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ESTUDO DA RISCO DE LIQUEFAÇÃO DAS AREIAS DE AVEIRO A PARTIR DE


ENSAIOS SCPTU E SDMT STUDY OF LIQUEFACTION RISK OF AVEIRO SANDS
FROM SCPTU AND SDMT TESTS

Conference Paper · April 2014

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4 authors:

Carlos Rodrigues Sara Amoroso


Polytechnic Institute of Guarda Università degli Studi G. d'Annunzio Chieti e Pescara
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António Viana Da Fonseca Nuno Cruz


University of Porto MOTA-ENGIL
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ESTUDO DA RISCO DE LIQUEFAÇÃO DAS AREIAS DE AVEIRO A PARTIR DE
ENSAIOS SCPTU E SDMT

STUDY OF LIQUEFACTION RISK OF AVEIRO SANDS FROM SCPTU AND SDMT


TESTS

Rodrigues, Carlos; Instituto Politécnico da Guarda, Portugal, crod@ipg.pt


Amoroso, Sara; Istituto Nazionale di Geofisica e Vulcanologia, L'Aquila, Italy, sara.amoroso@ingv.it
Viana da Fonseca, António; Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Portugal, viana@fe.up.pt
Cruz, Nuno; Mota-Engil/Univ. Aveiro, Porto, Portugal, NunoCruz@mota-engil.pt

RESUMO

Neste trabalho é apresentada uma avaliação da resistência à liquefação dos solos da região do porto de
Aveiro. Essa análise baseia-se nos resultados de um número significativo de ensaios in situ (SCPTu e
SDMT e velocidade de propagação das ondas de corte in situ - Vs). A análise permitiu estimar a razão da
resistência cíclica à liquefação (CRR), a qual foi comparada com a razão de tensões cíclicas (CSR),
possibilitando deste modo estimar a ordem de grandeza do fator de segurança e do índice de potencial de
liquefação. A determinação do valor de CSR baseou-se nos valores propostos no EC-8 para a região em
análise e no estado de tensão in situ, estimado pela caracterização geotécnica efetuada no local.

ABSTRACT

In this paper an evaluation of the liquefaction resistance of soils situated in the harbour of Aveiro is
presented. This analysis is based on the results of a significant number of in situ tests, such as seismic
piezocone test (SCPTu) and seismic dilatometer test (SDMT), including the measurement of shear wave
velocity (Vs). This analysis was performed to estimate the Cyclic Resistance ratio (CRR) which was
compared with the Cyclic Stress Ratio (CSR), enabling the determination of the safety factor against
liquefaction and the Liquefaction Potential Index. The evaluation of the CSR was based on the values
proposed in the Eurocode 8 (EC-8) for the region. In situ stress state was estimated by geotechnical
investigation performed on site.

1- INTRODUÇÃO

A liquefação dos solos é uma das consequências da atividade sísmica que mais deve preocupar os
projetistas de estruturas fundadas em solos granulares. De um modo geral, a liquefação pode ser
entendida como sendo o fenómeno que conduz à diminuição drástica da resistência efetiva e da rigidez
de um material (conduzindo mesmo à sua anulação), induzida por acréscimos de poro-pressões, sob
solicitações cíclicas ou monotónicas, em condições não drenadas. Este fenómeno está mais
frequentemente associado a solos granulares saturados que durante o corte apresentam tendência para
diminuírem de volume. A ocorrência do fenómeno provoca normalmente consequências catastróficas
como sejam o colapso de barragens, instabilidade de taludes, elevados assentamentos de estrutura s,
colapso de estruturas de contenção entre outros.

Robertson e Wride (1998) consideraram que a ocorrência do fenómeno da liquefação pode ser
desencadeada por dois tipos de solicitações: por carregamentos cíclicos, que promovem a designada
liquefação cíclica, ou por um aumento monotónico do carregamento, que pode conduzir ao aparecimento
da liquefação estática. Deve-se salientar que a instabilidade cíclica pode ter distintos mecanismos: fluxo
ou escoamento por liquefação, só válido em solos soltos a levemente densos, ou mobilidade cíclica, que
pode ocorrer em solos densos , vibrados ou sobreconsolidados (sobreadensados), e reflete-se em
significativas deformações sem anulação total das tensões efetivas (Figura 1).
e

Fluxo a volume
constante
Solos soltos - contractivos

Fluxo por liquefação Carregamento


ess monotónico
Mobilidade
cíclica CSL/SSL

Solos densos - dilatantes


s’3
s’3 ss s’30 s’30

Figura 1 - C ondições de ocorrência de liquefação em amostras de areia saturada (sg. C astro G, e Poulos S.J., 1977) .

A distinção do modo de liquefação devido à tipologia da solicitação está bem documentada na


bibliografia. Casos de carregamentos cíclicos que conduzem à designada liquefação cíclica foram
apresentados, entre outros, por Hyodo et al. (1994), Yamamuro e Covert (2001), Robertson e Wride
(2008). O caso do aumento monotónico do carregamento que conduz à liquefação estática foi
apresentado, entre outros, por Yamamuro e Lade (1997), Olson et al. (2000), Bedin et al. (2012), Viana
da Fonseca (2013) e Schnaid et al. (2013).

Boulanger e Idriss (2007) mostraram que, para fins práticos, os solos podem ser divididos em solos
areno-siltosos, mas também em solos argilosos. Os primeiros são suscetíveis de sofrer liquefação cíclica
ou estática, enquanto os solos argilosos têm tendência a experimentar escoamentos, quando
desenvolvem liquefação por fluxo. Em geral, todos os solos sofrem deformações quando são sujeitos a
solicitações sísmicas, os sismos impõem um carregamento cíclico muito rápido e os solos respondem em
condições não drenadas, desenvolvendo excessos de poro-pressão que, para pequenas deformações, são
quase sempre positivas.

Em síntese, as condições para o aparecimento destas diferentes condições de rotura por liquefação
podem ser enunciadas da seguinte forma:

a) Mobilidade cíclica

- Este tipo de fenómeno ocorre em solos mais densos que o estado crítico, requerendo carregamento
cíclico rápido em condições não drenadas, durante o qual pode ou não ocorrer a reversão das tensões de
corte. Ocorre quando a tensão de corte estática é inferior à resistência no estado permanente.

- Podem acumular-se grandes deformações durante o carregamento cíclico, mas estas geralmente
estabilizam no fim da solicitação. Os movimentos resultantes são devidos a causas externas e ocorrem
exclusivamente sob carregamento cíclico.

- Podem ocorrer na maior parte dos solos granulares (particularmente arenosos) saturados, desde que a
carga cíclica seja suficientemente grande em magnitude e duração.

- Os solos argilosos geralmente não experimentam liquefação cíclica e as deformações são geralmente
pequenas, devido à natureza coesiva dos solos.

b) Liquefação por fluxo

- Ocorre apenas em solos que sofrem amolecimento durante o corte , logo soltos ou pouco densos .

- Requer uma resposta de amolecimento durante o corte não drenado, resultando num comportamento
de tensão de corte constante a tensão efetiva constante.

- Requer tensões de corte in situ que sejam superiores à resistência residual ou ao valor mínimo da
resistência ao corte não drenada. Ou seja, ocorre quando as trajetórias de tensões se situam acima do
ponto no estado permanente (ou crítico).

- Tanto o carregamento monotónico como o ca rregamento cíclico podem desencadear o fenómeno de


liquefação de fluxo.

