓSIO TEMÁTICO - “RAÇA E RACISMO”: DEBATES ACERCA DO USO


DE CONCEITOS E TEMAS ATUAIS NAS PESQUISAS BRASILEIRAS LIGADAS
ÀS ANTIGUIDADES MEDITERRÂNEAS E AO MEDIEVO.

RAÇA E RACISMO: UMA DISCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA SOBRE O TEMA NOS ESTUDOS DO


MEDITERR NEO ANTIGO

Me. Ellen Juliane Bueno dos Santos (doutoranda -


PPGH/UFG)

Partindo da necessidade atual de expandir as abordagens e visões das pesquisas sobrea história
da Antiguidade dessa região, a historiografia levanta cada vez mais novos vieses e perspectivas
das relações mediterrânicas com o mundo ao redor, em especial com a África e Ásia, e
rediscutindo conceitos como raça, racismo, etnicidade, bárbaro e identidade. Esta comunicação
tem como objetivo trazer as principais discussões historiográficas nacionais e internacionais
sobre os temas de raça e racismo nos estudos do Mediterrâneo Antigo.

MENELAU E HELENA EM HOMERO E EURÍPIDES: UMA ANÁLISE COMPARADA DAS RELAÇÕES


DE PODER ATRAVÉS DO CASAMENTO NA ANTIGUIDADE GREGA (SÉCULOS VIII e V a.C.)

Giselle Moreira da Mata (doutoranda - PPGH /


UFG).

Nesta comunicação, nosso objetivo é o de analisar por meio da História Comparada as relações
de Poder oriundas do casamento na Antiguidade grega. Sabendo disso, escolhemos as Epopeias
de Homero, Ilíada e Odisseia, bem como, algumas tragédias relativas ao Ciclo Épico Troiano do
teatrólogo Eurípides (Helena e Andrômaca). Para isso, selecionamos dois personagens nucleares
para a Guerra de Tróia, o rei lacedemônio Menelau de Esparta e a sua esposa Helena. É
interessante verificamos as permanências e mudanças das relações de Poder mediadas pelo

87
matrimônio das elites entre os séculos VIII e V a.C., tendo como tipos documentais obras tão
distintas.
Palavras – chave: Matrimônio, Herói, Poder.

MEMÓRIAS E IDENTIDADES: A REPRESENTAÇÃO DE TRÓIA PRESENTE EM ENEIDA


Phellipy Fontes da Silva (Graduando em História
-UFG)

A obra escrita por Virgílio (70 – 21 a.C.) no século I a.C intitulada Eneida, compõe o gênero literário
épico e narra o passado mítico que levou a fundação de Roma por meio da trajetória heroica de
Eneias, troiano e filho de Vênus que escapa da queda de Tróia provocada pela invasão helênica e
é incumbido pelos deuses de fundar uma nova cidade na região de Lácio, que futuramente se
tornaria Roma. Partindo daí, podemos notar que os feitos de Eneias ultrapassam a própria
realidade ao ponto que suas realizações são narradas por Virgílio para a posteridade, de modo
que sua trajetória se incorpora a Roma; em consonância a isso, podemos destacar a relação
estabelecida por Ana Teresa Marques Gonçalves e Miguel de Souza entre a epopeia e o passado
fundacional de um povo, para os autores, o gênero mescla um fundo histórico com narrações
fantásticas para construir o passado mítico comum entre indivíduos (GONÇALVES; SOUZA, 2014,
p. 18). Haja visto que comumente as construções e análises feitas sobre Tróia partem da narrativa
homérica, é imprescindível buscar alternativas que atribuam sobre Tróia um novo olhar, sendo
que a epopeia de Virgílio se comporta como uma produção que revisita a mítica ancestralidade
entre Tróia e Roma e que ao mesmo tempo insere novos valores a essa memória de acordo com
as inquietações e interesses de seu próprio presente, rememorando assim uma construção
específica desse passado. Nesse sentido, os estudos de Paul Ricoeur presentes em A memória, a
história, o esquecimento devem ser considerados devido a abordagem do autor em valorar a
memória como uma construção constantemente modificada e revisitada, sendo que para se
manter ativa e correspondente a uma determinada identidade, terá que se transformar de acordo
com os anseios. Desse modo, a identidade romana que enxerga em Tróia um distante passado
comum é uma exemplificação de memória atribuída através de uma narrativa e que confere
significação a uma determinada identidade, nesse caso, uma identidade romana. Portanto, é
necessário observar ao longo da obra aspectos e vestígios que entrelaçam romanos e troianos e
delimitar até que ponto esses entrelaçamentos são desejados pelos romanos, até que ponto são
ignorados e em que medida são propositalmente suprimidos ou exaltados.
Palavras-chave: Eneida, Virgílio, memória.

AS CARTAS COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE DAS RELAÇÕES DE PODER E CONSTRUÇÃO


DE MEMÓRIA: UM ESTUDO DE CASO DAS CORRESPONDÊNCIAS DE PLÍNIO, O JOVEM E
TRAJANO (98 – 113 D.C.)

Carlos Bruno Nascimento Mendes (Graduando –


UFG)

No século II, o Império Romano representava uma entidade territorial vasta e complexa,
abrangendo as regiões da Europa Ocidental e Sul, todo o Norte da África, partes da Ásia
Ocidental e Central e as Ilhas do Mediterrâneo. Ao todo, as dimensões territoriais do Império
Romano se aproximavam de 5 milhões de km. É nesse cenário que as cartas passam a ter um
papel fundamental como instrumento de comunicação do Império Romano. Dada a sua
importância na organização do Império, as cartas dessa época constituem uma fonte primária e,

88
portanto, uma janela para o estudo desse período. No campo da História, em particular, o uso
das cartas como fonte de estudo desse período permitiu identificar e reconstituir informações de
natureza distintas sobre o cotidiano político e administrativo das elites. Informações econômicas
e sociais do período do Principado romano podem ser extraídas das cartas, tais como pedidos
relacionados à cidadania, às reformas de banhos públicos, às construções de teatros e aos
aquedutos, às questões relacionadas à escravidão e ao militarismo, dentre outros assuntos
(STADLER, 2010).

Palavras-chave: Império Romano; Cartas.

O "OUTRO" PARA SÊNECA: AS ADJETIVAÇÕES DE ALEXANDRE, O GRANDE EM SOBRE OS


BENEFÍCIOS
Me. Dyeenmes Procópio de Carvalho (UFG)

O filósofo estoico Lúcio Aneu Sêneca, ao longo de suas obras, permeia sua escrita com vários
exempla como recurso retórico e de memória para retomar o passado. Tal recurso reelabora
narrativas de personagens presentes no imaginário romano, entre outras coisas, para modelar
atitudes e comportamentos esperados da elite romana no espaço público efetivo. Alexandre, o
Grande, é um personagem evocado com frequência no tratado Sobre os Benefícios. Por isso, as
adjetivações com que Alexandre, o Grande, aparecem na obra indicam parte da visão do autor
sobre determinados personagens não romanos do imaginário de sua época.
Palavras-chave: Sêneca, Alexandre, o Grande, Sobre os Benefícios.

RAÇA NAS TRAGÉDIAS MEDEIA E FEDRA DE SÊNECA


Jéssica Honório de Oliveira Silva (Doutoranda -
PPGH/UFG)

Falar sobre racismo e raça, no contexto histórico das antiguidades, não é tarefa simples. Nas
tragédias de Sêneca, fazendo o estudo do vocabulário latino, sendo o latim a língua original na
qual o autor escreve, encontramos alguns termos traduzidos como raça, contemporaneamente,
como stirps e genus. Mas essa “raça”, que pensou Sêneca, guarda suas proporções: diz menos
sobre um coletivo social específico e diz mais sobre descendência, progenitura, linhagem, origem.
Inevitavelmente, para discorremos sobre “raça”, em Sêneca, consideramos a própria realidade do
autor que pensa o termo: Sêneca escreve de um império imenso que tem, em suas elites, a busca
do que é ser romano e da questão quem é mais ou menos romano, baseado no nascimento e na
ética de cada um. Ser romano, para o autor, é carregar uma moralidade, a dos antigos pais de
Roma, uma certa retidão. Nas tragédias, esse conceito de raça se faz presente a partir de excertos
em que a moralidade é determinada por sua raça. Raça é uma determinação ética, defenderemos
em nossa comunicação, na qual analisaremos passagens das tragédias Medeia e Fedra em que o
termo genus, especificamente, é usado para exaltar ou vilipendiar um personagem.

O MANUSCRITO VIDAS E DOUTRINAS DOS FILÓSOFOS ILUSTRES, DE DIÓGENES LAÉRCIO (III


D.C), CARACTERÍSTICAS E TRAJETÓRIA

89
Fabrício Rodrigues dos Santos (Graduado em
história - UFG)

Neste texto, apresentamos o livro Vidas e Doutrinas dos filósofos ilustres, os problemas da biografia
do autor e a trajetória e características principais de alguns códices existentes, por fim, a trajetória
do manuscrito, partindo de Bizâncio (séc. XII) até adentrar no ocidente (séc. XV).

Palavras-chave: Diógenes Laércio; Filósofos.

OS LIMITES DOS CONCEITOS DE SAGRADO E PROFANO NA ANTIGUIDADE UMA ANÁLISE DA


NOÇÃO DE RELIGIÃO NAS DIVINAS INSTITUIÇÕES DE LACTÂNCIO (SÉC IV D. C.)

Azenathe Pereira Braz (doutoranda - PPGH/UFG)

Neste texto, objetivamos contribuir com os estudos da aplicabilidade de conceitos modernos na


pesquisa histórica, as quais visam compreender fenômenos da Antiguidade Mediterrânea. A obra
Divinas Instituições, de autoria do escritor cristão Lactâncio, se tornou uma das referências para
o estudo da noção de religião no período da Antiguidade Tardia, pois apresenta definições
objetivas do que o autor entendia como sagrado e profano. A partir dessas definições, pesquisas
têm sido feitas a respeito da ressignificação da noção de religião esboçada pelo ideário cristão do
século IV d. C. Todavia, nossa análise propõe pensar como a definição lactanciana de religião
evidencia as limitações do uso de conceitos de sagrado e profano como opostos nesse período.

AS INTERPRETAÇÕES ACERCA DA PROVIDÊNCIA DIVINA EM DE MORTIBUS PERSECUTORUM


DE LACTÂNCIO (SÉC. IV D.C.)
Thiago Moreira Freitas (mestrando - PPGH/UFG)

A presente comunicação tem por objetivo fazer algumas considerações críticas sobre o discurso
apologético de Lactâncio no século IV d.C, a partir da ideia de Providência Divina, na visão de
Lactâncio. Para tanto, toma-se apologia como uma prática persuasiva, e seu significado está
associado ao latim apologeticus (que deriva do grego apologia) significa “defesa”. Ademais, essa
prática, a argumentação apologética se desenvolveu mais fortemente no cristianismo como sendo
uma parte importante da defesa sistemática da fé cristã frente às perseguições, bem como de sua
origem, credibilidade, autenticidade e superioridade em relação às outras práticas religiosas
(NORRIS, 2004:34). A partir deste suporte, traçaremos algumas reflexões sobre a conduta desses
imperadores por intermédio de seus comportamentos que resultaram, segundo a perspectiva
lactanciana, em mortes trágicas, indignas e violentas. Sendo assim, o Deus cristão provê os
acontecimentos frente ao comportamento dos imperadores, assim, tendo como base
argumentativa a Providência.

Palavras-chave: Providência, Apologia, Morte, Lactâncio.

