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1.

Introdução literatura envolvendo alocação


O presente trabalho tem como dinâmica de veículos aparece em
objetivo estudar a alocação dinâmica Powell et al. (1984) no gerenciamento
(multiperíodos) de veículos de uma grande frota de caminhões.
(caminhões) responsáveis pelas Um modelo dinâmico não linear,
transferências de cargas completas levando em conta as incertezas nas
entre terminais e propor abordagens previsões de demanda, foi aplicado.
de solução baseadas em técnicas de Em seguida, Powell (1986) refinou e
pesquisa operacional, verificando a estendeu o modelo anterior e
adequação das soluções obtidas em incorporou incertezas na quantidade
um caso real de uma típica empresa de veículos mantidos em estoque,
transportadora rodoviária de cargas permitindo que veículos ociosos
no Brasil. É dado enfoque no permanecessem em estoque.
desenvolvimento de modelos Em estudos subsequentes,
determinísticos que consideram Powell (1987, 1988) apresentaram
simultaneamente as operações de modelos alternativos para serem
transporte de transferência de cargas usados em ambientes operacionais,
completas entre terminais, uma na determinação de como gerenciar
demanda origem-destino conhecida uma frota de veículos, e também
ou prevista com boa precisão, em um revisaram o PADV no contexto de
determinado horizonte de transporte de cargas completas por
planejamento com múltiplos períodos, caminhões, com atenção especial ao
decisões de alocação de veículos despacho e reposicionamento de
(vazios) visando otimizar o uso dos caminhões em antecipação a
recursos disponíveis, e no demandas futuras previstas. O autor
dimensionamento da quantidade de comentou que os modelos
veículos necessários para atender determinísticos, apesar de serem mais
toda a demanda, ao menor custo simples, são viáveis na prática com
possível. bom potencial de aplicação. Uma
O Problema de Alocação aplicação prática em uma
Dinâmica de Veículos (PADV) surge transportadora de carga completa nos
em uma variedade de situações que Estados Unidos, tratando não
envolvem o gerenciamento de uma somente o PADV, mas também o
frota de veículos ao longo de um dado problema de alocação de motoristas e
período de tempo, possuindo incorporando incertezas na demanda
aplicações no transporte de cargas futura por transportes, foi reportada
rodoviário, ferroviário, marítimo e em Powell (1988). Foi desenvolvida
aéreo. Para o transporte rodoviário de uma ferramenta responsável por
cargas, um dos primeiros estudos na combinar em tempo real informações
1
sobre os veículos e cargas com um O modelo de Beaujon &
modelo elaborado de previsão de Turnquist (1991) pode ser visto como
demanda e de atividade dos veículos, um problema de programação
com o objetivo de maximizar a estocástica, tendo as demandas e os
lucratividade e o nível de serviço. tempos de viagem como parâmetros
Outros estudos relacionados ao aleatórios. De acordo com os autores,
PADV aparecem em Dejax & Crainic essa combinação, além do tamanho
(1987), que estudaram o problema de do problema a ser resolvido, tornou o
movimentação de veículos vazios no modelo intratável para ser
transporte de cargas, e em solucionado utilizando técnicas
Frantzeskakis & Powell (1990), que tradicionais de otimização estocástica.
desenvolveram heurísticas para Outros estudos relacionados ao
solução do PADV com demandas PADV no modal ferroviário e outros
incertas. Outros estudos no modal modais aparecem em Bojovic (2002),
rodoviário aparecem em Braklow et Ghiani et al. (2003), Sayarshad &
al. (1992), Powell et al. (1995), Powell Ghoseiri (2009) e Sayarshad &
(1996), Powell & Carvalho (1998a, b), Tavakkoli-Moghaddam (2010).
Hall (1999) e Hall & Zhong (2002). No presente artigo, o PADV é
No modal ferroviário, Beaujon estudado com foco no transporte
& Turnquist (1991) propuseram um rodoviário de cargas completas entre
modelo matemático para tratar terminais. Convém notar que não
simultaneamente problemas de foram encontrados trabalhos
alocação dinâmica de veículos com anteriores na literatura estudando o
problemas do dimensionamento da PADV no contexto do transporte
frota para o atendimento da rodoviário de cargas no Brasil. Os
demanda. O modelo proposto movimentos de veículos aqui
incorporou uma penalização para considerados podem ser: veículos
demandas não atendidas e também carregados com carga completa,
incertezas quanto à proporção de veículos vazios para reposicionamento
veículos disponíveis em cada período ou veículos mantidos em um terminal
e incertezas no tempo de viagem de um período para outro como
entre terminais. A pesquisa de provisão para o atendimento de
Beaujon & Turnquist (1991) foi demandas futuras.
importante e influente para o A ênfase é dada na
desenvolvimento deste trabalho, por caracterização do problema em
ser a primeira iniciativa a tentar situações reais de transportadoras
modelar simultaneamente as brasileiras, com base em estudos de
necessidades de frota e a alocação caso realizados em Vasco (2012). O
dinâmica de veículos cheios e vazios. objetivo é propor modelos
2
matemáticos ajustados aos problemas otimização CPLEX (Ilog, 2008). As
encontrados em empresas conclusões e perspectivas para
transportadoras rodoviárias de carga trabalhos futuros são apresentadas na
no Brasil e analisar as soluções seção 4.
obtidas em situações realistas. 2. Modelagem matemática do
Experimentos computacionais são problema de alocação dinâmica de
apresentados indicando que a veículos
abordagem pode ser útil para apoiar Dentre os modelos revisados
decisões na prática. na literatura para representar o PADV,
Este artigo está organizado da utilizou-se o modelo de programação
seguinte maneira: na seção 2 são linear apresentado em Ghiani et al.
propostos modelos matemáticos de (2003), originalmente formulado em
programação linear inteira para Powell et al. (1984) e Powell (1986),
representar o PADV, baseados em como ponto de partida para a
modelos anteriores da literatura. modelagem do problema em estudo.
Porém, os modelos foram modificados Assim como em Ghiani et al.
