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A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NO ESCRITÓRIO DE NÚCLEO DE

PRÁTICAS JURÍDICA DA FACULDADE CAMPO REAL

Ana Claudia Corado1


Viviane Silveira batista²

RESUMO: Este artigo buscou analisar e desvendar as demandas atendidas pela Assistência
Jurídica Gratuita do Escritório de Prática Jurídica (EPC) da Faculdade Campo Real, referente
a atendimentos realizados no primeiro semestre de 2012. Objetiva-se também configurar a
atuação do Assistente Social junto ao Escritório de Prática Jurídica, bem como analisar o
perfil socioeconômico dos usuários que buscaram atendimento na instituição. Utiliza-se
metodologicamente para realização deste estudo, o método de investigação dialético, o qual
considera que os fatos não podem ser considerados de forma descolados do contexto
econômico e social, a pesquisa quantitativa para realização da coleta e construção dos gráficos
referente aos dados apresentados e da pesquisa qualitativa, para que possibilitasse a
interpretação dos fenômenos apresentados e atribuição de significados. O total de usuários
atendidos foi de noventa e seis, e o que mais chamou nossa atenção foi o grande número de
atendimentos relacionados a questões familiares, quais podem ser atribuídos aos novos
rearranjos da família nos dias atuais. Analisando a pratica profissional, e constata-se que esta,
se desenvolve de forma multidisciplinar, apontado como um desafio, o desenvolvimento de
um trabalho de forma interdisciplinar na busca de proporcionar um melhor atendimento.

Palavras-chave: Núcleo de Prática Jurídica; Serviço Social; Prática Profissional.

1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surgiu da necessidade de se conhecer os usuários que buscam


atendimento jurídico gratuito no Escritório de Prática da Faculdade Campo Real, bem como,
de analisarmos a prática profissional do Assistente Social, desenvolvida junto ao Escritório de
Prática Jurídica.
Algumas considerações iniciais a respeito da forma de atendimento possibilitarão
maior e melhor compreensão das discussões e análises ao longo do texto. Qualquer indivíduo
que não tenha condições de pagar um advogado, pode se candidatar a receber atendimento
gratuito na instituição, desde que preencha os requisitos, que serão abordados adiante.

1
Aluna do Curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO; Endereço: Rua
Salvatore Renna, 875 - Santa Cruz, Guarapuava - PR, 85015-430, Guarapuava – PR. Brasil. E-mail:
hotana25@hotmail.com.
² Pedagoga e Assistente Social, Graduanda em Ciências Sociais - Faculdade Guarapuava, Pós-Graduada em
Docência para o Ensino Superior e Mestranda em Educação – UNICENTRO. E-mail: viibatista@yahoo.com.br.
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O primeiro procedimento realizado para que o cliente possa receber o atendimento, é
o agendamento de uma entrevista socioeconômica com o profissional de Serviço Social. Na
entrevista, o assistente social preenche um questionário com todos os dados econômicos e
sociais dos usuários. A partir dos dados coletados no momento da entrevista, foi possível a
construção e análise dos gráficos e dados que serão apresentados.
O objetivo desta pesquisa é conhecer o público que busca atendimento no Escritório
de Prática Jurídico, bem como avaliar a prática profissional que está sendo desenvolvida,
analisando novas formas que possibilite pensar, e planejar um atendimento qualificado aos
usuários que procuram atendimento junto ao E P J da Faculdade Campo Real.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 CONHECENDO A INSTITUIÇÃO

Faculdade Campo Real nasceu de um desejo de cidadãos guarapuavanos, em


contribuir para que o município se tornasse um Centro Universitário e propiciasse aos
estudantes de Guarapuava, regiões vizinhas e de diversas localidades brasileiras, uma
formação educacional capaz de responder às exigências do mercado, visando, acima de tudo,
o benefício da sociedade.
A Faculdade Campo Real tem como missão formar pela excelência no Ensino,
Pesquisa e Extensão, profissionais com princípios éticos e valores humanos, que busquem
inovar para atender às demandas das comunidades locais e aos desafios globais. Buscando
consolidar-se como Centro Universitário de excelência na formação de profissionais
graduados e pós-graduados, na realização de pesquisas e no estímulo às atividades
extensionistas. Tais iniciativas correspondem aos anseios de aperfeiçoamento científico,
profissional e cultural da comunidade local e regional.
A Faculdade Campo Real é recredenciada conforme Portaria Nº 518, DE 9 DE
MAIO DE 2012:

