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Os Maias - Roteiro de Leitura
Os Maias - Roteiro de Leitura
Gapítulos I e ll ti
Lr
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"Os Maias eram uma antiga família da Beira, sempre pouco numerosa, sem linhas colaterais, sem $r
parentelas (...)"
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" L.) tVilaçal aludia mesmo a uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes _i
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Juventude de Afonso da Maia (analepse) - "(...) fora, na opinião de seu pai [Caetano da Maia], tr
\V
U
algum tempo, o mais feroz jacobino de Portugal!" . {pag. 13}
Casamento com Maria Eduarda Runa, "/...,i uma linda morena, mimosa e um pouco adoentada."
e nascimento do filho, Pedro da Maia.
(pá9. 15)
Educação de Pedro, em lnglaterra: " (...) a mamã acudia de dentro, em terroc a abafálo numa gran-
de manta: depois, lá fora, o menino, acostumado ao colo das criadas e aos recantos estofados, tinha
medo do vento e das árvores: í.../". {pás" t8}
Morte de Maria Eduarda Runa que provocou em Pedro comportamentos antagónicos: ora saía
" todos os dias a passos de monge, lúgubre no seu luto pesado, para ir visitar a sepultura da mamã
(...)" , ou " (...) de ripanço debaixo Qo braço, com um ar velho, marchando para a igreia de Benfica.",
ora Íazia uma " vida dissipada e turbulenta, (...)" e " levado por um romantísmo torpe, procurava afo-
gar em lupanares e botequins as saudades da mamã (.. .)" . lltitçs.21"22\
tade, a razão, os respeitos humanos e empurrando-os de roldão aos abismos." {págs. ??,29"3üi
Traição e fuga de Maria Monforte: "(...) parto para sempre com Tancredo, esquece-me que nào
sou digna de ti, e levo a Maria, que me não posso separar dela."
Suicídio de Pedro e saída de Lisboa de Afonso da Maia com Carlos: " (...) Afonso encontrou seu
filho morto, apertando uma pistola na mão. (...) Daí a dias fechou-se a casa de Benfica. Afonso da
I Maia partía com o neto e com todos os criados para a Auinta de Santa Olávia." \pitg.1l\
* As páginas entre paÍênteses referem-se à edição da Colecção Mundo das Letrâs, Porto Editora, bem como à
Livros do Brasil. de 2002.
)api ulo
A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conheci-
da na r.izinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas
\-erdes. pela casa do Ramalbele ou simplesmente o Rarnalbete. Apesar deste fresco
nonre de vir.enda campestre, o Ramalbete, sombrio casarão de paredes severas, com
um renque de estreitas varandas de femo no primeiro andar, e por cima uma tímida
fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspecto tristonho de residência
Módulo EI Textos narrativos/descritivos e textos líricos
Gompreender
Explica, por palavras tuas, a origem provável do nome " Ramalhete", atribuído à
casa dos Maias.
Por que razão as " raras" pessoas que, em Lisboa, ainda se lembravam dos
Maias achavam que a família "(...) estava atrapalhada"?
Clarifica a metáfora utilizada por Vilaça Júnior na seguinte afirmação: "- Ainda
têm um pedaço de pão (...) e a manteiga para lhe barrar por cima."
ã. Nesta obra, os espaÇos físicos, para além de caracterizarem as; perSonagens que oS
habitam, são carregados de simbolismo.
,ff.t" ldentifica os espaÇos que se seguem por onde passaram alguns dos membros
da família Maia.
I n. Casa que foi habrtada durante algum tempo por Afonso da Maia i u. Ramalhete
I "
I
I
onde seu frtho, Pedro da Maia, se suicidou.
I tCt." êntr* sutrâs. SmSs"Ê?-SI e 44-§3!
l_,1
I B. Linda casa isolada no meio de um arvoredo, simples mas, h. Casa de
rimultaneamente, luxuosa, onde Carlos se instalou quando
I
Benf ica
I I
c. Casa de
. à sua desgraÇa - e lá que Carlos desespera depois de conhecer Arroios
r a verdade sobre Maria Eduarda e que Afonso da Maia morre.