- Para que ocorra a rotura da estrutura de um solo, como exemplo é o caso de taludes, um volume
suficiente de material deve sofrer amolecimento. A rotura resultante pode ser do tipo deslizamento ou
um escoamento, dependendo das características do material e da geometria do terreno.

- Pode ocorrer em qualquer solo saturado metaestável, como sejam depósitos de solos finos não coesivos
muito soltos, argilas muito sensíveis e depósitos de sedimentos siltosos.
2- CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE INVESTIGAÇÃO

2.1- Condições do terreno

Na região do porto de Aveiro situam-se importantes unidades industriais que estão sujeitas a riscos
importantes, se submetidos a sismos de magnitude apreciável (Figura 2). Na área de implantação dessas
unidades os solos de fundação dizem respeito a espessas camadas arenosas intercaladas por camadas de
natureza lodosa por vezes lenticulares e outras de possança apreciável.

Em termos geológicos, os solos aí situados são parte constituinte da unidade geológica “Depósitos
Modernos” e caracterizam-se como sendo depósitos aluvionares recentes (idade Holocénica), cuja génese
está associada aos processos de preenchimento por aluviões finas dos vales, por vezes muito profundos,
escavados pelas fases regressivas que antecederam a transgressão pós -glaciária em curso. Estes
sedimentos apresentam-se, quase invariavelmente, com uma coloração parda -escura a negra, por vezes
com tonalidades acastanhadas. São sedimentos predominantemente silto-argilosos (por vezes, algo
arenosos) por vezes com matéria orgânica.

Figura 2 – Localização do local em estudo: Gafanha da Nazaré, Aveiro - GSP ( N: 40º 39,194’ ; S: 8º 42,404’)

2.2- Ações sísmicas locais

De acordo com o Eurocódigo 8 (EC-8) e os seus anexos nacionais NP -EN 1998-1 e NP-EN 1998-5, foram
consideradas as condições sísmicas para o local, constantes do Quadro 1.

Quadro 1 - C aracterização sísmica de Aveiro (EC -8).


Ação sísmica do Tipo 1 Ação Sísmica do Tipo 2
Zona sísmica 1.6 2.4
Período de retorno de referência, T NCR (anos) 821 821
Magnitude de momento, Mw 7,3 4,4
Aceleração máxima de referência, a gR (m/s2) 0,35 1,10

3- AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À LIQUEFAÇÃO

A avaliação da possibilidade de iniciação (espoletamento) do fenómeno da liquefação, constitui


normalmente uma das principais tarefas de previsão de estabilidade de estruturas, fundadas em maciços
terrosos, que possam vir a ser sujeitas a solicitações sísmicas. Esse trabalho é normalmente feito com
recurso a ensaios de laboratório ou ensaios de campo.

A utilização de ensaios de laboratório para averiguação da resistência à liquefação fica normalmente


confinada aos solos finos, normalmente os menos suscetíveis de sofrer liquefação, já que nos solos
granulares é conhecida a muito grande dificuldade em obter amostras de boa qualidade e em executar
ensaios cíclicos, em especial em equipamento de corte simples. Consequentemente, o recurso a ensaios
in situ constitui uma prática dominante na averiguação da ocorrência do fenómeno de liquefação. Neste
domínio destacam-se os ensaios SPT (Seed et al. 1982), CPTu (Robertson and Wride, 1998), DMT
(Monaco et al., 2005, Tsai et al., 2009, Robertson, 2012 ) e PMT (Briaud, 2013), bem como os que
permitem determinação da velocidade de propagação de ondas de corte , Vs (Andrus e Stokoe, 2000), um
parâmetro crescentemente utilizado para estes estudos (Fonseca, 2009, Rocha, 2010, Rocha e Viana da
Fonseca et al., 2011, Soares et al. 2011, Viana da Fonseca e Soares, 2012).

Seed e Idriss (1971) desenvolveram uma metodologia, designada por “Procedimento Simplificado”, para
avaliar a resistência à liquefação. Esta metodologia, apesar de ter sofrido atualizações e
aperfeiçoamentos ao longo do tempo, constitui ainda hoje um padrão na avaliação do potencial de
liquefação dos solos não coesivos. O método baseia -se na avaliação de duas variáveis fundamentais:

a) A ação sísmica sobre a camada de solo, expressa em termos de CSR 7,5 – Razão de tensões
cíclicas, para uma magnitude padrão de 7,5;

b) A resistência à liquefação do solo, expressa em termos de CRR - Razão de resistência cíclica à


liquefação, que pode ser determinada em ensaios em laboratório sobre amostras indeformada ou
em modelos reduzidos, ou é relacionada com as características geomecânicas deferidas de índices
de estado (à luz de princípios teóricos, como a mecânica dos estados críticos – Viana da Fonseca,
2013) ou índices de comportamento inferidos de ensaios in situ, com os já referidos cone -
penetrómetros ou pressio-dilatómetros (muitas vezes traduzidos em “ábacos de risco”, nem
sempre convergentes – Viana da Fonseca, 2012).

A segurança em relação à liquefação é expressa mais correntemente pela determinação do fator de


segurança (FL), que, em cada camada de solo em análise, se traduz simplificadamente por:
𝐶𝑅𝑅
𝐹𝐿 = 𝐶𝑆𝑅 [1]
7,5

4- AVALIAÇÃO DA RAZÃO DE TENSÕES CÍCLICAS (CSR)

A avaliação do valor de CSR foi efetuada de acordo com a proposta de Seed e Idriss (1971), tendo -se
para tal recorrido à expressão:
𝑎 𝑚𝑎𝑥 𝜎′𝑣0 1 1
𝐶𝑆𝑅 7,5 = 0,65 ( )( ) 𝑟𝑑 ( )( ) [2]
𝑔 𝜎𝑣0 𝑀𝑆𝐹 𝐾𝜎

a max – aceleração horizontal de pico na superfície do terreno gerado pela ação sísmica.
g – aceleração da gravidade.
sv0 – tensão vertical total à profundidade considerada.
s’v0 – tensão vertical efetiva à profundidade considerada.
rd – coeficiente de redução de tensões que tem em consideração a flexibilidade da coluna de solo.
MSF – fator de escala de magnitude
K s - fator de correção do nível de tensão efetiva

O valor do fator rd foi avaliado de acordo com a proposta formulada por Idriss (1999), que estabelece o
seguinte:
𝑧 𝑧
𝑟𝑑 = 𝑒𝑥𝑝 [(−1,012 − 1,126𝑠𝑖𝑛(11,73 + 5,133))+ (0,106 + 0,118𝑠𝑖𝑛 (11,28 + 5,142))𝑀] [3]

C om:
z – profundidade (m)
M – magnitude de momento

Várias relações entre o fator de escala da magnitude (MSF) e a magnitude de momento do sismo de
referência têm sido propostas (Seed e Idriss, 1982; Idriss, 1999; Youd et al. 2001). A proposta utilizada
neste trabalho é a constante do trabalho de Idriss (1999) que sugeriu que o fator de escala de magnitude
se pode definir como:
𝑀
𝑀𝑆𝐹 = 6,9 exp (− ) − 0,058 ≤ 1,8 [4]
4