O ministro de estado da educação, no uso de suas atribuições, tendo em vista o


disposto no Decreto n 5.773, de 09 de maio de 2006, na Portaria Normativa n 40, de
12 de dezembro de 2007 e no Parecer n 473/2011, da Câmara de Educação Superior,
do Conselho Nacional de Educação, conforme consta do Processo e-MEC n
200813764, e diante da conformidade do Regimento da Instituição e de seu

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respectivo Plano de Desenvolvimento Institucional com a legislação aplicável,
resolve:
Art. 1 Fica recredenciada a Faculdade Campo Real, com sede na R. Comendador
Norberto, n 1.299, bairro Santa Cruz, no Município de Guarapuava, no Estado do
Paraná, mantida por UB, Campo Real Educacional S. A - Cescareli, com sede no
mesmo endereço, pelo prazo máximo de 5 (cinco) anos.
Art. 2 Nos termos do art. 10, § 7 do Decreto n 5.773, de 2006, os atos autorizativos
são válidos até o ciclo avaliativo seguinte.
Art. 3 Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

A Faculdade Campo Real, dispõe de diversos cursos de graduação: Administração,


Biomedicina, Enfermagem, Engenharia Agronômica, Engenharia de Produção, Psicologia,
Nutrição, Publicidade e Propaganda e Direito.

2.3 O CURSO DE DIREITO DA FACULDADE CAMPO REAL

O curso foi autorizado pelo Ministério da Educação em 23 de Agosto de 2000, por


meio da Portaria Ministerial nº 1.311/2000. Iniciou suas atividades no segundo semestre do
ano de 2000, na Unidade I, e foi reconhecido através da Portaria SESU n° 258, de 19 de junho
de 2006.
Atualmente o curso possui 25 professores, dos quais 9 são integrantes do Colegiado,
juntamente com a Coordenação, responsáveis pela deliberação sobre as questões acadêmico-
pedagógicas do Curso.
O curso de Direito, conta com um Escritório de Prática Jurídica que tem como
finalidade atingir os objetivos gerais e específicos constantes no Projeto Pedagógico do Curso
de Direito, bem como, desenvolver no egresso as necessárias habilidades para torná-lo apto ao
exercício da profissão escolhida. A disciplina da Prática Jurídica compõe a matriz curricular
do 7º, 8º, 9º e 10º períodos, enquanto o Estágio Supervisionado está inserido nos 7º, 8º e 10º
períodos.

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2.4 CONHECENDO O ESCRITÓRIO DE PRÁTICAS JURÍDICAS NA FACULDADE
CAMPO REAL

O Escritório de Prática Jurídica realiza atendimentos a toda comunidade carente do


município de Guarapuava e região, sendo uma obrigatoriedade para o funcionamento do
curso, a partir da Portaria n. 1886 do Ministério da Educação, de 1994.
Segundo o artigo Art. 10, “O estágio de prática jurídica, supervisionado pela
instituição de ensino superior, será obrigatório e integrante do currículo pleno, em um total de
300 horas de atividades práticas simuladas e reais desenvolvidas pelo aluno sob controle e
orientação do núcleo correspondente”. § 1º: O núcleo de prática jurídica, coordenado por
professores do curso, dispõe instalações adequadas para treinamento das atividades de
advocacia, magistratura, Ministério Público, demais profissões jurídicas e para atendimento
ao público. § 2º As atividades de prática jurídica poderão ser complementadas mediante
convênios com a Defensoria Pública outras entidades públicas judiciárias empresariais,
comunitárias e sindicais que possibilitem a participação dos alunos na prestação de serviços
jurídicos e em assistência jurídica, ou em juizados especiais que venham a ser instalados em
dependência da própria instituição de ensino superior.
A realização das atividades práticas, juntamente com o acesso e a compreensão dos
conteúdos teórico-jurídicos, possibilita ao aluno entender problemas pertinentes à profissão e
a resolução de demandas judiciais, à atuação e exercício profissional diário do profissional de
Direito, motivo pelo qual se estruturou e implementou a metodologia didático-pedagógica da
Prática Jurídica.

