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CURITIBA
2022
1
ARNO HENRIQUE MACEDO LINDEMANN
CURITIBA
2022
2
RESUMO
Diante dos múltiplos ambientes e tudo que os possa compor, com os quais um
indivíduo estabelece contato no decorrer de sua vida, é notável como, caso não
ocorra instrução referente à análise e investigação estética durante o ensino de arte,
esse percurso existencial pode se converter em algo pouco intrigante, tornando
assim a apreensão das experiências uma questão pouco relevante. Não que a
realidade e o que se pode dela experienciar sejam elementos monótonos, não é por
um motivo banal que a experiência e apreensão da realidade diante de cada
ambiente é um objeto de estudo extremamente relevante dentro de vertentes
artísticas como a Land Art, contudo, um sujeito que, por falta do fomento da
investigação visual, se torna apenas um residente no mundo, com pouca
sensibilidade crítica ativa diante dos fenômenos existentes, é diretamente afetado
pela falta de educação estética. Afinal, a educação justamente serve como base
para o desenvolvimento do que se define como ser-humano, ou seja, é justamente
através da educação, principalmente dentro do ensino das linguagens e história das
artes que se desenvolve no indivíduo sua capacidade perceptiva, sendo essa uma
das ferramentas mais relevantes para que se o sujeito assuma o protagonismo da
própria vida, deixando de ser entidade passiva, se transformando em uma potência
criadora.
Palavras-chave:
Ensino de arte; Educação; Land Art; Ambiente.
ABSTRACT:
Facing the multiple environments and everything that may compose them, with which
an individual establishes contact throughout his life, it is remarkable how, in case
there is no instruction regarding analysis and aesthetic investigation during art
teaching, this existential path may become something not very intriguing, thus
making the apprehension of experiences a not very relevant issue. Not that reality
and what can be experienced from it are dull elements, it's not for a trivial reason that
the experience and apprehension of reality in front of each environment is an
extremely relevant object of study within artistic strands such as Land Art, however, a
subject that, for lack of the promotion of visual investigation, becomes just a resident
in the world, with little active critical sensitivity towards existing phenomena, is
directly affected by the lack of aesthetic education. After all, education serves as the
basis for the development of what is defined as human-being, that is, it is precisely
through education, especially in the teaching of languages and history of arts that the
individual's perceptive capacity is developed, and this is one of the most relevant
tools for the subject to take the leading role in his own life, ceasing to be a passive
entity, becoming a creative power.
Keywords:
Art teaching; Education; Land Art; Environment.
3
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 4
2 DEFINIÇÃO DE AMBIENTE 6
2.1 Diferença entre “espaço” e “paisagem” 8
3 EXPERIÊNCIA E AÇÃO DIANTE DO ESPAÇO 9
4 A RELEVÂNCIA DA EXPERIÊNCIA 17
5 PERÍODO PERCEPTIVO E ATIVO DO INDIVÍDUO 18
6 EDUCAÇÃO COMO PROCESSO FORMADOR DO INDIVÍDUO 21
7 VERTENTES PEDAGÓGICAS 25
8 ENSINO DE ARTE: Catalisador do desenvolvimento perceptivo 35
9 METODOLOGIA 38
9.1 Plano de Ensino: Oficina 41
10 CRONOGRAMA 44
11 RELATÓRIO DAS AULAS DA OFICINA 45
12 CONSIDERAÇÕES FINAIS 71
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 74
14 ANEXOS 77
14.1 ANEXO I: Registros realizados durante a aplicação da oficina. 77
14.2 ANEXO II: Material que foi impresso. 79
4
1. INTRODUÇÃO
1
PORCHER, L. Educação artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982.
p.27
2
FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. / FUSARI, Maria F. de Rezende e. Arte na Educação
Escolar. São Paulo: Cortez. 2001. p.23
6
2. DEFINIÇÃO DE AMBIENTE
3
RIBEIRO, J.A.G. Um olhar epistemológico sobre o vocábulo ambiente: algumas
contribuições para pensarmos a ecologia e a educação ambiental. Bauru: UNESP, 2012. p. 242
4
COIMBRA, J. O outro lado do meio ambiente: a incursão humanista da questão
ambiental. Campinas: Millennium. p. 25.
7
ondeante de acontecer, que se expressa na continuidade da existência espacial e
temporal.”5
5
SIMMEL, G. A filosofia da Paisagem. Covilhã: LusoSofia: press, 2009. p. 5
6
OLIVEIRA, F. M. C. A RELAÇÃO ENTRE HOMEM E NATUREZA NA PEDAGOGIA
WALDORF. 2006. Dissertação (Mestrado em Educação) - Curso de Pós-Graduação em educação,
Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná. Curitiba.p.32, apud GONÇALVES, Carlos
Walter Porto. Os (des)caminhos do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 1989.
7
SIMMEL, op.cit., p. 6.
8
intencionadas de ensinar uma ética ambiental devem ser bem pensadas e aplicadas
por indivíduos instruídos. Segundo Oliveira:
[...] podemos deduzir que em grande parte das vezes em que o Homem
se dispõe a proteger a Natureza está pensando, sobretudo, em proteger
seus filhos e netos do caos de um mundo pobre em “recursos naturais”.
Concebendo a Natureza, tão somente, como fonte de algo que se sabe
necessitar hoje ou que possivelmente se descobrirá necessitar no futuro,
sem o sentido de eqüidade no direito à vida com os organismos não
humanos.8
8
OLIVEIRA, F. M. C. A RELAÇÃO ENTRE HOMEM E NATUREZA NA PEDAGOGIA
WALDORF. 2006, p.32
9
MANO, R. A Condição do Lugar no Site. São Paulo, 2006, p. 118.