Simboliza, ainda, na sua ruína, a decadência da sociedade
I
I
fisboeta e do país, em gerâ|. {ct., entre outras, págs
}. Neste excerto são referidos os "dorb varões" a que está, "agora reduzida" a família
Maia: Afonso e Carlos.
Santo Amaro - palacete inspirador do Ramalhete Toca - refugio amoroso de María Eduarda e Carlos
Afonso d a Maia
Carlos Eduardo
Módulo EI Textos narrativosidescritivos e textos líricos
V
a
vida de Carlos em Lisboa
xvlt
Capitulo I
(...)
Afonso da Maia, com o seu filho nos braços e a mulher tremendo ao lado - viu,
impassivelmente e sem uma palavra, a busca, as gavetas arrombadas pela coronha
das escopetas', as mãos sujas do malsim2 rebuscando os colchões do seu leito. O
senhor juiz de fora náo descobriu nada: aceitou mesmo ta copa um cálice de vinho,
e confessou ao mordomo "que os tempos iam bem duros...". Desde essa manhã as
janelas do palacete conservaram-se cerradas; não se abriu mais o portão nobre para
sair o coche da senhora; e daí a semanas, com a mulher e com o filho, Afonso da
Maia partia parulnglaleffa e pata o exílio.
Aí instalou-se, com luxo, para uma longa demora, nos arredores de Londres, junto
ro a Richmond, ao firndo de um pârque, entre as suaves e calmas paisagens de Surrey.
(...)
Meses depois, sua mãe, que ficara em Benfica, morria duma apoplexia: e a Íia
Fanny veio para Richmond completar a felicidade de Afonso, com o seu claro juízo,
os seus caracóis brancos, os seus modos de discreta Minerva. Ali estava ele pois no
seu sonho, numa digna residência inglesa, entre árvores seculares, vendo em redor
1s nas vastas relvas dormirem ou pastarem os gados de luxo, e sentindo em torno de si
tudo são, forte, livre e sólido, - como o amava o seu coração.
()
Somente Afonso sentia que sua mulher náo
era feliz. Pensatla e triste, tossia sempre pelas
salas. À noite sentava-se ao fogáo, suspirava e ftca-
?o va calada...
sem imagens do Senhor dos Passos, sem frades nas ruas - não lhe parecia a religião.
A alma do seu Pedrinho não abandonaria ela à heresia; - e para o educar mandou
vir de Lisboa o padre Vasques, capelão do conde de Runa.
O Vasques ensinavalhe as declinações latinas, sobretudo a carÍilha: e a face de
+s Afonso da Maia cobria-se de tristeza, quando ao voltar de alguma caçada ou das
ruas de Londres, de entre o forte rumor da vida livre - ouvia no quarto dos estudos
a voz dormente do reverendo, perguntando como do fundo duma treva:
- Quantos são os inimigos da alma?
E o pequeflo, mais dormente, lâ ia murmurando:
- Três. Mundo, Diabo e Carne...
Módulo E Textos narrativos/descritivos e textos líricos
Pobre Pedrinho! Inimigo da sua alma só havia ali o reverendo Vasques, obeso e
sórdido, affotando do fundo da sua poltrona, com o lenço do rapé sobre o joelho...
Às vezes Afonso, indignado, vinha ao quarto, interrompia a doutrina, agaffava a
mão do Pedrinho - para o levar, correr com ele sob as árvores do Tamisa, dissipar-
-lhe na grande luz do rio o pesadume crasso da cartilha. Mas a mamà acudia de
dentro, em terror, a abafâ-lo numa grande manta: depois, lâ fora, o menino, acostu-
mado ao colo das criadas e aos recantos estofados, tinha medo do vento e das âwo-
res: e pouco a pouco, num passo desconsolado, os dois iam pisando em silêncio as
folhas secas - o filho todo acobardado das sombras do bosque vivo, o pai vergando
os ombros, pensativo, triste daquela fraqueza do fiIho...
Mas o menor esforço dele para affancar o rupaz àqueles braços de mãe que o
amoleciam, àquela cartilha mortal do padre Vasques - trazia logo à delicada senhora
acessos de febre. E Afonso não se atrevia jâ a contrariar a pobre doente, tão virtuo-
sa, e que o amava tanto! (.. .)