2.4.1 A Atuação do Assistente Social Junto ao Escritório de Prática Jurídica

O assistente social atua no Escritório de Prática Jurídica, atua na realização da


triagem socioeconômica. O profissional de Serviço Social se faz necessário de acordo lei
8.662/93 que regulamenta a profissão, qual ressalta que o Assistente Social realiza “estudos
socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da
administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades”, sendo assim
competência do assistente social realizar análise socioeconômica.
No Escritório de Prática Jurídica das Faculdades Campo Real, são realizados
processos Judiciais, em que as pessoas comprovadamente carentes que precisarem de serviços
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jurídicos, tenham acesso ao serviço de forma gratuita. Um dos pré-requisitos adotados pela
instituição e pela assistente social está relacionado à questão da renda familiar, esta por sua
vez não deve ultrapassar o valor de dois salários mínimos, equivalente a R$ 1244,00 reais (um
mil duzentos e quarenta e quatro reais), comprovada por meio da apresentação do
comprovante de renda. Porém, só a questão da renda não é o único fator determinante,
observam-se outros fatores sociais, como a composição familiar; gastos com uso de
medicamentos contínuos, os quais não são disponibilizados gratuitamente pela rede pública,
tendo a família que arcar com os custos; moradia; analisando não somente a renda, mas a
conjuntura em que a família está inserida.

2.4.2 Cotidiano do Exercício Profissional do Assistente Social

É no processo de triagem por meio da entrevista que o profissional assistente social


pauta sua atuação, entrevistando os usuários, busca realizar uma análise socioeconômica, de
seu usuário. O método de trabalho mais utilizado pelo assistente social nesta instituição é a
entrevista, é através dos dados coletados que o profissional tem informações para saber com
intervir.
Garret (2010, p. 51) afirma:

Algumas entrevistas visam principalmente obter informações, outras, dar auxílio,


mas a maioria envolve uma combinação desses dois elementos. O objetivo é obter
conhecimento do problema por ser resolvido e uma compreensão suficiente da
pessoa em dificuldade e da sua situação, de forma que o problema possa ser
solucionado eficientemente.

É por meio da utilização da entrevista como instrumento principal e da visita


domiciliar quando se julga necessário, que se busca compreender e analisar a realidade vivida
pelos usuários que procuram o Escritório de Prática Jurídica. A Profissional de Serviço Social
coleta os dados pessoais como nome, endereço, profissão, escolaridade, composição familiar,
considerados dados básicos na tentativa de conhecer a realidade social vivenciada pelos
indivíduos. Os usuários também relatam os motivos que impulsionaram a busca pelo referido
serviço, em forma de relato expõem os seus problemas ao profissional, para que se busque
uma solução.
A partir dos dados coletados no momento da entrevista e da visita domiciliar,
quando esta se consolida, que o profissional realiza uma prática interventiva, usando de seus
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conhecimentos teóricos, buscando compreender os diversos aspectos que compõe aquela
situação, respeitando também as condições impostas para que ele possa receber o atendimento
gratuito, de acordo com Lima; Mioto (2009, p. 39):

É a partir das demandas postas pelos sujeitos, sejam elas de caráter coletivo ou
singular, que o Assistente Social, a partir da finalidade assumida como horizonte
para suas ações, define tanto o objetivo quanto o caráter da ação a ser empreendida,
localizando-a dentro dos limites e possibilidades colocados pela natureza dos
espaços sócio ocupacionais. Essa definição é realizada através da investigação e do
conhecimento das necessidades da população, expressa pelas suas demandas e pela
realidade particular de suas condições de vida, e em dialogo com o corpo de
conhecimentos já produzidos sobre as particularidades das situações e coerentes com
a matriz teórico-metodológica que direciona determinado projeto profissional.