9
É possível estabelecer paralelo entre os comentários de Rubens Mano ao
mencionar que “Podemos dizer então que a atuação da sociedade 'anima' a
paisagem conferindo-lhe novas funções, dando-lhe conteúdo. Altera a organização
espacial para criar novas situações de equilíbrio e movimento.”10 e a concepção de
Georg Simmel de que mesmo a soma de muitos elementos dispostos lado a lado
(rios, árvores, montanhas) não tornam o local uma paisagem, pois, não apenas
espacialidade é o relevante, pois “A nossa consciência, para além dos elementos,
deve usufruir de uma totalidade nova, de algo uno, não ligado às suas significações
particulares nem delas mecanicamente composto - só isso é paisagem.”11
10
Ibid., 2006, p. 18
11
SIMMEL, G. A filosofia da Paisagem. Covilhã: LusoSofia: press, 2009. p. 5
12
PRANDO, F. C. M. Paisagens contemporâneas em práticas artísticas discursivas..
Salvador: ANPAP, 2009. p. 439
13
KRAUSS, R.E. A escultura no campo ampliado. Reedição. Revista Arte & Ensaios, In:
Arte & Ensaios. n.17, PPGAV-EBA-UFRJ, 2008, p. 128-137.
10
14
SAWADA, N. H. Land Art: Um estudo sobre as origens da Land art e seus
desdobramentos. 2011. p. 25.
15
op. cit.,p. 129-130.
16
Ibid., p. 130-132.
11
As obras da Land Art podem se constituir através da tensão entre o que se
assume como espaço e o que se toma como interferência, possuindo relação
estreita com o espaço para o qual são pensadas, necessitando também da
experiência direta e percepção do ambiente por parte do espectador, gerando
diálogo entre o sujeito que capta o trabalho e o espaço. Contudo:
Diante de tal crítica, que é de extrema relevância para se pensar nas obras de
Land Art, se torna nítido que é preciso conceitualizar alguns termos que servem
como pontos norteadores ao espectador que se encontra na presença de uma obra
de tal vertente. Também é relevante aqui advertir que estas expressões servem para
trabalhos de Land Art, mas não de modo restrito, podendo serem percebidas em
projetos de arte de linguagens e vertentes múltiplas, sendo elas Site-especific,
Non-site, Site-oriented.
Site-specific:
17
MANO, R. A Condição do Lugar no Site. São Paulo, 2006, p. 116
12
combinação de elementos físicos constitutivos [...]”.18 Justamente por isso não se
pode deixar de lado o caminho para a construção destes projetos, que se constituem
através do contato com a realidade física do local para o qual são desenvolvidos,
contato no qual o artista busca captar as especificidades existentes na localidade
(Site-specificity), durante o processo, apesar do local ser captado de maneira física,
fenomenológica, também são levadas em considerações questões relevantes ao
espaço, como histórias e lendas. Como é o caso do processo de construção da obra
Spiral Jetty (Cais/Quebra-mar espiral), desenvolvida por Robert Smithson e que foi
concluída em 1970.
Quebra-mar espiral:
A obra foi realizada no Grande Lago Salgado em Utah, nos Estados Unidos,
ela é constituída por uma trilha em formato espiralado que avança 45 metros para
dentro do lago, possuindo 4,5 metros de largura, ela é formada pelo amontoamento
de basalto e areia, tendo sido desenvolvida com a intenção de ser percorrida pelo
espectador. De acordo com Krauss:
Smithson relata que seu interesse por lagos de sal, pois a obra é realizada no
Grande Lago Salgado em Utah, surgiu ao ler um livro de Willian Rudolph que
comentava sobre como os lagos de sal existentes na Bolívia, em múltiplos estágios
18
Kwon, M. Um lugar após o outro: anotações sobre site-specificity. In: Arte & Ensaios.
n.17, PPGAV-EBA-UFRJ, 2008, 166-187. p.167
19
KRAUSS, R. E. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
p.336.
13
de dessecação, possuíam coloração avermelhada graças às bactérias existentes em
suas superfícies. Após o contato com a central de desenvolvimento do Parque de
Utah, ao receber a informação de que o Grande Lago de Sal possuía coloração de
sopa de tomate em sua extremidade norte, Smithson decide ir até o local, pois para
ele “Isso foi razão suficiente para ir lá e dar uma olhada.”20.
Diante do impacto estético do local, Smithson comenta que sua “[...] dialética
entre site e non-site rodopiou em um estado indeterminado, onde sólido e líquido se
perderam um no outro.”22
Ainda pensando no projeto Quebra-mar espiral, mas não sendo este o único
exemplo, existe um ponto que não pode ser ignorado, pois se a obra, nesse caso,
em grande escala, é localizada em um ambiente remoto às cidade onde vivem a
20
SMITHSON, R. Robert Smithson: The Collected Writings. Edited by Jack Flam.
University of California Press. 1996. p.145.
21
KRAUSS, R. E. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
p.336.
22
op. cit. SMITHSON. p.146.
14
maioria dos indivíduos, como estes podem acessar essa modalidade de trabalho
artístico? Dessa necessidade surge o conceito de non-site, desenvolvido por
Smithson através de sua experiência artística, na qual é preciso “[...]transpor seus
projetos de terra (Land Art) para espaços fechados (galerias).23
Non-Site:
Monumentos de Passaic:
23
PRANDO, F. C. M. Paisagens contemporâneas em práticas artísticas discursivas..
Salvador: ANPAP, 2009. p. 441
24
Ibid., p. 447
25
SMITHSON, R. Um passeio pelos monumentos de Passaic, Nova Jersey. Tradução de
Pedro Sussekind. Artfórum, p. 163.