90
A APROPRIAÇÃO DOS ESCRITOS BÍBLICOS NA OBRA HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DE EUSÉBIO DE
CESARÉIA E A REESTRUTURAÇÃO DO PODER EM ROMA NA ANTIGUIDADE TARDIA
João Vitor dos Santos Pinto (Graduando em
História - UFG)

Os cruzamentos entre a história da Igreja cristã e a história do Império Romano nos primeiros
séculos da era comum sempre nos instigaram. Ao longo do processo de formação da identidade
cristã nesses primeiros séculos, é evidente o esforço cristão pela construção de uma identidade
oficial e universal. Esta, que se consolida no século IV, é resultante de complexos processos de
transformação dos cristianismos e das identidades cristãs presentes no Império Romano até esse
momento (MARIANA M. P. RAIMUNDO, 2015). Dentre os principais agentes históricos desse
período estão os líderes locais das comunidades eclesiásticas. Muitos deles estavam inseridos no
contexto político do Império Romano, inclusive, assumindo funções dentro do Estado romano.
Um destes é Eusébio de Cesareia (264/65-339/40), um prolífico autor que viveu na função
episcopal daquela cidade desde aproximadamente o ano 313 até a sua morte. O bispo foi um
grande intelectual de sua época, teve atuação na corte, participou ativamente do Concílio de
Nicéia (325) e produziu muitas obras de cunho religioso cristão, dentre elas a História Eclesiástica.
Nesta obra, é evidente a intenção do autor em convencer seus leitores da importância do
cristianismo para o Império Romano e que o fortalecimento do pensamento cristão geraria o
fortalecimento do Império, fim para o qual ele entendia ser imprescindível o fortalecimento da
figura do imperador convertido ao cristianismo - Flávio Valério Constantino (272-337). Eusébio
produz uma descrição a respeito de Constantino que aponta para a validação do seu poder
imperial através da atribuição de virtudes ao governante, vinculando suas ações político-militares
vitoriosas à vontade do Deus judaico-cristão (ANDRÉIA R. CAPRINO, 2017). Para dar autoridade à
sua História Eclesiástica, bem como oferecer-lhe legitimidade entre os cristãos, Eusébio se
apropria dos textos bíblicos, inserindo-os em sua própria lógica narrativa. São esses usos dos
textos bíblicos na História Eclesiástica que esta Pesquisa de Iniciação Científica examina.
Analisamos o modo como o autor se apropria dos textos bíblicos e também como ele vincula o
surgimento do cristianismo à constituição das instituições romanas (que estão cada vez mais
aderindo aos princípios cristãos) procurando convencer seus leitores da importância do
cristianismo para o Império Romano. Assim, pretendemos contribuir com os estudos acadêmicos
na obra de Eusébio de Cesareia, visto que esta obra é de suma importância para a história da
historiografia, pois inaugura um importante “gênero” historiográfico: a história eclesiástica.
Palavras-chave: Eusébio; História Eclesiástica.

FLORENÇA SOB O OLHAR DE DANTE ALIGHIERI: UMA ANÁLISE DAS MENÇÕES AO


CRESCIMENTO POPULACIONAL DE FLORENÇA N’A DIVINA COMÉDIA (SÉCS. XIII-XIV)

Sérgio Murilo Pereira de Andrade Barbosa


(PPGH/UFG)

Dante Alighieri foi um poeta e político atuante em Florença na passagem do século XIII para o
século XIV. A Europa, nesse período, passava por importantes transformações econômicas,
sociais, políticas, religiosas, dentre outras. Dante viveu em Florença quando ela estava se
tornando uma das maiores cidades da Europa e produziu A Divina Comédia para expor seus
pensamentos, críticas a pessoas, condutas, governantes e, também, ao crescimento desordenado
e seus efeitos para a sociedade. Sabendo que Florença é um dos principais alvos dos ataques de
Dante na Comédia, por meio desta comunicação, iremos analisar trechos d’A Divina Comédia em

91
que Dante Alighieri demonstra seu posicionamento a respeito do crescimento e desenvolvimento
de Florença, do aumento e da mescla populacional.

Palavras-chave: Dante Alighieri; A Divina Comédia; Florença.

92
SIMPÓSIO TEMÁTICO - (RE)EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES
ÉTNICO-RACIAS E OS 20 ANOS DA LEI 10639/03

RACIALIZAÇÃO DO ENSINO DE HISTÓRIA

Marcella Gabrielly Duarte de Almeida (Graduanda


em História - UFG)

Racializar o ensino de História é uma demanda vital para a população afro-brasileira, a qual por
muitos anos foi impedida de protagonizar sua própria história. A partir de análises documentais e
experiências vivenciadas na graduação, reflito sobre a importância de ver para além do
estabelecimento da Lei 10.639/03 nos currículos escolares e seus desdobramentos na prática.
Somado a isso, busco relacionar o processo de aprendizagem histórica com a luta antirracista e
os desafios para uma educação emancipadora, reconhecendo a escola como um espaço de
formação humana, é indispensável notar as condições de produção, consumo e circulação do
conhecimento histórico, e como as formas de “transposição didática constituem processos
discursivos em meio a disputas por fixações de sentidos hegemônicos de saberes considerados
escolares e que, nesse movimento, o jogo político configura-se como elemento central nas
disputas no campo do currículo” (COSTA, 2019). Nesse sentido, considerando a função da
educação para o desenvolvimento da consciência racial de jovens e crianças, compreende- se que
a partir do estímulo propiciado pelo conhecimento histórico, pode-se suprir as carências de
orientação do tempo presente e ampliar as perspectivas sobre a diversidade da sociedade
brasileira, sendo necessário refletir sobre o papel dos professores e professoras de História na
luta contra a reprodução do racismo. Logo, a diversidade dos conceitos e a ampliação da análise
de fontes viabiliza a difusão de narrativas decoloniais produzidas pela historiografia nos últimos
anos, no entanto, convém investigar de que maneira essas narrativas estão sendo trabalhadas
dentro das salas de aula, 20 anos após a primeira lei que tornou obrigatório o ensino de História e
Cultura afro-brasileira. Nesse contexto, ainda é pertinente questionar sobre as formas que essa lei
se estabelece para além de um conteúdo programático no currículo, como contribui diretamente
para descolonizar o conhecimento propagado nas salas de aula, e também como propicia a
tomada de consciência racial de alunos e alunas, e principalmente, de que maneira endossa a luta
antirracista. E não apenas nos conteúdos da disciplina de História, elucidando a articulação entre
os objetos de conhecimento da interdisciplinaridade, se relacionando com aspectos da geografia,
património, literatura, relações sociais, e outras articulações com dentro e fora das Ciências
Humanas. Na prática, apenas com a efetivação desses preceitos, somado a propagação de
narrativas que amplificam a voz das minorias como sujeitos de uma História afrocentrada, será
possível alcançar os objetivos propostos pela Lei 10.639/03.

Palavras-chave: Ensino, Racismo, História.

SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/03. COLUNA NOSSAS


HISTÓRIAS DO SITE GELEDÉS

Márcia Santos Severino (Mestranda - Profhistoria


/UFG)

Atualmente a Rede de Historiadoras e Historiadores Negros é um coletivo que reúne diversos


pensadores e pensadoras de todo o país que buscam entender a invisibilização da cultura negra
brasileira dentro do projeto de formação nacional, bem como, compreender como tal projeto

93
continua sendo, até os dias atuais, um perpetuador do racismo estrutural em nossa sociedade.
Para tais reflexões, é importante situarmos as discussões acerca da constituição do Ensino de
História no país, visto que, seu principal objetivo desde sua constituição no Brasil Império, era
formar uma identidade nacional brasileira e, para tal, foi necessário criar narrativas que
desqualificassem os sujeitos negros em diversas perspectivas.
Com o objetivo de superar tais narrativas, principalmente no locus escolar, a Rede de
Historiadoras e Historiadores Negros desenvolve diversos debates, entre eles a coluna semanal:
“Nossas Histórias” que tem, entre outros objetivos, auxiliar professoras e professores de história
a criarem narrativas que gerem contrapontos ao pensamento histórico acerca do Brasil dentro de
sala de aula. O objetivo deste trabalho é analisar como as propostas de debates colocados na
coluna podem ser transpostas didaticamente para professores de história no geral gerando,
assim, uma visão contra hegemônica da questão do negro no Brasil dentro do espaço escolar.

Palavras-chave: Rede de historiadoras e historiadores negros. Lei 10.639/03. Coluna Nossas


Histórias.

20 ANOS DA LEI 10.639/03: EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA E AS MICROAÇÕES AFIRMATIVAS


COMO POSSIBILIDADES INSURGENTES NO COTIDIANO DA ESCOLA

Paulo César Cardoso (Doutorando – PPGEduc


/UFRRJ)

Passadas duas décadas desde a promulgação da Lei no 10.639/03 (BRASIL, 2003) e,


posteriormente, alterada pela Lei no 11.645/08 (BRASIL, 2008) que trouxe uma importante
modificação no campo educacional do Brasil, a educação escolar brasileira ainda continua longe
de ser definida a partir de uma perspectiva intercultural, decolonial, antirracista e propulsora de
diversidade. Face aos limites impostos na efetivação da legislação ao longo desses vinte anos,
temos como campo de análises em algumas pesquisas, o desenvolvimento de ações, de
iniciativas e de práticas micropolíticas cotidianas que buscam a desconstrução do racismo e das
hierarquizações do humano e da vida (TRINDADE, 2012). Essas ações sistemáticas de caráter
antirracistas oriundas de práticas pedagógicas da rede pública de ensino são definidas como ―
micro-ações afirmativas (SILVA & SILVA, 2013). Para o presente trabalho, tem-se como tema
central, o cenário de disputas, tensões e contradições no contexto das ações afirmativas para a
educação das relações étnico-raciais nos sistemas de ensino, nas escolas da educação básica.
Pensando a escola como importante espaço na formação dos indivíduos, na transmissão dos
saberes e valores sociais e, diante da necessidade de rompimento com as barreiras que
impendem o desenvolvimento de práticas educacionais que promovam a difusão da história e da
cultura afro-brasileira e africana na escola, somos estimulados a buscar novos caminhos e novas
possibilidades para a construção de práticas educacionais antirracistas. Na perspectiva da
produção de conhecimento antirracista e decolonial em educação, temos, nas importantes
observações e produções acadêmicas mais recentes, um universo de possibilidades acerca da
utilização de repertórios culturais afro-disapóricos como mecanismos propulsores de novas
práticas educacionais que promovem formas de repensar ações inclusivas e plurais e que servem
como instrumentos pedagógicos para a concepção de currículos interculturais, na constituição de
uma educação antirracista e de uma pedagogia libertadora. Tais práticas emergem, portanto,
como possibilidades de ações educativas emancipatórias, insurgentes e promotoras de processos
identitários.

Palavras-chave: Educação. Antirracismo. Diversidade

94
ENSINO DE HISTÓRIA E QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS EM PORTUGAL E NO BRASIL: LIMITES E
POSSIBILIDADES DE UM ESTUDO COMPARADO

Isabella Pimentel (Doutoranda em História - FLUP)

O presente trabalho busca apresentar alguns resultados preliminares de um projeto de


doutoramento em História que objetiva compreender como as políticas educativas para inclusão
das minorias étnico-raciais têm se dinamizado nas culturas escolares e no ensino de história em
Portugal e no Brasil. Parte-se à luz da teoria e pedagogia decolonial (CANDAU, 2018) e (WALSH,
2008) para refletir sobre os debates e mudanças políticas em torno de questões como o racismo,
o eurocentrismo e o ensino de História nos dois contextos investigados. Conceitos como cultura
escolar, código disciplinar da história, colonialidade ser, poder e saber compõem este estudo. Os
principais contributos práticos do trabalho incidem na possibilidade de identificar a distinção
entre sistemas de classificação racial e o modo como eles se relacionam com as diferentes etnias,
nomeadamente, seus impactos no campo educativo e no ensino de história.