É a partir da necessidade do usuário e do preenchimento dos requisitos sociais


citados anteriormente, que o profissional de Serviço Social define sua ação. Algumas vezes,
dependendo do serviço solicitado, ao se deparar com necessidades que as famílias têm por
outros serviços, com, por exemplo: casos de violência, dependência química, saúde, educação,
habitação, entre outros, o assistente social encaminha os usuários para outras instituições
competentes que possam receber atendimento necessário e adequado.
A visita domiciliar é considerada como um dos instrumentos do serviço social que
potencializa as condições de se conhecer a realidade dos usuários. Mioto (2001) afirma que as
visitas se apresentam como objetivo de conhecer as reais condições em que vivem tais
sujeitos, e apreender aspectos do cotidiano das suas relações, aspectos esses que geralmente
escapam as entrevistas de gabinete.
Porém, devido ao custo deste instrumental e demanda de tempo, as visitas
domiciliares não são realizadas para todos os atendimentos, somente é utilizado deste
instrumental quando se constata a necessidade de verificação, confirmação de dados e para
realização de uma análise mais aprofundada da situação apresentada pelo usuário.
Toda a prática do profissional desenvolvida no Escritório de Prática Jurídica se
constitui a partir da utilização de instrumentais do serviço social, bem como, das análises e
considerações do profissional sobre a conjuntura apresentada pelo usuário na entrevista.
Porém, somente após a entrevista parecer do profissional de Serviço Social é que o usuário
passa a receber atendimento jurídico. A partir deste momento, o assistente social não tem
mais contato esses usuários.
Assim, tem-se o seguinte: pensar em promover um atendimento social a fim de
acompanhar esses sujeitos durante o andamento, até a finalização do seu processo, bem como
buscar desenvolver esse trabalho de forma interdisciplinar, não somente com o curso de
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direito, mas com outros cursos oferecidos pela instituição, tais como: psicologia, nutrição,
enfermagem, biomedicina, na busca de propiciar a população usuária um atendimento
qualificado, que contribua para a materialização da cidadania das pessoas carentes de
Guarapuava e região, as quais buscam atendimento na Faculdade Campo Real.

2.4.3 A Demanda atendida no escritório de prática jurídica no primeiro semestre de 2012

Os atendimentos no Escritório de Práticas Jurídicas iniciaram no ano de 2012, e os


dados apresentados referem-se ao período dos meses de março a Julho, o que corresponde o
período do primeiro semestre de 2012. Foram realizados 96 (noventa e seis) atendimentos. O
perfil dos usuários atendidos pelo Escritório de Prática Jurídica da Faculdade Campo Real
será mostrado a partir de gráficos. O objetivo desta análise é conhecer e visualizar o perfil
desses no período de março á junho do ano de 2012.

GRÁFICO 1: Tipos de atendimento realizados pelo no Núcleo de Práticas Jurídicas.

FONTE: Escritório de Práticas Jurídicas - Guarapuava-PR, 2012.

Dos atendimentos realizados no Escritório, a maioria da procura está relacionadas à


questões familiares como: divórcios, guarda dos filhos e pensão alimentícia; questões como
estas totalizaram o maior número de atendimento, totalizando 63 atendimentos. A próxima
solicitação mais frequente é o reconhecimento de paternidade com 08 (oito) procuras, e todos
esses pedidos estão relacionados à Vara da Família.
Pode-se observar é que as famílias não apresentam um formato único, uma estrutura
fixa, seja ela tradicional ou não, composta por: pais, mães e filhos. A família se compõe de
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diversas formas e diferentes arranjos. A união pelo casamento existe, porém há também a
união estável entre homem e mulher, e a comunidade de qualquer um dos genitores, apenas a
mãe, ou até mesmo a família monoparental. (PEREIRA, 2006).
O casamento passou a ser visto com uma comunhão plena da vida, deixando aquela
ideia de que se objetivava construir uma família, ou de reproduzir a espécie. As famílias
tornaram-se mais heterogêneas e efêmeras, assumindo uma variedade de formas, exigindo
mudanças conceituais e jurídicas. (PEREIRA, 2006).
As mudanças históricas, econômicas e tecnológicas, têm grandes influências sobre
essa mudança nas estruturas familiares, conforme cita Colares (2000, p. 172):