(págs. 16-18, com supressões)
Gompreender
í. Atenta nos três primeiros parágrafos do texto.
1.Í. O que procuravam os homens que invadiram a casa de Afonso da MaiaT
1.2. Explica por que razão, embora nada tenha sido encontrado em sua casa, Afonso
se decide pelo exílio voluntário em lnglaterra.
1.3. Oue Íactores contribuíam para que Afonso estivesse " no seu sonho" {n" r3"I4}?
4. Comenta a expressividade das exclamações " Pobre senhora!" ti.2ri e " Pobre
Pedrinho!" \r.nt.
Gompreender
1. Relê os cinco primeiros parágrafos {u. l-rü}.
2, Atenta na segunda parte do excerto (" E pouco a pouco (...) acudiu o velho assustado."
).
Funcionamento da Iíngua
1. Explicita a correlação que as formas verbais presentes no excerto estabelecem
entre si.
"Fechou a porta, e veio sentar-se junto do filho que se não movera do canto do sofá
nem despregara os olhos do chão. " ü1. r-?)
terraÇo, foi pendurar-se de um trapezio armado entre as árvores, e ficou lá, balançando-se em
cadência, forte e airoso (...)"..:,.,, ,," O
U
-i
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U.
Educação de Carlos O
L{
Em Santa Olávia, Carlos é submetido a uma educação tipicamente inglesa: " (...) Coitadinho dele, U
\§
(.)
que tinha sido educado com uma vara de ferro! (...) Náo tinha a criança cinco anos já dormia num $<
U
quarto só, sem lamparina; e todas as manhãs, zás, para dentro de uma tina de água tria, (...) E outras
barbaridades. (...) parece que era sistema inglês! (...)" .
Em Coimbra, o jovem Carlos da Maia forma-se em Medicina e entrega-se a duas ligaçÕes amorosas,
começando já a revelar-se a sua tendência para o luxo e para o diletantismo (sonhos, projectos utópicos
nunca realizados). Aqui nasce a sua amizade por João da Ega, que o acompanhará ao longo da vida: "Ás
férias (...) só eram divertidas para Carlos quando trazia para a quinta o seu íntimo, o grande Joáo da Ega,
a quem Afonso da Maia se afeiçoara muito (...)" . . ,
Após o fim do curso, depois de realizar uma viagem de um ano pela Europa, instala-se em Lisboa
onde depressa os seus planos grandiosos sucumbem à inactividade, acabando por se deixar envolver
por uma vida social que há-de leválo à dispersão e ao fracasso das suas capacidades: " (...) e essa
sussurraçáo lenta de cidade preguiçosa, esse ar aveludado de clima rico, pareciam ir penetrando
pouco a pouco naquele abafado gabinete e resvalando pelos veludos pesados (...) envolver Carlos
numa indolência e numa dormência (...) espreguiçava-se - (...) termínava por decidir que aquelas
duas horas de consultório eram estúpidas!".
Capítulo III
(...)
- Então, sem avisar, Yilaça? - exclamava Afonso da Maia, chegando de braços
abertos. - Nós só o esperávamos para a semaÍra, criatural
Os dois velhos abraçatam-se; depois um momento os seus olhos encontrararr,-
-se, vivos e húmidos, e tornaram a apertat-se comovidos.
Carlos ao lado, muito sério, todo esbelto, com as mãos enterradas nos bolsos
das suas largas bragasl de flanela branca, o casquete da mesma fTanela posto de
lado sobre os belos anéis do cabelo negro - continuava a m*ar o Vilaça, que, com o
beiço trémulo, tendo Íirado a luva, limpava os olhos por baixo dos óculos.
