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Trans/Forml Ação, São P a u l o
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As duas obras aqui comentadas per deste no real que é o grande desafio da
tencem a extensa coleção recentemente modernidade e d a própria Filoso fia . Face
lançada pela Editora Brasiliense . Em ao idealismo de H egel e em meio às rea
princípio, devem elas e fetivar o que indica ções por este produzidas, mais d o que
o título da coleção a que pertencem : " P ri simplesmente provocadas o c onceito de
meiros Passos " . E, sem descer a banalida ideologia demanda e conquista o seu sig
des, certamente o fariam , engaj ando no nificad o . Mas ele não o faz n o seio de
projeto a indiscutível com petência de seus uma abordagem que o recorte o u desarti
autores . As razões d o condicional serão cula ; ao contrário, é no todo d o Pensa
indicaaas ao final da presente resen h a . mento Marxista que toma forma e per faz
Antes disso, importa acenar p a r a o q u e , suas determ inaçõe s : o livro d e M arilena
em cada u m a delas, constitui o s p a s s o s a Chaui é uma Introdução ao que há de
serem dados na impostação e encaminha fundamental neste Pensamento .
mento das questões p ostas e d a questão Assim , a ideologia vai se determ inan
erigida em tema . do sem se sobrepor ao real (ou a este e
O livro de M arilena Chaui, " O que é aquele de seus aspecto s), com o que se
Ideologia " , cumpre sem artifícios o mis reage contra o seu uso corrente n o j argão
ter de constituir uma Introdução a o tema acadêmico . Reduzida à sua estrita accep
e ao problema . A simplicidade d e sua es ção , ela aparece na exata contradição que
trutura favorece a realização deste esco trava com a relação de domínio que mas
po: após um breve histórico d o term o , cara . Determ inado com precisão , o con
parte-se para a abordagem d o q u e e fetiva ceito pode manifestar-se na inerência d o s
mente importa : o estudo d a concepção dicursos os m a i s variados, das mais diver
marxista de Ideologia . É quando o leitor sas formações simbólicas, desde este re
depara com uma o portunidade relativa moto fenômeno que M arx denominou
mente rara em abordagens d o tema em "religião natural " , até a p olítica, sem se
pauta: o conceito advém devidamente ar olvidar (e o s exemplos d o início d o livro o
ticulado e visado desde o momento histó atestam), o quanto pode ele tomar forma
rico de sua emergência . Uma referência, na própria Filosofia . Responde-se à ques
forçosamente sumária mas su ficiente, -à tão posta, sem se fazer eco ressonância
Filosofia de Hegel e à com plexa descen que a palavra adotara em seu u s o cotidia
dência deste grande filósofo estabelece a no . O que se expõe merece atenção e de
devida relação entre o devir do conceito e bate e não comp orta a ilusão d o acordo
a grande procura do real no racional e fácil . Lido com aplicação, o discurso em
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que se articula vai exigir d o leitor médio, e o s gregos chamavam d e " arché politi k é "
não só do principiante, u m a revisão d e não é o nosso conceito de p o d e r polític o .
s u a concepção de ideologia e propor-lhe o
desafio de uma Teoria efetivamente Críti O marco inicial de s u a s considerações
ca . Em outros term o s , se ele representa os situa-se na modernidade: nesta, mais pre
primeiros passos de u m itinerário, propõe cisamente em Bodin e H obbes, mostra-se
também a continuidade deste . como a teoria da Soberania libera o poder
do príncipe das lim itações que, por exem
Se o conceito de ideologia circula plo, lhe impuseram o s doutrinários da
descaracterizado no discurso acadêmico Idade Média . E não se trata apenas de um
corrente , o conceito de P oder, ainda que exemplo, mas de u m a decisiva passagem .
bene ficiado por u m a representação mais O Poder se concentra, por oposição ao
accessível, é com freqüência obj eto de fracionamento medieval ; ele se torna tam
equívoco s . Corresp ondendo a u m a expe bém eficaz no que concerne ao direito e à
riência mais ampla d o que a estrita e s fera ordem . O leitor tende a precisões, é tenta
do político, é nesta que a sua determina do a pensar que a I nstituição torna-se ins
ção se torna decisiva: em verdade, a ques tituinte e não apenas institu í d a . Mas a se
tão política é a própria questão sobre o qüência do discurso deixa clara a comple
Poder, sobre o seu sujeito, sobre o seu al xidade do P oder, exercício e forma . Nas
cance e limites . E é esta a q uestão que Gé origens , a anarquia i mediatamente decor
rard Lebrun se propõe, acrescentando rente do estado de natureza ; em seguida, a
mais esta contribuição à s muitas presta mediação do contratualismo . M a s depois,
das ao Pensamento no Brasil . desfilam as doutrinas, todas a responder
aos desafios da modernidade, para a qual
O autor principia p o r insistir, e m uito a comunidade não é mais entendida como
a propósito, que o conceito d e poder não a congregação de homens zelosos pelo in
pode determ inar-se, devidamente sem um teresse do todo, mas de homens de tal mo
recurso ao conceito de força, associado ao do absortos em seus próprios interesses
de potência : " Existe P o der quando a po que não lhes resta como dedicar-se ao to
tência, determ inada p o r u m a certa força, do, carecendo, ao contrário, de uma pro
se explicita . . . sob o m o d o da ordem dirigi teção que lhes advenha da instância políti
da a alguém que, presume-se, deve ca, à qual não lhes cabe participar .