No decorrer do século XX, as posturas sociais em relação à familiaridade sofreram


as influências do desenvolvimento tecnológico, das alterações econômicas no
horizonte do trabalho, dos eventos beligerantes, das ações políticas de caráter
pacifista e/ou contra-culturais, da destruição de tabus de gênero, etc. Tudo isso
possibilitou que as relações domésticas fossem pouco a pouco se diferenciando da
tradicionalidade imperante até o século passado e se complexizando. Isso gerou, no
caso da sociedade brasileira, a necessidade de abordar temas como o divórcio, a
filiação havida fora do casamento, o aborto, as relações civis entre homossexuais,
etc. Isso é sinônimo de uma ruptura linear das sociedades ocidentais com seus
limites familiaristas, mas fruto de uma exigência histórica, que as fez necessitar
refletir sobre seus limites.

Fica claro que os novos rearranjos familiares, estão em constantes transformações,


segundo os dados obtidos pelos atendimentos relacionados às questões familiares.
O próximo gráfico refere-se ao gênero dos clientes atendidos pelo Escritório de
Práticas Jurídicas, este predominantemente feminino, como outra resposta às novas
configurações das transformações familiares:

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Gráfico 2: Gênero dos usuários que procuram atendimento gratuito no Núcleo de Práticas
Jurídicas.

FONTE: Escritório de Práticas Jurídicas - Guarapuava-PR, 2012.

As mulheres representam a maioria entre os clientes que procuram atendimento


gratuito, totalizaram 75 atendimentos, sendo que os homens apresentaram um total de 31
atendimentos.
O termo “gênero” torna-se, antes, uma maneira de indicar “construções culturais”, a
criação inteiramente social de ideias sobre papéis adequados aos homens e às mulheres. Trata-
se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de
homens e de mulheres. “Gênero” é, segundo essa definição, uma categoria social imposta
sobre um corpo sexuado (SCOTT, 1995).
Scott destaca que essencialmente “[...] o gênero é um elemento constitutivo de
relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é um
primeiro modo de dar significado às relações de poder”. A interpretação dos indicadores
sociais também possibilita a compreensão da dinâmica gênero/classe/raça/etnia na análise dos
diferenciais de renda entre homens e mulheres (BARSTED, 2000).
Mesmo com a grande expansão feminina pelos diversos setores da economia, é
importante ressaltar que ainda existem diferenças bastante significativas quando comparada
com a masculina. Essa inserção feminina no mercado de trabalho vem acompanhada, ao longo
dos anos, por um elevado grau de discriminação, principalmente no que se refere à diferença
salarial entre homens e mulheres (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2009).
Barros et al (2001) reforçam esta ideia, afirmando que existe diferença salarial entre
gêneros, mesmo quando se trata de comparar pessoas com mesmo nível de qualificação.
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Apesar dos contrastes entre gêneros, o trabalho feminino tem importância significativa para a
renda da família.
O aumento da participação feminina na força de trabalho amplia o efeito de seus
rendimentos sobre a redução da desigualdade de renda domiciliar (FREISLEBEN;
BEZERRA, 2008).
Conforme aponta um estudo realizado pelo o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), e divulgado pelo observatório Brasil da desigualdade de gênero,
apesar do recente crescimento econômico e das políticas destinadas a reduzir as
desigualdades, as diferenças salariais relacionadas a gênero e etnia continuam sendo
significativas nos países latino-americanos e este documento aponta como solução na tentava
de reduzir essa disparidade salarial nos países latino-americanos, através da participação
governamental, através da implementação de políticas educacionais da população minoritária,
além da implementação de um maior número de creches, o que permitiria às mulheres maior
dedicação à sua vida profissional.
E no âmbito familiar, uma divisão de tarefas mais igualitária, com seus parceiros na
tanto na criação dos/as filhos/as, como nos afazeres domésticos o que daria às mulheres a
possibilidade de investir e manter suas carreiras. A questão educacional deve ser considerada
como central, pois, é preocupante a baixa escolaridade dos usuários que buscaram
atendimento ao Escritório de Prática Jurídica, conforme aponta o gráfico 3.