e estendidos para incorporar alguns (2003) e outros estudos da literatura,
aspectos práticos dos estudos de optou-se pela modelagem
caso, por exemplo: (i) a situação em determinística para tratar o PADV em
que certos grupos de veículos não função de algumas razões: (i) maior
podem realizar determinadas rotas; facilidade para compreensão,
(ii) inclusão da decisão de desenvolvimento e implementação da
dimensionamento da frota adicional abordagem de otimização; (ii) os
necessária para que toda a demanda modelos determinísticos são
seja atendida, (iii) restrições de computacionalmente mais fáceis de
capacidade de descarga nos serem resolvidos do que modelos
terminais, (iv) penalizações por estocásticos (Birge & Louveaux,
atrasos no atendimento da demanda, 1997); (iii) esses modelos não
entre outros. Na seção 3 são necessitam de muitos dados
apresentados os resultados obtidos históricos, comonos modelos
com os experimentos computacionais estocásticos para caracterizar
realizados ao se resolver um conjunto distribuições de probabilidade das
de problemas de tamanho e variáveis aleatórias envolvidas; e (iv)
complexidade similares aos esses modelos são flexíveis para
encontrados na prática de uma análises do tipo “what-if”, assim como
empresa de transporte rodoviário de permitem fáceis e importantes
cargas parceladas no Brasil. Os análises de sensibilidade e de cenários
resultados apresentados nessa seção alternativos. Os modelos
foram obtidos utilizando o pacote de determinísticos apresentados a seguir
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representam razoavelmente bem a “homogênea” apenas no que diz
prática de certas empresas de respeito à capacidade transportada de
transporte e podem ser úteis para cargas completas entre terminais e
apoiar decisões de alocação dinâmica desempenho, resultando em
de veículos nestas empresas em nível velocidades médias equivalentes nos
operacional. Eles foram baseados nas deslocamentos entre terminais.
informações e estudos de caso Conjunto T de períodos:
realizados em Vasco (2012). definido a partir do horizonte de
A seguir são descritos os planejamento usualmente utilizado
conjuntos, parâmetros e variáveis em situações práticas, em que são
utilizados para a modelagem do realizados planos semanais, muitas
PADV, com foco na solução do vezes de maneira informal, iniciando
problema prático encontrado em na segunda-feira como o primeiro dia
empresas de transporte rodoviário de para planejamento, e o sábado como
cargas no Brasil. Os conjuntos usados o último dia
no modelo são: do horizonte de planejamento.
Conjunto N de terminais: Para se aproximar da realidade, tanto
composto por todos os terminais da dos tempos de viagem entre terminais
rede de transporte rodoviário em como também do período para
estudo, entendendo-se como um demanda, cada dia pode ser
terminal ponto onde se originam ou subdividido, por exemplo, em seis
para onde se destinam cargas. Esses períodos de quatro horas (ou menos,
terminais podem ainda ter função dependendo da frequência das
mista, exercendo também a atividade decisões envolvidas), totalizando 36
de consolidação e de transbordo de períodos. Uma quantidade menor de
cargas. períodos, apesar de tornar o problema
Conjunto E de veículos: menor e mais simples de ser
formado pela subdivisão de toda a resolvido, poderia gerar planos que
frota disponível em grupos para o não poderiam ser utilizados na
transporte de cargas, para distinguir prática, devido à maior imprecisão
os veículos, seja pela sua forma de nos tempos de viagem entre
remuneração, rotas praticadas, ou terminais, e também na janela de
ainda como o mais utilizado na prática tempo requerida para o atendimento
de algumas transportadoras da demanda.
brasileiras, o tratamento individual de Os parâmetros do modelo são:
cada veículo, placa a placa. Nesse τij : tempo de viagem entre
caso placa a placa, E corresponde à terminais, medido em quantidade de
quantidade de veículos existentes na períodos, entre os terminais i e j, i∈N,
frota. A frota foi considerada como j∈N. Em termos práticos, esse
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parâmetro representa o tempo médio Cv : custo ao adicionar um
de deslocamento e independe do tipo veículo do tipo v ao sistema, v∈E.
de veículo utilizado, uma vez que a Esse parâmetro é utilizado nos
frota foi considerada “homogênea” modelos que realizam o cálculo da
em termos de velocidades médias. quantidade adicional de veículos
dijt : demanda por serviços de necessária para o atendimento de
transporte (em número de veículos toda a demanda (modelos M2 e M5 a
cheios) entre os terminais i e j no seguir).
período t, i∈N, j∈N, t∈T. Cada mitv : quantidade de veículos
demanda origem-destino consiste em do tipo (ou grupo) v que entram no
uma carga com peso (volume ou sistema no terminal i no período t,
frete) suficiente para que justifique a i∈N, t∈T , v∈E. Observa-se que, em
liberação de um veículo para viagem alguns modelos matemáticos
do terminal de origem para o terminal apresentados a seguir (modelos M2 e
de destino (carga completa). M5), esta quantidade de veículos foi
pijv : lucro (receita - custos definida como sendo uma variável de
operacionais diretos) obtido ao decisão do modelo, e não um
realizar a rota de i para j, utilizando parâmetro de entrada.
um veículo do tipo v, i∈N, j∈N, e v∈E. K jt : capacidade de descarga
cijv : custo de deslocamento do terminal j (em número de
vazio de veículos do tipo v de i para j, veículos), no período t, j∈N, t∈T. Essa
i∈N , j∈N, v∈E. Para o caso de frota capacidade, em termos práticos, pode
própria, esse custo está diretamente estar relacionada diretamente com a
ligado ao custo operacional, composto quantidade de docas disponíveis para
por custos fixos e variáveis. O custo descarga de veículos, assim como
por quilômetro é calculado pela também da quantidade de equipe
somatória dos custos fixos dividido interna disponível para tal operação.
pela distância percorrida no período. Essa capacidade varia de terminal
Já o custo variável é obtido para terminal, e ainda por período,