- E ninguém a esperá-lo, nem um criado 1á em baixo no rio! - dizia Afonso. -
10 Enfim, cá o temos, é o essencial... E como você está rijo, Vilaça!
- E Vossa Excelência, meu senhor! - balbuciou o administrador, engolindo um
soluço. - Nem uma ruga! Branco sim, mas uma cara de moço... Eu nem o conhe-
cia!... Quando me lembro,aúltima vez que o vi... E cá isto! câesÍa linda florl...
la abraçar Carlos outra vez entusiasmado, mas o rupaz fugiu-lhe com uma bela
th
risada, saltou do teffaço, foi pendurar-se de um Írapézio armado entre as árvores, e
ficou lá, balançando-se em cadência, forte e airoso, gritando: "Tu és o Vilaça!"
O Vilaça, de guarda-sol debaixo do braço, contemplava-o embevecido.
- Está uma linda criançal Faz gosto! E parece-se com o pai. Os mesmos olhos.
olhos dos Maias, o cabelo encaracolado... Mas há de ser muito mais homem!
Módulo El Textos narrativos/descritivos e textos líricos r61
Compreender
cPP0BT58-1 1
Capítulo III
(...) D. Ana Silveira, a solteira e mais velha, passava pela talentosa da família, e
eÍa em pontos de doutrina e.de etiqueta uma grande autoridâde em Resende.
A viúva, D. Eugénia, limitava-se a ser uma excelente e pachorrenta senhora, de agra-
dável nutrição, trigueirota e pestanuda; tinha dois filhos, a Teresinha, a noiua de
s Carlos, uma rupariguinha magra e viva com cabelos negros como tinta, e o morgadi-
nho, o Eusebiozinho, uma maravilha muito falada naqueles sítios.
Quase desde o berço este notável menino revelara um edificante amor por
alfarrâbios e por todas as coisas do saber. Ainda gatinhava e jâ a sua alegria era estar
a um canto, sobre uma esteira, embrulhado num cobefior, folheando infiliost, com
n o craniozinho calvo de sábio curvado sobre as letras ganafais da boa doutrina; e
depois de crescidinho tinha tal propósito que permanecia horas imóvel numa cadei-
ra, de perninhas bambas, esfuracando o nariz: nunca apetecera um tambor ou uma
armai mas cosiam-lhe cadernos de papel, onde o precoce letrado, entre o pasmo da
mamà e da titi, passava dias a traçar algarismos, com a linguazinha de fora.
rs Assim na famílía tinha a sua carreira destinada: era rico, havia de ser primeiro
bacharel, e depois desembargador2. Quando vinha a Santa Olâvia, a tia Anica insta-
lava-o logo à mesa, ao pé do candeeiro, a admirar as pinturas de um enorme e rico
volume, Os Costumes de Todos os Pouos do Uniuerso. Já lâ estava essa noite, vestido
como sempre de escocês, com o plaifr de flamejante xadrez vermelho e negro
20 posto a tiracolo e preso ao ombro por uma dragona; (...) nunca lhe tiravam o boné
onde se aÍqueava com heroísmo uma rutilante pena de galo; e nada havia mais
melancólico que a sua facezinha trombuda, a que o excesso de lombrigas dava uma
moleza e uma amarelidào de manteiga, os seus olhinhos vagos e azulados, sem pes-
tanas como se a ciência lhas tivesse já consumido, pasmando com sisudez para as
25 camponesas da Sicília, e pata os guerreiros ferozes do Montenegro apoiados a esco-
L. in-folio: livro. 2. desembargador: luiz (do TribLrnal da Relação ou com assento no Tribunal de Justiça). 3. pla:.;
manta rectangular usada sobre o ombro esquerdo como parÍe da. vestimenta tradtcional escocesa.
l
Módulo E Textos narrativos/descritivos e textos líricos
Gompreender
1. Este excerto é particularmente representativo de algumas características da lingua-
gem e estilo de Eça de Oueirós.
1.1. Assinala, ao longo do texto, três momenio. que a ironia está presente.
",
primeiros parágrafos,
1.2. Faz o levantamento, nos dois de um outro recurso usado
por Eça para evidenciar a debilidade física de Eusebiozinho.