Gráfico 3: Gráfico 3: Escolaridade dos cliente de atendimento realizados pelo no Núcleo de


Práticas Jurídicas.

Fonte: Escritório de Práticas Jurídicas - Guarapuava-PR, 2012.

Ressalta-se nesta pesquisa a baixa escolaridade dos usuários, sendo que 07 dos
entrevistados declararam ser analfabetos, 16 declararam ter concluído o ensino fundamental; a
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grande maioria, 67 usuários declara ter apenas o fundamental incompleto. Dentre estes
usuários, não mensura-se quantos fazem parte dos considerados “analfabetos funcionais”, ou
seja, pessoas que apenas sabem desenhar seu nome, porém, apresentam a incapacidade de
utilizar a leitura, a escrita, a interpretação, e realizarem cálculos básicos. Diante da baixa
escolarização, será possível que estas pessoas, possam realmente ter acesso a melhores
perspectivas de vida? Existem Políticas Públicas que possam dar conta dessa demanda? Esta
questão demanda outro estudo mais específico, para ser analisado.
Para Mészáros (2005, p. 16), pensar em educação é “[...] resgatar o sentido
estruturante da educação e de sua relação com o trabalho, as suas possibilidades criativas e
emancipatórias”. Ou seja, a educação deve ser utilizada para libertar, emancipar os
indivíduos, transformando-o em um agente que pensa e que seja capaz de se transformar em
um agente transformado da realidade.
De que maneira pode-se pensar em uma sociedade de direitos, como pressupõem
nossa Constituição Federal, justa, consciente, com perspectiva se mudanças, se a maioria das
pessoas ainda não possui nem mesmo a educação básica, que poderá possibilitar maior
consciência em busca de seus direitos?
A falta de escolarização refletirá consequentemente na inserção desses indivíduos no
mercado de trabalho, conforme os seguintes dados:

Gráfico 4: Os de atendimento realizados pelo no Núcleo de Práticas Jurídicas.

FONTE: Escritório de Práticas Jurídicas - Guarapuava-PR, 2012.

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O gráfico 4 demonstra a situação profissional dos usuários. Referente ao gênero
feminino que procuraram atendimento, 18 mulheres informaram a profissão como “do lar”, ou
seja, mulheres que apenas cuidam da casa e dos filhos, sem renda, e que dependem
financeiramente de seus companheiros, motivo esse, que muitas vezes faz com que e elas,
procurem manter o relacionamento mesmo passando por muitas dificuldades, buscando a
separação ou divórcio, após vivenciarem situações negativas.
As mulheres que trabalharam como diarista e empregadas domésticas totalizaram 15
usuárias, as quais possuem dupla jornada de trabalho, ou seja, além de realizarem seu, ao
retornarem para suas casas ainda precisam cuidar dos seus afazeres domésticos, filhos e
maridos.
Referente aos homens é possível observar que a maioria desempenha funções que
também não necessitam de qualificação profissional, em sua maioria os trabalhadores atuam
na área de serviços gerais, servente de construção civil, agricultor, chacareiro, jardineiro,
montador, entre outros, o que justifica os baixos salários apresentados no gráfico seguir.

Gráfico 5: Renda dos clientes atendimento realizados pelo no Núcleo de Práticas Jurídicas.

FONTE: Escritório de Práticas Jurídicas - Guarapuava-PR, 2012.

Em consequência pelo trabalho pouco especializado, é possível observar os baixos


salários, sendo que a maioria dos empregos ainda encontra-se na informalidade, ocupando a
posição de subemprego.
Segundo Marx (1983, p. 149), “[...] o trabalho revela o modo como o homem lida
com a natureza, o processo de produção pelo qual ele sustenta a sua vida e, assim, põe a nu o

