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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ENSINO DE HISTÓRIA NA ESCOLA BÁSICA II

RELATÓRIO DA PRÁTICA ESCOLAR - MUSEUS

DANILO DELGADO – 201811004

VINICIUS COSTA - 201811030


O memorial dedicado ao ex-presidente Itamar Franco, localizado na
região central da cidade de Juiz de Fora e dirigido pela UFJF, se dedica à
trajetória pessoal e profissional do mais expoente político juiz-forano no plano
nacional. O espaço se divide entre sessões de exposição de itens pessoais de
Itamar, obras de artistas locais e um retrato cronológico que coloca em paralelo
a trajetória do ex-presidente, governador e prefeito com a história global do
período republicano brasileiro. Sendo, de fato, um memorial da República, o local
de memória aborda a importância de Itamar para esse momento da História
nacional. Cabe destacar, dessa forma, a maneira com a qual Franco se mostra
um fiel retrato da democracia brasileira, sendo um fiel defensor desse modelo de
Estado durante a ditadura militar ao mesmo tempo em que dialogava com os
líderes do período autoritário. Sendo um político em essência, Itamar não foge
de suas contradições e de seus méritos na construção da democracia e,
sobretudo, de sua principal contribuição para o país: a estabilidade econômica
gerada pelo plano real.

Sendo um memorial gratuito e de livre acesso para o povo da cidade, é


possível imaginar que a visitação ao espaço ainda seja restrita a setores da
população que se interessem substancialmente pelo legado de Itamar ou por
espaços museológicos como um todo. Paralelamente, a visitação guiada pelos
bolsistas e funcionários da instituição, feita por estudantes de diversos níveis se
mostra fortuita para a compreensão do período republicano, da importância de
Itamar para a cidade de Juiz de Fora e da necessidade de se defender a
democracia. Dessa forma, o Memorial se vê ocupado tanto por estudantes,
levados por seus professores e instituições de ensino, quanto por setores da
sociedade civil.

O potencial educativo do espaço, portanto, é enorme, quanto mais se


tratando das opções de espaços de memória disponíveis na cidade de Juiz de
Fora. Sendo o museu mariano Procópio o principal dedicado à memória do
período imperial, o Memorial da República se mostra, mesmo sendo focado na
figura de Itamar Franco, como o principal local de memória e materialização do
período republicano brasileiro na cidade de Juiz de Fora. Assim, pode-se dizer
que a instituição pode ser utilizada de diversas maneiras por docentes de
diversas áreas e dedicados aos mais variados níveis de ensino, sendo o
Memorial um local repleto de potencialidades para o processo de ensino e
aprendizagem referente ao período republicano. Ainda, sendo Itamar o mais
preponderante político juiz-forano no plano nacional, o espaço é excelente para
se entender o nacional e o global a partir do local, sendo a trajetória do ex-
presidente uma forma, também, de se contar a história recente da cidade de Juiz
de Fora e do estado e Minas Gerais.

Em relação aos objetos de interação, há bastante material, tanto sobre a


trajetória da república brasileira, até 2011, o ano da morte de Itamar, junto com
a trajetória pessoal do ex-presidente da república. A linha do tempo destaca
acontecimentos minuciosos e o que aconteceu de mais importante no mundo,
para efeito comparativo, com a história do Brasil.

Abaixo da linha, temos acesso há diversos documentos como, os


trabalhos de escola de Itamar, os planos econômicos, a lei dos genéricos,
algumas de suas honrarias e condecorações, e, esses objetos, tanto pessoais
quanto jornalísticos-históricos, tem como objetivo personificar e pessoalizar a
trajetória de Itamar Franco, trazendo, quase que em primeira pessoa, à tona suas
memórias e suas conquistas, tanto na cidade de juiz de fora, como no Brasil
inteiro. A recuperação da memória, bases do museu, presente até no seu nome,
traz o visitante mais próximo de Itamar, como uma pessoa comum, e também
como um ser político importante na república brasileira. Além disso, expõe as
contradições inerentes a vida política de Itamar, como por exemplo, apoiar a
candidatura do presidente Lula e ao mesmo tempo, anunciar o seu apoio à Aécio
Neves. Portanto, a exposição permite, não divinizar Itamar, mas trazê-lo mais
perto do visitante.

De tal maneira, sendo um espaço criado a partir do legado material


deixado por Itamar Franco após a sua morte, em 2011, o memorial cumpre de
maneira exemplar seu papel de construção de uma imagem humanizada do ex-
presidente, a partir de itens de seu acervo pessoal, ao mesmo tempo em que
contribui imensamente para a construção de um conhecimento científico, a partir
do estudo das fontes documentais deixadas por Itamar, referente a diversos
momentos vividos pelo ex-presidente que retratam não apenas sua própria
experiência, mas o contexto global e brasileiro experimentado em diversos
períodos.
Seguindo uma linha metodológica como professores de história, o acervo
presente no museu é bem completo para compreensão da trajetória de Itamar,
com a faixa presidencial, o prato que foi usado na criação dos Caic’s, o escritório
do Itamar com o premido do festival de Gramado, o Kikito, que foi uma parcela
muito importante no governo do Itamar para retomada da produção
cinematográfica no país. Os objetos representativos são muito bem
selecionados, cada um com sua parcela de importância, tanto para o próprio
Itamar, quanto para os visitantes, e transmite essa importância através das
exposições.