15
Conforme Prando:
26
op. cit., PRANDO. p. 441
16
pelo autor do trabalho. Non-site surge então de uma espécie de transmutação do
entendimento de Site-specific.27
Site-Oriented:
A idealização de espaço como mera localidade palpável limita o termo em si,
uma vez que, conforme apresentado anteriormente, ao se descrever sobre o que se
concebe como “Ambiente” existe algo além da constituição física ligada à localidade,
existindo também as relações dentro dela.
27
Ibid., p. 441
28
Kwon, M. Um lugar após o outro: anotações sobre site-specificity. In: Arte & Ensaios.
n.17, PPGAV-EBA-UFRJ, 2008, 166-187. p.171.
29
op. cit., PRANDO. p. 440.
17
pensam a paisagem contemporânea ao enfatizar possibilidades
discursivas do espaço em contraposição a uma noção literal, física.30
4. A RELEVÂNCIA DA EXPERIÊNCIA
Uma linha lógica que converge nos trabalhos apresentados de modo evidente
é a da necessidade de contato com o ambiente ao qual se pretende desenvolver
uma obra, sem a experiência com o local os artistas não possuiriam embasamento
para a realização de suas proposições. Como aponta Prando:
Desse modo, mais do que conceber uma obra que surge no pós contato com
o ambiente, o próprio contato com o local e o trajeto necessário se tornam parte
constituinte da obra. Esse processo está presente na maneira com que Smithson
formulava seus trabalhos, mas também existe em outros artistas que também
produziam obras de Land Art. Como no caso de Richard Long, artista Inglês
relacionado ao contexto Europeu da Land Art. Em sua obra “Uma linha feita pelo
caminhar”, Long começa a perceber como o ato de caminhar e a experiência
resultante pode ser um trabalho artístico em si.32
Prando comenta sobre uma fala de Long, que, ao explicar que uma de suas
esculturas em uma exposição na verdade se tratava de metade da obra, sendo a
segunda parte impossível de ser deslocada ao ambiente no qual se encontrava, pois
30
Ibid., p. 440.
31
Ibid., p. 442.
32
BARTOLOMEU, G. C. Richard Long: Arte como experiência e acontecimento.
Universidade de Lisboa: Lisboa, 2017. Dissertação de Mestrado em Escultura. p. 6
18
ela havia ficado no topo da montanha Ben Nevis, na Escócia. No caso, Prando
conclui que: “A outra parte da escultura não mostrada é o que foi experimentado
(deslocamento/vista) pelo artista, e que não tem como ser mostrado, apenas
vivenciado.”33
33
op. cit., PRANDO. p. 443.
34
op. cit., BARTOLOMEU. p. 6.
35
op. cit., PRANDO. p. 443.
36
SAWADA, N. H. Land Art: Um estudo sobre as origens da Land art e seus
desdobramentos. 2011. p. 93
19
comenta que: “A escala de Quebra-mar espiral tende a flutuar dependendo de onde
o visualizador está. O tamanho determina um objeto, mas a escala determina a
arte.”37 Ou seja, basta o distanciamento para que se perceba a pequenez da
interferência realizada. O mesmo pode ser notado na obra de Long, Uma linha feita
pelo caminhar, pois, diferindo da interferência de Smithson, a linha construída por
Long sobre o gramado, além de demonstrar como a simples caminhada se torna
uma obra de arte, também escracha o quanto as modificações realizadas pelos
indivíduos desaparecem de modo gradativo.
37
Selected writings
38
HEIDEGGER, M. Ser e Tempo, vol. II. Petrópolis: Vozes, 1989. p. 12
20
curso retilíneo do seu movimento que, por assim dizer, intercepta o
movimento circular da vida biológica. É isto a mortalidade: mover-se ao
longo de uma linha reta num universo em que tudo o que se move o faz
num sentido cíclico.
A tarefa e a grandeza potencial dos mortais têm a ver com sua
capacidade de produzir coisas - obras e feitos e palavras - que
mereceriam pertencer e, pelo menos até certo ponto pertencem à
eternidade, de sorte que, através delas, os mortais possam encontrar o
seu lugar num cosmo onde tudo é imortal exceto eles próprios.39
39
ARENDT, H. A condição Humana. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo. 1981. p.27.
40
Ibid., p.16.
41
Ibid., p.16.
21
Diante das categorizações de atividades humanas com possibilidade de
realização durante o período efêmero que é a vida humana elaboradas por Hannah
Arendt, é perceptível o quanto brevidade causa fascínio, afinal esta é uma diferença
notável entre a nossa e as demais espécies, temos ciência de nossa durabilidade
volátil, de modo que tendo essa noção, podemos repensar sobre como as marcas
que nossa espécie está deixando no planeta irão continuar até o fim de nossa
geração e prosseguir com a posterioridade. A noção de continuidade e
irreversibilidade da modificação é nítida da fala de Smithson existente no relato de
“Monumentos de Passaic”, ao fim de sua descrição sobre a experiência, o artista
comenta:
Sabe-se que crianças que vivem em ambiente urbano tendem a gostar mais
de paisagens rústicas, o mesmo para as que vivem em ambiente rural, estas gostam
de paisagens urbanas.43 O ser humano afeta e é diretamente afetado pelo ambiente
no qual está inserido, assim como qualquer existência, questões sobre sua
influência, sua significância diante do todo são tratadas de diversas formas, podendo
trazer o medo existente ao imaginar a pequenez humana, tentativas de demonstrar a
dominância sobre o planeta, ou a busca pela equidade. Ao fim o que temos é um ser
42
SMITHSON, R. Um passeio pelos monumentos de Passaic, Nova Jersey. Tradução de
Pedro Sussekind. Artfórum, p. 167.
43
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 2009.
22
que desde sua formação quer agir sobre o que o cerca, que mesmo sem perceber
tende a deixar marcas, que se ressignifica constantemente diante de sua própria
efemeridade.
