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NTRODUÇÃO
O BÁSICO DA FILOSOFIA
tionar suas crenças fundamentais, como a de que matar é terárias segundo qualquer padrão. Embora exista um
errado. Mas por que é errado? Que justificativa existe para grande valor no estudo da história da filosofia, meu obje-
se dizer que matar é errado? É errado em qualquer circuns- tivo aqui é proporcionar ao leitor ferramentas apropria-
td: cia? E o que quero dizer com “errado”, afinal? Estas são das à reflexão filosófica, mais que simplesmente expor o
são de
questões filosóficas, Quando examinamos nossas convicções, pensamento de grandes autores. Tais questões não
acabamos descobrindo que algumas delas possuem funda- interesse apenas para filósofos, mas são inerentes à condi-
mentos firmes, enquanto outras não. O estudo da filosofia ção humana, e muitas pessoas que nunca abriram um livro
nos ajuda não só a pensar claramente sobre nossos precon- «de filosofia pensam espontaneamente sobre clas.
ceitos, mas também a
esclarecer precisamente aquilo em que de
fato acreditamos. No processo, desenvolvemos capacidade
Um estudo filosófico sério envolverá um misto das duas
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INTRODUÇÃO
OO BÁSICO DA FILOSOFIA
vída examinada
a
A
08 mesmos enganos, sem consciência de estarem repetin-
do-os. Além disso, muitos filósofos desenvolveram suas pró- Um bom motivo para estudar filosofia é que cla lida com
havia de errado na obra de
prias teorias com base no que questões fundamentais sobre o sentido
de nossa existência.
filósofos mais antigos. No entanto, emum livro curto como À maioria de nós em algum momento da vida se faz per-
este, é impossível fazer justiça à complexidade da obra de guntas filosóficas básicas. Por estamos aqui? Há alguma
que
fi-
pensadores isolados. As leituras adicionais sugeridas ao Nossa vida tem algum propósi
prova de que Deus existe?
nal de cada seção podem ajudar a situar as questões discu- to? O que faz com que algo seja certo ou errado? Podería-
tidas aqui em um contexto histórico mais amplo. a lei? Nossa
mos algum dia ter uma justificativa para
violar
losófico podem ser úteis em grande número de situações, prestígio que acompanham a promoção. Felizmente, boa
ima vez que, ao analisar os argumentos a favor e contra parte da filosofia situa-se acima deste nível.
qualquer posição, aprendemos técnicas que podem ser
transferidas para outras áreas da vida, Quem estuda filoso- Filosofia é difícil?
fia passa à aplicar suas hab lidades filosóficas em trabalhos
tão diversos quanto advocacia, programação de Costuma-se afirmar que é difícil estudar filosofia. Há vários
computa-
dores, e ulta empresatial, serviço público e jornalismo. tipos de dificuldade associados a esse estudo, alguns evitáveis.
Em lugar, é verdade que boa parte dos pro-
— áreas em que a clareza de pensamento é um grande trun- primeiro
fo. Os filósofos também
usam aspercepções que adquirem
blemas de que tratam os
filósofos profissionais de fato exi-
sobre a natureza da existência humana quando se voltam gem um nível bastante elevado de pensamento abstrato, No
para as artes: muitos filósofos também tiveram sucesso como nto, o mesmo vale para quase todo interesse intelectual:
romancistas, críticos, poetas, cineastas a
esse respeito, filosofia não é diferente da física, da críti-
a
e dramaturgos.
ca literária, dos programas de computador, da geologia, da
Prazer matemática ou da história. Como em toda área de estudo,
a dificuldade em dar contribuições originais substanciais à
Uma justificativa adicional para o estudo da filosofia é que, natéria não deveria ser usada
como desculpa para negar às
para muita gente, trata-se de uma atividade bastante pra-
zerosa. Mas há algo a ser dito sobre esta defesa da filosofia.
pessoas comuns o
conhecimento de seus avanços nem pata
impedi-las de aprender seus métodos básicos.
Seu perigo é que a atividade filosófica pode ser reduzida a
Entretanto, existe um segundo tipo de dificuldade
algo como a solução de palavras cruzadas. Determinadas associado à filosofia que pode ser evitado. Os filósofos nem
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INTRODUÇÃO
sempre são bons escritores. Muitos deles são extremamente embora estudo filosófico possa esclarecer questões funda-
o
fracos como divulgadores de
suas ideias. Às vezes, isso ocor- mentais sobre nossa vida, não proporciona algo semelhante
re porque se dirigem apenas a um público muito
pequeno um quadro completo, se é que tal quadro existe, Estudar
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de leitores especializados, ou
porque usam um jargão desne- filosofia não é uma alternativa a estudar arte, literatura, his-
cessariamente complicado que confunde quem não é familia-
tória, psicologia, antropologia, sociologia, política e ciência,
rizado com
para evitar à
o tema. Termos especializados podem
ser úteis
explicação de conceitos particulares a cada vez
Essas variadas disciplinas concentram-se em diferentes aspec-
tos da vida humana e proporcionam outras perspectivas. Há
que são usados. No entanto, entre filósofos profissionais
existe uma infeliz tendência a aspectos da vida que desafiam qualquer análise filosófica, ou
usar termos especializados de qualquer tipo. É importante, portanto, não esperar de-
pelos termos em simesmos; muitos deles usam frases e ex-
mais da filosofia.