Palavras-chave: Políticas educacionais; Ensino de história; Estudo comparado.

O QUE OS ESTUDANTES SABEM EM RELAÇÃO À HISTÓRIA E CULTURA DE PERSONALIDADES


HISTÓRICAS AFRO-BRASILEIRAS?

Luzinete Santos da Silva (Doutoranda


(UFMT/IGHD/ PPGHIS /GPEDUH).
E-mail: luzinete1982@gmail.com

Apesar dos avanços com relação a implementação da Lei 10.639/03, que estabelece a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em todas as escolas,
públicas e particulares, da Educação Básica, ainda são constatados em inúmeros resultados de
pesquisas, a presença de substanciais barreiras impostas pela discriminação, racismo e
preconceito concernentes a História e Cultura Afro-brasileira (CEREZER, 2015; COSTA, 2013;
GOMES e DOMINGUES, 2013; RODRIGUES, 2019). Em vista disso, nosso objetivo central é
analisar e compreender quais são os principais conhecimentos históricos que os estudantes
possuem em relação a alguns dos personagens históricos afro-brasileiros que viveram durante o
sistema escravocrata e /ou no pós-abolição. Desse modo, a presente investigação empregará o
método qualitativo com dados quantitativos. Assim, optaremos pela triangulação proposta por
Flick (2009) que utiliza e relaciona diversificados procedimentos, temporalidades e pontos de
vistas teóricos. Isto posto, será aplicado um questionário investigativo contendo 16 questões,
objetivas e dissertativas, em estudantes do 1º,2º e 3º anos do Ensino Médio, em turmas
localizadas em uma escola pública da rede estadual do município de Rondonópolis. No primeiro
momento o questionário será empregado sem nenhuma discussão e abordagem em relação a
temática, pois o objetivo é elencar os conhecimentos prévios dos estudantes a respeito da
história e cultura afro-brasileira. Para isso, utilizaremos o aporte teórico da Educação Histórica e
da cognição histórica situada (SCHMIDT e BARCA, 2009; RUSEN, 2011). Já no segundo momento
serão ministradas aulas com enfoque para a temática investigada, destacando alguns dos
personagens históricos afro-brasileiros. E, por último, o questionário será aplicado novamente, no
intuito de analisarmos as possíveis mudanças. Diante dos dados obtidos, pretendemos analisar
os avanços e desafios acerca da efetivação de uma educação antirracista, com a finalidade de
superarmos a cultura escolar tradicional e seus reflexos, que continuam pautadas por normas
celetistas, classificatórias e eurocêntricas.

95
Palavras-chave: Cultura afro-brasileira; Ensino; Aprendizagem Histórica.

DIA NACIONAL DE TEREZA DE BENGUELA E DA MULHER NEGRA E OS CAMINHOS ABERTOS


PELA LEI 10639/03

Manuela Arruda dos Santos Nunes da Silva


(Doutoranda em História - UFMT)

Este trabalho é fruto das reflexões que venho realizando na pesquisa em nível de Doutorado em
História a respeito de Teresa de Benguela, a líder do mais significativo quilombo que existiu na
capitania de Mato Grosso no século XVIII. Para esta comunicação, busco analisar a relação entre
os efeitos da lei 10.639/03 e a criação do “dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra”,
data instituída pela lei n.º 12.987, de 2 de junho de 2014, pela então presidenta, Dilma Rousseff. A
lei 10.639/03 que alterou o artigo 26 A da lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
9394/96) tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. A partir da referida
lei, o conteúdo programático dos currículos de todas as disciplinas deveria incluir o estudo da
história da África e afrodiaspórica, da cultura negra brasileira e a importância do povo negro na
formação da sociedade nacional. A partir do levantamento realizado até agora, verificamos que,
no campo da história, a efetiva implantação da lei 10639/03 esbarrou na necessidade de uma
profunda reformulação/descolonização do currículo escolar uma vez que a base teórica dos
estudos historiográficos foi construída a partir de referências eurocêntricas. A legislação veio
respaldar uma demanda histórica dos movimentos sociais e intelectuais contra hegemônicos,
como Abdias Nascimento (NASCIMENTO, 1983) que, há décadas, denunciavam o apagamento e o
silenciamento do protagonismo negro pertinentes à História do Brasil. A demanda por uma
escrita da história “feita por mãos negras” parafraseando Beatriz Nascimento (NASCIMENTO,
2021), perpassa pelo resgate das histórias de grupos cujos feitos não foram escritos nos livros
oficiais e pela discussão a respeito da parcialidade dos arquivos e da das fontes oficiais. Ao longo
dos primeiros vinte anos de vigência da lei é possível identificar um giro no sentido de
viabilização de agendas de pesquisa e perspectivas analíticas que tem trazido para o centro do
debate historiográfico trajetórias como as de Teresa de Benguela. É nesse sentido que busco
historicizar como Teresa de Benguela obteve o reconhecimento por parte do Estado Nacional,
sendo alçada como um como um ícone de resistência ao poder colonial patriarcal e
representativa de todas as mulheres negras brasileiras de ontem e de hoje.

Palavras-chave: Teresa de Benguela, ensino de história, lei 10.639/03.

OS DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO LETRAMENTO RACIAL COMO UM CENÁRIO


METODOLÓGICO NO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA E EFETIVIDADE DA
LEI 10.639/03

Renato Ramos de Almeida (Graduando em


História/UFPI)

A Lei 10.639/03 é uma conquista da luta secular e incessante do Movimento Negro no Brasil, a
mesma é uma semente fundacional para o fortalecimento político, social, educacional e cultural
do combate ao racismo estrutural que impera no país. Pois, através da obrigatoriedade do ensino
da História e Cultura Afro-brasileira na educação básica nas escolas do Brasil pode-se
desenvolver de forma concomitante o processo de reparação histórica através do avivamento,
reconhecimento, valorização da contribuição ativa do Povo Negro na formação do Brasil,

96
Empoderamento Negro e a Educação Antirracista. Nesse sentido, para o desenvolvimento de uma
Educação Antirracista em conformidade com as diretrizes da Lei 10.639/03 faz-se necessário o
uso de metodologias ativas de ensino e didática especializada que contemple o
multiculturalismo, diversidade e relações étnicos-raciais com foco nas Africanidades e rompa
com o processo educacional brasileiro que tem a sua base curricular no etnocentrismo e
monoculturismo – eurocentrismo. O Letramento Racial é uma das metodologias de ensino que
atuam diretamente no processo de desenvolvimento dos saberes e fazeres do ensino da História
e Cultura Afro-brasileira. Nesse perspectiva a problemática do estudo tem a sua fundamentação
no presente questionamento: Como os fundamentos metodológicos e didáticos do Letramento Racial
podem contribuir para o desenvolvimento de uma Educação Antirracista e a efetividade da Lei
10.639/03? O presente estudo tem como objetivo central analisar o Letramento Racial como um
cenário metodológico e didático no desenvolvimento da Educação Antirracista no contexto da
efetividade da Lei 10.639/03. E como objetivos específicos: refletir sobre os aspectos regimentais
da Lei 10.639/03; analisar o Letramento Racial como uma prática metodológica e didática no
desenvolvimento da Educação Antirracista; avaliar a efetividade da Lei 10.639/03 no processo de
desenvolvimento de uma Educação Antirracista. A metodologia foi realizada em conformidade
com as técnicas/métodos da pesquisa de revisão bibliográfica e revisão integrativa da literatura,
coleta das fontes através do uso das plataformas científicas de busca Scielo, Bibliotecas Virtuais,
Google Acadêmico tendo como material de estudo a literatura cinzenta – artigos, dissertações,
teses, e-books e livros. A revisão da literatura se embasou nos seguintes autores: Cavalleiro
(2001), Costa Neto (2016), Ferreira (2012), Munanga (2005), Oliveira (2010) e a Lei 10.639/03. Os
resultados apontam que os fundamentos do Letramento Racial contribui de maneira efetiva,
construtiva para o desenvolvimento de uma Educação Antirracista através das diretrizes da Lei
10.639/03, mas faz-se necessário a utilização de vários cenários metodológicos e didáticos para o
combate incessante do racismo no Brasil.

Palavras-chave: Letramento Racial. Educação Antirracista. Lei 10.639/03.

SIMPÓSIO TEMÁTICO - QUITANDA DAS MINAS: DIVERSAS MULHERES E


HISTÓRIAS

FONTES, TESES E ACERVOS: PESQUISANDO MULHERES ARTISTAS/ESCRITORAS EM GOIÁS,


CAMINHOS POSSÍVEIS

Me. Débora de Faria Maia (PPGH-UFG).


Me. Lucas Gabriel Feliciano Costa (PPGS-UFG)

Este trabalho tem por objetivo discutir sobre fontes de pesquisa documental acerca do trabalho
artístico e intelectual feito por mulheres de modo geral e, de modo específico, falar sobre a
pesquisa documental de mulheres e seu trabalho em um contexto regional (Goiás). Partimos da
identificação de lacunas historiográficas que Michelle Perrot (2005) nomeou como “os silêncios
da história”, silêncios estes que são objeto de frequentes pesquisas de gênero e história das
mulheres entre os anos de 1970-1980, como reinvindicações feministas. Aqui focamos as
pesquisas goianas, junto ao contexto da história regional, na investigação de caminhos possíveis
para a pesquisa sócio histórica sobre mulheres com base em fontes documentais. Ao

97
pesquisarmos a história das mulheres nos deparamos com as ausências documentais, ou seja,
com o pouco, dificultoso ou nenhum registro acessível, seja em acervos físicos, seja em virtuais,
sobre ações e relações de mulheres no mundo social em diferentes espaços, o que é sinal forte
para investigações sobre o tema. Para auxiliar em futuras pesquisas sobre mulheres goianas,
especialmente artistas das letras e intelectuais, nos propomos trazer destaque a um dos acervos
a servir como possível fonte, a Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (AFLAG), fundada
em 1969, também conhecida como “Casa Rosarita Fleury”, que possui em sua memória mais de
80 escritoras/artistas/musicistas goianas, muitas destas atuantes desde a Cidade de Goiás no
início do século XX. Estas mulheres produziram diários, manuscritos, obras, tanto sobre a história
de Goiás quanto sobre a história delas próprias, e de outras mulheres de seu convívio. Em 50
anos de história, a AFLAG permanece pouco explorada, e aqui nos propomos a evidenciar as
possibilidades de pesquisa, bem como apresentar caminhos para transpor dificuldades com as
pesquisas sobre mulheres em diferentes abordagens.

Palavras-chave: História das mulheres; Acervos; História regional.

NUDEZ, DEPRAVAÇÃO E DOMINAÇÃO: ANÁLISES DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE AS


MULHERES NA REVISTA PLACAR (1980 – 1990)

Djalma Oliveira de Souza (Doutorando em História


- UFG)

A presente trabalho tem como principal objetivo analisar as representações desenvolvidas sobre
as mulheres na revista Placar no período de 1980 a 1990. Dessa forma, temos como objetivos
principais, examinar o discurso editorial da revista e identificar de que forma as representações
reverberavam o machismo, afirmando assim a autoridade dos homens sobre os corpos das
mulheres e sua descaracterização enquanto sujeitas históricas; investigar como as mulheres se
expressavam e, identificar por meio dessas construções
como a magazine interpretou e representou os anseios das mulheres. Para isso, consultamos
bibliografias relacionadas ao contexto e à revista, fizemos a leitura e a análise documental da
mesma e nos utilizamos de conceitos e categorias como as de representação, virilidade,
patriarcalismo, dominação e gênero. A partir desse aporte, verificamos que no período
mencionado a revista esportiva Placar compartilhava de todo um aparato legal, político e cultural
no qual prevalecia os desejos e vontades masculinas e que as submetiam a representações e
significados degradantes e fúteis.