44
MONTESSORI, M. A formação do homem. Campinas: CEDET, 2018. p.79-80
45
LUCAS, I. de Jesus Basilio. A Land Art como recurso Pedagógico. 2011, p;71
46
SAVIANI, Dermeval. Sobre a natureza e especificidade da educação. Germinal:
Marxismo e Educação em Debate, v. 7, n. 1, p. 286-293, 2015.
23
uma educação maior, vista como superior em detrimento de meios educacionais
incomuns, chamados de menores, porém integralmente funcionais.
Para Illich:
A busca atual de novos canais educativos deverá ser transformada na
procura do seu oposto institucional: redes educativas que aumentem a
oportunidade de cada um transformar cada momento da sua vida num
outro de aprendizagem, de partilha e de interesse.49
47
GALLO, S. Em torno de uma educação menor. Educação e Realidade, 2002,p.174
48
ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. Petrópolis: Vozes, 1982. p.17.
49
Ibid.
24
adverte que: “Cercado por instrumentos todo-poderosos, o homem é reduzido a um
instrumento de seus instrumentos."50. Sua visão elucida como foram desenvolvidos
sistemas para que os processos de existir se tornem mais convenientes e assim
ocorram de modo menos penoso, porém o que outrora era conveniente, tomou
proporção de obrigatoriedade, não mais servindo para facilitar, mas como caminho
pré-definido para a vida. O comentário de Illich, autor dos anos 70, concorda com a
visão de um escritor mais antigo, que no ano de 1845, se mudou para beira do lago
Walden, no caso, Henry David Thoreau (1817-1862), que menciona:
50
Ibid., p.138.
51
THOREAU, H. D. Walden. L&PM POCKET: Porto Alegre. 2018. p.21
25
O relato de Thoreau sobre seu tempo vivendo à beira do lago Walden
também é análogo às noções de Non-site, de Smithson, além de que, existe, assim
como no caso de Smithson, certa performatividade na ação do isolamento e
experiência com determinada localidade. No caso de Thoreau, seu ato, um tanto
quanto relacionado ao protesto, se torna ainda mais artístico devido ao tempo
bastante específico que passa em seu afastamento. Illich, diferindo de Thoreau e
dos artistas apresentados, estabelece a problemática pelo viés pedagógico, durante
os capítulos de Sociedade sem escolas, o autor estabelece a lógica de que na
escola se ensina como o ser humano deve existir na sociedade para a qual é
desenvolvido. No caso, como mencionado anteriormente, uma sociedade com base
no consumo, que ele considera como algo danoso ao nosso planeta.
7. VERTENTES PEDAGÓGICAS
52
FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. / FUSARI, Maria F. de Rezende e. Arte na Educação
Escolar. São Paulo: Cortez. 2001. p. 25.
26
Tendência Idealista-Liberal.
Pedagogia Tradicional.
53
Ibid., p.22.
54
Ibid., p.26.
55
Ibid., p.26.
27
Dentro do ensino da Arte que ocorre nas escolas no Brasil este método
possui um foco obsoleto, pois se apóia em objetivos que surgiram no século XIX
“quando predominava uma teoria estética mimética, isto é, mais ligada às cópias do
“natural” e com a representação de “modelos” para alunos imitarem.”56 Pouco então
se importa com a capacidade analítica e crítica na aplicação do método pedagógico
tradicional, pois “[...] é dada mais ênfase a um fazer técnico e científico, de conteúdo
reprodutivista, com a preocupação fundamental no produto do trabalho escolar,
supondo que assim educados os alunos vão saber depois aplicar esse
conhecimento ou trabalhar na sociedade.”57 As práticas utilizam processos de
desenvolvimento motor, o que não é totalmente negativo, uma vez que o desenho
natural remete à necessidade de observação, porém caso o objetivo seja a mera
cópia “bem feita”, os resultados que serão atingidos pelos alunos em nada irão
condizer com os objetos iniciais estabelecidos.
56
Ibid., p.27.
57
Ibid., p.31.
58
Ibid., p.39.
28
ocorrer de maneira progressiva, ativa, levando em consideração os
interesses, motivações, iniciativas e as necessidades individuais dos
alunos.”
59
Ibid., p.32.
60
Ibid., p.32.
61
Ibid., p.39.
29
[...] na qual os professores, simpatizantes da Pedagogia Nova, podem
desenvolver atividades artísticas incluindo conceitos, temas, técnicas e
projetos com características tradicionais, mas que são tratados,
metodologicamente, com enfoque na expressividade e desejos
espontâneos dos alunos.62
Pedagogia Tecnicista
62
Ibid., p.40.
63
Ibid., p.41.
64
Ibid., p.41.
65
Ibid., p.41.
30
Tendência Pedagógica Realista-Progressista
66
Ibid., p.44-46.
67
Ibid., p.44.
68
Ibid., p.44.
31
conscientização política dos indivíduos em relação à necessidade de percepção
crítica das estruturas existentes dentro da sociedade, pois:
Pedagogia Waldorf
69
Ibid., p.46.
32
desenvolvimento físico, mas diretamente conectado com o desenvolvimento
espiritual (Antroposofia). Um desenvolvimento com base nos ciclos de 7 anos. O
viés pedagógico da Antroposofia se dá dentro dos 3 primeiros ciclos ( 0 - 7, 7 - 14,
14 - 21.) No qual se desenvolvem respectivamente o corpo físico e os corpos
(espirituais) Etérico (ligado ao corpo físico e manutenção da vida), Astral (ligado aos
sentimentos) e o do Eu (Corpo que se torna completo aos 21 anos e remete ao Ego,
associado à individualidade, a capacidade de raciocínio e a moralidade).70
70
LANZ, R. A Pedagogia Waldorf. São Paulo: Editora Antroposófica, 1990. p.34-48.
