Diversidade: Como a desigualdade racial Estabilidade.

Concurso foi uma

ainda impera em espaços concorridos CADERNO ESPECIAL

conquista para a professora
Roberta Nascimento

OGLOBO
ISSN 2178-5139

9 772178 513002

Irineu Marinho (1876-1925) (1904-2003) Roberto Marinho RIO DE JANEIRO, SEGUNDA-FEIRA, 20 DE NOVEMBRO DE 2023 ANO XCIX - Nº 32.977 • PREÇO DESTE EXEMPLAR NO RJ • R$ 6,00 2ªEdição

ELEIÇÃO HISTÓRICA

Argentina vota por mudança e elege

Milei presidente com ampla margem
Ultradireitista derrota peronista Sergio Massa por 12 pontos e terá desafio de debelar inflação
Considerado uma incógnita política, o can-
didato de ultradireita Javier Milei impôs a
maior derrota ao peronismo em 40 anos,
desde a redemocratização da Argentina. No
segundo turno, realizado ontem, Milei in-
verteu o resultado do primeiro turno e ven-
ceu seu adversário, o atual ministro da Eco-
nomia, Sergio Massa, com 55,7% dos votos
válidos. Após a confirmação da vitória, Mi-
lei fez um discurso breve, em que pregou
união, garantiu ter compromissos com a de-
mocracia e agradeceu o apoio do ex-presi-
dente Mauricio Macri e da candidata Patri-
cia Bullrich, ambos de centro-direita. “Ho-
je começa a reconstrução da Argentina”,
disse Milei. Atual presidente argentino, o
peronista Alberto Fernández afirmou que
vai colaborar com a transição. Massa tam-
bém reconheceu a derrota e ligou para Mi-
lei para parabenizá-lo. PÁGINAS 24 a 26
AGUSTIN MARCARIAN/REUTERS
Lula reconhece vitória
rapidamente, mas não cita
o nome de candidato eleito
Além da proximidade ideológica
com Bolsonaro, Milei preocupa
presidente brasileiro por discursos que
o afastam de grupos como o Brics. Ainda
não se sabe se Lula irá à posse. PÁGINA 26
MÍRIAM LEITÃO
País precisa de plano contra inflação
e iniciar conversas com credores PÁGINA 26
GUGA CHACRA
Ao contrário de Bolsonaro, Milei não
Discurso. Após a confirmação da vitória, Milei defendeu a democracia e agredeceu ao apoio de Macri e Bullrich terá maioria no Congresso PÁGINA 25

Minha Casa ainda Temas relevantes foram FERNANDO GABEIRA

A incapacidade do mundo
Entreouvido
na Argentina

está distante para julgados por ações de de articular a paz PÁGINA 2

a classe média
O governo Lula prometeu ampliar o
Minha Casa, Minha Vida para quem
ganha até R$ 12 mil, mas não há previsão
para criar essa faixa em 2024, dizem
técnicos. Segundo Ministério das Cidades,
tema “continua em estudo”. PÁGINA 13
inconstitucionalidade NATALIA PASTERNAK
Alvo de Arthur Lira, Ações Diretas O risco da queda na vacinação
de Inconstitucionalidade propostas contra o sarampo PÁGINA 11
por partidos pequenos possibilitaram
que STF julgasse orçamento JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS
secreto, restrições na pandemia O mais espetacular repórter
e reeleição no Congresso. PÁGINA 4 de polícia do país SEGUNDO CADERNO — Buuuuu!

CUSTODIO COIMBRA

A tempestade perfeita
Fã de Taylor Swift é assassinado em Copacabana, em mais uma tragédia que marcou
o Rio nos últimos dias. Suspeito havia sido preso na sexta e solto no sábado. PÁGINA 15

1 Sensação térmica chega a 60 graus em show,

e Ana Clara Benevides, de 23 anos, morre

2 doRecorde histórico de calor adia show. Na volta

estádio, fãs enfrentam arrastão e tempestade

3 Oé morto
turista Gabriel Santos, de 25 anos,
em Copa, a facadas

4 Bandalheira: taxistas cobram até R$ 500 após

show, e carros da produção escondem placas

SEGUNDO CADERNO NÃO FOI SÓ TAYLOR PREJUÍZO

Angélica Eventos culturais Agropecuária tem
cinquentona sofrem com o clima perdas com o calor
“Começar cedo deixa sequelas”, diz Temperatura recorde e temporais têm Suínos e aves são os animais que mais
apresentadora, que iniciou a carreira impacto direto em shows. Além de Taylor sofrem, porque não conseguem suar.
aos 4 e celebra 50 anos neste mês. Swift, transtornos foram do Doce Maravilha No Acre, um frigorífico teve mais de
Série do Globoplay revê sua trajetória. ao Tomorrowland. SEGUNDO CADERNO mil frangos de criação mortos. PÁGINA 10
ALEX SANTANNA
2 |
Opinião do GLOBO
Feminicídios em
alta desafiam
o poder público
Primeiro semestre deste ano
registrou maior incidência do crime
desde o início da série histórica
S N
ão perturbadoras as esta-
tísticas de feminicídio
compiladas pelo Fórum
Brasileiro de Segurança
Pública (FBSP). O levanta-
mento, com base nos dados das secre-
tarias estaduais, registra 722 feminicí-
dios no Brasil no primeiro semestre de
2023, maior número desde o início da
série histórica, em 2019. Apesar das
boas intenções de governos, ONGs e
movimentos sociais, o país ainda não
sabe como lidar com o flagelo.
O número representa um aumento
de 2,6% na comparação com os 704 fe-
minicídios no primeiro semestre do
ano passado. Pode não parecer muito,
mas o percentual esconde disparida-
des que demandam ação. No Sudeste,
única região a apresentar crescimento
nos casos, a alta foi de 16,2%, de 235 pa-
ra 273. Das 27 unidades da Federação,
14 registraram mais feminicídios, 12
menos e uma manteve estabilidade.
Na comparação, a maior alta percentu-
al ocorreu no Distrito Federal (250%).
O cenário esboçado no primeiro se-
mestre acentua a tragédia de 2022,
quando o país registrou 1.437 feminicí-
dios, aumento de 6,1% em relação a
2021. A cada dia, em torno de quatro
Incêndios florestais reforçam a
necessidade de política ambiental
Secas extremas serão mais frequentes,
facilitando a propagação do fogo.
Precisaremos estar preparados
O
s incêndios florestais, em
meio às ondas de calor,
precisam entrar na agen-
da das autoridades. Do dia
8, quando a temperatura
começou a subir, até o último dia 14,
houve 6.395 incêndios, 74% a mais que
nos mesmos dias do ano passado e
307% acima de 2021. Ainda que conti-
nue a haver queimadas em que agricul-
tores perdem o controle das chamas,
não há evidências de que estejam em
alta (a temporada de queimadas costu-
ma terminar em setembro). E também
existe a combustão natural, sobretudo
em razão da queda de raios na vegeta-
ção. No solo seco, fica difícil conter
qualquer foco de incêndio. Indepen-
dentemente da origem do fogo, seja na-
tural, seja queimada, a principal causa
do descontrole hoje é a seca.
As chamas começaram a arder há
dez dias no Parque Estadual Rio Negro,
em Corumbá (MS), e deixaram exten-
so rastro de fogo que queimou 60 mil
hectares até atingir a BR-262, que liga
Vitória (ES) a Corumbá. Normalmen-
te, não ocorrem queimadas em no-
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: João Roberto Marinho
VICE-PRESIDENTES: José Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho
O GLOBO
é publicado pela Editora Globo S/A.
DIRETOR-GERAL: Frederic Zoghaib Kachar
DIRETOR DE REDAÇÃO E EDITOR RESPONSÁVEL: Alan Gripp
EDITORES EXECUTIVOS: Letícia Sander (Coordenadora),
Alessandro Alvim, André Miranda, Flávia Barbosa, Luiza Baptista
e Paulo Celso Pereira
EDITOR DO IMPRESSO: Miguel Caballero
EDITOR DE OPINIÃO: Helio Gurovitz
Rua Marquês de Pombal, 25 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ
CEP 20.230-240 • Tel.: (21) 2534-5000 Fax: (21) 2534-5535
mulheres são assassinadas no Brasil
em circunstâncias que envolvem vio-
lência doméstica, familiar ou discrimi-
nação. Tais números traduzem dramas
relatados cotidianamente no noticiá-
rio. As histórias são parecidas: compa-
nheiros ou ex, inconformados com o
fim do relacionamento ou com qual-
quer vestígio de independência, resol-
vem silenciar mulheres à bala.
Não há dúvida de que governo e soci-
edade têm agido para estancar a bar-
bárie. As leis Maria da Penha, de 2006,
e do Feminicídio, de 2015, são exem-
plos de aperfeiçoamento do arcabouço
legal para coibir a violência contra as
mulheres. A legislação se tornou mais
rígida. Canais oficiais para denúncias
de agressões foram criados, campa-
nhas educativas se multiplicaram, mo-
vimentos sociais aumentaram a pres-
são sobre as autoridades.
Mais mulheres têm procurado o Ju-
diciário para se blindar contra seus
agressores. Segundo dados do FBSP,
no ano passado foram concedidas mais
de 1.200 Medidas Protetivas de Urgên-
cia por dia, aumento de 13,7% em rela-
ção ao ano anterior. Em tese, elas impe-
dem que companheiros e ex-compa-
nheiros se aproximem das vítimas.
vembro na região, por ser o início da
temporada de chuvas. Segundo Mar-
cio Yule, coordenador do Prevfogo,
centro técnico de incêndios florestais
do Ibama em Mato Grosso do Sul, não
havia preocupação até agosto. A ocor-
rência de incêndios estava 25% abaixo
da média histórica, seguindo a tendên-
cia nacional de queda no desmatamen-
tos (quem desmata também costuma
usar fogo para limpar o terreno). Mas a
seca acabou com a tranquilidade.
No início da semana passada, um in-
cêndio em torno do Parque Nacional
do Pantanal — maior preocupação,se-
gundo Yule —superava o de Corumbá.
Desde o final de outubro, já destruiu
200 mil hectares. Voltam a aparecer fo-
tos de jacarés calcinados, aviso de que
faltará alimento para as onças-pinta-
das, que tornarão a rondar o que resta
dos rios e lagoas atrás do que comer.
Devido ao aquecimento global, a situa-
ção tende a se repetir com mais fre-
quência, mesmo nos períodos em que
ofenômeno El Niño não for intenso.
O fogo também preocupa em Santa-
rém e Altamira, no Pará. Em outubro,
Princípios editoriais do Grupo Globo: http://glo.bo/pri_edit
EDITORES
Política e Brasil: Thiago Prado - thiago.prado@oglobo.com.br
Rio: Rafael Galdo - rafael.galdo@oglobo.com.br
Economia: Luciana Rodrigues - luciana.rodrigues@oglobo.com.br
Mundo: Leda Balbino - leda.balbino@sp.oglobo.com.br
Saúde: Adriana Dias Lopes - adriana.diaslopes@sp.oglobo.com.br
Segundo Caderno: Marcelo Balbio - balbio@oglobo.com.br
Esportes: Thales Machado - thales.machado@oglobo.com.br
Fotografia: André Sarmento - asarmento@oglobo.com.br
Capa do site: Tiago Dantas - tiago.dantas@oglobo.com.br
Acervo e Qualificação: William Helal Filho - william@oglobo.com.br
SUPLEMENTOS
Boa Viagem: Marcelo Balbio - balbio@oglobo.com.br
Rio Show: Inês Amorim - ines@oglobo.com.br
Ela: Marina Caruso - mcaruso@oglobo. com.br
Bairros: Milton Calmon Filho - miltonc@oglobo.com.br
Infelizmente, os números em ascen-
são mostram que as ações, embora lou-
váveis, não têm sido suficientes para
conter os crimes. Mesmo com Medi-
das Protetivas, mulheres são assassina-
das. É preciso fazer mais. Primeiro, é
essencial se debruçar sobre as estatísti-
cas e agir onde o problema é mais agu-
do, uma vez que o aumento dos femini-
cídios não é homogêneo. Há estados
que contribuem para elevar as estatísti-
cas, caso de São Paulo, onde eles au-
mentaram 33,7%.
Além disso, é preciso incentivar as
denúncias — em muitos casos, as víti-
mas não registram ocorrência ou não
pedem Medida Protetiva —e melhorar
a rede de acolhimento. É fundamental
ainda adotar os programas bem-suce-
didos, e não são poucos. As patrulhas
Maria da Penha, que fazem rondas nas
residências de mulheres ameaçadas,
estão em curso em vários estados com
bons resultados. No Rio Grande do Sul,
aJustiça tem autorizado o uso de torno-
zeleiras eletrônicas para monitorar
agressores. As mulheres ameaçadas re-
cebem alertas pelo celular quando eles
se aproximam. Soluções existem. O
que não se pode é achar a epidemia de
feminicídios algo normal.
incêndios na Amazônia jogaram cin-
zas sobre Manaus. Também há com-
bustão em Minas, Bahia, Tocantins,
Mato Grosso, Rondônia, Maranhão e
Piauí. Mesmo com a queda do desma-
tamento na Amazônia, ainda há incên-
dios, diz Mariana Napolitano, diretora
de Estratégia da WWF-Brasil. A região
enfrenta a seca mais severa em 120
anos. A floresta, ressecada, mais degra-
dada, queima mais fácil.
Um plano existente desde 2021 en-
volve a abertura de aceiros e constru-
ção de açudes artificiais (corixos) para
facilitar a luta contra as chamas. Infe-
lizmente, apenas um corixo foi feito. As
três instâncias de governo deveriam
elaborar, em articulação com o setor
privado, políticas contra os incêndios
florestais. Ao mesmo tempo que se
combate o desmatamento, deve-se
alertar os agricultores sobre os riscos
das queimadas, além de investir nas
tecnologias de prevenção e combate ao
fogo. As alterações no clima devem tor-
nar mais frequentes as secas extremas,
bem como as chuvas torrenciais. Preci-
saremos estar preparados.
SUCURSAIS
Brasília: Thiago Bronzatto - thiago.bronzatto@bsb.oglobo.com.br
São Paulo: Renato Andrade - renato.andrade@sp.oglobo.com.br
ATENDIMENTO AO ASSINANTE
www.portaldoassinante.com.br ou pelos
telefones: 4002-5300 (capitais e grandes cidades)
0800-0218433 (demais localidades)
WhatsApp: 21 4002 5300
Telegram: 21 4002 5300
ASSINATURA MENSAL
com débito automático no cartão de crédito,
ou débito automático em conta-corrente
(preço de segunda a domingo)
para RJ, MG, SP e ES: R$ 169,90
(O Globo não faz cobranças em domicílio)
Segunda-feira 20 .11 .2023 | OGLOBO
Artigos
oglobo.globo.com/opiniao/
cartas@oglobo.com.br
FERNANDO
GABEIRA
blogs.oglobo.globo.com/opiniao
editoria.artigos@oglobo.com.br
Consciência do mundo
num hospital em Gaza
uma segunda-feira, falar de temas tão distantes co-
mo um hospital em Gaza, levantar questões como
uma ainda inexistente ordem mundial, talvez não seja o
melhor caminho.
“Alguma coisa está fora da nova ordem mundial” —
diz a canção. Mas Henry Kissinger, em seu livro sobre o
tema, diz que nunca houve uma verdadeira ordem
mundial. A Paz de Vestfália no fim da Guerra dos 30
Anos (1618-1648) foi um evento europeu.
No momento em que as tropas de Israel entraram no
Hospital Al-Shifa, em Gaza, nada pude fazer, exceto me
informar. Mas a ONU também nada pode fazer, exceto di-
zer que hospitais não são campos de batalha. Estamos,
portanto, no mesmo barco, eu e a ONU.
As imagens do dia anterior foram terríveis. Bebês re-
cém-nascidos fora das incubadoras, por falta de energia.
Israel afirma que, com dados da Inteligência, sabe que o
Hamas usa o hospital como base. O Hamas nega. Um pa-
lestino entrevistado pela Al Jazeera parece confirmar a te-
se de Israel: o Hamas deveria sair daqui e ir para o inferno.
O Hamas usa as pessoas como escudo humano. Sua tese,
pós-atentado, é que trouxe Israel para a guerra, e era isso
que pretendia para manter acesa a causa palestina.
Não é possível concordar com quem usa mulheres e
crianças como escudo humano. Mas também não é pos-
sível concordar com quem mata escudos humanos, nu-
ma tentativa de alcançar o Hamas.
O hospital está cheio de feridos de guerra e doentes.
Sem remédios ou eletricidade. Os recém-nascidos esta-
vam do lado de fora por causa disso. Uma fila de corpos
enrolados em lençóis brancos à espera de uma cova co-
mum nos fundos do hospital. As cirurgias eram feitas
sem anestesia ou, nos casos mais graves, com meia dose.
Médicos e enfermeiros dormem apenas du-
Al-Shifa está as horas por noite. E há ainda centenas de re-
cheio de feridos de fugiados nos corredores do hospital.
guerra e doentes. As bombas caíram perto. Soldados de Is-
Sem remédios rael invadem o hospital, visitam quarto por
ou eletricidade. quarto. Homens são chamados para uma
Os recém-nascidos revista no pátio. Imagino tudo isso sendo
estavam do visto pelos olhos de doentes e feridos. Vul-
lado de fora neráveis e estupefatos, os pacientes do Al-
Shifa foram internados no inferno.
Quando a OMS perdeu contato com os médicos e
enfermeiros do hospital, percebi uma nova dimensão
da tragédia: estavam isolados no centro de Gaza, sem
contato com o mundo exterior. Israel permitiu uma
visita controlada da imprensa, achou alguns fuzis,
mas ainda procurava os túneis.
Minha vontade foi me sentar na calçada com a ONU e
chorar a impossibilidade de fazer algo. No entanto, o que
sempre sonhei ser possível no Conselho de Segurança
acabou se consumando: uma declaração enfatizando o di-
reito das crianças e clamando por pausas humanitárias,
inclusive a devolução daquelas que foram sequestradas
pelo Hamas. Inicialmente, Israel resistirá.
Será que essa pequena dose de influência da comunidade
internacional será cumprida? Será que é possível realmente
sonhar com uma ordem mundial com tantos conflitos vio-
lentos, tanto extremismo religioso?
Algumas tentativas fracassaram ao longo da História.
Mas, num momento como este em que nos sentimos tão
frágeis, assim como a própria ONU criada para abrigar
todos os países, é exatamente quando precisamos reno-
var a esperança. O que fizemos com a natureza ameaça
nossa existência, só falta nos destruirmos antes de ser-
mos expulsos pelo próprio planeta.
Não importa o resultado desta guerra no Oriente Mé-
dio. Ela já nos mostrou como são inadequados os instru-
mentos que temos, inclusive o próprio Conselho de Se-
gurança, que, na verdade, sempre nos assegura que na-
da ou muito pouco será feito. Suas regras são feitas para
que a rivalidade das potências leve à paralisia. Pelo me-
nos as crianças conseguiram sensibilizar um organis-
mo tão ineficaz. São as grandes vítimas e podem ser
uma inspiração para a mudança.
VENDAS EM BANCA PUBLICIDADE Noticiário: (21) 2534-4310 Classificados:
Dias úteis: RJ, SP, MG e ES: R$ 6,00 (21) 2534-4333 Jornais de Bairro: (21) 2534-4355
Domingos: RJ, SP, MG e ES: R$ 10,00 Missas, religiosos e fúnebres: (21) 2534-4333.
Carga tributária aproximada de 20% Plantão nos fins de semana e feriados: (21) 2534-5501
O GLOBO não entra em contato para cobrança de multa ou renovação
da assinatura. Desconsidere qualquer contato a respeito desses temas.
Para ter O GLOBO em seu ponto de venda, escreva para
vendasavulsas@edglobo.com.br
FALE COM O GLOBO:
Geral (21) 2534-5000 Classifone (21) 2534-4333 Leia aqui a Declaração
Conjunta ao FSC
Assinaturas 4002-5300 ou oglobo.com.br/assine
AGÊNCIA O GLOBO DE NOTÍCIAS: Venda de noticiário:
(21) 2534-5595 Banco de imagens: (21) 2534-5777
Pesquisa: (21) 2534-5201
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 Opinião | 3

_ SEG _ Fernando Gabeira _ Demétrio Magnoli (quinzenal) _ Miguel de Almeida (quinzenal) _ Edu Lyra (quinzenal) _ Irapuã Santana (quinzenal) _ Washington Olivetto (quinzenal)
_ TER_ Merval Pereira _ Carlos Andreazza _ QUA_ Vera Magalhães _ Elio Gaspari _ Bernardo Mello Franco _ Roberto DaMatta (quinzenal) _ QUI_ Merval Pereira _ Malu Gaspar
_ SEX_ Vera Magalhães _ Flávia Oliveira _ Pedro Doria _ Bernardo Mello Franco _ SÁB_ Carlos Alberto Sardenberg _ Eduardo Affonso _ Pablo Ortellado _ DOM_ Merval Pereira _ Dorrit Harazim _ Bernardo Mello Franco

MIGUEL DE
ALMEIDA ARTIGO

Podes crer no
blogs.oglobo.globo.com/opiniao
migs@lazuli.com.br
axé dos teus
ancestrais
Os próximos
prefeitos
MARTINHO DA VILA
E ELOI FERREIRA

EemmCardoso
meados de 1985, Fernando Henrique
rodava a periferia paulistana
campanha pela Prefeitura. A ditadura
A ngola, terra de Nzinga Mbandi,
nascida em 1582 e conhecida co-
mo Rainha Ginga, uma guerreira que
fora sepultada havia pouco, eram as primei- liderou inúmeras lutas contra as inva-
ras eleições municipais depois de 20 anos, sões ao seu território. Ela era uma líder
sob os ares de um novo recomeço (não custa que sabia negociar e celebrar acordos
sonhar). O então senador amassava barro diplomáticos. Nunca conseguiram
nos bairros populares, apertava a mão de lí- derrotar Nzinga, considerada pelos
deres comunitários, enfim, seguia o figuri- brasileiros uma ancestral angolana.
no do beabá eleitoral. Comia uma maionese Isso demonstra que o oceano que nos
aqui, um churrasquinho ali. separa, para nós, é apenas um riacho,
Também na disputa pelo cargo, sem sair pois há uma ponte cultural que nos li-
de casa, reunindo-se diariamente com ga. A Rainha Ginga é festejada nas ro-
seus apoiadores e abastecido por doses de das de capoeira e em outras manifesta-
vinho do Porto, Jânio Quadros, apresenta- ções culturais afro-brasileiras.
do como o passado em pessoa, ironizava Em 11 de novembro de 1975, a in-
seu adversário, visto como a renovação em dependência de Angola foi declara-
cores: “não sabe sequer onde fica Sapo- da pelo líder do Movimento Popular
pemba” (equivalente a Del Castilho cario- de instituir o passe livre aos idosos no trans- cos, atingidos pelo rodapé da ideologia. de Libertação de Angola (MPLA),
ca). FH carregava a fama de só conhecer porte público. Antes participara de mutirões Cidades como Rio e São Paulo torna- Agostinho Neto, após longas bata-
Paris e os arredores da Sorbonne. na construção de casas na periferia. ram-se caras, pouco aprazíveis, perigosas lhas. Lutaram também pela causa os
Podia ser verdade, mas não mostrou ser o Desde então, por uma desgraça qualquer, e sujas, com impostos altos, serviços taxa- combatentes da União Nacional pa-
maior problema da campanha de FH. Em cada vez mais as metrópoles brasileiras são dos em excesso e problemas que se agra- ra Independência Total de Angola
sua empolgação, se esmerava num discurso vítimas de políticos com medo dos proble- vam, sob direita ou esquerda. Como a (Unita), da Frente Nacional de Li-
para o país, quando era candidato a prefeito. mas de suas cidades. Interessados apenas questão dos viciados em crack, cada vez bertação de Angola (FNLA), organi-
Martelava a ideia de que o voto nele signifi- em usar o cargo de olho em postos mais al- mais grave e a caminho de se tornar um zações políticas que se empenharam
cava a consolidação da democracia. E, no tos — governo estadual ou Presidência. En- conflito civil. Em São Paulo, os prefeitos pela independência do país.
adversário, o retrocesso. De outro lado, Jâ- quanto as ruas são cobertas de buracos, as Fernando Haddad ou João Doria, cada Antônio Agostinho Neto, além de
nio falava em transporte público, água en- calçadas expulsam os pedestres, as creches qual numa cartilha, colocaram na mesa guerrilheiro, era médico, escritor,
canada, asfalto em regiões carentes. ficam sem funcionários, e o mercado imo- diferentes abordagens, entre o afago e a poeta e político. Foi eleito presiden-
Lembro-me de dizer a José Serra, então biliário dita os planos urbanísticos. porrada, tendo como resultado o aumen- te do país, governou até 1979, e o Bra-
secretário no governo de Franco Montoro: A imagem do alcaide preocupado com o to no número de consumidores. O famoso sil foi o primeiro país a reconhecer a
— Vocês vão perder. bem-estar de seus cidadãos, capaz de ofere- “deu em nada”. Independência de Angola. A Unita e
— Não diga isso. Por quê? cer políticas públicas criativas ou de reinven- Nos últimos dias, a partir de inações muni- a FNLA não reconheceram a eleição
— A população quer saber de creche e tar o espaço urbano —bem, essa é uma figura cipais e estaduais, moradores de bairros ame- de Agostinho Neto, e eclodiu uma
transporte. Essa conversa de democracia em desuso. Foi substituído pelo tipo ideológi- açados da invasão por viciados riscaram a fa- sangrenta guerra civil.
não bate na periferia. co, fundamentalista. O que governa sob o ca no chão: aqui não entram. E se postaram Contornadas as lutas internas poste-
Jânio levou a eleição por uma diferença pensamento de estar à frente de uma peque- nas ruas em postura de barricada. Já que as riores à Independência, seguiram-se as
muito pequena (3%). Fez uma gestão de na aldeia, não de uma metrópole povoada por autoridades se mostram incapazes de apre- ações para superar os conflitos do perío-
olho na mobilidade urbana, com a constru- milhares de pessoas com opiniões diversas, sentar um plano factível, a população recorre do colonial e, em 4 de abril de 2002, José
ção de novas avenidas e viadutos, também mas com necessidades básicas que precisam aprovidências desesperadas. É um passo para Eduardo dos Santos, sucessor de Agos-
com gestos acusados de populistas, mas que ser satisfeitas. Como uma calçada sem bura- o confronto, com mortos e feridos. tinho Neto, celebrou o fim do conflito
eram música a alguns ouvidos, como o de- cos. Ou uma praça ajardinada. Bolsonaristas e petistas agitam bandeiras armado que, por mais de três décadas,
creto que mandava plantar apenas árvores A ideia da urbanidade, a exaltação do uni- de costumes, as questões identitárias etc., só tirou a vida de milhares de angolanos. O
frutíferas na cidade — “para que voltem os verso urbano, do espaço capaz de reunir a capazes de cindir, sem enfrentar problemas combate à fome foi um compromisso
passarinhos”, justificou em seu despacho. quintessência da civilização, como acalenta- terrenos. Para fugir das ruas congestionadas, assumido no pós-independência, mas
Emulava assim Mário Covas, prefeito anteri- va o poeta Charles Baudelaire, parece sepul- os entregadores de aplicativos agora dispu- ainda enfrentam grandes desafios para
or, que mandara plantar flores nas ilhas cen- tada. A realidade exibe prefeitos voluntario- tam com os pedestres as calçadas esburaca- pragmatizar o desenvolvimento da in-
trais das principais avenidas da cidade. Além sos e despreparados, religiosamente fanáti- das. Em algum momento, a coisa estoura. dústria, educação, saúde pública, habi-
tações… Isso em meio à crise econômi-
ca mundial de 2023.
O oceano que O mundo mudou
WASHINGTON sem identificar a equipe à distância. Como
lembravam proezas esportivas, os atletas op-
mundo, tão bem contada por Sarah.
Quanto à história do blazer no Brasil, para
separa Brasil e muito desde o surgi-
Angola, para mento da internet,
OLIVETTO taram por usá-las também fora das competi-
ções, para ser reconhecidos publicamente.
que ninguém fique morrendo de curiosida-
de, eu conto agora.
nós, é apenas com novas tecnolo-
um riacho, pois gias de uso cotidia-
Em 1890, o termo blazer virou comum na Nos anos 1950, a maioria dos homens há uma ponte no, descobertas de
Inglaterra, e a ideia de usar aquela vesti- brasileiros não fazia a barba todos os dias, cultural que novos tratamentos
menta foi adotada pela maioria dos clubes. mantendo uma aparência de sujos ou des- nos liga para saúde, métodos
blogs.oglobo.globo.com/opiniao Logo depois, o rei Eduardo VII transformou leixados. Esses mesmos homens tinham de produção agrope-
washington@washingtonolivetto.com.br
o blazer numa roupa de lazer e verão ade- no máximo um terno preto e um terno cuária, tecnologias de uso sustentá-
quada para playboys de qualquer idade. cinza, o que fazia com que parecessem es- vel do meio ambiente e outras con-
Ducal, Ducal, Passaram os anos e, durante a Era do Jazz, o
blazer foi adotado nos Estados Unidos como
tar sempre vestidos com a mesma roupa,
igualzinho a meu pai
quistas que tornam o desenvolvi-
mento uma imposição contemporâ-

Ducal
roupa preferida para o dia a dia, por represen- Outros anos no seu cotidiano. nea. Os cerca de 33 milhões de ango-
tar um estilo de vida casual e elegante. passaram, Nessa época, a multi- lanos estão ávidos para acessar bens
Outros anos passaram, e o que era bom e o que era bom nacional Gillette iniciou econômicos e culturais, mas poucos
para os meninos começou a ser bom tam- para os meninos a mudança do hábito de têm computador. Há uma longa ca-

Q uando eu era criança, e meu pai, muito de

vez em quando, usava um paletó de uma
cor diferente da calça, eu ficava surpreso, mas
bém para as meninas. Gabrielle Chanel
feminilizou o blazer no início da década
de 1920, ao criar roupas para mulheres
começou
a ser bom
também para
barbear dos brasileiros
com a campanha “Faça a
barba todo dia com Gil-
minhada a percorrer, pois é necessá-
ria a redução do analfabetismo, das
desigualdades, mas o futuro é pro-
não tinha a mínima ideia do que seria um bla- modernas e emancipadas. O futuro da as meninas lette Azul”, baseada em missor. Angola é um Estado pavimen-
zer e de como essa roupa havia entrado para o moda, antecipado por Chanel, se expres- jingles nas rádios, veículo tado para investimentos nas diversas
vestuário do homem brasileiro. sava por meio da apropriação e adaptação que dominava a mídia brasileira. áreas da economia, é o terceiro maior
Nos anos 1970, fui aprender que o blazer inteligente de itens clássicos do guarda- Enquanto isso, o jovem empresário José produtor de diamantes no mundo.
surgiu no Brasil nos anos 1950, por causa de roupa masculino. Vasconcelos de Carvalho, com menos de Gostaríamos de estar na terra dos nos-
uma ideia que passei a contar em palestras, Esses elementos já consagrados, devida- 30 anos de idade, recém-chegado de um sos ancestrais, festejando a Indepen-
como exemplo de criatividade nos negócios. mente feminilizados e simplificados, vira- curso de administração de empresas nos dência e abraçando os amigos angola-
Mas, curiosamente, eu, que tinha falado ram símbolo de elegância e bom gosto. Cha- Estados Unidos, percebeu que poderia nos, em particular o poeta Manuel Rui,
sobre o blazer no Brasil várias vezes, só fui nel ensinou as clientes a estilizar suas cria- construir um império mudando o jeito do ocompositor Ruy Mingas e os embaixa-
descobrir como ele surgiu no mundo pouco ções e a misturar bijuterias com joias de ver- brasileiro de se vestir. dores Boaventura Silva Cardoso, ex-mi-
tempo atrás, por meio de uma reportagem dade, acrescentando, assim, personalidade Imaginou criar uma rede de lojas de rou- nistro da Cultura, Armindo Fagundes
da jornalista Sarah Hyde, numa elegante re- e luxo a suas roupas, e particularmente a pas no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Ge- do Espírito Santo e Leovigildo da Costa
vista made in Italy, chamada Cabana. seus blazers de cortes perfeitos. rais que vendesse ternos com uma calça a eSilva e o radialista Dionísio Rocha.
Sarah conta que o nome blazer veio das ja- Anos depois, Yves Saint Laurent, inspira- mais, de outra cor, que pudesse ser usada Vivas ao povo angolano!
quetas usadas pela tripulação do barco inglês do em Chanel, virou a alta-costura mundial com o mesmo paletó. Assim surgiu a bem-
HMS Blazer, no século XIX. O termo come- de cabeça para baixo com seu smoking fe- sucedida Ducal, nome que resumidamente Martinho da Vila é cantor
çou a ser usado em 1850 para descrever uma minino. A genialidade de Saint Laurent foi queria dizer um paletó e duas calças. Foi as- e compositor, Eloi Ferreira,
jaqueta leve, de cor vermelha e brilhante, ves- desenhar estilos masculinos de forma que sim que apareceu o blazer no Brasil. advogado, foi ministro da Secretaria
tida pelos remadores do Christ Church Colle- embelezassem a figura feminina. Essa al- Na próxima semana, vou mandar essa his- de Promoção da Igualdade Racial
ge de Cambridge em todas as competições. faiataria sensual do famoso terninho de tória para Sarah Hyde. Quem sabe ela resol-
As jaquetas marcavam a identidade do clu- Saint Laurent levou as mulheres para o sé- ve fazer uma continuação de sua excelente N. da R.: Irapuã Santana
be, garantindo que os espectadores pudes- culo XXI e completa a história do blazer no reportagem sobre o blazer no mundo? excepcionalmente não escreve hoje
4 |
Política
PODER DOS PEQUENOS
Alvo de Lira, atuação de siglas menores no STF gerou
de proteção à pandemia ao fim do orçamento secreto
DANIEL GULLINO
daniel.gullino@oglobo.com.br
-
D efendido publicamente
tanto pelo presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
quanto pelo cacique do PL,
Valdemar Costa Neto, o plano
de restringir o acesso de parti-
dos pequenos ao Supremo
Tribunal Federal (STF) quan-
do querem derrubar leis deve
gerar impactos na dinâmica
da Corte e para a sociedade, se
for posto em prática. Levanta-
mento feito pelo GLOBO
identificou 35 iniciativas de
siglas com baixa representa-
ção no Congresso que, desde
2019, deram origem a deci-
sões importantes para a histó-
ria recente do país, como a ex-
tinção do orçamento secreto,
medidas de combate à pande-
mia e mudança nas regras de
reeleição nas cúpulas da Câ-
mara e do Senado.
Essas sentenças foram con-
seguidas por meio de dois ins-
trumentos: Arguição de Des-
cumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) e
Ações Diretas de Inconstitu-
cionalidade (ADI), esta últi-
ma alvo da insatisfação de Ar-
thur Lira. Nesses anos, foram
contemplados com senten-
ças favoráveis legendas de to-
do o espectro, como PSOL,
Rede, Cidadania, PTB, PV,
Solidariedade e PROS.
SENTENÇA SIMBÓLICA
Numa das decisões mais re-
presentativas, em maio de
2020, ministros do STF auto-
rizaram prefeituras e gover-
nos a adotar medidas de res-
trição à locomoção, sem a ne-
cessidade de autorização do
Ministério da Saúde. À épo-
ca, o governo de Jair Bolsona-
ro tentava impedir qualquer
controle, o que gerou tam-
bém a reação do Congresso.
Já o orçamento secreto pas-
sou a ser considerado incons-
titucional pelo Supremo no
ano passado, quando o tribu-
nal julgou uma ADPF movi-
da por PSB, Cidadania, PSOL
e PV. As siglas questionavam
a legalidade do instrumento
que permitia a parlamenta-
res destinarem recursos da
União sem serem identifica-
dos e de forma desigual.
Foi por meio de provoca-
ção do PTB, sigla que sequer
atingiu a cláusula de barreira
e precisou se fundir ao Patri-
ota, que o STF vetou, em
2020, a possibilidade de ree-
leição de presidentes de Câ-
mara e Senado na mesma le-
gislatura. A sentença atrapa-
lhou os planos dos chefes das
casas à época, o deputado Ro-
drigo Maia e o senador Davi
Alcolumbre (União-AP).
A possibilidade de restri-
ção à atividade das legendas
menores junto à Corte ga-
Presidente do
PL. Valdemar
Costa Neto está
ao lado de Lira
na empreitada
Recursos limitados. Arthur Lira na Câmara dos Deputados: presidente da Casa é um dos entusiastas de proposta que restringe movimentos de partidos junto ao STF
O QUE ESTÁ EM JOGO
O CERNE DA POLÊMICA
Tanto o presidente da
Câmara, Arthur Lira,
quando o do PL,
Valdemar Costa Neto,
defenderam
publicamente medidas
para restringir a atuação
de partidos menores no
Supremo. Eles sugerem
que ações repetidas de
tais siglas na Corte
fiquem condicionadas a
um número
mínimo de apoios
no Congresso.
SENADO
nhou força há duas semanas.
Na ocasião, Arthur Lira suge-
riu “subir o sarrafo” para a
apresentação de Ações Dire-
tas de Inconstitucionalidade,
as ADIs, e defendeu que de-
veria ser preciso 20% de
apoio do Congresso para in-
gressar com esse tipo de pedi-
do. A conta corresponderia a
103 deputados e 17 senado-
res, o que tornaria necessário
o endosso de ao menos duas
siglas grandes, pela configu-
ração atual das bancadas — o
PP, por exemplo, tem 50 re-
presentantes na Câmara.
— Nós temos erros na for-
mulação de quem pode fa-
zer ação direta de inconsti-
tucionalidade no Brasil —
afirmou Lira. — Eu já pro-
pus ao presidente (do Sena-
do), Rodrigo Pacheco, que o
Congresso apresente (uma
proposta nesse sentido).
Nós temos que subir o sarra-
fo das proposições de ADIs.
Outra sugestão veio do caci-
que do PL, Valdemar Costa
Neto: apenas legendas
com um mínimo de
20 deputados po-
deriam acionar o
STF, o que exclui-
BETO BARATA/PL
Segunda-feira 20 .11 .2023 | OGLOBO
GOVERNADOR DE SP PARA
ACESSAR
Tarcísio terá de explicar anistia a multas APONTE
O CELULAR
PARA
NA WEB Fux, do STF, cobrou esclarecimentos sobre medida que favoreceu Jair Bolsonaro O QR CODE
ZECA RIBEIRO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Durante a pandemia, o
STF tomou diversas medi-
das de impacto: além de au-
torizar a competência de es-
tados e municípios, a Corte
obrigou a apresentação de
comprovante de vacina para
estrangeiros, prorrogou a
vigência de medidas sanitá-
rias e impediu restrições na
Lei de Acesso à Informação.
Todas essas decisões ocorre-
ram a pedido da Rede, por
meio de ADIs.
A porta-voz do partido,
Heloísa Helena, afirmou
que as legendas já enfren-
tam obstáculos para existir e
que uma mudança iria tra-
zer prejuízos à sociedade:
—Qual a motivação de au-
mentar obstáculos na co-
municação da sociedade
com o STF? Como retirar a
legitimidade de uma ferra-
menta política que, para ser
considerada partido, já se
submete a gigantescos obs-
táculos legais?
Em 2023, o partido que
mais apresentou ADIs e
ADPFs foi o Novo, com dez
ações cada. A mais recente
questiona a utilização das
AÇÕES JULGADAS PELO STF emendas de comissão, ins-
Estado de coisas Medidas restritivas na Orçamento secreto Reeleição na Câmara
trumento que a sigla consi-
inconstitucional do pandemia (Rede): (Cidadania, PSB, e no Senado (PTB):
sistema prisional autorizou estados e PSOL e PV): proibiu proibiu a recondução
dera a perpetuação do orça-
(PSOL): reconheceu municípios a restringir essa modalidade de para as presidências mento secreto.
violação de direitos locomoção, sem a partilha de recursos das casas do Para a representante da
fundamentais dos necessidade de da União, em que Congresso em uma bancada do Novo, deputada
presos e determinou chancela do Ministério deputados e mesma legislatura, Adriana Ventura (SP), uma
que os governos federal da Saúde. Depois, senadores destinavam afetando diretamente mudança no requisito seria
e estaduais apresentas- estendeu vigências de verbas a seus redutos pretensões de
antidemocrática.
sem um plano para medidas como sem transparência e Rodrigo Maia e Davi
reverter a situação. isolamento e uso de de forma desigual Alcolumbre.
— Tirar o direito de qual-
máscaras. entre eles. quer partido de acionar o
STF é mais um ataque à de-
CASOS À ESPERA DE JULGAMENTO mocracia. Querem cercear
Descriminalização do Emendas de Lei das Estatais (PCdoB): o direito legítimo de um par-
aborto (PSOL): a então comissão (Novo): o então ministro Ricardo tido representar seus eleito-
ministra Rosa Weber partido alega que Lewandowski suspendeu res —disse a parlamentar.
votou para a prática mecanismo tem sido quarentena para que Em janeiro do ano passa-
deixar de ser crime até utilizado de forma dirigentes partidários do, um dos julgamentos
a 12ª semana de irregular para driblar assumam cargos no alto
gestação. O julgamento proibição ao comando de empresas
que irritou Lira foi o ques-
CÂMARA
foi suspenso e não tem orçamento secreto. estatais. Decisão precisa tionamento feito justa-
previsão de retornar. ser confirmada por demais mente pelo Novo, que que-
ministros. ria derrubar o valor do fun-
EDITORIA DE ARTE do eleitoral de R$ 5,7 bi-
lhões. Em manifestação
BRENNO CARVALHO
encaminhada ao STF, Lira
afirmou que a ação visava a
criminalização da política
e defendeu a rejeição do
recurso. O Supremo, en-
tão, manteve o cálculo es-
tipulado pelo Congresso.
OUTRAS AMARRAS
Ainda em maio de 2021,
sob a gestão de Jair Bolso-
naro, Lira patrocinou ou-
tra empreitada que limi-
tou a atuação de parla-
mentares de oposição du-
rante as votações no ple-
nário da Casa — o que
também afetou siglas pe-
quenas. À época, parla-
Impactos. Se aprovada, mudança sugerida por caciques deve afetar o cotidiano do Supremo e da sociedade de modo geral mentares de partidos de
esquerda, que estavam ao
ria 13 siglas com representa- Esse modelo atual é alvo cional da UnB e da UFPR, os lado da minoria, argu-
ção hoje na Casa. O PL, por de críticas porque partidos números revelam que o mo- mentaram que as mudan-
sua vez, tem a maior bancada, com poucos parlamentares delo funciona e que as siglas ças atentavam contra o
com 97 membros. apresentam diversas ações não protocolam apenas soli- parlamento e tinham por
na Corte. Na visão de al- citações sem base técnica. objetivo cercear o debate
MINISTROS DIVERGEM guns — incluindo parte de — O dado mostra como democrático.
Hoje, qualquer partido po- ministros do STF —, há um partidos políticos têm efeti- Com a extinção do limite
de apresentar uma ADI ou excesso de processos, que vo acesso ao Supremo Tri- de tempo das sessões ordi-
uma ADPF. Também po- sobrecarregam o tribunal. bunal Federal. O fato de se- nárias e extraordinárias, fo-
dem utilizar esses instru- Outros magistrados, no en- rem partidos políticos me- caram prejudicados recur-
mentos a Procuradoria- tanto, consideram que a nores não é ruim. Ao contrá- sos da oposição, como pedir
Geral da República (PGR), norma atual protege o di- rio, eu diria que é bom. É a abertura de novo painel pa-
representantes do Execu- reito das minorias. garantia de que as minorias ra verificação de quórum e
tivo e do Legislativo e enti- Para Miguel Godoy, pro- representadas podem ter requerimentos que arras-
dades de classe. fessor de Direito Constitu- acesso ao tribunal. tam uma sessão.
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 Política | 5

20 DE
N OV E M B R O .
D I A DA
CO N S C I Ê N C I A N E G R A .
U M D I A PA R A
CELEBRAR NOSSA
ANCESTRALIDADE E
LEMBRAR QUE AINDA
H Á M U I T O PA R A S E R
C O N Q U I S TA D O .