O efeito da tensão efetiva de confinamento sobre o CRR foi analisado por vários autores, designadamente
por Vaid e Sivathayalan (1996), Hynes e Olsen (1999), Vaid et al. (2001), Idriss e Boulanger e (2004,
2008). Estes últimos autores utilizaram a teoria dos estados críticos (TEC) para relacionar os efeitos
combinados de Dr e s’v0 sobre CRR, resultando desse trabalho uma expressão para o fator Ks (fator de
correção do nível de tensão efetiva), a qual se utilizou no presente trabalho:
𝜎′𝑣0
𝐾𝜎 = 1 − 𝐶𝜎𝑙𝑛 [ ] ≤ 1,1 [5]
𝑝𝑎

1 1
𝐶𝜎 = ≅ ≤ 0,3 [6]
18,9−17,3𝐷𝑅 18,9−3,1[(𝑉𝑆1) 𝑐𝑠/100]1,976

Deve-se salientar que estas correções vêm sendo revistas, sendo notório que há algum efeito da
densidade nesta lei de dependência como os fatores estado. Ou seja , resultados de um número exaustivo
de ensaios de corte simples e triaxiais cíclicos sobre amostras de areias e siltes , mostram que com o
aumento da tensão de confinamento a compressibilidade não aumenta, contraria ndo as bases da TEC, tal
se devendo a efeitos do rearranjo da fábrica (organização) das partículas por efeito da rotação das
tensões principais (Soares et al., 2014).

5- AVALIAÇÃO DA RAZÃO DA RESISTÊNCIA CÍCLICA (CRR)

A determinação do valor de CRR permite estimar a capacidade do solo para resistir à liquefação. Como se
disse antes, esta determinação pode ser efetuada por duas vias, ou por recurso a ensaios de laboratório,
ou através da execução de ensaios in situ. Várias técnicas de campo têm sido utilizadas na avaliação da
resistência à liquefação, designadamente: sondagens com ensaios SPT, ensaios CPTu, ensaios DMT e PMT,
ensaios BPT (Becker Penetration Test, uma variante do ensaios SPT para solos muito grosseiros) e ainda
medições da velocidade propagação das ondas de corte (V s), muitas vezes associadas à execução de
ensaios SCPTu e SDMT. O trabalho realizado foi desenvolvido em duas fases distintas (primeira fase 1A e
1B e segunda fase 2), as quais se relacionaram com as fases construtivas do empreendimento, nas quais
foram utilizadas várias destas metodologias, designadamente: Ensaios SCPTu+CPTU (5+3) e Ensaios
SDMT+DMT (2+4), para além de uma vasta campanha de sondagens com ensaios SPT e de trabalho
laboratorial.

A Figura 3 ilustra a distribuição dos ensaios no terreno e a Figura 4 apresenta um perfil lito -estratigráfico
interpretativo.

+ SCPTu3-1A
+ SCPTu1-1A
+ CPTu2-2
+ DMT2-2
+ DMT1-2
C + CPTu1-2
FASE 2 + SCPTu2-1A
+ DMT1-1B

+ SCPTu2-1B FASE 1A
+ CPTu-1B

+ DMT2-1B
+ DMT4-1B

+ SCPTu3 C'
+ DMT3-1B FASE 1B

Figura 3 – Distribuição dos ensaios in situ executados no terreno em estudo, na primeira fase (1A e 1B) e na segunda.
Cota 6 6 Cota
(m) 4 4 (m)
2 2
0 0
-2 -2
-4 -4
-6 -6
-8 -8
-10 -10
-12 -12
-14 -14
-16 -16
-18 -18
-20 -20
-22 -22
-24 -24
-26 -26
-28 -28
-30 -30
-32 -32
-34 -34
-36 -36
-38 -38
-40 -40
-42 -42
-44 -44
-46 -46
C 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 C`
Distância (m)
PDL12 SCPTU2 S4 S3 PDL6
UNIDADES
Areias limpas por vezes com siltes e elementos Areias e areias siltosas
grosseiros (conchas e pequenos seixos)
Areias lodosas/Lodos arenosos Argila sobreconsolidada (argila do Cretácico)

Lodos

Figura 4 – Perfil lito-estratigráfico (C -C ’) interpretativo da área em investigação.

5.1- Ensaios CPTu

Robertson (2010) faz a síntese de um extenso e profundo trabalho desenvolvido neste domínio no qual
apresenta uma metodologia de avaliação da resistência à liquefação, baseada na execução de ensaios
CPTu, a qual foi seguida neste trabalho e se descreve a seguir.

Foram primeiramente determinados os parâmetros constantes da carta de identificação de


comportamento (SBT) definidos por Robertson (1990).
𝑄𝑡 = (𝑞𝑡 − 𝜎𝑣0 )/𝜎′𝑣0 [7]
𝐹𝑟 = [𝑓𝑠/𝑞𝑡 − 𝜎𝑣0 ]100% [8]

Avaliação destes parâmetros permitiu de seguida avaliar o índice de classificação Ic definido por
Robertson e Wride (1998).

𝐼𝑐 = [(3,47 − 𝑙𝑜𝑔𝑄𝑡 )2 + (𝑙𝑜𝑔𝐹𝑟 + 1,22)2]0,5 [9]

A classificação do solo por intermédio do parâmetro I c consta do seguinte:


Ic ≤ 1,31 – Areia com seixos a areia densa

1,31< Ic ≤ 2,05 – Areia limpa a areia siltosa


2,05 < Ic ≤ 2,60 – Areia siltosa a silte arenoso
2,60 < Ic ≤ 2,95 – Silte argiloso a argila siltosa

2,95 < Ic ≤ 3,60 – Argila siltosa a argila


Ic > 3,60 – Solos orgânicos

Foi igualmente avaliado o parâmetro de resistência de ponta normalizado, o qual se baseou no trabalho
de Zhang et al. (2002), o qual integra a variável n, da seguinte forma:

𝑄𝑡𝑛 = [(𝑞𝑡 − 𝜎𝑣0)/𝑝𝑎 ](𝑝𝑎/𝜎′𝑣0)𝑛 [10]


𝑛 = 0,38(𝐼𝑐) + 0,05(𝜎′𝑣0/𝑝𝑎 ) − 0,15 ;𝑐𝑜𝑚 𝑛 ≤ 1,0 [11]

Robertson (2009) apresentou uma carta de projeção dos resultados Q tn-Fr onde se identificam as zonas
de potencial liquefação e/ou amolecimento cíclico (fruto de mobilidade cíclica), a qual pode ser utilizada
como um guia de definição dos procedimentos de geotécnico s a ser utilizados na avaliação do potencial
de liquefação e perda de resistência em diferentes tipos de solos.

Os solos correntes (os que resultaram de processos erosivos de rochas e que foram transportados e
sedimentaram, sem cimentações secundárias – como laterizações) podem ser classificados em dois
grandes grupos: solos finos (não drenam facilmente) e solos granulares (que drenam rapidamente em
condições de carregamento correntes). Nestes dois grupos distinguem-se dois comportamentos, os solos
compactos (densos) e os solos soltos. Aqueles tendem a ser dilatantes sob carregamento, enquanto os
segundos são contrácteis, se drenarem atempadamente, ou a desenvolver excessos de pressões neutras
(poro-pressões) negativas, por um lado, e positivas, por outro, se não houver drenagem. Assim,
podemos considerar quatro (4) grupos de comportamentos - zona A1: materiais com comportamento
drenado-dilatante; zona A2: drenado-contráctil; zona B: não drenado-tendencialmente dilatante, logo
apresentando excessos de pressão neutra negativos; e, zona C: não drenado-tendencialmente contráctil,
com excessos de pressão neutra positivos (Figura 5). Como se pode ver por esta figura, é de grande
utilidade contar com os resultados de ensaios in situ para identificar estes grandes grupos de
comportamento.