diretamente por quilômetro. Assim, pois em um determinado terminal
para calcular o valor de cijv para o pode haver uma quantidade maior ou
caso de frota própria, multiplica-se a menor de docas para descarga e,
distância em quilômetros de i para j ainda, diferentes turnos de trabalho,
pelo custo operacional por quilômetro. variando ao longo do dia a quantidade
Para o caso de veículos terceirizados, de equipes disponíveis para a
há uma negociação prévia do valor a operação de descarga. Uma equipe de
ser pago por quilômetro percorrido, e descarga é usualmente composta por
esse valor é multiplicado pela um conferente de cargas e dois
distância no percurso de i para j. auxiliares de transportes.
5
hijt : valor unitário de família do motorista, (ii) falta de locais
penalização pelo não atendimento da específicos para manutenção do
demanda entre terminais i e j no veículo, (iii) inexistência de pontos
período t, i∈N, j∈N, t∈T. Se uma para troca de motoristas, (iv)
carga não é transportada no período transportadores autônomos de cargas
definido, pode incorrer em custos que nem sempre conhecem todos os
adicionais para o transportador, percursos, (v) oferta ou escassez de
muitas vezes impostos pelos carga de retorno, (vi) condições
embarcadores baseados em físicas da rodovia versus condições de
contratos. Caso haja algum atraso na manutenção dos veículos, (vii) risco
entrega, o transportador é obrigado a do percurso (ou rota) versus o valor-
pagar um valor estipulado nesse limite (em unidades monetárias)
contrato como “ônus” pelo atraso. permitido pela seguradora ao
Podem ocorrer também custos condutor, dentre outros.
adicionais nos terminais de destino As variáveis de decisão do
em decorrência desses atrasos, seja modelo são:
na mão de obra para descarga do Xijtv : fluxo (número) de
veículo de transferência, seja em veículos cheios do tipo v usados para
veículos alocados para entrega, que satisfazer a demanda dijt, i∈N, j∈N,
poderão ficar ociosos. t∈T, v∈E. Vale ressaltar que Xijtv > 0
Yijv0 = 0 , ∀ ∈i N , ∀ ∈j N, ∀ somente se Aijv =1, caso contrário
∈v E, inicialização das variáveis essa variável não será definida na
definidas a seguir; indica que no construção do modelo matemático, ou
período zero não há nenhum por simplificação será definida, mas
movimento de veículo vazio do tipo v prefixada com valor nulo.
entre os terminais i e j. Yijtv : fluxo (número) de
Aijv, i∈N , j∈N, v∈E sendo: veículos vazios do tipo v de i para j no
v 1 : seoveículodotipov período t, i∈N, j∈N , t∈T, v∈E. Vale
poderealizaro percursodei para j ressaltar que se i = j, o movimento é
Aij = dito de “estoque”, e o veículo v é
 0:casocontrário mantido no terminal de origem i, de
um período a outro. Da mesma forma
Esse parâmetro é utilizado para que em Xijtv , Yijtv > 0 somente se
representar situações práticas em que Aijv =1.
certos veículos não realizam Iijt : demanda (em número de
determinadas rotas por motivos veículos cheios) não atendida (em
diversos, por exemplo: (i) rotas que backlog) de i para j no período t, i∈N,
não incluam passagem (na ida ou na j∈N , t∈T. Essa variável é utilizada
volta) ao município de domicílio da para computar a quantidade de
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demanda não atendida em cada no Brasil, pois nem todos os veículos
período, para cada percurso, e podem ser tratados da mesma forma
penalizar cargas não atendidas no (em um único grupo), por exemplo,
período da sua solicitação, utilizando (i) veículos próprios, (ii) veículos de
o parâmetro hijt já definido. Caso terceiros (agregados), (iii)
uma demanda não seja atendida no transportador autônomo de carga,
período em que foi solicitada, ela entre outros.
permanece no terminal de origem O PADV com múltiplos tipos de
aguardando o momento em que será veículo (conjunto E) pode ser
transferida para o terminal de destino. modelado como um problema linear
Nesse caso não há “recusa” de carga de fluxo multicommodity (multifluxo)
conforme alguns modelos de mínimo custo, transformando a
apresentados, por exemplo, em restrição de atendimento da demanda
Powell et al. (1995), pois a realidade em uma restrição de mochila (bundle
de diversas empresas de transporte constraint) (Powell et al., 1995).
brasileiras é que, dado que a carga já Dessa maneira, diferente do modelo
foi aceita (recebida ou coletada) pelo original de programação linear para
transportador, ela, em algum representar o PADV, ele é de difícil
momento, deve ser transportada para solução exata (NP-difícil) (Ghiani et
seu terminal de destino e posterior al., 2003; Vasco, 2012; Vasco &
entrega ao destinatário final. Morabito, 2014). Considerando os
2.1. Modelo utilizado para conjuntos, parâmetros e variáveis já
representar o PADV ( M1) definidos, o modelo matemático
O modelo M1 a seguir é uma determinístico para representar o
simples modificação do modelo de PADV pode ser representado como o
programação linear em Ghiani et al. seguinte modelo de programação
(2003). No modelo M1, diferente do linear inteira, denominado modelo
modelo original apresentado em M1:
Ghiani et al. (2003), incorporou-se a ( p Xijv ijtv
possibilidade de utilização de mais de −c Yij ijtv v) (1)
um tipo (ou grupo) de veículos, e i≠ j
também foi feita a inclusão da Sujeito a:
restrição de que certos tipos (ou
grupos) de veículos não podem X v +Y v − X v −ô +Y v −ô = +mitv
realizar determinadas rotas. Essas Yii tv( −1)
modificações no modelo original (2)
tiveram como objetivo representar t>ôki
melhor a realidade prática das ∀ ∈i N, ∀ ∈ ∀ ∈t T, v E
empresas transportadoras de carga
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Xijtv ≤ dijt , ∀ ∈ ∀ ∈i j, N, t que não poderão ser atendidas, via
T, (3) modelo, a empresa transportadora
Xijtv = 0, e Yijtv = 0, se A ijv pode se antecipar e contratar veículos
= 0, ∀ ∈ ∀ ∈ ∀ ∈i j, N, t T, v E, de terceiros em certos terminais e
(4) períodos para que todas as cargas
Xijtv ≥ 0, Yijtv ≥ 0, inteiros, ∀ sejam transportadas, sem
∈ ∀ ∈ ∀ ∈i j, N, t T, v E. (5) necessariamente gerar atrasos. A
restrição (4) visa garantir que veículos
A função objetivo (1) visa
de um dado tipo transitem, cheios ou