Conheça as ações e os
compromissos do BB

Patricia Marins Judson Maurício

Funcionária do BB Funcionário do BB
6 | Política
TSE: novo corregedor assume 7 casos de Bolsonaro
Raul Araújo vai substituir Benedito Gonçalves, responsável por dois pareceres que resultaram na inelegibilidade do
ex-presidente; magistrado é visto como mais conservador e já proibiu manifestação política em festival de música
LUÍSA MARZULLO
luisa.castro@oglobo.com.br
-
A utor de votos que poupa-
ram Jair Bolsonaro (PL)
em duas ações que culmina-
ram na inelegibilidade do ex-
presidente no Tribunal Supe-
rior Eleitoral (TSE), o ministro
Raul Araújo toma posse ama-
nhã como novo corregedor-
geral da Corte. Conhecido por
posições mais conservadoras,
ele substituirá Benedito Gon-
çalves, responsável pelos pare-
ceres que resultaram na con-
denação de Bolsonaro.
No posto, Araújo herdará
outros sete processos contra o
ex-presidente, bem como dois
que miram o chefe do Executi-
vo, Luiz Inácio Lula da Silva
(PT). Nas ações que tornaram
Bolsonaro inelegível, referen-
Segunda-feira 20.11.2023 | OGLOBO
CRISTIANO MARIZ/29-06-2023
tes a uma reunião com embai- Relator. Raul teu uso indevido dos meios de
xadores e a eventos no Sete de Araújo foi comunicação ao atacar as ur-
Setembro de 2022, ele optou indicado ao STJ nas eletrônicas. Em mais dois
por sanções menores do que as
determinadas pela maioria e
que não afastariam o ex-presi-
por Lula em 2010
e, agora, assumirá
ações que miram
processos, a chapa do atual
presidente acusa seu adversá-
rio de ter propagado desinfor-
dente das urnas por oito anos. o presidente mação e feito uso da máquina
Uma das ações que o novo pública em benefício próprio,
corregedor vai assumir, de au- uma vez que medidas como a
toria da Coligação Brasil da ampliação do Auxílio Brasil e
Esperança (PT, PV e PCdoB), a concessão de vale-gás para
afirma que Bolsonaro come- caminhoneiros a três meses
da eleição teriam, segundo es-
sa versão, o intuito de influen-
ciar no pleito.
Outro caso, movido pela se-
nadora e ex-presidenciável So-
raya Thronicke (Podemos-
MS), aponta campanha irre-
gular por parte de Bolsonaro
durante discurso na Organiza-
ção das Nações Unidas
(ONU), em setembro do ano
passado. A expectativa, po-
rém, é que esses processos não
sejam pautados, ao menos em
um primeiro momento.
Magistrado vai herdar
sete ações que miram
o ex-mandatário e
outras duas contra o
atual presidente, Lula
Sobre Lula, o magistrado
tem em mãos o processo refe-
rente a uma live realizada
com artistas durante as elei-
ções do ano passado, chama-
da de “showmício” por oposi-
tores. O presidente também é
acusado de ter propagado de-
sinformação contra Bolsona-
ro por intermédio de seu alia-
do, o deputado federal André
Janones (Avante-MG).
POLÊMICA NO LOLLAPALOOZA
Com posicionamentos vistos
pelos pares como mais ideoló-
gicos e, muitas vezes, alinha-
dos ao bolsonarismo, o minis-
tro Raul Araújo foi o responsá-
vel pela proibição de manifes-
tações políticas no festival Lol-
lapalooza no ano passado. Na
ocasião, artistas como Pabllo
Vittar fizeram menções positi-
vas a Lula, que acabaria supe-
rando o então chefe do Execu-
tivo na corrida presidencial.
O magistrado afirmou à
época que os gestos caracte-
rizavam propaganda eleito-
ral irregular. No despacho,
estipulou multa de R$ 50
mil em caso de descumpri-
mento. A medida atendeu a
um pedido do PL, partido de
Bolsonaro, e teve repercus-
são nacional. Dias depois,
com o festival já encerrado,
a sigla desistiu da ação, e
Araújo revogou a decisão.
Cabe ao corregedor-geral do
TSE a relatoria de diferentes
ações de cunho eleitoral, apre-
sentando o primeiro voto aos
colegas de plenário, que soma,
ao todo, sete ministros. Entre
os integrantes da Corte, três
pertencem ao Supremo Tribu-
nal Federal (STF), e dois ao Su-
perior Tribunal de Justiça
(STJ) —as demais nomeações
cabem ao presidente da Repú-
blica. Araújo foi indicado ao
STJ no fim do segundo manda-
to de Lula, em 2010, e ocupará
anova função até 2025.
Empossado como membro
oficial do TSE no ano passa-
do, o ministro entrou para a
Corte na vaga de Mauro
Campbell, em 2020. Natural
de Fortaleza, Raul Araújo já
exerceu as funções de procu-
rador-geral do Ceará, desem-
bargador do Tribunal de Jus-
tiça estadual e de corregedor-
geral da Justiça Federal.
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 Política | 7

PDT e PSB, base

CRISTIANO MARIZ/28-04-2022
te rol, o PSB governa apenas
Recife. O PT, que não gere ca-
pitais, comanda quatro cida-

de Lula, se aliam
des com segundo turno: Juiz
de Fora e Contagem, em MG,
eDiadema e Mauá, em SP.
No Espírito Santo, o gover-

contra o PT para
nador Renato Casagrande
(PSB) deu aval à reeleição do
prefeito de Serra, Sérgio Vidi-
gal (PDT), e mira o apoio do

manter redutos
PDT para seu candidato à pre-
feitura de Vitória, Tyago Hoff-
mann (PSB). A articulação vai
na contramão do PT, que lan-
çou o ex-prefeito João Coser na
Siglas avaliam reeditar acordos de 2020, capital capixaba contando
com o apoio de Casagrande.
quando disputaram o protagonismo da Ainda há tratativas em Porto
Alegre, onde Juliana Brizola
esquerda com petistas em várias cidades (PDT) pode ser candidata. Lá,
Embate à vista. Lula com o presidente do PSB, Carlos Siqueira: cacique sinalizou apoio que deve contrariar o PT em Fortaleza integrantes de PDT e PSB co-
gitam se unir a PT e PSOL, mas
BERNARDO MELLO
bernardo.mello@infoglobo.com.br
mar uma federação, mas pre- veem entraves a uma frente de
feriram aguardar as eleições DIFERENTES CENÁRIOS esquerda. Embora todos con-
-
de 2024 e, depois, fazer novo virjam na oposição ao prefeito

Egoverno,
mbora tenham ministérios
e componham a base do
PDT e PSB buscam
resguardar seus principais re-
dutos nas eleições municipais
de 2024 e negociam alianças
pontuais, inclusive contra o
PT, do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Olhando para o
ano que vem, as siglas avali-
am reeditar acordos trava-
dos em 2020, quando rivali-
zaram com petistas pelo
protagonismo da esquerda
em capitais e cidades com
segundo turno.
Lideranças pedetistas e pes-
sebistas, embora frisem que o
PT é um aliado, articulam para
não virarem coadjuvantes.
Um alerta veio na eleição de
2022, ocasião em que os dois
partidos reduziram suas pre-
senças na Câmara, enquanto o
número de petistas subiu.
Por conta disso, PDT e PSB
iniciaram conversas para for-
balanço. Também há preocu-
pação de não melindrar o PT,
sobretudo por parte do PSB,
que conta com o apoio de pe-
tistas a seus candidatos em São
Luís e Curitiba.
Presidente licenciado do
PDT, mas que ainda dá as car-
tas na sigla, o ministro do Tra-
balho, Carlos Lupi, costura o
apoio do PSB à reeleição do
prefeito de Fortaleza, Sarto
Nogueira (PDT), numa dispu-
ta que tende ao acirramento
entre aliados de Ciro Gomes e
de Lula. Ciro prevaleceu em
uma queda de braço partidária
com o próprio irmão, o sena-
dor Cid Gomes, agora de saída
do PDT. O ex-governador quer
que a legenda tenha no Ceará,
seu reduto, o mesmo tom de
oposição ao PT de sua campa-
nha ao Planalto em 2022, pos-
tura da qual Cid discorda.
Em acordo com Lupi, o pre-
sidente do PSB, Carlos Siquei-
Fortaleza
Presidente licenciado do PDT, o
ministro do Trabalho Carlos Lupi
costura o apoio do PSB à reeleição
do prefeito de Fortaleza, Sarto No-
gueira (PDT). Cacique do PSB,
Carlos Siqueira sinaliza a favor e
esfriou o ingresso na sigla do depu-
tado Evandro Leitão, que mira ainda
uma ida ao PT para enfrentar Sarto.
ra, tem sinalizado apoio ao
prefeito de Fortaleza, embora
odiretório pessebista no Ceará
seja ligado ao ex-governador e
atual ministro da Educação,
Camilo Santana (PT). Siquei-
ra declinou a filiação do presi-
dente da Assembleia Legislati-
va local, Evandro Leitão, que
deixou o PDT e articulava com
Camilo ingressar no PT ou no
PSB para enfrentar Sarto.
—Em 2020, fizemos a par-
ceria com o PDT nas capitais,
Espírito Santo
O governador Renato Casagrande
(PSB) já garantiu aval à reeleição
do prefeito de Serra, Sérgio Vidigal
(PDT), e busca atrair o PDT para
apoiar seu candidato à prefeitura
de Vitória, Tyago Hoffmann (PSB).
Acostura vai na contramão do PT,
que lançou o ex-prefeito João
Coser na capital capixaba.
até porque o PT rompeu co-
nosco naquele ano. Hoje, eles
(PT) estão com outra política.
Vamos ver as prioridades de
cada um —afirma Siqueira.
RECIFE É ‘JOIA DA COROA’
Lupi também articula para
manter o PDT na chapa do
prefeito de Recife, João Cam-
pos (PSB). Ele tem a pedetista
Isabela de Roldão como vice e
tenta se esquivar da pressão
do PT pela vaga. A capital per-
São Paulo
Tabata Amaral (PSB) tentou o apoio
do PDT, mas o partido, que guarda
ressentimentos da ex-filiada pelo
voto a favor da reforma da Previdên-
cia em 2019, preferiu o diálogo com
Guilherme Boulos (PSOL). O apre-
sentador José Luiz Datena, que
negocia a vice de Tabata, se desfiliou
do PDT e avalia migrar para o PSB.
nambucana é tida como “joia
da coroa” pelo PSB, e a avalia-
ção é que deixar o PT na linha
de sucessão pode afetar o de-
sejo de Campos de disputar o
governo estadual em 2026.
Em 2020, PDT e PSB elege-
ram, respectivamente, 314 e
252 prefeitos pelo país, contra
183 do PT. Hoje, o PDT tem
dois prefeitos em capitais, For-
taleza e Aracaju, e dois em ci-
dades aptas a segundo turno,
Niterói (RJ) e Serra (ES). Nes-
Sebastião Melo (MDB), PDT
e PSB são base do governador
Eduardo Leite (PSDB), o que
irrita petistas e psolistas. Há
desconfiança mútua sobre a
divisão de espaços na chapa.
—Historicamente, há difi-
culdades para unir a esquerda.
Enquanto algumas candidatu-
ras levam à polarização e à
pauta de costumes, avaliamos
que é preciso sacrifícios para
derrotar o prefeito, aliado do
bolsonarismo —diz Juliana.
Em outras capitais as diver-
gências devem gestar cami-
nhos distintos. Em São Paulo,
Tabata Amaral (PSB) acenou
ao PDT, que guarda ressenti-
mentos dela desde o voto pela
reforma da Previdência, em
2019, e preferiu o diálogo com
Guilherme Boulos (PSOL).
Com o impasse, o apresenta-
dor José Luiz Datena, que ne-
gocia a vice de Tabata, deixou o
PDT e pode ir para o PSB.

“O trabalho desenvolvido pelo Hospital Pequeno Príncipe no atendimento a crianças é

referência há muitos anos. Nessa batalha diária, que também defende uma sociedade
melhor e mais igualitária, vejo o brilho nos olhos dos tantos profissionais envolvidos.
É gente que quer fazer a diferença na vida dos pacientes e das suas famílias.

Uma das formas mais simples de se apoiar essa rede de atendimento criada pelo
Hospital Pequeno Príncipe é destinando parte do seu Imposto de Renda. Essa é uma
oportunidade fácil e segura para ajudarmos a transformar o mundo ao nosso redor.
No entanto, menos de 3% do potencial de destinação é utilizado no Brasil.

Convido todos vocês a conhecerem melhor o trabalho do Hospital Pequeno Príncipe

e a destinação do Imposto de Renda.”
Artur Grynbaum
Vice-presidente do Conselho do Grupo Boticário
Foto: Túlio Vidal - Divulgação Grupo Boticário

A renúncia fiscal é uma oportunidade, prevista em lei, de direcionar
parte do seu Imposto de Renda Devido para projetos sociais,
beneficiando os milhares de pequenos pacientes atendidos por ano
no Hospital Pequeno Príncipe.
No Brasil, apenas 2,86% do potencial de doação da população
foi destinado para instituições filantrópicas*. Isso corresponde a mais
de R$ 9 bilhões que deixaram, por exemplo, de impactar o
cenário da saúde no país.
* Fonte: Ministério da Fazenda – Receita Federal 2022
De forma fácil e sem custos, contribua com a vida de milhares de
crianças e adolescentes. Calcule 6% do valor do seu Imposto de
Renda Devido, seja a pagar ou a restituir, e, por meio do site
doepequenoprincipe.org.br, direcione esse recurso, até 27 de
dezembro de 2023, para os projetos do maior hospital pediátrico
do Brasil.
Essa modalidade de apoio também é possível no momento da
declaração. Para mais informações, acesse nosso site ou escaneie o
QR code e fale com a nossa equipe.

Informações:
41 2108.3886 • 41 99962.4461
doepequenoprincipe@hpp.org.br
355.23 | NP

www.doepequenoprincipe.org.br
8 | Segunda-feira 20 .11 .2023 | OGLOBO

TENTATIVA DE FEMINICÍDIO PARA

Brasil
ACESSAR

Prefeito foragido coleciona acusações APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Naçoitan Leite, mandatário de Iporá (GO), atirou 15 vezes em direção da casa da ex O QR CODE

EXCLUÍDAS DO TOPO
Minoria na ciência, negras e indígenas não
recebem bolsas de pesquisa mais valorizadas
BEATRIZ ORLE
PÂMELA DIAS ao patamar, ela levará de tes da licença-maternidade,
pamela.dias@oglobo.com.br
dois a quatro anos. além de recomendar aos
-
A participação de mulhe- CAs a admissão de medidas

N a contramão das estatísti-

cas relacionadas às mu-
lheres negras, a pesquisadora
Helena Castro, de 55 anos, al-
cançou um dos mais eleva-
dos patamares na ciência
brasileira. As décadas de de-
dicação e as mais de 200 pu-
blicações nas áreas da micro-
biologia e biotecnologia a fi-
zeram conquistar a requisita-
da bolsa de produtividade do
Conselho Nacional de De-
senvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq). Mas,
ainda assim, Helena não che-
gou ao topo da carreira de
pesquisadores bolsistas no
país, a de categoria 1A. Nem
ela nem qualquer outra mu-
lher preta ou indígena rece-
beu este tipo de bolsa.
Um levantamento do mo-
vimento Parent in Science
mostrou que, entre as
16.108 bolsas de produtivi-
dade (PQ) em vigência em
julho deste ano, 64,4% fo-
ram destinadas a homens e
apenas 35,6% para mulhe-
res. No nível 1A (o mais alto
e direcionado a pesquisado-
res com no mínimo oito
anos de doutorado), das
1.192 bolsas ofertadas, ape-
nas 27,2% são para mulhe-
res. Nenhuma delas se auto-
declara preta ou indígena.
—Quem é pesquisador no
Brasil sabe quantas boas
pesquisadoras nível 1 estão
à margem do sistema. Eu fu-
jo à regra porque tive a opor-
tunidade de estudar. Quan-
do fui mãe, o pai da minha fi-
lha me dava total apoio —
recorda-se Helena. — No
programa atual de bolsas,
existem poucas vagas e ca-
rência de uma avaliação pa-
ra além do mérito.
Primeira doutora negra ti-
tular do Instituto de Biolo-
gia da Universidade Federal
Fluminense, ela conta que
chegou a alcançar o nível
1B, mas caiu de categoria
após desviar o foco de uma
de suas pesquisas, que ob-
servou as necessidades das
pessoas surdas na pandemia
da Covid-19. Para retormar
res nas bolsas PQ não sofreu
mudança expressiva em 20
anos: em 2004, eram 33,4%;
para correção das possíveis
lacunas de gênero e étnico-
raciais. Em 2023, segundo o
hoje, são 35,6%. Houve um CNPq, mais de 50% dos in-
aumento de pessoas pardas tegrantes dos comitês pas-
(9,2% em 2005 e 15,8% em saram a ser mulheres.
2023). Mas a participação de
pessoas pretas continua bai- OPORTUNIDADE PARALELA
xa — de 1,1% para 2,8%, na Na tentativa de equilibrar o
mesma comparação. Já a par- cenário, ações paralelas im-
ticipação de indígenas não pulsionam pesquisadores
chega a 0,5%. negros. A geógrafa Thamy-
As bolsas de produtivida- res Sabrina Gonçalves foi
de são divididas em cinco aprovada em um edital de
níveis. Para a distribuição pós-doutorado do Instituto
das bolsas são definidos cri- Serrapilheira e da Faperj,
térios próprios pelos Comi- exclusivo para negros e indí-
tês de Assessoramento genas, e vai investigar como
(CAs) de cada área do co- o carvão descoberto em
nhecimento. Nenhum de- áreas de floresta que nor-
les garante reserva de vaga malmente não pegam fogo
com base no gênero ou na pode ajudar a compreender
cor dos candidatos. a história evolutiva da Serra
do Espinhaço, entre Minas
‘MUITAS DESISTEM’ Gerais e Bahia.
Para a coordenadora do Pa- Descendente de indíge-
rent in Science, Fernanda nas e quilombolas, Thamy-
Staniscuaski, as pesquisado- res viveu na rua na infância
ras subrepresentadas são afe- e passou por abrigos até in-
tadas pelo racismo estrutural. gressar na universidade por
—Os CAs levam em consi- meio de ações afirmativas.
deração as métricas de pro- Foi mãe durante o mestrado
dutividade como cerne na e fez doutorado em agrono-
aprovação das bolsas, atri- mia — área do único profes-
buto que não valoriza a car- sor que aceitou orientá-la
reira das mulheres, marca- “Fujo à regra”. Helena Castro é a primeira doutora negra titular do Instituto de Biologia da UFF e bolsista pelo CNPq com um bebê.
da pela falta de acessos, pelo — Tenho o sonho de me
trabalho extra e pelo cuida- tornar pesquisadora 1A,
do de pessoas fora da acade- DISTRIBUIÇÃO Quantidade de bolsas
PQ vigentes do CNPq
10.208 5.642 mas não quero ser a primei-
mia. Muitas desistem das DESIGUAL homens mulheres ra e nem a única, porque já
bolsas por terem suas pes- 16.108 (64,4%) (35,6%) temos no Brasil muitas pes-
quisas preteridas diversas quisadoras em condições de
vezes. Apesar de existirem ocupar esse posto. Quero fa-
medidas compensatórias Distribuição das bolsas PQ vigentes, Distribuição das bolsas PQ-1A, a de nível zer ciência com qualidade e
para as que têm tempo me- por raça e sexo mais alto, por raça e sexo sem elitismo —afirma.
nor de contribuição com Homens Mulheres Homens Mulheres Segundo a diretora de Ciên-
pesquisas, não são suficien- Brancos Brancas Brancos Brancas cia do Serrapilheira, Cristina
46,5% 31,3% 58,2% 29,8%
tes — analisa Fernanda, de- Caldas, a iniciativa do institu-
fendendo ainda a criação de to, com foco em ecologia, vai
um grupo de trabalho para Total de contribuir com a formação de
bolsas 1A
monitorar a distribuição pesquisadores com visões an-
das bolsas PQ. 1.192 tirracistas na ciência.
Mulheres Mulheres
O CNPq informou em no- Indígenas Homens Indígenas Homens — Negros e indígenas não
ta que o Programa Mulher e 0,1% Pardos 0% Pardos querem mais ser objeto de
Ciência, criado em 2005, já 11,1% 6,4% estudo, eles querem fazer
investiu R$ 20 milhões em Homens Mulheres
Mulheres
Homens pesquisa. Ampliar o fomen-
mais de 700 projetos. O con- Indígenas Pretas to é dar autonomia e apoio
Pardas Amarelos
0%
selho acrescentou que per- 0,3% 4,8% 2,1% institucional para que esses
mite a prorrogação de várias Mulheres Mulheres Homens Homens Homens Homens Mulheres Mulheres cientistas tenham uma boa
modalidades de bolsas em Pretas Amarelas Amarelos Pretos Indígenas Pretos Amarelas Pardas produção acadêmica e con-
caso de parto e adoção, e a 0,8% 1,3% 1,8% 2,0% 0,6% 0,7% 0,9% 1,3% sigam turbinar seus currí-
inserção no Currículo Lat- Fonte: Parent in Science/Julho de 2023 EDITORIA DE ARTE culos — conclui.

ANTÔNIO 72%. Entre a população branca da mesma

faixa etária, a variação foi de 27% a 81%. A
GOIS distância, portanto, caiu de 18 para 9 pon-
tos percentuais, mas a meta a ser alcança-
da aqui é de 100% de matrícula e conclu-
são em todos os grupos.
A melhoria da escolaridade média é per-
antonio.gois@jeduca.org.br cebida também entre adultos. Dados do Re-
latório das Desigualdades Raciais (2022)
do Grupo de Estudos Multidisciplinares de
Não há futuro sem Ação Afirmativa (Iesp/Uerj) — elaborados
por Luiz Augusto Campos, Rogério Barbo-
sa, Jheniffer Ribeiro e João Feres Júnior —
equidade racial mostram que, entre 1987 e 2021, a propor-
ção de pretos, pardos e indígenas com ao
menos ensino médio completo aumentou
e Michael França mostram que a desigual-
dade racial nos indicadores de aprendiza-
gem aumentou na educação básica entre
2007 e 2021, mesmo na comparação ape-
nas de alunos com características socioeco-
nômicas semelhantes.
A diferença, em favor dos alunos brancos,
também cresce ao longo das séries, e pode
ser percebida tanto em termos de aprendi-
zagem, quanto em indicadores de evasão e
repetência. Hoje, felizmente, o acesso ao
primeiro ano do ensino fundamental é pra-
ticamente universalizado. A partir daí, no
entanto, as trajetórias variam muito, con-
forme mostra estudo de José Francisco Soa-
res, Maria Teresa Gonzaga Alves e José
líticas equitativas, que deem especial aten-
ção aos alunos que mais precisam de apoio.
O reconhecimento de injustiças históricas
deveria ser suficiente para convencer toda a
sociedade disso. Mas há, entre tantos ou-
tros argumentos, também o econômico.
Conforme destacou há duas semanas Ricar-
do Henriques em sua coluna no GLOBO, a
transição demográfica ocorre em velocidades
distintas no Brasil. E, para nos adequarmos a
uma sociedade cada vez mais envelhecida, a
conta só vai fechar se formos capazes de au-
mentar a produtividade média do trabalha-
dor. Isso demanda, entre outras coisas, mais e
melhor investimento por estudante.
Ocorre que, por conta dos ritmos distin-

A té por causa das cotas, tem sido muito

destacado o aumento substancial
(mesmo que insuficiente) da proporção
de negros no ensino superior. Em termos
quantitativos, porém, a mais vigorosa ex-
pansão recente aconteceu no ensino mé-
dio. Entre 1992 e 2022, o percentual de
autodeclarados pretos ou pardos de 15 a
17 anos nesta etapa aumentou de 9% para
de 9% para 54% na faixa de 18 a 65 anos. De
novo, uma melhoria significativa, mas insu-
ficiente para igualar o percentual de bran-
cos e amarelos (69%).
O movimento, porém, é bem menos posi-
tivo em termos de qualidade. Em capítulo
do recém-lançado livro “Números da dis-
criminação racial”, Gerrio Barbosa, Danilo
Ferreira, Erivelton Nunes, Alysson Portella
Aguinaldo Fonseca, já citado aqui na colu-
na. Por exemplo, entre meninas brancas de
alto nível socioeconômico, 78% consegui-
am completar o fundamental sem repetên-
cia ou evasão. Para meninos negros de baixo
nível socioeconômico, esta proporção caí a
apenas 20%.
Precisamos avançar em qualidade, com
redução de desigualdades, o que exige po-
tos de transição demográfica no país, a in-
fância é, cada vez mais, preta, parda e indí-
gena. Esses grupos representam 58% dos
brasileiros de 0 a 17 anos, proporção que cai
a 48% na população com 60 anos a mais. Se-
ja por uma questão de justa reparação his-
tórica ou por necessidade econômica, com-
bater as desigualdades raciais desde a edu-
cação é tarefa urgente e fundamental.
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 Brasil | 9

MINISTÉRIO DA CULTURA E INSTITUTO CULTURAL VALE

APRESENTAM

UM GRANDE ESPETÁCULO EM
HOMENAGEM AO SAMBA.
A 51ª edição do Projeto Aquarius traz a Orquestra Sinfônica Brasileira,
sob a regência do maestro Anderson Alves e conta com a participação
de integrantes de Escolas de Samba cariocas e do cantor Belo, para
uma apresentação muito especial, em homenagem ao Dia Nacional
do Samba. Venha cantar e, por que não, sambar junto com a mais
tradicional orquestra do Brasil, no templo do carnaval carioca.

ATRAÇÕES

REGÊNCIA Orquestra Sinfônica Belo

Maestro Anderson Alves Brasileira

3 de dezembro, às 18h Praça da Apoteose

EVENTO PARA TODA A FAMÍLIA - ENTRADA GRATUITA

Sujeito a lotação

ACESSE E SAIBA MAIS.

APRESENTAÇÃO CIDADE ANFITRIÃ ESTADO ANFITRIÃO APOIO PARCERIA REALIZAÇÃO

10 | Brasil
Com mortes de animais e plantas, forte calor afeta o agro
Altas temperaturas alteram processos metabólicos e fisiológicos, além de aumentarem o consumo de água pelo
país, o que propicia a escassez. Frigorífico do Acre já contabilizou a perda de mais de mil frangos nos últimos dias
LUCAS ALTINO
lucas.altino@oglobo.com.br
-
A lém de ter facilitado a pro-
pagação do fogo e causado
problemas à saúde humana, a
onda de calor que assolou o pa-
ís na semana passada causou
prejuízos à agropecuária. Os
produtores relataram perdas
de safras e de animais em ní-
veis acima da média. No Acre,
por exemplo, um frigorífico
identificou mais de mil fran-
gos de criação mortos.
As altas temperaturas alte-
ram processos metabólicos e
fisiológicos e podem matar
plantas e animais. Outro im-
pacto direto é o aumento do
consumo de água, que eleva o
risco de escassez.
Em períodos extremos, co-
mo na semana passada, suínos
e aves são os que mais sofrem
porque não conseguem suar,
de acordo com Rosangela Po-
letto Cattani, do Comitê Cien-
tífico da Certified Humane
Brasil. Resultado disso, o frigo-
rífico Acreaves contabilizou a
perda de mil frangos de cria-
ção, em um prejuízo inédito.
—Aves e suínos aumentam
a ofegação para diminuir a
temperatura corporal. Isso
causa distúrbio metabólico e
oteor de umidade no ambien-
te dos galpões, normalmente
muito adensados, aumenta
muito — explica Cattani. —
As mortes são as consequên-
cias mais drásticas. Ainda há
Segunda-feira 20.11 .2023 | OGLOBO
JOÉDSON ALVES/AGÊNCIA BRASIL/16-11-2023
No caso das plantas, o ca-
lor tem potencial de abrevi-
ar o ciclo de reprodução. O
fenômeno rende produções
menores, explica José Rena-
to Bouças Farias, pesquisa-
dor da Embrapa Soja.
—Sob estresse, a planta cres-
ce menos, pois vai precoce-
mente para a fase reproduti-
va, como instinto de sobre-
vivência. O ciclo da soja du-
ra de 100 a 120 dias, mas no
calor extremo, encurta para
80 dias, e as plantas não
crescem o bastante —diz.
FATOR ESTIAGEM
A estiagem gera outro proble-
ma, associada à subida dos
termômetros. É a deficiência
hídrica, dificilmente com-
pensada por irrigação artifici-
al, diz Farias, que destaca que
95% da soja plantada no Bra-
sil depende das precipitações.
Queimadas. Brigadistas do ICMBIO agem para combater as altas chamas no Pantanal durante a onda de calor que assolou o país ao longo da semana passada Opesquisador diz que ainda
não há dados para dimensio-
queda na produção de ovos e nar o prejuízo de agora, mas
da qualidade da casca. Na pro- Estragos e delas atingiu um carro e arrastado pela correnteza bloqueios e deixou desa- que há pouco a ser feito como
dução bovina, há perda de mortes em feriu duas pessoas. ao passar pela Vila Flores, brigados e desalojados. medida emergencial. Uma
produção de leite, e os ani- SP e no Sul também na Serra Gaúcha. técnica preventiva comum,
mais ganham menos peso, > A situação mais drásti- > Santa Catarina regis- afirma, é cobrir o solo de pa-
por se alimentarem menos. ca, porém, é na região Sul, > Outras três pessoas trou as outras três mor- lha, a fim de diminuir a inci-
Cattani destaca que o con- > Um combo de mudan- onde já são seis vítimas estão desaparecidas tes na região. Uma acon- dência de raios solares e a per-
sumo de água dos animais ças climáticas atingiu o fatais devido às chuvas depois de um carro cair teceu em Palmitos, numa da de água por evaporação.
mais do que dobra no calor Brasil em cheio neste nos últimos dias. Duas no Rio Turvo, em Coqueiro colisão de uma moto — O escalonamento do
intenso, por isso é essencial fim de semana. Em São pessoas morreram por do Sul, embora a Defesa aquática com a fiação plantio, não concentrar tu-
assegurar estoque de água. Paulo, onde o calor deu conta do desabamento de Civil gaúcha não confirme elétrica, e duas em Taió, do na mesma semana, é im-
Outro problema comum é a lugar a temporais, mais uma casa em Gramado, a relação do acidente quando um carro afun- portante — acrescenta o en-
pane elétrica nos galpões, já de cem árvores caíram no Rio Grande do Sul, e com o temporal. O agua- dou em uma área alaga- genheiro agrônomo da Em-
que ondas de calor podem só na capital — uma um homem teve o carro ceiro também causou da por causa da chuva. brapa Agropecuária Oeste
afetar a geração de energia. Rodrigo Arroyo Garcia.
As inscrições para transformar
o planeta já começaram!
A Play Energy – aventura digital que mistura sustentabilidade, desafios e
prêmios reais – está com as inscrições abertas para estudantes
de 14 a 25 anos.
Embarque nessa nova fase para zerar as emissões de carbono, acumule
pontos através de atividades e se destaque na disputa pela preservação do
nosso planeta.
Acesse o código e inscreva-se
Incentivo ao esporte
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 | 11

HIPERCONEXÃO PARA

Saúde
ACESSAR

Abuso de telas prejudica a mente APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Estudo aponta que uso excessivo de dispositivos causa piora na cognição O QR CODE

NO HORIZONTE
Nova vacina contra a dengue pode chegar
ao Brasil em 2024, mas preço é obstáculo
PIXABAY
KAROLINI BANDEIRA questões levou mais de um
karolini.magalhaes@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA
mês para chegar.
A Qdenga, também cha-
-
mada de TAK-003, recebeu

O ito meses após a Agên-

cia Nacional de Vigi-
lância Sanitária (Anvisa)
autorizar uma nova vacina
contra dengue no Brasil, o
Ministério da Saúde ainda
negocia com a farmacêuti-
ca japonesa Takeda a incor-
poração do imunizante
Qdenga na rede pública.
Há, no entanto, entraves
para o acordo ser fechado,
como preço considerado
elevado pelo governo, in-
certezas sobre a capacida-
de de produção e restrições
no público-alvo que pode-
rá receber as doses. Embo-
ra a expectativa seja de in-
cluir o produto no Sistema
Único de Saúde (SUS) no
primeiro semestre do ano
que vem, a pasta tem evita-
do dar uma previsão de
quando a população pode-
rá ser vacinada.
Os apontamentos apre-
sentados na negociação são
da Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologi-
as no Sistema Único de Saú-
de (Conitec), responsável
por julgar a inclusão de me-
dicamentos no SUS. Uma
proposta foi apresentada
pela farmacêutica no dia 31
de julho e o órgão tem 180
dias para dar um parecer. O
ministério afirma ser preci-
so aguardar essa avaliação
antes de decidir pela oferta
do imunizante à população.
Um dos entraves é o preço
por dose, considerado alto
pelo Ministério da Saúde.
O valor proposto pela Take-
da inicialmente foi de R$
170, inferior ao aprovado
pela Câmara de Regulação
do Mercado de Medica-
mentos (CMED), de R$
281,42 — que serve como
base para a negociação.
Ainda assim, a Saúde pede
um desconto, tendo em vis-
ta que o preço oferecido está
acima de todas as demais va-
cinas do Programa Nacional
Problema antigo. Mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, doença que já teve 1,6 milhão de casos no país neste ano; imunizante japonês é a nova arma
de Imunizações (PNI).
A dose mais cara hoje
custa R$ 120.
O laboratório afirma
que o preço ainda deve-
rá ser revisado, mesmo
sendo “um dos meno-
res aprovados em com-
paração com outras vacinas
inovadoras”. O valor passará
ainda por negociação.
RESTRIÇÕES
Além do custo por dose, há
preocupação no governo
sobre a capacidade de en-
trega das vacinas para toda
a população que pode ser
protegida pela Qdenga:
pessoas de 4 a 60 anos, in-
dependentemente de já te-
rem sido infectadas pela
dengue ou não. De acordo
com integrantes do minis-
tério ouvidos pelo GLOBO,
o receio se dá porque a
Takeda não é uma produto-
ra grande como a Pfizer ou
o Instituto Butantan.
DIVULGAÇÃO
Nova vacina. Qdenga foi aprovada
pela Anvisa para a faixa de 4 a 60
A ressalva é alimentada
pela proposta restrita do la-
boratório, que sugeriu à
pasta imunizar apenas indi-
víduos de duas idades espe-
cíficas: 4 e 55 anos. Ao
GLOBO, a empresa diz que
usou como foco “a preven-
ção de casos e redução de
hospitalizações/mortes por
dengue”. Ainda segundo a
Takeda, a documentação
enviada foi desenvolvida a
partir de recomendações
de especialistas em dengue,
vacinação e saúde pública.
Embora a empresa não in-
forme o total de doses ofere-
cidas ao Brasil, ela asse-
gura ter capacidade para
atender a demanda dos
grupos prioritários pro-
postos ao Ministério da
Saúde. “Considerando o
histórico de incorpora-
ção de outras vacinas, esse
volume é um dos maiores já
disponibilizados por uma
farmacêutica para uma
campanha inicial de vacina-
ção”, diz, em nota.
De acordo com o Minis-
tério da Saúde, nos preços
atuais e restrições propos-
tas pelo laboratório, a in-
corporação da vacina no
sistema público traria um
impacto de cerca de R$ 9
bilhões em cinco anos.
“A Organização Mundial
da Saúde (OMS) recomen-
dou a vacina Qdenga para o
público entre 6 e 16 anos,
que também não está con-
templado na proposta envi-
ada pela Takeda à Conitec”,
afirma o ministério, em no-
ta. A orientação da OMS foi
publicada no fim de setem-
bro, após a proposta inicial
ser encaminhada.
Mesmo com os entraves,
a porta-voz da Takeda no
Brasil, Vivian Lee, diz estar
confiante que a aprovação
para incorporar o imuni-
zante ao SUS venha em ja-
neiro de 2024.
— No mais tardar em
abril. Não vamos medir es-
forços para prover e priori-
zar a vacina para a popula-
ção brasileira e estamos à
disposição do governo para
negociar e discutir possibi-
lidades —disse ela.
A previsão é considerada
otimista por integrantes do
governo, uma vez que a
análise da Conitec está pa-
rada desde 5 de outubro,
quando técnicos da comis-
são fizeram novas pergun-
tas à farmacêutica sobre a
vacina. De acordo com a
empresa, o ofício com dez
o aval da Anvisa em março
para uso no Brasil em pesso-
as de 4 a 60 anos. A vacina
começou a ser comerciali-
zada nas clínicas particula-
res no início de julho.
Na rede privada, as doses
podem ser encontradas por
valores que variam entre R$
400 e R$ 500. Como o esque-
ma envolve duas aplicações,
com um intervalo de três me-
ses entre elas, o preço final fi-
ca entre R$ 800 e R$ 1 mil.
CONCORRENTE
A vacina não é a primeira
contra a dengue recomen-
dada pela OMS ou a receber
um aval da Anvisa. Em 2015,
o Brasil aprovou a Dengva-
xia, desenvolvida pela Sano-
fi, que se tornou o primeiro
imunizante para a doença
com o sinal verde no país.
Contudo, o público-alvo
restrito levou a Dengvaxia a
não ter uma alta adesão — o
imunizante é indicado ape-
nas aos que já foram conta-
minados anteriormente
para evitar um quadro de
reinfecção mais grave.
Em pessoas que nunca ti-
veram dengue, a dose não se
mostrou significativamen-
te eficaz em impedir a infec-
ção. Também não apresen-
tou o perfil ideal de seguran-
ça, levando à possibilidade
de um risco aumentado de
casos graves no período
após a vacinação.
Neste ano, o país já é o pri-
meiro do mundo no ranking
de casos de dengue, e já ul-
trapassou o total do ano pas-
sado. Segundo as últimas
atualizações epidemiológi-
cas do Ministério da Saúde,
são mais de 1,6 milhão de re-
gistros, 23,4 mil casos gra-
ves e mil óbitos.
Em 2022, ano que bateu
recorde de mortes no país,
foram 1,4 milhão de casos,
16,3 mil casos graves e 1.016
óbitos pela doença.