0Íicina de escrita
1. Lê, atentamente, a informaÇão contida no quadro.
E usebiozin ho desde o berço que mostrava interesse pelo saber desenvolvimento leva uma vida
ainda gatinhava e já gostava de folhear livros e inte lectu a I de devassidão
permanecer imovel livresco FALHA A VIDA
quando crescido, permanecia inactivo numa cadeira
a desenhar letras
recitava versos sem qualquer expressividade
lnglês Carlos dormia so antes dos cinco anos inf luência vida ociosa;
tomava banho em águ a fria todas as manhãs mascu lina, viola as leis
tinha uma dieta alimentar rigorosa desenvolvimento morais ao
podia correr livremente, pular, cair, subir às árvores físico, religião praticar incesto
e moral consciente m ente
secu ndá rias FALHA A VIDA
Quadro in IlrsÍória da Literatura em Portugal, Uma Pe?spectiua Didáctica, vol. 2, Âmélia Pinto PaiS, Areal Ed.
Amor, Hugo e a Evolução, tudo por seu turno flameiava no fumo do tabaco, tudo
tão ligeiro e vago como o fumo. E as discussões metafísicas, as próprias ceÍtezas
revolucionárias adquiriam um sabor mais requintado com a presença do criado de
farda desarrolhando a ceweja, ou servindo croquetes.
Módulo EI Textos narrativos/descritivos e textos líricos
45 Carlos, naturalmente, não tardou a deixar pelas mesas, com as folhas intactas,
os seus expositores de medicina. A Literatura e a Arte, sob todas as formas, absorve-
ram-no deliciosamente. Publicou sonetos no Instituto - e um artigo sobre o
Pártenon: tentou, num atelier improvisado, a pintura a óleo: e compôs contos
arqueológicos, sob a influência da Salammbó. Além disso, todas as tardes passeava
os seus dois cavalos. No segundo ano levaria um R se não fosse tão conhecido e
rico. Tremeu, pensando no desgosto do avô: moderou a dissipação intelectual, acan-
toou-se mais na ciência que escolhera: imediatamente lhe deram um accessits. Mas
tinha nas veias o veneno do diletantismo6: e estava destinado, como dizia Joào da
Ega, a ser um desses médicos literários que inventam doenças de que a humanidade
papalva se presta logo a morrer!
(págs. 88-90, com supressões)
l. rnarroquim: coúto. 2. panóplia: colecção de armas exíbidas numa parede com função decomtiva. 3. dandie
(dândi): indivíduo que se veste com elegância e requinte. 4. wbist: jogo de cartas. 5. accessit: aprovaçào.6. dile-
tantismo dedicação a uma arte ou ofício exclusivamente por pr^zeÍ; tm diletante é aquele que pratica uma arte
ou um ofício como um pâssatempo e não como um meio de vida.
Gompreender
Por que rczão a opção de Carlos pela medicina " era WUco aprovada entre os fiéis ami-
gos de Santa Olávia." $.qt?
Relê as páginas 128 e 129 de Os Maias e explica de que forma o diletantismo de Carlos
e o seu comportamento dispersivo o levam à frustração das suas potencialidades.
Relaciona os três grandes espaços a seguir mencionados com as três fases da vida
do prolagonista, Carlos da Maia:
(..). Craft e Carlos afastaram-se, ela passou diante deles com um passo soberano de deusa, (.. .)" ui
\.J
iu
L
+J
\u
Jantar nos Gouvarinhos :neste Declaração de Carlos a Maria Eduarda {p*tx. S#*}
jantal onde estão presentes, entre outros,
Carlos, Ega, Sousa Neto e os condes de
Gouvarinho, critica-se o atraso intelectual do
país e a falta de cultura dos responsáveis
pelos destinos nacionais e debate-se a
educação das mu lheres; nas palavras
sarcástrcas de Ega, a mulher tinha apenas dois
deveres'. " (...) primeiro ser bela, e depois ser
estúpida. .." , ' e duas prendas " (. ..)
:neSteepisodio,ondeVamoSenContrarRevelaçÕeSdeEgaaCarlos
Ega, Carlos, Cruges, RuÍino e Alencar, entre Revelaçóes de Carlos a Afonso ,: ..- ::,; .
CapítuloYI
(. ..)
Entravam então no peristilo do Hotel Central - e nesse momento tm coupé da
Companhia, chegando a largo trote do lado da Rua do Arsenal, veio estacar à porta.