A Figura 6 ilustra os resultados dos ensaios CPTu executados, projetados nessa carta. Da análise desta
figura pode observar-se que a larga maioria dos pontos projetam-se nas áreas A1 e A2, reservadas aos
solos de natureza granular, os quais constituem grande parte do perfil do terreno em investigação. Os
solos situados nas zonas A1 e A2 são suscetíveis de sofrer liquefação por mobilidade cíclica. Contudo, os
solos mais soltos situados na zona A2 apresentam maior suscetibilidade de s ofrer perda de resistência e
fluxo por liquefação. Para além destes pontos, outros situam-se ainda nas zonas B e C, os quais
representam os solos finos de natureza lodosa, presentes em algumas camadas mais ou menos contínuas
que intercalam as camadas mais espessas de natureza areno a areno -siltosa. Estes materiais são
suscetíveis de sofrer liquefação por amolecimento cíclico (ex. concentração de tensões se o pico de
resistência sísmico ocorrer após grandes deformações). No entanto os solos moles situados na zona C
poderão ser mais sensíveis e suscetíveis de sofrer perda de resistência e possível fluxo por liquefação.
Recomenda-se normalmente para os materiais situados nas zonas B e C que se proceda a estudos de
suscetibilidade à liquefação que integrem o des envolvimento de ensaios de laboratório, até porque neste
caso é possível a obtenção de amostras de boa qualidade.
zona A1

zona A2 zona B

zona C

Figura 5 – Grupos de comportamento baseados no C PTu (Robertson and Wride, 1998)

Fa s e - 1A Fa s e-1B Fa s e-2
1000 1000 1000
SCPTu1-1A CPTU1-1B CPTu1-2
SCPTU2-1A SCPTU2-1B
CPTu2-2
SCPTU3-1A SCPTu3-1B

100 100 100


Qtn
Qtn

Qtn
10 10 10

1 1 1
0,1 1 10 0,1 1 10 0,1 1 10
Fr (%) Fr (%) Fr (%)

Figura 6 – Resultados dos ensaios C PT (2 fases), projetados na carta de potencial de liquefação de Robertson (2010).

Se a identificação das características granulométricas dos solo s constitui um elemento chave no estudo
da sua suscetibilidade à liquefação, também o estado de tensão in situ, a que o mesmo está sujeito, e as
suas características de compacidade/consistência constituem uma peça importante nessa avaliação.
Neste contexto, o parâmetro de estado () estabelece-se como uma forma adequada de efetuar essa
avaliação. Robertson (2009) desenvolveu uma metodologia de avaliação de  através da definição de
contornos para diferentes valores do parâmetro de estado na carta normalizada do tipo de
comportamento do solos (SBTn) Q tn-FR. Dado que solos do lado seco do estado crítico/estável (<0)
apresentam tendência dilatante , e terão por consequência maiores deformações durante o corte não
drenado, enquanto que os solos que se posicionam no lado húmido do estado crítico/estável (>0) serão
contrativos e sofrerão deformações limitadas quando sujeitos a corte não drenado, é possível prever o
comportamento dos solos quando sujeitos a solicitações sísmicas. Jefferies e Been (2006) sugerem o
valor de =-0,05 como marcador da distinção de comportamentos. Assim, quando o solo apresenta um
parâmetro de estado >-0,05 é expectável que este sofra amolecimento e perda de resistência durante o
corte não drenado, podendo ocorrer liquefação por fluxo (escoamento). Solos que apresentem valores de
<-0,05 poderão sofrer instabilidade por mobilidade cíclica. Tendo em consideração estes aspetos
projetaram-se os resultados na carta de Robertson o que permitiu prever as tendências de
comportamento dos materiais em estudo se sujeitos a solicitações sísmicas relevantes (Figura 7).
1000 Fa s e - 1A 1000 Fa s e-1B 1000 Fa s e-2
SCPTu1-1A CPTU1-1B CPTu1-2
SCPTU2-1A SCPTU2-1B CPTu2-2
SCPTU3-1A SCPTu3-1B psi = -0,05
psi = -0,05 psi = -0,05
100 100 100

Qtn

Qtn
Qtn

10 10 10

1 1 1
0,1 1 10 0,1 1 10 0,1 1 10
FR (%) FR (%) FR (%)

Figura 7 – Avaliação do valor do parâmetro de estado  através dos resultados dos ensaios SC PTu (2 fases),
projetados na carta de Robertson (2009).

A análise da Figura 7 permite verificar que a maioria dos valores estimados de  situa-se abaixo do valor
de -0,05. De facto, dum valor total de 15056 pontos, correspondentes a 150,56 m de penetração, 71%
dos pontos correspondem a valores de <-0,05, o que permite antever que a ocorrerem fenómenos de
instabilidade, este terá maior probabilidade de ser do tipo mobilidade cíclica. Evidentemente que esta
ocorrência depende naturalmente da tipologia da ação sísmica, designadamente: número de ciclos,
duração da ação e amplitude.

É reconhecida a grande influência que os finos dos solos desempenham no seu comportamento, quando
sujeitos a solicitações que conduzam à ocorrência de fenómenos de liquefação . Este aspeto é
normalmente marcado pelo parâmetro I c (um índice de comportamento), o qual, segundo Youd et al.
(2001), permite quantificar um conjunto de situações de relevo, designa damente:

- Ic>2,6 – o solo é classificado como tendo um comportamento de solo argiloso. Neste caso o teor em
argila é normalmente de tal forma elevado que impede a ocorrência de qualquer possibilidade de
liquefação. Contudo, neste caso dever-se-ão desenvolver ensaios complementares que permitam
despistar a ocorrência desta possibilidade. Para projetos correntes o seguinte critério é suficiente para
analisar a possibilidade de ocorrência de liquefação , a qual só poderá ocorrer caso se verifiquem
simultaneamente as condições seguintes:

a) O teor em argila (partículas de dimensão inferior a 5) ser menor que 15%;

b) O limite de liquidez w L ser inferior a 35%;

c) O teor em água natural w nat ser maior do que 0,9w L.

- Ic<2,6 – o solo é eminentemente granular. Neste caso o teor em finos poderá influenciar de forma
decisiva a análise de suscetibilidade à liquefação. Neste sentido Robertson e Wride (1998) sugeriram a
consideração de um fator de correção da resistência de ponta normaliza da que faça adequar o material
penetrado a um solo equivalente, correspondente a uma areia limpa (Q tn,cs), tendo proposto a seguinte
expressão:

𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 = 𝐾𝑐 𝑄𝑡𝑛 [12]

em que Kc é o fator de correção, função das características físicas do solo, combinando a influência do
teor em finos (FC), mineralogia e plasticidade, usando de novo para tal o índice de comportamento Ic, da
forma seguinte:

𝐾𝑐 = 1,0; 𝑠𝑒 𝐼𝑐 ≤ 1,64 [13]


𝐾𝑐 = 5,581𝐼𝑐3 − 0,403𝐼𝑐4 − 21,63𝐼𝑐2 + 33,75𝐼𝑐 − 17,88; 𝑠𝑒 𝐼𝑐 > 1,64 [14]

A avaliação do coeficiente de resistência cíclica (CRR) foi efetuada com base na expressão proposta por
Idriss e Boulanger (2008), o qual define o seguinte:
𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 2 𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 3 𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 4
𝐶𝑅𝑅 7,5 = 𝑒𝑥𝑝 [ +( ) −( ) +( ) − 3] [15]
540 67 80 114

A expressão só deverá ser aplicada a valores de Q tn,cs < 211. Caso Q tn,cs  211 o valor de CRR7,5 = 2.