CIÊNCIA to, quedas na vacinação infantil deixaram mi-

Natalia Pasternak
Microbiologista, presidente do IQC,
professora na Universidade de Columbia
(EUA) e FGV-SP e autora dos livros Ciência
no Cotidiano e Contra a Realidade
Sarampo
mata!
lhões de crianças descobertas, e podem ter
causado o excesso de mortes em 2022.
Analisando a cobertura de primeira dose em
crianças, o relatório do CDC, em parceria com
a Organização Mundial de Saúde (OMS),
mostra que, de 2000 a 2019, a cobertura au-
mentou no mundo todo, passando de 72% pa-
ra 86%. Durante a pandemia, caiu para 83%
em 2020, e 81% em 2021. Em 2022, volta a su-
bir globalmente, chegando a 83%. Mas, nas
Américas e Europa, seguiu caindo. Em países
de baixa renda, a cobertura caiu de 71% a 67%
entre 2019-2021, e a 66% em 2022.
Sarampo é uma doença extremamente
contagiosa, e exige uma cobertura vacinal
blica Democrática do Congo e Indonésia.
Os números oficiais brasileiros confirmam
Retomar a cobertura vacinal para sarampo
e outras doenças é tão urgente quanto expli-
o relatório do CDC. Dados do DataSUS e da car que sarampo pode matar. O sarampo ten-
plataforma VacinaBR, do Instituto Questão de de a aparecer no imaginário popular, errone-
Ciência, mostram queda da cobertura de pri- amente, como uma doença benigna. Ideias
meira dose para sarampo, entre 2013 e 2022. ultrapassadas e perigosas (mas ainda influ-
De 2013 a 2017, a maio- entes, por exemplo, na doutrina antroposófi-
Retomar a ria dos estados brasilei- ca, seguida por alguns médicos) de que cer-
cobertura vacinal ros tinha cobertura aci- tas doenças seriam “parte natural da infân-
para sarampo e ma de 95%. A partir de cia” levam à complacência.
outras doenças
é tão urgente
2017, vemos a maior par-
te deles com cobertura
abaixo da meta, e o cená-
Estudos científicos sobre motivação para
vacinar mostram que as melhores campa-
nhas são aquelas que focam em aumentar a
quanto explicar
que sarampo rio vai piorando. Em adesão de pessoas já motivadas, mas que por
pode matar 2020, todos os estados alguma razão, seja comodismo ou falta de
estão abaixo dos 95%. acesso ao posto de vacinação, vão deixando a

A s mortes por sarampo no mundo aumen-

taram 43% em 2022, na comparação com
o ano anterior, chegando a quase 136 mil. O
total de casos aumentou 18%, atingindo 9
milhões. Os dados são do relatório do Centro
de Controle de Doenças Infecciosas dos EUA
(CDC), publicado em 17 de novembro. O re-
latório, intitulado “Progresso para a elimina-
ção do sarampo”, documenta os resultados do
período de 2000-2022. Nesse período, esti-
ma-se que a vacinação preveniu 57 milhões
de mortes por sarampo no mundo. No entan-
alta, maior que 95%, para manter o vírus
controlado. Em 2022, dos 194 países mem-
bros da OMS, apenas 65 alcançaram cober-
tura maior que 95%. Neste ano, aproxima-
damente 22 milhões de crianças ficaram
sem a primeira dose de vacina. Entre os dez
países com o maior número de crianças não
vacinadas em 2022, está o Brasil. Nosso pa-
ís, que já foi exemplo para o mundo, agora fi-
gura no “ranking negativo” do sarampo ao
lado de países com histórico de dificuldades
nessa área, como Paquistão, Nigéria, Repú-
Em 2022, Rio de Janeiro, Roraima, Amapá e
Pará ficaram abaixo de 70%. São Paulo apare-
ce com apenas 78%. A cobertura total no Bra-
sil ficou em torno de 80% no ano passado.
Os surtos de sarampo pelo mundo também
cresceram. Em 2022, 37 países da OMS apre-
sentaram surtos, diante de 21 no ano anterior.
Pode-se especular sobre as causas dessas que-
das, incluindo o efeito da pandemia, que difi-
cultou o acesso da população às vacinas, e
trouxe uma onda de desinformação sobre elas,
e a falta de investimento em campanhas.
vacina para depois. Não são pessoas contrá-
rias à vacinação, é gente que encontra obstá-
culos ou que não enxerga a urgência. As cam-
panhas também funcionam melhor quando
são organizadas localmente, envolvendo lí-
deres comunitários e religiosos, que têm
uma relação de confiança e proximidade
com a população. O Brasil tem condições de
organizar essas campanhas. Melhor não es-
perar muito. Campanha ineficaz reduz vaci-
nação. Pouca vacinação traz o sarampo de
volta. E de volta, o sarampo mata.
12 | Saúde Segunda-feira 20.11 .2023 | OGLOBO
 OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 | 13

#ALÔSWIFTIES PARA

Economia
ACESSAR

Aéreas flexibilizam remarcação para fãs APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Medida visa compensar quem foi afetado pelo adiamento do show de Taylor Swift O QR CODE

MINHA CASA, MINHA VIDA

PROMESSA É DÚVIDA
Plano de ampliar programa para
renda de até R$ 12 mil está travado
EDILSON DANTAS/25-3-2022
GERALDA DOCA E Como houve pedido de vis-
LAURIBERTO POMPEU
economia@oglobo.com.br
ta, o STF só deve retomar ao
BRASÍLIA julgamento no ano que vem.
-

A promessa do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva
de ampliar uma das princi-
pais marcas das gestões pe-
tistas não ganhou tração no
governo e não tem data para
sair do papel. Os planos para
incluir famílias com renda
mensal de até R$ 12 mil no
Minha Casa, Minha Vida es-
tão parados, apesar de Lula
ter falado sobre isso em ju-
nho e, no último dia 7, ter re-
forçado isso ao lado do mi-
nistro das Cidades, Jader Fi-
lho, durante uma live.
—Nós queremos que pes-
soas que queiram casa de três
quartos, quatro quartos, pos-
sam ter uma casa financiada
pelo governo —afirmou Lula
na ocasião, na live semanal
feita pela Empresa Brasileira
de Comunicação (EBC) e
transmitida nas redes sociais
do governo.
Contudo, não há mais
tempo para adotar a medida
este ano e não existe previ-
são de que ela será adotada
em 2024, segundo técnicos
envolvidos nas discussões.
O programa foi lançado
em 2009 como uma das
principais bandeiras do PT e
deu impulso à candidatura
de Dilma Rousseff. Sem
margem no Orçamento da
União para financiar a po-
lítica pública, o governo re-
correu ao Fundo de Garan-
tia do Tempo de Serviço
(FGTS) para conceder fi-
nanciamento em condições
mais favoráveis e garantir
descontos para reduzir o va-
lor da prestação para famí-
lias de baixa renda.
Uma das inovações do
Minha Casa, Minha Vida
foi a doação de imóveis,
com prestações simbólicas
para as famílias sem capa-
cidade de pagar um finan-
ciamento. Neste caso, a
fonte de recursos seria o
Orçamento da União.
No governo Michel Temer,
a verba da União foi ficando
cada vez mais escassa, esgo-
tando-se na gestão do ex-pre-
sidente Jair Bolsonaro, que
Minha Casa, Minha Vida. O condomínio Novo Pinheirinho, em São Paulo. De acordo com o Ministério das Cidades, as faixas 2 e 3 já atendem a classe média
mudou o nome do programa
para Casa Verde e Amarela.
Ao voltar ao Planalto, Lula re-
lançou o Minha Casa, Minha
Vida e manteve como teto a
renda familiar de R$ 8 mil
para áreas urbanas. Para as
famílias que moram em áreas
rurais, o governo estabelece
como teto uma renda bruta
anual de até R$ 96 mil, que
na prática também fica em
R$ 8 mil por mês.
As taxas de juros foram re-
duzidas para 4% ao ano nas
regiões Norte e Nordeste. A
taxa máxima é de 8,16% ao
ano, e o valor do imóvel su-
biu para R$ 350 mil. Após
esses movimentos, Lula
passou a falar em aumentar
ainda mais a faixa de renda
alvo do programa, no que
chamou de “Faixa 4”.
FOCOS DE PRESSÃO
Técnicos do governo, po-
rém, dizem que há uma
série de travas para esse pla-
no. Uma delas é que não bas-
taria ampliar a faixa de ren-
da para beneficiar a classe
média. Também seria ne-
cessário elevar o valor máxi-
mo do imóvel, para R$ 500
mil, por exemplo.
EVOLUÇÃO DO FGTS
Ativo 800
(R$ bi)
700
600
500
400 365,317
300
200
100
0
2013
Patrimônio
Líquido 64,59
(R$ bi)
Fonte: Caixa Econômica Federal
No entanto, há dúvidas se o
orçamento do FGTS suporta
a ampliação. Um dos princi-
pais argumentos é que a ver-
ba do Fundo é alvo de duas
fortes pressões. Uma vem do
Ministério do Trabalho, que
quer mudar a regra do saque-
aniversário e permitir a reti-
rada do saldo remanescente
da conta de quem aderiu a es-
se tipo de modalidade, criada
em 2019.
Segundo estimativas da
Caixa repassadas ao governo,
a mudança de critérios pode-
ria retirar do Fundo R$ 18 bi-
lhões no caso de demissões do
passado e R$ 14,5 bilhões para
futuras demissões. Pela regra
505,281 496,855 529,21
410,386 457,608
2014 2015 2016 2017 2018
77,55 90,88 98,16 91,93 94,59
do saque-aniversário, quem
optou por essa modalidade só
recebe a multa de 40% em ca-
so de demissão e não pode sa-
car o saldo da conta por um
prazo de dois anos. O projeto
do Ministério do Trabalho en-
caminhado à Casa Civil per-
mite sacar esse saldo em caso
de demissão.
Outra pressão vem do Su-
premo Tribunal Federal
(STF), que avalia obrigar
que as contas sejam remu-
neradas pelo mesmo índice
usado na poupança. Atual-
mente, os cotistas recebem
3% ao ano, mais a Taxa Refe-
rencial (TR, hoje próxima
de zero), além de parte do
654,783
592,814 625,435
510,418 539,235
2019 2020 2021 2022 2023
100,7 104,66 105 104,33 104,46
EDITORIA DE ARTE
lucro anual do Fundo.
O presidente do STF, Luís
Roberto Barroso, é o relator
do caso e deu um voto com
um entendimento desfavo-
rável ao Ministério das Cida-
des. Cálculos feitos pelo Po-
der Executivo estimam que,
caso prevaleça a mudança
proposta por Barroso, have-
ria impacto fiscal da ordem
de R$ 31 bilhões em 15 anos,
o que levaria a um déficit de
contratação de habitações no
Minha Casa, Minha Vida de 1
milhão de unidades.
Para este ano, a meta do go-
verno é fechar com 450 mil
contratações, chegando a dois
milhões de unidades até 2026.
RECADO NEGATIVO
Além disso, há o entendi-
mento de que, neste momen-
to, ampliar o programa pas-
saria uma mensagem negati-
va. A avaliação é que seria
contraditório incluir quem
ganha até R$ 12 mil no pro-
grama ao mesmo tempo em
que há uma indefinição no
Judiciário sobre um assunto
que pode impactar negativa-
mente as contas da pasta.
Diante das incertezas, a vo-
tação do orçamento do FGTS
para 2024, que costumava
ocorrer em outubro no Con-
selho Curador do Fundo, está
atrasada. O assunto deverá
ser discutido na reunião do
colegiado marcada para o
próximo dia 28.
Este ano, a verba total do
Fundo atingiu R$ 108,957 bi-
lhões, sendo R$ 85,6 bilhões
só para a habitação, sobretu-
do o Minha Casa, Minha Vi-
da. O Fundo financia tam-
bém projetos de saneamento
ede infraestrutura urbana. O
Ministério das Cidades quer
ampliar esse valor e chegar a
R$ 120 bilhões.
Em relação aos anos ante-
riores, o Orçamento do
FGTS vem subindo. Em
2022, por exemplo, foram
aplicados R$ 83,778 bi-
lhões, sendo R$ 65,328 bi-
lhões em habitação.
Em 14 anos de funciona-
mento, entre 2009 e 2022, o
Minha Casa, Minha Vida
contratou cerca de 6 milhões
de moradias. O orçamento
do FGTS acumulado nesse
período superou R$ 600 bi-
lhões, sendo R$ 105 bilhões a
título de desconto para redu-
zir o valor do financiamento
para o mutuário.
Procurado, o Ministério das
Cidades ressaltou em nota que
a classe média já é contempla-
da pelo programa “nas faixas 2
e3, que atendem famílias com
renda até R$ 4,4 mil e R$ 8
mil, respectivamente. Quanto
àproposta de elevar a renda fa-
miliar do faixa 3 para até R$ 12
mil, o assunto continua em es-
tudo” na pasta.

Prates rebate Silveira sobre preços dos combustíveis Oministro, por sua vez, lem-
brou que o preço do petróleo
recuou e o dólar se estabilizou:
— O que nós precisamos
Presidente da Petrobras vai às redes sociais, e ministro diz ao GLOBO que ‘não há necessidade de criar factoide onde não existe’ agora é que uma empresa igual
a Petrobras, além de atrativa
para o investidor, tenha clare-
BRUNO ROSA E MANOEL VENTURA
economia@oglobo.com.br
tatuto Social da companhia. que ressaltar os compromissos ainda que a Petrobras “pode e to da autossuficiência em pe- za sobre a sua função social,
RIO E BRASÍLIA Em uma sequência de cin- do governo com o país, assu- deve” gerir sua estrutura de tróleo. E ressaltou que a nova que está na Constituição, na
-
co posts, Prates afirma que “a midos com a eleição. Eu disse forma eficiente e rentável, ao política de preços visa evitar o Lei das Estatais. Todas as em-

D ois dias depois de o minis-

tro de Minas e Energia
(MME), Alexandre Silveira,
ter cobrado redução nos pre-
ços dos combustíveis da Pe-
trobras, o presidente da esta-
tal, Jean Paul Prates, subiu o
tom. Em uma rede social, ele
disse que, se o MME quiser
“orientar a Petrobras a baixar
os preços de combustíveis di-
retamente” , será necessário
seguir a Lei das Estatais e o Es-
Petrobras merece uma ges-
tão verdadeiramente preo-
cupada com seu futuro. Não
faz sentido agir por impulso
ou açodamento.”
Pouco depois, Silveira reba-
teu o presidente da Petrobras
e voltou a defender redução
do preço dos combustíveis.
—Foi com muita serenidade
que vi as falas do presidente da
Petrobras, mas não as com-
preendi. Não fiz nada mais do
CRISTIANO MARIZ/13-9-2023
que os preços dos combustí-
veis são parte essencial da
meta de inflação — afir-
mesmo tempo em que contri-
bui para que o país tire provei-
repasse da volatilidade exter-
na aos combustíveis.
presas têm seu caráter tam-
bém social. Eu levei a público
dados objetivos (de petróleo).
mou o ministro ao Silveira. Prates. “Não faz Silveira afirmou que “a dire-
GLOBO. — Não há Petrobras tem sentido agir por toria da Petrobras é de escolha
nenhuma necessi- “função social”, impulso” do presidente da República”:
dade de haver diz ministro — A orientação, que ele
criação de fac- (Prates) deveria entender, é
toide onde feita pelo formulador das po-
não existe. líticas de petróleo, gás e bio-
Prates combustíveis do país, que es-
havia afir- tá na lei que é o ministro de
mado Minas e Energia.
TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL/3-10-2023
14 | Economia Segunda-feira 20.11.2023 | OGLOBO

SEG _ Rachel Maia (quinzenal) _Ricardo Henriques (quinzenal)_ TER _ Míriam Leitão _ QUA _ Zeina Latif _ QUI _ Míriam Leitão _ SEX _ Fabio Giambiagi (quinzenal)_Rogério Furquim Werneck (quinzenal) _ SÁB _ Carlos Góes (mensal) _ Alvaro Gribel (quinzenal) _ DOM _ Míriam Leitão

RICARDO cluídos quilombolas, reduzido o teto de elegi-

bilidade de 1,5 para 1,0 salário mínimo e reali-
fundamental praticamente no mesmo período
(2007-2019), os autores revelam um quadro
expandiu o financiamento para escolas indíge-
nas, quilombolas e Educação de Jovens e Adul-
HENRIQUES zados ajustes para evitar a reprovação injusta
de cotistas com notas superiores às de apro-
mais preocupante. O problema principal não é
de acesso, ainda que remanesçam lacunas a se-
tos. Somente mais recursos não serão suficien-
tes para reverter essa tendência, mas podem
vados na ampla concorrência. rem superadas e que prejudicam sobretudo os auxiliar essas escolas e modalidades a lidar com
Essas mudanças devem consolidar e expan- mais pobres, inclusive e principalmente os ne- seus desafios, usualmente mais complexos.
dir os resultados da mais exitosa ação afirma- gros. A questão é que, embora tanto brancos co- Neste dia e mês da consciência negra, te-
oglobo.com.br/economia
tiva no ensino superior brasileiro. De acordo mo negros tenham registrado ganhos de apren- mos que celebrar as conquistas, mas sem
economia@oglobo.com.br com o Censo da Educação Superior de 2022, dizagem, o hiato racial no rendimento escolar mascarar a realidade, como fizemos por sécu-
constatou-se que 55.122 estudantes autode- aumentou em favor dos brancos. los. Em 2002, no livro “Raça e gênero no sis-
Antirracismo e clarados pretos, pardos ou indígenas ingres-
saram por meio do sistema de cotas em insti-
Isso se evidencia ao comparar a pontuação
obtida por estudantes desses grupos nas pro-
tema de ensino: limites das políticas univer-
salistas na educação”, argumentei que “as di-
tuições federais em 2019. Sem a lei, seriam vas de Língua Portuguesa e Matemática do ferenças fundamentais entre crianças bran-
política educacional apenas 19.744, uma disparidade superior a
150%. O Censo e outras pesquisas apontam
Sistema de Avaliação da Educação Básica. En-
tre 2007 e 2019, a diferença entre brancos e
cas e negras, no que se refere ao acesso, per-
manência e aprendizado, requerem políticas
ainda que cotistas têm taxas maiores de per- pardos aumentou de 5 para 8 pontos em Mate- de inclusão com preferência racial, políticas

A desigualdade racial testemunhou compor-

tamentos opostos na educação básica e na
superior nos últimos 15 anos. Enquanto no ter-
ciário houve redução das diferenças de acesso e
permanência a favor dos negros, graças sobre-
tudo à Lei de Cotas, na básica o rendimento es-
colar dos brancos melhorou mais que o dos ne-
gros, alargando um fosso que já era grande. De-
cisões governamentais recentes buscam con-
solidar os acertos e corrigir os erros nas políticas
educacionais, mas será preciso fazer ainda mais
para superar séculos de racismo.
Na semana passada, o presidente Lula san-
cionou a lei 14.723, que consolida, expande a
aperfeiçoa a Lei de Cotas de 2012. Foram in-
manência e conclusão, com desempenho
acadêmico igual ou superior ao fim do curso.
Como mostram Alysson Portella, Michael
mática no 5º ano do fundamental, enquanto a
distância entre brancos e pretos saltou de 17
para 27 pontos, tanto em Matemática como
ditas de ação afirmativa, que contribuam pa-
ra romper com o circuito de geração progres-
siva de desigualdade.” Ações afirmativas im-
França e coautores no recém-lançado livro em Língua Portuguesa. Essa desigualdade pio- plicam tratar desigualmente os desiguais ao
“Números da discriminação racial”, enquanto a ra à medida que os alunos avançam em sua tra- longo de todo o ciclo educacional. Apesar de
taxa líquida de matrículas no ensino superior jetória escolar, de sorte que o hiato racial se alguns avanços notáveis, após mais de duas
dos brancos cresceu menos de 50% entre 2007 agrava quando são comparadas as notas no 9º décadas o diagnóstico segue válido.
e 2020 (de 20,7% para 29,3%), o aumento en- ano, um sinal inequívoco de que, ao menos por Certamente precisamos hoje de uma educa-
tre os negros (pretos e pardos) foi maior do que essa métrica, não temos conseguido imple- ção antirracista, mas sobretudo dependemos
120% —de 7,4% para 16,8%. Apesar dos avan- mentar uma política educacional antirracista. que o antirracismo atravesse nossas políticas
ços, as matrículas de negros retrocederam pela Uma alentadora notícia que pode auxiliar a públicas, sob pena de que discursos, mobiliza-
primeira vez em 20 anos em 2021. É preciso estancar esse quadro veio da Comissão Intergo- ções ou ações pontuais se mostrem incapazes
monitorar os próximos dados para garantir que vernamental de Financiamento (CIF), que reú- de derrubar a poderosa engrenagem de geração
os avanços recentes não sejam perdidos. ne os três entes da federação para definir a regu- e perpetuação de desigualdades que têm secu-
Por outro lado, ao analisar os dados do ensino lação infralegal do Fundeb. Em outubro, a CIF larmente caracterizado a sociedade brasileira.

OpenAI: Altman só volta se conselho renunciar

Ex-CEO, demitido na sexta-feira, tem apoio de executivos da empresa e investidores como a Microsoft.
Ele esteve na sede da startup no domingo e postou foto com crachá de visitante: ‘primeira e última vez’

DA BLOOMBERG NEWS
SÃO FRANCISCO, EUA
ram essas fontes, que pediram pesadas críticas após demitir mento, recusaram-se a fazê-lo Um dos pontos de discórdia gociações estão caminhan-
para não ser identificadas. Altman, o que surpreendeu de forma oficial. na empresa era a ambição de do, ontem, por volta de meio-
-
O confundador da OpenAI toda a indústria da tecnologia, Pessoas em postos-chave da Altman de tornar a OpenAI, dia, Altman e Greg Brock-

O s esforços de um grupo de
executivos e investidores
da OpenAI para reinstaurar
também quer uma declara-
ção pública isentando-o de
qualquer malfeito, afirma-
os membros do conselho teri-
am concordado, em princípio,
em renunciar, mas, até o mo-
OpenAI também estariam fa-
zendo pressão para que o con-
selho renuncie e Altman vol-
que nasceu como uma organi-
zação sem fins lucrativos, em
um negócio bem-sucedido —
man — que deixou a presi-
dência da empresa após a de-
missão de Altman — foram à
Sam Altman no cargo de CEO ram as fontes. Quando sua de- te, disse uma das fontes. A lis- além da rapidez com que ele sede da startup em São Fran-
atingiram um impasse com missão foi anunciada, o con- ta incluiria a CEO interina, queria que a companhia lan- cisco. Altman postou na rede
relação à mudança no Conse- selho disse que não podia Sam Altman. Mira Murati, o diretor de Es- çasse produtos e atraísse clien- social X uma foto no local
lho de Administração, segun- mais confiar em Altman por- Demissão tratégia, Jason Kwon, e o dire- tes. Isso gerou um conflito com o crachá de visitante e
do pessoas a par das negocia- que “ele não era consistente- chocou a tor de Operações, Brad Light- com a preocupação de alguns escreveu: “A primeira e a últi-
ções. Altman, demitido na mente franco em sua comu- indústria cap. O CEO da Microsoft, membros do conselho sobre a ma vez que uso um desses.”
sexta-feira, está disposto a vol- nicação.” No sábado, porém, o Satya Nadella, também segurança das ferramentas de Os membros do conselho
tar à empresa que ajudou a site The Verge revelou que apoia Altman. A em- inteligência artificial capazes tinham até a noite de ontem
criar, mas quer mudanças, co- Altman havia sido sondado presa investiu mais de gerar textos, imagens e até para responder, mas nada
mo a remoção dos atuais para voltar. de US$ 10 bilhões códigos de computador. fora confirmado até o fecha-
membros do conselho, disse- Depois de terem sido alvo de na OpenAI. Em um sinal de que as ne- mento desta edição.
ANDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP/16-11-2023

Com menor custo, ETFs atraem EVOLUÇÃO DOS ETFS NO BRASIL

cada vez mais investidores

Participação de pessoas físicas já corresponde a 22% do patrimônio total desses fundos

600 536 mil 505 mil

Número 503 mil
No Brasil já são 503 mil. Globalmente, indústria movimenta US$ 10 trilhões total de 500
investidores 400
242 mil
300
barata e fácil a uma coisa que nue crescendo com força no
não é simples de fazer: uma país, devido aos cortes na ta- 200 111 mil
carteira diversificada e calcu- xa básica de juros (Selic), 100
ISABEL FILGUEIRAS
economia@oglobo.com.br
lada — afirma Bruno Stein, que reduzem a atratividade
diretor geral da Global X da renda fixa. 0
2019 2020 2021 2022 2023*
-
ETFs no Brasil. — Um exem- As taxas de administração

O s fundos de índice nego-

ciados em Bolsa, os cha-
mados Exchange-Traded
plo é um dos primeiros ETFs,
que segue o índice S&P 500,
com ações das 500 maiores
menores que as de fundos tra-
dicionais estão entre os prin-
cipais motivos para a dissemi-
Patrimônio total
dos fundos
R$ 50
bilhões R$ 43 R$ 41
Funds (ETFs) já formam empresas americanas. Como nação dos ETFs, que costu- 50 R$ 38 7% bilhões bilhões
uma indústria de US$ 10 tri- alguém ia conseguir com- mam ter gestão passiva. Dife- Parcela de recusos R$ 30 bilhões 8%
de pessoas físicas 40 12%
lhões no mundo. E ainda há prar todas? É mais fácil só in- rentemente da gestão ativa, bilhões 8%
74%
30
potencial para crescer, se- vestir no ETF. na qual o gestor busca superar Parcela de recusos 10%
74% 66%
de gestores 74%
gundo especialistas. No Segundo dados da empresa os índices de referência, a ges- 20 73%
Brasil, entre 2019 e 2023, o de consultoria e pesquisa tão passiva dos ETFs replica Outros
10 22%
número de investidores ETFGI, há mais de 10 mil uma determinada carteira te- investidores
17% 18% 18% 22%
nessas carteiras saltou de ETFs em Bolsas de diversos órica, como o Ibovespa. Isso 0
2019 2020 2021 2022 2023*
111 mil para 503 mil. países, desde aqueles que se- reduz os custos.
A maior parte deste cres- guem o S&P 500 ou o Iboves- Enquanto nos fundos de * acumulado no ano até outubro Fonte: B3 EDITORIA DE ARTE

cimento se explica pelos pa até os de nicho, que inves- gestão ativa as taxas de admi-
custos mais baixos para de- tem em blockchain ou inteli- nistração variam entre 1% e nome e negociam as cotas tamos de chamar de ciência continuar crescendo. Quando
senvolver, manter e distri- gência artificial. Há sempre 3% ao ano, nos ETFs elas fi- em Bolsa. As regras do mer- financeira. Nós pegamos esse você é um gestor e não tem
buir ETFs aos investidores. uma novidade no radar. cam entre 0,02% e 1,3%, o cado brasileiro ainda não conhecimento e automatiza- tempo para fazer a seleção de
Para o pequeno investidor, que contribui para um retor- permitem que isso se repita mos as regras. No fim, é como ativos, você aloca em um ETF.
esses fundos ajudam a diversi- POR QUE É MAIS BARATO? no favorável. por aqui. No entanto, o GU- se transformássemos a cabe- Há ainda uma vantagem
ficar a carteira sem gastar No Brasil, o mercado de ETFs, Ainda assim, mesmo os RU11, ETF do Inter, faz algo ça de um gestor num algorit- fiscal. Enquanto os fundos
muito. É possível investir com apesar do grande crescimen- ETFs podem buscar estraté- similar, reunindo composi- mo —explica João Fernandes, tradicionais seguem uma
menos de R$ 100, por meio de to nos últimos anos, ainda é gias de gestão ativa. No jargão ções de fundos de sucesso, executivo de pesquisa quanti- tabela regressiva de taxação
cotas negociadas na Bolsa. Pa- considerado incipiente, com do mercado, excelentes ges- dos “gurus do mercado”. tativa da Teva Índices, que de- que vai de 22,5% a 15% so-
ra os institucionais, que são os um patrimônio de R$ 41 bi- tores são conhecidos como Normalmente, no entanto, senvolve índices para o mer- bre os ganhos, os fundos de
gestores de fundos, eles tam- lhões —menos de 10% do sal- “gurus” —mas eles são raros. agestão dos ETFs é automati- cado de ETFs nacional. índice têm imposto fixado
bém são uma ferramenta de do da caderneta de poupança, Nos Estados Unidos, berço zada, com um algoritmo que Luiz Fernando Araújo, em 15%, sem importar o
redução de custos. de R$ 960 bilhões, segundo dos ETFs e país onde eles es- passa a trabalhar sozinho de- gestor e presidente da Fin- prazo da aplicação.
— Ninguém consegue fa- dados de outubro. tão mais desenvolvidos, já há pois de ser desenvolvido. cap Investimentos, é oti-
zer gestão global sem ETF. O Por ainda estar pouco dis- o conceito de “ETFs ativos”, —Temos um time de finan- mista sobre os ETFs: Leia outras reportagens sobre
produto existe para dar expo- seminado e ser de fácil aces- que são fundos que replicam ças e tecnologia. Unem-se os — Não têm comissão, não finanças pessoais e investimentos
sição de forma padronizada, so, a tendência é que conti- estratégia de gestores de re- dois mundos, que é o que gos- têm custo de distribuição e vão no site www.valorinveste.com
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 | 15

REGIÃO METROPOLITANA PARA

Rio
ACESSAR

Fortes chuvas provocam falta de luz APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Pelo menos seis bairros do Rio e parte de Niterói ficaram às escuras O QR CODE

CRONOLOGIA DE UMA CIDADE ACUADA

1 TARDE DE SEXTA-FEIRA
Com a sensação términa
beirando os 60 graus, jovens
esperam horas pela abertura
dos portões do Nilton Santos
para ver Taylor Swift. Os fãs
não puderam entrar com água,
vendida a R$ 8 o copo dentro
do estádio
4 TARDE DE SÁBADO 6 MANHÃ DE DOMINGO
BONSUCESSO
N Devido ao recorde de calor, a Anderson Henriques Brandão é
segunda apresentação de preso por PMs em Copacabana e
PIEDADE Taylor Swift é adiada quando confessa participação no crime.
TODOS público já lotava o estádio. Ele já tinha sido abordado 56
OS SANTOS
Milhares de jovens voltaram vezes pela polícia. Suspeito de ser
MÉIER para casa já sob chuva. Na o autor da facada, Jonathan
1 2 3 4 7 CENTRO saída, perto do estádio, Batista Barbosa, de 36 anos, foi
correria e denúncia de encontrado na Lapa à tarde. Ele
arrastões tinha sido solto sábado um dia
TIJUCA
depois de ser preso em flagrante
em Copacabana por furto

COPACABANA 5 MADRUGADA DE
5 6 DOMINGO
Gabriel Mongenot
LEBLON IPANEMA
Santana Milhomem
Santos, de 25 anos,
7 MANHÃ DE DOMINGO
de Mato Grosso do
Vem à tona a informação de
2 NOITE DE 3 NOITE DE SEXTA-FEIRA Sul, é morto a
que carros da comitiva de
SEXTA-FEIRA Na saída do show, facadas na Praia de
Taylor Swift estavam com as
A estudante Ana taxistas cobram no "tiro" Copacabana. Ele
placas cobertas por plásticos
Clara Benevides, de para levar os fãs para estava na cidade
pretos, o que é crime. O
23 anos, passa mal casa. Valores chegaram a para assistir ao
objetivo era circular livremente
quando Taylor Swift quintuplicar show de Taylor Swift
pelas vias exclusivas
cantava a segunda
música. Ainda não se
sabe se o calor
contribuiu para a
morte

EDITORIA DE ARTE

48 HORAS PARA ESQUECER

Bandalhas, mortes e arrastões: homem que esfaqueou
turista na praia tinha deixado prisão 12 horas antes
VITTORIA ALVES, CAROLINA tavam que matariam quem informou que o crime foi so- mar que ela morreu por cau- do, não tinha sido procura-
CALLEGARI, PRISCILLA LITWAK, se levantasse. Eles roubaram lucionado em 12 horas. sa do calor. Outras causas do pela empresa.
RAFAEL LOPES E VERA ARAÚJO
granderio@oglobo.com.br a chave de um veículo e dois — Além da tristeza, a gen- não estão descartadas — ex- — Seria o certo, não é? Pa-
- telefones celulares. te sente uma revolta porque plicou a delegada. ra saber das atitudes que

O fim de semana prolonga-

do no Rio prometia uma
agenda com cultura, praia,
música, diversão. Mas o que
se teve foi o pior lado da ci-
dade. Dois jovens turistas
sul-mato-grossenses que vi-
eram realizar o sonho de ver
de perto da estrela do pop
Taylor Swift morreram —
Ana Clara Benevides passou
mal diante do palco, e Ga-
briel Mongenot Santana
Milhomem Santos foi esfa-
queado na madrugada de
ontem na areia da Praia de
Copacabana. Em meio a
uma onda de calor extremo,
quem foi assistir ao show no
Nilton Santos, na Zona Nor-
te, na última sexta-feira, fi-
cou horas sob o sol escaldan-
te para entrar no estádio e,
na saída, enfrentou arras-
tões e taxistas exigindo valo-
res extorsivos pela viagens
de volta para casa.
Estudante de engenharia
espacial em Minas Gerais,
Gabriel estava cochilando na
praia ao lado do um grupo de
amigos, que batiam papo na
principal atração turística do
Rio. Eram cerca de 3h. O gru-
po foi abordado por dois as-
saltantes, na altura da Rua Fi-
gueiredo Magalhães, a pou-
cos metros do batalhão da
PM de Copacabana. De acor-
do com a Polícia Civil, em de-
poimento, uma das vítimas
contou que Gabriel acordou
assustado com a chegada da
dupla e, nesse momento, foi
esfaqueado no peito. A mes-
ma testemunha relatou aos
investigadores que os crimi-
nosos estavam alterados e os
chutavam o tempo todo. Gri-
Os dois suspeitos são ve-
lhos conhecidos em Copaca-
bana, onde circulam como
moradores de rua. Um deles
foi preso pela PM na manhã
de ontem no bairro: Ander-
son Henriques Brandão foi
reconhecido por testemu-
nhas e confessou o envolvi-
mento no crime. O bandido
já foi abordado 56 vezes pela
polícia e tem 14 anotações
criminais. Anderson foi pre-
so com Alan Ananias Caval-
cante, que tem longa ficha de
antecedentes, mas não foi
identificado pelos amigos de
Gabriel.
Os dois suspeitos são
velhos conhecidos em
Copacabana, onde
circulam como
moradores de rua
À tarde, o segundo suspei-
to foi localizado por polici-
ais da 13ª DP (Copacabana)
na Lapa, outro ponto turísti-
co onde há muitos morado-
res de rua. Jonathan Batista
Barbosa, de 36 anos, é apon-
tado pela polícia como au-
tor das facadas. Ele e Alan ti-
nham sido presos na última
sexta pelo furto de 80 barras
de chocolate e foram postos
em liberdade pela Justiça no
sábado, 12 horas antes do la-
trocínio na praia. Jonathan
ainda possui seis anotações
criminais: homicídio, rou-
bo, porte de arma de fogo,
lesão corporal, furto e re-
ceptação. Em nota à im-
prensa, o governo do estado
ele estava preso, foi solto. E
em menos de 12 horas, ma-
tou uma pessoa. Eu vim para
passear, me divertir e estou
voltando para casa levando
o meu primo morto — disse
uma prima de Gabriel ao
Fantástico.
A outra vítima desse fim
semana foi Ana Clara Benevi-
des, de 23 anos, estudante de
psicologia, que fez sua primei-
ra viagem de avião para ver
Taylor Swift no Rio. Chegou
cedo ao Nilton Santos na últi-
ma sexta-feira, quando a tem-
peratura oficial chegou a
39,1ºC na cidade. Ela estava
perto do palco, por volta das
20h, quando desmaiou. Leva-
da para o Hospital Salgado Fi-
lho, não resistiu. De acordo
com uma análise inicial do
Instituto Médico-Legal
(IML), Ana Clara não tinha
qualquer doença infectocon-
tagiosa.
Com um laudo de ne-
cropsia inconclusivo e a so-
licitação da perícia por exa-
mes de toxicologia e histo-
patologia, a Polícia Civil só
poderá determinar em até
30 dias a causa da morte da
vítima. A delegada Juliana
Almeida, titular da 24ª DP
(Piedade), informou que
Ana Clara teve três paradas
cardiorrespiratórias, mas
que ainda é prematuro afir-
mar o motivo do óbito.
— O laudo de necropsia
não foi conclusivo, e o peri-
to solicitou exames comple-
mentares. Apesar de o laudo
indicar que a hemorragia no
pulmão pode ser um caso de
insolação, ainda não é con-
clusivo. É prematuro afir-
Nas redes sociais, fãs re-
clamaram que, naquele
dia, não foi permitida a en-
trada dos fãs com garrafi-
nhas de água, apesar do ca-
lor escaldante. A regra che-
gou a ser mudada para o se-
gundo show no sábado, que
acabou sendo adiado quan-
do o público já lotava o En-
genhão devido a “condi-
ções adversas do clima”.
Após a morte, autoridades
determinaram a distribui-
ção de água e mais atendi-
mento médico. O sábado
foi mais um dia calor extre-
mo, recorde de todos os
tempos (42,5°C), que ter-
minou com um temporal.
O Corpo de Bombeiros in-
formou que foram realiza-
dos cerca de 60 atendi-
mentos na parte externa do
estádio. A maioria passou
mal por causa da tempera-
tura alta. Na sexta, a corpo-
ração alegou que a presta-
ção do serviço foi realizada
apenas na parte interna pe-
A outra vítima desse
fim semana foi Ana
Clara Benevides,
de 23 anos, estudante
de psicologia
los organizadores.
A empresa T4F, organiza-
dora do evento, lamentou a
morte e afirmou que Ana
Clara “foi prontamente
atendida pela equipe de bri-
gadistas e paramédicos”. Jo-
sé Weiny Machado, pai da
vítima, disse que, até sába-
eles vão tomar, sei lá. Mas
não vai trazer minha filha de
volta — disse Weiny, que foi
informado da morte de Ana
por telefone. — Tinha uma
amiga com ela no hospital, e
um médico me ligou.
SEM TAXÍMETRO
Mas o sufoco não parou por
aí. Na saída do estádio, no
início da noite de sábado,
nas proximidades do Enge-
nhão, os fãs tiveram que fu-
gir de arrastões. Imagens
publicadas no X (ex-Twit-
ter) mostram as pessoas se
escondendo em um estabe-
lecimento e PMs cercando o
local. No fim do primeiro
show, também houve corre-
corre nas imediações do es-
tádio. Quem escapou dos tu-
multos pode ter sido vítima
de taxistas que cobravam
até R$ 500 por uma viagem “Além da
até Copacabana. tristeza, a
Mas a bandalha não tem li- gente sente
mites e chegou até à comiti- uma revolta
va de Taylor Swift. Os veícu- porque ele
los que transportavam a estava preso,
cantora e sua equipe circu- foi solto. E em
laram pela cidade com as menos de 12
placas cobertas por sacos horas, matou
plásticos pretos. A Polícia uma pessoa.
Civil chegou a apreender os Eu vim para
carros, mas eles já foram de- passear, me
volvidos porque não houve divertir e
flagrante. Em declaração na estou
delegacia, os motoristas ale- voltando para
garam que foram orienta- casa levando
dos por guardas municipais o meu primo
a cobrir as placas para trafe- morto”
gar em faixas exclusivas. O _
caso está sendo investigado. Prima de
Procurados, o prefeito Gabriel, que
Eduardo Paes e o governa- estava com o
dor Cláudio Castro não se jovem na hora
pronunciaram. do crime
16 | Rio Segunda-feira 20.11.2023 | OGLOBO

GABRIEL DE PAIVA
Ela disse também que per-
deu o receio de contar na es-
cola que era adepta de religi-
ão de matriz africana.
Pérola Magalhães, de 16
anos, aluna do 1º ano de dan-
ça da Escola Técnica Esta-
dual Adolpho Bloch, da Fae-
tec, é outra que teve a auto-
estima elevada ao participar
de um projeto na escola:
— Conhecer nosso passa-
do e dos nossos ancestrais é
fundamental, não só pelo
conceito histórico, mas
também pela autoestima.
Pérola integra o grupo de 30
alunos que se reúne semanal-
mente para a leitura do livro
“Um defeito de cor”, de Ana
Maria Gonçalves, que conta
história de Kehinde, uma afri-
cana idosa, cega e à beira da
morte, que viaja da África pa-
ra o Brasil em busca do filho
perdido há décadas. A inicia-
tiva é da professora de Histó-
ria Janete Ribeiro, que busca
adotar experiências dentro e
fora da escola como forma de
implementar uma educação
antirracista.
— A partir dos estudos da
grade curricular, mergulha-
mos na literatura preta, visi-
tamos exposições, museus,
para levar para a escola essas
experiências —relata.

LIVROS E HIP-HOP
A literatura preta também é

Lições em sala de aula

(38%) disse ter sofrido ra- Reflexo. o foco de Luciane Silva, pro-
cismo no ambiente escolar. Daniella Curcino fessora na Faetec de Quinti-
— A escola é uma das pri- de Oliveira, de 11 no e no Instituto de Educa-
meiras instituições com anos, se olha no ção Carmela Dutra, em Ma-

ajudam a combater
que os jovens têm contato,
onde eles sofrem esse racis-
mo estrutural, institucio-
nal e individual. Então, a
espelho na dureira. Além de privilegiar
entrada de sua autores negros como Maria
sala: “Achava Firmina dos Reis, Carolina
Maria de Jesus e Lima Barre-

o preconceito racial
gente considera que é preci-
so implementar a lei em to-
das as disciplinas e não só na
história. Tem que ser um
trabalho transversal — co-
Apesar de lei sancionada há 20 anos, ensino da cultura e da história bra Érika Frazão, professora
africanas ainda depende de iniciativas de professores engajados adjunta de relações étnico-
raciais na Universidade Fe-
deral Fluminense (UFF).
Aulas como a do professor
GERALDO RIBEIRO
geraldo.ribeiro@extra.inf.br
obriga a inclusão nos currí- a implementação e a prática Moisés ajudam a alterar es-
culos escolares do ensino de —afirma a professora Sônia se quadro e contribuem pa-
-
história e cultura africana e Beatriz dos Santos, do Depar- ra transformar a vida de es-
que só pessoas
brancas e de to em suas aulas, ela criou o
cabelo liso eram e-book “Enegrecendo o cur-
bonitas. Isso rículo com a literatura afro-
mudou” brasileira”. A publicação,
vendida na internet por R$
23,50, traz indicações de li-
vros para auxiliar outros do-
centes. A professora tam-
bém usa o perfil no Insta-
gram (@profluportugues)
para fazer indicações.
—Nosso currículo precisa
ser enegrecido —diz.