pressões latinas, embora haja perfeitamente bons
equiva-
lentes na sua própria língua, Um
parágrafo salpicado de Como usar este livro
palavras pouco familiares e de palavras familiares usadas
de modo pouco familiares pode
ser intimidante, Alguns
filósofos parecem falar e escrever em Já enfatizei que a filosofia é uma atividade, Então, este livro
uma linguagem que
eles próprios inventaram. Isso não deve ser lido passivamente. Mesmo que se memorizem
pode fazer a filosofia parecer
os argumentos usados aq. i, somente isso não seria aprender
uma disciplina muito mais difícil do que na realidade é,
Neste livro, tentei evitar o uso do à filosofar, embora nos forneça um sólido conhecimento de
jargão desnecessário,
explicando todos os termos pouco fa iliares à mex ritos argumentos básicos urilizados por filósofos. O leitor
a que
ideal deste o lerá criticamente, questionando constan-
avanço. Essa abordagem proporcionará ao leitor o vocabu-
livro
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Por outro lado, poucos não filósofos terão refletido em Cottingham (org.) (Oxford: Blackwell, 1996), é uma sele-
detalhes sobre alguns tópicos abordados no capítulo sobre
o ção de leituras de orientação mais histórica.
mundo externo e sobre a mente, bem como sobre as discus-
sões mais abstratas do capítulo sobre certo e errado, Esses ca- Was Does ft All Mean?, de Thomas Nagel (Oxford: Oxford.
Pítulos, em particular aquele sobre a mente, podem University Press, 1987), é uma breve e animada introdução
requerer
uma leitura mais arenta. Recomendo que, no início, o leitor aos estudos filosóficos. The Great Philosaphers, de Bryan
não se detenha sobre eles, mas volte depois às seções especifi- Magee (Oxford: Oxford University Press, 1987), é uma boa
as que tiver achado interessantes em vez de avançar lentamente introdução à história da filosofia. Consiste em conversações
seção por seção, atriscando-se a ficar atolado nos detalhes sem com vários filósofos atuais sobre os grandes filósofos do passa-
obter um senso de como os diferentes argumentos do e é baseado na série de televisão do mesmo nome, da BBC.
se relacio-
nam uns com os outros, The British Empiricísts, de Stephen Priest (Londres: Penguin
Há um tópico fundamental que este livro deixa de in- 1990), resume de modo didático os pontos de vista dos mais
cu lógica. feri fazê-lo
porque é uma área técnica de- importantes filósofos britânicos, do século XVII a meados do
m: 's para ser tratada sati oriamente em um livro com século XX. Uma breve história da filosofia moderna, de Roger
este escopo e estilo Seruton (Rio de Janeiro: José Olympio, 2008), é um breve
Os estudantes acharão a obra útil
para consolidar o que levantamento de Descartes a Wittgenstein. Meu livro
aprenderam em palestras e conferências, bem como uma Philosophy: The Classics (Londres: Routledge, 1998) con-
ajuda para escreve ensaios ou dissertações:
para cada tópi centra-se em vinte obras de referência, desde a República,
co, é oferecido um sumário das principais abordagens de Platão, às Investigações filosóficas, de Wittgenst
filosóficas juntamente com suas críticas, o
que pode ser fa-
rente aproveitado como ideias para ensaios. A Dictionary of Philosophy, de Antony Flew (org.) (Londres
Pan, 1979), é útil para referência, tal como A Dicrionary of
Leituras adicionais
Philosophy, de A. R. Lacey (Londres: Routledge, 1976).
Compêndio de filosofia, de Nicholas Bunnin e P. Tsui-
Escolhi ser breve em minhas sugestões de leituras adicio-
James (orgs.) (São Paulo: Loyola, 2002), oferece úteis in-
nais, recomendando obras apenas para o iniciante no estu-
troduções a temas fundamentais da filosofia e uma seleção
do da filosofia.
de pensadores de grande importância. Se você tiver acesso
Eu mesmo editei uma coletânea de à uma boa biblioteca, por certo vale a pena consultar The
artigos e extratos,
Philosophy: Basic Readings (Londres: Routlege, 1999), proje- Routledge Encyclopedia of Philosophy (Londres: Routledge,
tada para complementar este | ro, cuja estrutura é a mes- 1998), que traz verbetes detalhados e atualizados sobre to-
ma deste estudo. Western Philosophy: An Anthology, de dos os temas filosóficos centrais.
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