Palavras-chave: Mulheres desportistas. Revista Placar. Representações.

IMPRENSA E POLÍTICA: JACINTA PASSOS E A ESCRITA PECEBISTA NO JORNAL ‘O IMPARCIAL’

Alice de Andrade Pampani (Mestranda/UFS)

Jacinta Velloso Passos foi uma importante militante do Partido Comunista do Brasil (PCB) na
Bahia durante a década de 1940. Ela publicou artigos e poemas em diversos periódicos, sendo
sua principal temática a luta contra o nazifascismo, a defesa das ideias comunistas e o fim da
Segunda Guerra Mundial. Desse modo, este trabalho visa analisar algumas publicações de Jacinta
Passos no jornal baiano O Imparcial (1918-1947), onde a jornalista publicou seus títulos entre os
anos de 1942 e 1943. A partir dessas análises será possível inferir quais as bases do pensamento
de Passos, além de como o jornal recebia essas ideias vindas de uma mulher, militante

98
comunista, em uma época extremamente conturbada da história do Brasil e do mundo, onde as
mulheres ainda não ocupavam tantos espaços públicos, principalmente na política. Para tal, serão
utilizados como referências Janaína Amado, que biografou a vida de Jacinta, além de
pesquisadores do PCB na Bahia, como Carlos Zacarias Sena Júnior e diversos trabalhos
acadêmicos que analisaram o Imparcial. As fontes são os textos jornalísticos de Passos e também
de outros colaboradores deste jornal publicado diariamente na Bahia.

Palavras-chave: PBC; Jornal; Mulher.

PARA ALÉM DA BRUNA SURFISTINHA: AS TRAJETÓRIAS DAS PROSTITUTAS DA BOATE


CHANTECLER EM RECIFE (1939-1984)

Ma. Olívia Tereza Pinheiro de Siqueira (UFF)

Este trabalho, que representa um tópico da dissertação intitulada “Boate Chantecler: a


representação da ascensão e do declínio nos espaços de prazer do Recife (1939-1984)”, tem como
objetivo versar sobre as trajetórias percorridas por algumas prostitutas que trabalharam no
prostíbulo entre as décadas de 1950 e 1970, por meio do cotejamento de seus nomes entre as
reportagens dos periódicos Diario de Pernambuco e Diário da Manhã, buscas no site genealógico
Family Search, criado pela Igreja de Jesus Cristo Santo dos Últimos Dias, e, uma entrevista remota
realizada com uma das prostitutas que trabalhou no local. Com o intuito de aprofundar as
biografias, elencamos três mulheres para nos aprofundarmos sobre os vestígios do seu cotidiano
para além do meretrício, demonstrando que seus corpos foram marcados pelos estigmas
advindos do que é ser prostituta (RAGO, 2008), bem como suas resistências em busca de
sobrevivência, independência na vida urbana e na luta pelos seus direitos, fazendo desta
profissão, um ganha pão como outro qualquer (PRADA, 2018).
Palavras-chave: Prostituição; Sexualidade; Biografias.

NAS PÁGINAS DO JORNAL O JEQUITINHONHA: REFLEXÕES ACERCA DO DIVÓRCIO E DOS


PARADIGMAS SOBRE AS MULHERES NA SOCIEDADE DIAMANTINENSE DO SÉCULO XIX.

Ana Flávia Vitorino Honório (mestranda -


PPGHIS/UFOP). E-mail: anafvhonorio@gmail.com

Ao romper a barreira tradicional da historiografia, a Nova História permitiu (re)construir estudos


de acontecimentos marginalizados e desconsiderados para a compreensão das mudanças sociais.
Com isso, tornou-se necessário incorporar novos questionamentos, relacionados às
subjetividades, e esses novos enfoques modificaram a ciência histórica e a história da
historiografia. À vista disso, a História das Mulheres ganha relevância na pesquisa histórica, pois
ela também está alinhada com os novos objetos propostos para o ofício do historiador. Estudar as
mulheres vai além de apenas incluí-las como sujeitos de historicidade, possibilitando, desta
maneira, compreender não só de forma mais complexa os eventos do passado, mas também
orientando as discussões do presente. Portanto, este trabalho trata-se de um exercício preliminar
de analisar exemplares do jornal O Jequitinhonha, no período de 1860 a 1879, e de discutir as
relações das matérias do periódico com a noção de divórcio na sociedade diamantinense do
século XIX. Analisar como o divórcio foi noticiado pelo periódico torna-se pertinente para
compreender parte das construções dos paradigmas sobre as mulheres e sobre os seus direitos
sociais e de gênero, em uma sociedade que controlava as maneiras femininas de ser. Para tanto, a
noção de representação foi mobilizada a fim de compreender como termos e conceitos que se

99
referiam às mulheres, no jornal, estiveram relacionados com a visão de mundo apresentada pela
redação e com a maneira que as mulheres estavam inseridas e retratadas ali. Pela análise e
interpretações, se observou o tratamento e menção à palavra divórcio, que pôde ser
compreendida como a cessão do pacto da vida conjugal, em um período que o casamento era
considerado indissolúvel em sociedades mais religiosas. Outro fator de destaque foi a chegada de
congregações religiosas no distrito, exercendo grande influência e proliferando ideias
conservadoras na sociedade, principalmente sobre a mulher e seu papel de filha, esposa e mãe.
Sem tirar conclusões precipitadas e considerando o recorte temporal, diante do apresentado, se
tem uma noção de como a imprensa se portou na cidade de Diamantina. Deste modo, é
importante analisar como se deu a apresentação do divórcio e sua construção narrativa, para
compreender como se legitimou um ideário moral a respeito da mulher, que ainda assombra os
dias atuais.

Palavras-chave: História das Mulheres; Imprensa; Divórcio

CARTOMANTES E MÃES DE SANTO NO RIO DE JANEIRO OITOCENTISTA: UMA PERSPECTIVA


INTERSECCIONAL SOBRE MAGIA E AFRO-RELIGIOSIDADE

Hanna Katherine Ferreira Gomes (Mestranda -


PPGH-UFF)

O presente trabalho tem como objetivo discutir a relação das mulheres negras líderes de casas
afro-religiosas e das mulheres cartomantes e sonâmbulas com o aparato repressivo oitocentista,
a partir das notícias em periódicos publicados entre os anos de 1870 e 1889 no Rio de Janeiro. É
possível observar, nesse contexto do Brasil Império, uma diferença no tratamento com relação às
autoridades policiais no campo das práticas mágico-religiosas. As videntes, espiritualistas e
cartomantes anunciavam seus serviços, com a localidade, horário de atendimento e o preço nas
páginas de periódicos de grande circulação na Corte, algo impensável para uma liderança
afro-religiosa nesse momento. Tais casas eram perseguidas pela Polícia da Corte e suas lideranças
por vezes processadas pelo crime de estelionato, como no caso de José Sebastião da Rosa e de
Anna Luiza do Nascimento (SAMPAIO, 2000; POSSIDÔNIO, 2020). As mães das casas
afro-religiosas, então, despontavam em outra seção dos jornais, nas páginas que relatavam
batidas policiais e prisões efetuadas. O destaque das mulheres negras em espaços afro-religiosos
foi objeto de análise de diversos intelectuais das ciências humanas (CARNEIRO, 1948; LANDES,
1947; CARNEIRO; CURY, 1993). Nesse sentido, Teresinha Bernardo (2005) destacou o lugar do
feminino como responsável pelo poder religioso, enquanto um diferencial da afro-religiosidade
com relação a outras filosofias e práticas de fé. Ao mesmo tempo, é possível verificar a
predominância feminina também na cartomancia, assim como outras atividades ligadas à
vidência e o magnetismo (MAIA, 2020; MINOIS, 2016; VERONESE, 2017). De ambos os lados é
marcante o protagonismo de mulheres, mas somente algumas eram perseguidas, enquanto
outras não. Assim, a partir da perspectiva interseccional, buscaremos debater de que forma raça
e classe pautavam tais experiências (CRENSHAW, 2002).
Palavras-chave: Afro-Religiosidade; Interseccionalidade; Oitocentos.

100
COLETTE SIMONE DIALLO: UMA VOZ ALÉM DOS ESTEREÓTIPOS - O IMPACTO DA MÍDIA NA
NARRATIVA DA PRIMEIRA ESTUDANTE AFRICANA NO BRASIL
Daniele Meirelles Lambert (mestranda - PUC/Rio)

O principal objetivo deste trabalho é refletir como ocorreu a vinda do primeiro grupo de
estudantes africanos para o Brasil na década de 1960, em especial discutir a repercussão da
imprensa brasileira sobre a imagem da senegalesa Colette Simone Diallo, única mulher do grupo.
Por meio da análise de reportagens e entrevistas, se examinou a forma como a imprensa
destacou aspectos físicos, experiências pessoais e opiniões de Colette, levantando questões sobre
a construção de identidades raciais e de gênero na sociedade brasileira. Colette iniciou seus
estudos no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), e logo escolheu cursar pós-graduação na
Universidade de Brasília (UNB), com foco em Letras e Literatura Brasileira. Sua vinda para o Brasil
foi possível através da concessão de bolsas de estudos para jovens africanos cursarem o nível
superior no Brasil em 1961, por meio da adoção de uma nova política externa com países recém
independentes do continente africano (REIS, 2021). Sendo a única mulher africana do grupo, a
mídia frequentemente a destacava, enfatizando sua singularidade, como não apenas suas
conquistas acadêmicas, mas também aspectos físicos, como sua beleza e sua pele "mulata". Tal
abordagem, ao associá-la aos estereótipos da mulher negra brasileira, contribuiu para a
construção de uma imagem limitada e superficial, reforçando ideias pré-concebidas sobre
identidade racial. Colette esteve sob holofote nas reportagens dos jornais como um exemplo de
“democracia racial” brasileira ao destacar sua presença nas universidades. No entanto, as
notícias ocultam as experiências de opressão vividas por outras mulheres negras, o que perpetua
a dominação sexista e racista presentes na sociedade, reforçando desigualdades e invisibilizando
a realidade da maioria das mulheres (GONZALEZ, 1984). Ao compreender essas dinâmicas,
somos capazes de refletir criticamente sobre as desigualdades presentes na sociedade e o papel
da mídia na perpetuação dessas injustiças. Mais do que simplesmente repensar as
representações midiáticas, este estudo entende como a presença de Colette Simone Diallo nas
universidades brasileiras contribuiu para inaugurar um novo perfil acadêmico brasileiro com a
presença de uma mulher negra africana.
Palavras-chave: Colette Diallo, Estudantes Africanos, Imprensa Brasileira.

DIACUÍ CANUALO AIWUTE, AYRES CÂMARA CUNHA E DIACUÍ CUNHA DUTRA:


PERFORMANCES DOS GÊNEROS, MODELOS DE CIVILIDADE E UM PROJETO DE NAÇÃO
MODERNA (1952-1960)
Janaína Ferreira dos Santos da Silva (Doutoranda -
PPGH-UFF)

O enredo romanesco da indígena Kalapálo Diacuí Canualo Aiwute e do sertanista gaúcho Ayres
Câmara Cunha foi uma agitação social, política e cultural durante o recorte espaço-temporal do
Brasil durante os anos de 1952 e 1953. Com debates que envolveram o campo legislativo,
indigenistas famosos e conglomerados jornalísticos, a trama do “Casa ou não casa?” se tornou
uma novela da vida real. Por entre embates de projetos para o país e ações político-ideológicas de
modernização econômica, Diacuí Cunha Dutra, filha do casal, nasceu simbolizando a vitória da
aliança em favor de uma urdidura em diálogo com a invenção mítica do Brasil enquanto nação.
Investigando as principais fontes documentais que se debruçaram sobre a história desta família,

101
especialmente entre os anos de 1952 e 1960, nos dedicamos a analisar como as representações
sociais elaboradas sobre estes personagens dialogam com as performances dos gêneros, os
modelos de civilidade e o projeto de nação moderna dispostos na agenda sociopolítica daquele
período.
Palavras-chave: Diacuí; Colonialidade; Gênero.