A formulação apresentada está indicada para ser aplicada a areias limpas, ou outros solos granulares
desde que indexados a uma areia limpa equivalente.

Se os solos forem argilosos os autores propõem que se utilizem metodologias de ensaio de laboratório
que permitam uma confirmação da probabilidade, ou não, de ocorrência de liquefação . Ainda assim,
permitem-se abordagens conservativas para consideração de resistências n ão drenadas pós-liquefação.
Robertson (2010) propôs um limite inferior para a relação entre a resistência do solo liquefeito e a
resistência de penetração normalizada para a areia limpa equivalente que evita a necessidade de
extrapolação baseada na base de dados de casos históricos em que se registaram significativas quebras
de resistência – em particular não drenada. Esses casos, ocorridos em dos solos liquidificáveis, tiverem
colapsos rápidos, muitos sem pré -aviso, e as deformações resultantes foram muito grandes. Muitos
desses problemas estiveram associados a taludes de encostas onde se verificam escorregamento de
materiais de consistência quasi-líquida (“corridas de lamas”).

No caso presente há clara predominância de solos granulares, pelo que a s formulações acima indicadas
foram utilizadas na determinação da resistência à liquefação do terreno em estudo. Os resultados obtidos
encontram-se sintetizados nas Figuras 8 a 14.

Ic QtN & u2 ; u0 (kPa) CSR7,5 &CRR FL


1 2 3 4 0 200 400 600 0 0,2 0,4 0,6 0 2 4 6 8 10
0 0 0 0

2 2 2 2

4 4 4 4
u0
6 6 6 6
u2
8 8 Qtn 8 8
Z (m)

10 10 10 CSR7,3-T1
10
FL-T1
12 12 12 CSR4,4-T2 12 FL-T2

14 14 14 14
16 16 16 16
18 18 18 18
20 20 20 20

Figura 8 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio SC PTu1-1A.

Ic QtN & u2 ; u0 (kPa) CSR7,5 &CRR FL


1 2 3 4 0 200 400 600 0 0,2 0,4 0 2 4 6 8 10
0 0 0 0

2 2 2 2

4 4 4 4

6 6 6 6
u0
8 8 u2 8 8
Qtn
z(m)

10 10 10 10

12 12 12 CSR4,4-T2 12 FL-T1
CSR7,3-T1 FL-T2
14 14 14 14

16 16 16 16

18 18 18 18
20 20 20 20

Figura 9 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio SC PTu2-1A.


Ic QtN & u2 ; u0 (kPa) CSR7,5 &CRR FL
1 2 3 4 0 100 200 300 400 0 0,2 0,4 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
0 0 0 0

2 2 2 2

4 4 4 4

6 6 6 6

8 8 8 8
Z (m)

10 10 10 10
u0
12 12 u2
12 12
Qtn
14 14 14 14

16 16 16 16
CSR7,3-T1 FL-T1
18 18 18 CSR4,4-T2 18 FL-T2

20 20 20 20

Figura 10 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio SC PTu3-1A.

Ic QtN & u2 , u0 (kPa) CSR7,5 &CRR FL


1 2 3 4 0 200 400 600 0 0,2 0,4 0 2 4 6 8 10
0 0 0 0
FL=1
2 2 2 2
CSR7,3-T1 FL-T1
CSR4,4-T2 FL-T2
4 4 4 4
6 6 6 6
8 8 u0 8 8
Z (m)

u2
10 10 Qtn 10 10
12 12 12 12
14 14 14 14
16 16 16 16
18 18 18 18

20 20 20 20

Figura 11 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio SC PTu1-1B.

Ic QtN & u2 ; u0 (kPa) CSR&CRR FL


1 2 3 4 0 200 400 600 0 0,2 0,4 0 1 2 3 4 5
0 0 0 CSR7,3-T1
0
u0 CSR4,4-T2
2 2 u2
2 2
Qtn
4 4 4 4

6 6 6 6

8 8 8 8
Z (m)

10 10 10 10

12 12 12 12

14 14 14 14

16 16 16 16

18 18 18 18

20 20 20 20

Figura 12 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio SC PTu2-1B.


Ic QtN & u2 ; u0 (kPa) CSR7,5 &CRR FL
1 2 3 4 0 200 400 600 0 0,2 0,4 0 1 2 3 4 5
0 0 0 0
CSR7,3-T1 FL-T1
2 2 2 CSR4,4-T2 2 FL-T2

4 4 4 4

6 6 6 6

8 8 8 8
Z (m)

10 10 10 10
u0
12 12 12 12
u2
14 14 Qtn 14 14

16 16 16 16

18 18 18 18

20 20 20 20

Figura 13 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio SC PTu3-1B.

Ic QtN &u2 ; u0 (kPa) CSR7,5 & CRR FL


1 2 3 4 0 100 200 300 0 0,2 0,4 0 2 4 6 8 10
0 0 0 0
2 2 2 2
4 4 4 4
6 6 6 6
8 8 8 8
Z (m)

10 10 u0 10 10
u2
12 12 Qtn 12 12
14 14 14 14
16 16 16 16
CSR7,3-T1 FL-T1
18 18 18 CSR4,4-T2
18
FL-T2
20 20 20 20

Figura 14 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio SC PTu1-2.

As figuras 8 a 14 permitem verificar que os maiores problemas relativos à eventual ocorrência de


liquefação, para ambas as condições de solicitação (tipo 1 e tipo 2), ficam confinados a pontos discretos
nas camadas de natureza silto-arenosa (assinalados nos gráficos com um círculo). Fica o alerta também
para eventuais problemas nas camadas de características mais finas (silto -argilosas, correspondentes a
lodos francos) contudo neste caso dever-se-ão realizar ensaios de laboratório que confirmem esta
potencialidade.

5.2- Ensaios DMT

A utilização do dilatómetro sísmico de acordo com o procedimento proposto por Seed e Idriss (1971),
“Procedimento Simplificado”, permite a obtenção de duas formas independentes de avaliação da
resistência à liquefação (CRR). Uma delas recorre ao índice de tensão horizontal KD, resultante da
interpretação corrente dos resultados dos ensaios dilatométricos (Marchetti, 1980, Marchetti et al. 2001).
A outra, nos valores obtidos da velocidade de propagação das ondas de corte (V s) medidos durante a
execução dos ensaios SDMT. Esta mesma metodologia foi utilizada na interpretação dos resultados dos
ensaios SCPTu.

Várias correlações CRR-KD têm sido desenvolvidas nas últimas duas décadas, impulsionadas pelo
reconhecimento da sensibilidade do parâmetro K D relativamente a uma série de fatores, os quais
reconhecidamente incrementam a resistência à liquefação, designadamente: a história das tensões, o
precarregamento/envelhecimento, a cimentação e a estrutura. Para além disso, o K D relaciona-se
diretamente com a compacidade relativa e com o parâmetro de estado.

