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A indústria da cultura produz bens, que são considerados de consumo. Warnier nos ajuda a
entender que fazem parte da indústria da cultura:
"[...] as atividades industriais que produzem e comercializam discursos, sons imagens, artes,
‘e qualquer outra capacidade ou hábito adquirido pelo homem enquanto membro da
sociedade’, e que possuem, em graus diversos, as características da cultura mencionadas
acima”. (WARNIER, p. 28-29)
Não, a indústria da cultura interfere nos hábitos, mas não os torna homogêneos.
Mesmo considerando que o termo globalização também pode ser usado para fazer
referências às trocas mundiais, temos que considerar que esse processo global não é
totalizante. Ao contrário do que se imaginava: que iríamos ter uma cultura global. O local
também é valorizado e interfere na maneira como a cultura mundializada é recebida. Há
grupos que cultivam tradições sem serem agressivos. E a diversidade étnica no mundo é
comum e, na maioria das vezes, não produz conflitos. Devemos considerar o seguinte para
analisarmos as duas citações que seguem: a recepção é diferente mesmo o produto sendo
igual e também há valorização da cultura local no cotidiano.
“os sujeitos vivem melhor dançando, cuidando do vinho ou dos animais do que assistindo
aos espetáculos de marketing. Todos usam blue jeans e bebem Coca-cola, mas sua vida não
está só nisso, e o observador superficial poderá se iludir.” (WARNIER, 2003, p. 154-155)
O que mudou em relação à cultura foi a forma de acesso e produção. As histórias continuam
sendo contadas, a música faz parte das mais diversas culturas, assim como a moda, as artes
plásticas, a diversidade alimentar, etc. Ou seja, a cultura é e foi importante na história da
construção das identidades sociais no mundo. A questão é que acessamos a cultura de
maneira diferente e por meios distintos. O acesso ficou fácil e a produção também. A
tecnologia da informação e o acesso a tais produtos facilitou a circulação mundial de várias
formas de manifestação cultural.
Quando nos referimos a acesso pensem sobre a facilitação que a internet, o rádio e a TV
fizeram com a circulação de cultura no mundo. Claro está que a internet é mais interativa e
menos seletiva do que a TV e o rádio por exemplo. Pois a produção de bens culturais e a
transmissão pela internet possibilita que mais pessoas tenham contato com maior
diversidade cultural, bem como a manifestação pode ser estendida para qualquer lugar
conectado à Rede Mundial de Computadores.
Com base nisto as políticas culturais do governo tentam minimizar o impacto da cultura
industrializada sobre a cultura local. Financiando ou incentivando o apoio para produção de
filmes, teatros, shows, discos, livros, etc. No Brasil, a lei Rouanet, ajuda inclusive a
promover eventos tais como a Oficina de Música de Curitiba. Por meio da Lei Rouanet (Lei
de incentivo à Cultura) os organizadores do evento conseguiram apoio da Petrobrás.
Neste sentido a cultura que foi mundializada virou produto de consumo com grande
intenção comercial. Considerando que a cultura gera dinheiro. A indústria cultural passou a
ser um ramo importante da economia. E a cultura midiática, produzida e divulgada por meio
da mídia é privilegiada.
Na figura acima você pode apreciar uma fotografia de um indígena brasileiro, usando
recursos audiovisuais para registrar a cultura da tribo. Ao invés de registro oral, as
manifestações são registradas em audiovisual. A cultura mundializada produz as novas
condições de registro. Com relação a isso nos alerta WARNIER:
[os etnológos] testemunharam uma erosão rápida e irreversível das culturas singulares em
escala planetária. Por outro lado, na prática de sua profissão, junto às comunidades locais,
eles observam que esta erosão é limitada por elementos sólidos das culturas-tradições e que
há, no mundo inteiro, uma produção cultural constante, abundante e diversificada, a
despeito da hegemonia cultural exercida pelos países industrializados. (WARNIER, 2003,
p. 119)
Na figura abaixo podemos observar uma fotografia do “Monumento aos povos nativos
latino-americanos" na Plaza de Armas em Santiago (Chile). Na escultura o autor faz crítica
à perda da identidade dos nativos: o rosto não está completo.
Figura 2 - Monumento aos povos nativos latino-americanos
Então devemos considerar que há interferência, mas não padrões de mudanças. A forma de
produzir cultura mudou, mas as manifestações e os significados não acompanham
necessariamente o mesmo ritmo.
Mas para ganhar espaço na mídia (meios de comunicação de massa) a cultura tem que
apresentar características para consumo de massa. E neste sentido deve virar espetáculo
para ser mais divulgado e atingir seus fins comerciais.
O Papa é Pop!
O Pop não poupa ninguém
À queima roupa
Uma palavra
Na tua camiseta
Nem o esporte escapa disto. Com a exposição dos esportes (futebol, rúgby, olímpiadas...)
novos contatos culturais são criados (interculturalidade). E isto agrega mais as nações do
que a ONU. Há mais filiados à FIFA (Federação Internacional de Futebol) do que à ONU
(Organização das Nações Unidas). E isto tem características positivas e negativas. É uma
forma de congraçamento e de respeito às diferenças que substitui conflitos regionais e foca
na competição esportiva. A qual, mesmo sendo excludente e mostrando a força de algumas
nações sobre outras, ainda é uma forma clara e festiva de disputa. Porém leva a uma noção
de esporte apenas de alta performance que não é de congraçamento entre culturas ou de
incentivo à saúde.
“Assim nascem a política espetáculo, a religião espetáculo e o esporte espetáculo, não sem
criar confusão e desordem entre a política, a religião e o esporte.” (WARNIER, 2003).