71
OLIVEIRA, F. M. C. A RELAÇÃO ENTRE HOMEM E NATUREZA NA PEDAGOGIA
WALDORF. 2006, p.102.
72
Ibid., p.102, apud IGNÁCIO, Renate Keller. Criança querida: o dia-a-dia das creches e
jardins-deinfância - Associação Comunitária Monte Azul. São Paulo: Editora Antroposófica, 1995.
33
Aulas de arte são ministradas desde as séries iniciais, diversos materiais são
utilizados, em tal momento a experimentação é aceita. Ao fim ocorre a contemplação
em conjunto do que se produziu.“Durante esta contemplação as crianças são
orientadas para esquecer juízos de valor (como mais bonito, mais feio, mais
caprichado) e concentrar-se na essência de cada obra”.73 Quando se contempla sem
evitando o uso de juízos de valor, se atendo apenas às características do que se vê,
a variedade de subjetividades e como elas alteram a interação de cada ser se torna
mais óbvia, a criança desenvolve sua própria subjetividade ao mesmo tempo que
percebe a subjetividade da existência alheia, não se atendo apenas ao seres
humanos, mas a tudo que a cerca.
Rudolf Lanz cita diretamente Ivan Illich no capítulo “Ensino em crise” e ,assim
como Illich, comenta sobre o que se espera de um humano lançado em uma
sociedade industrial, problematizando o fato de, mesmo a escola sendo o caminho
para o qual são formados novos colaboradores/funcionários das empresas, o
“material humano” não sai das escolas com um bom preparo para a vida
profissional. Diferindo do método de ensino comum, que visa a fixação de
informação no indivíduo a Waldorf busca sua formação, conforme Lanz:
73
Ibid., p.102.
74
LANZ, R. A Pedagogia Waldorf. São Paulo: Editora Antroposófica, 1990. p.82.
34
principais da pedagogia Waldorf. Ela quer formar indivíduos práticos e conscientes.
Por isso, toda alienação lhe é estranha.”75
Pedagogia Montessoriana
75
Ibid., p.82.
76
MONTESSORI, M. A formação do homem. Campinas: CEDET, 2018. p.19.
77
Ibid.,p.16.
35
ambiente, pois a falta de reflexão sobre a esfera existencial na qual um sujeito se
encontra ocasiona na fragilidade diante de tal meio. Conforme adverte Montessori:
78
Ibid.,p.23.
79
Ibid.,p.23.
80
Ibid.,p.51.
36
percebido pelos artistas mencionados no início do projeto. Ressurge então a
questão “Como então podemos fortalecer essa sensibilidade em gerações futuras?”
Justamente a partir do caminho que se utiliza para instruir os humanos em seu
processo de desenvolvimento, a educação, mais especificamente, ao se estabelecer
um crivo que toma como base a busca pela expansão de capacidade de apreensão
das coisas através dos sentidos em conjunto com a cognição, é notável que existe
um caminho que toma como algumas de suas múltiplas finalidades justamente estes
pontos, a Educação Artística. De acordo com Porcher, apesar das finalidades do
ensino das Artes não serem homogêneas, existem pontos que se podem
estabelecer como primordiais, como:
81
PORCHER, L. Educação artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982.
p.25.
37
ruídos, justaposição e superposição das qualidades percebidas, através
das quais o espaço se acha ocupado, ritmado, modulado, diferenciado,
determinado como espaço familiar para quem o habita.82
A Educação Artística então atua a limiar entre o que se toma como Trabalho e
Ação descrito por Hannah Arendt, pois apesar do uso da matéria e do ato sobre o
ambiente, assim o modificando, a educação e a arte necessitam do relacionamento
entre os indivíduos para se constituírem como realização válida, deixando se serem
meros conceitos. Partindo deste princípio, se faz necessário entender como se dá a
execução de uma proposta de Ensino em Arte que seja capaz de despertar a
capacidade estética nos alunos e que ultrapasse a mera fruição das obras de arte.
Como relata Porcher ao comentar sobre o ensino de uma alfabetização estética:
82
Ibid.,p.25.
83
Ibid.,p.29.
38
9. METODOLOGIA
84
TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. In: Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, 2005. p. 446.
39
é dentro do ambiente escolar, desde o início, com processo de constante informação
e formação que pode ser desenvolvida a sensibilidade e capacidade de estabelecer
posicionamento diante do ambiente no qual os indivíduos se encontram. Este não é
um dever exclusivo da escola, muito menos a única finalidade das artes dentro do
ambiente escolar, mas não se pode negar que é também “[...] um problema
pedagógico, pois se a opinião pública tivesse tido a sua sensibilidade mais bem
educada, jamais aceitaria certas coisas (a destruição do espaço urbano, por
exemplo, ou a devastação das paisagens naturais, etc.)..”85
85
Ibid.,p.27.
86
FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. / FUSARI, Maria F. de Rezende e. Arte na Educação
Escolar. São Paulo: Cortez. 2001. p.23.
87
JOHN, D. Arte como experiência. Martins Fontes, 2010.
40
[...] é, portanto, o da função educativa da experiência, cujo centro não é
nem a matéria a ensinar, nem o professor, mas sim o aluno em
crescimento ativo, progressivo. Esses trabalhos sintetizam suas
preocupações com a importância da educação para a sociedade e para
a democracia, e enfatizam uma pedagogia mais pragmática e
experimental.”88
88
FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. / FUSARI, Maria F. de Rezende e. Arte na Educação
Escolar. São Paulo: Cortez. 2001. p.36
89
Termo originado do Latim e que remete à “Obra Prima” ou “Obra de qualidade excepcional”.