Monaco et al. (2005) apresentam um conjunto de correlações desenvolvidas para estimar CRR a partir do
parâmetro KD. Essas correlações encontram-se expressas nas projeções de CRR versus K D, segundo
curvas limite que separam domínios de possível liquefação de outros em que esse fenómeno dificilmente
ocorrerá (Figure 15a).
0.5
M = 7.5 Rey na & Chameau 1991
LIQUEFAÇÃO
0.4
Conjunto curv as
Marchetti 1982 deriv ado do CPT
CSR ou CRR

0.3
Proposta CRR-K D
(Monaco et al. 2005)

0.2 Conjunto curv as


deriv ado do SPT

0.1 Robertson & Campanella 1986


SEM LIQUEFAÇÃO

0
0 2 4 6 8 10
KD
a) b)

Fi gura 15 – a ) Curva s CRR-KD para avaliação da resistência à liquefação pelo DMT (Mo naco et a l . 2005); b) Correl a ções recentes
(Roberts on, 2012, Ts a i et a l . 2009).

A formulação apresentada por Monaco et al. (2005) é expressa pela equação [20]:

𝐶𝑅𝑅 = 0,0107𝐾𝐷3 − 0,0741𝐾𝐷2 + 0,2169𝐾𝐷 − 0,1306 [20]

Para além desta formulação outras foram atendidas neste trabalho com vista à avaliação do valor de CRR
via KD, designadamente (Figura 15 b):

Tsai et al. (2009):

𝐾 3 𝐾 2 𝐾
𝐶𝑅𝑅 = 𝑒𝑥𝑝 [ (8,8
𝐷 𝐷
) − (6,5 𝐷
) + (2,5) − 3,1] [21]

Robertson (2012):

𝐶𝑅𝑅 = 93(0,025𝐾𝐷)3 + 0,08 [22]

Os resultados obtidos relativos à avaliação da resistência à liquefação por intermédio dos vários ensaios
DMT executados, apresentam-se nas Figura 16 a 20.

ID CSR7,5 & CRR FL (Tipo1) FL (Tipo2)


0,1 1 10 0 0,2 0,4 0,6 0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5
0 0 0 0
CLAY SILT SAND 2
2 2 2
4
4 6 4 4
8 6 6
6
10
8 8 8
12
z (m)

z (m)
z (m)
z (m)

10 14 10 10
16
12 12 12
18
14 DMT1-1B 20 14 14
CSR7,5-T1 16 16
16
CSR7,5-T2
CRR Monaco et al. 2005 18 18
18
CRR Tsai et al. 2009
20 20
20 CRR Robertson 2012

Figura 16 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio DMT1-1B através do parâmetro K D.


ID CSR7,5 & CRR FL (Tipo1) FL (Tipo2)
0,1 1 10
0 0,2 0,4 0,6 0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5
0
0 0 0
CLAY SILT SAND
2 2
2 2
4
4 6 4 4
6 8 6 6
10
8 12 8 8

z (m)

z (m)
z (m)
z (m)

10 14 10 10
16
12 18 12 12

14 DMT2-1B 20 14 14
CSR7,5-T2 16 16
16 CSR7,5-T1
18 CRR Monaco et al. 2005 18 18
CRR Tsai et al. 2009
20 20
20 CRR Robertson 2012

Figura 17 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio DMT2-1B através do parâmetro K D.

ID CSR7,5 & CRR FL (Tipo1) FL (Tipo2)


0,1 1 10 0 0,2 0,4 0,6 0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5
0 0 0 0
CLAY SILT SAND 2 2 2
2
4
4 6 4 4

6 8 6 6
10
8 8 8
12
z (m)

z (m)
z (m)
z (m)

10 14 10 10

12 16 12 12
18
14 14 14
DMT3-1B 20
CSR7,5-T2
16 16 16
CSR7,5-T1
CRR Monaco et al. 2005 18 18
18
CRR Tsai et al. 2009
20 20
20 CRR Robertson 2012

Figura 18 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio DMT3-1B através do parâmetro K D.

ID CSR7,5 & CRR FL (Tipo1) FL (Tipo2)


0,1 1 10 0 0,2 0,4 0,6 0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5
0 0 0 0
CLAY SILT SAND 2
2 2 2
4
4 6 4 4
8
6 6 6
10
8 12 8 8
DMT4-1B 14
z (m)

z (m)
z (m)
z (m)

10 10 10
16
12 18 12 12
20
14 14
14
CSR7,5-T1
16 16
16 CSR7,5-T2
CRR Monaco et al. 2005 18 18
18
CRR Tsai et al. 2009
20 20
20 CRR Robertson 2012

Figura 19 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio DMT4-1B através do parâmetro K D.


ID CSR7,5 & CRR FL (Tipo1) FL (Tipo2)
0,1 1 10 0 0,2 0,4 0,6 0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5
0 0 0 0
CLAY SILT SAND 2
2 2 2
4
4 6 4 4

6 8 6 6
10
8 8 8
12

z (m)

z (m)
z (m)
z (m)

10 14 10 10
16 12 12
12
18
14 20 14 14
CSR7,5-T2
16 CSR7,5-T1
16 16
CRR Monaco et al. 2005 18 18
18 DMT2-2 CRR Tsai et al. 2009
20 20
20 CRR Robertson 2012

Figura 20 – Resistência à liquefação analisada pelo ensaio DMT2-2 através do parâmetro K D.

Tal como identificado nos ensaios CPTu também os resultados dos ensaios DMT nos conduzem à
conclusão de que os problemas de liquefação se deverão reduzir a casos pontuais situados em camadas
de natureza silto-arenosa.

5.3- Velocidade de propagação de ondas S (Vs)

A avaliação da resistência à liquefação baseada na velocidade das ondas de corte (V s) constitui uma
alternativa aos métodos de avaliação baseados nos ensaios SPT, CPTu, DMT e PMT, em especial quando
estes apresentam dificuldades de execução, o que acontece no caso de maciços cascalhentos, ou quando
existem dificuldades de acesso a equipamentos pesados e a opção por métodos sísmicos de superfície
(ex. MASW) pode ser vantajosa.

Andrus e Stoke (2000, 2003) desenvolveram uma metodologia para avaliação da resistência à liquefação
que se baseia nos valores da velocidade normalizada de propagação das ondas de corte ou distorcionais.
À semelhança de outros métodos, este requer a determinação dos dois parâmetros de ação-reação: o
primeiro correspondente ao nível de carga cíclica a que o solo é sujeito durante a solicitação sísmica,
expressa pela razão de tensões cíclicas (CSR), conforme referido no item 4; e, o segundo, a resistência
do solo à liquefação, expressa pela razão de resistência cíclica (CRR), que neste caso é função da rigidez
do solo para muito baixas deformações (dinâmica ou, também designada, inicial) e que sendo uma
relação direta com a velocidade de onda de corte normalizada do estado de tensão efetivo presente (Vs1).
Esta normalização da velocidade de onda de corte do nível das tensões efetivas in situ, à semelhança dos
valores normalizados deferidos dos outros ensaios in situ referidos (SPT – N1(60) , CPT – q c1, PMT – p L1 e
DMT – o KD também é um valor normalizado) pode fazer-se segundo Andrus e Stokoe (2000, 2003) da
seguinte forma:
𝑝 0,25
𝑉𝑠1 = 𝑉𝑠 (𝜎𝑎′ ) [23]
𝑣

V S = velocidade da onda de corte registada,


pa = pressão atmosférica (100 kPa),
s'v0 = tensão vertical efetiva (nas mesmas unidades de p a)