Um esplêndido preto, já grisalho, de casaca e calção, correu logo à portinhola;
de dentro um rapaz muito magro, de barba muito negra, passou-lhe para os braços
5 uma deliciosa cadelinha escocesa, de pelos esguedelhados, finos como seda e cor
de praÍa; depois apeando-se, indolente e poseur, ofereceu a mão a uma senhora
alta, loura, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o esplen-
dor da sua carnação ebúrnea. Craft e Cados afastaram-se, ela passou diante deles,
com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem feita, deixando atrás de si
10 como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar. Trazia um
Fora um dia de Inverno suave e luminoso, as duas janelas estavam ainda aber-
tas. Sobre o rio, no céu largo, a tatde morria, sem uma arageml numa paz elísia,
com nuvenzinhas muito altas, paradas, tocadas de cor-de-rosa; as terras, os longes
da outra banda jâ se iam afogando num vapor aveludado, do tom de violeta; a âgoa
zs jazia lisa e luzidia como uma bela chapa de aço novo; e aqui e além, pelo vasto
Gompreender
1. lndica o assunto do texto e mostra que o seu desenvolvimento em partes lógicas
corresponde à focal ização sucessiva de espaços diferentes.
CapítuloYI
(...)
Então, (...) Cohen condescendeu em dize4 no tom mais suave da sua voz, que
o país necessitava reformas...
Ega, porém, incorrigível nesse dia, soltou outra enormidade:
- Pornrgal não necessita reformas, Cohen, Portugal o que precisa é a invasão
espanhola.
Alencar, paúiota à antiga, indignou-se. O Cohen, com aquele sorriso indulgen-
te de homem superior que lhe mostrava os bonitos dentes, viu ali apeÍ]as "um dos
paradoxos do nosso Ega". Mas o Ega falava com seriedade, cheio de razões.
Evidentemente, dizia ele, invasão não significa perda absoluta de independência.
10 (...) Não havia exemplo de seis milhões de habitantes serem engolidos, de um só
trago, por um país que tem apenas quinze milhões de homens. Depois ninguém
consentiria em deixar cair nas mãos de Espanha, naçào militar e marítima, esta
bela linha de costa de Portugal. Sem contar as alianças que teríamos a troco das
colónias - das colónias que só nos seryem, como a prata de família aos morgados
15 arruinados, para ir empenhando em casos de crise... Não havia perigo; o que nos
i-l
(. ..)
(págs. 767-170, com supressões)
Gompreender
1. Atenta na fala de Ega contida entre as linhas 23 e 31 ("- Nisto: (...) St. Emilion."l
t.2. Explica, por palavras tuas, a teoria de Ega acerca das vantagens da " invasão
espanhola."
2. Faz o levantamento das passagens textuais que provam que os outros convivas não
estavam de acordo com a teoria de Ega.
0ficina de escrita
1. Resume o texto a seguir transcrito, que tem duzentas e noventa e cinco palavras,
reduzindo-o a cerca de um quarto do seu tamanho original (entre oitenta e noventa
palavras).
W w
H* z0
por si, mas escute... Antes que seja tarde,
hâ uma coisa que lhe quero dizer...
Carlos vLa-a assim tremeq vta-a toda
pâlida... E nem a escutara, nem a com-
.F: : :-'.. :
preendera. Sentia apenas, num deslum-
o amor comprimido até
:::i- ::: r:+.r1.r' . .l
f a.:
bramento, que
ii
:,.11,r:.,1i:1r!:J!li:' : :,.: f: ri,l
:ii: il;:_ii:riri:1t!: i:i :
-:;.t+ r,,,, l: , .. ,
Compreender
T. Neste excerto sobressai, essencialmente, o diálogo entre Carlos Eduardo da Maia e
Maria Eduarda.
l.l. Prova que o estado de espírito de ambos não é semelhante, baseando-te nas pala-
vras que pronunciam e na forma como o Íazem, explicitada através da pontuação.
2. Por duas vezes, Maria Eduarda tenta dizer alguma coisa a Carlos, mas ele, no seu
arrebatamento, quase não a escuta.
