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Eleições Autárquicas em Moçambique 2023
Eleições Autárquicas em Moçambique 2023
Introdução
Essa descentralização do poder, segundo referiu o Professor Gilles Cistac, estava mais
ligada ao poder local (assembleia) que segundo o acadêmico deveria ser um órgão
autárquico eleito por sufrágio universal na circunscrição territorial a ser governada e
que seria dotado de poderes deliberativos no seu território não dependendo mais dos
órgãos locais do Estado, mas sim estando sujeitos a tutela do Estado (CISTAC, 2012).
Neste contexto, o país deu início a um processo de modificações no seu quadro jurídico-
politico baseada em reformas dos órgãos locais do Estado, descentralização
administrativa que foi sustentada pela aprovação da Lei nº 3/94, de 13 de Setembro que
aprova o quadro institucional dos distritos municipais, a conversão dos distritos
municipais em distritos cidades aprovada pela Lei nº 2/97, de 18 de Fevereiro, que
Aprova o quadro Jurídico para a implantação das autarquias locais e a implantação de
municípios no território nacional pela Lei nº 10/97 de 31 de Maio que cria os municípios
de cidades e vilas em algumas circunscrições territoriais.
NOÉ (s/a) citado por Matundulo (2017) refere que em 2003 tiveram lugar as segundas
eleições autárquicas, igualmente disputadas em 33 municípios, mas desta vez com a
participação de todos os partidos, incluindo a RENAMO, que saiu vencida com a
conquista de apenas 9,09% de municípios contra os 87,87% de municípios
conquistados pela FRELIMO. Nestas eleições há que destacar o facto de, pela primeira
vez, um partido diferente da FRELIMO ter assumido a administração de partes
importantes do território, com uma vitória assinalada na Beira por um partido não
dominante, neste caso a RENAMO.
Após estas eleições, seguiram-se as de 2013, que contaram com a adição de mais 10
municípios totalizando 53, os mesmos disputados nas eleições de 2018. Importa referir
que nas eleições de 2013 a RENAMO não participou pelos mesmos motivos alegados
nas primeiras eleições realizadas em 2008.
Análise às eleições autárquicas de 2013
Para a activista social, Conceição Osório, as eleições ocorreram primeiro num contexto
de pós-conflito armado que originou um ambiente de instabilidade politica e social
impedindo ao exercício, em igualdade de circunstâncias, dos direitos dos cidadãos de
serem eleitos para além do acesso atempado sobre o novo quadro legal aprovado meses
antes das eleições, ou seja, em Agosto de 2018; e, depois, numa situação em que se
verificou a bipolarização no debate público sobre as negociações para a paz, o que
influenciou de forma negativa a intervenção de outros partidos políticos que se
apresentaram às eleições num contexto desfavorável (OSORIO, 2019).
Igualmente, a RENAMO anunciou que vai criar um “Governo Sombra” para fazer face
às eleições de 2023, propondo-se a repescar o velho instrumento de fiscalização politica
adoptado pela primeira vez em 2005, indo desta vez além do Governo Central
acompanhando o novo modelo de governação descentralizada, o que significa que “vão
ser colocados em todas províncias, distritos, postos administrativos e localidades,
representantes do partido, para aos poucos se inteirarem do processo de governação
descentralizada e permitir a sua participação nas eleições autárquicas e distritais”
(Ossufo Momade, in STV Noticias de 30/03/2022).
Porém, com o aumento sistemático e introdução de novas taxas, que tem gerado uma
onda de protestos por parte dos cidadãos, pode-se antever uma disputa bastante renhida
e consequente redução do poder da FRELIMO em alguns municípios de sua maior
influencia.
Com o efeito, tal como foi observado pelo CIP (2013) citando o Conselho
Constitucional, pode haver excessos por parte da Policia da Republica de Moçambique,
na tentativa de conter eventuais intervenções dos cidadãos no sentido de verificar o
processo de apuramento e contagem de votos.
Ademais, com a já anunciada presença da oposição liderada pela RENAMO que decidiu
criar um mecanismo de fiscalização do processo eleitoral em todos os municípios, é de
esperar que se reduza significativamente a propensão a fraudes eleitorais e tentativas
de manipulação de resultados.
Conclusões
Pode-se notar que, com os recentes argumentos de falta de dinheiro para organizar as
eleições autárquicas se possa verificar um processo de recenseamento menos
abrangente nas zonas controladas pela oposição o que pode propiciar a existência de
polos de conflitos, numa altura em que tem se verificado pressões de vários grupos e
organizações, incluindo a União Europeia com vista a se reformarem as leis eleitorais
por forma a tornar os processos mais transparentes.
Porem, e de acordo com o que se pode verificar das eleições autárquicas já realizadas,
pode-se assistir a uma hegemonia na governação por parte da FRELIMO que lidera o
governo do dia, com fortes contestações eleitorais dos partidos da oposição que vêem
sistematicamente a sinalizar a ocorrência de situações de fraudes, tal como a que
obrigou a anulação dos resultados eleitorais de Gurué em 2013.
Bibliografia
OSORIO, Conceição (2019). Mulher e democracia: indo para além das quotas. O caso
das eleições autárquicas de 2018. Maputo.