SUBJETIVIDADES FEMININAS: AS REPRESENTAÇÕES DAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS NA


TRAJETÓRIA E ESCRITA DE VANGE LEONEL ENTRE 1990 E 2014.

Ana Carolina do Carmo Silva (Mestranda


ProfHistória - UFG)

Sabemos que a história é viva, feita de pessoas e que estamos inseridas(os) em uma sociedade
patriarcal, machista e binária. Desta maneira, discutir gênero no ensino de história é reconhecer
as historicidades inscritas em comportamentos, subjetividades e discursos vividos no tempo. A
invisibilidade das mulheres homoafetivas tem sido tema de estudos sobre gênero e sexualidade,
haja vista que a existência desse grupo tem sido vivida sem acesso a qualquer conhecimento de
uma tradição ou continuidade. Logo, entra em debate a heterossexualidade compulsória, que
consiste na exigência de que todos os sujeitos sejam heterossexuais, se apresentando então
como única forma considerada normal de vivência da sexualidade. Partindo desse pressuposto,
questionar e problematizar a heterossexualidade compulsória enquanto manutenção do
patriarcado que contribui para o enfraquecimento das relações entre mulheres, sejam elas
afetivas/sexuais ou não, é de fundamental importância. Refletir sobre gênero, sexualidade,
subjetividades de mulheres homoafetivas é enriquecer a discussão acerca dessas sujeitas que
passam constantemente por diversos processos de apagamento. A cantora, escritora, lésbica e
feminista Vange Leonel [1963 / 2014], através de sua trajetória de vida e de sua escrita em colunas
como GRRRLS na revista GLS Sui Generis (1997-2000) e na Revista da Folha, a coluna GLS
(2001-2010), além dos livros Lésbicas (1999), Grrrls: garotas iradas (2001), As sereias da Rive Gauche
(2002) e Balada para as meninas perdidas (2003), deu visibilidade às mulheres homoafetivas que,
apesar de toda tentativa de apagamento e silenciamento (indo de encontro à heterossexualidade
compulsória), mostrou que a existência desse grupo de mulheres é algo que sempre existiu e
existirá. A partir de questões pessoais, por observar a lacuna presente de produções acadêmicas
sobre a temática, e a importância da contribuição da obra e trajetória de Vange Leonel para a
formação identitária na descoberta da sexualidade homoafetiva das mulheres, o presente estudo
fundamenta-se na relevância de um levantamento histórico sobre as contribuições dessa
personagem tão importante para as lutas desse grupo de mulheres do final da década de 1990 e
primeira década dos anos 2000. O estudo busca contribuir para pôr em questionamento a
invisibilização, na sociedade e na academia, das mulheres lésbicas e bissexuais. Destarte, ensinar
história a partir da perspectiva de gênero e sexualidade, é também, possibilitar e permitir que
nossas alunas(os) entendam que a forma como enxergamos nossa sexualidade e a forma como
nos enxergamos mulheres e homens são fruto de construções discursivas, e que é sempre
possível construir uma sociedade com novas possibilidades de identidade e de convívio.

Palavras-chave: Heterossexualidade Compulsória, Homoafetividade Feminina, Ensino De


História.

102
BAIANAS OITOCENTISTAS : UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO FOTOGRÁFICA DE RODOLPHO
LINDEMANN
Ms. Beatrice Rossotti (UFF)

Tenho desenvolvi a minha pesquisa de pós-graduação baseada na análise de fontes fotográficas


da segunda metade do século XIX, nas cidades da Bahia e Rio de Janeiro. Ao longo das produções
até o momento, tenho observado padrões de montagem do vestuário de mulheres negras que são
o enfoque da minha seleção e montagem do corpus documental. Essa construção foi feita a partir
da perspectiva de Ana Maria Mauad (2008) de que o agrupamento de imagens contribui para a
consolidação de uma hipótese, mas para que as fontes sejam passiveis de uso científico elas
precisam ser selecionadas tomando um aspecto direcionador, ou seja, que tenha em comum nas
produções. Por isso, usei a presença feminina negra como elemento de seleção para as imagens,
junto a ideia de produções feitas em espaços públicos (externos) e espaços privados (internos).
Porém, para este trabalho as imagens apresentadas constituem de produções internas, ou seja,
executadas em estúdios fotográficos, o que nos leva a pensar as dimensões que a autora também
nos traz como fundamentais para analisarmos as produções, sendo elas: circulação, produção,
agenciamento e consumo. A partir dessas dimensões desenvolvi a hipótese de que as mulheres
apresentadas nos registros fotográficos representam, por meio de suas vestes e adornos, um
padrão de intencionalidade no vestir, que estava presente nos espaços públicos citadinos, o que
identifico como o “vestir-se negra”, e que se repete em produções de diferentes fotógrafos,
artistas de aquarela e registros de viajantes. O desenvolvimento e uso cotidiano desse “vestir-se”
nos foi revelado a partir desses registros visuais internos e externos, sendo assim, com a intenção
de analisar a presença desse padrão, para o presente trabalho selecionei dez imagens do
fotógrafo Rodolpho Lindemann. A proposta é representar as principais temáticas que selecionei
como constantes interferências no modo como as roupas presentes nas fotos serão escolhidas. E
para isso construímos agrupamos analíticos a partir das dimensões apresentadas por Mauad,
onde trataremos das interferências das vivências do fotógrafo na produção, a dimensão de
trabalho da mulher, a condição de escravizada ou não dela, o gênero feminino e a articulação de
roupas e joias, o diferencial no registro de mulheres negras das mulheres brancas, a condição de
trabalho comercial e o acúmulo de pecúlio e seu demonstrativo visual. Sendo assim, a
apresentação consta na construção de uma análise imagética, utilizando-se dos aspectos
mencionados como parâmetros de investigação das fotografias selecionadas.
Palavras-chave: Fotografia; Rodolpho Lindemann; Bahia oitocentista.

103
SIMPÓSIO TEMÁTICO - TRAVESSIAS: GOVERNANÇA, ADMINISTRAÇÃO E
PODER NAS AMÉRICAS (SÉCULOS XVI-XIX)

NAS ENTRELINHAS DO PODER: ANALISANDO OS REGIMENTOS DE GOVERNADORES


COLONIAIS
Walter Lopes Bezerra da Silva (graduando - UFRPE)

Durante o período colonial, o Brasil inicialmente não foi ocupado de maneira efetiva. Foi somente
após 30 anos da chegada de Pedro Alvares Cabral que o governo portugûes decidiu iniciar os
trabalhos de colonização nas terras brasileiras. Parte dessa iniciativa se justifica com crescente
ameaça estrangeira às terras reclamadas por Portugal. De fato a presença estrangeira aliado a
povos indígenas quase expulsou os colonos portugueses, devido a este problema o rei de
Portugal instaurou uma nova figura de poder na colônia, o Governador-Geral. O cargo de
Governador-geral foi designado para a colônia como o representante do rei e deveria realizar
decisões que sempre fossem vantajosas para a coroa portuguesa. Para isso, existiam os
Regimentos: coleção de instruções e diretrizes que eram emitidas pelo rei de Portugal e enviadas
para o Brasil para orientar os governadores gerais na administração da colônia. Esses Regimentos
eram documentos detalhados que abrangiam várias áreas da administração colonial, como a
organização da justiça, a administração das finanças, a defesa militar, a administração das vilas e
cidades, entre outras. Eles eram baseados nas leis e tradições portuguesas e visavam garantir a
governança eficiente e consistente da colônia. Eles eram emitidos diretamente pelo rei de
Portugal e eram considerados leis supremas na colônia, acima de todas as outras leis locais e
regulamentos. Este trabalho pretenderá divulgar o estudo das análises de Regimentos de
Governadores-gerais, em contrapartida com as esferas de poderes políticos locais do Brasil
Colônia. Em outras palavras, embora os Regimentos (documentos que ditavam as
responsabilidades dos governadores) destacassem os governadores-gerais como os próprios
representantes do rei de Portugal, na prática, podemos observar poderes locais, como Câmaras e
Vilas, endereçando cartas diretamente para o rei, evidenciando certa participação política.
Palavras-chave: Política, Regimentos, Governador-Geral.

A LEGITIMAÇÃO DA RESTAURAÇÃO INGLESA PELA CARTOGRAFIA DO ESTREITO DE


MAGALHÃES (SÉCULO XVII)
Rodrigo Canossa Barbosa (UNESP)

O objetivo desta pesquisa foi apresentar e analisar as formas de construção de um discurso


espacial colonialista realizado no Estreito de Magalhães por Sir John Narborough entre 1669 e
1671, sob ordens diretas de Carlos II da Inglaterra. A cartografia no século XVII era muito mais que
apenas uma forma de representação pictórica de espaços geográficos, era uma linguagem com
poder intrínseco de possessão e legitimação territorial dentro da política dos impérios
ultramarinos europeus. Narborough deixou mapas e um diário sobre sua expedição, além de
mapas subsequentes feitos por outros cartógrafos terem sido baseados no seu; compreendê-los
ante termos humanos revelou-nos outras formas de competição e colonialismo encontrados

104
pelas potências marítimas da Europa para justificar suas navegações. Como veremos na
discussão apresentada neste trabalho, política externa e competições mercantis do final do
século XVII são compreendidas pela metodologia propiciada pela cartografia crítica. Os contextos
restauracionistas de 1640 de Portugal e 1660 da Inglaterra cruzaram-se em 1662 com o casamento
de D. Catarina de Bragança com Carlos II, e o ápice do processo inglês de legitimação colonial
ultramarina nessa época ocorreria com a expedição de 1669, parcialmente impulsionada pela
recente aliança anglo-lusitana.
Palavras-chave: Cartografia, Estreito De Magalhães, Restauração, Colonialismo.

TERRITORIALIZAÇÃO E CIRCUITOS POLÍTICOS NAS ALAGOAS: ESTUDO DE CASO SOBRE A


ALDEIA DE SANTO AMARO DO PALMAR (C. 1699 –C. 1726)
Taylor Uchôa Cavalcanti (Mestrando PGH-UFRPE)

No ano de 1699, o Padre Frei Manoel da Encarnação enviou uma carta ao rei de Portugal
informando os malogros que a família Araújo havia dado aos indígenas da aldeia de Santo Amaro
do Palmar, colocando currais de gado e plantações de tabaco nas terras dos aldeados,
deixando-os famintos e destruindo a capela de mesmo nome do aldeamento, construída pelo
trabalho do grupo. A forma encontrada pelos indígenas da região das Alagoas para lutar por sua
terra foi a de recorrer a uma instância superior, o Conselho Ultramarino, utilizando também os
serviços que haviam prestado na defesa do território ao longo de mais de cem anos de ocupação,
ora contra os flamengos, ora contra os quilombolas dos Palmares, até mesmo contra outros
grupos indígenas ao largo dos sertões da capitania de Pernambuco e anexas. Este documento tão
rico em informações se torna fio condutor para compreender melhor o funcionamento dos
circuitos políticos e a resistência indígena local. Para além da polaridade entre o índio que vive
entre os colonizadores sem vínculos ao seu passado ou daquele que se refugia nos sertões, esta
comunicação tem como objetivo demonstrar como indígenas coloniais, cristianizados e com
vínculos econômicos utilizaram as ideias de política, território e cultura dos portugueses para
reafirmar sua pertença étnica. Isto é, como os aldeamentos – um espaço criado para os índios e
não por eles – se tornou ambiente reconhecidamente indígena onde a manutenção do seu modo
de vida acontece. Tendo como referência basilar os estudos de Almeida (2013) e Oliveira (2016;
2022) para a temática indígena e as obras de Bicalho & Ferlini (2005) e Fragoso & Gouvêa (2010),
para o âmbito administrativo e das redes de poder, almeja-se fazer uma História indígena
contemporânea cujos povos autóctones estão inseridos à sociedade colonial e são atores sociais
importantes tanto na construção como na consolidação dessa mesma sociedade,
simultaneamente, optando pelo conceito das redes de poder para compreender a decisão
favorável à reivindicação daqueles indígenas.