maximizar a diferença entre a receita
vazios, em somente um determinado
obtida com o transporte de cargas
conjunto de percursos. Conforme
(movimentos cheios) e o custo ao
mencionado anteriormente, essas
deslocar veículos vazios para
restrições são relevantes do ponto de
reposicionamento da frota. As
vista prático, pois permitem evitar que
restrições (2) impõem a conservação
determinados grupos, ou certas
de fluxo no início de cada período,
placas de veículos, realizem certas
enquanto as restrições (3) asseguram
rotas. Por exemplo, direcionar
que o número de veículos cheios seja
veículos agregados a rotas que
menor ou igual à demanda. Como
possuam frete de retorno. Convém
consequência, temos que as
salientar que estas restrições podem
diferenças i j N t T ser substituídas por simples
representam as cargas que não procedimentos de fixação de
puderam ser atendidas. As restrições variáveis, disponíveis nos pacotes de
(3) tornam o modelo M1 de otimização, ou ainda no momento da
multifluxos em cada arco (i j, ) em t. geração do modelo, eliminando essas
Caso o problema fosse de monofluxo, variáveis do problema.
envolvendo apenas uma commodity,
Convém observar que o modelo
o problema poderia ser simplesmente
M1 permite fáceis adaptações e é
modelado e resolvido por
razoavelmente flexível para incorporar
programação linear (Ghiani et al.,
outros aspectos da operação. Por
2003)
exemplo, nos casos em que parte da
O modelo M1 pode ser útil para demanda dijt só pode ser atendida
apoiar decisões de alocação de por um grupo de veículos v (como,
veículos vazios, selecionando quais por exemplo, em Green logistics),
demandas deverão ser atendidas, basta separar essa demanda como
levando-se em conta os diferentes um parâmetro específico dijtv e incluir
(grupos de) veículos e a contribuição uma restrição adicional ao modelo, do
ao lucro da empresa. Por meio da tipo: Xijtv ≤ dijtv . Esse pode ser o
identificação prévia das demandas caso em que alguns clientes exigem
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que apenas veículos que atendam às Por simplificação, considere
especificações dos seus programas de inicialmente o modelo de Ghiani et al.
sustentabilidade sejam utilizados para (2003), em que há apenas um tipo de
transportar suas cargas. veículo (isto é, E =1) e que não há
2.1.1. Exemplo ilustrativo restrições de circulação em rotas (4)
Para melhor entendimento do (isto é, Aijv =1, ∀ ∈i j, N v, ∈E ), logo,
modelo M1, a seguir utiliza-se um o índice v das variáveis e parâmetros
exemplo ilustrativo em Vasco (2012). do modelo M1 pode ser omitido. Uma
Murty é uma transportadora solução ótima do PADV ((1)-(5))
operando na região de Andhraachuki utilizando-se os dados do exemplo é
(Índia). No último 11 de julho, quatro apresentada na Figura 1, em que as
requisições de carga completa (TL) setas associadas as variáveis Xijt r
foram realizadas: de Chittoor para epresentam movimentos cheios
Khammam em 11 de julho, de (carregados), e as setas associadas as
Srikakulam para Ichapur em 11 de variáveis Yijt representam
julho, e de Ananthapur para Chittoor movimentos vazios ou de estoque. Os
em 13 de julho (duas cargas). Em 11 valores das variáveis na solução ótima
de julho, um veículo estava disponível são: X241* =1, X123* =1, Y441*
em Chittoor e outro em Khammam. =Y442* =1, Y443* = 2 e Y212* =1,
Outro veículo estava no momento resultando em um valor da função
transportando um carregamento objetivo de Z1* = p24 + p12 −c21 =
previamente programado e estaria 3,6+1,8−1,0 = 4,4 . Nota-se que as
disponível em Chittoor em 12 de demandas do terminal 5 para o
julho. Os tempos de viagem entre os terminal 3 no período 1 ( d531) e uma
terminais são apresentados na Tabela das cargas do terminal 1 para o
1. O lucro obtido com um transporte terminal 2 ( d123 ) não são atendidas.
de uma carga completa é 1,8 vezes o Ainda nessa figura estão
custo de transporte de um veículo representados os movimentos ditos
vazio por período. de “estoque”, pois o veículo que entra
Sejam T ={11 de julho ,1 2 de no terminal 4 no período 1
julho ,1 3 de julho }={1,2,3} e N (parâmetro m41 =1) é mantido neste
={Ananthapur Chittoor Ichapur terminal até o fim do horizonte de
Khammam Srikakulam, , , , planejamento em estudo.
}={1,2,3,4,5}, os parâmetros de Para ilustrar as implicações e
demanda ( d ) e de veículos consequências práticas de se
disponíveis (m ) podem ser incorporar veículos de mais de um
representados como: d531 =1, d241 tipo, e também a restrição de
=1 e d123 = 2 , e m21 = m41 = m22 circulação de veículos de
=1, respectivamente. determinados tipos a certas rotas, o
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problema exemplo foi alterado da para: Z1'* = p24 = 3,6 . Como
seguinte forma: (i) foi incluído mais consequência da restrição de
um tipo de veículo, portanto, agora circulação ( A212 = 0), nenhuma
temos E = 2; (ii) alterou-se o tipo de demanda do terminal 1 para o
veículo que entra no sistema no terminal 2 foi atendida ( d123 = 2).
período 2 no terminal 2, sendo agora Na Figura 2, é apresentada de forma
um veículo do tipo 2: m222 =1; (iii) gráfica a solução ótima do problema
restringiu-se a circulação de veículos exemplo alterado.
do 2.2. Modelo de
tipo 2 do terminal 2 para o dimensionamento da frota adicional
terminal 1: A212 = 0. para operação ( M2))
Com essas alterações, o valor No modelo M1 considera-se
da solução ótima do modelo M1 muda que podem ocorrer
Tabela 1. Tempos de viagem,
custos e lucros entre os terminais do
exemplo Murty.
demandas não atendidas ou
rejeitadas. Uma abordagem
alternativa para o problema seria:
dado um determinado conjunto de
cargas a serem transportadas
(demandas a serem atendidas), com
seus percursos e períodos definidos, e
veículos previamente posicionados, o
problema pode ser o de dimensionar
a quantidade, posição e período de
veículos adicionais, necessários para
que todas as demandas sejam
atendidas. Isso pode ser útil na
prática para estimar, por exemplo, as
necessidades de contratação de
veículos terceirizados (agregados ou
terceiros) ao longo do horizonte de