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modo de formação de suas relações sociais e das ideias que fluem destas”. Na prática do
trabalho, o homem não transforma somente a natureza, mas sobre tudo o próprio homem se
transforma a partir de suas relações sociais.
No sistema econômico atual vigente o capitalismo se consolida a partir da revolução
tecnológica, flexibilização das relações sociais e do trabalhado, e da necessidade de formação
de um “exército de reserva” para manter poder manter o controle sobre as forças de trabalho,
bem como o preço por meio da lei da oferta e da procura.
Conseguir um trabalho formal é incomum, como se pode constatar nesta pesquisa. O
número de desempregados que procuraram atendimento no Escritório equivalente a 9,60% do
total de atendidos foi 10 usuários. O desemprego acaba afetando e agravando as estruturas
sociais destes indivíduos, de seus familiares e da sociedade como um todo. É válido ressaltar a
constatação de grande número de famílias que não possuem renda e conta apenas com
benefício oriundo do Programa Federal denominado Bolsa família, conforme apresenta o
gráfico 6:

Gráfico 6: Usuários que recebem a bolsa família.

FONTE: Escritório de Práticas Jurídicas - Guarapuava-PR, 2012.

Conforme o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) 2012:

O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de renda


que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o País.
O Bolsa Família integra o Plano Brasil Sem Miséria (BSM), que tem como foco de
atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70
mensais, e está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos
serviços públicos.

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Esse projeto visa à transferência de renda e acredita “promover o alívio imediato da
pobreza”, porém, tal benefício representa às famílias a única renda familiar, e que, devido ao
baixo valor, não é possível garantia de qualidade de vida mínima para a população usuária.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados apresentados, sem dúvida é indiscutível a importância do


Escritório de Prática Jurídica para toda a sociedade de Guarapuava e região, especialmente
para a população que dela necessita, tendo em vista o grande número de atendimento jurídico
realizado pelo mesmo.
Esta pesquisa faz uma reflexão a cerca da importância e urgência em se formular e
executar políticas públicas capazes de atender a população mais carente, de baixa renda, baixa
escolarização, a fim de estas pessoas possam alcançar condições mínimas e seus direitos
fundamentais sejam respeitados.
Pela análise apresentada, constatou-se que os usuários que procuraram atendimento
jurídico gratuito devido à baixa renda que recebem, não apresentam condições para suprir
suas próprias necessidades básicas, como saúde, alimentação, educação, moradia, cultura e o
lazer, muito menos para contratar os serviços particulares de advocacia.
Salienta-se, ainda, que o profissional de serviço social não desenvolve seu trabalho
de forma multidisciplinar, ou seja, de forma isolada, pois o campo de atuação acaba se
restringindo apenas nas entrevistas e as seleções socioeconômicas, e raramente realizam-se
visitas domiciliares. Apesar de se ocorrer troca de informações e diálogo entre o profissional
de serviço Social e Direito, o Assistente social tem contato com o cliente apenas uma vez, na
data da entrevista, e os outros atendimentos jurídicos até a finalização de seu processo é
realizado pelo profissional da área de direito, o que não caracteriza uma prática
interdisciplinar.
Eis aqui um novo desafio: a busca pela articulação com outras áreas de
conhecimentos que estão sendo desenvolvidas na Faculdade Campo Real, com a participação
dos cursos de psicologia, nutrição, enfermagem, biomedicina, entre outros, na busca de
desenvolver um trabalho interdisciplinar proporcionando um atendimento mais qualificado ao
seu usuário.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARSTED, L. L.. Gênero e Desigualdades. 2000. Disponível em:


<http://www.cepia.org.br/doc/generoedesigualdades.pdf>. Acesso em 21 de agosto de 2012.

BRASIL. Secretaria DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES. Observatório da Igualdade de


Gênero. Brasília, DF, 2012. Disponível em:
<http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/homens-recebem-salarios-30-
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BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME


(MDS). Bolsa Família. Brasília, DF, 2012. Disponível em:
<http://www.mds.gov.br/bolsafamilia>. Acesso em 17 de setembro de 2012.

COLARES, M. A sedução de ser feliz: uma análise sócio-jurídica dos casamentos e


separações. Brasília: Letraviva, 2000.

FREISLEBEN, V. S.; BEZERRA, F. M.. Ainda existe discriminação salarial contra


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Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 92 – 107 out./2012

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