cumpri-Ia" (p . 1 2) . Isto é , trata-se de d o
minação , de senhori o , d o efetivo exercício Seria inútil tentar seguir, em resenha,
da condição de senh or . P osta nestes ter o itinerário de Lebrun, mesmo porque o
mos, a idéia envolve c oerção e desde o propósito do livro é levar o leitor a ulte
início, observa-se a tendência a se m inimi riores desdobramentos . I m p orta, porém ,
zar a importância de um tal c o m p onente . assinalar o realismo com o qual o autor
Lebrun aponta para esta tendência e não a encara a atualidade do problema, quan
perde de vista . No seu term o , o poder se do, por exemplo, critica a tendência d o
dissolveria na autoridade . Ora, é fato per marxismo a minimizar o p olítico em n o m e
manecer ele sempre poder . Isto não quer do econômico ou quando a f i r m a a auto
dizer que não tenha evoluíd o ; ao contrá nomia do socialismo como resolução da
rio, desde Engels se nota que houve socie questão econômica e da dem ocracia como
dades que se arranjaram sem o E stado e resolução da questão política: trata-se de
desde Hume que os homens, podem , por dois conceitos que nem se excluem reci
algum tempo, manter a sociedade sem in procamente, nem se implicam . Para Le
tervenção do govern o . Desta evolução , brun, o Poder permanece questão , perma
Lebrun estuda os momentos teóricos capi nece desafio, porque permanece inelutá
tais, principiando por assinalar que o que vel . Trata-se, não de o suprim ir, mas de se
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.saber " quem é capaz, num dado momen derrota , particularm ente quando acumu
to, de exercê-lo com menor detrimento d e lada. A reflexão sobre tudo o q u e consti
todos aqueles que, por princípio, são e x tui o tecido dos livros aqui exam i nados s ó
cluídos dele " (p _ 1 1 8) . O que se p r o p õ e é pode auxiliar a formação d e um Pensa
que o dominador sej a mais o soberano mento Crítico no que concerne à experiên
hobbesiano do que o tiran o . " M a s , como cia brasileira , auxiliando-o a descobrir a
esta rude franqueza poderá ser possível ideologia onde se pretende encontrar-se a
num mundo que foi, e continua a ser, teoria e os ardis do poder o n d e se procla
educado pelo racionalismo grego e pelo ma o seu óbito .
cristianismo? " (p . 1 1 9) .
Mas é antes de tudo a Filoso fia quem
Esta pergunta, o próprio epílogo d o ganha com o nível atingido p o r estes d o i s
livro, é, e m verdade, o prólogo a todos o s escritos . E m b o r a o e s p a ç o gráfico s ó lhe
leitores possíveis, mas, especialmente, ela tenha sido aberto graças aos propósitos
é prólogo para quem hoj e , no Brasil, me pedagógicos da coleção, o que realmente
dita o polític o . Ela sugere, por isso, a re conta é o nível alcança d o : mesmo sem po
flexão final com que, aqui, se visualizam der explorar em toda a p r o fundidade o s
como um todo o s dois livros examinad o s . temas q u e se propuseram , M arilena C h a u i
S e a racionalidade grega é o remate d e e Gérard Lebrun não permitiram que s e u s
uma elite acadêmica q u e , a s e u m o d o , for escritos se extraviassem p e l o s c a m i n h o s d e
nece ao Brasil o s seus ideólogos, o Cristia u m didaticismo meramente oportunista .
nismo foi decisivo na formação da práti Sem deixar de ser didátic o s , não recuaram
ca, da consciência e d o discurso d o brasi jamais ante as exigências de um discurso
leiro . Mais ainda: ele continua a ter u m a propriamente filo sófic o . Isto, talvez , tor
proposta q u e se pretende nova e f a l a m e s ne a leitura de seus ensaios árdua para
mo a linguagem dos revolucionários e dos grande parte da clientela brasileira, cuj o s
libertários, a linguagem d o antipoder . E, hábitos de leitura se s i t u a m em n í v e i s ain
porque não o dizer, fala em nome de uma da muito baixos e , se se tomar por base a
antiga tradição e de sua contradição mais experiência das U n iversidades, em nível
profunda: a que se trava entre um discur inferior ao de anos passad o s . Todavia, es
so que, em sua expressão superior, dissol te fato apenas situa d i ferentemente o s
ve o poder na liberdade absoluta do ser dois escritos, incluindo-os e n t r e o s que,
em Deus, e uma prática que é u m a diutur por sua exigência, deverão abrir novos
na e competente experiência d o j ogo d o horizo ntes, permitindo que não se fale
Poder, um j ogo no q u a l o s á b i o eclesiásti mais no condicional da realização dos
co é capaz de tirar vantagem da própria propósitos da coleção a que pertencem .
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