Palavras-chave: Santo Amaro do Palmar; Resistência Indígena; Redes de Poder.

105
A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO TRATADÍSTICO CATÓLICO NAS TROCAS COMERCIAIS NA
ROTAS DE TROPEIROS ENTRE VIAMÃO E SOROCABA
Clara Correia Lima Felix (PPGH UFRGS)

Esse trabalho tem por objetivo analisar um documento a partir da leitura da nova retórica de
Chäim Perelman. O documento referido se trata de uma carta escrita por um grupo de tropeiros à
rainha de Portugal, cuja autoria da carta permanece incógnita. Na missiva, o grupo, representados
por uma pessoa, manifesta à rainha os incômodos referentes a Antônio Fernandes Valle, acusado
de cobrar juros sobre os direitos de passagem da tropa de animais. Nesse contexto vale lembrar
que a cobrança de impostos podia ser arrematada por um indivíduo específico, que teria direito
de cobrar impostos sobre os animais transportados. Assim, esse grupo, ao passar pelo registro de
Viamão, considera que a cobrança de Valle é imoral. Por meio da aplicação de princípios da
retórica, procuramos identificar como os conceitos de reciprocidade – a ideia de amizade como
contrato- e equidade - cada pessoa recebe o que lhe é justo de acordo com sua posição na
hierarquia do Antigo Regime- operaram nesse contexto. Assim, ao olharmos para a carta a partir
da chave neo-retórica, compreendemos melhor como operam os princípios de reciprocidade e
equidade. Logo, notamos que há uma certa reciprocidade entre a rainha e os tropeiros, os
primeiros sendo vassalos da segunda. Em troca da obediência e fidelidade ao soberano, cabe a
esse ratificar as reclamações como uma forma de retribuir a fidelidade de seus súditos. Já pelo
princípio da equidade, foi possível observar pela carta uma atribuição de valores a uma
parcialidade do grupo, o qual procura garantir o que lhe é justo de acordo com a sua posição
hierárquica na composição social do Antigo Regime. Por meio da análise do discurso entre
tropeiros e rainha, foi possível entender melhor as formas pelas quais operam os mecanismos de
poder no Antigo Regime. Do mesmo modo em que o monarca aparece como uma figura distante,
ainda é possível recorrer a ela como um modo de manutenção das redes de poder ultramarinas.
Palavras-chave: Retórica; Reciprocidade; Equidade.

IMPRESSÕES REBELDES: UMA ANÁLISE DA REVOLTA DE CAMAMU DE 1691


Pedro Ivo Basílio Bandeira da Silva (graduando
-UFRPE)

O Reino de Portugal, ao enviar suas primeiras naus de colonos para a costa brasileira, trazia
consigo um complexo aparato político-econômico que seria de vital importância para a
construção de uma sociedade além-mar naquelas regiões. Naturalmente, esse processo foi
recebido com resistência logo em seu princípio, na medida em que as autoridades religiosas e
seculares portuguesas abriam o seu caminho entre os povos nativos e, com a mão de ferro do
Estado absolutista, os forçava a se enquadrarem no regimento colonial. É nesse recorte temporal
que serão registradas diversas revoltas coloniais ao redor de todo o Estado do Brasil. Os motivos
dos tumultos na América Portuguesa durante os séculos XVII e XVIII podiam ser traçados seja
devido ao aumento de impostos, a insatisfação sobre uma indicação política ou até mesmo o
fervor das populações locais contra inimigos externos. Naturalmente, os nativos brasileiros e os
africanos escravizados em Brasil também tiveram o seu próprio contexto nas resistências e
rebeliões coloniais contra as autoridades régias lusitanas. Em manuais de história para a
educação básica se é possível dar uma olhadela em alguns exemplos emblemáticas dos vários
quilombos que surgiram durante esse período no Brasil. Luciano Figueiredo (FIGUEIREDO, 2005,
p.22), especialista nas revoltas coloniais do Brasil, entende o surgimento dos mocambos e

106
quilombos como um instrumento essencial para a resistência dos povos africanos nos domínios
lusitanos da América. Muito embora, segundo João José Reis (2006), esses assentamentos se
configurassem como uma rebeldia ambígua – pois, ao buscarem conviver dentro de uma
autonomia em relação ao Estado português, não estavam se colocando frontalmente pela
destruição do sistema escravagista – eles serviram como instrumentos essenciais para a
propagação de ideais subversivos e, em diversas regiões do Brasil, tornaram-se símbolos de
resistência. Dessa forma, o presente trabalho dedicar-se-á estudar o papel da estrutura do
mocambo em atos de resistência e rebeldia dos grupos subalternos do Estado do Brasil. O objeto
de estudo específico para esse empreendimento debruça-se sobre a revolta de homens negros,
mulatos e indígenas no ano de 1691 na então vila de Camamu, no sul da Bahia. Faz-se mister o
estudo dessa revolta em específico, uma vez que Camamu encontrava-se no centro da economia
da então capitania da Bahia, devido sua expressiva produção de farinha de mandioca. Além disso,
a frágil aliança entre pretos, pardos e indígenas – incomum no contexto colonial – que se
desenhou ali incita o interesse em compreender as dinâmicas político-raciais da região.
Palavras-chave: Revolta, Quilombo, Escravidão.

O COMÉRCIO ILEGAL NA AMÉRICA COLONIAL: AS COLÔNIAS BRITÂNICA, ESPANHOLA,


PORTUGUESA E FRANCESA ENTRE O SÉCULO XVII E O XIX
Luciana Lima de Andrade Barbosa (Mestranda –
PGH/UFRPE)

O comércio ilegal, contrabando ou descaminho, foi uma parte inquestionável da colonização


europeia nas Américas. Apesar das diferentes visões e análises sobre o papel do comércio ilegal
em cada colônia, é notório que a prática fazia parte da sociedade e da economia colonial. Este
resumo faz parte de uma pesquisa em andamento sobre o contrabando de pau-brasil na
capitania de Pernambuco durante o século XVIII, mas para entender a prática de forma local, é
necessário compreender como ela funcionava de forma global. Através do estudo das pesquisas
de autores como Wim Klooster, Allan Christelow e Allan Karras, é possível compreender o
comércio ilegal entre os impérios atlânticos, a busca pela preservação da propriedade privada, e o
papel socioeconômico que o contrabando exercia em determinadas sociedades. Cada prática de
comércio ilegal era diferente, seja no bem contrabandeado, no tipo de pessoal envolvida com a
prática, a forma como ocorria o descaminho, ou qual a função que a prática exercia dentro de
determinado local. Sendo assim, compreender uma rede de contrabando não garante a imediata
compreensão de todas as outras que existiram em todos os lugares, mas a compreensão – ainda
que superficial – de como o comércio ilegal funcionava nas demais colônias americanas permiti
uma melhor apreciação e análise de como se dava a prática dentro da colônia portuguesa.
Palavras-chave: Contrabando; América; Comércio.

107
“PASSOU O TEMPO DAS SELVAGERIAS”: A ADMINISTRAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA VILA
DE ÁGUA BRANCA, PROVÍNCIA DE ALAGOAS, CERCA DE 1870-1890

Marília Lima de Araújo (Doutoranda em História - UFRPE)

Esta pesquisa discute as práticas do poder judiciário na vila de Água Branca/AL, investigando a
administração da justiça, por meio da análise da atuação de autoridades na abertura de queixas,
pronuncias e demais procedimentos processuais. Para tal discussão, utilizamos a documentação
cartorial presente no acervo do Fórum Miguel Archanjo de Siqueira Torres, localizado na cidade
de Água Branca, além do Jornal do Penedo, periódico do Baixo São Francisco alagoano, e a
legislação criminal da época. Com o uso desses documentos históricos, analisados em
conformidade com a micro-história, trazemos algumas considerações acerca do funcionamento
da justiça em Água Branca. A consolidação do poder judiciário, no Brasil Império, envolveu
aspectos diversos, entre eles, o acesso à abertura de processos, presença de autoridades em
locais mais afastados dos centros, obediência ou resistências às leis. Nesse sentido, procuramos
pensar tais condições para a vila de Água Branca, no sertão de alagoas, contribuindo para
ampliação das discussões historiográficas sobre o tema.

Palavras-chave: Poder judiciário. Brasil Império. Sertão de Alagoas.

ADMINISTRAÇÃO SUBALTERNA E TRANSMISSÃO DE SABERES: UMA ANÁLISE DA


TRAJETÓRIA GOVERNATIVA DE JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA NO RIO GRANDE DE SÃO
PEDRO (1764-1769)
Mariana Pereira Gama (Mestranda - PPGH/UFRGS)

Partindo dos pressupostos da categoria de monarquia pluricontinental, considerando a


comunicação como um elemento central para a integração imperial e territorial, este trabalho
propõe-se a observar a prática governativa do engenheiro militar José Custódio de Sá e Faria,
durante a segunda metade do século XVIII, na capitania subordinada do Rio Grande de São
Pedro. Levando em conta o caráter relacional entre poder e conhecimento, associação que
“integrava movimentos e ações operacionalizadas por uma complexa rede de oficiais régios que
atuavam através de um amplo espectro temporal e espacial” e pela qual “os ‘indivíduos’ se
transformam em ‘centros de produção e transmissão’ tanto de poder, quanto de saberes, de
conhecimento” (GOUVÊA et al., 2004), pretende-se abordar a governação subalterna a partir do
regimento do governador e de sua correspondência com demais setores da administração, com o
objetivo de analisar redes governativas em que Sá e Faria estava inserido e as técnicas
administrativas e de transferência de conhecimento postas em prática pelo oficial enquanto
governador, assim como o lugar da cartografia nesse processo.
Palavras-chave: Monarquia Pluricontinental; Administração; Rio Grande De São Pedro

108
SIMPÓSIO TEMÁTICO - POR UM ENSINO ANTIRRACISTA: INTERVENÇÕES
CONTRA-HEGEMÔNICAS NO ENSINO DE HISTÓRIA

A LUTA DOS INDÍGENAS NAMBIQUARA CONTRA O PRECONCEITO E O RACISMO


Francisco Clébio Pinheiro (Doutorando em História
- UPF)

O objetivo deste trabalho é analisar o processo de resistência dos indígenas Nambiquara, com
destaque para a preservação da identidade cultural e o enfrentamento do preconceito racial. Para
isso, utilizaremos da metodologia revisão historiográfica, tendo como base de estudo as seguintes
fontes: Costa (2008); Baniwa (2019); Smith (2018); Strauss (1957). Durante o período de
colonização, os Nambiquara enfrentaram diversos desafios, incluindo a imposição de práticas
culturais estrangeiras, o deslocamento forçado de suas terras e a marginalização social. No
entanto, sempre demonstraram uma notável resiliência. Esta revisão histórica permite observar
as estratégias de resistência adotadas pelos Nambiquara ao longo do tempo, que englobam a
preservação de seus costumes tradicionais, a valorização da língua e a organização comunitária
para enfrentar as adversidades impostas pelo racismo e pela discriminação. Além disso, as
lideranças indígenas desempenharam um papel fundamental no fortalecimento da identidade e
no enfrentamento dos desafios. Ao compreender a luta do povo Nambiquara contra o racismo,
destacamos a importância de valorizar e respeitar as culturas indígenas, além de combater o
preconceito e a discriminação racial por meio de um conhecimento qualificado sobre o assunto
(BANIWA, 2019). Portanto, esse estudo contribui para uma reflexão mais ampla sobre as relações
entre povos indígenas e a sociedade em geral, com o objetivo de construir um futuro mais justo e
inclusivo. A resistência dos Nambiquara serve como inspiração e exemplo de resiliência na busca
por justiça e reconhecimento.
Palavras-chave: Resistência indígena; Nambiquara; Racismo.