N a Escola Municipal
O’Higgins, em Bangu,
na Zona Oeste, antes de co-
afro-brasileira. Porém, se-
gundo especialistas, as pou-
cas iniciativas existentes
tamento de Ciências Sociais e
Educação da Uerj.
Para ela, a necessidade
tudantes como Daniella
Curcino de Oliveira, de 11:
—Achava que só pessoas
Na Baixada Fluminense, a
boa prática antirracista parte
da educadora Marize Concei-
meçarem a estudar, os alu- partem de práticas isoladas desse tipo de ensino está ex- brancas e de cabelo liso ção. Desde 2015, seu projeto
nos do professor Moisés de alguns professores. plicitada no resultado de eram bonitas. Olhava no “Encontro de meninas discu-
Machado passam por um es- —O Brasil, em termos do uma pesquisa realizada pe- espelho e não me aceitava. tindo identidade” leva às es-
pelho. Ao lado dele, um car- direito à diversidade, e aqui a lo Inteligência em Pesquisa Isso mudou com o Tio Moi- colas da região palestras e ofi-
taz reforça o poder da pala- gente está falando das étnico- e Consultoria Estratégica, sés. Foi libertador — conta cinas, como a de hip-hop.
vra e incentiva os estudan- raciais, tem uma das melho- (Ipec). A maior parte dos a menina, que depois disso — A ideia do projeto é tra-
tes a repetirem para si frases res legislações. O problema é dois mil entrevistados ficou até mais vaidosa. balhar a identidade racial e
motivacionais, como “Eu CUSTODIO COIMBRA
discutir a identidade de gê-
sou lindo (a)”, “Eu sou prós- nero para que as alunas se
pero (a)”, “Eu sou inteligen- empoderem e, no lugar em
te” e “Eu sou feliz”. Na sala, que estejam, saibam se posi-
as referências à cultura, à cionar —explica Marize.
história e a personagens ne- Uma pesquisa dos institu-
gros estão por toda parte. tos Alana e Geledés mos-
Num determinado momen- trou que sete em cada dez
to da aula o docente, que é ne- secretarias municipais de
gro, como a maioria dos estu- Educação do país não cum-
dantes, indaga: “Onde vocês prem a Lei 10.639. No Su-
veem mais pessoas parecidas deste, o Estado do Rio apare-
com a gente, na Europa ou na ce em situação inversa da
África?”. Todos escolhem a se- tendência nacional, sendo
gunda opção. Moisés resolveu que apenas 21 dos 92 muni-
combater o racismo e aumen- cípios fluminenses respon-
“É importante tar a autoestima da turma fa- deram os questionários.
essa zendo com que as crianças, na No Rio, o secretário muni-
reconexão faixa dos 10 anos, aprendam cipal de Educação, Renan
com a África, mais sobre a própria história Ferreirinha garante que
para que eles com lições que aproximam a cumpre a legislação e que a
se compre- África do Brasil. representatividade chegou
endam como —É importante essa reco- até ao material didático. A
protagonistas nexão ancestral com a África, rede tem 660 mil alunos,
de suas para que eles se compreen- dos quais 57,41% são pretos
próprias dam como seres potentes e Boas práticas. ou pardos, segundo dados
histórias” protagonistas de suas pró- Agenda do da secretaria.
_ prias histórias — diz o profes- Dia de
do Terreirinho Tia Cia-
ta, passará pela Aveni-
músicos e sambistas.
Confirmaram presença
uma roda de conversa
com Bia Nunes, presi-
A educadora
Marize —A gente tem a promoção
Moisés sor do ensino fundamental, Zumbi da Presidente Vargas no cortejo os grupos dente da Associação Conceição (de da educação antirracista co-
Machado, que criou um alfabetário asso- com uma grande reve- Fina Batucada, Cia de Estadual das Comuni- amarelo) com mo pilar central do nosso tra-
professor da ciando as letras às iniciais dos rência de rufar de tam- Mystérios, Rio Maraca- dades Quilombolas (às as integrantes balho — assegura Ferreiri-
rede municipal nomes de personalidades ne- > Cortejo pela Cons- bores à estátua de tu, Tambores de 10h), e roda de jongo. O do projeto nha, acrescentando que uma
gras, como Abdias Nascimen- ciência Negra: Zumbi dos Palmares. Olokun, entre outros. espaço fica na Rua "Encontro de das ações de sua gestão foi a
“Nosso to, Glória Maria e Pelé. > As ruas da Praça Em seguida, o afrocir- Sacopã 250, na Lagoa. meninas criar a Gerência de Relações
currículo Moisés Machado faz a dife- Onze serão tomadas cuito entra na Avenida Quilombo Sacopã: discutindo Étnico Raciais, que tem entre
precisa ser rença num universo onde a hoje pelo Cortejo da Tia Marquês de Sapucaí e > Ao som do Samba > Viva Zumbi: identidade”: suas funções identificar a
enegrecido ” educação antirracista, obri- Ciata, a partir de meio- ampliar boas práticas.
_ gatória há 20 anos, ainda é, dia, embalado por
retorna para a Praça
Onze para o encerra-
Sacopã, a feijoada é
servida à vontade (R$
> O evento comemora-
tivo marcado para o
palestras e
oficinas A Secretaria estadual de
Luciane Silva, como se pode observar neste sambas, ijexá, maraca- mento com uma grande 50) a partir das 14h centro de Niterói foi Educação informou que,
professora de Dia Nacional de Zumbi e da tus, jongos e rodas de roda de samba e parti- (entrada a R$ 20). O adiado devido ao tem- além de cumprir a lei, pro-
literatura da Consciência Negra, exceção. capoeira. O grupo sairá cipação de diversos dia começa hoje com po instável. move iniciativas de cunho
rede estadual Desde 2003, a Lei 10.639 antirracista.
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023
Contagem regressiva:
Glocal Experience
Rio começa na quarta
Encontro para troca de ideias e soluções na área de
sustentabilidade leva nomes de peso à Marina da Glória
ROBERTA DE SOUZA
roberta.souza@oglobo.com.br
-
P lataforma de ideias e
ações para tornar o mun-
do mais sustentável e menos
desigual, a Glocal Experien-
ce investe em ciclos anuais,
estabelecidos a partir da es-
treia do evento, em 2022. O
próximo passo vai ser dado
na quarta-feira, dia 22, quan-
do, por quatro dias, a Marina
da Glória vai abrigar a pro-
gramação da Glocal Experi-
ence Rio 2023. Orientado
pelos 17 Objetivos de Desen-
volvimento Sustentável
(ODS) das Nações Unidas, o
evento busca discutir e am-
plificar as melhores iniciati-
vas nesta área. Em resumo, é
hora de pensar o presente e o
futuro: lideranças que já se
ocupam dessas questões vão
dividir suas experiências
com os demais participantes
na programação que vai até
sábado.
A estrutura montada na
Marina da Glória vai abrigar
espaços como os palcos Glo-
cal (200 lugares), Rio e Im-
pacto (50 lugares cada um),
além de áreas de alimenta-
ção, oficinas para visitantes
de todas as idades e a exibi-
ção, em sessões diárias, do fil-
me “Amazônia viva”, produ-
ção de realidade virtual diri-
gida por Estevão Ciavatta.
—Nos painéis, as pessoas
vão ver vários exemplos para
inspirar e mostrar que é pos-
sível. Se a gente olha o Palco
Impacto (onde ficarão convi-
dados ligados ao tema da
transformação social) e al-
guns dos palestrantes, a gen-
te está falando de várias pes-
soas que já estão atuando tan-
to com suas empresas, quan-
to com suas ONGs para esse
tipo de transformação — diz
Rodrigo Baggio, head da Glo-
cal Experience.
DIVERSIDADE DE TEMAS
Entre os palestrantes convi-
dados há mais de 130 nomes
nacionais e estrangeiros:
são lideranças indígenas,
comunitárias, governa-
mentais, empresariais e de
movimentos sociais. Além
da inspiradora troca de idei-
as, a programação vai se en-
cerrar com shows de Sandra
de Sá, no primeiro dia, e Le-
nine, na quinta, ambos a
Rio | 17
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
William Kamkwamba. Atração do primeiro dia, às 15h Paul Watson. Cofundador da ONG Greenpeace
VINICIUS MOCHIZUKI ISABEL OLIVEIRA
partir das 19h. Na agenda da
Glocal Rio 2023, a diversi-
dade de temas abordados
vai do painel “O papel das
empresas na transformação
social”a “Manibank: finte-
ch por e para indígenas”,
uma conversa com o em-
preendedor Anápuàka Mu-
niz Tupinambá Hãhãhãe,
CEO da Rádio Yandê, do
YBY Festival de Música In-
dígena, e do Mani Bank. Es-
ses são dois compromissos
do primeiro dia. Quem tam-
bém marca presença na
quarta-feira , às 15h, é Willi- Dira Paes. Nascida no Pará, a atriz fala sobre a Amazônia Bela Gil. Chef e apresentadora estrela painel no sábado
am Kamkwamba, inventor
nascido no Malawi que ga- dor da Sea Shepherd Conser- em pauta no último dia de
nhou notoriedade com sua Glocal Experience vation Society. programação são “A impor-
história contada no filme e Rio 2023 Sexta é dia de “Educação: tância do mangue no se-
no livro “O menino que des- pedagogia do pertencimen- questro de carbono”, às 10h,
cobriu o vento”. > 22 a 25 de novembro to”, às 11h30, debate que reú- e “Jovens negociadores pelo
Na quinta-feira, a agenda ne, entre outros, o escritor clima”, às 11h15.
inclui, às 11h, uma conversa > Marina da Glória – Avenida Daniel Munduruku (via stre- A Glocal Experience tem
entre o escritor e neurocien- Infante Dom Henrique, s/n aming) e Fabbi Silva, coorde- realização da Dream Fac-
tista Sidarta Ribeiro e a pes- nadora da Casa Fluminense. tory e correalização da Edi-
quisadora Lua Couto, em tor- > Entrada gratuita, Em seguida, ao meio-dia, a tora Globo, com os jornais O
no do tema “Somos ances- mediante inscrição em atriz Dira Paes, nascida no GLOBO, Extra e Valor como
trais do futuro”. Em seguida, www.glocalexperience.com.br Pará, participa do painel “De parceiros de mídia.
ao meio-dia, o jornalista Du- frente para Amazônia”. —A segunda edição chega
da Menegassi faz uma entre- > No site, escolha a No sábado (25), a chef Be- madura, mais forte e com
vista virtual com o ambienta- programação, preencha la Gil aborda, às 10h, o tema mais capacidade de mobili-
lista Paul Watson, cofunda- o cadastro e gere os ingressos “A receita do mundo rege- zar pessoas — afirma Rodri-
dor do Greenpeace e funda- nerativo” — outros temas go Baggio.
18 | Rio Segunda-feira 20.11.2023 | OGLOBO

Tempo
TEMPERATURA SOL E LUA Nasc. 4H59 Cheia Ming. Nova Cresc.
> 40º 37º/40º 33º/36º 29º/32º 12º/14º
25º/28º 20º/24º 16º/19º 12º/15º < 12º Poente 18H17 27/11 05/12 19/11 20/11

PREVISÃO Sol Nublado Nublado Pancadas Nublado Chuvas e Geada MARÉ Hora BAIXA 0h41m 5h51m BAIXA 13h03m 18h43m
parcialm. de chuva c/ chuvas trovoadas Altura 0,5m ALTA 1,1m 0,3m ALTA 1,1m

26°
Macapá Fortaleza
BRASIL RIO Porciúncula
19° Previsão
ZONA
SUL
ZONA
NORTE
ZONA
OESTE
SENSAÇÃO
TÉRMICA/RIO
PROBABILIDADE
DE CHUVA
Boa Vista 25°/ 34° 23°/ 32° Chuva aumenta no interior do Muitas nuvens neste começo Bom Jesus do 27°
27°/ 36° Natal
BR. MG, RJ, GO, DF, extremo de semana, dia instável com Itabapoana 20° HOJE 22°/26° 21°/28° 21°/28° 25°/28° Alta
São Luís 25°/ 31°
Belém norte de SP, MT e MS, com chuva a qualquer hora, 29°
AMANHÃ 21°/30° 20°/32° 20°/32° 24°/33° Alta
Manaus 26°/ 31° João Itaperuna NORTE São Francisco 28°
28°/ 35°
25°/ 33° temporais. Tempo firme na intercalando períodos de 20°
de Itabapoana 22°
Pessoa Santo Antônio 28° QUARTA 22°/35° 21°/37° 21°/37° 24°/38° Baixa
25°/ 31° maior parte do Sul, pancadas melhoria. Chance de temporais de Pádua 20°
Porto Velho
26°/ 34°
Teresina Recife no AM, AC, sul do MA e PI. à tarde no norte do estado. 29° São João 28° QUINTA 24°/38° 23°/40° 23°/40° 27°/45° Alta
da Barra 21°
25°/ 36° 26°/ 30°
São Fidélis
21° Campos 29°
Rio Branco Palmas Maceió
22° SEXTA 23°/30° 22°/32° 22°/32° 29°/33° Alta
26°/ 34° Santa Maria 24°
26°/ 33° 24°/ 32°
28° Paraíba SERRANA Madalena 18° SÁBADO 24°/30° 23°/32° 23°/32° 24°/33° Alta
Brasília Salvador Aracaju 21° do Sul Nova 21°
Cuiabá Friburgo 16°
26°/ 35° 22°/ 27° 25°/ 32° 25°/ 31° 21° Visconde 25°
25°
Teresópolis
DOMINGO 22°/22° 21°/24° 21°/24° 22°/24° Alta
Valença 29°
Vitória 14° de Mauá 18° Casimiro 28° Macaé
Campo Grande 19° 22°
23°/ 31° 26° Volta de Abreu 21°
22°/ 30° 26° 19° Redonda Barra 28° Cachoeiras Rio das 29°
Belo Horizonte Resende Petrópolis de Macacu
19° do Piraí 20° Ostras 22°
20°/ 28° 26° Barra 24° 26° Silva Jardim
Goiânia
19° Mansa 28° Duque 17° 27° 25° Praias - Imprópria: Barra da Ondas - Ondas de 0,5 a 1 Ventos - Rajadas de vento
23°/ 31° Rio de Janeiro SUL 19° Búzios
21°/ 28° 23° de Caxias LAGOS 22° 20° Tijuca, Barra de Guaratiba, metro. Ondulação de sul. podendo variando entre 51 e
27°
27° Araruama
25° Botafogo, Flamengo, Leblon e Melhores locais: Arpoador, 70 km/h.
São Paulo Mangaratiba 28° Rio de 21° Cabo Frio
22°
21°
Janeiro Niterói
Maricá Saquarema 20° Urca. Macumba e Grumari.
17°/ 24° Angra 26°
27° 28° 26°
dos Reis METROPOLITANA 23°
Porto Alegre Florianópolis Curitiba 22° 21° 21° informações: Inea informações: Ricosurf
26°
14°/ 27° 20°/ 25° 14°/ 21° Paraty
21°

Animação, cores
FOTOS DE GUITO MORETO

e resistência
até debaixo
de chuva
Em sua 28ª edição, a Parada do Orgulho
LGBTI+ ocupa a Avenida Atlântica
para falar de amor, cidadania e luta

CAMILA ARAUJO
camila.araujo@oglobo.com.br
Grupo Arco-Íris desde 1995,
teve oito trios elétricos. Prin-
-
cipal atração, a cantora Lexa Festa. Símbolo do movimento, a imensa bandeira listrada colore a paisagem cinzenta de Copacabana: organizadores dizem que a chuva aliviou a tensão

M uitas cores, brilho e resis-

tência desfilaram pela
orla de Copacabana, na Zona
participou da festa com ou-
tros 50 artistas. A atriz e can-
tora Valéria Barcellos fez sua
acabou aliviando a tensão —
diz Almir França, diretor do
no e Miguel Lemos, foi inter-
ditada às 23h30 do dia anteri-
Sul do Rio, ontem, na 28ª estreia como intérprete do Grupo Arco-Íris. —A gente or para o posicionamento dos
Parada do Orgulho LGBTI+, Hino Nacional na parada do teve a presença de muitos trios elétricos. Logo no início
amais antiga do país. O lema Rio e deve continuar nas gestores públicos do muni- da manhã de ontem, como de
dessa edição foi “O amor, a próximas edições. Depois de cípio e do governo do esta- costume, toda a extensão da
cidadania e a luta LGBTI+ cantar, a também performis- do, e de parlamentares de via foi fechada e transformada
jamais vão recuar”. Apesar da ta desceu do trio e foi para a partidos diversos, inclusive em área de lazer.
chuva, participantes do even- avenida dançar e cumpri- alguns de história conserva- Cerca de 240 agentes da
to ocuparam a Avenida Atlân- mentar o público. dora. A gente não esperava, Secretaria de Ordem Pública
tica, da Rua Sá Ferreira até a A organização do evento mas é um dado muito im- eda guarda municipal atua-
Rua Rodolfo Dantas, em cele- afirmou que houve uma portante para nós. Mostra ram no ordenamento urbano
bração à diversidade e pelo queda de público nesta que o movimento LGBT ena operação do trânsito em
combate a retrocessos que edição por várias razões, está além de uma questão de um esquema da prefeitura. A
ameaçam direitos de lésbicas, entre elas, a onda de calor. um grupo específico, é um Polícia Militar deslocou 850
gays, bissexuais, pessoas trans —Existia o risco de o movimento da sociedade. policiais, que também fize-
eintersexuais. evento não acontecer devi- Apista da Avenida Atlântica, ram o monitoramento com
O evento, organizado pelo do ao calor, mas a chuva Lema. “O amor, a cidadania e a luta LGBTI+ jamais vão recuar” uniu adeptos entre as ruas Francisco Otavia- drones e helicóptero.

Em sete meses, 2,9 mil caça-níqueis foram apreendidos dante de um homicídio, em

2022, ele tinha o domínio
das atividades do jogo do bi-
cho nos bairros de Madurei-
Operações do Ministério Público e da Polícia Militar para combater o jogo do bicho usa informações recebidas pelo Disque-Denúncia ra, Abolição, Cascadura,
Maria da Graça, Piedade e
Inhaúma, segundo o MPRJ.
DO G1 com reportagem do g1. As in- mático de ações voltadas a Combate ao Crime Organi- go de luxo em Cascadura, na Foram apreendidas 50
-
formações que levaram às coibir a prática ilegal de jo- zado (Gaeco) do MPRJ. “O Zona Norte, foi alvo da ope- máquinas de caça-níqueis.

D e abril a novembro de
2023, as operações do
Ministério Público do Rio
ações foram recebidas pelo
Disque-Denúncia. Além das
máquinas, os policiais
gos de azar, jogos eletrôni-
cos, comércio ilegal de ci-
garros e outras atividades
Disque-Denúncia tem ex-
trema importância na cap-
tação das informações, in-
ração. A casa de jogos opera-
va dentro de uma vila. O g1
apurou que o estabeleci-
Quatro funcionários e 20
apostadores que estavam no
local foram levados para
(MPRJ) e da Polícia Militar apreenderam R$ 117.613,45 ligadas a organizações cri- dicando os locais”. mento fica em uma das prestar esclarecimentos na
para combater o jogo do bi- em espécie, 32 celulares, 53 minosas popularmente co- O trabalho, segundo o áreas de influência do bi- 29ª DP (Madureira). O local
cho no Rio apreenderam 2,9 máquinas de cartão e 40 im- nhecidas como jogo do bi- promotor, tem o apoio da cheiro José Caruzzo Escafu- já teria sido fechado em ou-
mil máquinas de caça- pressoras. cho”, explicou Fábio Cor- central especializada em ra, o Piruinha. tras operações policiais. O
níqueis e resultaram na pri- “Essa diligência está den- rêa, coordenador do Grupo atividades criminosas. Na Quando Piruinha foi pre- responsável pelo estabeleci-
são de 386 pessoas, de acordo tro de um conjunto siste- de Atuação Especializada e última quarta-feira, um bin- so sob suspeita de ser o man- mento foi autuado.

IMAGENS QUE EMOLDURAM

1 col.
1 col.
(4,6
6 cm)
(4,6 cm)
3 cm
4 cm
R$
$ 1.695,00
R$ 2.260,00
R$ 2.295,00
R$ 3.060,00
SENTIMENTOS.
1 col. (4,6 cm) 5 cm R$ 2.825,00 R$ 3.825,00
2 col. (9,6 cm) 3 cm R$ 3.390,00 R$ 4.590,00 Aponte a câmera do celular no Qr-Code e conheça
2 col. (9,6 cm) 4 cm R$ 4.520,00 R$ 6.120,00 nossas opções de molduras para avisos fúnebres e
2 col. (9,6 cm) 5 cm R$ 5.650,00 R$ 7.650,00
2 col. (9,6 cm) 7 cm R$ 7.910,00 R$ 10.710,00 religiosos ou acesse anunciosreligiosos.oglobo.com.br
2 col. (9,6 cm) 8 cm R$ 9.040,00 R$ 12.240,00
3 col. (14,6 cm) 4 cm R$ 6.780,00 R$ 9.180,00
3 col. (14,6 cm) 6 cm R$ 10.170,00 R$ 13.770,00
3 col. (14,6 cm) 7 cm R$ 11.865,00 R$ 16.0
065,0
00 Anuncie agora via WhatsApp ou Telegram
3 col. (14,6 cm) 10 cm R$ 16.950,00 R$ 22.950,00
2534-4333 de 2ª a 6ª feira, das 9h às 18h
• Para outros formatos consulte: 2534-4333, de 2ª a 6ª feira, das 9h às 18h. Plantão 2534-5501 | Sábados, das 10h às 17h
• Plantão: 2534-5501
Domingos e Feriados, das 16h às 19h
Sábado: das 10h às 17h / Domingo e feriados: das 16h às 19h.
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023
Leitores
MENSAGENS CARTAS@OGLOBO.COM.BR
As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Leitores. O GLOBO, Rua Marquês de Pombal 25, CEP 20.230-2
Crime em Copa
Raiva, nojo e a mais profunda
indignação é o que sinto após
ler sobre o assassinato de jovem
turista visitando o Rio para o
show da cantora Taylor Swift.
Investigação demonstra que os
marginais praticam crimes há
anos em Copacabana. A tragédia
deve ser imputada ao nosso
sistema Judiciário podre, que
solta criminosos contumazes
em famigeradas audiências de
custódia. Não há ressocialização
possível para monstros. Deveriam
permanecer presos pelo máximo
tempo possível. Enquanto isso,
juízes federais e de instâncias
superiores brigam no Conselho
Nacional de Justiça por folgas
conversíveis em dinheiro, a cada
três dias de “trabalho árduo”.
E foi aprovado! Esperamos que
seja já revertido esse escárnio.
ROBERTO ALMEIDA
RIO
Tragédia no show
Um show para adolescentes ,
com proibição de levar água...
Adolescente sem água! Só para
APLICATIVO O GLOBO
O app oferece
funções que facilitam
a navegação, além de
unir todo o conteúdo
on-line e impresso.
Baixe agora ou atualize
o aplicativo disponível
na Apple Store
e no Google Play
Menu de
navegação
Café com sabor
de resistência
15%
desconto
OCafé Quilombo
oferece 15% de desconto
aos membros do Clube
em compras on-line com a
marca, dedicada a inserir
os negros no mercado
cafeeiro — iniciativa ideal
para o assinante descobrir
hoje, em pleno Dia da
Consciência Negra. Igua-
ria vinda da África para o
Brasil, o café se tornou a
segunda bebida mais
LOTERIAS LOTOFÁCIL (concurso 2.957): 1 . 2 . 4 . 5 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 15 . 17 . 19 . 20 . 21 . 24. QUINA (concurso 6.294): 30 . 45 . 58 . 62 . 78. MEGA-SENA (concurso 2.657): 7 . 27 . 32 . 33 . 36 . 53.
O leitor deve checar os resultados também em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.
poder vender água quente
a preços estratosféricos.
Qualquer comparação com
Gaza é mera coincidência.
A menina morreu por
irresponsabilidade e ganância.
JACQUELINE SANTOS
NITERÓI, RJ
Daniel Becker
O artigo do pediatra integral
Daniel Becker (19/11) é cirúrgico
ao explicar como a ideologia
neoliberal dominante nos últimos
40 anos fez com que fossem
descobertas fórmulas de
manipular a mente humana —
como o uso da neorociência —
em prol do acúmulo de capital
sem limite ético. É o velho vigiar
e punir de Foucault, mas com
roupagem de inovação
tecnológica. Becker presta um
grande serviço ao dizer que
precisamos aprender a identificar
e combater o vício aos alimentos
ultraprocessados, às redes
sociais e ao vape, que mata
a respiração de tantos jovens.
Juntos, destroem nossos
corpos, mentes e almas.
GEOVANE BARONE
RIO
EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
CONSULTE CONDIÇÕES DA OFERTA NO SITE CLUBEOGLOBO.COM.BR
DIVULGAÇÃO
consumida do mundo
e, por aqui, contou
com a força de traba-
lho negra para prospe-
rar. Para reconhecer
personalidades da
resistência contrária
àescravidão daquela
época, a loja batizou
seus grãos de torra
média de Rainha
Dandara (menos
amargos) e os de torra
escura de Rainha
Tereza (mais amargos
eintensos). Saiba mais
detalhes em nosso site.
Rio | 19
ACERVO PARA
ACESSAR
Pesquise notícias antigas do GLOBO APONTE
O CELULAR
PARA
NA WEB Site contém todas as edições digitalizadas desde a primeira, em 29 de julho de 1925 O QR CODE
40. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail cartas@oglobo.com.br
na realidade banalizando-o, pessoalmente ao mesmo para admitido o Irã no Brics.
Lipedema com a conivência da Igreja. se justificarem e, desta forma, Este país ditador deveria ser
Lamentável. futuramente podiam receber isolado e esquecido pelo resto
Excelente a reportagem GLAUCE CLÔRES punições graves. No Rio, do mundo por discriminar
“Corpos incompatíveis” RIO taxistas só melhoraram com pessoas por sexo, religião,
(19/11), que vai ajudar muita o advento dos transportes por raça e posições políticas.
gente que passa pelo mesmo aplicativos e, pela reportagem SÉRGIO RICARDO IUSIM
problema, achando ser Horário de verão deste domingo (19-11), RIO
estético, procurando formas estão novamente fazendo
de resolver, sem solução, até Volta o ministro das Minas o que querem, e alguns talvez
descobrir que é muito mais e Energia a defender o retorno até mesmo merecendo Sem energia
grave. Lipedema é o nome da da mudança de horário. descredenciamento.
doença pouco conhecida, de Os maiores beneficiados são Mas para tanto a prefeitura No dia 15 ficamos, no bairro
causa genética e progressiva, bares, restaurantes e afins. precisa funcionar. onde moro, na Região Oceânica
com gatilhos hormonais. E o povo? Já estamos CÂNDIDO ESPINHEIRA FILHO de Niterói, 12 horas sem
Muitas pessoas têm, mas impactados pelo calor RIO energia. Agora, sábado (18-11),
desconhecem, como foi o caso excessivo, ainda querem mexer tivemos outra queda de
da jornalista Carolina Morand, com nosso relógio biológico. energia, que durou ao menos
que fez um relato completo Para os governantes, Sardenberg 15 horas. Em um mês tivemos
e muito elucidativo. medidas tomadas não quatro problemas com o
Parabéns a ela e ao GLOBO. lhes afetam, vivem Faço coro com as palavras de fornecimento de energia; em
LYGIA DE CASTRO sempre nababescamente. Carlos Alberto Sardenberg no média foram 20 horas diárias
RIO Deixem-nos em paz! artigo “Vestido novo” (18-11), sem energia; ou seja, um
SANDRA PEDREIRA no que concerne à falta de problema sério por semana.
MARICÁ, RJ humanidade e de respeito com Pela nossa experiência,
Cristo Redentor as mulheres no Irã. A jornalista podemos afirmar que a
iraniana Narges Mohammadi manutenção é muito ruim
Muito bem lembrado na carta Táxis bandalhas está presa e condenada apenas e o atendimento aos problemas
de Íris Castro, no GLOBO por fazer propaganda contra o é péssimo. Estou com
(19-11), sobre transformar a Há uns 20 anos motoristas de Estado ditador, deixando de saudades das concessionárias
nossa escultura-ícone do Rio táxi de São Paulo me receber o Prêmio Nobel da Paz anteriores, que eram ruins,
de Janeiro (o Cristo Redentor ) informavam que, quando deste ano. Uma crueldade sem mas pelo menos atendiam
em garoto propaganda. Sra. Íris, denunciados por usuários ao tamanho. Considero um ato às reclamações.
não duvide, sempre falando órgão fiscalizador, eram vergonhoso e imprudente do EMERSON RIOS
nas “boas intenções”, estão obrigados a comparecer atual governo brasileiro ter NITERÓI, RJ
PODCAST
Como navegar Ao Ponto
A tela inicial destaca o Em Editorias, Publicado a partir
conteúdo on-line que pode o leitor consegue acessar das 6h, de segunda a
ser atualizado suas seções preferidas sexta, com análises e
informações sobre o
principal tema do dia
Em Biblioteca, as matérias Ao clicar no símbolo, o leitor
salvas do aplicativo ficam pode salvar uma matéria Como ouvir
guardadas para leitura posterior Está disponível
no site do GLOBO
e nas plataformas
Em Banca, o leitor pode O time de colunistas de podcast
baixar a edição impressa em do GLOBO está reunido em
duas versões: jornal e texto um único lugar no app
HÁ 50 ANOS
Brasil tabela carne para segurar inflação
20/11/1973
DIVULGAÇÃO
Medicamentos mais
baratos, com frete grátis
As condições são
40% válidas mediante a
desconto
apresentação de
carteirinha (física
Na Black Friday, ou digital na valida-
assinante O GLOBO de). Criada em 1953
tem desconto de até a partir de uma
40% em medicamen- pequena farmácia
tos de todas as catego- em São Gonçalo, na
rias nas Drogarias
Tamoio, em compras
Região Metropolita-
na do Rio, a Tamoio
Aulas de gastronomia
nas lojas físicas ou se transformou em sem ter que sair de casa
pelo delivery. Os pedi- uma das drogarias
dos podem ser feitos mais conhecidas e
por telefone (21-2199- confiáveis da popu- cozinha e, agora,
3200), com frete grátis lação fluminense. 30% atua como profes-
desconto
e a oferta do Clube. Confira on-line. sora de gastrono-
DIVULGAÇÃO
mia em aulas sema-
Assinante O nais ao vivo pela
GLOBO aproveita 30% internet. Com A volta do tabelamento, a fixação do preço da
de desconto no curso Flávia, é possível arroba do boi em pé na base do Cr$ 90,00 e o
de gastronomia da aprender novas aumento do confisco cambial numa faixa entre
chef Flávia Quaresma, técnicas, receitas, 200 e 500 dólares por tonelada de produto
que tem 25 anos de empratamentos, exportado, a partir de 15 de dezembro próximo,
experiência na área. formas de escolher são as principais medidas determinadas
A profissional já atuou ingredientes e mui- ontem pelo Presidente Médici para reduzir
em restaurantes, con- to mais. Acesse em 40% o preço da carne para o consumidor.
sultorias e festivais. o site do Clube e Em Hamburgo, na Alemanha, o Sr. Paulo
Ela ainda é autora de saiba mais sobre Yokota, diretor do Banco Central, informou que
livros, foi apresentado- as aulas, a professo- o Brasil deve importar mais 30 mil toneladas
ra de programas de ra e o benefício. de carne para entrega até janeiro de 1974.
20 | OGLOBO
NEGÓCIOS&LEILÕES
FERRAMENTAS DIGITAIS SÃO
ALIADAS DA BLACK FRIDAY
Varejo aposta no planejamento para aumentar vendas, melhorar a transparência
das promoções e evitar gargalos logísticos que ofusquem a imagem das marcas
V ista inicialmente com
desconfiança, a Black
Friday brasileira já se
consolidou como uma das
principais datas do varejo
nacional. Por isso, a disputa
pela preferência do consu-
midor com promoções não
só na última sexta-feira de
novembro, mas ao longo do
mês, exige um minucioso
planejamento por parte
dos varejistas. As maiores
preocupações são relacio-
nadas a entregas no prazo
previsto, preços competiti-
vos e garantia da credibili-
dade das campanhas. Para
o sucesso das estratégias,
as ferramentas digitais têm
sido fortes aliadas.
Os lojistas brasileiros
estão otimistas e confiantes
no apetite dos consumidores
por ofertas. Segundo dados
do Relatório Black Friday
2023, da startup Olist,
68,8% dos empresários do
Escultura de Chiparus está avaliada em R$ 90 mil
Agenda tem ainda ofertas de outras obras de arte,
imóveis comerciais e residenciais e veículos
E m função do feriado
do Dia da Consciência
Negra, comemorado hoje, a
agenda de leilões terá início
amanhã, às 11h, pelo martelo
de Paulo Botelho, que leiloa
apartamentos na Barra da
Tijuca (R$ 1,25 milhão e R$
200 mil), em Campo Grande
(R$ 150 mil) e na Tijuca (R$
475 mil), casas no Méier (R$
500 mil), no Engenho Novo
(R$ 147,9 mil) e no município
de Resende (R$ 195 mil), sala
comercial em Nova Iguaçu
(R$ 83,6 mil) e terreno em
Miguel Pereira (R$ 42,5 mil).
Nos mesmos dia e horário,
apregoa veículos, máquinas
e equipamentos.
comércio têm expectativa
de aumentar as vendas neste
ano em relação a 2022.
Pesquisa da Neotrust,
empresa especializada
em análise de dados de
e-commerce, projeta cresci-
mento de 12,6% nas vendas
deste ano em comparação
à Black Friday de 2022. No
ano passado, o faturamento
total da promoção chegou a
R$ 6,1 bilhões.
Entre as empresas que se
planejaram com bastante
antecedência para a Black
Friday está a Fast Shop. A
campanha da empresa foi
chamada de Golden para
se diferenciar, e uma das
TICKET MÉDIO DE GASTOS
O levantamento da Neotrust mostra ainda que o tícket
médio de gastos dos consumidores brasileiros ficará em
R$ 473, acima do observado em 2022 e próximo do de 2021,
que chegou a R$ 475.
Amanhã, às 12h, Jonas
Rymer comanda pregão de
apartamentos no Leblon
(R$ 1,71 milhão) e em Copa-
cabana (R$ 400 mil), terreno
em Tanguá (R$ 270 mil),
vaga de garagem no Centro
da cidade (R$ 31,7 mil) e itens
para escritório (conjunto
avaliado em R$ 31,6 mil).
Na quarta e na quin-
ta-feira, às 14h, Rogério
Menezes promove seus
tradicionais leilões de
veículos multimarcas,
com a oferta de 170 unida-
des de bancos e segurado-
ras. O primeiro leilão será
on-line, o segundo, on-line
e presencial.
| Classificados
CONTEÚDO PATROCINADO PRODUZIDO POR
estratégias foi criar um
selo para alguns produtos,
garantindo a quem comprar
com antecedência não ser
surpreendido por preços
mais em conta na última
sexta-feira, por exemplo.
Para evitar transtornos
para os consumidores, o
reforço na logística não
podia ficar de fora. As 80
lojas da rede estão com esto-
ques incrementados para
funcionar também como
auxiliares do comércio
eletrônico, proporcionando
entregas mais rápidas.
— Diante dos desafios que
o varejo enfrenta, a grande
novidade da campanha
Também na quarta e na
quinta-feira, às 20h, Horácio
Ernani bate o martelo para
260 lotes de objetos de arte,
antiguidades, peças de deco-
ração e móveis de design.
Entre os itens, destacam-se
quadros de artistas reno-
mados como Beatriz Mi-
lhazes, Manabu Mabe
e Iberê Camargo,
além de escultu-
ras de Francisco
Brennand, Mario Agos-
tinelli, Caribé e Chiparus
— deste, a escultura Diana,
a Caçadora (foto) está
avaliada em R$ 90 mil.
Na quinta-feira, às 14h, De
Paula oferece loja em Cabo
| Segunda-feira 20 .11 .2023
GLAB.GLOBO.COM
Faturamento. Pesquisa projeta
crescimento de 12,6% nas vendas
deste ano é a possibilidade
de parcelamento em até 21
vezes no cartão da rede, e o
seguro proteção de preço,
que garante ao cliente rece-
ber a diferença do valor pa-
go caso ele encontre uma
oferta com valor menor no
prazo de 30 dias — explica
Eduardo Salem, diretor de
Marketing e Canais Digitais
da Fast Shop, que promete
descontos de até 70% na
última semana do mês.
O modelo de campa-
nha que inclui todo o mês
de novembro é também
adotado pelo Magalu. No
entanto, para se diferen-
ciar da concorrência, a
empresa criou uma ação
chamada Agora ou Nunca,
com ofertas-relâmpago.
O objetivo é distribuir
promoções no período,
garantindo ao consumidor
a chance de ter todos os dias
uma oferta exclusiva. Isso
“Diana, a caçadora”.
Escultura em bronze,
base em terracota,
de D. H. Chiparus
JOÃO EMÍLIO
Imóveis,
veículos e
equipamentos
MARTIN-DM/GETTY IMAGES
Cesta Truck, um caminhão
com mais de quatro metros
de comprimento, poderá
ganhar brindes ou acessar
QR Codes com as melhores
ofertas, o que ajuda a popu-
larizar o aplicativo e o site
da marca. A expectativa é
evitar gargalos e propor-
cionar a melhor experiência
para os clientes.
— A empresa optou
por uma estratégia que
combina a comunicação
nacional com a regionali-
zação. Para se destacar em
meio a uma Black Friday
muito parecida no geral,
utilizamos pesquisas com
o consumidor durante
todo o ano, por meio de
dados do relacionamento
diário e perguntas sobre o
que esperam da marca e o
que pretendem comprar.
Assim, planejamos ações
para sair do lugar-comum
e focar na expectativa dos
deste ano em relação a 2022 clientes — detalha o CMO,
Washington Theotonio.
METADE DO DOBRO
Ricardo Rocha, especialista
em transformação digital
e inovação para o varejo,
explica que não é à toa que
tantas redes aderiram a
uma campanha mais esten-
dida ao longo de novembro.
A lógica é que a redução de
preços somente na última
sexta-feira do mês faz a
empresa perder clientes
para a concorrência, que
incentiva a recorrência nos
canais da marca.
Outra que se estruturou
sairá na frente.
Por outro lado, o setor
também amadureceu a ideia
para as vendas do período de que não adianta enga-
foi a Americanas, que neste nar o cliente com a famosa
ano contratou cerca de 1,8 oferta da “metade do do-
mil temporários para refor- bro”. Com a maior possi-
çar seus centros de distri- bilidade de pesquisa de
buição. Para as operações preços por parte do público,
funcionarem sem atra- inclusive com ferramentas
sos, a frota logística mais de tracking que apontam o
que dobrou, garantindo o histórico de valores, esse
fornecimento das lojas. Já tipo de tapeação é facil-
os mais de 1,7 mil pontos de mente descoberto e tira a
venda receberam o reforço credibilidade das empresas.
de cinco mil trabalhadores — Há um desgaste,
temporários. mas ao mesmo tempo há
Mas, para atrair consu- uma consolidação. Assim
midores e garantir a satis- como em qualquer outro
fação deles, o grupo investiu segmento no Brasil, há
também em ferramentas aproveitadores. Mas o fato
digitais e apostou numa é que a Black Friday já cres-
estratégia de multicanal. ceu e superou a pecha de
Assim, quem compra pela “black fraude”, por meio
internet pode retirar o de varejistas de grande e
produto numa loja física. pequeno portes que aderi-
Por outro lado, quem ram à promoção de forma
cruzar com a chamada séria — afirma Rocha.
Frio (R$ 64,3 mil). Ainda
na quinta, no mesmo horá-
rio, Aline Marques estará à
frente de pregão de lojas no
Andaraí (R$ 3,15 milhões) e
em Campos dos Goytacazes
(R$ 140 mil), casa em
Jacarepaguá (R$ 1 milhão) e
apartamentos em Campos
dos Goytacazes (R$ 120
mil e R$ 320 mil), na
Ilha do Governador (R$
475 mil) e no Cachambi
(R$ 123,6 mil), além de
terreno e sala comercial
em Itaboraí (R$ 45 mil e R$
123,6 mil, respectivamente).
Ao longo da semana,
Roberto Haddad estará
HORÁCIO ERNANI/DIVULGAÇÃO
em captação de objetos de
arte, joias e outros itens
para a próxima temporada
de leilões, com data ainda a
ser definida.
Segunda-feira 20.11.2023 | Classificados | OGLOBO | 21

APONTE SUA CÂMERA AQUI!

22 | OGLOBO | Classificados | Segunda-feira 20 .11 .2023

Leilão de Quadros,
Esculturas e Serigrafias
Dia 21/11 às 20 horas
Catálogo: sbleiloeiro302.com.br
Artistas em destaques:
LUCA ROSSI Antônio Dias, Volpi, João Câmara,
Gerchman, Juarez Machado,

DATA DO Relógio Rolex

Poteiro, Burle Marx,
Rubem Valentim, Bruno Giorgi, etc…
Leiloeiro Severo Barbosa
Paul Newman 6241
R$ 820.000,00
PRÓXIMO LEILÃO GMT com
vitro plástica
Jucerja - Matrícula 302
e-mail sbleiloeiro@gmail.com
R$ 50.000,00 Tel: (21) 99725-8882 / (21) 3502-8883
06/12/2023 Shopping da Gávea, loja 350.

ÀS 19 HORAS
Estamos captando joias - taxa 23%
O leilão acontecerá on-line somente. As entregas
serão feitas através de agendamentos.
Leiloeira: Miriam Siqueira da Silva - Jucerja 256
Leilão
Excelência de 3 gerações LEILÃO 3826

avaliando joias antigas. 78º Leilão Barra Point

Shopping
EXPOSIÇÃO: Somente

Compramos Cartier & Van Cleef online.