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Figura 1. Representação gráfica da solução ótima do problema exemplo.

Figura 2. Solução ótima do problema exemplo alterado utilizando-se o


modelo M1.
planejamento, sendo uma (1991), a seguir é proposto o
definição ainda no nível de decisão modelo determinístico M2 para
operacional. representar o problema de
Inspirado no trabalho de dimensionamento da frota e alocação
Beaujon & Turnquist dinâmica de veículos. Esse modelo
permite que questões importantes de
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planejamento e posicionamento de
Z
frota sejam respondidas, como: (i)
C mv v −mv + c Yijv ijtv
como e onde os veículos devem ser
(6)
alocados / distribuídos, (ii) quais os
i≠ j Sujeito a:
tamanhos desses agrupamentos de
(2), (4), (5),
veículos e em quais períodos, e (iii)
como os veículos devem ser alocados v
entre movimentos cheios, vazios e
agrupamentos. O modelo apresentado
por Beaujon & Turnquist (1991) difere
do modelo M2 em diversos aspectos,
por exemplo: (i) os autores
apresentam um modelo com
parâmetros aleatórios para os tempos
de viagem e de demanda, portanto,
um modelo estocástico, (ii) a função
objetivo incorpora custos fixos e
custos ao se manter veículos em
A função objetivo (6) visa
estoque de um período a outro em
minimizar o custo de se alocar
um dado terminal, (iii) penalização de
veículos adicionais para a operação,
custo por período para uma unidade
adicionado aos custos associados ao
de demanda não atendida, entre
deslocamento de veículos vazios. A
outros.
restrição (2) é a equação de balanço
No modelo M2, mitv, i∈N, t∈T,
de veículos para um dado terminal,
v∈E, passa a ser uma variável de
em determinado período e para cada
decisão, em vez de um parâmetro
tipo de veículo. A restrição (4), da
como no modelo M1. O parâmetro Cv,
mesma forma que no modelo M1, visa
v∈E, é considerado para representar o
garantir que veículos transitem
custo ao se alocar um veículo do tipo
somente em rotas permitidas,
v ao sistema, e o posicionamento
independentemente se o transporte é
atual (preestabelecido) dos veículos
vazio ou carregado. Já a restrição (7)
existentes no sistema é representado
assegura que toda a demanda seja
pelo novo parâmetro mitv, i∈N, t∈T,
atendida, assumindo que a demanda
v∈E. Assumindo os parâmetros e
não é restrita a um tipo específico de
variáveis já definidos, o modelo M2
veículo. A restrição (8) assegura que
pode ser escrito como o seguinte
os veículos já existentes no sistema
problema de programação linear
sejam considerados para o
inteira:
dimensionamento das necessidades
de frota.
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Considere novamente o 2.3. Modelo incorporando
problema exemplo da seção 2.1, com restrições de capacidade nos
as seguintes alterações: terminais (M3)
C1 =10,0 e C2 =11,5; A capacidade de operação de
inclusão de mais um tipo de terminais de carga parcelada que
veículo, sendo agora operam como um cross-docking
E = 2; (Oliveira & Pizzolato, 2002) está
alteração do tipo de veículo diretamente relacionada à quantidade
que entra no sistema no período 2 no máxima possível de veículos de
terminal 2, sendo agora um veículo do transferência que podem ser
tipo 2: m222 =1; descarregados em um dado período
restrição da circulação de de tempo. Fatores relacionados à
veículos do tipo 2 do terminal 2 para estrutura operacional, como a
o terminal 1: A212 = 0. quantidade de docas para descarga,
mão de obra envolvida e tecnologia
Uma solução ótima desse
empregada, são fundamentais para a
problema exemplo alterado, definindo
definição da capacidade de um
simultaneamente a alocação e o
terminal.
dimensionamento veículos e utilizando
o modelo M2, é apresentada na Visando adequar o modelo
Figura 3. É importante destacar que, matemático M1 à realidade de
ao levar em consideração o parâmetro empresas transportadoras de carga
relativo à frota existente no problema parcelada, foi incorporada ao modelo
( m121 = m141 = m222 =1 ), de a restrição de capacidade de cada
acordo com a restrição (8), as terminal em um dado período,
seguintes variáveis foram limitadas representado pelo parâmetro K jt ,
inferiormente: sendo relacionada explicitamente à
quantidade máxima de veículos de
m 1, m 1, m 1,
transferência que podem ser
O valor da solução ótima obtida
descarregados simultaneamente no
é:
terminal j , j∈N, em um dado período
( 51 − 51 )+(mm13 − 13 )+(mm41 − 41 )+(mm21 − 21t,)) t∈T. Sejam os mesmos conjuntos,
× (mm
* 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 =
ZC

+C2×(m222 −m222 ) parâmetros e variáveis já definidos. O


+c141×Y4111 modelo M3 pode ser escrito como o
=10,0× − + − + − + − +((1 modelo M1, incorporando somente a
0) (1 0) (1 1) (1 1)) 11,5× − seguinte restrição:
+ ×(1 1) (2 1) ∑∑Xij tv( −ôij ) ≤ K jt , ∀ ∈ ∀
=10,0× +2 2 = 22. ∈j N, t T

13
i N∈ v E∈ (10) i≠ j t>ôij M4, a partir do modelo M1, que
2.4. Modelo de incorpora a situação de cargas não
reposicionamento de veículos com atendidas no período em que ocorreu
backlog da demanda (M4 ) a demanda, penalizando os atrasos
O modelo matemático M1 decorrentes da falta de veículos para
utilizado para representar o PADV, transporte. Neste modelo M4 é
representado pelas Equações 1-5, incluído o parâmetro hijt,
permite que cargas sejam rejeitadas. correspondendo ao valor unitário de
Em situações práticas do transporte penalização pelo não atendimento da
de cargas parceladas, é comum que demanda entre terminais i e j no
demandas não atendidas em um dado período t , i∈N , j∈N , t∈T . E ainda é
período, por falta de veículo, incluída a variável Iijt , a demanda
aguardem no terminal de origem para não atendida de i para j no período t ,
serem transportadas em um período i∈N , j∈N , t∈T .
posterior (em backlog). Ou seja, são Sejam os mesmos conjuntos,
transportadas para o terminal de parâmetros e variáveis já definidos. O
destino, mesmo que com atrasos, pois modelo M4 utilizado para representar

Figura 3. Solução ótima do problema exemplo alterado utilizando-


se o modelo M2.
em algum momento deverão ser o PADV, permitindo backlog de
atendidas. cargas, pode ser descrito como o
Sendo assim, é proposto o seguinte problema de programação
modelo matemático linear inteira:

