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SÉRIE PRÉ-VESTIBULAR TC

PROFESSOR(A) TOM DANTAS SEDE DE LÍNGUA


PORTUGUESA
ALUNO(A) Nº USP/ UNICAMP
TURMA TURNO DATA ___/___/___
1. (Unicamp 2017) Leia a seguir a crônica adaptada “O a) Nos dois quartetos do soneto acima, duas divindades
crítico teatral vai ao casamento”, de Millôr Fernandes. são contrapostas por exercerem um poder sobre o eu
lírico. Identifique as duas divindades e explique o
Como espetáculo, o casamento da Senhorita Lídia Teles poder que elas exercem sobre a experiência amorosa
de Souza com o Sr. Herval Nogueira foi realmente um do eu lírico.
dos mais irregulares a que temos assistido nos últimos b) Um soneto é uma composição poética composta de
tempos. A noiva parecia muito nervosa, nervosismo 14 versos. Sua forma é fixa e seus últimos versos
justificado por estar estreando em casamentos (o que encerram o núcleo temático ou a ideia principal do
não se podia dizer do noivo, que tem muita experiência poema. Qual é a ideia formulada nos dois últimos
de altar) de modo que até sua dicção foi prejudicada. O versos desse soneto de Camões, levando-se em
noivo representou o seu papel com firmeza, embora um consideração o conjunto do poema?
tanto frio. Disse “sim” ou “aceito” (não ouvimos bem
porque a acústica da abadia é péssima). Fora os 3. (Unicamp 2017) Leia o excerto abaixo, adaptado do
pequenos senões notados, teremos que chamar a ensaio “Para que servem as humanidades?”, de Leyla
atenção, naturalmente, para o coroinha, que a todo Perrone-Moisés.
momento coçava a cabeça, completamente indiferente à
representação, como se não participasse dela. A música As humanidades servem para pensar a finalidade e a
também foi mal escolhida, numa prova de terrível mau- qualidade da existência humana, para além do simples
gosto. O fato de a noiva chegar atrasada também deixou alongamento de sua duração ou do bem-estar baseado
altamente impacientes os espectadores, que mostraram no consumo. Servem para estudar os problemas de
evidentes sinais de nervosismo. A sua entrada, porém, nosso país e do mundo, para humanizar a globalização.
foi espetacular, e rendeu-lhe os melhores parabéns ao Tendo por objeto e objetivo o homem, a capacidade que
fim do espetáculo. Lamentamos apenas – e tomamos este tem de entender, de imaginar e de criar, esses
como um deplorável sinal dos tempos – a qualidade do estudos servem à vida tanto quanto a pesquisa sobre o
arroz jogado sobre os noivos. genoma. Num mundo informatizado, servem para
preservar, de forma articulada, o saber acumulado por
Adaptado de Millôr Fernandes, Trinta anos de mim mesmo. São nossa cultura e por outras, estilhaçado no imediatismo
Paulo: Círculo do livro, 1972, p. 78.
da mídia e das redes. Em tempos de informação
excessiva e superficial, servem para produzir
a) O cronista recorre à analogia para construir uma conhecimento; para “agregar valor”, como se diz no
aproximação entre o casamento e uma peça teatral. jargão mercadológico. Os cursos de humanidades são
Mostre, com trechos do texto, dois usos desse um espaço de pensamento livre, de busca desinteressada
recurso: um com referência à noiva e outro com do saber, de cultivo de valores, sem os quais a própria
referência ao noivo. ideia de universidade perde sentido. Por isso merecem o
b) Identifique duas expressões adverbiais que foram apoio firme das autoridades universitárias e da
usadas pelo cronista para acentuar sua crítica sociedade, que eles estudam e à qual servem.
humorística ao casamento como espetáculo.
Adaptado de Leyla Perrone-Moisés, Para que servem as
2. (Unicamp 2017) Leia o soneto abaixo, de Luís de humanidades? Folha de São Paulo, São Paulo, 30 jun. 2002, Caderno
Camões. Mais!.
Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento a) As expressões “agregar valor” e “cultivo de valores”,
me fez que seus efeitos escrevesse. embora aparentemente próximas pelo uso da mesma
palavra, produzem efeitos de sentido distintos. Explique-
Porém, temendo Amor que aviso desse os.
minha escritura a algum juízo isento, b) Na última oração do texto, são utilizados dois elementos
escureceu-me o engenho com tormento, coesivos: “eles” e “à qual”. Aponte a que se refere,
para que seus enganos não dissesse. respectivamente, cada um desses elementos.

Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos 4. (Unicamp 2017) Leia o texto a seguir e responda às
a diversas vontades! Quando lerdes questões.
num breve livro casos tão diversos,
Os anos correm entre um século e outro, mas os
verdades puras são, e não defeitos... problemas permanecem os mesmos para os kalungas*.
E sabei que, segundo o amor tiverdes, Quilombolas** que há mais de 200 anos encontraram
Tereis o entendimento de meus versos! lar entre os muros de pedra da Chapada dos Veadeiros,
Disponível em na região norte do Estado de Goiás, os kalungas ainda
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf.
Acessado em 02/08/2016. vivem com pouca ou quase nenhuma infraestrutura. De
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todos os abusos sofridos até hoje, um em particular b) Apresente dois argumentos por meio dos quais o
deixa essa comunidade em carne viva: os silenciosos autor justifica sua afirmação de que o futebol é uma
casos de violência sexual contra meninas. Entretanto, espécie de “língua geral”.
passado o afã das denúncias de abuso sexual que
figuraram em grandes reportagens da imprensa nacional 6. (Unicamp 2016) Leia o soneto abaixo, de Luís de
em abril do ano passado, a comunidade retornou ao seu Camões:
curso natural. E assim os kalungas continuam a viver no
esquecimento, no abandono e, principalmente, no medo. “Cá nesta Babilônia, donde mana
As vítimas não viram seus algozes punidos. O silêncio matéria a quanto mal o mundo cria;
prevalece e grita alto naquelas que se arriscaram a cá donde o puro Amor não tem valia,
mostrar suas feridas. O sentimento é o de ter se exposto que a Mãe, que manda mais, tudo profana;
em vão.
cá, onde o mal se afina e o bem se dana,
Adaptado de Jéssica Raphaela e Camila Silva, O silêncio atrás da
e pode mais que a honra a tirania;
serra. Revista Azmina. Disponível em
http://azmina.com.br/secao/osilencio-atras-da-serra/. Acessado em cá, onde a errada e cega Monarquia
03/10/ 2016. cuida que um nome vão a desengana;

* Kalungas: habitantes da comunidade do quilombo cá, neste labirinto, onde a nobreza,


Kalunga, maior território quilombola do país. com esforço e saber pedindo vão
** Quilombolas: termo atribuído aos “remanescentes de às portas da cobiça e da vileza;
quilombos”. Atualmente, há no Brasil cerca de 2.600
comunidades quilombolas certificadas pela Fundação cá neste escuro caos de confusão,
Cultural dos Palmares. cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!”
a) Identifique no texto dois motivos para o sofrimento (Disponível em
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf.
histórico vivido pela comunidade quilombola Acessado em 08/09/2015.)
Kalunga.
b) No final do texto há uma figura de linguagem a) Uma oposição espacial configura o tema e o
conhecida como paradoxo. Quais termos são significado desse poema de Camões. Identifique
utilizados para se obter esse efeito de sentido? essa oposição, indicando o seu significado para o
conjunto dos versos.
5. (Unicamp 2016) No livro Veneno Remédio - o futebol e b) Identifique nos tercetos duas expressões que
o Brasil (São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. contemplam a noção de desconcerto, fundamental
14), o músico, compositor e ensaísta José Miguel para a compreensão do tema do soneto e da lírica
Wisnik afirma que o futebol se tornou uma espécie de camoniana.
“língua geral”, válida para todos, que põe “em contato
as populações de todos os continentes”. Leia a seguir 7. (Unicamp 2016) Em ensaio publicado em 2002,
dois trechos em que o autor explora essa analogia: Nicolau Sevcenko discorre sobre a repercussão da obra
de Euclides da Cunha no pensamento político nacional.
“(...) Nada nos impede de dizer que os lances criativos
mais surpreendentes não dispensam a prosa corrente do “Acima de tudo Euclides exaltava o papel crucial do
‘arroz com feijão’ do jogo, necessário a toda partida. Ou agenciamento histórico da população brasileira. Sua
de constatar, na literatura como no futebol, que a ‘prosa’ maior aposta para o futuro do país era a educação em
pode ser bela, íntegra, articulada e fluente, ou massa das camadas subalternas, qualificando as gentes
burocrática e anódina, e a ‘poesia’, imprevista, para assumir em suas próprias mãos seu destino e o do
fulgurante e eficaz, ou firula retórica sem nervo e sem Brasil. Por isso se viu em conflito direto com as
alvo. autoridades republicanas, da mesma forma como
outrora lutara contra os tiranetes da monarquia. Nunca
(...) o futebol é o esporte que comporta múltiplos haveria democracia digna desse nome enquanto
registros, sintaxes diversas, estilos diferentes e opostos, prevalecesse o ambiente mesquinho e corrupto da
e gêneros narrativos, a ponto de parecer conter vários ‘república dos medíocres’(...). Gente incapaz e
jogos dentro de um único jogo. A sua narratividade indisposta a romper com as mazelas deixadas pelo
aberta às diferenças terá relação, muito possivelmente, latifúndio, pela escravidão e pela exploração predatória
com o fato de ter se tornado o esporte mais jogado no da terra e do povo. (...) Euclides expôs a mistificação
mundo, como um modelo racional e universalmente republicana de uma ‘ordem’ excludente e um
acessível que fosse guiado por uma ampla margem de ‘progresso’ comprometido com o legado mais
diversidade interna, capaz de absorver e expressar abominável do passado. Sua morte precoce foi um
culturas.” alívio para os césares. A história, porém, orgulhosa de
quem a resgatou, não deixa que sua voz se cale.”
a) O autor vê o futebol como formas de “prosa” e de
“poesia”. Embora ambas as formas sejam (Nicolau Sevcenko, O outono dos césares e a primavera da história.
consideradas necessárias, cada uma tem um lado Revista da USP, São Paulo, n. 54, p. 30-37, jun-ago 2002.)
negativo. Indique-os.