"O MARACATU DE BAQUE SOLTO É UMA CULTURA NOBRE MANTIDA POR GENTE POBRE"
LETRAMENTO CULTURAL DENTRO DO MARACATU A PARTIR DAS VIVÊNCIAS DOS
BRINCANTES DE NAZARÉ DA MATA - PE
Lianderson dos Santos Gonçalves (graduando do
em História da Universidade de Pernambuco)
Prof. ° Eduardo Augusto de Santana (UPE)

Nascido na microrregião da Mata Norte de Pernambuco, o Maracatu de baque solto é uma


manifestação cultural privilegiada pela existência de pessoas que fazem deste brinquedo um
instrumento de resistência ao longo do tempo. Sendo a sua prática permeada por diversos
elementos culturais que tornam com que esta brincadeira popular seja muito mais do que um
mero passatempo. Entendendo assim, que o folguedo é também percebido pelos seus brincantes
como um lugar de fala. No qual a comunidade se utiliza em sua busca por dignidade e melhores
condições de vida. Uma vez que corrobora para a permanência das individualidades desses
grupos. Desta forma, resistir na zona canavieira da Mata Norte pernambucana é, sem dúvida, um
compromisso do grupo, haja vista que, este patrimônio cultural é constantemente ameaçado por

109
tentativas externas de retirar todas as suas característica comuns a cultura dos ex-escravizados,
em um processo de aculturamento. No entanto, mesmo nesta situação os essa população
socialmente demarcada pela cor de sua pele resiste e consegue recriar seus elementos
característicos a sua maneira de viver e perceber a sua realidade sociocultural até os dias de hoje.
Neste cenário, a cidade de Nazaré da Mata - PE destaca-se por ser detentora de uma gama de
recursos únicos pertencentes a esta manifestação na região. A exemplo disso, temos o maracatu
de baque solto mais antigo em atividade, o “Cambinda Brasileira", existe ainda um brinquedo
realizado apenas por mulheres: “O Coração Nazareno” e um composto por crianças, batizado de
“O Maracatu Mirim Sonho de Criança”, contrapondo a ideia, que até pouco tempo era executada,
da exclusão de mulheres e crianças no folguedo. Estas características fazem com que a presença
deste elemento rural, símbolo cultural do estado, tenha sido reconhecido pela lei n° 14.383 de 2011
que dá ao município o título de "Terra do Maracatu". Este conhecimento é utilizado em seu
contexto enquanto, segundo os dizeres de Paulo Freire, como um instrumento de letramento
cultural, introduzindo por meio de sua prática elementos didáticos-pedagógicos nas vivências
cotidianas dos brincantes, contribuindo para o reforço e valorização da identidade dos seus
praticantes.
Palavra-chave: Maracatu de Baque Solto. Patrimônio Imaterial. Letramento Cultural.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O FENÔMENO DA BELLE ÉPOQUE NA MÚSICA EM FORTALEZA COM


BASE NO PENSAMENTO PÓS-COLONIAL E NO GIRO DECOLONIAL

Ana Luiza Rios Martins (Doutora em História –


UFPE)

Esta pesquisa tem como objetivo debater o fenômeno da Belle Époque em Fortaleza na
perspectiva da música. Usamos como referências as músicas que foram registradas em partitura
e discos de 78 rpm dos acervos de Miguel Ângelo de Azevedo e da Banda de Música da Polícia
Militar do Ceará; correspondências, livros de música, coletâneas de crônicas e periódicos.
Compreendemos, antes de mais nada, a Belle Époque como um discurso que opera dentro da
lógica da colonialidade, impondo um padrão de dominação desenvolvido pela modernidade que,
por sua vez, incide na realidade dos corpos colocados em dissidência em relação às estruturas de
poder. Nesse sentido, refletimos sobre essas questões com base na leitura de autores do
pensamento Pós-Colonial e do Giro Decolonial. Acreditamos que esse tipo de análise funciona
como uma provocação que tenciona e enriquece a nossa agenda de problemas da Teoria da
História e da História da Historiografia.

Palavras-chave: Música; Belle Époque; Decolonialidade.

110
QUADRINHOS HISTÓRICOS: ELABORANDO MATERIAIS DIDÁTICOS/AFETIVOS VOLTADOS
PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA
Priscilla Damasceno Rodrigues (Doutoranda –
PPGHS/UERJ)

A lei federal 10.639, publicada no dia 09 de janeiro de 2003 completa este ano duas décadas,
momento oportuno para que sejam feitos alguns balanços acerca dos seus impactos efetivos na
promoção de uma educação antirracista. Criada para estabelecer as diretrizes e bases da
educação nacional e para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
temática "História e Cultura Afro-Brasileira", foi um marco nas propostas que visavam construir
um caminho de visibilidade e valorização cultural africana na formação daquilo que entendemos
como expressão da brasilidade. Quais políticas educacionais federais, estaduais e municipais
acompanharam a sugestão deste preceito legal? Quais materiais didáticos foram criados,
revisitados ou extintos tendo como base as demandas trazidas a partir desta lei? Qual seria a
relevância da elaboração de um material histórico/didático que incorporasse este compromisso
legal, utilizando a linguagem dos quadrinhos? Qual seria a potência da afetividade e ludicidade
neste projeto educacional? Aqui refletimos brevemente sobre estes questionamentos e seus
desdobramentos no cotidiano escolar.
Palavras-chave: Lei 10.639; Educação Antirracista; Quadrinhos Históricos

ESCOLAS DE SAMBA COMO FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA


Aline Silva Ramos (mestranda - Profhistória/UFRJ)

O objeto desta pesquisa são os enredos das Escolas de Samba do Rio de Janeiro do grupo
Especial para o ensino de História e cultura afro-brasileira nas escolas de educação básica,
partindo do seguinte questionamento: Em que medida os enredos das escolas de samba podem
contribuir para ampliar os processos de identificação e subjjetificação dos estudantes brasileiros
nas aulas de História. Esta pesquisa está ancorada na lei 10.639/ 2003 que obriga o ensino de
História da África e cultura afro-brasileiras. A promulgação desta lei respondeu a demandas dos
movimentos sociais negros no Brasil. O professor Amílcar Pereira no artigo “Narrativas de
(re)existência e educação antirracista” (PEREIRA, 2021) argumenta que a ideia de democracia nas
escolas deve ter como premissa a participação e a representação de todas as pessoas que
compõem o universo escolar, entendendo que é preciso combater o eurocentrismo e como ele
alimenta o racismo vigente no nosso país, impossibilitando que as histórias dos povos negros e
originários sejam apresentadas de uma forma q eles não estejam em condição de inferioridade.
Considerando o histórico de lutas de movimentos sociais ligados a causas associadas ao povo
negro no Brasil apostamos como o samba e em seus enredos como instrumentos potentes para
um ensino de História antirracista, de forma particular, e uma educação antirracista, de forma
mais geral. Destacarei os enredos e sambas de 2022 das seguintes escolas: Portela, Salgueiro e
Beija-Flor. Essas escolas foram escolhidas pois os temas abordam a História afro-brasileira e
podem ser trabalhados em sala de aula.
Palavras-chave: Educação, Antirracismo, Samba.

111
PARA UMA AÇÃO DO PRESENTE E UM FUTURO ANTIRRACISTA: LEI 10.639 COMO
INSTRUMENTO DE DEBATE
Vitória da Silva Santiago Lima (UVA)

O trabalho em questão tem como objetivo fomentar o debate sobre as relações étnicas para
construir uma sociedade antirracista. Sendo a pedagogia antirracista uma “educação que entende
que nosso país adotou sistematicamente o projeto de calar e omitir do grande público as
discussões sobre relações raciais [...]” (JARDIM, 2020). O que movimenta o constante debate
sobre a efetividade ou não da Lei 10.639/03, que institui a obrigatoriedade do ensino de história e
cultura afro-brasileira nas escolas, é talvez uma pergunta centralizadora: como podemos debater
o tema em sala de aula com uma sociedade que não assume seus preconceitos? Penso em criar
um espaço de diálogo, reconhecimento do outro e desenvolvimento crítico dos alunos, utilizando
como parâmetro, “círculos de diálogos” inspirado em Paulo Freire, que compreende que “ensinar
não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua
construção” (FREIRE, 2021). É a partir dessa visão de ambiente escolar, que entendo a Lei
10.639/03 como fundamental para o pleno desenvolvimento do aluno, pois acredito que esse
conhecimento das culturas africanas tradicionais, os conflitos e tensões e as demandas
possibilitará re-significar a visão desses jovens que compõem a sociedade. É também por essa Lei
que permite que seja debatido a questão da desigualdade e possa se desfazer a falácia de
“democracia racial” disseminada no país. Mas para isso ocorrer é preciso repensar a prática de
ensino e formação dos professores, pois é necessário a compreensão das deformações que
limitam esse horizonte histórico e sociocultural brasileiro. Para tal fim, temos que compreender e
reestruturar o que limita o horizonte histórico, assim como repensar a prática e formação dos
professores. Percebo ainda que a ludicidade mostra-se ferramenta de extrema importância para o
trabalho que a Lei 10.639 nos propõe, para que possamos tratar tais questões e por dar voz aos
verdadeiros protagonistas de suas próprias histórias, exaltando e respeitando as diversidades
culturas e também trazendo entre os alunos o sentimento de pertencimento a nação que vivem,
tornando-os protagonistas na História e que se mostra extremamente eficaz. Sendo assim, como
metodologia tanto de pesquisa, quanto de ensino, o trabalho é pautado na pesquisa-ação, no
qual se configura como forma de identificação de problemas e busca de soluções (KRAFTA, 2007),
mas também pode ser entendido como uma ação cooperativa e aqui visando docentes, sociedade
e alunos.
Palavras-chave: Antirracista. História. Lei 10.639.