No caso de solos com coeficiente de impulso em repouso (K 0) significativamente diferente de zero,


Nunziata et al (2008) propõe a seguinte correção:
𝑝 0,25 0,5 0,125
𝑉𝑠1 = 𝑉𝑠 (𝜎𝑎′ ) (𝐾 ) [24]
𝑣 0

A razão de resistência cíclica (CRR) pode ser considerada como o valor de CSR que separa os estados
definidos por um determinado valor de Vs1 em que há suscetibilidade à liquefação dos estados onde tal tal
não se verifica. A base de dados relativa aos casos históricos encontra-se limitada a solos não cimentadas
do Holocénico (10.000 anos), profundidade s médias inferiores a 10 m, níveis freáticos a profundidades
entre 0,5 m e 6 m, e medições de Vs realizadas abaixo do nível freático. As curvas CRR-VS1 foram
definidos pela seguinte expressão:
𝐾𝑎1𝑉𝑠1 2 1 1
𝐶𝑅𝑅 = [ 0,022 ( ) + 2.8 (𝑉∗ −𝐾 − 𝑉∗ )] 𝐾𝑎2 [25]
100 𝑠1 𝑎1𝑉𝑠1 𝑠1

K a1 e K a2 - fatores que corrigem o efeito da idade em V s e C RR, respetivamente;


V *S1 - limite superior de V S1 para que ocorra liquefação.

O valor de Vs=210 m/s conduz a um valor de CRR de aproximadamente 0,6, o que é considerado
equivalente a um valor de NSPT=30 em areias limpas. Baseados nas correlações de N SPT – Vs e nos casos
históricos, Andrus e Stoke (2000) propuseram as seguintes condições para estimar os valores limites de
para VS1 (que designaram por V*s1), para os quais não se espera a ocorrência de liquefação:

𝑉𝑠1∗ = 215; (𝑚⁄𝑠 ); 𝑝𝑎𝑟𝑎 PF = 5% [26]


𝑉𝑠1∗ = 215 − 0,5(𝑃𝐹 − 5); (𝑚⁄ 𝑠 ); 𝑝𝑎𝑟𝑎 5% < PF ≤ 35% [27]
𝑉𝑠1∗ = 200; (𝑚⁄𝑠 ); 𝑝𝑎𝑟𝑎 PF > 35% [28]

Os fatores Ka1 e Ka2 são iguais a 1,0 no caso de solos não cimentados recentes (Holocénico); no caso de
solos antigos, as constantes podem ser avaliadas recorrendo às equações e medições locais Vs-NSPT
conforme proposto por Andrus e Stoke (2003).

Tendo em consideração estas formulações, foi efetuada uma avaliação da resistência à liquefação do local
em estudo, tendo por base os resultados obtidos de V s a partir dos ensaios SDMT e SCPTu executados. Os
resultados encontram-se projetados nas Figuras 21 a 25.

Vs (m/s) ID CSR7,5 & CRR FL


0 200 400 0,1 1 10 0 0,2 0,4 0,6 0 10 20
0 0 0 0
CLAY SILT SAND CSR7,5-T1
2 2 2 2
Tipo2
4 4 4 CSR7,5-T2 4
Tipo1
6 6 6 6

8 8 8 8

z (m)
z (m)
z (m)

z (m)

10 10 10 10

12 12 12 12

14 14 14 14

16 16 16 16

18 Vs-SDMT2-2 18 18 18

20 20 20 20

Figura 21 – Resistência à liquefação analisada por intermédio de V s no ensaio DMT2-2.

Vs (m/s) IC CSR7,5 & CRR FL


0 200 400 1 2 3 4 0 0,5 1 0 5 10
0 0 0 0

2 2 2 CSR7,3-T1 2
CSR4,4-T2
4 4 4 4

6 6 6 6

8 8 8 8
z (m)
z (m)
z (m)

z (m)

10 10 10 10

12 12 12 12 Tipo1
Vs-SCPTU2-1 A Tipo2
14 14 14 14

16 16 16 16

18 18 18 18

20 20 20 20

Figura 22 – Resistência à liquefação analisada por intermédio de V s no ensaio SC PTu1-1A.


Vs (m/s) IC CSR7,5 & CRR FL
0 200 400 1 2 3 4 0 0,5 1 0 5 10
0 0 0 0

2 2 2 CSR7,3-T1 2
CSR4,4-T2 Tipo1
4 4 4 4 Tipo2

6 6 6 6

8 8 8 8

z (m)
z (m)
z (m)

z (m)
10 10 10 10

12 12 12 12
Vs-SCPTU3-1A
14 14 14 14

16 16 16 16

18 18 18 18

20 20 20 20

Figura 23 – Resistência à liquefação analisada por intermédio de V s no ensaio SC PTu3-1A.

Vs (m/s) IC CSR7,5 & CRR FL


0 200 400 1 2 3 4 0 0,5 1 0 5 10
0 0 0 0

2 2 2 CSR7,3-T1 2
CSR4,4-T2
4 4 4 4

6 6 6 6

8 8 8 8

z (m)
z (m)
z (m)

z (m)

10 10 10 10

12 12 12 12

14 14 14 14

16 16 16 16
Tipo1
18 Vs-SCPTU2-1B 18 18 18
Tipo2
20 20 20 20

Figura 24 – Resistência à liquefação analisada por intermédio de V s no ensaio SC PTu2-1B.

Vs (m/s) IC CSR7,5 & CRR FL


0 500 1000 1 2 3 4 0 0,5 1 0 5 10
0 0 0 0

2 2 2 CSR7,3-T1 2
CSR4,4-T2 Tipo1
4 4 4 4
Tipo2
6 6 6 6

8 8 8 8
z (m)
z (m)
z (m)

z (m)

10 10 10 10

12 12 12 12

14 14 14 14

16 16 16 16
Vs-SCPTU3-1B
18 18 18 18

20 20 20 20

Figura 25 – Resistência à liquefação analisada por intermédio de V s no ensaio SC PTu3-1B.

Maugeri e Monaco (2006) apresentam uma comparação entre correlações de CRR-KD e CRR-VS baseadas
numa grande quantidade de registos de KD e VS obtidos da execução de ensaios SDMT em distintos
terrenos de natureza granular. Foi observado nesse trabalho que as metodologias d e avaliação de CRR
baseadas em KD e Vs geram normalmente previsões substancialmente diferentes da resistê ncia à
liquefação. Geralmente a avaliação de CRR a partir de V s mostra-se menos conservativa do que a obtida
por via de KD. Este facto deve estar relacionado com a menor sensibilidade que a s velocidades de
propagação das ondas S têm, quando comparadas com os valores de NSPT ou q t (CPTu), a variações de
estado (compacidade) dos solos granulares. Mostraram também que não existe correlação evidente entre
VS e KD nas areias, mesmo que se confrontem valores de um mesmo local.

6. ÍNDICE POTENCIAL DE LIQUEFAÇÃO (IL)

O Índice Potencial de Liquefação (IL) foi originalmente desenvolvido no Japão para estimar o potencial de
liquefação capaz de causar danos nas fundaçõe s de um determinado local (Iwasaki, 1978, 1982). Este
índice assume que a gravidade do fenómeno é proporcional:

a) à espessura da camada liquefeita;

b) à proximidade da camada da superfície da camada liquefeita;

c) depende do fator de segurança (F L) relativo ao desencadeamento da liquefação, mas apenas os solos


com FL<1 contribuem para o desenvolvimento fenómeno;

d) e que o efeito da liquefação é desprezável para profundidades superiores a 20 m.

