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A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO EM PSICOPEDAGOGIA

Júlia Eugênia Gonçalves1

Acompanhamos os procedimentos legais relacionados com a regulamentação da


profissão de psicopedagogo desde quando fazíamos parte do Conselho Nacional da ABPp. Isso
já faz alguns anos e, como a Psicopedagogia tem recebido muitos adeptos, consideramos
importante atualizarmos algumas informações e tecermos considerações que julgamos
procedentes a este respeito.
Primeiramente, uma revisão histórica de como foram os trâmites no Congresso
Nacional:
1997: Projeto de Lei 3124/97 de autoria do Dep. Barbosa Neto, dá entrada na 1ª
Comissão na Câmara dos Deputados: Comissão do Trabalho, Administração e Serviço Público;
1997: aprovado na 1ª Comissão da Câmara dos Deputados, e, encaminhado para a
2ª Comissão: da Educação, Cultura e Desporto;
2001: encaminhado para a 3ª Comissão: de Constituição, Justiça e Redação;
2007: arquivado com fundamento no art. 105 (encerramento de legislatura)
2008: Projeto de Lei 3152, de 2008, de autoria da Dep. Raquel Teixeira é
apresentado na Câmara dos Deputados em agosto/2008.
2009 : Aprovado por Unanimidade o Parecer, na Comissão de Constituição e
Justiça e de Cidadania (CCJC) ;
2009 : Parecer recebido para publicação na Coordenação de Comissões
Permanentes (CCP) e encaminhado ao Senado Federal.
2014: foi aprovado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal o parecer
que regulamenta o exercício da atividade de Psicopedagogia. Pelo texto, a profissão poderá ser
exercida por graduados e também por portadores de diploma superior em Psicologia, Pedagogia
ou Licenciatura que tenham concluído curso de especialização em Psicopedagogia, com duração
mínima de 600 horas e 80% da carga horária dedicada a essa área. Uma emenda assegurou ainda
a inclusão dos fonoaudiólogos na lista de profissionais aptos a exercer a profissão, após a
especialização exigida. O Projeto teve que retornar à Câmara porque o Conselho Federal de
Fonoaudiologia solicitou mudança no texto que situa a Psicopedagogia na área da Educação,
ampliando para Educação e Saúde.
2016: A Comissão de Educação da Câmara Federal aprovou proposta que deixa a
cargo de cada sistema de ensino (federal, estaduais e municipais) a implementação
do atendimento psicopedagógico de seus alunos. O psicopedagogo não
necessariamente será lotado na escola, mas eventualmente em centro que atenda às
escolas na medida das necessidades que se apresentarem. O texto aprovado é um
substitutivo do deputado Geraldo Resende (PSDB-MS) e inclui a regra na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei 9.394/96). O substitutivo usou como
referência duas propostas (PL 8225/14 e PL 209/15) que instituem o atendimento
psicopedagógico na educação básica. O projeto ainda será analisado
conclusivamente pelas comissões de Finanças e Tributação e de Constituição e
Justiça e de Cidadania. A íntegra das propostas pode ser pesquisada na web pelos
números dos projetos: pl-7646/2014, pl-8225/2014, pl-209/2015.
Além destes trâmites, outras conquistas foram relevantes no processo de
regulamentação profissional:

1
Mestre em Educação – Psicopedagogia – pela Universidade Federal Fluminense; especialista
em Psicopedagogia Clínica por E.Psi.BA, Argentina; membro do Conselho Nato do Núcleo Sul
Mineiro da ABPp- Associação Brasileira de Psicopedagogia
Em 2004: Classificação Brasileira de Ocupações: Psicopedagogia faz parte da
família 2394-25: Avaliadores e orientadores de ensino. A Classificação Brasileira de Ocupações
– CBO- tem por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho para fins
classificatórios junto aos registros administrativos e domiciliares. Os efeitos de uniformização
pretendida pela Classificação Brasileira de Ocupações são de ordem administrativa e não se
estendem às relações de trabalho. Exemplos: imposto de renda; protocolos públicos. A
importância da inclusão na CBO é que doravante nenhuma empresa poderá se esquivar de cumprir
a legislação, alegando que não possui psicopedagogos, mas assessores e assistentes, fato este
comum no País do "jeitinho". Além disso, abre a possibilidade da inclusão do psicopedagogo nos
planos de carreiras do serviço público, além de estamos mais identificados agora ao Código de
Ocupação Internacional, que já previa para outros países essas classificações no caso de
profissionais de Psicopedagogia.
Em 2013 a prefeitura de São Paulo sancionou lei que implementa o cargo do
psicopedagogo na Rede Municipal de Educação do município. De acordo com esta lei, a
assistência psicopedagógica terá como objetivo diagnosticar, intervir e prevenir problemas de
aprendizagem em alunos de instituições de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Em seguida,
o Decreto nº 55.309, de 17/07/2014, regulamentado pela Portaria
nº 6.566, de 24/11/2014, em São Paulo, criou um núcleo multiprofissional, nos
quais os psicopedagogos são fundamentais na composição da equipe e no
atendimento às unidades educacionais. A equipe multidisciplinar é composta por pedagogo,
assistente social, fonoaudiólogo, psicólogo e psicopedagogo. Nesta realidade da cidade de São
Paulo, os chamados NAAPA – Núcleo de Acompanhamento e Apoio para a Aprendizagem – têm
uma feição psicopedagógica. Para saber mais este respeito, acesse
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Apresentacao-14. São 13 NAAPAs, uma para cada
Diretoria Regional de Ensino da cidade.
Em 25 de agosto de 2014 o Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde,
no uso de suas atribuições, altera atributos de procedimentos na Tabela de Procedimentos,
Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPM) do Sistema Único de Saúde e
inclui o acompanhamento psicopedagógico de paciente em reabilitação, nos seguintes casos:
CID G80.0 Paralisia cerebral quadriplégica espástica / Paralisia cerebral tetraplégica espástica
G80.1 Paralisia cerebral diplégica espástica / Paralisia cerebral espástica SOE; G80.2 Paralisia
cerebral hemiplégica espástica; G80.3 Paralisia cerebral discinética / Paralisia cerebral atetóide /
Paralisia cerebral distônica; G80.4 Paralisia cerebral atáxica; G80.8 Outras formas de paralisia
cerebral / Síndromes mistas de paralisia cerebral; G80.9 Paralisia cerebral não especificada /
Paralisia cerebral.
Em dezembro de 2018, por força da finalização do ano legislativo o Projeto foi
arquivado, devendo ser desarquivado em 2019.
O PLC 31/2010, originário da Câmara dos Deputados, estabelece que a
profissão poderá ser exercida não apenas por graduados em psicopedagogia, mas também
por portadores de diploma superior em psicologia, pedagogia ou fonoaudiologia que
tenham concluído curso de especialização em psicopedagogia.
O projeto também autoriza o exercício aos portadores de diploma de curso
superior que já venham exercendo, ou tenham exercido, comprovadamente, atividades
profissionais de psicopedagogia em entidade pública ou privada até a data de publicação
da lei. De acordo com a Associação Brasileira de Psicopedagogia, existem cerca de 100
mil psicopedagogos formados no Brasil, que atuam em escolas e diferentes instituições.
O PLC 31/2010 já havia sido aprovado pelas duas comissões em caráter
terminativo, mas recebeu recurso e terá que ser votado em Plenário.
Pelo exposto, podemos concluir que houve progressos no âmbito da regulamentação
profissional e ainda podemos inferir algo significativo: o processo que vinha sendo desenvolvido
no âmbito federal hoje pode ser realizado nos âmbitos estaduais e municipais, desde que hajam
projetos de lei que criem o cargo na respectiva esfera. Isso garante a inserção do psicopedagogo
na esfera pública mediante processos seletivos e concursos.
Entretanto, convém ainda esclarecer que exercem a função e a ocupação de
psicopedagogos profissionais especialistas em Psicopedagogia formados em cursos de pós-
graduação lato sensu, em todo o país e que tal aceitação é legítima. Daí, é preciso fazermos uma
distinção entre regulamentação e legitimação: legítimo é aquilo que se considera justo, razoável,
aceito por consenso social; legal é aquilo que está disposto em Lei. Nem tudo que é legítimo é
legal, pois muitas leis caem em desuso porque não se incorporam à cultura. No caso da
Psicopedagogia, temos um campo de atuação legitimado socialmente, o que é expresso pelo
número de cursos de especialização e pela produção cientifica da área, pela ampliação do mercado
de trabalho, criação de cargos e funções em instituições públicas, privadas e órgãos estatais.
Temos também uma profissão que caminha a passos largos para a regulamentação,
o que é relevante na medida em que visa a normatização da formação e do exercício profissional,
protege o psicopedagogo e a sociedade de elementos distantes dos requisitos para a atuação em
Psicopedagogia, assegurando direitos.

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