14
garante que não haja backlog no
h Iijt ijt primeiro período.
i N∈ j N∈ t Tv E∈ ∈ i N∈ j N∈ t Considere novamente o
T∈ (11) i≠ j j i≠ problema exemplo da seção 2.1, já
Sujeito a: com as modificações de parâmetros
(2), (4), (5), (10), incorporadas conforme apresentado
para o modelo
Iijt I
M3, em que foram fixados os
d X , i j, N, t t t 1, (12)
parâmetros m22 = 2, e
K24 =1. Foi incorporada ainda
no problema exemplo a penalização
Iij = dij −∑Xijv , ∀ ∈i
por demandas não atendidas, cujo
j, N (14)
valor foi fixado em 0,5 para qualquer
Iijt ≥ 0, inteiros, ∀i j, ∈N, ∀ ∈i
demanda, ou melhor, hijt = 0,5, ∀ ∈i
T (15)
j, N, ∀ ∈t T . O valor da solução ótima
A função objetivo (11) visa do modelo M4 é: Z , e a
maximizar a receita obtida ao se representação gráfica, bem como o
realizar o transporte de cargas, valor das variáveis de decisão maiores
deduzindo-se os custos para que zero, são apresentadas na Figura
reposicionamento de veículos vazios e 4. Para facilitar a visualização, a figura
a penalização pelo não atendimento foi estendida até o período 5 e, como
de demandas no período requerido. A se utilizou um único grupo de veículos
restrição (12) representa a
( E =1), por simplicidade o
quantidade de demanda não atendida
índice v foi omitido das variáveis e
para um dado percurso e período. A
parâmetros.
restrição (13) garante que toda a
Z4* = p X24 241 + p X12 123
carga deve ser transportada até o
+ p X12 124 + p X53 533
último período. A restrição (14)

15

Figura 4. Solução ótima do problema exemplo para o modelo


M4.
−(c Y45 451+c Y21 212 +c min Z5 = ∑∑∑Cv (mitv −mitv
Y21 213) )+ ∑ (c Yijv ijtv +h Iijt ijt ) (16)
−(h531 531I + h532 532I + i Nt Tv E∈ ∈ ∈  j N∈
h123 123Y ) 
=(3,6 1 1,8 1 1,× + × + × +  
×8 1 3,6 1)  i≠ j  sujeito a:
−(2 1 1 1 1 1× + × + × ) (2), (4)-(5), (8), (9), (10),
−(0,5 1× + × + ×0,5 1 0,5 1) (12)-(15).
=10,8− 4,0 −1,5 = 5,3. A função objetivo (16) visa
Pela figura é possível verificar minimizar os custos envolvidos ao se
que toda a demanda foi atendida, atribuir veículos adicionais para
porém a demanda d531 =1 não é operação, somados à penalização por
atendida por não existir veículo demandas não atendidas no período
disponível, e a demanda d123 =1, solicitado. Incorporadas ao modelo
devido a sua capacidade K24 =1, M5, temos as restrições de balanço da
também não pôde ser atendida no quantidade de veículos em cada
período demandado, sendo atendida terminal e em cada período (2), e
em um ou dois períodos posteriores, também as restrições de circulação de
havendo portanto o backlog da certos veículos em determinadas
demanda, sendo evidenciado ainda rotas, representadas pela Equação 4.
pelo valor das variáveis: I531* =1; A integralidade das variáveis de
I532* =1; I123* =1. decisão do modelo é garantida pelas
2.5. Modelo de restrições (5), (9) e (15). A restrição
dimensionamento da frota com (12) define a quantidade de demanda
backlog da demanda (M5) não atendida entre terminais em um
O modelo M5 , assim como o dado período. As restrições que
modelo M2 , avalia as necessidades asseguram que não haja backlog no
de frota adicional necessária para primeiro e último períodos são
operação (ou seja, mitv é variável de representadas pelas Equações 13 e
decisão do modelo), e permite 14, respectivamente. A restrição (10)
backlog de cargas, podendo ser diz respeito à capacidade de cada
representado a partir dos modelos M2 terminal em cada período, que não
e M4 . Considerando-se os mesmos deve ultrapassar um dado limite.
conjuntos, parâmetros e variáveis Voltando ao problema exemplo
definidos, o modelo M5 é definido da seção 2.1, e considerando os
por: mesmos parâmetros já incluídos
  anteriormente e utilizados pelos
  modelos M2, M3 e M4, obtemos a
seguinte solução ótima para o modelo
16
M5, representada de forma que foi atendida no período 4. É
gráfica na Figura 5. O valor dessa interessante ressaltar que, em
solução é: situações práticas, nem sempre é
Z5* possível, principalmente para certos
=C1×(m121−m121)+C1×(m141−m1 percursos considerados de curta
41)+C2×(m222 −m222 ) distância, fazer com que cargas
+(c Y21 2122 2 +c Y121 213 1 aguardem mais que 2 períodos para
+c Y145 451 1 ) serem transportadas. O correto
+(h123 123 I +h241 241 I balanceamento do parâmetro de
+h242 242 I +h243 243 I +h531 531 penalização por demandas não
I +h532 532 I ) atendidas ( hijt , i∈N , j∈N, t∈T ) é
=10,0× − +(1 1) 10,0× − +(1 um fator crucial, pois interfere
1) 11,5× −(1 1) diretamente no dimensionamento da
+(1 1× + × + ×) (1 1) (2 1) frota para operação, que possui um
custo proporcionalmente elevado.
+(0,5 1× + × + × + × + × +
×0,5 1 0,5 1 0,5 1 0,5 1 0,5 3. Experimentos e resultados
1) computacionais
= 0,0 + 4,0 +3,0 = 7,0. Nesta seção são apresentados
os experimentos computacionais
Na Figura 5, é possível verificar
realizados visando analisar o
que toda a demanda foi atendida sem
desempenho e a aplicabilidade dos
a necessidade de veículos adicionais,
modelos M1− M5 em problemas de
porém existindo backlog de demandas
tamanho e complexidade similares
não atendidas, principalmente a
aos encontrados na prática de uma
demanda no primeiro período do
empresa transportadora de carga.
terminal 2 para o terminal 4, d241
Inicialmente foram realizados
=1, que foi atendida somente no
experimentos com dados reais de
período 4. Outro backlog foi de uma
uma empresa transportadora de carga
das duas cargas do terminal 1 para o
parcelada que opera pelo modal
terminal 2 no período 3, d123 = 2,
rodoviário no Brasil. Com o objetivo

17

Figura 5. Solução ótima do problema exemplo para o modelo M5.