No tocante a potencialidade do local para os alunos de escola pública


principalmente, a visita guiada, como foi a do Mauro, é de extrema importância,
para que os alunos sejam inseridos de maneira pessoalizado não história da
república, e despertem a curiosidade de buscar conhecer mais a história de Juiz
de Fora a partir da trajetória do Itamar Franco.

Agora, um ponto que observamos é que, sem a visitação guiada, a


exposição ganha um outro sentido, um sentido mais factual da história, ligando
as datas presentes na linha do tempo, com os objetos presentes nas gavetas
temáticas, o que, perde um pouco as potencialidades do local na prática de
produção de contexto e debates políticos em torno da república.

Além disso, outro ponto que nos chamou bastante atenção, foi o segundo
andar da exposição, com as obras de artistas locais, impulsionando a produção
cultural da cidade e valorizando aquilo que temos de melhor, a expressão
artística presente dentro de cada um dos expositores, ainda mais em um lugar
de importância tanto simbólica quando material para cidade de Juiz de Fora.

Em paralelo, o Museu da República, localizado no Palácio do Catete, na


cidade do Rio de Janeiro, possibilita uma limitada exposição virtual para o grande
público. Com a necessidade de download de programas que possibilitam o tour
pela instituição, o espaço virtual do museu se sabota antes mesmo da exposição
do primeiro item. É necessário trazer isso para refletir na importância que tem a
facilidade de acesso para a construção de uma visita virtual a um museu, uma
vez que a desistência de inúmeros interessados há de mostrar-se inevitável,
quando informados que devem baixar um aplicativo antes de acessar o acervo.
Paralelamente, sendo esse um padrão para todos os museus que disponibilizam
visitas virtuais através da plataforma “.gov.br”, do governo federal, é importante
perguntar: a quem interessa a dificuldade do grande público em acessar as
coleções?

Dito isso, pode-se ressaltar a importância do museu em questão para um


país com uma república tão oscilante e palco para disputas de poder entre
grupos políticos que ultrapassam a arena democrática. Com um acervo incrível,
o museu é capaz de trazer diversos panoramas reflexivos para todos os setores
da sociedade civil, inclusive alunos do ensino básico. Nessa perspectiva, a
coleção exposta pela entidade pode ser de grande valia para consolidar e
materializar o conteúdo trazido em sala de aula no que toca a Proclamação da
República e o desenvolvimento desse modelo político no Brasil até os dias
atuais.

Achamos importante também levantar uma questão: até quando as visitas


virtuais vão substituir as visitas técnicas, e se, isso a longo prazo - em um cenário
muito ideal - não irá acabar com as práticas nos museus.

Na realização da prática no Memorial Itamar Franco, percebemos uma


quantidade muito grande de documentos que podem ser digitalizados e
disponibilizados ao público pela internet, criando um espaço virtual semelhante
àquele que apresenta o Museu da República. Isso também nos trouxe a tona
outro questionamento: Qual a relação que o público estabelece com as fontes?
É a mesma relação com a fonte primária no âmbito presencial e virtual? O
aproveitamento da exposição com e sem um intermédio de um “guia” é a
mesma?

Uma observação que achamos pertinente em apontar, é que a nossa


visita no Memorial Itamar Franco, com a mediação de Mauro e dos demais
bolsistas, permitiu uma melhor compreensão da exposição, das disposições dos
itens, da linha do tempo construída, dos documentos selecionados que
corroboram para uma análise crítica dos governos de Itamar. Agora, a nossa
visitação virtual no Museu da República, não foi tão bem apresentada, apenas
das descrições de alguns objetos e as salas temáticas, sentimos a carência de
“um mediador” - entendemos também a dificuldade tecnológica que envolveria
isso - a fim de auxiliar, tanto o público, quanto aos estudantes que querem fazer
uma pesquisa aprofundada na iconografia do Império.

Pode-se perceber, portanto, a importância de ambos os museus enquanto


espaço de educação histórica fora do ambiente escolar, sobretudo quando se
pensa seu papel diante da necessidade de defesa de ideais republicanos e
democráticos na sociedade brasileira. Tendo um forte potencial de humanização
de personagens da política nacional, tais espaços são de extrema importância,
por exemplo, para ajudar na desmistificação de certos atores envolvidos na
república brasileira, como o atual presidente Jair Bolsonaro. Paralelamente,
observa-se também o vasto potencial educativo de espaços museológicos, que
se apresentam de diferentes formas. Os dois museus analisados, portanto,
poderiam ser utilizados na prática escolar de diversas formas, seja com uma
visita de campo ou a partir de um trabalho para casa, mas ambos com boas
possibilidades de fortalecimento do processo de ensino e aprendizagem
histórica.

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