3. Assinala no texto as passagens que mostram que os movimentos corporais das duas
personagens são fundamentais para interpretar o desenrolar dos acontecimentos.
do vim a Portugal por negócios da herança de meu irmão... Ora hoje justamente, ali
no teatro, comecei a reflectir que o melhor era entregâ-Lo à famllía...
(...)
Então o sr. Guimarães, à pressa, resumiu o pedido. Como sabia a intimidade do
sr. João da Ega e de Carlos da Maia, lembrara-se de lhe enffegar o cofrezinho para
40 que ele o restituísse à famflia...
Ah, muito bem! Então Vossa Excelência manda um criado de confiança ama-
-
nhã buscáJo... Eu estou no lfotul Paris, no Pelourinho. Ou melhor ainda: levoJho
eu, não me dá incómodo nenhum, apesar de ser dia de partida...
- Não, não, eu mando um criado! - insistiu o Ega, estendendo a máo ao
democrata.
Ele estreitou-lha com calor.
Muito agradecido a Vossa Excelência! Eu junto-lhe então um bilhete e Vossa
-
Excelência entrega-o da minha paÍte ao Carlos da Maia, ou à irmã.
Ega teve um movimento de espanto:
- À irmã!... A que irmã?
O sr. Guimarães considerou Ega também com assombro. E abandonando-lhe
lentamente a mào:
- A que irmã!? A irmã dele, à única que tem, à Marial
(...)
- Eu parece-me - dizia o Ega sorrindo, mas nervoso - que nós estamos aqui a
enrodilhar-nos num equívoco... Eu conheço o Maia desde pequeno, vivo até agora
em casa dele, posso afiançar-lhe que não tem irmã nenhuma...
(...)
(págs. 673-675, com slrpressões)
Compreender
1.1. Explica por que razão podemos afirmar que neste excerto nos encontramos
num momento determinante da tragédia que se abateu sobre a família Maia.
(,
" Nos fins de 1886, Carlos (...) escreveu para Lísboa ao Ega anunciando que, depois de um exílio de \O
Li
quase dez anos, resolvera vir ao velho Portugal, (. ..) Havia trés anos (desde a sua últíma estada em \
Paris) que ele não via Carlos. (...)" ,, ,, , ", ()
;
\u
tb
Após o regresso a Lisboa, Carlos faz com Ega, uma " romagem sagrada", passando pelo Largo de a.)
!,)
Camóes onde " (...) Nada mudara. A mesma sentinela sonolenta rondava em torno à estátua triste \u
t<
de Camõea Os mesmos reposteiros (...) O Hotel Aliança conservava o mesmo ar mudo e deserto. i-)
\u
( ,)" , pelo Chiado " (...) E Carlos reconhecia, encostados às mesmas portas, sujeitos que
U
t-
lá deixara havia dez anos,'iá assim encostados, já assim melancólicos. finham rugas, tinham U
brancas. (...)" , pela Avenida onde'. " Pela sombra passeavam rapazes, aos pares, devagaí
(...) Era toda uma geração nova e miúda que Carlos não conhecia (...)" e pelo Rossio.
Chegam, Íinalmente, ao Ramalhete: " (.. ) Com que comoçáo Carlos avistou a fachada severa do
Ramalhete. " que era, agora, um " casarão deserto" onde " os móveis de brocado, cor
de musgo, estavam embrulhados em lençóis de algodão, como amortalhados, exalando um cheiro de
múmia (,,,)" )?) e " (,..) uma ferrugem verde, de humidade, cobria os grossos membros da
Vénus Citereia; o cipreste e o cedro envelheciam juntos, como dois amigos num ermo í.../" (pá9. ,l0l
Este passeio é simbólico: tudo está, na sua essência, como há dez anos atrás; no entanto, a
degradaçáo de Lisboa e de Portugal, simbolizada no Ramalhete em ruÍnas, tinha-se instalado.
A exclamação de Ega " - Falhámos a vida, menino!" dá-nos conta que o percurso de vida
do ser humano é determinado por causas que lhe são totalmente alheias. Assim, Carlos estabelece
a sua " teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o govemava. Era o
fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um
desapontamento. Tudo aceitaL o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as
naturais mudançs de dias agrestes e de dias suaves. L . ) E, mais que tudo, não ier contrariedades."