de avaliação dos modelos propostos, totalizando 25 problemas a serem
considerou-se inicialmente um resolvidos, com os seguintes
problema de menor porte, utilizado parâmetros para o programa gerador
como exemplo-teste, possuindo 36 de problemas aleatórios:
períodos (6 períodos de 4 horas cada, 36 períodos (6 períodos de 4
em 6 dias); 02 grupos de veículos: horas cada, em 6 dias);
agregados e próprios ( E = 2 ). Os 53 terminais;
outros parâmetros dos modelos, por 300 percursos com cargas a
exemplo, a capacidade dos terminais ( serem transportadas, sendo em cada
K jt ), penalização por backlog ( hijt ), percurso até 10 cargas;
circulação ( Aijv ), foram variados 2 grupos de veículos: (i)
convenientemente para avaliar a sua próprios, e (ii) agregados
influência no resultado final obtido. ( E = 2 );
Um exemplo dos resultados 130 ofertas de veículos
obtidos ao resolver o problema-teste distribuídos nestes dois grupos, com
utilizando o modelo M5 é apresentado mitv variando para cada v uma
na Tabela 2, em que se pode quantidade de até 10 veículos para
visualizar a influência do parâmetro
um dado i e t , sendo ;
hijt na solução do problema. Quanto
maior a penalização, menor a sendo esses valores inspirados
quantidade de movimentos de em problemas reais com dimensões
backlog, maior a quantidade de similares às encontradas na prática
veículos necessária para que toda a (para mais informações desses
demanda seja atendida, e também, problemas, ver Vasco, 2012). Para os
uma maior quantidade de parâmetros:
movimentos de “estoque”. Mais Capacidade dos terminais ( K jt
detalhes sobre esses e outros ): foram gerados valores aleatórios
experimentos são apresentados em inteiros positivos entre 9 e 18, para
Vasco (2012). cada terminal j em cada período t, ∀
Após os experimentos iniciais ∈j N, ∀ ∈t T.
com um problema de pequeno porte, Penalização por backlog
desenvolveu-se um programa usando ( hijt ): foram gerados valores reais
a linguagem de programação C para positivos aleatórios entre 0,1 e 1,1, ∀
gerar aleatoriamente os problemas, ∈i j, N, e ∀ ∈t T.
que em seguida foram resolvidos Custo por tipo de veículo (Cv ),
utilizando-se os modelos propostos na sendo um valor real positivo aleatório
seção 2 ( M1, M2 , M3, M4 e M5). entre 0,5 e 10,5, ∀ ∈v E.
Foram gerados cinco problemas Custo de reposicionamento de
aleatórios para cada modelo, veículos vazios ( cijv ): valor real
18
positivo aleatório entre 1 e 9, sendo
gerado individualmente para cada
combinação de i , j e v, i j, ∈N, v∈E.
Lucro ao se transportar
veículos cheios ( pijv ), um valor real
positivo aleatório entre 10 e 18,
gerado para cada i j, ∈N, e para cada
v∈E .
O tempo de viagem entre
terminais ( ôij ) foi calculado da
seguinte forma:
são gerados aleatoriamente N
pontos no plano, com abscissas e
ordenadas entre 1 e 100, assumindo
somente valores inteiros;
é criada uma matriz de
distâncias euclidianas entre os pontos
gerados, sendo a cada distância
d calculada, ôij = d .
15
O parâmetro Aijv foi variado
convenientemente, sorteando
aleatoriamente a possibilidade de o
veículo v poder realizar o percurso de
i para j ( Aijv =1), ∀ ∈i j, N, ∀ ∈v E.
Os limites utilizados para a
geração aleatória dos valores dos
parâmetros foram similares aos
encontrados
Tabela 2. Resultados obtidos na prática de uma
variando-se o parâmetro hijt transportadora de carga parcelada
M5 . pelo modal rodoviário no Brasil.
para o modelo Os experimentos
computacionais foram realizados em
um laptop com CPU Intel(R) Core
(TM) 2 DUO T6600 2,2GHz, e 4 GB de
memória RAM (somente um
processador foi utilizado) e sistema
19
operacional Windows 7 Ultimate. demanda fosse atendida. É
Neste estudo, exemplares dos importante destacar a importância do
modelos foram resolvidos utilizando o parâmetro Cv, pois as soluções
pacote de otimização CPLEX versão obtidas foram muito sensíveis a esse
11.1.1 (Ilog, 2008). A linguagem de parâmetro, variando a quantidade
modelagem AMPL (Fourer et al., adicional de veículos de 7 a 79
2002) foi utilizada para facilitar a veículos. Isso indica que, em
interface entre os modelos e o CPLEX. aplicações práticas, esse valor deve
Os resultados obtidos ao se resolver ser investigado com cautela, sob pena
os problemas aleatórios gerados para de incorrer em soluções que não
cada modelo são apresentados na condizem com o problema em estudo.
Tabela 3. Nessa tabela pode-se Modelo M3: foi incluída a
verificar que, conforme o tamanho do restrição de capacidade nos terminais
problema aumenta, aumentam de destino em certos períodos, e o
também os tempos de execução, CPLEX se mostrou eficaz para a
porém sendo ainda bem aceitáveis solução do problema. Foi possível
para decisões práticas. verificar que, conforme já esperado,
Verificaram-se os efeitos na quanto menor a capacidade nos
solução final quando da variação de terminais, maior a quantidade de
determinados parâmetros, carga rejeitada, ou não atendida.
apresentando, para alguns modelos, Modelo M4: não há cargas
uma relação direta entre a mudança rejeitadas e deseja-se definir a
de determinado parâmetro e seu alocação de veículos, considerando-se
impacto (positivo ou negativo) na possíveis cargas em backlog, e que
solução. Os modelos se comportaram devem ser atendidas até o fim do
de forma coerente e consistente com horizonte de planejamento, tendo
relação a estas mudanças e seus uma penalização ( hijt ) para cargas
efeitos, tendo: não atendidas no período solicitado. A
Modelo M1: com esse modelo solução ótima pôde ser obtida em
foi possível a obtenção da solução todos os problemas-teste utilizados,
ótima em todos os experimentos podendo evidenciar que quanto maior
computacionais realizados, utilizando a penalidade hijt , maior a quantidade
dados gerados aleatoriamente, de movimentos vazios, e obviamente
inclusive ao se variar o parâmetro uma menor quantidade de
Aijv. movimentos de backlog.
Modelo M2: além da alocação Modelo M5: realiza o
dos veículos vazios, realizou-se dimensionamento da frota adicional