O CABEÇA DE NEGRO: UMA INTERVENÇÃO DECOLONIAL NO ENSINO DE HISTÓRIA


Felipe Cromack de Barros Correia (Mestrando-
PUC-RIO)

No ano em que este livro é publicado, completam-se 20 anos da lei 10.639/03 que instituiu, no
currículo oficial da Rede de Ensino, a obrigatoriedade da temática "História e Cultura
Afro-Brasileira", e 15 anos da determinação que inclui a temática indígena no ensino no Brasil.
Todavia, as transformações enfrentadas no ensino nestas últimas décadas ainda estão distantes
de um tratamento epistemológico, cultural e subjetivo racialmente igualitário. O enraizamento
desta problemática também é perceptível nos leituras teóricas acadêmicas, as quais mesmo com
ideias antirracistas, por vezes ainda estão desprovidas de práticas libertadoras(CARVALHO,
2020). Deste modo, faz-se fundamental identificar projetos e escolas que não só acreditam na

112
mudança, mas também estão empenhadas na criação de um currículo antirracista, no qual as
culturas afro-brasileiras, africanas, quilombolas e de povos originários tenham espaço.
Palavras-chave: Decolonialidade; Quilombo; Ensino de História

QUEM MANDOU CENSURAR MARIELLE? CERCEAMENTOS NO ENSINO DE HISTÓRIA


Thaisa Graciele Rodrigues (Mestranda ProfHistória
UFG)

Desde a implementação da BNCC e a invenção do protagonismo juvenil, ouvimos discursos sobre


a centralidade da educação nos/nas estudantes da educação básica, principalmente na
construção da sua jornada estudantil. Alinhadas a isso, podemos somar a defesa de uma
educação democrática que visa o/a estudante ter uma linguagem e reflexão crítica, mas na prática
será que isso acontece? A escola deveria ser o local mais democrático de nossa sociedade,
abrigando estudantes de várias classes sociais, idades, etnias, orientações sexuais e ideologias
que convivem em um mesmo espaço para aprenderem juntos/juntas. O que vemos atualmente, é
o contrário. O que percebemos nos últimos anos é um ataque a esse protagonismo que está nas
mãos desses/dessas estudantes, pois não exercem esse direito em sua plenitude. Os/as
professores de Humanas estão cerceados em sua liberdade de cátedra, sendo vigiados pelo
Estado, pela sociedade e até mesmo por seus pares. Todo esse cenário leva os/as docentes a
serem censurados em seus conteúdos em sala de aula e até mesmo leva a uma autocensura. Por
exemplo, por quais motivos um trabalho de ensino médio que mencionaria Marielle Franco é
censurado? Para De Baets (2013), a História tem que ser responsável e autônoma, porém o que
vemos atualmente é uma crise da educação alinhada a negacionismos e revisionismos, somados
a isso, o mesmo autor defende o direito do ensino de história como acesso ao conhecimento sem
censura. Este artigo é um relato de estudantes do ensino médio e de sua respectiva professora
dentro de um colégio militar do estado de Goiás onde foram censurados na escrita de um
trabalho sobre mulheres na política e mais especificamente sobre Marielle Franco.
Palavras-chave: Marielle Franco, Censura, Ensino De História.

113
SIMPÓSIO TEMÁTICO - HISTÓRIA (IN)DISCIPLINADA: INTELECTUAIS E
PRODUÇÕES DISSIDENTES

CIDADES E IDEIAS PLURAIS: CIRCULAÇÃO, DEBATE E IMPLEMENTAÇÃO DE PROPOSTAS


HABITACIONAIS EM UMA ZONA DE CONTATO (SÃO PAULO, 1893-1922)
Philippe Arthur dos Reis (Doutorando em História /
IFCH-UNICAMP)

O uso de expressões que denotam um sentido de vínculo da história do Urbanismo das cidades
latino-americanas com as cidades europeias e estadunidenses é amplo, variado e persistente.
Palavras como “inspiração”, “influência”, “cópia”, “modelo” e “importação” são reiteradamente
utilizadas para denotar alguma aproximação estilística, metodológica ou mesmo como tentativa
de enobrecimento das experiências urbanas de diferentes cidades. No caso brasileiro, se percebe
a partir da leitura de muitos trabalhos que tratam da história das cidades um apego à tais
palavras (ANGOTTI-SALGUEIRO, 2020; MARINS, 1998; ROLNIK, 1997, 2022; SILVA, 1995),
constituindo na maioria das vezes um lugar comum (REVAULT D’ALLONNES, 1999; BRESCIANI,
2014) que não tensiona tal narrativa. Da mesma forma, é comum a menção ao papel das elites
econômicas e dos saberes eruditos (BRESCIANI, 2018) como produtores exclusivos das cidades, em
detrimento dos setores populares e médios e de outros saberes e profissionais envolvidos, como
os construtores não diplomados. A dualidade, tão presente no campo da história urbana, parece
reafirmar a ideia de “dependência” brasileira no que tange às técnicas e ao planejamento urbano,
que, de acordo com essa tese, foi elaborada sobretudo para o afastamento das classes sociais, as
quais assistiram esse fenômeno passivamente e “bestializadas”, como colocado por Murilo de
Carvalho (1987). Como uma tentativa de problematizar tais explicações simplistas no campo da
história do Urbanismo, buscamos entender a partir do conceito de “circulação” (BRESCIANI,
2015; BOURDIEU, 2002; NOVICK, 2009) como operavam os processos de trânsito de ideias no
debate habitacional da cidade de São Paulo entre o final do século XIX e as primeiras décadas do
XX. Diversas leis foram debatidas pela Câmara Municipal paulistana entre os anos de 1893 e 1922,
com vistas à produção em grande escala de casas para os setores mais pobres, debates que foram
mobilizados por um conjunto plural de agentes, como pequenos proprietários, operários,
comerciantes, construtores, técnicos e políticos. Da mesma forma, a partir da proposta de “zona
de contato” (PRATT, 1999), buscamos entender como esse debate operou por meio de tensões na
capital paulista do entre séculos. Tais agentes disputavam seus posicionamentos e construíram
aquelas e outras leis a partir da referência direta de obras teóricas e práticas urbanas
internacionais, o que demonstra o Urbanismo ser uma ciência transdisciplinar (BRESCIANI, 2015),
mas também constituída por uma série de agentes políticos.

Palavras-chave: Circulação de ideias; Habitação social; Zona de contato.

114
EXERCÍCIO PRELIMINAR PARA UMA LEITURA COMPARA DE LEANDRO KONDER E MICHAEL
LÖWY SOBRE WALTER BENJAMIN
Nilton Perim Neto (Mestrando - PPGH-UFG)

A comunicação terá como objetivo apresentar um exercício inicial de análise que está sendo
desenvolvida durante o mestrado e cujo fim é integrar o corpo maior de minha pesquisa na
dissertação. Minha pesquisa centra-se em uma história comparada entre dois intelectuais
comunistas brasileiros, Leandro Konder e Michael Löwy, sendo estes importantes personagens
para a divulgação e contribuição para as discussões da esquerda brasileira de cunho marxista.
Estes intelectuais trazem contribuições profundamente heterodoxas que rompiam com a
ortodoxia engendrada no pensamento marxista do século XX no Brasil e ambos são notórios
divulgadores de Walter Benjamin, um dos mais originais autores do marxismo da primeira
metade do século XX. De tal modo, me atendo mais especificamente ao conteúdo da
comunicação, minha proposta é apresentar uma pesquisa preliminar da leitura comparada de
Konder e Löwy acerca de Walter Benjamin e explorar como ambos o apropriam. Este é um autor
muito caro para ambos e que os forçam a romper com os cânones dogmáticos que até então
imobilizavam o pensamento marxista, permitindo assim um pensamento que colocava o
marxismo em outro patamar que permitia um movimento de dissidência marxista de cunho
quase libertário.
Palavras-chave: Marxismo; Leitura Comparada; Walter Benjamin.

FANON LEITOR DE MARX: A APROPRIAÇÃO DO MARXISMO NA LUTA ANTICOLONIAL

Ericlys Henrique de Sousa Pantaleão (Mestrando -


PPGH-UFG)

Na presente comunicação temos por objetivo discutir a leitura do marxismo produzida por Frantz
Fanon (1925-1961) no contexto da luta contra o colonialismo e, especialmente, na sua militância na
Frente de Libertação Nacional (FLN) durante a Revolução Argelina (1954-1962). Não se trata, aqui,
de defendermos a vinculação de Fanon à tradição marxista, mas de entendermos como o
intelectual martinicano articula as contribuições marxianas e marxistas, em suas diversas
correntes, na construção de um pensamento revolucionário suis generis. Para tanto,
investigaremos no conjunto de suas principais obras – entre as quais Peau noire, masques blancs
(1952), L'An V de la Révolution Algérienne (1959), Les Damnés de la Terre (1961), além de seus artigos
para o jornal El Moudjahid –, referências a autores e ideias marxistas, analisando os usos destes
pelo autor.

Palavras-chave: Marxismo; anticolonialismo; Revolução Argelina.

115
PROTAGONISMO INDÍGENA E ENSINO DE HISTÓRIA: ESCOLA COMO ESPAÇO
PLURIEPISTÊMICO E DE RESISTÊNCIA

Tâmara Neiva Costa Manrique (Mestranda -


ProfHistória)

O presente trabalho tem como objetivo analisar o protagonismo indígena e o ensino de história,
destacando a necessidade de remodelar o papel da escola como um espaço pluriepistêmico e de
resistência. O protagonismo indígena engloba desde os anciãos e anciãs, que são os detentores
de conhecimento, verdadeiros intelectuais e bibliotecas vivas desses povos, até lideranças,
pesquisadores e professores. Ao integrar o protagonismo indígena no ensino de história na
educação básica, temos um recurso significativo para subverter a visão monotópica da história
imposta pelos colonizadores. Ao retomar as narrativas a partir da perspectiva dos próprios
indígenas, abarcando não apenas os eventos históricos, mas também suas cosmogonias e direito
à autodeterminação, somos levados a compreender que o Brasil é um território de
pluriepistemologias, indo além da visão imposta pela lógica ocidental que erroneamente se
autodeclara universal e legítima para justificar a exploração e dominação desse território e de
seus habitantes. Reconhecendo a escola como um espaço privilegiado na formação da sociedade,
é fundamental redimensionar seu papel crítico, promovendo a articulação e o confronto entre as
diversas narrativas e epistemologias dos povos originários e aquelas apresentadas pela chamada
"história oficial", que se baseia apenas na perspectiva dos que detêm ou detiveram o poder, em
sua maioria brancos. Para embasar essa discussão, utilizaremos como base teórica e
metodológica os princípios da interculturalidade crítica, que enfatiza a importância das relações
horizontais entre diferentes origens e produções de saberes, bem como os princípios da
decolonialidade, que reconhecem que as sociedades colonizadas possuem suas próprias formas
de conhecimento, cultura e organização social, subjugadas e subordinadas pelo colonialismo.
Nesse sentido, buscamos promover uma abordagem epistemológica e metodológica não
hegemônica na educação básica, valorizando os saberes, experiências e resistências dos povos
originários como elementos fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e
democrática.
Palavras-chave: Protagonismo indígena; Ensino de História; Resistência epistêmica.

UMA ANÁLISE DECOLONIAL SOBRE “NUEVA CORÓNICA Y BUEN GOBIERNO” (1615) DE


FELIPE GUAMAN POMA DE AYALA
Thaynara Mariana do Nascimento (Mestranda –
PPGH – UFG)

Esta pesquisa consiste em uma análise que parte de uma perspectiva decolonial da obra “Nueva
corónica y buen gobierno” (1615) escrita pelo indígena andino Felipe Guaman Poma de Ayala,
contemporâneo ao processo de colonização espanhola no território que hoje corresponde ao
Peru. Sua obra intencionada a ser enviada ao Rei da Espanha, Felipe III, fora desviada de seu
destino original, sendo transportada para Copenhague, Dinamarca, e silenciada até o ano de
1908, quando reencontrada pelo pesquisador alemão Richard Pietschmann. Walter Mignolo
(2007) e Enrique Dussel (2008) apresentam Guamán Poma como um dos primeiros impulsos de
expressão do pensamento decolonial na América Latina, uma vez que sua obra pode ser
entendida como um tratado politico em defesa das causas indígenas que visa uma
(re)organização política e social a fim de um melhoramento da estruturação da sociedade vigente,
com a agenda de promover um melhor “conviver” entre indígenas e espanhóis. O indígena
denuncia as práticas violentas exercidas pelos espanhóis, que em nome da evangelização

116
expansão do cristianismo e dos domínios imperiais hispânicos praticam inúmeras atrocidades
para com os povos nativos, utilizando como sustentação argumentativa, argumentos cristão de
como exercer uma boa moral e ética em sociedade. Sendo assim, entendemos que a partir de
Guamán é possível perceber uma perspectiva alternativa em detrimento à historiografia
tradicional: que parte da ótica e do espaço de experiência de um sujeito que sofrera diretamente
com o colonialismo e a colonialidade.

117

Você também pode gostar