LEILÃO: Dias 28, 29 e 30

Diamantes, Ouro, Patek e Rolex

de Novembro de 2023
Terça, Quarta e Quinta-
feira às 19h, online.
Organizadores: Marco LEILÃO 38163
Antonio e Maria Cecilia

PETRÓPOLIS: Rua do Imperador, 177 - atendimento de Informações: (21) 3841-7114 / ONZE DINHEIROS -
(21) 99726-1744 / (21) 99285- LEILÃO DE ARTE E
8384 / (21) 99785-5743 ANTIGUIDADES -
Luca Rossi às terças-feiras, com pré-agendamento.
e-mail:
casaraodasartes@outlook.com.br NOVEMBRO DE 2023.
LEILOEIRO: Franklin Levy - EXPOSIÇÃO: SOMENTE
JUCERJA Nº 93 ONLINE.
LOCAL: SHOPPING BARRA

IPANEMA: Rua Visconde de Pirajá, 550, loja 206 POINT - RJ LEILÃO: Dias 21, 22 e 23
Av. Armando Lombardi, 350 - de Novembro de 2023
Barra da Tijuca - RJ. Terça, Quarta e Quinta-
Feira às 15h.

Tel.: 021 2541-3192 | 21 96984-8592 LEILÃO 3816

AUREA ANTIGUIDADES
LEILOEIRA: Patricia Levy -
JUCERJA Nº 268
LOCAL: Rua Siqueira Campos,

COMPRO ANTIGUIDADES
w w w. l a g e m m e l e i l o e s . c o m . b r - LEILÃO DE ARTES E 143 Sl. 117 / 118 - Copacabana -
ANTIGUIDADES Rio de Janeiro/ RJ
Tel: (21) 2256 - 1552 / (21)
EXPOSIÇÃO: ON-LINE OU
99640-0681 / (21) 99994-7394
AGENDADO (21) 22476811 /
971006378 E-mail:
Email: aurealuiz@gmail.com onzedinheirosleiloes@hotmail.com
Aurea Antiguidades e Equipe
LEILÃO: LEILÃO LEILÃO 37958
RESIDENCIAL E VÁRIOS
COMITENTES Portal ShoppingDos
DIAS 29/30 e 01 de
Antiquarios.Com
• Pratarias • Quadros nacionais e estrangeiros DEZEMBRO DE 2023 (quarta,
quinta e sexta-feira) às 19h 14º LEILÃO DE ARTE E

40 anos
Organização: Aurea e Luiz ANTIGUIDADES
• Esculturas de mármore e bronze
Guilherme EXPOSIÇÃO: Presencial dias
LEILOEIRA: Patricia Levy - 16, 17, 18 e 21 de novembro.
de JUCERJA Nº 268
LOCAL: Rua Raul Pompéia 45 -
Das 11:00h às 16:00h
LEILÃO: SOMENTE
• Porcelanas • Marfins • Cristais • Galle tradição
Copacabana - Posto VI - RIO
DE JANEIRO
ONLINE: Dia 21 de
novembro de 2023.
• Dao.Nancy • Santos • Bonecas de porcelana CENTRO Salas 408, 409, 410
e 411. Cond.Edifício A-
Segunda-Feira às 19h30
Organização: Carlos Machado
mazônia, R.Visconde Inhaú- (21) 99809-6558

• Móveis antigos • Moedas antigas • Tapetes persas ma, 50. C/26m2 (408/410) e
39m2 (411). Leilão Judicial
08vc 0148346-
E-mail: leilao@shoppingdos
antiquarios.com.br
LEILOEIRA: Patricia Levy -
75.2006.8.19.0001. Dia 28/11-
• RELÓGIO DE PULSO DE BOLSO ANTIGO 13h pela avaliação. Dia 30/11-
13h, acima de R$65.000,00
JUCERJA Nº 268
LOCAL: Rua Siqueira Campos,
143 - térreo - loja 114,
cada. Leiloeiro Onildo Bastos- Copacabana, Rio de Janeiro, RJ
• BIJUTERIAS ANTIGAS Tel.96687-6276. onildobastos.
com.br

GÁVEA Apto.123 do Cond.

Conjunto Residencial Mar- VILA Isabel Apto.304 do

ATENDEMOS TAMBÉM
Cond.Edifício Boulevard Del

Atendemos Petrópolis, Teresópolis,

quês de S.Vicente, Av.Padre
Leonel França, 261. De frente, Rey, Boulevard 28 de Setem-
27m2. Leilão Judicial 06vc bro, 300. De fundos, 60m2,
0034856-55.2018.8.19.0001. 2quartos, dependência, vaga.

Itaipava, Friburgo e todo o Grande Rio Dia 28/11- 15h pela avaliação. Leilão Judicial 52vc 0139013-

NA REGIÃO SERRANA
Dia 30/11- 15h, acima de R$
197.500,00. Leiloeiro Onildo
Bastos- Tel.96687-6276. onil-
dobastos.com.br
94.2009.8.19.0001. Dia 28/11-
14h pela avaliação. Dia 30/11-
14h, acima de R$165.000,00.
Leiloeiro Onildo Bastos- Tel.
96687-6276. onildobastos.

Pratarias, Quadros, Porcelanas, Santos, Marfins, Móveis, Pago na hora em dinheiro. Não venda sem nos consultar. ICARAÍ /Niterói. Salas 1107 e
1108 Cond.Edifício Icaraí Cor-
porate, R.Gavião Peixoto, 70.
com.br

Tapetes Persas, Esculturas de Bronze e Mármore, Cubro oferta da concorrência. Obrigado pela preferência. C/31m2 cada. Leilão Judicial
05vc-Nit 0049274-
92.2018.8.19.0002. Dia 28/11-
LEILÃO 39448

Peças de Metais, Brinquedos Antigos, Moedas Antigas, 14:30 e 14:45 pela avaliação.
XXXI LEILÃO DE JOIAS,

Sr. Gelson
Dia 30/11- 14:30 e 14:45, aci-
ma de R$165.000,00. Leiloeiro RELÓGIOS E
Fotos do Rio Antigo, Bijouterias Antigas e Joias etc. Onildo Bastos- Tel.96687-
6276. onildobastos.com.br
ANTIGUIDADES -
CHRIS FABBRI
LEILÕES
Rua Siqueira Campos, 143 – Loja 111 - Térreo - Copacabana
TELS.: 2530-4979
LEILÃO 3823 EXPOSIÇÃO: SOMENTE
ON LINE
LAHAM ARTE & LEILÃO: DIAS 22, 23 e 24

2548-9683 / 2236-4770 / 99913-5443

ANTIGUIDADES de Novembro de 2023
- NOVEMBRO DE 2023

OS 3557-4446 Tels.:
Quarta, Quinta e Sexta-

COMPRAMSIGNER
EXPOSIÇÃO: COM
AGENDAMENTO (21) 96770- feira às 19h.
4791, 21 À 25 DE NOVEMBRO TEL. CONTATO: (21)
DE 2023 / DAS 10h ÀS 18h
E DE
96531-6641
MÓVEIS D
LEILÃO: Dia 25 de

99930-4265 Atendemos aos sábados, domingos e feriados

E-MAIL:
Novembro de 2023 chrisfabbrijoias@gmail.com
Sábado às 19:30Hrs LEILOEIRA: Patricia
SOMENTE ONLINE Levy - JUCERJA Nº 268
LEILOEIRA: Patricia Levy -
LOCAL: ON LINE
artepalmeiras@gmail.com
JUCERJA Nº 268
LOCAL: Rua Siqueira Campos
LEONARDO SCHULMANN 143, SOBRELOJA 67
COPACABANA - RJ
Empréstimos
Rua das Palmeiras, 10 - Botafogo LEILOEIRO PÚBLICO
Travessa do Paço, nº 23 / 8º andar / 20010-170 RJ
ORGANIZADOR: LOHAN
LAHAM
Tel: (21) 96770-4791
e Finanças
(WhatsApp)
TELS.: (021) 2532-1961 / 2532-1705 Email: lahamlohan@gmail.com

LEILÕES ELETRÔNICOS PELO VALOR LEILÃO 3813

Aviso
Antes de solicitar
ESTIPULADO PELO JUIZO. Leilão de Quadros e
Antiguidades - 22, 23 e um empréstimo ou
24 de Novembro 2023 efetuar uma tran-
• IMÓVEL RURAL DENOMINADO “FAZENDA CONCEIÇÃO OU CONCEIÇÃO DA QUINTA”- CAMPOS DOS GOYTACAZES - R$ 4.650.000,00; EXPOSIÇÃO: AGENDAR
• APARTAMENTO 102 DO BLOCO 06 DA RUA ALCIDES LIMA - JACAREPAGUÁ - R$ 100.100,00 HORÁRIO sação comercial,
• PRÉDIO Nº 381 DA RUA BARÃO DE PETRÓPOLIS - RIO COMPRIDO - R$ 7.500.000,00;
Tel.: (21) 98808-8236
WHATSAPP CELSO
verifique a idonei-
• PRÉDIO (GALPÃO) SITUADO NA RUA SILVA VALE Nº 640 - CAVALCANTE - R$ 535.800,00 LEILÃO ONLINE: Dias dade de quem
• RUA DO MILHO, LOJA Nº 26 - PENHA - R$ 50.100,00 22 , 23 , e 24 de está negociando,
• RUA ALICE, LOTE 54 - SANTA ALEXANDRINA - R$ 200.000,00; NOVEMBRO de 2023, pedindo docu-
• RUA DAGMAR DA FONSECA, Nº 17 - SALA 303 - MADUREIRA - R$ 35.000,00; Quarta, Quinta e Sexta-
feira às 19h mentos que identi-
• APTO Nº 301, DA RUA ARISTARCO RAMOS Nº 430 - ILHA DO GOVERNADOR - R$ 1.041.000,00
• RUA FLACK, Nº 49 - ENGENHO NOVO - R$ 750.000,00
E-mail: fiquem o fornece-
reinadodalua@outlook.com
• RUA SÃO CRISTÓVÃO, Nº 1216, - SÃO CRISTÓVÃO - R$ 9.000.000,00 Organização: CELSO PAIVA dor.
LEILOEIRO: Franklin Levy -
• RUA PROFESSOR CARLOS VENCESLAU, Nº 963 E RUA OLIVEIRA BRAGA - REALENGO - R$ 25.000.000,00 JUCERJA Nº 93
• RUA DA BATATA, PRÉDIO Nº 1120 - PENHA - R$ 2.000.100,00 LOCAL: Local de exposição:
Estrada dos Bandeirantes, nº
• DIVERSOS APARTAMENTOS NA AVENIDA MINISTRO EDGARD ROMERO, PRÉDIO Nº 715 - MADUREIRA - R$ 60.000,00 CADA
• RUA MARIZ E BARROS, Nº 382 - TIJUCA - R$ 1.750.100,00;
22.768, Vargem Grande - RJ. Negócios Diversos
• PRÉDIO SITUADO NA RUA EUTIQUIO SOLEDADE, Nº 98 (ANTIGO 115) - ILHA DO GOVERNADOR - R$ 1.250.000,00;
• RUA JOSÉ HIGINO, Nº 282/801 - TIJUCA - R$ 400.000,00 LEILÃO 39401
• RUA TEN FREDERICO GUSTAVO, Nº 55 - PRAÇA SECA - R$ 300.000,00 LEILÃO DO ATELIER DE
• RUA DR. ALMEIDA PIRES, 6-202 - BANGU - R$ 60.000,00 SILVIO IANKEZ
• RUA BARÃO DE SERTÓRIO, Nº 75 - RIO COMPRIDO R$ 5.000.000,00 EXPOSIÇÃO: De 13 à 22 de
Novembro de 2023.
• AV. RIO BRANCO, Nº 245/1601 - CENTRO - R$ 57.500,00 das 10h às 18h. Informações: CONSÓRCIO Atenção!
• PROF. FLORESTAN FERNANDES, Nº 913 - CAMBOINHAS - R$ 400.000,00 (24) 99958-3659, (24) 99943- Compramos/ vendemos/
• RUA DAS PETUNIAS CS 2 - ITACOATIARA R$ 1.100.000,00 2600, (24) 2222-4858 trocamos, contemplados/
• RUA SOARES CALDEIRA 142/813 - MADUREIRA R$ 89.000,00 LEILÃO: Dia 22 de não, mesmo atrasado/can-
Novembro de 2023. celado. Cobrimos ofertas.
• RUA BARÃO DA TORRE, Nº 496/401 - IPANEMA - R$ 900.000,00 Quarta-feira às 20h. Autos/Utilitários/Imóveis/
• AV. SALVADOR ALLENDE, 1001/208/BL01 BARRA - R$ 139.000,00 NOITE ÚNICA! Capital de giro...Melhores
• RUA PLANETA TERRA, Nº 368 - PIRATININGA - R$ 455.000,00 SOMENTE ON-LINE E preços, vários planos. Leo-
• RUA ALFREDO PINTO, Nº 25/1506 - TIJUCA - R$ 340.000,00 TELEFONE nel Consórcios 40anos!!! E-
Organização: Leilões Petrópolis mail: leonelconsorcios@hot
• OUTROS IMÓVEIS E VEÍCULOS. LEILOEIRA: Patricia Levy -
JUCERJA Nº 268
mail.com Tel.:(0xx21)
VISITE NOSSO SITE E FAÇA SUA INSCRIÇÃO!! LOCAL: Leilões Petrópolis 99695-1897 (whatsApp)/
Todos os editais de leilão estarão disponíveis no endereço eletrônico da Justiça Federal do RJ: www.jfrj.jus.br/consultas-e-servicos/editais/editais-de-leilao Estrada União e Indústria, 9200 (0xx21) 97012-3333 (what-
Loja F2 - Shopping Valley sApp)/ (0xx21)96423-1303
Maiores Informações no WWW.SCHULMANNLEILOES.COM.BR Itaipava - Petrópolis - RJ
E-mail: leiloespetropolis@gmail.com
(whatsApp). www.leonelc
onsorcios.com.br
Segunda-feira 20.11.2023 | Classificados | OGLOBO | 23
24 | 2ªEdição Segunda-feira 20 .11 .2023
Mundo
ELEIÇÃO ARGENTINA
Histórico. Javier
Milei celebra com
sua irmã e chefe de
campanha, Karina,
após a confirmação
oficial de que
ele é o presidente
eleito da Argentina
‘HOJE COMEÇA O FIM DA
DECADÊNCIA ARGENTINA’
ULTRADIREISTA JAVIER MILEI VENCE COM FOLGA E
IMPÕE PIOR DERROTA AO PERONISMO EM 40 ANOS
JANAÍNA FIGUEIREDO
janaina.figueiredo@oglobo.com.br
BUENOS AIRES
E
-
m vitória muito mais
ampla do que indica-
vam as pesquisas, o
candidato da direita
radical, Javier Milei,
que se tornou um fenômeno
nacional com discurso não só
contra o peronismo e o kirch-
nerismo, mas também contra
o que chama de “casta políti-
ca”, foi eleito ontem presiden-
te da Argentina.
Com 99% dos votos apura-
dos, o candidato do A Liber-
dade Avança recebera 14,4
milhões de votos contra 11,5
milhões do ministro da Eco-
nomia Sergio Massa, da ali-
ança entre peronistas e kir-
chneristas União Pela Pátria.
Em feito de enorme signifi-
cado simbólico, que testará
as instituições argentinas e as
relações com o Brasil, seu
principal parceiro econômi-
co no continente, Milei ven-
ceu de forma incontestável,
com vantagem de quase 12%
(55,7% contra 44,3%) e em
um pleito com participação
de 76% dos eleitores aptos.
—Hoje começa o fim da de-
cadência argentina (....) e ter-
mina o modelo do Estado em-
pobrecedor — disse, em seu
primeiro discurso como presi-
dente eleito da Argentina.
Milei, que terminou a fala
com seu tradicional “viva a li-
berdade, caralho!”, afirmou
que não há espaço para mu-
danças suaves, mas disse ter
respeito pela democracia e
acenou a apoiadores funda-
mentais tanto para sua vitó-
ria larga quanto cruciais para
a governabilidade:
—Agradeço muito especial-
mente ao presidente (Mauri-
cio) Macri e a senhora (Patri-
cia) Bullrich, que num ato de
grandeza como nunca se viu
na História Argentina coloca-
ram seu corpo para defender a
mudança da Argentina.
Após ter ficado em segundo
lugar no primeiro turno da
eleição presidencial, em 22 de
outubro, quase sete pontos
percentuais abaixo de Massa,
Milei deu a volta por cima. An-
tes mesmo da divulgação
dos primeiros dados ofici-
ais, Massa admitiu a pior
derrota já sofrida pelo pero-
nismo em 40 anos de demo-
cracia, e pelo kirchnerismo
desde que nasceu, em 2003:
— Obviamente, os resul-
tados não são os que esperá-
vamos, e me comuniquei
com Javier Milei para para-
benizá-lo, porque é o presi-
dente que a maioria dos ar-
gentinos escolheu para os
próximos quatro anos.
EUFORIA NAS RUAS
Massa afirmou que encer- mente acirrada, venceu o de-
rou ontem um capítulo em sejo de mudança.
sua história política. E envi-
ou um recado ao presidente
eleito:
— Os argentinos escolhe-
ram outros caminhos, e a
partir de amanhã (hoje) o
dever de dar certezas e ga-
rantias sobre o funciona-
mento político e econômico
da Argentina é responsabili-
dade do presidente eleito.
Já o presidente Alberto
Fernández, peronista, se
comprometeu a realizar
uma transição ordenada
com o governo eleito. Milei
recebeu cumprimentos de
líderes como vizinho chile-
no Gabriel Boric. O presi-
dente Luiz Inácio Lula da
Silva desejou, em uma rede
social, “boa sorte”, mas sem Derrota. Sergio Massa sofreu com o peso da inflação e do dólar altos
“Termina aqui
o modelo do Estado
empobrecedor”
_ to antikirchnerista e a von-
Javier Milei, presidente
eleito da Argentina
“Parabenizei Milei, pois
é o presidente que a
maioria dos argentinos
escolheu para os
próximos quatro anos”
_ 53 anos, enviou mensagens
Sergio Massa, ministro
da Economia e candidato
derrotado à presidência
citar o nome do direitista.
No centro de Buenos Aires,
o clima na noite de ontem era
de euforia entre seguidores do
líder da direita radical. Numa
disputa com idas e vindas e,
por momentos, profunda-
TÚNEIS SUBTERRÂNEOS
Israel: Hamas levou reféns a hospital
NA WEB Exército israelense divulga suposto vídeo de câmeras de vigilância do al-Shifa
A campanha negativa so-
bre o candidato, denuncia-
da por ele e seus assessores,
como uma tática de disse-
minação de medo, não con-
seguiu superar o sentimen-
tade de milhões de argenti-
nos de darem uma oportu-
nidade a um candidato que
vem de fora do sistema po-
lítico, prometeu acabar com
os privilégios da “casta” e ti-
rar a Argentina do buraco,
após décadas de crises.
Antes da divulgação do re-
sultado, o presidente eleito, de
pelo WhatsApp a integrantes
de sua campanha dizendo que
“tudo indica que ganhamos”.
Milei venceu de lavada. E teve,
segundo dados oficiais, uma
excelente noite nas províncias
de Córdoba, Mendoza, Santa
Fe e na cidade de Buenos Aires
— tradicionalmente antikir-
chnerista—, além de ter fica-
do em primeiro lugar em qua-
se todo o país. Na província de
Buenos Aires, reduto peronis-
AFP
ta onde vive um terço do elei-
torado nacional, Massa ven-
ceu, mas sem abrir grande
vantagem.
—Foi uma eleição transpa-
rente — declarou Guillermo
Francos, um dos principais co-
laboradores de Milei, cotado
para o Ministério do Interior.
Veterano articulador político,
ele não mencionou os proble-
mas com as cédulas de votação
registrados durante o dia.
Karina Milei, irmã e chefe de
campanha do presidente elei-
to, informou à Justiça Eleitoral
que cédulas das Primárias
Abertas Simultâneas e Obriga-
tórias (Paso), de agosto, eram
usadas ontem, e pediu que elas
fossem consideradas válidas.
Em paralelo, Malena Galmari-
ni, a esposa de Massa, disse
que a campanha detectou cé-
dulas rasgadas e solicitou que
todas fossem contabilizadas.
O admirador dos ex-presi-
dentes do Brasil e dos EUA,
Jair Bolsonaro e Donald
Trump, que surgiu na políti-
ca local há apenas dois anos,
quando foi eleito deputado
pela cidade de Buenos Aires,
derrotou a aliança entre pe-
ronistas e kirchneristas sem
estrutura política sólida, go-
vernadores ou prefeitos alia-
dos. Mesmo, em muitos ca-
sos, assustados com sua per-
sonalidade e propostas polê-
micas —várias delas suaviza-
das na segunda etapa da cam-
panha —a maioria dos argen-
tinos priorizou ontem o
desejo de tirar kirchneristas e
peronistas do poder.
Recentes escândalos de cor-
rupção envolvendo dirigentes
da União pela Pátria na provín-
cia de Buenos Aires, somados
ao desastre econômico, inten-
sificaram uma onda favorável
a Milei nas últimas semanas.
| OGLOBO
PARA
ACESSAR
APONTE
O CELULAR
PARA
O QR CODE
LUIS ROBAYO / AFP
Antes do presidente eleito tor-
nar-se um ator político rele-
vante, havia consenso no país
sobre a enorme dificuldade do
peronismo de reter o poder, da-
do o fracasso, principalmente
econômico, do governo de Fer-
nández, eleito em 2019 no pri-
meiro turno, com 48% dos vo-
tos, contra 40% do ex-presi-
dente Mauricio Macri (2015-
2019). Massa teve bom desem-
penho no primeiro turno, fi-
cando em primeiro lugar, com
36,78% dos votos. Uma for-
tíssima campanha negativa
contra Milei rendeu bons re-
sultados, e o candidato da direi-
ta radical obteve apenas
29,99% no pleito de outubro.
SEMANAS TENSAS
Na primeira fase da eleição, a
máquina peronista entrou em
campo com toda força, e Milei
praticamente não conseguiu
ampliar os votos que obteve
nas Paso. Poucos dias depois
do primeiro turno, uma gra-
ve crise de desabastecimen-
to de gasolina impactou a
campanha de Massa, e, na
reta final, os ataques a Milei
não tiveram o impacto espe-
rado e, paralelamente, o can-
didato da direita radical co-
lheu os frutos de sua aliança
com Macri e com a ex-candi-
data presidencial Patricia
Bullrich, que teve 23,81%
dos votos no primeiro turno.
As próximas duas semanas,
até a posse, prevista para 10 de
dezembro, serão tensas e de
prováveis turbulências finan-
ceiras. As negociações entre
Milei, Macri e Bullrich para co-
meçaram ontem mesmo. O
presidente eleito tem uma
equipe pequena, sem expe-
riência política, e precisará de
todo o apoio necessário para
formar um novo governo.
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 2ªEdição Mundo | 25

ELEIÇÃO ARGENTINA

GUGA conhecida a Presidência da Argentina, em

CHACRA
gugachacra gugachacra
internacio@oglobo.com.br
Será mais difícil
menos de um mês. Tentará implementar suas
políticas para transformar o país.
O governo Lula precisará lidar com um lí-
der que o critica abertamente. As relações en-
tre os dois países correm enorme risco de se
deteriorarem. Para Joe Biden, a Argentina
gugachacra possui pouca relevância, mas será inevitável a
comparação de Milei com Donald Trump a
um ano da eleição presidencial nos EUA.
Muitos comparam a vitória de Milei à do re-
publicano em 2016, e a de Jair Bolsonaro, no
economista medíocre, mas bom comunicador.
Estas não são, no entanto, as maiores diferen-
ças. Milei, ao contrário dos ex-presidentes do
Brasil e dos EUA, não terá maioria para gover-
nar. Trump iniciou seu mandato com maioria
na Câmara e no Senado. Bolsonaro conseguiu o
suporte do Centrão, além de ter base forte com
evangélicos, militares e o agronegócio. O argen-
tino leva desvantagem em todos estes temas
que facilitaram as administrações, ainda que
fracassadas, dos líderes de extrema direita em
Brasília e Washington.
Obama conseguiu ao longo dos seus oito anos
no poder reduzir a taxa de desemprego e me-
lhorar a economia depois da crise no final da
administração de George W. Bush. Michel Te-
mer também recolocou a economia relativa-
mente nos trilhos no Brasil antes de Bolsonaro
assumir. Milei herdará uma economia com in-
flação descontrolada. Planeja dolarizar o país,
mas deve enfrentar enorme dificuldade, por
não ter apoio político e porque a Argentina já
tentou e fracassou com uma espécie de dolari-
zação (câmbio fixo) com Carlos Menem nos

para Milei
Brasil, dois anos mais tarde.
Como os dois, Milei surpreendeu o esta-
blishment e os partidos tradicionais. Também
conseguiu enorme conectividade com seus se-
Acoalizão de Milei será minoritária e, mes- anos 1990. E, mais importante, porque a Ar-
mo com o apoio de parte da direita tradicio- gentina não tem dólares para dolarizar.
nal, não terá maioria no Congresso. No siste- Milei tampouco terá o disciplinado suporte
ma argentino, assim como no brasileiro, é dos evangélicos de que tanto Bolsonaro como

U m libertário sem experiência administrati-

va e de um pequeno partido venceu as elei-
ções na Argentina em um dos maiores aconte-
cimentos políticos da história deste país co-
nhecido pelas sequências de crises econômi-
cas e decadência crônica. Javier Milei, visto
por muitos como um lunático extremista e por
outros como uma solução para décadas de fra-
cassos, sentará no sillon de Rivadavia, como é
guidores em um populismo de direita. Ao mes-
mo tempo, há grandes diferenças no contexto
das eleições de cada um dos três. Trump era
uma figura famosa, com histórico de empresá-
rio rico (ainda que vigarista) e de sucesso na TV.
Nunca tinha exercido cargo político. Bolsona-
ro sempre foi um deputado do baixo claro e pas-
sou pelo Exército. Já Milei ganhou fama por su-
as performances em programas de TV como
praticamente impossível governar sem mai-
oria no Legislativo. Há ainda o agravante de o
peronismo ser uma das agremiações mais há-
beis do planeta para sabotar rivais – só Mauri-
cio Macri terminou o mandato em cerca de
um século sem ser peronista e mesmo assim
acabou derrotado quando tentou a reeleição.
Trump e Bolsonaro sucederam governos que
não deixaram heranças catastróficas. Barack
Trump desfrutaram. A população evangélica
argentina é muito menor se comparada com
as do Brasil e EUA. Para agravar, o futuro pre-
sidente xingou o popular Papa Francisco, que
é argentino. Os militares, enfraquecidos des-
de a ditadura e o fiasco na Guerra das Malvi-
nas, tampouco podem ajudá-lo. Será muito
mais difícil para Milei implementar sua agen-
da do que foi para Bolsonaro e Trump.

VENCEDOR TERÁ DE
JANAÍNA FIGUEIREDO víssimos, analistas se preocu- ni, de seu desempenho co-
janaina.figueiredo@oglobo.com.br
BUENOS AIRES
pam com sua capacidade de mo presidente.
construir uma aliança políti- — No peronismo, fissuras

O
-
presidente eleito
da Argentina é o
primeiro oriundo
ca ampla, que dê sustentabi- nunca podem ser descarta-
FORJAR ALIANÇAS lidade a seu governo.
—No Congresso, a única al-
ternativa é negociar com Ma-
das — enfatiza a diretora da
Management & Fit.
Político novato, durante a

PARA GOVERNAR
de fora da política cri e Bullrich —diz Mariel For- campanha Milei demons-
tradicional a ocu- noni, diretora da consultoria trou ter pouco jogo de cintu-
par, a partir do dia 10 de de- Management & Fit. ra para lidar com setores
zembro, a Casa Rosada. Líder O novo Congresso argenti- críticos do país. Sua aliança

NO CONGRESSO, MILEI TEM

e fundador do A Liberdade
Avança, partido criado em
2021 para lançar sua candi-
datura a deputado, Javier Mi-
lei não conta sequer com um
correligionário no comando
das províncias e das cidades
do país. Suas bancadas na Câ-
mara e no Senado serão mi-
noritárias, e qualquer proje-
to de lei exigirá negociações
com diversos setores políti-
cos, sobretudo com a ala da
aliança de centro-direita
Juntos pela Mudança que o
apoiou no segundo turno da
eleição, liderada pelo ex-pre-
sidente Mauricio Macri
(2015-2019) e pela ex-minis-
tra Patricia Bullrich, terceira
colocada no primeiro turno.
Com denúncias de cobran-
ça (ilegal) para candidatos a
diversos cargos em sua le-
genda— modus operandi
confirmado por ex-aliados
do líder da direita radical —o
partido de Milei concorreu
em todas as eleições provin-
ciais, sem uma única vitória
regional. Mesmo nas 16 pro-
víncias — de um total de 23,
mais a capital — nas quais o
presidente eleito foi o mais
votado nas Primárias Aber-
tas Simultâneas e Obrigató-
rias (Paso) de agosto, seu par-
tido não conseguiu eleger
candidatos majoritários.
Milei entrou na política há
menos de três anos, e a falta
de estrutura política sólida
em seu entorno é apontada
como uma de suas principais
fraquezas. Num país que pre-
cisa urgentemente resolver
problemas econômicos gra-
no, que também será empos- com Macri e Bullrich foi ci-
sado em dezembro, será o mentada apenas em interes-
mais fragmentado que o país ses eleitorais de ambos os la-
já teve desde a redemocrati- dos. Resta saber se construi-
BANCADAS MINORITÁRIAS zação, em 1983, justamente
por conta do aparecimento
do partido de Milei. Embora
rão agora uma aliança de go-
verno de fato.
Fontes próximas dos
minoritário, A Liberdade dois lados contam que a ala
Avança rompeu o esquema da Juntos pela Mudança
bipartidário, vigente, na que apoiou Milei publica-
prática, há 40 anos. mente pretende agora ini-
COMO FICOU O
DIVISÃO DE JUJUY ciar a negociação de mi-
CONGRESSO ARGENTINO
GOVERNO DAS SEM MAIORIA nistérios e cargos de pri-
DEPOIS DAS ELEIÇÕES
PROVÍNCIAS
FORMOSA Os números, destaca Fornoni, meiro escalão. Mas as in-
SALTA
ARGENTINAS
União pela Pátria
(Centro-esquerda, Sergio Massa)
são relativos. A composição do certezas sobre o resultado
TUCUMÁN Parlamento depende de nego- dessas negociações é ali-
DEPOIS DAS CATAMARCA CHACO MISIONES Juntos pela Mudança
ciações que começarão com a mentada pela conhecida
SANTIAGO (Centro-direita)
ELEIÇÕES DEL
A Liberdade Avança posse e determinarão a mar- dificuldade do presidente
ESTERO
Juntos pela LA RIOJA
CORRIENTES (Direita radical, Javier Milei) gem de manobra de Milei. eleito em lidar com opini-
Mudança SANTA
Partidos provinciais A Juntos pela Mudança te- ões contrárias às suas. Ma-
Esquerda
(Centro-direita)
SAN JUAN
FE CIDADE DE rá 94 deputados e 24 sena- cri e Bullrich não concor-
União pela Pátria CÓRDOBA
ENTRE
BUENOS
AIRES
dores. A aliança entre pero- dam, por exemplo, com a
(Centro-esquerda, 12 5
Sergio Massa) SAN
RÍOS CÂMARA DOS nistas e kirchneristas União dolarização e o fechamen-
LUIS DEPUTADOS 38 pela Pátria controlará 108 to do Banco Central, des-
Partidos
provinciais cadeiras na Câmara e 34 no taques do programa de go-
MENDOZA
94
Senado. Já o partido do pre- verno da direita radical
BUENOS
AIRES
sidente eleito foi o que mais que, já disse o presidente
LA PAMPA
MAIORIA TOTAL cresceu: os “libertários” te- eleito, são “inegociáveis”.
NEUQUÉN
129 257 rão 35 deputados (eram Durante a campanha, Mi-
assentos assentos apenas três) e seus primei- lei afirmou que, caso o Con-
ros oito senadores. Partidos gresso não aprove seus proje-
RÍO NEGRO
regionais não alinhados te- tos de reformas, recorrerá a
108 rão um total de 12 deputa- plebiscitos. Mas a Constitui-
dos e seis senadores. ção argentina não prevê a uti-
CHUBUT
SENADO
8
6 — Ninguém terá maioria, lização desse instrumento
mas Milei precisará fechar para implementar reformas
mais acordos (do que Massa econômicas, sociais ou de Es-
teria) para conseguir votos tado. Falas antigas do então
24 suficientes para aprovar re- candidato deixam no ar dúvi-
SANTA MAIORIA TOTAL
formas —diz a analista. das sobre seu real compro-
CRUZ
37 72 O presidente eleito já ne- metimento com as regras de
assentos assentos gocia com a ala da Juntos jogo do sistema democrático
pela Mudança que respal- argentino e a possibilidade
dou sua candidatura, mas de alternativas nunca antes
TERRA DO
FOGO 34 buscará aliados até mesmo usadas para compensar a fal-
dentro do peronismo. Tu- ta de apoio institucional, so-
EDITORIA DE ARTE do dependerá, frisa Forno- bretudo, no Parlamento.

Receita de eleito para crise preocupa economistas ção da moeda americana é

uma das facetas mais conheci-
das da crise, saltando do pata-
mar dos 50 pesos por dólar, em
Ultradireitista defende a dolarização da economia e a extinção do Banco Central para conseguir a estabilização do país dezembro de 2019, para quase
350 pesos por dólar. Isso no
câmbio oficial, uma vez que o
FILIPE BARINI
filipe.barini@oglobo.com.br
ção rondava os 50% em de- tório da Organização Interna- fantasma da hiperinflação. foi bandeira central de campa- país tem uma quantidade con-
zembro de 2019, quando ele cional do Trabalho de 2020. O tema foi central durante a nha, ao lado da promessa de siderável de cotações, algumas
-
sucedeu a Mauricio Macri A inflação chegou a ceder campanha, e Massa e Milei acabar com o Banco Central, voltadas a impulsionar as ex-

Jtesavier Milei terá pela frente

longa lista de tarefas urgen-
para buscar a estabilização
econômica, social e política do
país. Os principais indicado-
res sociais são preocupantes e
não trazem perspectivas posi-
tivas para os próximos anos.
O impopular presidente
Alberto Fernández recebeu
um país longe de estar em si-
tuação de bonança. A infla-
na Casa Rosada e logo preci-
sou enfrentar a pandemia
de Covid-19, cujos efeitos
são sentidos até hoje.
“Cerca de 100 dias depois
da posse, o novo governo se
viu diante do processo de re-
negociar a dívida pública em
meio a um quadro de contra-
ção do PIB, alto nível de infla-
ção e mercado de trabalho en-
fraquecido”, informava rela-
naquele ano, durante o rígido
sistema de quarentena —vio-
lado pelo próprio Fernández,
em escândalo que manchou
seu governo — mas voltaria a
subir em 2021, ampliando o
ritmo desde 2022, quando
beirou os 100% ao ano, che-
gando ao atual patamar de
três dígitos. A expectativa é de
que feche 2023 acima dos
150%, mantendo presente o
apresentaram planos distin-
tos. Enquanto o ministro da
Economia defendia aborda-
gem pautada pelo aumento
das exportações e redução dos
gastos do Estado para atingir
déficit zero das contas públi-
cas, o presidente eleito é mais
radical. O direitista diz que do-
larizará a economia, repetindo
o exemplo de Equador, El Sal-
vador e Panamá. A iniciativa
mas encontrou resistência en-
tre economistas, mesmo os
simpáticos à sua campanha.
Muitos alertam que a dolariza-
ção, embora possa trazer bons
efeitos em um momento inici-
al, não é tão positiva em médio
ou longo prazo, como mostra o
exemplo equatoriano.
Uma questão central é como
dolarizar uma economia onde
há escassez de dólares. A cota-
portações, como o “dólar mal-
bec”, outras para a contratação
de shows, o “dólar Coldplay”.
Nas ruas, vale o “dólar blue”,
que superou a marca de mil
pesos em outubro. Para viabili-
zar seus planos, Milei propõe
privatizar empresas, buscar
investidores e usar os dólares
comprados pelos argentinos,
mas especialistas classificam
propostas de “quase inviáveis”.
 26 | Mundo Segunda-feira 20.11 .2023 | OGLOBO

ELEIÇÃO ARGENTINA

MÍRIAM imprensa porque há um silêncio longo das

pesquisas. Mas quem acompanhava o senti-
LEITÃO mento das ruas constatou isso. Curioso é
que os partidários de Sergio Massa ficaram
otimistas depois do último debate. Ele foi
muito bem de fato. Mas foi tão bem que isso
blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao
se virou contra ele, contou-me uma fonte.
miriamleitao@oglobo.com.br —O que parecia uma vitória de Massa, a
Com Ana Carolina Diniz clareza das ideias, a estrutura de exposição, a
coerência, a solidez, acabou dando mais vo-
Causas da vitória e tos para seu adversário. Ele parecia muito en-
saiado. E nisso lembrava um político tradicio-
nal. Javier Milei, que parecia tão fora de or-
próximos desafios dem, desordenado, ficou parecido com o pa-
pel que ele desempenhou nessa eleição: um
candidato antissistema.
cas, de dolarizar e de acabar com o Banco Cen-
tral, foram sendo relativizadas. Milei e seus
ele terá que concretizá-lo em pouco tempo,
porque a economia argentina está chegando,
assessores passaram a indicar que seria fei-
to em etapas. Houve uma racionalização
em breve, a 200% de inflação.
O terceiro desafio será começar logo uma
das propostas. negociação com o FMI e os países credores.
O novo presidente, que assume em 10 de A Argentina deve muito ao FMI e não rece-
dezembro, terá que enfrentar três desafios a be dinheiro novo há muito tempo. Tem pe-
partir de agora: negociar um acordo de gover- dido empréstimos para conseguir rolar a
nabilidade, já que sua força política é míni- dívida no Fundo. As reservas cambiais estão
ma. O seu A Liberdade zeradas, ou até negativas, dependendo de
Desafios de Milei Avança tem 38 deputa-
serão negociar a dos de 257, e 8 senado-
governabilidade, res de 72. Não tem capa-
como se faz a conta. Um país sem reservas
em dólar, como dolarizará?
Milei terá muito mais dificuldade com o
ter um plano
sério contra a
cidade alguma de gover-
nabilidade. Precisará
seu projeto de extrema direita do que teve Jair
Bolsonaro no Brasil. É que nos primeiros dois
inflação e iniciar muito dos parlamenta- anos, Bolsonaro pôde contar com Donald

U ma hora antes de que se conhecesse quem

era o escolhido pelo eleitor argentino, o go-
verno brasileiro sabia que Javier Milei seria o
próximo presidente do país e que sua vitória era
por uma grande margem. Uma fonte me disse
que os movimentos para a aproximação entre o
Brasil e o presidente eleito já haviam começa-
do. “Seremos os adultos da relação”, informou-
se essa fonte, referindo-se ao fato de que o políti-
co de extrema direita durante a campanha ha-
via falado até em romper com o Brasil.
Mas o que houve que a vitória de Javier
Milei foi por uma diferença tão grande?
Houve nos últimos dias uma onda em favor
de Milei e que não foi acompanhada pela
Javier Milei, por seu lado, percebeu que teve
um percentual de votos no primeiro turno mui-
to parecido com o que teve nas primárias. Esta-
va batendo no teto de 30%. Isso o fez mudar a
estratégia da campanha. Para furar aquele teto,
ele teria que deixar de ser Milei. Seu slogan era
“é impossível uma Argentina diferente com os
mesmos de sempre”. Seu discurso inicial era
“contra as castas” e, nessa lista de “casta”, ele in-
cluía tanto Patricia Bullrich quanto o ex-presi-
dente Mauricio Macri. No segundo turno, seu
slogan perdeu sentido, e ele teve que abraçar o
macrismo. Macri entrou com força na campa-
nha, e isso deu alguma consistência a um pro-
grama radical e vazio. As propostas econômi-
logo conversas
com o FM e
países credores
res do Juntos pela Mu-
dança, a coalizão eleito-
ral de Patricia Bullrich
que tem 94 deputados e
24 senadores. O ex-presidente Maurício Ma-
cri pode vir a assumir um papel importante
para garantir a governabilidade.
O segundo desafio será ter um plano sério
de combate à inflação porque ela pode entrar
em espiral cada vez mais forte. A Argentina
não tem a economia oficialmente indexada
como era a do Brasil, antes do Plano Real, mas
pode haver uma corrida ainda maior para o
dólar e isso atingirá a inflação. Milei nunca
explicou como será seu plano econômico e
Trump nos Estados Unidos. Milei chega atra-
sado nesse movimento. E precisando muito
da direita tradicional para governar.
O candidato derrotado, Sergio Massa,
deu lição de civilidade e democracia, ao re-
conhecer a derrota de forma clara, mesmo
antes de qualquer resultado ser divulgado, e
telefonando para Milei para cumprimentá-
lo. Massa disse que pediu ao presidente Al-
berto Fernández que começasse imediata-
mente o processo de transição.
Os peronistas governaram a Argentina
por 27 dos 40 anos de democracia. Vão
agora se recolher à oposição e mudar de
pele mais uma vez.