O Índice Potencial de Liquefação define-se por:


20𝑚
I 𝐿 = ∫0 𝐹 𝑤( 𝑧) 𝑑𝑧 [29]

F = 1 – FL; se FL ≤ 1

F = 0; se FL > 1

w(z) = 10 – ½ z, com z em metros

Assim, o modo de efetuar a avaliação de I L corresponde apenas à transformação do integral definido num
somatório comutativo do produto de W e F. Neste caso W s ó depende de z e F depende do fator de
segurança FL=CRR/CSR. No trabalho apenas foram apresentadas duas propostas de avaliação; para o
CPTu a avaliação de CRR foi feita pela proposta de Seed e Boulanger (2004) e no caso do DMT pela
proposta de Monaco et al (2005).

Enquanto o “Procedimento Simplificado” originalmente desenvolvido por Seed e Idriss (1971) permite
efetuar uma avaliação do que poderá acontecer a cada elemento de solo (ou estrato, se entendermos que
este é representado por um ponto intermédio de um solo homogéneo) quando sujeito a uma solicitação
sísmica, o índice IL permite efetuar uma avaliação acerca do desempenho de toda a coluna de solo e a s
consequências que a liquefação poderá causar na superfície do solo.

A previsão das consequências que a mobilização da liquefação comporta, pode, segundo Iwasaki et al.
(1982) e mais tarde segundo Luna e Frost (1998), efetuar-se de acordo com o Quadro 2.

Quadro 2 – Risco de ocorrência de liquefação função do Í ndice Potencial de Liquefação (I L)

Risco de liquefação Muito baixo Baixo Elevado Muito elevado


I L (Iwasaki et al. 1982) I L =0 0< I L ≤ 5 5< I L ≤15 I L >15
Gravidade da ocorrência Pequena ou nula Menor Moderada Maior
I L (Luna e Frost 1998) I L =0 0< I L ≤ 5 5< I L ≤15 I L >15

Foi avaliado o Índice Potencial de Liquefação (IL) correspondente ao local em investigação por intermédio
dos ensaios CPTu e DMT executados. Para a avaliação da resistência à liquefação foi no caso dos ensaios
CPTu considerada a proposta de Idriss e Boulanger (2004) e relativamente aos ensaios DMT foi
considerada a proposta de Monaco et al. (2005), atendeu-se ainda às duas tipologias da ação sísmica,
tipo 1 e tipo 2). Os resultados obtidos apresentam-se nas Figuras 26 e 27.
IL (T1) IL (T2)
0 1 2 3 4 5 6 0 2 4 6
0 0

2 2

4 4
6 6
8 8
SCPTu1-1A
10 10
SCPTu2-1A
12 SCPTu1-1A
12 SCPTu3-1A SCPTu2-1A
14 CPTu1-1B 14 SCPTu3-1A
SCPTu2-1B CPTu1-1B
16 16
SCPTu2-1B
SCPTu3-1B SCPTu3-1B
18 18
SCPTu2-2 SCPTu2-2
20 20
a) b)

Figura 26 – Índice potencial de liquefação (IL) avaliado a partir dos ensaios CPTu, quando sujeitos a: a) Ações sísmicas
do tipo 1 (T1); b) Ações sísmicas do tipo 2 (T2).

IL (T1) IL (T2)
0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6
0 0
2 2
4 4
6 6
8 8
z (m)

z (m)

10 10
12 12
14 DMT4-1B(T1) 14 DMT4-1B(T2)
16 DMT3-1B(T1) 16 DMT3-1B(T2)
DMT2-1B(T1) DMT2-1B(T2)
18 18
DMT1-1B(T1) DMT1-1B(T2)
20 20
a) b)

Figura 27 – Índice potencial de liquefação (IL) avaliado a partir dos ensaios DMT, quando sujeitos a: a) Ações sísmicas
do tipo 1 (T1); b) Ações sísmicas do tipo 2 (T2).

Como pode ser observado nas Figuras 25 e 26 os valores de IL calculados mostraram-se sempre
inferiores a 5 o que sugere que o risco de ocorrência de liquefação é diminuto, assim como os eventuais
danos nas fundações das estruturas situadas neste local deverão ser reduzidos, caso estas sejam sujeitas
a ações sísmicas da mesma ordem de grandeza das ações sísmicas de referência consideradas no EC -8
para esta região.

7. CONCLUSÕES

A avaliação da resistência à liquefação dos solos de fundação da estrutura industrial da Prio -Martifer, na
região do porto de Aveiro, foi efetuada com base no “Procedimento Simplificado” proposto por Seed e
Idriss (1971). A avaliação da razão de tensões cíclicas (CSR) foi realizada com base na caracterização
sísmica de referência proposta pelo EC-8 para o local. A avaliação da razão da resistência cíclica (CRR) foi
efetuada a partir de metodologias distintas que integraram a realização de ensaios CPTu, DMT e a
determinação da velocidade de propagação de ondas de corte. Os resultados obtidos permitem concluir o
seguinte:

- Os solos que compõem o perfil do terreno dizem respeito sobretudo a camadas arenosas intercaladas
por finas camadas lodosas. As camadas a renosas mostram que a ocorrer um fenómeno de liquefação
este deverá ser fundamentalmente do tipo de mobilidade cíclica. As camadas lodosas poderão sofrer
escoamento por liquefação;

- Apesar do potencial de liquefação dos solos do local em estudo ser releva nte, as condições de reduzida
suscetibilidade sísmica da região fazem com que a ocorrer problemas de liquefação eles deverão ficar
limitados a zonas muito localizadas do maciço;
- As diferentes técnicas utilizadas de ensaios in situ (CPTu, DMT, Vs) e diferentes procedimentos de
avaliação da razão da resistência cíclica, mostram a existência de boa concordância dos resultados
obtidos. No caso dos materiais de índole argilosa essa avaliação deverá ser confirmada coma a execução
de ensaios de laboratório. No caso dos materiais arenosos, a avaliação da resistência à liquefação por
intermédio de procedimentos baseados na velocidade de propagação das ondas de corte mostra -se
menos conservativa. Esse fato deverá relacionar-se com a menor sensibilidade de Vs a variações da
compacidade dos materiais, parâmetro que é determinante no controlo da ocorrência de liquefação.

- A determinação do Índice Potencial de Liquefação (I L) confirma as expectativas anteriores, atribuindo


aos solos que compõe o terreno em estudo riscos de ocorrência de liquefação baixos e na eventualidade
de ocorrerem danos nas estruturas aí localizadas eles serão pouco severos.

- Os riscos ainda que diminutos de ocorrência de fenómenos de liquefação no local em estudo deverão ter
sido eliminados, dado que os solos de fundação das estruturas foram sujeitos a tratamento com a
execução de uma malha de colunas de brita.

AGRADECIMENTOS

Os autores desejam agradecer à firma MARTIFER a disponibilização do terreno de investigação e as


condições de trabalho criadas.

Este trabalho enquadra-se nos trabalhos do CEC, centro de investigação da FCT na FEUP, e foi fin anciado
parcialmente pelo projeto PTDC/ECM/103220/2008, enquadrado no QREN da Comissão Europeia
(UE/FEDER), através do Quadro Operacional para Factores Competitivos – COMPETE.

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