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a) No último período do texto, há uma ocorrência do 10. (Unicamp 2014) TENHO PENA DOS
conectivo “porém”. Que argumentos do texto são ASTRÔNOMOS.
articulados por esse conectivo?
b) Apresente o argumento que embasa a posição atribuída a Eles podem ver os objetos de sua afeição – estrelas,
Euclides da Cunha em relação ao lema da Bandeira galáxias, quasares – apenas remotamente: na forma de
Nacional. imagens e telas de computador ou como ondas
luminosas projetadas de espectrógrafos antipáticos.
8. (Unicamp 2015) Os textos abaixo foram retirados da Mas, muitos de nós, que estudam planetas e asteroides,
coluna “Caras e bocas”, do Caderno Aliás, do jornal O podem acariciar blocos de nossos amados corpos
Estado de São Paulo: celestes e induzi-los a revelar seus mais íntimos
segredos. Quando eu era aluno de graduação em
“A intenção é salvar o Brasil.” Ana Paula Logulho, astronomia, passei muitas noites geladas observando por
professora e entusiasta da segunda “Marcha da Família telescópios aglomerados de estrelas e nebulosas e posso
com Deus pela Liberdade”, que pede uma intervenção garantir que tocar um fragmento de asteroide é mais
militar no país e pretendeu reeditar, no sábado, a gratificante emocionalmente: eles oferecem uma
passeata de 19 de março de 1964, na capital paulista, conexão tangível com o que, de outra forma, pareceria
contra o governo do Presidente João Goulart. distante e abstrato.
Os fragmentos de asteroides que mais me fascinam são
“Será um evento esculhambativo em homenagem ao os condritos. Esses meteoritos, que compõem mais de
outro de São Paulo.” José Caldas, organizador da 80% dos que se precipitam do espaço, derivam seu
“Marcha com Deus e o Diabo na Terra do Sol”, nome dos côndrulos que praticamente todos contêm -
convocada pelo Facebook para o mesmo dia, no Rio de minúsculas esferas de material fundido, muitas vezes
Janeiro. menores do que um grão de arroz. (...) Quando
examinamos finas fatias de condritos sob um
O Estado de São Paulo, 23/03/2014, Caderno Aliás, E4. Negritos microscópio, ficamos sensibilizados da mesma maneira
presentes no original.
como quando contemplamos pinturas de Wassily
Kandinsky e outros artistas abstratos.
a) Descreva o processo de formação de palavras
envolvido em “esculhambativo”, apontando o tipo (Alan E. Rubin*, Segredos dos meteoritos primitivos.
de transformação ocorrida no vocábulo. Scientific American Brasil. março 2013, p. 49.)
b) Discorra sobre a diferença entre as expressões
“evento esculhambado” e “evento esculhambativo”, * Alan E. Rubin é geofísico e leciona na Universidade da
considerando as relações de sentido existentes entre Califórnia.
os dois textos acima.
a) Esse trecho, que introduz um artigo científico sobre
9. (Unicamp 2014) Uma cidade como Paris, Zé meteoritos primitivos, apresenta um estilo pouco
Fernandes, precisa ter cortesãs de grande pompa e usual nessa espécie de texto. Indique duas
grande *fausto. Ora para montar em Paris, nesta expressões nominais ou verbais do texto que
tremenda carestia de Paris, uma *cocotte com os seus identificam esse estilo.
vestidos, os seus diamantes, os seus cavalos, os seus b) Nesse trecho, ocorre uma alternância entre o uso da
lacaios, os seus camarotes, as suas festas, o seu palacete primeira pessoa do singular e o da primeira pessoa
(...), é necessário que se agremiem umas poucas de do plural. Dê uma justificativa para o uso dessa
fortunas, se forme um sindicato! Somos uns sete, no alternância na passagem.
Clube.
Eu pago um bocado...

(Eça de Queirós, A Cidade e as Serras. São Paulo: Ateliê Editorial,


2011, p. 94.)

*cocotte: mulher de hábitos libertinos e vida luxuosa;


meretriz.
*fausto: luxo.

a) Que expressão do texto representa uma marca direta


de interação do narrador com outro personagem?
b) Uma descrição pode ter um efeito argumentativo.
Que trecho descritivo do texto reforça a imagem da
vida luxuosa das cortesãs na Paris da época (fim do
século XIX)?

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