PARA GOVERNO LULA, POLÍTICA DE

INTEGRAÇÃO REGIONAL FICA SOB AMEAÇA
VENCEDOR TEM LAÇOS COM BOLSONARO
EMILIANO LASALVIA /AFP
ELIANE OLIVEIRA E o embaixador brasileiro em
JANAÍNA FIGUEIREDO
internacio@oglobo.com.br
Buenos Aires, Julio Bitelli, du-
BRASÍLIA E BUENOS AIRES as das mulheres mais impor-

A
-
ntes do segundo tur-
no, uma fonte do
governo brasileiro
disse ao GLOBO
que, caso o candida-
to da direita radical Javier Mi-
lei fosse eleito, não estava ga-
rantido que Luiz Inácio Lula
da Silva iria à posse, em 10 de
dezembro. Além dos ataques
feitos por Milei ao presidente
durante a campanha — cha-
mando-o inclusive de corrup-
to e ladrão —há temor pela se-
gurança de Lula.
Para o governo brasileiro, o
triunfo do candidato do parti-
do A Liberdade Avança sem-
pre foi o pior cenário, não ape-
nas pelas divergências ideoló-
gicas e a proximidade de Milei
com o ex-presidente Jair Bol-
sonaro — que já indicou que
pretende ir à posse — mas,
também, pela ameaça de re-
trocesso na política de integra-
ção regional, pilar da política
externa brasileira.
MENSAGEM DE ‘BOA SORTE’
Apesar das dúvidas sobre a ida
a Buenos Aires, Lula ontem
postou uma mensagem dese-
jando “boa sorte” ao governo
de Milei após sua vitória. “A
democracia é a voz do povo, e
ela deve ser sempre respeita-
da. Meus parabéns às institui-
ções argentinas pela condução
do processo eleitoral e ao povo
argentino que participou da
jornada eleitoral de forma or-
deira e pacífica. Desejo boa
sorte e êxito ao novo governo.
A Argentina é um grande país
e merece todo o nosso respei-
to. O Brasil sempre estará à dis-
posição para trabalhar junto
com nossos irmãos argenti-
nos”, escreveu Lula na rede so-
cial X, ex-Twitter. O presiden-
te preferiu se manifestar pelas
redes sociais e não estava pre-
visto que telefonasse a Milei,
segundo fontes do governo.
Lula, que este ano realizou
dois grandes encontros com
presidentes da América do Sul
—em Brasília e Belém — tem
como uma de suas prioridades
Incógnita. Apoiadores de Milei celebram a vitória diante do QG de seu partido em Buenos Aires: Brasília ainda não tem certeza de como será relação bilateral
retomar a agenda de coopera-
ção regional. O governo de Al-
berto Fernández, amigo do pe-
tista, foi sócio central desde
que Lula retornou ao Planalto.
Fernández apoia a reaproxi-
mação com a Venezuela de Ni-
colás Maduro e eleições de-
mocráticas e transparentes no
país em 2024. Para Milei, a Ve-
nezuela é uma ditadura com a
qual pode romper relações.
Há divergência profunda
entre Lula e Milei sobre a inte-
gração latino-americana. O
presidente eleito da Argentina
pode seguir os passos de seu
amigo Bolsonaro e tirar a Ar-
gentina da Comunidade de Es-
tados Latino-americanos e Ca-
ribenhos (Celac), e até inter-
romper o processo de adesão
ao Brics, que inclui países com
os quais ele já disse não preten-
der se relacionar e os quais cos-
tuma criticar publicamente,
sobretudo a China.
Para o restante da América
Latina, aponta Juan Tokatlian,
vice-reitor da Universidade
Torcuato Di Tella, de Buenos
Aires, “o triunfo de Milei re-
tantes da equipe de Milei — a
futura vice-presidente Victo-
ria Villarruel e a economista
Diana Mondino, que pode as-
sumir a Chancelaria — garan-
tiram que a relação com o Bra-
sil seguirá prioritária. Os en-
contros na embaixada brasilei-
ra ocorreram antes do primei-
ro turno e, confirmaram fon-
tes presentes, Villarruel e
Mondino se mostraram inte-
ressadas em promover uma
relação produtiva e de coope-
ração com o governo Lula.
MAIS INCERTEZAS
No entanto, as falas de Milei
sobre respeitar “relações entre
setores da iniciativa privada” e
não apenas as “entre Estados”
aumentaram incertezas até
entre os próprios empresários
dos dois países. Em evento em
Buenos Aires, empresários lo-
cais expressaram a Bitelli a ne-
cessidade de que a relação bila-
teral fosse preservada.
Nesse mesmo evento, o
presenta o impulso à direita agora presidente eleito voltou
mais radical, próximo de pos- GOVERNOS SUL-AMERICANOS a dizer que não se relacionará
turas extremistas (no geral)”. DIREITA ESQUERDA
com “governos comunistas”.
— Eleições como esta têm CENTRO-DIREITA ESQUERDA (DITADURA) Um interlocutor ligado ao Ita-
efeito simbólico e real nos vizi- maraty diz não crer que o can-
nhos. Há vínculos históricos, COLÔMBIA
Gustavo Petro
VENEZUELA GUIANA SURINAME
didato “agressivo” passará
Nicolás Maduro Irfaan Ali Chan Santokhi
laços políticos, e cada eleição agora a ser mais amigável. E
é, no fundo, parte de uma dis- cita Donald Trump, nos EUA,
puta mais ampla, que vai além e o próprio Bolsonaro, que
dos países onde são realizadas GUIANA FRANCESA* não mudaram após eleitos.
—afirma o especialista. EQUADOR Emmanuel Macron —Mas agora Milei terá de se
Para Tokatlian, por trás do Daniel Noboa adequar às instituições e à rea-
confronto entre Massa e Mi- lidade da Argentina. O Merco-
lei, estava a disputa em toda a BRASIL sul é fatia importante do co-
região entre movimentos de Lula mércio exterior; a China, seu
direita radical e o que ele cha- maior parceiro comercial, se-
PERU
ma de “progressistas light”, de- Dina Boluarte guida pelo Brasil; e o Brics, im-
fensores de reformas mais gra- portante fonte de emprésti-
PARAGUAI
duais, preservando conquistas Santiago Peña
mos e financiamento para um
sociais históricas. Entre eles país cujas reservas de dólares
estão Massa e os presidentes estão esgotadas — afirma Fla-
de Colômbia, Chile e Brasil, BOLÍVIA via Loss, da Fundação Escola
que venceram adversários da Luis Arce URUGUAI de Sociologia e Política de SP.
ultradireita recentemente. Luis Lacalle Pou Em Brasília, há expectativa
E embora integrantes da de que o embaixador Daniel
equipe do direitista radical já Scioli seja mantido. Seria um
tenham assegurado a Brasília CHILE ARGENTINA alívio para Lula. Scioli tem
que as relações bilaterais se- Gabriel Boric Javier Milei boas relações com nomes do
guirão importantes, o presi- entorno de Milei, a quem seu
dente eleito argentino ainda é nome já teria sido citado.
considerado uma incógnita. (Colaboraram Sérgio Roxo e
Em conversas informais com *A Guiana Francesa é um território ultramarino da França e faz parte da União Europeia EDITORIA DE ARTE Geralda Doca)
 OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 | 27

FESTA DE NOVAK DJOKOVIC PARA

Esportes
ACESSAR

Sérvio é campeão do ATP Finals APONTE

O CELULAR
PARA
NA WEB Com a sétima conquista, ele é agora o maior vencedor do torneio O QR CODE

Diniz blinda jovens da seleção antes do clássico

Técnico elogia dedicação do grupo aos conceitos e tenta evitar que ambiente se contamine com pressão externa
antes da partida contra a Argentina, no Maracanã; Endrick rasga elogios a Messi: ‘É um cara fenomenal’

JOILSON MARCONNE/CBF/DIVULGAÇÃO
DIOGO DANTAS
diogo.dantas@extra.inf.br
O atacante, porém, não
poupou elogios ao argenti-
-
no, adversário de amanhã, e

À s vésperas do clássico com a

Argentina, no Maracanã,
o técnico Fernando Diniz reu-
niu os jogadores da seleção e
blindou o grupo, sobretudo os
mais jovens, diante de muitas
críticas pelo início ruim do
Brasil nas Eliminatórias à Co-
pa do Mundo de 2026. Na ava-
liação do treinador e de sua co-
missão, os atletas têm corres-
pondido, em sua maioria, aos
conceitos que são trabalhados
e colocados em prática nos jo-
gos, embora os resultados ain-
da não apareçam.
Prestes a fazer sua última
partidas pelas Eliminatórias
antes do fim do contrato com
a CBF, no meio de 2024, Di-
niz coloca em cena o seu lado
mais elogiado, que é o de não
deixar que o exterior conta-
mine o ambiente de suas
equipes. Na seleção, o desafio
passa por apresentar esse dis-
curso aos jogadores sem a vi-
vência no dia a dia, mas a acei-
tação é boa.
‘FALOU PARA EU SER FELIZ’
Segundo informações, Fer-
nando Diniz tem procurado
passar ao grupo retornos sobre
o que acontece na partida, di-
zendo que os jogadores convo-
cados estão fiéis aos seus con-
ceitos, e que há satisfação com
amaioria por entender que es-
se é um processo que está no
início e requer um esforço de
Joia brasileira. Endrick, do Palmeiras e convocado por Fernando Diniz, já está negociado com o Real Madrid e seguir para a Espanha quando completar 18 anos
adaptação de todos.
Não à toa esses termos têm
sido vistos nas entrevistas dos
jogadores, desde os mais jo-
vens. Endrick, de 17 anos,
revelou ontem uma conver-
sa com o técnico que dá o
tom do trabalho extracampo
que é feito para tirar a pres-
são em meio a um trabalho
novo e com pouco tempo pa-
ra ser implementado.
—O Fernando Diniz é um
excelente treinador. Estava
com receio de treinar, de fa-
zer as coisas, e ele falou para
eu ser feliz, driblar... Isso ti-
rou um peso das minhas
costas. Achava que tinha
que chegar mais leve, sem
querer fazer muitas coisas.
Agora estou mais tranquilo.
Espero que ele possa dar
muito orgulho à nossa sele-
ção ainda — afirmou o ata-
cante do Palmeiras.
Nas conversas com Endrick
eos demais, Diniz busca trazer
todos para dentro dessa reali-
dade transitória, sem abrir
mão de uma de suas principais
filosofias, de que o futebol pre-
cisa ser jogado com alegria e
solidariedade. Mesmo que no
Maracanã diante da Argentina
de Messi. Quando foi pergun-
tado sobre o astro argentino,
Endrick, mais uma vez, mos-
trou-se leve e natural.
—Para mim, o Messi é um
grande jogador, mas eu sou
mais fã do Cristiano Ronal-
do. A gente sempre brincava
no videogame — contou.
na resposta deixou claro no-
vamente que vai desfrutar
do encontro ao invés de se
sentir pressionado por ele.
— Messi é um cara feno-
menal. Muito bom, melhor
do mundo novamente este
ano. Só quero desfrutar o
momento de poder jogar
contra ele, poder estar no
mesmo estádio, olhar para
ele de perto — completou
Endrick, já negociado com o
Real Madrid, mas que só sai-
rá quando completar 18
anos — julho de 2024.
MUDANÇAS NO TIME
Apesar da leveza do garoto, a
partida será um teste para que
os jogadores, jovens e mais ro-
dados, demonstrem se sabe-
rão lidar com uma torcida ca-
rente de uma seleção que ven-
ça e convença. Por isso, Fer-
nando Diniz vai optar pelo re-
torno de Gabriel Jesus, prepa-
rado para ser o homem-gol no
duelo com a Argentina. Após
se recuperar de lesão e ficar
fora diante da Colômbia, o ca-
misa 9 está de volta como titu-
lar depois de não correspon-
der à altura na Copa do Mun-
do de 2022, no Catar.
Outra mudança é a saída do
lateral-esquerdo Renan Lodi
para a entrada de Carlos Au-
gusto. No meio e na zaga, Fer-
nando Diniz não promoverá
mexidas na seleção.

Flamengo comemora o sétimo

PAULA REIS/FLAMENGO/DIVULGAÇÃO
em campo, já sentia que se-
ria ela a decidir o título.
—Estava me sentindo mui-

título do Estadual feminino to confiante. Até falei que iria

fazer um gol e dar uma assis-
tência, e Deus me consagrou.
Na final em partida única, equipe rubro-negra derrota o Botafogo por 2 a 1 A gente sabe o quanto foi di-
fícil chegar até aqui (a final e
ser campeã). gora é só alegria
LAÍS MALEK
lais.silva.rpa@edglobo.com.br
A partida foi realizada Ainda antes do intervalo, —comemorou.
sem a presença de público, aos 42, Darlene deu uma Quem também celebrou a
-
já que o estádio passa por re- grande assistência para Cris, conquista foi o técnico Maurí-

Após perder o título do ano formas desde abril e não po-

passado para o Botafogo, de receber torcedores.
o Flamengo “deu o troco” no
que avançou com a bola, dei-
xou a zagueira Driely para trás
na corrida e finalizou rasteiro
alvinegro e conquistou on- GOL E ASSISTÊNCIA para ampliar o placar.
tem pela sétima vez o Cam- O grande nome da partida foi No início do segundo tem-
peonato Estadual feminino. a meia Darlene, camisa 7 do po, logo aos 15 segundos, a
Em final única disputada Flamengo. A estrela da Rai- árbitra assinalou pênalti para o
sob uma forte chuva no está- nha dos Clássicos brilhou pe- Botafogo quando Drika caiu
dio da Gávea, a equipe ru- la primeira vez aos 40 minu- dentro da área. Kélen bateu
bro-negra venceu por 2 a 1. tos do primeiro tempo. De com confiança e marcou o seu
Além de 2023, o Flamengo longa distância, ela viu Yas- 13º gol no campeonato, termi-
também deu a volta olímpica min adiantada e mandou um nando como artilheira isolada.
nas competições de 2015 a belo chute indefensável para Após a partida, Darlene
2019, e novamente em 2021. a goleira alvinegra. revelou que antes de entrar
cio Salgado, que assumiu em
agosto e levantou o seu primei-
ro título pelo Flamengo.
— Estava engasgado para
elas. A maioria estava aqui na
outra final (em 2022). O Fla-
mengo tem bastante ambi-
ção, e queremos ser protago-
nistas nacionais. Para isso,
precisamos ser protagonistas
estaduais —avisou.
Na campanha do título, o
Flamengo venceu oito jogos,
Alegria. As jogadoras do Flamengo fazem a festa pela conquista do Estadual empatou um e perdeu outro.

FÓRMULA 1 BOTAFOGO VASCO FLUMINENSE FLAMENGO

Vitória em Las Vegas faz Max
Verstappen entrar no top 3
Tricampeão mun-
dial de Fórmula 1, Max
Verstappen manteve a
sua doce rotina de vitó-
rias. Ontem, no GP de Las
Vegas (EUA), o piloto
holandês da RBR con-
quistou o seu 18º triunfo
no ano e o 53º na carreira.
Ele agora é o terceiro
maior vencedor da cate-
goria, empatado com o
alemão Sebastian Vettel,
atrás apenas do também
alemão Michael Schuma-
cher (91) e do inglês
Lewis Hamilton (103).
Tiago Nunes: vantagem Time pode ter
a sua melhor
Mais de 40
mil ingressos
Trio terá avião
para voltar ao
contra o Fortaleza sequência já vendidos Brasil antes
JIM WATSON/AFP
Tiago Nunes tunidades, venceu três, Na quarta-feira, O Fluminense O Flamengo
estreia no comando do empatou quatro e per- às 19h, no Mineirão, o divulgou a última resolveu fretar um
Botafogo na quinta- deu só uma vez. Quando Vasco enfrenta o parcial da venda de avião para buscar
feira, contra o Fortaleza, os números são contra Cruzeiro, pelo Campe- ingressos para a Erick Pulgar, Arras-
às 19h, no Castelão, em Juan Pablo Vojvoda, onato Brasileiro. Em partida de quarta- caeta e Varela, que se
partida adiada da 29ª técnico do Leão do Pici, caso de vitória, além feira, às 21h30, no disponibilizaram a
rodada do Campeonato o comandante alvinegro de se afastar ainda Maracanã, contra o retornar antes para o
Brasileiro. E na busca tem uma vitória e dois mais da zona de rebai- São Paulo, pelo jogo diante do Bra-
pela liderança, o alvine- empates. xamento — 15º, com Brasileiro. De acordo gantino, na quinta-
gro já tem vantagem no Com 60 pontos, o Bota- 40 pontos —, o cruz- com o tricolor, mais feira, no Maracanã.
retrospecto do seu fogo precisa da vitória maltino alcançará a de 40 mil ingressos Amanhã, pelas Elimi-
Doce rotina. Verstappen festeja outro primeiro lugar treinador diante do para superar o Palmei- sua melhor sequência já foram comerciali- natórias à Copa de
adversário. ras, que tem 62, e voltar na competição. Até o zados. Os setores 2026, o Uruguai de
Na prova de ontem, o Sergio Pérez, da RBR, o Segundo números do à liderança do Brasileiro. momento, são quatro Sul, Leste Inferior, Arrascaeta e Varela
monegasco Charles terceiro. A temporada site Fogão.Net, Tiago Grêmio e Bragantino, partidas de invencibili- Leste Superior e recebe a Bolívia. Já o
Leclerc, da Ferrari, foi o termina no domingo Nunes enfrentou o ambos com 59, estão dade, sendo três Oeste Inferior já Chile de Erick Pulgar
segundo, e o mexicano com o GP de Abu Dhabi. Fortaleza em oito opor- logo atrás na tabela. triunfos consecutivos. estão esgotados. visitar o Equador.
 OGLOBO | Segunda-feira 20.11 .2023

ESPORTES
FESTA DAS SELEÇÃO
RUBRO-NEGRAS BRASILEIRA
Fla é campeão Fernando Diniz
estadual feminino blinda os jovens
esporteglb@oglobo.com.br PÁGINA 27 PÁGINA 27

RAFAEL OLIVEIRA
rafael.oliveira@extra.inf.br
MESSI NO BRASIL TODOS OS 22 JOGOS Gols marcados
-
0x0 BRASIL Eliminatórias 2008 Mineirão (MG)

A alta procura por ingres-

sos para Brasil x Argenti- 13
vitórias
5
empates
9
GOLS
2x1
1x0
BÓSNIA
IRÃ
Copa do Mundo 2014
Copa do Mundo 2014
Maracanã (RJ)
Mineirão (MG)
na, amanhã, no Maracanã, MARCADOS 3x2 NIGÉRIA Copa do Mundo 2014 Beira-Rio (RS)
não se deve só ao apelo do
clássico. A partida tem sta- 22 jogos 15 1x0
1x0
SUÍÇA
BÉLGICA
Copa do Mundo 2014
Copa do Mundo 2014
NeoQuímica Arena (SP)
Mané Garrincha (DF)
JOGOS SEM MARCAR
tus de provável despedida 0x0 HOLANDA Copa do Mundo 2014 NeoQuímica Arena (SP)
de Messi diante dos brasilei-
ros. Aos 36 anos, o craque só 4
derrotas
7
MARCANDO
0x1
0x3
ALEMANHA Copa do Mundo 2014 Maracanã (RJ)
BRASIL Eliminatórias 2016 Mineirão (MG)
deve ter mais uma oportuni- 0x2 COLÔMBIA Copa América 2019 Fonte Nova (BA)
dade de atuar no país. E os Competições 1x1 PARAGUAI Copa América 2019 Mineirão (MG)
torcedores querem presen- Eliminatórias 2 2x0 CATAR Copa América 2019 Arena do Grêmio (RS)
ciar o ato final desta relação Copa do Mundo 7 2x0 VENEZUELA Copa América 2019 Maracanã (RJ)
marcada por poucos gols, Copa América 13
0x2 BRASIL Copa América 2019 Mineirão (MG)
mas momentos históricos. Estádios 2x1 CHILE Copa América 2019 NeoQuímica Arena (SP)
Apesar de Messi ser ar- Mineirão 5 1x1 CHILE Copa América 2021 Nilton Santos (RJ)
gentino e ter vivido a maior Maracanã 4 1x0 URUGUAI Copa América 2021 Mané Garrincha (DF)
parte de sua vida na Espa- Mané Garrincha 4
1x0 PARAGUAI Copa América 2021 Mané Garrincha (DF)
nha, o Brasil é parte relevan- NeoQuímica Arena 3
4x1 BOLÍVIA Copa América 2021 Arena Pantanal (MT)
te de sua trajetória. Princi- Beira-Rio 1
3x0 EQUADOR Copa América 2021 Olímpico de Goiânia (GO)
palmente o Maracanã. De Fonte Nova 1
Arena do Grêmio 1 1x1 COLÔMBIA Copa América 2021
suas 22 partidas no país, cer- Nilton Santos 1
Mané Garrincha (DF)

tamente as duas mais mar- 1x0 BRASIL Copa América 2021 Maracanã (RJ)
Arena Pantanal 1
cantes foram no estádio. A Olímpico de Goiânia 1 PAÍSES QUE MESSI MAIS JOGOU
primeira delas, a final da
Copa de 2014, vencida pela Cidades Espanha 651
Alemanha (1 a 0). A famosa Belo Horizonte 5 França 75
cena do meia mirando o tro- Rio de Janeiro 5 Argentina 49
Brasília 4
féu da Copa sem poder tocá- São Paulo 3
EUA 28
lo comoveu seus fãs e deixou Porto Alegre 2
Brasil 22
no mundo do futebol a sen- Salvador 1 Inglaterra 22
sação de que o destino esta- Cuiabá 1 Alemanha 16
va sendo cruel com aquele Goiânia 1 Itália 13
que, na época, já era consi- EDITORIA DE ARTE

derado um dos maiores jo-

PRA DIZER ADEUS

gadores da História.
Mas o próprio Maracanã
tratou de “resolver” esta
questão sendo palco do título

Messi faz provável despedida do

da Copa América de 2021 so-
bre o Brasil (1 a 0). Uma con-
quista considerada a gênese
da equipe que viria a vencer a
Copa do Mundo do Catar 15

Brasil, que fará parte de sua história

meses depois.

NADA DE PROVOCAÇÕES
Messi tirou o peso da cobran-
ça de nunca ter sido campeão
pela seleção principal e cho-
rou na comemoração. Ficou
famosa a cena, ainda no gra-
mado, em que o camisa 10 ve-
ta seus companheiros, duran-
te os festejos com a torcida, de
cantarem uma música que
provoca o Brasil e Pelé.
Não era demagogia. O vi-
zinho tem importância ím-
par para o craque hermano.
Com o jogo de amanhã, de
número 23, o Brasil se isola-
rá como o quinto país onde
ele mais atuou e o primeiro
depois daqueles em que de-
fendeu alguma camisa: Es-
panha (651 partidas), Fran-
ça (75), Argentina (49) e Es-
tados Unidos (28).
Dentre os estádios brasi-
leiros, o duelo de amanhã fa-
rá do Maracanã, ao lado do
Mineirão, aquele que mais
recebeu Messi: cinco vezes
cada. Mas, como ele tam-
bém disputou uma partida
no Nilton Santos (empate
com o Chile, pela Copa
América de 2021), o Rio de
Janeiro se tornará a cidade
do país em que mais atuou.
Os gols, no entanto, foram
menos do que o público bra-
sileiro gostaria de ter visto:
apenas nove. Das 22 parti-
das disputadas até agora,
Messi só balançou as redes
em sete. Foram dois na Are-
na Pantanal (contra a Bolí-
via, pela Copa América
2021), dois no Beira-Rio
(Nigéria, pela Copa de
2014) e mais dois no Minei-
rão (Irã, pelo Mundial; e Pa-
raguai, pela Copa América
2019). Os três restantes fo-
ram no Maracanã (Bósnia,
em 2014), no Olímpico de
Goiânia (Equador, na Copa
América 2021) e o contra os
chilenos no Nilton Santos.
O retrospecto é positivo
para o técnico Fernando Di-
niz, já que até agora Messi
segue em branco diante da
seleção brasileira na casa
dela. O próprio craque, em-
bora tenha reconhecido que
o rival não chega bem para o
clássico, mostrou ter noção
do desafio que o espera.
—As partidas contra o
Brasil são clássicas. São jo-
gos à parte, de muita histó-
ria. Sobretudo por como
vem esta história nos últi-
mos tempos. Temos que nos
levantar, mas respeitando o
que eles são. Porque são o
Brasil —afirmou ao diário
Olé, após a derrota para o
Uruguai, na última quinta.
Messi segue como refe-
rência técnica da Argenti-
na. Mas retorna ao Brasil
num momento completa-
mente diferente das outras
vezes. Sem novos desafios
em termos de conquistas
pela frente e apenas tentan-
do aproveitar enquanto ain-
da tem futebol de alto nível.
SEM PROMESSAS PARA 2026
Quanto tempo irá permane-
cer com sua seleção neste ci-
clo é uma incógnita. O pre-
sidente da Associação de
Futebol Argentino, Claudio
Tapia, e até o técnico Lionel
Scaloni apostam que ele jo-
gará o Mundial de 2026, que
será realizado em conjunto
por EUA, México e Canadá.
Mas o próprio evita fazer
qualquer promessa.
—Não penso nisso porque
está muito distante. Penso é
em chegar bem na Copa
América (de 2024, nos EUA)
—respondeu, em setembro,
durante participação no canal
de Youtube argentino Olga.
A ida para a MLS permitiu
a Messi jogar em menor in-
tensidade, o que é bom para
evitar lesões graves. Mas,
como terá 39 anos no próxi-
mo Mundial, sabe que o ca-
minho até lá é imprevisível.
Prefere aproveitar cada ins-
tante. Como certamente fa-
rão os torcedores brasileiros
amanhã, no Maracanã, di-
ante de seu futebol.

Sérvia
está na
Euro-2024
FOTO: ANDREJ
ISAKOVIC/AFP

Ontem, pela última rodada

do Grupo G das Eliminató-
rias à Euro-2024, a Sérvia
empatou com a Bulgária em
2a 2 e garantiu vaga na
competição. Montenegro,
que ainda sonhava, perdeu
para a já classificada Hun-
gria por 3 a 1. Pelo Grupo J,
Portugal fez 2 a 0 na Islân-
dia, gols de Bruno Fernan-
des e Ricardo Horta, e
fechou as Eliminatórias com
100% de aproveitamento
(dez vitórias). A Euro-2024,
que será na Alemanha entre
14 de junho e 14 de julho,
tem 17 das 24 seleções já
classificadas: Albânia,
Áustria, Bélgica, Dinamarca,
Escócia, Eslováquia, Espa-
nha Inglaterra, França,
Alemanha, Hungria, Holan-
da, Portugal, Romênia,
Sérvia, Suíça e Turquia.
 DIVULGAÇÃO/ALEX SANTANNA
TALITA DUVANEL
talita.duvanel@oglobo.com.br OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023

A ngélica completa cinco

décadas de vida somen-
te no dia 30, mas o senti-
SEGUNDO CADERNO segundocaderno@oglobo.com.br
mento é de quem já come-
morou o aniversário.
—Estou falando tanto
desses 50 anos que já me sin-
to com essa idade —brinca a
apresentadora sagitariana,
que, no entanto, sabe que a
coisa só é para valer quando
todas as viradas de seu mapa
astral acontecerem, princi-
palmente a mudança de as-
cendente. — Hoje é Capri-
córnio, mas vai virar Aquá-
rio. Acho que vem aí ainda
mais liberdade.
A tão simbólica data se-
ria um grande assunto por
si só, mas ficou mais pre-
sente no cotidiano quando
o marido, o apresentador
da Globo Luciano Huck,
deu a ideia de que ela co-
memorasse com um pro-
grama de TV. Nele, a pau-
lista de Santo André con-
taria as muitas histórias
dos 46 anos de carreira
(sim, ela começou como
modelo aos 4) que tanto
repetia em casa. O formato
foi, então, construído pelo
jornalista Chico Felitti e
virou a série de cinco epi-
sódios “Angélica: 50 & tan-
to”, que estreia no Globo-
play no domingo. No mes-
mo dia, o “Fantástico”, da
TV Globo, exibe um com-
pacto do primeiro episó-
dio — o que ocorrerá por
cinco domingos. O GNT
exibe o programa sema-
nalmente, a partir do dia
30, às 22h15.
A ideia é que, em cada epi-
sódio, Angélica receba, na
própria casa, amigas ou mu-
lheres que admira para con-
versarem sobre um tema que
considera importante nes-
ses 50 anos. Os bate-papos
sobre infância, fama, traba-
lho, finitude e amizade femi-
nina (com convidadas como
Sandy, Anitta, Ivete Sangalo,
Preta Gil e Xuxa, só para citar
algumas) se desenrolam en-
tremeados a imagens da car-
reira da anfitriã.
—Não pensava em fazer
um documentário, apesar
de ter imagens e muito pa-
ra contar através delas.
Mas a ideia era ser uma
conversa, com coisas que
estou vivendo hoje — diz a
apresentadora, que plane-
ja comemorar a data em ca-
sa, com a família, vendo o
programa no GNT, não
sem antes ter feito uma fes-
tança. —Não tem como Maturidade.
deixar de celebrar com “Quando comecei a falar
tanta gente que passou na determinadas coisas da
minha vida. minha vida, de uma mulher
Abaixo, trechos do bate- da minha idade, percebi que
papo com a apresentadora, deixei algumas pessoas
que refletiu sobre o marco espantadas”, diz Angélica
da idade e aspectos dos mais
de 40 anos de vida pública.

‘TENHO UM OUTRO LADO,

INTIMIDADE EXPOSTA
“A Angélica do RG é uma
pessoa numa busca interior
muito grande, também fe-
liz com esse encontro con-

sigo mesma. Sou uma mu-
lher muito de verdade, que
até se controla, às vezes, pa-
ra não falar coisas quando
não é hora (risos). Mas au-
tenticidade é libertadora.
Nunca fui uma persona-
gem. Como comecei muito
nova, não tinha como ser
outra coisa. As pessoas
acompanharam tudo da
minha vida desde os 4 anos
de idade, né? A escola, o
primeiro namorado, o pri-
meiro beijo, o casamento...
Todas essas questões muito
íntimas e pessoais estavam
nas revistas. Só que cada
um imagina uma Angélica.
Tanto que, quando falo cer-
tas coisas hoje, alguns se
chocam porque idealiza-
ram alguém que eu não sou.
E posso dizer que admiro is-
so em mim: sempre fui uma
pessoa coerente.”
NADA ANGELICAL’
COMEMORANDO ANJO TORTO
“Meu nome vem com car-
50 ANOS COM ga de anjo. Sempre fui
SÉRIE NO tranquila, mas bem forte
também. Tenho um outro
GLOBOPLAY lado, nada angelical, no
E GNT, ANGÉLICA sentido da bonequinha in-
tocável. Sou uma mulher
REFLETE SOBRE de 50 anos, com três filhos
(ela e Luciano são pais de Jo-
‘SEQUELAS’ aquim, de 18 anos; Benício,
DO COMEÇO de 16; e Eva, de 11), que toca
essa galera toda aqui, que
NA TV AOS resolve tudo, sempre à
4 ANOS, frente da carreira, brigan-
do e lutando pelo que que-
IDEALIZAÇÃO ria. Quando comecei a fa-
E COBRANÇA lar determinadas coisas da
minha vida, de uma mu-
DO PÚBLICO lher da minha idade, per-
cebi que deixei algumas levantou uma bandeira. As me considero uma pessoa
pessoas espantadas.” mães podem estar num lu- vencedora, porque muitos
gar muito mais divertido e não seguram a onda. Meus
POLÊMICA DO VIBRADOR prazeroso. Pessoas vieram pais foram lidando com
“No nosso portal Mina (An- me falar: ‘nunca tinha pen- aquilo intuitivamente. Não
gélica é sócia de uma platafor- sado nisso, vou dar para mi- havia um manual. Nunca ti-
ma digital de bem-estar), nha também’.” nha parado para pensar nis-
existem alguns produtos, e so até ter meus filhos. Aí co-
um deles é um vibrador. E TRABALHO INFANTIL mecei a viver a infância de-
comentei numa entrevista “Começar cedo deixa se- les. Fui aquela mãe que
que dei um para a minha quelas e questões. Perde- comprava todos os brinque-
mãe (isso aconteceu em maio mos uma etapa importan- dos, que queria deixar a cri-
deste ano, perto do Dia das tíssima da vida. Somos cri- ança brincar até ela não
Mães). Não foi algo para cau- ança e adolescente uma vez, querer mais. A minha psica-
sar ou para espantar. Mas vi- e adulto por muito tempo. nalista falou: ‘Angélica, essa
rou uma história de “ah, que Em alguns casos, somos o não é a sua infância. Vamos
desserviço, falar que deu um provedor da casa, algo com colocar limites aí’ (risos).”
vibrador para a mãe”. A prin- um peso emocional familiar
cípio, fiquei meio bolada, que precisa ser tratado com MEMÓRIAS FOTOGRÁFICAS,
depois achei ótimo, porque bastante análise depois. Eu NA PÁGINA 2
2 | Segundo Caderno
VAGNER FERNANDES
Especial para O GLOBO
S ão muitas as histórias do
Jongo da Serrinha, mais
emblemático quilombo ur-
bano do Rio, localizado no
coração de um dos principais
morros da Zona Norte cario-
ca, em Madureira. E não são
poucas as lutas que os líderes
locais vêm travando ao longo
das décadas para preservar
tradição e memória.
Legitimado como Patrimô-
nio Cultural Imaterial do
Brasil pelo Iphan, o Jongo da
Serrinha faz show de come-
moração pelos seus 60 anos
hoje, às 17h30, na Cidade das
Artes, na Barra, Zona Oeste
carioca. Além disso, prepara
novo álbum e a retomada das
atividades na Casa do Jongo,
cuja reforma acaba de ser au-
torizada pela prefeitura. Os
ingressos para a apresenta-
ção de hoje, gratuitos, podem
ser retirados no site Sympla.
—Jongo não é apenas uma
dança, mas também uma for-
ma de expressão, de vida, de
resgate de nosso histórico e da
relação com a África. E neste
contexto a valorização da ora-
lidade, do que nos contaram e
contam os griôs jongueiros, é
fundamental — diz Lazir Sin-
val, atriz, cantora e diretora da
instituição que cuida do patri-
mônio do grupo.
TAMBOR, CANTO E DANÇA
Maria Teresa dos Santos (Vo-
vó Teresa), Eloy Anthero Dias
(Mano Eloy), Sebastião Mo-
lequinho, Tia Eulália, Tia Ma-
ria, Maria Joana Monteiro
(Vovó Maria Joana), antológi-
ca ialorixá da Serrinha, e seu
filho Mestre Darcy foram
fundamentais na populariza-
ção da dança. Os três últimos,
ao perceberem que o princi-
pal núcleo de jongo da cidade
estava se extinguindo, trata-
ram de reorganizá-lo, criando
CONTINUAÇÃO DA CAPA
CONTRA A
PRESSÃO DE ‘TER
QUE ESTAR BEM’
PRESSÃO ESTÉTICA
“Falo num episódio de ‘An-
gélica: 50 & tanto’ que um
dia, num programa que ia
fazer, não segurei a onda de
não passar uma base ou um
gloss. Depois refleti: ‘mas
por que não consegui?’. To-
do mundo que vive da ima-
gem sofre com isso, são fil-
tros e retoques porque tem
que estar bem. Desde pe-
quena, tinha que parecer
bonita nas fotos. Falam hoje
que o Instagram mexe com a
cabeça do jovem, mas quem
começou muito cedo sem-
pre viveu isso. E é algo que
mexe demais com a autoes-
tima. Tive muitas questões.
Quando comecei na TV, era
rechonchudinha, e o padrão
sempre foi magro. Sofri com
dietas, tomei remédio e tive
crise de pânico por causa
disso. Vivi tudo que a pres-
são (estética) nos faz viver.”
HORÓSCOPO
ÁRIES (21/3 A 20/4) Elemento: Fogo. Modalidade: Impulsivo.
Signo complementar: Libra. Regente: Marte.
Estabilizar os humores e manter a serenidade diante
de desafios lhe demandará paciência e dedicação.
TOURO (21/4 A 20/5) Elemento: Terra. Modalidade: Fixo. Signo
complementar: Escorpião. Regente: Vênus.
A maior recompensa pelo ao cumprir suas responsa-
bilidades será poder desfrutar de descanso e relaxamento.
GÊMEOS (21/5 A 20/6) Elemento: Ar. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Sagitário. Regente: Mercúrio.
Você está determinado a construir a realidade que
deseja para si, agora é preciso cultivar a flexibilidade.
oglobo.com.br/cultura
Segunda-feira 20 .11 .2023 | OGLOBO
DIVULGAÇÃO
GRUPO PREPARA
NOVO ÁLBUM
PARA CELEBRAR
SEUS 60 ANOS,
TEM O ESPAÇO
QUE ABRIGA SUAS
ATIVIDADES
RECUPERADO
PELA PREFEITURA
CARIOCA E FAZ
SHOW HOJE NA
CIDADE DAS
ARTES, NA BARRA
com isso, muitas controvér-
sias surgiram com a criação
dos núcleos urbanos de jongo
—explica Lazir. — Mas não
há como negar a importância
dos coletivos para a preserva-
ção de nossa identidade. E o
Patrimônio. Jongo da Serrinha preserva tradição praticada por negros de origem bantu, vindos de Congo e Angola Jongo da Serrinha sempre
atuou assim, inclusive se
DIA DE FESTA
gros de origem bantu, vin- aproximando da intelectuali-
dos do Congo e de Angola, dade a fim de alicerçá-lo.
trabalhadores escravizados
nas lavouras da região. CASA RENOVADA
PARA O JONGO
Justamente por seu caráter A Casa do Jongo funciona
festivo e de reverência aos desde 2016 na Serrinha, na
pretos mais velhos, ganhava Rua Silas de Oliveira, nú-
a simpatia dos proprietários mero 101. No fim de outu-
DA SERRINHA
das fazendas, que permitiam bro, a prefeitura anunciou a
a realização dos encontros. reforma da antigo galpão,
Mas os jongueiros iam além, que tem salão para dança,
trocando o sentido das pala- auditório, estúdios, salas
vras, criando um novo voca- para cursos profissionali-
bulário e passando a conver- zantes, espaço para exposi-
shows e abrindo espaço para o para subir com ela o Morro ro que se mantém em pé lá sar entre si por meio dos ções, cineclube, horta co-
ingresso de crianças e jovens da Serrinha a fim de registrá- no alto da Serrinha. pontos de jongo, numa lin- munitária, local para ora-
(até então, a prática só era per- la numa roda de jongo ao la- Ojongo, também conheci- guagem cifrada. Assim, os ções, terreiro para capoei-
mitida aos mais velhos). do de Vovó Maria Joana, cujo do como caxambu, é uma escravos dialogavam com ra, além de lojas e refeitório.
O grupo também se apro- terreiro frequentava. manifestação integrada por mensagens secretas, com as O projeto principal ofere-
ximou de artistas que acaba- — Clara faz parte de nossa percussão de tambores, can- quais protestavam contra a ce oficinas gratuitas para
ram por tornar o grupo mais história, assim como Dona to e dança. No Sudeste brasi- escravidão, zombavam dos cerca de 80 crianças e jo-
conhecido, como a cantora Ivone Lara. Elas nos deram leiro, em que se mantém for- patrões, combinavam festas vens da comunidade local,
Clara Nunes (1942-1983). projeção — lembra Deli temente presente, fez o ca- de tambor e fugas. de canto, instrumento de
Em 1980, ela convocou o fo- Monteiro, neta de Vovó Ma- minho do café e da cana-de- —Esse jongo rural, genuí- cordas, jongo e percussão,
tógrafo Wilton Montenegro ria Joana e guardiã do terrei- açúcar, praticado pelos ne- no, quase não existe mais. E, entre outras.
IRINEU BARRETO FILHO/12-02-1989
VIDA COM LUCIANO HUCK
FATOS & FOTOS “Quando eu e Luciano come-
çamos a nos relacionar (em
REPRODUÇÃO
Início. “Esta Carnaval. 2004), vínhamos de alguns
imagem de 1986 “Esta foto foi relacionamentos e nos en-
contramos na mesma vonta-
faz parte da em um carro
primeira sessão de escola de de construir uma terceira
de fotos que a de samba, da pessoa, de formar uma famí-
Manchete fez Mangueira ou lia. As minhas experiências
minha para me Caprichosos. amorosas anteriores (as mais
ANSIEDADE E PÂNICO divulgar como Desfilei durante comentadas na mídia foram o
“Cada vez mais, acredito que apresentadora, dez anos namoro com o apresentador
temos que ficar vulneráveis na época seguidos, em César Filho, no início da juven-
para nos conhecer. Não exis- da ‘Nave da uma ou duas tude dela, que durou sete anos,
te vida linear. Para mim, foi fantasia’. Foi para escolas. Sempre e com o ator Maurício Mattar,
assim. Vivi momentos mui- me lançar para no carro, só uma por quatro anos, no fim da dé-
to sérios e fortes e, nessas ho- o Brasil.” vez no chão.” cada de 1990) contribuíram
ras, sempre houve viradas. MARCELO CARNAVAL/ 1-10-1996 MÔNICA HAUSER/10-10-2004
muito para eu saber o que
Tive a primeira crise de pâni- Magia. Maternidade. queria. Todos os momentos
co aos 27 anos. Estava gra- “Ah, fada “Vivi todo ‘Video que vivi em relacionamen-
vando. Foi por estresse, um Bela de game’ grávida. tos, bons e ruins, foram im-
acúmulo de tudo: regime, ‘Caça Parava de licença e portantíssimos para ter cer-
trabalho, pressão, a vida de talentos’! logo voltava para o teza do que estava vivendo
trabalhar desde cedo. Não Este gesto palco. Parava a com Luciano. Temos calma-
sabia como lidar, não se fala- fui eu que gravação para ria na nossa relação, ao mes-
va sobre esse assunto. Me- inventei para amamentar. Eles mo tempo que gostamos de
lhorei com meditação, ioga e ser o gesto acompanharam uma festa. Tivemos um en-
remédios. E veio uma crise mágico tudo, tinha camarim contro muito especial e não
muito maior depois do aci- dela”. para mim e para programado. Passou muito
dente de avião (em 2015, o eles, com berço.” rápido, podia não ter dado
avião de pequeno porte que certo. Logo fiquei grávida,
transportava Angélica, Lucia- nem nos conhecíamos muito
no, os três filhos e duas babás ‘o que faço com isso?’. Não dente, sempre tive peque- tudo isso me trouxe para um bem. Mas havia muito amor
precisou fazer um pouso força- quis tomar remédios e fui nos momentos assim. Sem lugar muito melhor, de re- e objetivos parecidos, então
do no Mato Grosso). Tive que buscar ferramentas para me dúvida era pressão e falta de flexão sobre a minha vida e fomos gostando cada vez
fazer concessões de trabalho entender melhor. Mas, des- autonomia dos meus senti- de colocar realmente o que mais do que estávamos vi-
e culminou com a reflexão: de a primeira crise até o aci- mentos. Ao mesmo tempo, importa para jogo.” vendo.” (Talita Duvanel)
Cláudia Lisboa
LIBRA (23/9 A 22/10)Elemento: Ar. Modalidade: Impulsivo. Signo CAPRICÓRNIO (22/12 A 20/1) Elemento: Terra. Modalidade:
CÂNCER (21/6 a 22/7) Elemento: Água. Modalidade: Impulsivo. complementar: Áries. Regente: Vênus. Impulsivo. Signo complementar: Câncer. Regente: Saturno.
Signo complementar: Capricórnio. Regente: Lua.
Para seguir em frente com convicção, você precisará Você desfrutará de grande energia para organizar e
Para renovar o espírito, você precisa se aprofundar no desapegar-se do que limita o exercício de sua individualidade. planejar os caminhos rumo aos seus objetivos.
que vem lhe incomodando. Cuide de sua sensibilidade.
ESCORPIÃO (23/10 A 21/11)Elemento: Água. Modalidade: Fixo. AQUÁRIO (21/1 A 19/2) Elemento: Ar. Modalidade: Fixo. Signo
LEÃO (23/7 a 22/8) Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo. Signo Signo complementar: Touro. Regente: Plutão. complementar: Leão. Regente: Urano.
complementar: Aquário. Regente: Sol.
Os desejos que surgirão no interior de seu coração Pensamentos desordenados dificultarão a boa comuni-
A sua liberdade deverá ser valorizada. Desprenda-se serão tão surpreendentes quanto empolgantes para você agora. cação. Mantenha a calma para se expressar com sabedoria.
do que limita suas ações e inibe sua espontaneidade.
VIRGEM (23/8 A 22/9) Elemento: Terra. Modalidade: Mutável. SAGITÁRIO (22/11 A 21/12)Elemento: Fogo. Modalidade: Mutável. PEIXES (20/2 A 20/3) Elemento: Água. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Peixes. Regente: Mercúrio. Signo complementar: Gêmeos. Regente: Júpiter. Signo complementar: Virgem. Regente: Netuno.
Ao se encontrar diante de uma decisão importante, Você alcançará boas respostas e abrirá caminhos ao Ao usar a sensibilidade natural para guiar suas ações,
você deverá invocar sua intuição e segui-la com confiança. confiar nas percepções sutis e ilógicas que tem da realidade. lembre-se da importância de avaliar o que a razão lhe indica.
Editora : Gabriela Goulart (gab@oglobo.com.br). Editor adjunto: Marcelo Balbio (balbio@oglobo.com.br). Editor assistente: Eduardo Rodrigues (earodrigues@oglobo.com.br) . Diagramação: Gustavo Amaral (gdamaral@edglobo.com.br) e Jacqueline Donola (jac-
que@oglobo.com.br). Telefones: Redação:2534-5703. Publicidade: 2534-4310 publicidade@oglobo.com.br Correspondência: Rua Marquês de Pombal 25, 4º andar. CEP 20.230-240
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 Segundo Caderno | 3
_ SEG_Play_ TER_Play_ QUA_Play_ QUI_Patrícia Kogut_ SEX_Play_ SÁB_Play_ DOM_Patrícia Kogut

PLAY Por Anna Luiza Santiago

Com Roberta Escansette, Gabriel Menezes, Giulia Costa e Maria Eduarda Aloan• oglobo.globo.com/play • anna.santiago@oglobo.com.br • colunaplay

ELLEN SOARES

Nostalgia Entre irmãs Personagem inédita

Para Paola De Orte e Gabriel
Chaim, que dão show na
GloboNews e na Globo com
a cobertura dos conflitos
entre Israel e Hamas. São
profissionais de primeira.
Xuxa tem o desejo de reunir Lázaro Ramos
ex-paquitas num evento viverá ele mesmo
que fará em março num no longa “Minha
navio. A ideia é usar as irmã e eu”, estrelado
imagens no documentário por Tata Werneck e
do Globoplay sobre as Ingrid Guimarães.
assistentes de palco. Mirelly (Tata) finge
para a irmã, Mirian
Humor (Ingrid), que tem
um romance com o
Tony Tornado gravou uma ator. Na verdade, é
participação como ele uma faz-tudo que
mesmo na série “Clube cuida dos gatos
Spelunca”, do TNT, com dele. Estreia em 28
direção de Silvio Guindane. de dezembro
JULIANA CABRAL/GLOBO
Maria Fernanda Cândido
começou a gravar
“Renascer” anteontem, nos
Estúdios Globo. A atriz fará a
primeira fase da trama como
Cândida, papel que não
existia na versão original. A
personagem acolherá José
Inocêncio (Humberto
Carrão) após o rapaz ficar
gravemente ferido num
ataque de jagunços. Depois,
ele acabará herdando as
terras dela e, assim, erguerá
seu império do cacau.