(pág.7Í5)
O fatalismo aqui presente, que parte da ideia que o ser humano não tem capacidade para fugir ao que
lhe está destinado, contraría as teses naturalistas que assentam na primazia dos factos observados e
experimentados e nas relaçóes de causa-efeito que lhes estão associadas:
" (...) Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram mais felizes esses que se dirigiam só
pela razão, não se desviando nunca dela, torturando-se para se manter na sua linha inflexÍvel, secos,
hirtos, lógicos, sem emoção até ao fim... (...)".\pág.nal
Capítulo )ilruIl
(.)
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Entraram no quarto. Ytlaça, na suposLçã,o de N
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Carlos vir para o Ramalbete, mandata-o prepara\ e t"
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todo ele rcgeLava com o mármore das cómodas ct
espane jado e vazto, rrma veLa tntacta num castiçal
solitário, a colcha de fustão vincada de dobras sobre
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ir para a Trapal. E tudo isto friamente, como uma conclusào lógica. Por fim, dez
anos passaram, e aqui estou outra vez...
(...)
Então Ega perguntou, do fundo do sofá onde se enteffaÍa, se, nesses últimos
15 anos, ele não tivera a ideia, o vago desejo de voltar para Portugal...
Carlos considerou Ega com espanto. Para quê? Para arrastar os passos tristes
desde o Grémio até à Casa Havanesa? Não! Paris era o único lugar da Terra congé-
nere com o tipo definitivo em que ele se fixara: "o homem rico que vive bem".
Passeio a cavalo no Bois; almoço no Bignon; uma volta pelo bouleuard; uma hora
zo no clube com os jornais; um bocado de florete ra sala de armas; à noite a Comédie
assim, porque a beleza está em ser assim." E nunca se é assim, é-se invariavelmente
ASSado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente.
(...)
Uma comoção passouJhe na alma, murmurou, travando do braço do Ega:
- É curioso! Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida a
ss minha vida inteiral
Ega não se admirava. Só ali, no Ramalbete, ele vivera realmente daquilo que dá
sabor e relevo à vida - a paíxão.
- Muitas outras coisas dão valor à vida... Isso é uma velha ideia de romântico,
meu Ega!
40 - E que somos nós? - exclamou Ega. - Que temos nós sido desde o colégio,
desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam
na vida pelo sentimento e não pela razão...
Mas Cados queria realmente saber se, no fundo, eram mais felizes esses que se
dirigiam só pela tazão, não se desviando nunca dela, torturando-se para se manter
4s na sua linha inflexíveI, secos, hirtos, lógicos, sem emoção até ao fim...
- Creio que não - disse o Ega. - Por fora, à vista, são desconsoladores. E por
dentro, para eles mesmos, sào talvez desconsolados. O que prova que neste lindo
mundo ou tem de se ser insensato ou sem sabor...
- Resumo: nãovale a pena viver...
s0 - Depende inteiramente do estômago! - atalhou Ega.
Riram ambos. Depois Carlos, ouúa vez sério, deu a sua teoria da vída, a teoria
definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo
muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança -
nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquili-
rs dade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E,
deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se
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l. Trapt ordem religiosa, fundada em Trappe (em França), em 1,140. 2. amerícano: transporte colectivo sobre
carris de ferro, com tracção animal ou eléctrica.
Compreender
Lt" Explica até que ponto a educação recebida por Carlos poderá ter contribuído
para que tivesse rejeitado as duas primeiras ideias que o assaltaram depois da
desgraça que lhe aconteceu.
2. Podemos afirmar que o romance termina com uma mensagem que podemos identi-
ficar com uma concepÇáo fatalista da existência? Porquê7
3. Mal acabam de expor todo o seu pessimismo existencial, Ega e Carlos deixam-se
atrair por solicitaçóes mais triviais.
, ldentif ica-as.
.i. Como interpretas esta corrida Íinal das duas personagens atrás do americano?
4. Salienta três recursos estilísticos típicos da prosa queirosiana utilizados neste excer-
to da obra.