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O FEIJÃO NOSSO DE CADA DIA AGORA TRANSGÊNICO

Denise Bloise

Na quinta-feira, 15 de setembro de 2011, a CTNBio – Comissão


Técnica de Biossegurança – aprovou a produção e comercialização de
sementes transgênicas de feijão carioquinha, desenvolvidas pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. A decisão contou com 15
votos favoráveis, duas abstenções (sendo uma do representante do Ministro
Aloizio Mercadante) e cinco pedidos de diligência (solicitando mais estudos).
Essa variedade de feijão transgênico é resistente ao vírus do mosaico
dourado, que “ataca” as lavouras brasileiras.
Várias questões devem ser consideradas. Nas últimas semanas
circulou na internet um abaixo-assinado solicitando a liberação do feijão
transgênico, subscrito pelos mesmos quinze membros da CTNBio que foram
favoráveis à liberação.
Na verificação dos efeitos sobre a saúde da variedade genética do
feijão, não foram levados em conta estudos com mais de uma geração de
animais, tampouco com animais prenhes. Os estudos foram realizados com
apenas três animais de uma única espécie. Perguntas do representante do
Ministério da Saúde ficaram sem resposta, assim como questões levantadas
em audiência pública anterior.
Outro dado importante é que foram feitos 22 experimentos e apenas
dois deram certos. Existe ainda a possibilidade de contaminação das demais
variedades não transgênicas. O objetivo alegado de combater o mosaico
dourado poderia ser facilmente resolvido através da aplicação dos princípios
agroecológicos.
Segundo a Teoria da Trofobiose do francês Francis Chaboussou, a
planta e o solo nutricionalmente equilibrados não são atacados por agentes
exógenos e patógenos. Nasser Youssef Nars, agrônomo e ambientalista
brasileiro, explorando a mesma vertente de pensamento, desenvolveu um
princípio muito interessante que tem o mato como aliado. Ele costuma dizer
que “Não existe praga, mas sim inseto com fome”.
Importante também considerar os estudos da pesquisadora e
jornalista investigativa francesa Marie-Monique Robin a respeito dos
alimentos geneticamente modificados. Segundo Robin, tais alimentos, que
têm seus riscos omitidos, destroem culturas tradicionais e variedades
genéticas, aumentam a padronização e a dependência tecnológica, e são a
causa de preocupantes danos à saúde dos agricultores e consumidores.
Quanto à alegação de que tal tecnologia ajudará os agricultores
familiares, o mínimo que podemos dizer é que é mentirosa. São justamente
os pequenos agricultores - responsáveis, aliás, pela produção dos alimentos
básicos que nos sustentam – que não têm condições de arcar com os custos
financeiros da transgenia e da agroquímica. Faz-se necessário mencionar a
situação dos pequenos agricultores familiares na Índia, divulgada pela
pesquisadora, física e ambientalista indiana Vandana Shiva, a qual
protagoniza em seu país, junto com o movimento Navdanya, a luta contra os
transgênicos e em defesa dos pequenos agricultores familiares. Vandana
Shiva e Marie-Monique Robin apontam o quadro devastador causado pela
atuação da Monsanto na Índia, com o seu “Cotton Bt”. Na região de
Maharashtra, entre junho de 2005, quando o algodão transgênico Bt foi
introduzido no Estado, e dezembro de 2006, 1.280 agricultores cometeram
suicídio – uma média assustadora de um suicídio a cada oito horas. Relatam a
tragédia desses pequenos agricultores indianos que, durante séculos,
semearam seus campos e agora se veem às voltas com a compra de
sementes, adubos e pesticidas; e por não conseguirem bancar esses custos,
terminam em muitos casos ingerindo um frasco de Roundup.
O grupo pró-transgênico considera uma grande conquista o fato de
ser essa semente do feijão carioquinha a primeira variedade geneticamente
modificada produzida por instituições públicas brasileiras. A nosso ver,
trata-se, nada mais nada menos, de que uma vergonha nacional: testes
insuficientes, irregularidades nos procedimentos e conclusões inconclusivas.
O Brasil vem apresentando um quadro acelerado de liberação de
organismos geneticamente modificados, e uma variedade assustadora de
transgênicos têm surgido. Resta uma pergunta – a quem isso interessa?
Certamente, não aos pequenos agricultores, nem a nós consumidores.
“O agrônomo sempre atuou como um
traficante que dá a droga ao usuário – o
agricultor – e que com o passar do tempo
não precisa mais interferir, pois o próprio
drogado já saberá onde e como conseguir
a droga.” (Jacques Saldanha)

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