Sabe tudo Consciência Negra Às 19h

Para “Festival de prêmios”,
programa tosco da
RedeTV! apresentado por
João Kléber. Além de
sorteios, são exibidos
vídeos ruins de internet.
Especialista em Os jornalistas Chico Henrique Barreira, o Fred de
teledramaturgia, Mauro Regueira e Alexandre “Vai na fé”, voltará ao ar em
Alencar participará de uma Henderson em Angola, “A vovó sumiu”, novela de
conferência sobre onde gravaram o especial Daniel Ortiz. Ele interpretará
literatura e televisão. Vai “Vim de lá”, que irá ao ar um advogado apaixonado por
ser amanhã, na Academia na Globo do Rio no Electra (Juliana Paiva).
Brasileira de Letras, no próximo sábado e depois Conrado Caputto, que fez
Centro. Ele é autor da ficará disponível no todas as tramas do autor na
biografia de Susana Vieira, Globoplay. O programa Globo, também foi escalado.
já escrita e em fase de trata das origens do povo Será o treinador do skatista
pesquisa de fotos. negro carioca vivido por Isacque Lopes.

JOGOS QUADRINHOS
MACANUDO Liniers
LOGODESAFIO Foram encontradas 21 palavras: 11 de 5 letras, 6 de 6 letras, 4 de 7
POR SÔNIA PERDIGÃO
letras, além da palavra original. Com a sequência de letras NA foram VOÇÊ PARECE QUER SER
ALGUÉM AH,BELEZA.JÁ É.
encontradas 15 palavras. INTERESSANTE. MEU AMIGO?

Instruções: Este jogo tem os seguintes objetivos: 1. Encontrar a

S S C I palavra original utilizando todas as letras contidas apenas no quadro
maior. 2. Com estas mesmas letras formar o maior número possível de
R palavras de 5 letras ou mais. 3. Achar outras palavras (de 4 letras ou

A
NA mais) com o auxílio da sequência de letras do quadro menor. As letras
só poderão ser usadas uma vez em cada palavra. Não valem verbos,
plurais e nomes próprios.
A T A C
cana, caiana, canária, canastra, inata, nácar, nata, sacana, sacarina, sina, tina, tirana, trina.
NADA COM COISA ALGUMA José Aguiar
cítara, sátira// arcaica, cascata, catraca, catraia// SARCÁSTICA. Com a sequência de letras NA: anais, ariana,
Solução: ataca, ática, atrás, carta, casca, cassa, casta, rasca, risca, sacra, tiara// acácia, ártica, arisca, casaca,

FORA DE FOCO Eduardo Arruda

O CORPO É PORTO André Dahmer

BICHINHOS DE JARDIM Clara Gomes

A VIDA É UM RISCO Adão Itarrusgarai

4 | Segundo Caderno Segunda-feira 20 .11 .2023 | OGLOBO
_ SEG_ Joaquim Ferreira dos Santos _ TER_ Leo Aversa_ QUA_ Ana Paula Lisboa (quinzenal) _ Martha Batalha (quinzenal)_ QUI_ Cora Rónai_ Luis Fernando Verissimo _ SEX_ Ruth de Aquino_Nelson Motta_ SÁB_ José Eduardo Agualusa_ DOM_Cacá Diegues

JOAQUIM FERREIRA João Antônio na galeria dos que imortaliza-

ram a grande história das pessoas peque-
DOS SANTOS nas. Ele deixou dois “retângulos de letras”,
segundocaderno@oglobo.com.br como chamava os livros, as edições esgota-
das de “Algemas de carne” e “Barra pesada”.
Documentou o início da violência carioca,
sal da Veja carioca. Mario Prata também co-
nheceu o homem. No recém-lançado “Pelo
buraco da fechadura eu vi um baile de debu-
tantes”, ele conta que Octávio (“que texto
bem feito!”) foi até o Paraguai para mostrar
como era fácil comprar droga. Voltou com a

A ‘CONSCIÊNCIA quando o crime de Mineirinho e Cara de

Cavalo era combatido pelo crime dos Onze
Homens de Ouro, do Esquadrão da Morte,
mala abarrotada de novidades. Foi a capa da
revista, mas infelizmente a redação consu-
miu a apuração enquanto trabalhava e, todo

NEGRA’ DO da Scuderie Le Cocq e da Invernada de Ola-

ria. Deu no que vivemos hoje.
“Pena Branca” escrevia com a gramática da
mundo doidão, na edição seguinte foi preci-
so aumentar o espaço do “Veja errou”.
No Dia da Consciência Negra é preciso

‘PENA BRANCA’ navalha justaposta ao verbo do rabo de arraia.

Muitas vezes os eruditos do copydesk não
aceitavam um lead e um sub-lead tão persona-
lizados, e o enquadravam aos costumes care-
saudar “Pena Branca”, quase sempre o único
homem preto na redação e o único com co-
ragem de ir ao submundo para contar ao lei-
tor. Que sejam reeditados seus retângulos

N o Dia da Consciência Negra, eis o “Pena

Branca”. Octávio Ribeiro foi o mais es-
petacular repórter de polícia da imprensa
língua de Guimarães Rosa. Veja se não:
“Em 1959”, escreveu num livro, “eu mo-
nologava com Pitágoras, era um Pai Tomás
tas dos manuais de redação. Reescreviam tu-
do, os otários. Hoje “Pena Branca” está no pan-
teão do Jornalismo Literário.
de capa dura, as páginas onde o jornalismo
investigativo encontrava-se com o portu-
guês delicioso inventado por ele.
brasileira. Ganhou o apelido porque, desde numa cabana bancária. Nunca havia curti- “Deixa disso, ô Piroca”, já o ouço dizendo, “Cursei o vestibular dos mistérios”, escreveu
a adolescência, tinha uma mecha de cabelo do um cadáver gargalhando no Instituto usando a forma com que carinhosamente, num livro. “Entrevistei maquiavélicos, oculei
branco no topete. Era mulato. Médico Legal. Um ano após grudei o bum- sem distinção de sexo, chamava os colegas. germes histéricos disputando as frisas e os ca-
Ex-bancário, apenas o primário completo, bum na seção policial da Última Hora. Fui Eu sou um desses marotes do cemitério. Enfrentei os eruditos
começou na imprensa na virada para os 1960, escalado na ponta esquerda do Banho de OCTÁVIO RIBEIRO “pirocas” encanta- dos crimes, mergulhei nas calamidades públi-
um tempo em que os bandidos ainda eram ro- Sangue Futebol Clube. A minha primeira FOI O MAIS dos pela sua obra e cas e prefaciei a comédia da vida. Não curti os
mânticos e um repórter como ele se antecipa- missão: gravar as risadas da presuntada ho- ESPETACULAR guardo na memória condimentos mágicos da literatura, apenas
va à polícia. Subia o morro, falava com a ma- rizontal e as transas dos pêsames perfuma- a exuberante verve colei as consoantes nas vogais, e tentei separar
landragem e na hora de escrever misturava o dos com formol”. REPÓRTER que me servia no ca- obem do mal como as grades separam o bandi-
vocabulário dessa turma com um experimen- Octávio “Pena Branca” Ribeiro merece DE POLÍCIA fezinho de nossa do do policial. Tricotei minhas minhocas”.
talismo que, sem ele ter essa intenção, roçava a estar ao lado de João do Rio, Lima Barreto e DO BRASIL temporada na sucur- O “piroca” tinha muito estilo.

GABRIEL DE PAIVA/18-11-2023
céu aberto previstos para
anteontem, a partir das 16h.
Refresco. Público sofre com A decisão não atingiu shows
calor na entrada do Engenhão privados, como o do grupo
no sábado, dia em que Taylor mexicano RBD, no Allianz
Swift adiou seu show para hoje Parque, que foi realizado
mesmo sob chuva.
Vale lembrar que a apre-
sentação de sábado no Rio
não foi a primeira que Tay-
lor Swift precisou adiar na
América do Sul este ano por
conta de condições climáti-
cas adversas. Em 10 de no-
vembro, a americana iria fa-
zer seu segundo show em
Buenos Aires, mas remar-
cou para o dia 12 devido a
uma forte tempestade na ca-
pital argentina, decisão que
pegou muitos fãs de surpre-
sa na fila, exatamente como
aconteceu no Rio.
Enquanto fãs cariocas se
lamentavam o adiamento
anunciado por Taylor, do
outro lado da Baía de Gua-
nabara outro show era
cancelado por fortes chu-
vas e ventania. O palco em
que a cantora Marisa Mon-
te se apresentaria anteon-
tem à noite, na Praia de
Icaraí, em Niterói, desa-

EXTREMOS
DIVULGAÇÃO
NELSON GOBBI bou após o temporal que
nelson.gobbi@oglobo.com.br
caiu na Região Metropoli-

S how de Taylor Swift tana do Rio, com ventos

CLIMÁTICOS
transferido por onda de que chegaram a 137 quilô-
calor no Rio, apresentação metros por hora. Por conta
de Marisa Monte adiada de- das chuvas na tarde de on-
pois que fortes chuvas fize- tem, a apresentação que

ALTERAM
am ruir o palco em que ela uniria Barão Vermelho e
cantaria em Niterói e 55 Detonautas também foi
eventos a céu aberto em São cancelada. Segundo a Pre-

CALENDÁRIO
Paulo cancelados por conta feitura de Niterói, os
da previsão de temporais e shows deste fim de semana
vendaval. serão reagendados, mas
Os extremos climáticos ainda não há data. As apre-

CULTURAL
atingiram diretamente a sentações de Teresa Cristi-
programação cultural das na e Alcione, marcadas
principais capitais do país respectivamente para sá-
neste fim de semana, assim bado e domingo, ainda não
como já havia acontecido DIAS COM TEMPERATURA RECORDE estão confirmadas.
em outros eventos nacio- O DJ MAM estava no pal-
nais como Doce Maravilha, E TEMPORAIS TÊM IMPACTO DIRETO co que desabou e chegou a
Tomorrowland e Rep Festi- EM GRANDES EVENTOS E FORÇAM iniciar sua apresentação,
val. Outro exemplo é o Bur- que antecederia à de Marisa
ning Man, evento de inova- MUDANÇAS, COMO ACONTECEU Monte. Alertado do risco,
ção que ocorre todo ano em COM SHOWS DE TAYLOR SWIFT E parou instantes antes da
uma região árida no estado queda da estrutura, que
de Nevada, nos EUA, e que MARISA MONTE NO FIM DE SEMANA Acidente. Palco em que Marisa Monte estaria em Niterói ruiu com temporal ocorreu com área já isolada;
teve sua edição de 2023 pre- não houve feridos.
judicada por chuvas em ple- Ana Benevides, fã de 23 anos para hoje, segundo nota de Além disso, os grandes fes- ponibiliza estações de água — Estava me sentindo
no deserto. Com as mudan- que estava no show, perdeu a Taylor, “por causa da tempe- tivais têm disponibilizado e estabeleceu a norma de, seguro no palco, já tinha
ças do clima no Brasil e no consciência e morreu de ratura extrema no Rio”. as chamadas “ilhas de hidra- nos dias de calor, distribuir saudado as forças da natu-
mundo se acelerando, estas causa ainda não determina- A julgar pelas previsões tação” — cobradas, inclusi- bebida na fila de entrada e reza, nossos orixás, como
situações podem pode se da. A produtora responsá- dos cientistas, temperatu- ve, nas manifestações de vá- para os fãs na grade dos pal- sempre faço. Depois o ven-
tornar cada vez mais cons- vel, Time for Fun (T4F), foi extremas seguirão fre- rias autoridades após a mor- cos. Casas de show no Bra- to começou a aumentar,
tantes, e já exige adaptações criticada por não permitir a quentes. Isso fez com que te de Ana Benevides. sil, no entanto, não costu- mas como o som estava al-
dos realizadores de eventos. a entrada de recipientes festivais como o Lollapalo- O Lollapalooza passou a mam ter distribuição de to não percebi que estava
com água no Engenhão e, oza, realizado em vários disponibilizar bebedouros água nem bebedouros. tão forte. Nisso, falam para
ÁGUA PARA TODOS após uma portaria do Minis- países, há alguns anos já com água gratuita e distri- a gente sair dali rápido. Ti-
O caso mais grave deste fim tério da Justiça e cobranças permita entrar com água, buição de recipientes apro- TEMPESTADES NO LINE-UP rei os músicos, convidados
de semana aconteceu na es- de várias autoridades, anun- desde que em copo plásti- priados, medida também A possibilidade de tempes- e técnicos do palco e, mo-
treia da turnê de Taylor no ciou que permitiria o ingres- co lacrado e em quantida- tomada pelo Primavera tades com rajadas de vento mentos depois, ele desaba
Brasil. Na sexta-feira, dia so de “copos de água de uso de limitada. Já o Rock in Sound, cuja próxima edição acima de 60 km/h no interi- — relatou o DJ MAM. —
em que o Rio bateu recordes pessoal, garrafas flexíveis e Rio e a sua versão paulista- vai acontecer no Autódro- or, no litoral e na Grande Tudo isso mostra que a cri-
de temperatura e os bom- alimentos lacrados industri- na, o The Town, permitem mo de Interlagos, em São São Paulo também levou a se climática é uma realida-
beiros registraram mais de alizados”. De toda forma, o garrafas plásticas com Paulo, nos dias 2 e 3 de de- prefeitura da capital paulis- de. Temos que repensar to-
mil desmaios no Engenhão, show de sábado foi adiado água, mas sem tampas. zembro. Já o Rock in Rio dis- ta a cancelar 55 eventos a dos os protocolos.

OGLOBO | Segunda-feira 20.11 .2023
ESPECIAL
DIVERSIDADE
IDENTIDADE
EM BUSCA DE
VISIBILIDADE
Apesar do avanço do debate sobre a
desigualdade racial, há espaços onde o
acesso dos negros é ainda mais restrito
N
um dia convidativo à
reflexão como o da
Consciência Negra,
é impossível não
pensar sobre a desi-
gualdade racial no
mundo do trabalho
e dos negócios. Até
mesmo porque não faltam estatísticas
mostrando a correlação entre renda e
cor da pele, além da presença reduzida
de uma parcela majoritária da popula-
ção brasileira onde estão os melhores
Professora antirracista. salários e oportunidades, o que é plena-
Concursada após a mente visível sem os dados.
lei de cotas no setor Nos últimos anos, a luta por diversi-
público, Roberta dade racial pautou um intenso debate
Nascimento defende nas grandes empresas, que foram
ações afirmativas: “Como pressionadas a adotar políticas de in-
falar em igualdade se nem clusão. Houve avanços, mas a desi-
todos têm as mesmas gualdade salarial persiste, assim co-
oportunidades?” mo a baixa representatividade de pre-
FABIO MOTTA
NO TOPO SERVIÇO PÚBLICO
Mulheres negras Cota abre espaço,
furam a bolha do mas não altera
setor financeiro
PÁGINA 2
desigualdade
PÁGINAS 4 e 5
tos e pardos em alguns espaços cobi-
çados, inclusive no setor público. Ali,
a transformação é mais lenta.
As interseções entre racismo e ma-
chismo excluem, por exemplo, as mu-
lheres negras do imaginário coletivo
sobre quem toma decisões na cúpula
das grandes empresas ou nas mais al-
tas Cortes da Justiça. Mas elas existem
e começam a usar sua identidade para
romper a invisibilidade e abrir cami-
nho para outras. Neste caderno espe-
cial, você conhece as histórias de algu-
mas delas, assim como as de pessoas
negras que conquistaram um lugar no
serviço público após a lei de cotas em
concursos. Atraídos pela estabilidade
e os salários mais altos que a média,
muitos se veem solitários ali dentro.
Prestes a completar dez anos e ser revi-
sada, a lei ainda não conseguiu dar a
cor do Brasil à burocracia do país.
2 |
I nvestidor-anjo é aquele dis-
posto a ouvir empreendedo-
res e a financiar suas ideias
inovadoras, geralmente to-
mando um risco alto para via-
bilizar um negócio do qual sai-
rá com uma boa fatia do retor-
no financeiro lá na frente, se
tudo der certo. A atenção de al-
guém que pode tomar esse ti-
po de decisão é sempre dispu-
tada por quem, por exemplo,
busca capital para viabilizar
uma startup. Mas, se o anjo for
uma mulher negra, é capaz de
ela passar despercebida diante
de empreendedores ávidos
por investimentos.
Nos últimos anos, o ambien-
te corporativo apertou o passo
na pauta da diversidade racial,
particularmente nos andares
mais baixos das organizações.
Mas há espaços de poder em
duas pontas do mundo dos ne-
gócios que ainda são marcados
pela predominância branca e
masculina: o dos que decidem
quem vai receber investimen-
tos e financiamentos e o de
quem define onde as empre-
sas vão aplicar recursos. Não
se espera uma mulher negra
nessas instâncias porque elas
são muito poucas mesmo.
Mas elas existem e, depois que
conseguem furar esse teto de
vidro, empenham-se em usar
sua identidade para sair da in-
visibilidade, inspirar novas ge-
rações e abrir as portas para
outras profissionais como elas.
Dos oito mil investidores-
anjos mapeados no Brasil,
16% são mulheres, e 3% se de-
claram negros, segundo dados
da organização Anjos do Bra-
sil. A pesquisa “Panorama Mu-
lheres 2023”, da consultoria
Talenses Group, identificou só
2,4% de mulheres pretas em
conselhos de administração
de companhias. No “Perfil dos
CFOs no Brasil 2023”, organi-
zado por Insper e Assetz Ex-
pert para traçar um quadro dos
diretores financeiros de em-
presas, nada menos que 87%
nessa posição são do sexo mas-
culino, sendo 90% autodecla-
rados brancos, e 7,2% pardos.
Somente 1,2% é preto, e outro
1,2% classifica-se como ama-
relo, de origem asiática.
—Há sim uma invisibilida-
de da população negra no
mundo das finanças, como
também não há fomento ao
desenvolvimento de carreira
desses profissionais. Mesmo
quem já está no mercado não
consegue alcançar posições
mais altas sem anular o diálo-
go de diversidade — observa
Nina Silva, CEO do movimen-
to Black Money, que estimula
negócios liderados por pesso-
as negras. —Não podemos es-
quecer que o mercado finan-
ceiro hoje é basicamente um
quarto poder, influencia ações
públicas e a política fiscal do
país. Precisamos que tenha ou-
tra visão sobre como reger e
impactar nossa sociedade.
INVESTIMENTOS DE RISCO
Estimular uma visão mais in-
clusiva no setor financeiro
tem sido um dos pilares da
BlackWin, primeira platafor-
ma digital para apoiar mulhe-
res negras que querem ser in-
vestidoras-anjos. Se empreen-
dedores não sabem onde estão
essas mulheres com capital
para investir, a tecnologia faz a
ponte. Apresenta novas fontes
de capital para negócios e pre-
para mulheres negras bem-su-
cedidas para assumir mais ris-
co e multiplicar seu patrimô-
nio. Com 23 associadas, a
BlackWin já fez uma rodada
de investimentos, de R$ 400
mil, com aporte recebido pela
Gestar, uma empresa de servi-
ços ligados à maternidade.
Recentemente, a BlackWin
lançou uma cartilha intitulada
“Investimentos inteligentes
em diversidade”, que ajuda
agentes econômicos a enten-
derem como “transversalizar”
EXECUTIVAS NEGRAS
FURAM BOLHAS NAS
FINANÇAS E NO TOPO
DAS COMPANHIAS
A baixa representatividade de mulheres e negros no mercado de
capitais e na cúpula das empresas estimula iniciativas para acelerar
processos de diversidade nesses espaços decisivos do setor privado
Capital. Luana Ozemela, da BlackWin, quer estimular investidoras negras
aquestão racial no processo de
investimento e fortalecer a go-
vernança de fundos e gestoras
de ativos para que tenham
equipes mais diversas, atentas
anovas oportunidades.
—Não adianta só ter analis-
tas negros, é preciso que haja
mudança nos processos de
busca de empresas (a serem
investidas), de monitoramen-
to do investimento até o equity
(aporte financeiro). Diversi-
dade no corpo de pessoas vem
evai. O que queremos é que os
processos mudem e deixem
DIVULGAÇÃO
um legado de transformação
— diz Luana Ozemela, uma
das fundadoras da BlackWin
que já foi executiva de multi-
nacionais e recentemente se
tornou vice-presidente de Im-
pacto Social no iFood. — Ain-
da temos um grande percurso
porque as mulheres negras
ocupam poucas posições de C-
level (de diretoria) e tomada
de decisão. Enquanto não con-
seguirmos alocar capital, não
teremos impacto em escala.
Mesmo com todo o debate
sobre diversidade no setor cor-
porativo, as fotos dos times da
Faria Lima, centro financeiro
de São Paulo, quase não mos-
“Diversidade tram mulheres e negros. Mas
no corpo de em um dos escritórios ali, Fer-
pessoas vem nanda Ribeiro assume o prota-
e vai. O que gonismo. Em maio, ela trocou
queremos o cargo de diretora de Opera-
é que os ções da Conta Black pelo de
processos CEO, substituindo Sérgio All,
mudem e seu sócio e marido que dirigia
deixem um afintech desde a fundação, em
legado de 2017. Ele cuida da inovação da
transfor- empresa enquanto ela lidera.
mação” —Já era algo previsto. Ser
_ uma mulher à frente de uma
Luana empresa financeira é simbóli-
Ozemela, co e ao mesmo tempo desafia-
cofundadora dor —reage a executiva.
da BlackWin Não foi à toa que a empresa
se mudou para o distrito pau-
“Todas as listano mais disputado no
estatísticas mercado de capitais. A startup
de alta financeira nasceu de uma con-
liderança ta digital que se propõe a de-
nos colocam mocratizar o acesso a serviços
em traço. bancários de negros e periféri-
Resolvemos cos (muitos empreendedo-
focar nesse res), historicamente negligen-
lugar ciadas pelos bancos tradicio-
corporativo nais. Agora ingressa no dispu-
onde esse tado ramo dos investimentos.
processo de Mesmo distante da Faria Li-
invisibilidade ma, diversidade racial ainda
é muito cruel” não é o forte dos conselhos
_ de administração, a instân-
Jandaraci cia mais importante das
Araújo, grandes companhias. É
conselheira outra área com mu-
de empresas danças lentas. Por is-
so entidades empre-
sariais e voluntárias
se unem para ace-
lerar a mudança. É
praticamente um
consenso na re-
tórica das empre-
sas que diversi-
dade é bom para
DIVULGAÇÃO
Segunda-feira 20 .11 .2023 | OGLOBO
EDILSON DANTAS
os negócios, reduz riscos, gera
mais inovação e mais lucros.
No entanto, nos colegiados
À frente.
Fernanda
Ribeiro assumiu
responsáveis pelas decisões es- a direção da
tratégicas das companhias, Conta Black, no
quase 90% dos integrantes são lugar de Sérgio
homens. Os brancos são 95%, All: “Ser uma
segundo a última pesquisa do mulher à frente
Instituto Brasileiro de Gover- de uma empresa
nança Corporativa (IBGC) financeira é
com as 500 maiores empresas. simbólico e
desafiador”
FORMAÇÃO PARA COLEGIADOS
A entidade tem dois progra-
mas de preparação de mulhe-
res e negros para conselhos e
apoia o Conselheiras 101, que
já formou quatro turmas de
executivas negras e indígenas
para o topo das organizações.
Na última, houve mais de 400
inscritas para 40 vagas.
—Foi a parte mais difícil,
dizer “não” para uma mulher
negra que leva tantos “nãos”
sempre — conta Jandaraci
Araújo, cofundadora do pro-
grama e atuante em colegia-
dos de várias organizações,
que observa um traço co-
mum nas candidatas (exige-
se no mínimo dez anos de ex-
periência corporativa): inse-
gurança, medo de se expor.
—Trabalhamos para que ela
se entenda como potência
para trazer novas possibilida-
des à sua carreira.
Para quem questiona a ne-
cessidade de um programa só
para mulheres negras, ela tem
resposta na ponta da língua:
—Sempre existiu programa
para mulheres, mas nunca pa-
ra nós, que somos a maioria da
população e não estamos em
lugar nenhum. Todas as esta-
tísticas de alta liderança nos
colocam em traço. Resolve-
mos focar nesse lugar corpora-
tivo onde esse processo de in-
visibilidade é muito cruel.
Abrir portas.
Jandaraci Araújo
foi de pequena
empreendedora
a executiva e
ajuda outras
mulheres negras
no mundo
corporativo
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023
NO MESMO CARGO, SALÁRIO É MENOR
Nos últimos três anos, a cobrança de alinhamento entre discurso e prática antirracista estimulou programas de diversidade
nas empresas, mas as oportunidades abertas aos negros não alteraram a desigualdade salarial em relação aos brancos
E m 2020, o caso George
Floyd (cidadão negro asfi-
xiado até a morte por um poli-
cial nos EUA) impulsionou
tanto a luta antirracista no
mundo que abalou até os am-
bientes corporativos. Opinião
pública, ativistas, consumido-
res, empregados e investido-
res aumentaram a pressão so-
bre empresas para exigir diver-
sidade nas organizações, in-
clusive no Brasil. A partir daí,
houve uma enxurrada de pro-
cessos seletivos focados na in-
clusão de negros nos quadros
das companhias, incluindo
programas de trainees só para
negros e seleção de executivos
pretos ou pardos para cargos
de liderança. Três anos após
polêmicas e compromissos
corporativos à luz do S da sigla
ESG (que resume ações ambi-
entais, sociais e de governança
em empresas), as novas opor-
tunidades abertas a profissio-
nais negros no Brasil ainda não
reduziram a desigualdade ra-
cial na remuneração.
Na mesma função, negros
ainda ganham menos que
brancos, aponta um levanta-
mento do portal de recruta-
mento Vagas que evidencia a
correlação entre cor da pele e
salário. Em média, pardos ga-
nham 9% menos que profis-
sionais equivalentes bran-
cos. A distância é ainda mai-
or entre pretos e brancos:
16%. Entre os negros, pretos
recebem 9% menos que mes-
NO SETOR PRIVADO, RENDA AINDA É DESIGUAL
Médias salariais de pretos e pardos são menores que as de brancos nas mesmas funções
Nível do Média geral
cargo (CONSIDERANDO
TODAS AS ETNIAS)
Operacional 1.496,16
Técnico 3.111,12
Estagiário 1.366,51
Trainee Júnior 2.054,74
Profissional pleno 3.178,42
Profissional sênior 4.805,50
Coordenador ou supervisor 3.760,31
Gerente 5.321,88
Diretor 15.625,05
Fonte: Portal Vagas
tiços, de pele mais clara.
— Quando profissionais
brancos e negros têm qualifi-
cações semelhantes, os pri-
meiros ganham mais que os
segundos para executarem as
mesmas tarefas, o que de-
monstra preconceito estrutu-
ral no ambiente corporativo
—diz Renan Batistela, especi-
alista em Diversidade, Equi-
dade e Inclusão no Vagas.
Os dados foram colhidos
para O GLOBO no banco de
dados da plataforma, mas
pesquisas do IBGE já aponta-
ram o tamanho dessa discre-
pância no país. O estudo “De-
sigualdades Sociais por Cor
ou Raça no Brasil”, divulgado
em 2022, estimou que, entre
pessoas com nível superior, o
Remuneração média (em R$)
Brancos Pardos Pretos
1.712,37 1.592,56 1.540,00
3.265,43 3.053,24 2.976,90
1.488,99 1.402,13 1.389,29
2296,22 2.067,38 2.019,92
3.768,01 3.211,91 3.047,82
5.747,82 4.427,92 4.135,13
4.864,40 3.691,50 3.372,25
6.769,55 4.441,25 3.905,03
16.597,85 16.125,67 14.151,62
EDITORIA DE ARTE
rendimento médio por hora econômica devido à crise sani-
dos brancos é cerca de 50% tária, e as mulheres negras fo-
superior ao dos pretos. A van- ram muito afetadas. A taxa de
tagem cai para cerca de 40% participação delas antes da
em relação aos pardos. pandemia era de 54%. Isso
quer dizer que, a cada dez mu-
MULHER NEGRA ESTAGNADA lheres em idade ativa, cinco es-
Antes da pandemia, um estu- tavam no mercado de traba-
do da economista Janaína Fei- lho. Na pandemia, a taxa foi
jó, pesquisadora do FGV Ibre, para 45,6%. Depois de três
com base nos microdados da anos, a economia praticamen-
Pesquisa Nacional por Amos- te já se recuperou, mas a parti-
tra de Domicílios Contínua, cipação das mulheres negras
do IBGE, referentes ao quarto não voltou ao patamar pré-Co-
trimestre de 2019, e da Rais vid (está em 50,9%). Estamos
(que registra empregos for- desperdiçando talentos.
mais), calculou que mulheres Nas consultorias de RH,
negras ganhavam 27% menos quem está na linha de frente
que homens brancos no mes- da intermediação entre em-
mo papel. Desde então nada presas e candidatos tem a di-
mudou, diz Feijó: mensão das barreiras.
— Tivemos uma recessão —O mercado corporativo
tem falado muito de contra-
tação, desenvolvimento e re-
tenção (de profissionais ne-
gros). Mesmo sabendo que
há questões mais camufla-
das. Por exemplo, a partir do
momento em que o funcio-
nário está lá e tem o mesmo
tempo de empresa, ele tem
ou não a mesma remunera-
ção? E geralmente o negro
ganha menos. Isso é dramáti-
co — diz Liliane Rocha, CEO
da consultoria de diversida-
de Gestão Kairós.
A questão começa na porta
de entrada. Patrícia Santos,
fundadora da EmpregueAfro,
uma das primeiras consulto-
rias de RH do Brasil focada
em diversidade étnico-racial,
conta que algumas pessoas
negras que participam de pro-
cessos seletivos denunciam
vagas afirmativas que pagam
menos que as de ampla con-
corrência. Como há uma mar-
gem de variação salarial em
uma mesma função nas em-
presas, o recrutador opta por
oferecer o mínimo ao candi-
dato negro, que já vem do
mercado ganhando menos,
explica Leizer Pereira, dire-
tor-executivo da Empodera,
plataforma que recruta e pre-
para jovens para ações afirma-
tivas no setor privado:
— Já houve um caso de
uma seleção para vaga de al-
ta liderança com salário de
R$ 40 mil em que a melhor a
candidata ganhava R$ 20
| 3
mil na empresa onde traba-
lhava na época. Ela merecia
o salário maior, mas não
chegou lá antes por conta do
machismo e do racismo es-
trutural. Não é certo ofere-
cer salário menor.
AVALIAR PARA APERFEIÇOAR
E como mudar isso? Para Pe-
reira, o primeiro passo das em-
presas deve ser parar e avaliar
os programas de diversidade
adotados até agora e definir
ações de aperfeiçoamento:
—A empresa precisa fazer
um diagnóstico, investigar se
há diferença salarial entre ho-
mens e mulheres e entre ne-
gros e brancos. A partir daí, é
fazer a correção mesmo, com
promoções e programas de
aceleração de carreira. Se a li-
derança prioriza, a diferença
salarial tem que virar indica-
dor da empresa a ser reduzido.
Para Patrícia, da Empregue-
Afro, as companhias precisam
se comprometer com remu-
neração justa e igualitária para
empregados negros e seguran-
ça psicológica para que eles se
desenvolvam no trabalho:
—Quanto mais o negro con-
seguir oportunidades e for re-
munerado de forma adequa-
da, como a outra metade da
população, mais dinheiro inje-
ta na economia e mais trans-
formações acontecem. País e
empresas só têm a ganhar com
mais lucro, inovação e respon-
sabilidade social.
4 |
CONCURSO
MUDA VIDAS,
MAS NÃO A
ESTRUTURA
Profissionais negros que conquistaram
um lugar no serviço público após a lei de
reserva de vagas sentem falta de pares
O mito da democracia raci-
al, que pairou sobre a so-
ciedade brasileira por déca-
das, tem sido questionado nos
últimos anos diante de con-
tradições visíveis como a falta
de correspondência entre a
proporção de 56% de negros
(pretos e pardos) autodecla-
rados na população brasileira,
segundo o IBGE, e o espaço
que ocupam no mercado de
trabalho. Nos últimos anos,
esse tema atravessou o setor
privado, com a diversidade
nas empresas empurrada pe-
lo escrutínio da sociedade. No
entanto, esse também é um
desafio do setor público, onde
oconcurso se apresenta como
um instrumento de democra-
tização do acesso a posições
cada vez mais cobiçadas pela
remuneração acima da média
e a estabilidade, mas não eli-
mina a desigualdade racial.
Ainda que concursos públi-
cos tenham sido o veículo de
ascensão social de muitos pro-
fissionais negros — contor-
nando obstáculos como o viés
estruturalmente racista de in-
dicações e entrevistas de ad-
missão no setor privado —, da-
dos mostram que a sub-repre-
sentação negra também está
na administração do Estado.
No Executivo federal, por
exemplo, quase 40% eram
pretos e pardos no ano passa-
do, segundo os dados mais atu-
alizados do Ipea, mas o funcio-
nalismo é mais negro na base e
mais branco no topo, onde es-
tão os salários mais altos. A si-
tuação não é muito diferente
em estados e municípios, a
não ser pela falta de dados pre-
cisos sobre o perfil étnico dos
servidores públicos no país.
Para corrigir essa distorção,
foi instituída, em 2014, a reser-
va de 20% das vagas em con-
cursos para profissionais ne-
gros, mas, quase dez anos de-
pois e às vésperas de a legisla-
ção ser revista, pouco mudou
na diversidade racial das car-
reiras federais. E um dos moti-
vos foi a realização de poucos
concursos nesse intervalo,
destaca Luiz Augusto Cam-
pos, um dos coordenadores do
Grupo de Estudos Multidisci-
plinares da Ação Afirmativa,
(Gemaa), da Uerj. Em 2014,
foram 279 seleções. Em 2020,
por exemplo, apenas sete.
AVANÇO ESTAGNADO
E mesmo nas poucas seleções
que saíram do papel, a aprova-
ção de brancos é bem superi-
or à de pretos e pardos (veja no
quadro). Ainda que o percen-
tual de negros ingressantes
tenha saído dos 29% anterio-
res à lei para 35% nos anos se-
guintes, o que pode ser obser-
vado hoje é uma estagnação
em pouco mais de 40%.
—Podemos ver que a reser-
va de vagas funcionou parcial-
mente ao longo desses dez
anos. As cotas serviram para
colocar o tema em debate, mas
estão longe de garantir a pleni-
tude do acesso —diz Campos.
Como previsto na lei origi-
nal (a exemplo da reserva de
vagas em universidades), as
Segunda-feira 20 .11 .2023 | OGLOBO
FOTOS DE FABIO MOTTA
cotas no serviço público de-
vem ser avaliadas e revistas em
2024. O Ministério da Gestão
e Inovação (MGI) já indicou a
intenção de aumentar de 20%
para 30% a reserva de vagas
nas seleções e pretende fazer
isso por meio do projeto de lei
que prorroga a política afirma-
tiva por mais uma década, que
tramita no Senado. O texto do Realização e solidão. Anderson Junior encontrou no INSS segurança pessoal. Na UFF, Luciana Basílio vê poucos negros e teme ser confundida sem o crachá
senador Paulo Paim (PT-RS)
ainda tem de passar por comis- dade não será mitigado.
sões da Casa e ser chancelado EQUIDADE DISTANTE A estabilidade foi decisiva
PRETOS E
pela Câmara para ser sancio- Apesar da reserva da lei de cotas em concursos a BRANCOS
PARDOS para a psicóloga Luciana Basí-
nado pelo presidente Lula. O partir de 2014, a participação de pretos e pardos no lio, de 46 anos, trocar a clínica
OUTROS (INDÍGENAS,
governo espera que isso acon- funcionalismo federal não avançou AMARELOS, NÃO INFORMADO) privada pelo atendimento ao
teça antes da realização do público como servidora da
Concurso Nacional Unifica- Evolução da distribuição por raça dos funcionários públicos ativos no Executivo federal Universidade Federal Flumi-
do, no ano que vem, uma es- 2000 2014 2022 nense (UFF), em Niterói. Mas
pécie de “Enem dos concur- 229 mil 262 mil 324 mil
O avanço tímido se o contraste entre sua transfor-
sos” que tem entre os objetivos 50% 52% 57%
deve, entre outros mação pessoal viabilizada pelo
reforçar a aplicação das cotas fatores, ao
reduzido de
número concurso e a presença reduzi-
em diferentes órgãos federais. Total: Total: Total: concursos desde da de outros negros na mesma
— O objetivo é fazer com 450 mil 500 mil 567 mil 2014. Nos poucos posição deixa a psicóloga des-
realizados, houve
que efetivamente mais ne- maior ingresso de confortável, sentindo-se mui-
gros e negras tenham acesso brancos que tas vezes invisibilizada:
ao serviço público. A lei está 75 mil 146 mil 28,5 mil 209 mil 17 mil 226 mil negros — Nos atendimentos que
17% 33% 6% 42% 3% 40%
sendo efetiva. O índice mais presto, as pessoas demons-
alto de ingresso de negros an-
tes das cotas é inferior ao mais
279 Foi o número de concursos
realizados em 2014 7Foi o número de concursos
realizados em 2020
tram surpresa quando me ve-
em. Uso crachá durante toda a
baixo após a lei. Meu projeto Concursados que ingressaram em cargos federais entre 2014 e 2020 minha jornada de trabalho pa-
visa a aumentar o prazo dessa ra não ser confundida.
mitigação na discriminação Assistente administrativo Administrador
de negros no acesso ao funci- 5.019 493 DO ‘SONHO’ À ‘REFERÊNCIA’
onalismo —defende Paim. 1.271 88 Lorrane Canta, de 29 anos,
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000
descreve a posse como bióloga
‘SOU ÚTIL À SOCIEDADE’ 0 100 200 300 400 500 do Instituto Chico Mendes de
Anderson Junior, de 26 anos, Policial Rodoviário Federal Técnico de seguro social Conservação da Biodiversida-
descobriu que o serviço públi- 763 226 de (ICM-Bio), há um ano, co-
co poderia ser uma forma de 176 157 mo “um sonho”, mas sabe que
ascensão social ainda aos 16, o acesso ainda não é simples
quando conseguiu uma vaga 0 100 200 300 400 500 600 700 800 0 50 100 150 200 250 para outras mulheres negras:
de aprendiz na Caixa Econô- —Vivo a sensação inexplicá-
mica. Observando os concur- Agente de Polícia Federal
Acesso restrito
é evidente nas 35 10 vel de quem está realizada
sados do banco estatal, ficou 588 não têm nenhum têm mais de 1%
com o que faz, mas sinto que
atraído pela estabilidade que 100 65
universidades
professor negro
ingresso por
do corpo
docente essa posição me faz referência
não via no setor privado. Dez federais
cota em formado por para outras mulheres negras
anos depois, está completan- 0 100 200 300 400 500 600 concurso cotistas
que ainda não chegaram aqui.
do cinco meses num posto de A média salarial dos funcionários A disparidade salarial é grande, mesmo entre funcionários Essas sensações aparecem
gerência do INSS em Niterói, públicos negros ainda é bem públicos de mesma escolaridade (em R$) no relato de pessoas negras
conquistado depois de muito menor que a dos brancos (em R$) ENSINO SUPERIOR ENSINO MÉDIO aprovadas em outros níveis de
estudo para o concurso, que 2000 5,9 mil 2000 7,2 mil 5,0 mil governo e nas estatais, que
reservou 20% das vagas para 4,4 mil 6,3 mil 4,1 mil também adotaram cotas nos
negros como ele. Além de se 4,6 mil 7,0 mil 3,9 mil últimos dez anos. A professora
sentir mais seguro em relação Roberta Nascimento, de 40
ao futuro, diz ter se apaixona- 2014 8,4 mil 2014 9,9 mil 5,7 mil anos, passou no concurso da
do pelo serviço público. 6,6 mil 8,1 mil 4,8 mil rede municipal de ensino do
—Desde muito novo eu no- 6,9 mil 9,2 mil 4,9 mil Rio em 2016, após a capital flu-
tava a diferença de qualidade minense adotar a mesma po-
de vida entre servidores públi- 2022 9,2 mil 2022 10,1 mil 5,5 mil lítica de cotas do governo fede-
cos e trabalhadores da iniciati- 6,7 mil 7,9 mil 4,2 mil ral. Ela dá aulas de Geografia
va privada. Minha posição atu- 7,5 mil 9,4 mil 4,8 mil numa escola de ensino funda-
al fez eu me sentir extrema- mental da Zona Norte do Rio.
mente útil —diz. —Hoje, vejo Pessoas em cargos Pessoas em cargos Pessoas em cargos Para a educadora, a estabilida-
A desigualdade salarial DAS-1 em 2022 DAS-3 em 2022 DAS-6 em 2022
minha função na sociedade está ligada principalmen- de do serviço público signifi-
como extremamente impor- te ao menor acesso dos
cou uma conquista pessoal e
tante. A sensação de voltar pa- negros a cargos de 1.151 1.652 195 também deu as bases para ela
ra casa e saber que ajudei uma chefia, que pagam se desenvolver na profissão.
pessoa idosa a se aposentar, gratificações do tipo 702 815 40
Ela se vê como uma possível
por exemplo, é indescritível. DAS, que têm seis níveis inspiração para que outras
Assim como as cotas em uni- pessoas negras ingressem no
versidades, a reserva de vagas 181 138 11 serviço público. E busca dar
em concursos públicos foi Fontes: Ipea, República.org, Enap EDITORIA DE ARTE
sua contribuição dedicando-
questionada junto ao Supre- se a projetos de letramento ra-
mo Tribunal Federal (STF). R$ 9,2 mil enquanto a de pre- gos de nível superior eram pre- cotas provocaram alterações cial e educação antirracista na
Foi considerada constitucio- tos e pardos está na casa dos R$ tos ou pardos. Nas posições do visíveis, mas o setor público escola pública, onde há mui-
nal pela Corte em 2017, quan- 6,7 mil, uma diferença de 27% nível DAS-6, havia apenas 11 precisa direcionar melhor su- tos estudantes negros, ela diz.
do o relator da ação, ministro ou de R$ 2,5 mil, que aumen- negros em 2022. Neste ano, as ações afirmativas para ter —Como falar em processo
Luís Roberto Barroso, definiu tou. Em 2014, era R$ 1,8 mil. um decreto federal reservou uma mudança estrutural: seletivo igual se nem todos
ainiciativa como parte de “um Entre servidores com a mes- 30% dos cargos comissiona- —Provocamos alterações na têm as mesmas oportunida-
dever de reparação histórica ma escolaridade há desigual- dos para pretos e pardos. vida de diversas pessoas indivi- des? A equidade tem a função
decorrente da escravidão”. dade salarial. Pretos e pardos O MGI e o Ministério da dualmente, mas ainda é frus- de ajustar essas diferenças. En-
O acesso de negros ao servi- têm participação reduzida nas Igualdade Racial informaram, trante olhar os números como quanto as pessoas não reco-
ço público não é o único pro- carreiras mais prestigiadas e em nota, que investem na for- um todo. É preciso continuar, nhecerem seus privilégios, va-
blema. Uma vez lá dentro, pre- nos cargos comissionados mação de lideranças negras para que a entrada de mais ne- mos ter essa discussão sobre
tos e pardos têm mais dificul- (DAS). Em 2020, segundo le- para reduzir disparidades sala- gros no serviço público inspire cotas. Não queria que existisse
dades de alcançar postos de li- vantamento do Instituto Re- riais no serviço público. outros e, assim, essa transfor- cota, mas também não queria
derança, com gratificações. A pública.Org na base de dados Para a cientista política Va- mação seja acelerada. Sem po- que existisse desigualdade.
média salarial líquida dos ser- do governo federal, apenas nessa Campagnac, gerente de líticas em diversos setores, o Enquanto a segunda existir a
vidores brancos é de cerca de 27,3% dos ocupantes de car- Dados do República.Org, as processo histórico de desigual- primeira deve existir também.
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023
A dotadas no Executivo fe-
deral, as cotas raciais nos
concursos para entrada no
serviço público avançam em
ritmo bem lento nos outros
níveis de governo, Brasil afo-
ra. É o que mostra uma pes-
quisa do Movimento Pessoas
à Frente (entidade dedicada
à formação de pessoas que
atuam no setor público) que
listou os estados que estabe-
leceram em lei uma reserva
de vagas para pessoas negras
nas seleções de pessoal. No
levantamento, apenas sete
estados e o Distrito Federal
têm reserva para servidores
negros. Há dez anos, eram
somente dois estados com al-
guma ação afirmativa. Hou-
ve avanço, mas lento.
Anna Migueis, uma das
responsáveis pelo estudo,
afirma que se existe uma vi-
tória do movimento negro
nos últimos anos foi ter al-
cançado um entendimento
predominante na sociedade
sobre a importância das po-
líticas públicas para aumen-
tar a diversidade na socieda-
de brasileira, o que favore-
ceu as cotas no governo fe-
deral. Nos estados, ela vê si-
tuação mais complexa para
leis do gênero nas assem-
bleias estaduais e câmaras
municipais.
—Quando foram criadas as
primeiras cotas de ensino
universitário, em 2003, ha-
via muitas visões contrárias.
Agora se entende que são
medidas constitucionais. A
sociedade tem uma visão de
que é positivo e importante
—analisa a pesquisadora, pa-
ra quem o número ainda bai-
xo de estados com cotas se
deve à baixa diversidade da
política regional, o que difi-
culta esse tipo de projeto. —
COTAS AVANÇAM
NOS ESTADOS, MAS
EM RITMO LENTO
Além do Executivo federal, apenas oito unidades da
federação reservam vagas para negros em concursos.
No entanto, levantamento aponta falta de critérios
Além do concurso. Thamara Deola, analista da Defensoria Pública do Estado do Rio, estranhou falta de chefes negros
A falta de diversidade nos le-
gislativos locais dificulta esse
debate e retroalimenta a
pouca presença de negros.
Pautas para esse grupo ficam
em segundo plano.
Nos estados que já têm al-
guma ação afirmativa, a re-
serva de vagas difere. O mai-
or percentual está previsto
nas leis da Bahia e do Distrito
Federal: 30% das vagas. Em
seguida vêm Rio de Janeiro,
Maranhão, Mato Grosso do
Sul e Ceará, que reservam
20% dos cargos dos concur-
sos. No Espírito Santo, são
17%. No Piauí, 10%.
“Chama a atenção a elevada
variação entre o maior (30%)
FABIO MOTTA
e o menor (10%) percentual
de reserva de vagas, sendo o
maior equivalente a três vezes
o menor. Não foram identifi-
cados estudos que respaldas-
sem a adoção desses valores
com base em critérios demo-
gráficos ou de ocupação de car-
gos públicos por pessoas ne-
gras”, destaca o estudo.
Outro problema nos estados
éa avaliação dos resultados das
políticas de cotas. Faltam da-
dos desagregados sobre raça
dos servidores. Nos municí-
pios, a situação é similar, o que
impede comprovar o aumen-
to da diversidade com a políti-
ca afirmativa.
—Há um apagão de dados
sobre diversidade (no setor
público) —diagnostica Anna.
Outro obstáculo é o pró-
prio concurso. Em geral,
mesmo com a reserva de va-
gas, os candidatos negros
precisam alcançar no míni-
mo 60% de aproveitamento
na prova objetiva para serem
classificados. O índice é con-
siderado alto no estudo, favo-
recendo candidatos que têm
condições financeiras de pa-
gar por cursinhos preparató-
rios e chegar aos exames em
posição de vantagem, o que é
mais comum entre os bran-
cos, dada a desigualdade eco-
nômica historicamente des-
favorável aos negros.
AÇÃO COMPLEMENTAR
No Rio, ações pela diversi-
dade foram além das cotas e
do Executivo. A Defensoria
Pública do Estado fez um es-
tudo próprio dos seus con-
cursos e percebeu que os ne-
gros tiravam notas iguais ou
superiores às dos brancos
nas provas orais, o que im-
pedia a aprovação era a pro-
va objetiva. Para a atuação
de um órgão de defesa dos
mais carentes, diversidade é
um ponto ainda mais im-
portante na relação dos ser-
vidores com o público. A
instituição resolveu então
atribuir valor maior à prova
oral nas seleções de defen-
sores. E o resultado foi posi-
tivo, conta Anna Migueis:
| 5
—Deram mais peso à prova
oral no final, e a diferença en-
tre candidatos caiu considera-
velmente. O órgão pôde sele-
cionar um grupo mais diverso.
‘ATÉ QUE É INTELIGENTE’
A Defensoria do Rio também
adotou cotas para servidores
de apoio. Thamara Deola se
inscreveu como cotista e foi
uma das aprovadas como ana-
lista processual em 2016. O
concurso foi uma porta aberta
quando ela estava sem traba-
lho e perspectiva, mesmo re-
cém-formada em Direito.
—Não conhecia ninguém
da minha área que pudesse
ser uma ponte (para um em-
prego no setor privado) nessa
fase inicial, tampouco tinha
qualquer capital financeiro e
social. Entrar por cotas na De-
fensoria abria um mundo de
possibilidades, fiquei muito
feliz —diz Thamara.
Logo no início, ela enten-
deu que o seu desafio não se
encerrava no concurso. Em-
bora os aprovados fossem
convocados simultanea-
mente, os cotistas ficavam
por último na alocação. Ge-
ralmente sobrava para eles
bairros mais distantes, co-
mo aconteceu com ela. Tha-
mara também se ressentiu
da falta de líderes negros e
de ser alvo de comentários
questionando sua capacida-
de, mas decidiu conquistar
seu lugar.
— Não via pessoas como
eu tomando decisões, ape-
nas subordinadas — relem-
bra. — Meu desafio em ocu-
par aquele espaço era mais
existencial. Era sobre como
eu lidaria com subjugações
sutis ou com falas como “até
que ela é inteligente” ou “até
que ela é educada”.
6 | Segunda-feira 20 .11 .2023 | OGLOBO