90
op. cit. FERRAZ / FUSARI. p.24.
41
demonstrar que este método não se resume à busca por estratégias de ação que
surgem para, após aplicação, serem submetidas à análise reflexiva e mudança:
91
TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. In: Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, 2005. p. 447.
42
assincronia entre os calendários das entidades, foi preciso recorrer a outra estrutura
de aplicação da oficina.
10. CRONOGRAMA
2021/2022
Elaboração do
X
projeto de pesquisa
Leituras
X X X
complementares
Revisão
X X X X X
bibliográfica
Coleta de Dados
X X
(oficina)
Redação final do
X X
relatório
Apresentação da
X
monografia
45
Aula 1: O que é Ambiente? Como percebemos e lidamos com o que nos rodeia?
Após essa conversa pedi que eles pegassem um papel ou que utilizassem os
celulares para escrever. Mencionei então 4 termos, respectivamente: Ambiente,
Natureza, Lugar e Paisagem. Cada termo apresentado de modo separado, havendo
um tempo para que cada participante pudesse escrever o que lhe surgia em mente
com cada palavra mencionada. Antes de iniciar comentei que eles poderiam
escrever frases, palavras ou até mesmo utilizar memórias para relatar o que
concebiam a partir de cada expressão mencionada. O resultado foi:
A:
Ambiente: Lugar em que eu estou me sentindo bem e que tenha natureza.
Natureza: Vida
47
Lugar: Paz
Paisagem: Autenticidade
N:
Ambiente: Local com várias coisas
Natureza: Plantas
Lugar: Um local/ponto de referência/ambiente fechado
Paisagem: Um local que eu observo, um local belo, recorte de um local
R:
Ambiente = Natureza: Local confortável, natureza;
Lugar: Memórias, conforto e beleza;
Paisagem: Beleza, calma
T:
Ambiente = Natureza: Natureza, florestas, céu, paz, animais.
Lugar: Prédio, casa
Paisagem: Céu (céu azul), pinturas.
(Memória de um parque que visitou na infância, sendo marcado pela luz e belas
múltiplas borboletas que voavam).
P:
Ambiente: Área definida, com coisas.
Natureza: Florestas, área/lugar grande, animais.
Lugar: Espaço pequeno.
Paisagem: Horizonte, liberdade.
92
PORCHER, L. Educação artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982. p.25.
48
caso, Ambiente remetendo à totalidade de vivências (realidade impalpável) e
Natureza ligada à totalidade das grandezas físicas (realidade palpável). Uma visão
interessante foi trazida pela participante A, que inicialmente concebeu Ambiente
como algo que pode englobar a Natureza, pois menciona que Ambiente é um local
no qual se sinta bem e que tenha Natureza.
Aula 2: O que é escultura? Como categorizar obras que não são apenas algo
diante de um local, mas efetivamente fazem parte dele?
93
SIMMEL, G. A filosofia da Paisagem. Covilhã: LusoSofia: press, 2009, p. 7.
94
Ibid., p. 11.
49
No início da segunda aula apresentei o trabalho Quebra-mar espiral, de
Robert Smithson. Quando questionados, dois participantes informaram que de
algum modo já tiveram contato com tal obra (N e T), ainda que de modo incerto, a
fotografia do quebra-mar não lhes pareceu estranha, conforme comentado pelo
participante T, provavelmente o contato com o trabalho ocorreu via publicação do
Instagram ou Pinterest. Entretanto, apesar de não estranharem a imagem, os
participantes não possuíam informações sobre a obra, apenas a consideravam
“bonita”.
95
KRAUSS, R.E. A escultura no campo ampliado. Reedição. Revista Arte & Ensaios, In: Arte
& Ensaios. n.17, PPGAV-EBA-UFRJ, 2008, p. 129
50
96
Ibid., p. 131.
51
“era tudo aquilo que estava sobre ou em frente a um prédio que não era prédio, ou
estava na paisagem que não era paisagem”97,tem início o desenvolvimento da lógica
de construção do diagrama que em seguida é apresentado por Krauss.
97
Ibid., p. 132.
98
Ibid., p 135.
52
Carneiro, ao lado do Terminal do Portão e uma escultura de Tomie Ohtake, que se
encontra no bosque atrás do MUMA. O busto foi rapidamente definido como
“escultura”, resultando da soma de não-paisagem e não-arquitetura, no entanto, ao
definirem a escultura de Tomie Ohtake, inicialmente os participantes estipularam que
a obra se encaixava como “espaço demarcado”, porém alteraram a opinião e
definiram como “estrutura axiomática” (arquitetura + não-arquitetura).
Reforcei que obras de Land Art se constituem por gerarem tensão entre o
espaço e aquilo que se assume como intervenção, desse modo os projetos muitas
vezes possuem um vínculo particular com o espaço para o qual são desenvolvidos.
Existindo também a necessidade de experiência com a obra ou pelos menos com o
máximo de informações que se possa apresentar do trabalho e do local no qual foi
realizado, para que então o espectador seja capaz de assimilar a obra de maneira
mais precisa. Nesse momento a participante R comentou que antes apenas veria o
trabalho como pedras agrupadas em espiral, não havendo reflexão sobre a
experiência. Ela também relatou sobre como sua visão sobre escultura funcionava
de modo binário, “é ou não é”, mais especificamente “é bonito ou feio”, sendo esta
uma forma comum de conceber a linguagem. A participante se interessou
particularmente pelo artista Richard Long, apresentado na aula seguinte.
99
SMITHSON, R. Um passeio pelos monumentos de Passaic, Nova Jersey. Tradução de
Pedro Sussekind. Artfórum. p.164.