também o dimensionamento da frota necessária para que toda a demanda
adicional necessária para que toda a seja atendida, incluindo restrições de
20
Tabela 3. Resultados obtidos com os problemas aleatórios gerados.
P P P P P
M roblema roblema roblema roblema roblema
odelo M1 1 2 3 4 5
capacidade Funos terminais 1 de destino,1 7 9 8
e permitindo
nção que4.024,5
cargas permaneçam
0.400,9 .569,51 .073,29 .798,15
emObjetivo
backlog para8atendimento3em
períodos futuros. Esse modelo pôde
De 2 1 1 1 1
ser resolvido utilizando o CPLEX,
manda 13 73 55 66 35
sendo possível verificar a sensibilidade
atendida
dos parâmetros hijt e Cv na solução
De
final do problema. 8 1 1 1 1
manda 7
Pôde-se verificar 27 forma
que, de 45 34 65
nãoquando o problema possui
geral,
atendida
somente dois grupos de veículos (
E =M 2), i.e., veículos
2 próprios1e 1 1 1
ovimento o problema
agregados), 13 pode73
ser 55 66 35
s cheiossem maiores dificuldades
resolvido
utilizandoMo método branch-and-cut
3 3 2 3 2
do ovimento
CPLEX, com um 74 tempo de 07 86 10 43
processamento
s vazios aceitável na prática.
Porém, em situações práticas, pode
M 1 1 1 8 9
ser necessário separar os veículos em
ovimento 224 095 107 33 48
muitos grupos (no limite, um grupo
s de
para cada veículo, para que os
estoque
veículos sejam tratados
Te
individualmente, placa a5 placa), 2 2 2 2
mpo (s)
fazendo com que,1636E seja igual,9172
à ,9952 ,4024 ,4648
quantidade Qt de veículos 1disponíveis. 1 1 1 1
Foram
d. gerados
de aleatoriamente
30 30 30 30 30
problemas
Veículos em que cada veículo
pertence a um grupo diferente.
P ParaP P P P
isso, fixou-se
M E =130,roblemae cada roblema
mitv roblema roblema roblema
={0,1},
odelo ∀M2 ∈i N, ∀1 ∈t T, ∀ ∈v E,
2 3 4 5
satisfazendo:
Fu 6 3 8 4 4
∑∑∑mitv = E .
nção 58,31 22,75 37,11 73,41 83,02
i Nt Tv E∈ ∈ ∈
Objetivo
Assim, a complexidade para
De 3 3 3 3 3
solução do modelo matemático deve
manda 00 00 00 00 00
crescer consideravelmente, em função
atendida
do aumento do número de variáveis e
restrições,Dee ainda devido 0 ao fato de0 0 0 0
quemanda
todas as variáveis de
não
21
atendida
M 3 3 3 3 3
ovimento 00 00 00 00 00
decisão do problema, por gerados aleatoriamente, de tamanho
exemplo, para o modelo M1, se e complexidade similares aos
tornam binárias. O problema realista encontrados em uma empresa típica
em estudo, contendo 53 terminais, 36 de transporte rodoviário de cargas
períodos e 130 veículos, resulta em parceladas no Brasil.
um modelo com mais de 26 milhões Os resultados teóricos indicam
de variáveis de decisão binárias e que esses modelos podem ser úteis
restrições, tornando o problema difícil para apoiar decisões no dia a dia de
de ser resolvido na sua otimalidade, transportadoras brasileiras de carga
mesmo utilizando pacotes parcelada, pois tendo-se os dados de
comerciais de otimização de última entrada no início do horizonte de
geração. Isso pode inviabilizar a planejamento, usualmente no
solução do problema pelo CPLEX, em primeiro dia da semana, e ainda o
função dos requisitos de tempo e posicionamento dos veículos no
memória computacionais, o que momento do planejamento, por
sugere a necessidade de exemplo via GPS (Global Positioning
desenvolvimento de métodos System), é possível utilizar o modelo
heurísticos para solução. M1, M3 ou M4 para verificar o
4. Conclusões e perspectivas atendimento das demandas com a
Neste artigo foi abordado o frota disponível e, se houver
PADV no contexto de transporte demandas não atendidas, analisar via
rodoviário de cargas completas entre modelos M2 e M5 a possibilidade de
terminais. Foram propostos cinco contratação de veículos adicionais
modelos matemáticos para tratar não para atender a todas as demandas,
só o problema de alocação dinâmica levando-se em conta o trade-off entre
de veículos, mas também para o custo de incremento de novos
incorporar nos modelos decisões de veículos e o custo de backlog de
alocação de frota adicional necessária cargas.
para que toda a demanda seja Como perspectiva para
atendida. Os modelos propostos trabalhos futuros pretende-se
consideraram ainda a possibilidade de desenvolver e aplicar heurísticas e
atrasos decorrentes da possível falta metaheurísticas para a solução do
de veículos e penalizações por PADV, por exemplo, simulated
demandas não atendidas no período annealing (Kirkpatrick et al., 1983) e
solicitado. Foram realizados colônia de formigas (Ant Colony
experimentos computacionais Optimization) (Dorigo & Stützle,
utilizando os modelos propostos para 2004), para o caso especial em que a
analisar seus comportamentos ao frota necessita ser separada em uma
resolver um conjunto de problemas grande quantidade de grupos, ou, no
22
limite, placa a placa. Pretende-se Research, 136(1), 136-172.
ainda realizar um processo de http://dx.doi.org/10.1016/ S0377-
validação prática dos modelos e dos 2217(01)00034-0.
métodos de solução propostos em Braklow, J. W., Graham, W.
ambientes reais de operação em uma W., Hassler, S. M., Peck, K. E., &
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linha de pesquisa interessante seria performance for yellow freight
estender os modelos e estudar system. Interfaces, 22(1), 147-172.
abordagens de solução para http://dx.doi.org/10.1287/inte.22.1.14
considerar parâmetros incertos no 7.
problema, particularmente nas Dejax, P. J., & Crainic, T. G.
demandas. (1987). A review of empty flows and
Agradecimentos fleet management models in freight
Os autores agradecem aos transportation.
revisores anônimos pelos úteis Transportation Science, 21(4),
comentários e sugestões de revisão 227-247. http://dx.doi.
no texto, e à Patrus Transportes org/10.1287/trsc.21.4.227.
Urgentes Ltda. pela importante Dorigo, M., & Stützle, T.
colaboração e apoio a esta pesquisa. (2004). Ant Colony Optimization.
Este estudo também contou com Cambridge: The MIT Press.
apoio parcial do CNPq e FAPESP. http://dx.doi.org/10.1007/b99492.
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25

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