54
com Hiperatividade (TDAH), se interessou pelo modo como Smithson
constantemente percebe algo novo durante o relato, “pulando” de uma coisa para
outra, ele também comentou que outro ponto que chamou a atenção foi o modo
como Smithson se faz presente dentro do próprio relato ao realizar comentários
como “Meu filme estava acabando e eu ficando com fome.”100
Um trecho que foi destacado pela participante A e que, de certo modo, surge
no projeto que ela desenvolve posteriormente é o comentário de Smithson sobre
“[...] ruínas às avessas, isto é, todas as novas edificações que eventualmente ainda
seriam construídas.”101 Uma vez que “[...] edificações não desmoronam em ruínas
depois de serem construídas, mas se erguem em ruínas antes mesmo de serem
construídas.”102
100
Ibid. p.166.
101
Ibid.,p.165.
102
Ibid.,p.165.
55
A Participante R apreciou muito da fotografia, ela comentou sobre como gosta
de tirar fotos e que para ela as fotografias expressam sentimentos (como se estes
fossem capturados). Ela parte de uma reflexão sobre o lado sentimental na imagem,
busca significados nas coisas, enquanto os outros se prendem um pouco mais ao
que aparece na fotografia, por exemplo, ela comentou que a linha traz uma
sensação de solidão, ainda mais devido ao fato de que ela vai sumir, como se a
marca fosse esquecida. Pedi para ela não esquecer esse comentário, pois ele seria
de extrema importância no encontro seguinte, e comentei que justamente essa
sensação de efemeridade se faz presente nessa obra, uma vez que a linha é feita
sobre uma superfície tão mutável, que é a grama.
Aula 4: Como as modificações que realizamos nos ambientes podem ser uma
forma de nos manter presente mesmo após nossa ausência em tais locais?
57
- Discussão sobre como a presença e ação modificam o ambiente e projetam a
existência.
T então comentou sobre o que é vida e qual o objetivo dela, sendo que, na
visão dele, existimos para que haja fruição da realidade, e caso haja alguma
divindade, a qual ele crê que provavelmente seria única, este ser criador nos teria
feito para que possamos aproveitar as coisas positivas existentes. Assumiu um
posicionamento concordante com o de Heidegger ao lamentar que muitas vezes a
vida ocorra de modo praticamente já estabelecido e assim se torne monótona, algo
desagradável e triste. Nesse momento a participante A, ainda seguindo a lógica de
T, relatou sobre como as vezes fica refletindo em relação à banalidade da vida, não
possuindo crença em qualquer divindade e assumindo que em certos momentos
acaba se considerando uma pessoa niilista, mas que é através desse niilismo que
ela pode perceber que a vida em momento algum deveria seguir uma lógica comum
a todos, pois assim parece que as pessoas são “produzidas em série”, sempre tendo
que seguir o fluxo existente, e notando isso ela sente que adquire então a opção de
assumir uma posição mais autônoma.
103
THOREAU, H. D. Walden. L&PM POCKET: Porto Alegre. 2018. p.21
104
SMITHSON, R. Um passeio pelos monumentos de Passaic, Nova Jersey. Tradução de
Pedro Sussekind. Artfórum, p. 167.
60
experiência agradável através da vida. Refleti sobre a fala e, apesar do autor não ter
sido acrescentado nos textos da oficina, recomendei a todos a leitura de Ailton
Krenak, pois diversas questões que surgiram durante a conversa, são levantadas
em seu livro A vida não é útil.
Fonte: Participante R
“Então a primeira foto eu tirei principalmente pela cor, é uma cor forte e que
marca muito o céu, agora que você mencionou, parece mesmo um fogo”.
Comentário feito pela autora, pois, durante a apresentação dos trabalhos, um ponto
levantado pelo participante T sobre a primeira foto foi que as cores do pôr do sol
causavam a impressão de que o céu estava em chamas.
Fonte: Participante R
62
“A segunda eu gostei por causa da mistura entre cores e a forma das nuvens,
principalmente porque algumas formas parecem uma aquarela e que o céu foi
pintado, é muito lindo.” Comentário da autora.
Fonte: Participante R
“Eu amo a terceira foto, na verdade eu não tirei com muita intenção, mas
quando eu vejo ela eu percebo uma árvore com suas formas naturais, mas ela está
sozinha, e junto com outras árvores, em um lugar verde”. Comentário da autora.
A autora mencionou que gosta de fotografar o céu, então, assim como Long
registrou a linha que logo iria desaparecer, ela buscava registrar momentos nos
63
quais ela tinha alguma experiência com o céu, afinal ele é algo que engloba o todo
natural. E existe algo de angustiante no fato de ser um lugar que não se pode
alcançar.
Fonte: Participante R
“Me parece que essa árvore ainda tem algumas raízes fincadas ao chão, dá
pra ver a força dela.” Comentário da autora.
64
Em diversos momentos entre os encontros ocorreram tempestades, e a
participante disse que muitas vezes os ventos arrancaram galhos, mas que, em uma
manhã, após uma forte chuva que havia ocorrido no dia anterior, ela notou que uma
árvore se encontrava derrubada. Ela então registrou o resultado por ângulos
variados.
Alguns pontos levantados foram que nesse projeto ela não estava mais
olhando para o céu, mas para o nível do solo (comentário realizado pela participante
N). E tal observação foi complementada pela participante A, ao dizer que na
verdade, observando todas as fotografias, algo comum é que em todas existiam
árvores, que no trabalho inicial criavam “pontos de marcação” nas imagens, mas
agora a árvore se tornou o foco, não mais o céu/horizonte.
"Quando passo por esse lugar eu me sinto mais livre e leve, como se pudesse fazer
o que eu quiser."
Relato 2: Participante T.
Fonte: Participante T
Fonte: Participante T
67
Ele chamou a série de fotos de “Um trajeto registrado.” e, durante a
apresentação das fotos, novamente a participante N comentou sobre como a obra
se relacionou com Os monumentos de Passaic, pois seguiam a lógica da série de
fotografias tiradas de modo contínuo.
Fonte: Participante N
“Trata-se de uma obra que na verdade é um crime, mas que por muitas vezes
atrai a atenção de quem está entediado no transporte público, o que foi meu caso,
Enquanto estava no meu longo trajeto diário, esse banco me chamou a atenção, me
fazendo notar os detalhes bobos e teorizar sobre eles; na parte preta, haviam 2
linhas tortas e uma excessiva demais, como se a pessoa que estava escrevendo
tivesse escorregado quando o transporte passou por uma lombada ou fez uma
curva. Na parte branca, nota-se muitos pontos e algumas partes mais fracas, como
se a pessoa tivesse borrado (o que provavelmente era corretivo) passado o dedo e
68
limpado no resto do banco. Pensei por muito tempo o que levou a pessoa a fazer
isso, como conseguiu fazer isso sem que ninguém o impedisse, entre outros.”
Relato: Participante N.
105
FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. / FUSARI, Maria F. de Rezende e. Arte na Educação
Escolar. São Paulo: Cortez. 2001. p.23.
69
Fonte: Participante A
“Eles parecem gigantes que estão dormindo, pois ainda é cedo e está frio”
Relato: Participante A.
106
SMITHSON, R. Um passeio pelos monumentos de Passaic, Nova Jersey. Tradução de
Pedro Sussekind. Artfórum, p.165.
70
A analogia realizada pela autora me pareceu extremamente profunda,
afirmando sua familiaridade com a filosofia. A participante R comentou que era uma
visão que parecia gostar de imaginar o fim das coisas, sua degradação com o
decorrer do tempo, algo que novamente fez surgir a falar de Smithson sobre
Entropia, no caso, o grau de desordem de um sistema.
71
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos pontos que ficou mais nítido, e que torno a frisar é a potencialidade
existente dentro do ensino da arte para desenvolver nos indivíduos uma maior
faculdade de captação das ocorrências externas, no entanto, algo bastante explícito,
foi a necessidade da apresentação de obras de arte que dialogassem com o que era
proposto como prática. Por exemplo, nos encontros 1 e 2, se tornou óbvio que, caso
o objetivo fosse apenas a conversa do primeiro encontro, relativa ao que se concebe
como ambiente, natureza, lugar e paisagem, apenas oferecendo uma prática de
observação, como ocorreu inicialmente, sem a apresentação de uma obra que
atuasse com base justamente na captação fenomenológica para seu
desenvolvimento, os discentes teriam de alguma forma considerado a oficina
relevante, mas o aprofundamento que se deu graças à análise de obras de arte,
justamente serviu como forma de apurar ainda mais o modo como eles
compreenderam questões conceituais, tanto nos trabalhos artísticos, quanto nos
textos de contextualização. Isso se tornou ainda evidente no último encontro,
quando diversos trabalhos foram apresentados.
107
DEWEY, J. Arte como experiência. Martins Fontes, 2010.
72
produziu que se dará o substrato necessário para que aquilo que a princípio é
germinal, se torne enraizado e vicoso. Por isso, mais do que seguir uma lógica de
“vamos caminhar e observar” a oficina precisou partir de obras que serviram como
uma espécie de “dinamizador de formulações”.
108
ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. Petrópolis: Vozes, 1982.
73
Rudolf Lanz ao mencionar que dentro da Pedagogia Waldorf o conhecimento
enciclopédico é considerado menos relevante do que o conhecimento de vivência.
Por fim, reafirmo que esta é justamente uma das maiores potências de
impulsionamento que existe dentro das artes visuais, a capacidade de fomentar nos
sujeitos a constante busca pela percepção da realidade que pode ser vivenciada.
Sendo extremamente relevante que o educador perceba que, de modo algum, não
se deve utilizar o processo de contextualização, leitura de obras e também da
prática artística, afinal estes alicerces servirão como método de ensino
extremamente funcional e que resultará no desenvolvimento do artista-pesquisador
dentro dos alunos, no entanto, para além disso, como dito anteriormente, e que se
confirmou através da oficina, é que uma das máximas que a arte gera é a conversão
do o indivíduo que inicialmente recebe estímulos para o indivíduo que atua e assim
se torna criador. Uma vez que isso ocorra, o “ser criador” ou “ser de vicissitude” irá
extrapolar a sensibilidade estética ligada às obras de arte propriamente ditas, de
modo que, esta sensibilidade se tornará algo capaz de permear âmbitos variados da
existência, ou seja, em concordância com o que é dito por Porcher, crendo que
“ambiente” é um termo que remete à “[...] totalidade dos valores sensíveis do
panorama da vida.”109, o indivíduo esteticamente instruído, de acordo com cada
ambiente no qual se encontre, irá captar os fenômenos que o cercam de modo
analítico, sendo capaz de assumir posicionamento ativamente crítico.
109
PORCHER, L. Educação artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982.
p.25.
74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LUCAS, I. de Jesus Basilio. A Land Art como recurso Pedagógico. 2011. Relatório
de estágio (Mestrado em Ensino de educação visual e Tecnológica no Ensino
Básico) - Instituto Politécnico de Setúbal. Setúbal.
KRAUSS, R.E. A escultura no campo ampliado. Reedição. Revista Arte & Ensaios,
In: Arte & Ensaios. n.17, PPGAV-EBA-UFRJ, 2008, p. 128-137.
Kwon, M. Um lugar após o outro: anotações sobre site-specificity. In: Arte &
Ensaios. n.17, PPGAV-EBA-UFRJ, 2008, p. 166-187.