‘TOMEI MINHA RAÇA JÁ NO TRIBUNAL’

Trajetória de duas desembargadoras negras mostra avanço da diversidade no Judiciário, mas a condição de exceção indica
efeito limitado da reserva de vagas, aperfeiçoada recentemente pelo CNJ. Pretos e pardos não chegam a 15% da magistratura

DIVULGAÇÃO/TJDFT/12-2019

E
m dezembro de 2019, a juí-
za Maria Ivatônia Barbosa
tomava posse como a primei-
ra desembargadora negra no
Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios
(TJDFT). Foi um avanço. Mas
ela continua a ser uma entre
poucos pares pretos e pardos
num país de maioria negra.
No andar de cima do Judiciá-
rio, pouco menos de 10% dos
desembargadores brasileiros
são negros, segundo o Diag-
nóstico Étnico-Racial do Po-
der Judiciário, que o Conse-
lho Nacional de Justiça (CNJ)
divulgou em setembro.
—Não se pode negar o au-
mento na composição — ob-
serva a desembargadora. —
Mas é evidente que a Justiça
ainda é branca, masculina e
de classe média alta. É desse
lugar que fala o juiz no Brasil.
A participação negra no Ju-
diciário — onde estão as car-
reiras mais bem pagas do servi-
ço público — tem permaneci-
do sem muitas alterações nos
últimos anos. Segundo o diag-
nóstico do CNJ, em 2013,
quando foi feito o Censo do
Poder Judiciário, a parcela de
negros na magistratura era de do por ser negro. Posse histórica.
15%, mesmo patamar dos atu- CORTES O perfil racial da Justiça no Brasil, que tem 56% da população autodeclarada negra, Márcia coordena o Subco- Maria Ivatônia
ais 14,5% pelo levantamento e BRANCAS ainda é pouco diverso e muda muito lentamente, mesmo com ações afirmativas mitê de Equidade Racial do Barbosa assume
14,9% segundo dados parciais TRT, e uma de suas primeiras cargo e se torna
dos servidores da Participação de magistrados negros
da edição deste ano do Censo, Distribuição
por raça
dos magistrados
brasileiros Justiça no Brasil (pretos e pardos) nos tribunais medidas foi reforçar a consci- a primeira
ainda em curso. Há 12,8% de superiores (em%) entizção sobre racismo estru- desembargadora
pardos e só 1,7% de pretos (são Branca
Parda
83,8% (11.123)
12,8% (1.704)
68,3% (144.762)
24,5% (51.882) Superior Tribunal de Justiça (STJ) 14,7
tural, a aceitação de que há ra- negra do Tribunal
apenas 226 em todo o país). O Preta 1,7% (226) 4,6% (9.651) Superior Tribunal Militar (STM) 12,5 cismo na Justiça. Maria Ivatô- de Justiça do
Supremo Tribunal Federal Amarela 1,5% (197) 2,3% (4.976) Tribunal Superior do Trabalho (TST) 5 nia, do TJDFT, também vê a Distrito Federal
Indígena 0,2% (22) 0,4% (814) Supremo Tribunal Federal (STF) 0
(STF), em seus 130 anos, teve necessidade desse reconheci-
só três ministros negros. Ministros e Desembargadores Juízes mento. Ao responder se viu
—É um percentual distante Distribuição dos
cargos na cúpula
conselheiros titulares efeito das cotas que reservam,
dos 20% fixados na Resolução do Judiciário, por Branca 88,4 89,5 83,6 desde 2009, 20% das vagas da
Parda 10,1 7,9 13
203/2015 do CNJ e ainda mui- raça do ocupante Preta 1,4 1,8 1,6 Justiça a candidatos negros,
(em %)
to distante do atingimento da Amarela 0 0,8 1,6 admite: “ainda não”:
equidade racial se considerar- Indígena 0 0 0,2 —O Judiciário ainda não se
mos o total de pessoas negras Fonte: Diagnóstico Étnico-Racial no Poder Judiciário, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) EDITORIA DE ARTE
assumiu racista. Resiste a te-
na população brasileira, que DIVULGAÇÃO/TRT-1
mas como “julgamento com
soma 56% —ressalta Wanessa és do sentimento da percep- perspectiva de gênero, de ra-
Mendes de Araújo, juíza auxi- ção da sua raça e origens e é in- ça...” E parece ter ainda muita
liar da presidência do CNJ. fluenciado pelo racismo es- dificuldade de interpretar leis
trutural. Nem todos se decla- instituidoras de práticas e po-
LONGE DAS AUDIÊNCIAS ram negros. Fui tomar minha líticas afirmativas em editais
Onde estão os juízes negros? A raça muito depois de já estar de concursos públicos.
pergunta é repetida por Este- no Tribunal. É uma forma de
vão Silva, presidente da Asso- se autopreservar. Para não so- ADVOGADOS DISCRIMINADOS
ciação Nacional da Advocacia frer preconceito, a pessoa ten- Em setembro, o CNJ mudou o
Negra (Anan), para quem a de a se embranquecer, alisar o sistema de cotas nos concur-
ausência de magistrados pre- cabelo, negar as origens. sos para acelerar a inclusão ra-
“Não se tos e pardos nos tribunais in- cial. Era exigida nota mínima
pode negar o terfere no trabalho do advoga- PRECONCEITO INTERNALIZADO 6de candidatos cotistas, o que
aumento na do negro, que não se vê repre- Foi o que aconteceu com Már- não valia para os demais pos-
composição. sentado nessas alçadas de po- cia. Desde a infância, a mãe, tulantes. A conclusão é de que
Hoje, uma der. Silva diz que também é di- Ausência negra. Márcia Campos: preconceito internalizado agrava a invisibilidade para protegê-la, não queria isso dificultava a entrada do
média de 15%. fícil encontrar negros no Mi- que ela se identificasse como negro, na contramão da in-
Mas é eviden- nistério Público: da pessoa branca. Para o líder Em agosto deste ano, quan- negra, fazia touca para alisar tenção da política. A medida
te que a Justi- — A percepção dessa pre- da Anan, mais juízes negros do foi promovida e assumiu seu cabelo. “Com crespo não foi tomada a partir de uma
ça ainda é sença é ínfima. Quando tem perceberiam a distinção: como desembargadora do Tri- será contratada”, dizia a mãe. ação levada pela Anan ao STF.
branca, mas- audiência com juiz negro, a —Se for negro é traficante, bunal Regional do Trabalho — Internalizei essa condi- Silva, presidente da Anan,
culina e de gente comemora. O CNJ diz se for de pele branca é usuário. (TRT) da 1ª Região, Márcia Re- ção. Vivi diversas situações de diz que o preconceito começa
classe média que há juízes negros, mas, no E o CNJ não faz nada em rela- gina Leal Campos deixou uma preconceito. No começo es- na entrada do Fórum, com o
alta. É desse dia a dia dos fóruns, eles não ção a isso. É uma irregularida- lacuna nas instâncias inferio- tranhava, não entendia. Com segurança exigindo carteira da
lugar que estão presidindo audiências. de comprovada pelas pesqui- res, onde ela era a única juíza 20 anos no Tribunal, os agen- OAB várias vezes. Há revistas e
fala o juiz Na Promotoria e na Defenso- sas. A Agência Pública mos- autodeclarada negra. Ela ava- tes de segurança sempre me às vezes advogados negros são
no Brasil” ria Pública não é diferente. trou que 71% dos negros fo- lia que pode haver um subdi- pediam identificação, o que impedidos de ir a audiências
_ Isso tem efeito nas senten- ram condenados (por tráfico mensionamento da fatia de não acontecia com os colegas ou fazer sustentação oral:
Maria Ivatônia ças, argumenta Silva. Se uma de drogas) com apreensão me- negros no Judiciário, por falta brancos. Como tenho um car- —O advogado já chega aba-
Barbosa, pessoa flagrada portando ma- diana de 145 gramas. Entre de reconhecimento da raça. ro melhor, sou sempre parada lado na audiência. Além de de-
desembargado- conha for negra, a pena defini- brancos, 64% foram condena- —Nossos dados vêm da au- em blitz. Você tem que provar fender o cliente, precisa de-
ra do TJDFT da pelo juiz tende a superar a dos com mediana de 1,1 quilo. todeclaração, que tem um vi- otempo todo que não é bandi- fender seu próprio direito.

ENTREVISTA gistrados negros, o viés racista
Estevão Silva, PRESIDENTE DA ANAN que alcança as sentenças não
muda. Por isso, defende alte-
‘O JUIZ ME DISSE: ESSA rações na seleção de juízes.
CADEIRA É DO ADVOGADO’ Quais as consequências da
baixa diversidade na Justiça?
Oadvogado negro tem várias
lutas a travar antes da defesa
nos concursos?
Temos denunciado frequen-
temente: o grande problema
está nas provas orais. O negro
passa na primeira fase, nas
objetivas e dissertativas, mas,
na prova oral, que decide, vem
sempre uma pergunta mais
difícil. Provas orais não são às
primeira fase. É uma pequena
reparação na primeira e bar-
reiras nas outras. Na universi-
dade, onde a cota funcionou
melhor, não há prova oral.
E as provas objetivas?
As provas são feitas para um
perfil de quem teve tempo
tempo e dinheiro para deco-
rar normas e leis.
Há fraudes nas cotas?
Écomum em todas as cotas,
na OAB, nos ministérios pú-
blicos. Nos cargos de poder,
não se acredita no racismo,
então, se não é branco, é ne-

D e terno e gravata, o advo-

gado Estevão Silva foi
alertado pelo juiz ao se sentar
ao lado de seu cliente: “Essa
cadeira é do advogado”. O
cliente era branco e estava
vestido informalmente. Silva
énegro. O líder da Associação
Nacional da Advocacia Negra
(Anan) sabe que não foi o
primeiro a viver essa cena,
comum na rotina de colegas
negros nos tribunais brasilei-
ros. Para Silva, sem mais ma-
do cliente. O juiz não acredita
na fala dele, independente-
mente do que defende. Com
mais juízes negros, teríamos
menos presos injustamente.
Quais são as barreiras
cegas. O candidato é julgado
pelo cabelo, pelo terno e, é
bom frisar, pelo sobrenome.
Se tiver um tradicional, co-
nhecido, melhor. Para um da
Silva, Souza ou Aparecido, é
mais difícil. Só há cota na
para estudar a doutrina X.
Recrutam um perfil especifi-
co, não têm nada a ver com a
atividade final. É uma prova
para uma elite que conseguiu
entrar numa universidade X e
decorar a doutrina X, que tem
gro. Há brancos na vaga de
negros, até para deslegitimar,
provar que elas não funcio-
nam. As comissões de fiscali-
zação têm que ser compostas
por pessoas negras, que en-
tendam a situação.
OGLOBO | Segunda-feira 20 .11 .2023 | 7

FOTOS DE GABRIEL DE PAIVA/18-5-2023

Centro do Rio: cia é a criação, na plataforma
Tour guiado de turismo internacional Tri-
pela região pAdvisor, do primeiro hub de
conhecida como conteúdo sobre afroturismo.
Pequena África: Uma parceria com o Iphan vai
circuito passa mapear todos os patrimônios
pelo Cais do que podem ser relacionados ao
Valongo, que foi afroturismo no país. Na outra
um dos ponta, a Embratur tem realiza-
principais do workshops de capacitação
pontos de para quem já explora negócios
desembarque na área, vai criar um laborató-
de escravizados rio de aceleração de startups
no Brasil e só de turismo e estimular a pro-
ressurgiu por dução de conteúdos audiovi-
acaso em 2011 suais que contemplem cultura
ehistória afrobrasileira.
No nível dos estados, Alago-
as também vê com bons olhos
as oportunidades do afroturis-
mo, afinal abriga o Quilombo
dos Palmares, cuja história foi
associada ao Dia da Consciên-
cia Negra. O plano ali é atrair o
foco de todo o país para a regi-
ão nesta data, a partir de 2024.
— Queremos que seja um
importante evento para Ala-
goas, onde viveu Zumbi dos
Palmares. Em diversas fren-
tes, estamos realizando ações
transversais para manter tra-
dições da população preta no
estado. Criamos o programa

AFROTURISMO Escola do Turismo, que já ca-

pacitou gratuitamente 11 mil
alagoanos, prioritariamente,

QUER ASSUMIR
mulheres, negros e pessoas
em situação de vulnerabilida-
de social e econômica —diz a
secretária de Turismo de Ala-

PROTAGONISMO
goas, Bárbara Braga.

ESTRELAS EM SALVADOR
Salvador, a capital mais negra
do país, também desponta na-
Governo planeja estimular circuitos turísticos no país turalmente quando se fala em
turismo associado à herança
voltados à cultura negra, que podem gerar negócios africana. Recentemente abri-
gou o Festival Liberatum, de
afrocultura, que atraiu turistas
e até estrelas internacionais

O Brasil é o país que mais re-

cebeu pessoas negras es-
cravizadas nas Américas. Ao
longo de 388 anos, cerca de
4,8 milhões de africanos fo-
ram trazidos para engrossar a
mão de obra forçada em que
se baseavam as atividades
econômicas por aqui. Apesar
do papel central da escravi-
dão na História do Brasil, os
vestígios da violência prati-
cada e das lutas contra ela são
historicamente negligencia-
dos no país. Ainda assim, essa
memória e a riqueza cultural
gerada pela presença negra
no Brasil podem ser encon-
“Estamos trados em diversas regiões do
atrasados, país. Espaços de resistência,
porque toda como quilombos, e símbolos
luta contra da desumanização, como an-
o racismo tigas senzalas em fazendas e
é uma luta cidades históricas, têm natu-
contra ral vocação turística, mas só
o tempo agora o Brasil começa a en-
perdido” xergar o potencial econômi-
_ co do afroturismo.
Marcelo O termo se refere aos servi-
Freixo, ços turísticos em torno da his-
presidente tória e da cultura negras no
da Embratur mundo. Esse movimento já é
antigo nos EUA, que têm em
“A questão comum com o Brasil o passa-
do negro do escravocrata, mas pela pri-
no Brasil meira vez, neste ano, entrou
é sempre no radar do governo brasilei-
secundariza- ro. O presidente da Embratur,
da. Há esse Marcelo Freixo, anunciou a
mito de ideia de um plano nacional
democracia para incentivar o afroturismo,
racial, que dando visibilidade a destinos
acomoda as e negócios afrocentrados.
instituições O afroturismo também en-
para não globa a formação de um ambi-
lidarem ente capaz de superar o racis-
profunda- mo estrutural e fazer viajantes
mente negros se sentirem acolhidos e
com nossa contemplados em suas expe-
existência riências turísticas, incluindo o
e memória” consumo de pacotes para des-
_ tinos na África ou outros paí-
Emily Borges, ses cujas culturas foram mar-
turismóloga, cadas pela diáspora africana.
sócia da Para Rafael Moraes, turis-
agência Etnias mólogo do Instituto Pretos
Novos (IPN), no Rio, a me-
lhor aplicação para o termo é
designar roteiros afrocentra-
dos conduzidos por pessoas
pretas especializadas:
—No IPN, utilizamos mais o
termo “turismo de memória”,
pois acreditamos que o afrotu-
rismo deva ser feito por agên-
cias majoritariamente forma-
das por pessoas pretas. Como
aqui trabalhamos com volun-
tários, não podemos garantir
que todos os roteiros terão es-
ses profissionais, mas isso não
impede que nossos serviços
preservem a história preta e
respeitem essa cultura.
POTENCIAL DESPERDIÇADO
OIPN fica perto do Cais do Va-
longo, que foi um dos princi-
pais pontos de desembarque
de escravizados no Brasil e só
foi redescoberto em 2011, nas
escavações das obras do Porto
Maravilha. A região no Centro
do Rio também é conhecida
como Pequena África, por
concentrar vários sítios liga-
dos à ancestralidade negra, co-
mo o Cemitério dos Pretos
Novos (que recebia escraviza-
dos mortos durante a travessia
oceânica), assentamentos de
negros libertos ou envolvidos
em lutas de resistência e ber-
ços de manifestações culturais
como o samba. Criado em
2005, nove anos depois do
achado arqueológico do cemi-
tério, o IPN é uma organização
sem fins lucrativos para prote-
ger o lugar em parceria com a
UFRJ. Acabou virando ponto
de partida de quem quer ex-
plorar a região, mas não en-
contra estruturas governa-
mentais como museus, sinali-
zação e roteiros. É um exem-
plo do atraso do Brasil na área.
— Criamos o Circuito da
Herança-Africana, que pro-
move turismo na Pequena
África, e com isso nos torna-
mos referência neste tipo de
Redescoberta. Visitantes sobem a Pedra do Sal, no Centro do Rio: ancestralidade negra atrai
roteiro —diz Moraes.
Somente em maio deste
ano, o BNDES anunciou um
edital de mais de R$ 10 mi-
lhões para financiar a cons-
trução de um museu dedica-
do à herança africana no Cais
do Valongo. Emily Borges, tu-
rismóloga e sócia da agência
Etnias, no Rio, conta que a re-
gião começou a ser valorizada
em 2011, mas ainda assim não
é vista como um potencial
econômico pelo turismo:
— A questão do negro no
Brasil é sempre secundari-
zada. Há esse mito de demo-
cracia racial, que acomoda
as instituições para não lida-
rem profundamente com
nossa existência e memória.
Se até no ensino básico pre-
cisamos de lei para obrigar
aulas de História Afro-bra-
sileira, imagina no turismo.
CHANCE DE EMPREENDER
Além de conquistar visitan-
tes, o afroturismo abre opor-
tunidades de empreende-
dorismo para pretos e par-
dos que vivem em áreas com
atrativos ou estão envolvi-
dos em atividades de raiz
africana, da capoeira à culi-
nária, da religião ao carna-
val. Por isso Freixo diz que-
rer usar o afroturismo como
principal eixo da Embratur,
transformando o país “nu-
ma referência mundial”. Ele
caracteriza a tendência co-
mo “assustadoramente no-
va”, mas admite que o Brasil
está atrasado.
—É assustador que, num pa-
ís onde a história da cultura
negra é tão importante, não
existisse essa relação com o tu-
rismo, que tanto movimenta a
economia. Além disso, a inici-
ativa é uma forma de repara-
ção histórica, para tentar com-
pensar todos os anos de apaga-
mento cultural — diz Freixo,
em entrevista ao GLOBO, sem
revelar detalhes ou investi-
mentos do plano. — Estamos
atrasados, porque toda luta
contra o racismo é uma luta
contra o tempo perdido.
Ainda há pouco de concreto
na ação da Embratur. Uma das
medidas já lançadas pela agên-
como as americanas Viola Da-
vis e Angela Bassett.
Aagente de turismo de base
DIVULGAÇÃO comunitária Manoela Ra-
mos, autora do livro “Confis-
sões de viajante (sem grana)”,
roda o país há quatro anos pe-
lo menos e avalia que o afrotu-
rismo já estimula pessoas pre-
tas como ela a cair na estrada:
—Quando viajamos e temos
contato com a história, temos
uma assimilação muito maior
que uma pesquisa mais distan-
te. Para as pessoas pretas, passa
por uma construção de identi-
dade e fortalecimento de cul-
tura e raízes. Além disso, traz
essa perspectiva de que pesso-
as pretas podem viajar, que es-
se também é um lugar para a
gente. Por questões financei-
ras e situações de racismo,
muitos deixam de viajar. Vejo o
Vocação. afroturismo como importante
Capital mais ferramenta para mudar isso.
negra do país,
Salvador abrigou EXEMPLO AMERICANO
recentemente A principal inspiração para o
o Festival Brasil na área do afroturismo
Liberatum, deve ser os EUA. Além de inici-
de afrocultura, ativas como a abertura, em
que atraiu 2016, do Museu Nacional de
até estrelas História e Cultura Afro-ameri-
de Hollywood cana (que superou 10 milhões
de visitantes em Washington),
americanos, principalmente
os de ascendência negra, são os
mais interessados em roteiros
afrocentrados mundo afora,
observa Emily.
Um negócio nessa vertente
por lá é o Nomadness Travel
Tribe, também chamado de
“Livro Verde digital”, em refe-
rência ao “Green Book”, guia
que trazia os poucos hotéis,
restaurantes e bares que rece-
biam afroamericanos na época
da segregação racial nos EUA,
que foi até a década de 1960. A
empresa foi criada em 2011
por Evita Robinson para reunir
viajantes negros interessados
em trocar dicas e experiências
de viagem pelo mundo.

Especial Diversidade
Editor Alexandre Rodrigues Reportagem Ana Carolina Diniz, Cássia Almeida, Gustavo Silva, Marina Gonçalves e Maria Guimarães (estagiária sob supervisão de Alexandre Rodrigues)
Revisão e versão digital Carolina Benevides Fotografia Fabio Motta Diagramação Ana Scott Infografia Gustavo Moore Tratamento de imagens Wagner Loeser
8 | Segunda-feira 20 .11 .2023 | OGLOBO

CHIP SOMODEVILLA/GETTY IMAGES/AFP/14-9-2016

do para estudos arqueológicos
e, após muitos anos de pesqui-
sas, declarado um Marco His-
tórico Nacional, em 1993.
Com isso, pudemos aprender
muito sobre as condições em
que os negros viviam na cidade
de Nova York: entendemos
sua dieta, que tipo de doenças
tinham devido à natureza do
seu trabalho... É também um
lugar para as pessoas se cura-
rem de traumas históricos. Ao
não preservar esses lugares, e
basicamente negligenciá-los,
oque nossas sociedades fazem
é agravar o trauma da escravi-
dão.

Um movimento recente vem

pedindo que os países
colonizadores devolvam aos
africanos artefatos roubados,
que acabaram em museus
europeus e nos EUA, por
exemplo. Como o senhor vê
esse movimento do ponto de
vista arqueológico?
É um movimento bem-vin-
do. A África não perdeu ape-
nas seus habitantes, pessoas
que ajudaram no desenvolvi-
mento do mundo moderno
como o conhecemos. Tam-
bém perdemos nossa criativi-
dade, perdemos artefatos. To-
memos o caso do Benin, um

O nigeriano Akin Ogundiran ENTREVISTA reino na Nigéria atacado pelos

Influência
é um dos maiores arqueó- Akin Ogundiran / ARQUEÓLOGO transoceânica. britânicos em 1897, com uma
logos da África no mundo. Es- Exemplar desculpa bem esfarrapada.
tudioso transdisciplinar e pro- Um dos principais investigadores do passado da África no mundo, nigeriano de cabana Eles não apenas humilharam
fessor da Universidade Nor- afirma que tudo o que moldou o humano ocorreu primeiro no continente remanescente o rei, colocando-o em outra
thwestern, nos EUA, que abri- do século XIX, parte do país, mas, depois de
ga um dos maiores centros de usada por matarem muitas pessoas, in-

‘A CULTURA
estudos africanistas do plane- escravizados vadiram o palácio e saquea-
ta, ele lidera uma pesquisa so- libertos nos EUA, ram todos os seus artefatos.
bre o Império de Oyó, na costa em exibição no São objetos modernos e tam-
ocidental daquele continente, Museu Nacional bém documentos históricos.

POPULAR HOJE
de onde muitos africanos fo- da História e O que aconteceu em 1897 foi
ram levados pelo tráfico tran- Cultura um genocídio cultural, porque
satlântico, boa parte deles para Afro-americana apagaram a memória e as rea-
o Brasil. Por isso, inevitavel- (NMAAHC, lizações de um reino africano,

É A DA DIÁSPORA
mente, suas descobertas es- em inglês): ou seja, da civilização africana.
barram em terras brasileiras. instituição Não existe compensação para
“O estudo da cultura e da his- inaugurada em isso. Então, o que estamos pe-
tória africanas é importantíssi- Washington, em dindo agora é que os museus

AFRICANA’
mo para entender melhor as 2016, por Barack do mundo chequem seus in-
contribuições dos africanos e Obama ainda é ventários e que esses objetos
dos povos indígenas também uma das poucas roubados voltem para seus pa-
para a construção do Brasil co- dedicadas à íses, para as comunidades de
lonial e do subsequente Esta- herança africana onde vieram. Nunca é tarde
do brasileiro”, diz ao GLOBO o nas Américas demais. Vejo isso como um di-
pesquisador, que veio ao Brasil mais pobres na compreensão está mostrando que os africa- Rio , um importante sítio reito e espero que, em nome
na semana passada participar do que nos torna humanos. nos coproduziram a moderni- arqueológico, o Cemitério dos da unidade e da ordem social
de um evento sobre arqueolo- dade com os europeus e com Pretos Novos, foi descoberto global, sejam devolvidos.
gias plurais em Florianópolis. O senhor pode contar um os nativos americanos. Que por acaso apenas na década
pouco sobre seu projeto de não é algo que a Europa trouxe de 1990. Isso é muito comum No Brasil, a cultura africana é
A arqueologia aponta a África pesquisa atual? para a África, mas que é uma na diáspora africana ao redor crucial na nossa formação
como primeiro território Estudo a história de um dos cultura que foi desenvolvida a do mundo? como sociedade e está
habitado no planeta, o que impérios da África Ocidental, partir dessas interações. Que- Nos dias de hoje, nos EUA, presente em todos os aspectos,
resultou numa profusão de o Império Oyó, que começou ro dizer que o mundo moder- nos deparamos cada vez mais na música, na linguagem, na
idiomas, religiões, regimes por volta de 1570 e entrou em no, tal como o conhecemos, é com estudos de cemitérios de religião. Como o senhor vê essa
políticos, atividades colapso por volta de 1840. E es- produto de conversas e intera- negros americanos que foram herança dos escravizados na
econômicas... Qual o tamanho se período também se enqua- ções entre europeus, africanos pavimentados por novas cons- diáspora aqui e no mundo?
real da importância desse dra na época do comércio de enativos americanos. truções ou totalmente destruí- Não haveria música como
tesouro arqueológico e como escravizados no Oceano dos. Este é um fenômeno mui- conhecemos nos dias de hoje
ele vem sendo estudado? Atlântico. Meu objetivo, pri- De que forma isso aconteceu? to comum na diáspora africa- se não fosse pela música afri-
A África é o berço dos seres meiro, é mostrar como se de- Essas trocas definiram e se na, que mostra como os locais cana —ou pela música da diás-
humanos, o berço das civiliza- senvolveu esse importante sis- fundiram no que chamamos onde estão os restos de afro- pora africana. Todas as coisas
ções. É a região que tem a his- tema político na África, mas de liberdade, direitos huma- descendentes não costumam que chamamos de cultura po-
tória mais longa do mundo, também compreender as cir- nos, democracia e cosmopoli- atrair atenção e respeito. Ou pular hoje vieram dos afrodes-
porque é mais antiga que ou- cunstâncias culturais, econô- tismo, inclusive sobre gosto. seja, da mesma forma que cendentes. Sim, a cultura afri-
tros continentes em termos de micas e políticas que levaram Por exemplo, a ideia de liber- muitos foram desrespeitados e cana é extremamente impor-
habitação humana. Todas as muitos africanos, especial- dade absoluta era impensável desvalorizados durante a vida, tante para a identidade nacio-
coisas que nos definem como mente da região do Benin, na sem a escravidão, e o Estado- também foram após sua mor- nal do Brasil, mas também a
seres humanos aconteceram África Ocidental, a serem leva- nação era imaginável por cau- te. Anos atrás, liderei um tra- dos EUA, outro grande país
primeiro na África, não ape- dos pelo tráfico transatlântico sa dos impérios. As trocas que balho para preservar um cemi- Akin com muitos descendentes de
nas no que diz respeito à revo- de escravos. Porque parte do europeus, africanos e nativos tério afro-americano na Caro- Ogundiran. africanos, mesmo que não tan-
lução biológica, mas também império cobriu quase todas as americanos tiveram entre si lina do Norte, onde fica a insti- “As culturas tos quanto o Brasil. O que seri-
à revolução cultural. Tudo o áreas de onde vieram muitos desde que os portugueses esta- tuição em que eu trabalho. Le- e as religiões am os EUA hoje sem hip hop
que consideramos exemplos afro-brasileiros: o povo Ketu, beleceram contato com os vei os alunos e a comunidade africanas não ou rap? Vamos para a Jamaica:
da civilização humana, todas Oyó. Estudei esse império africanos da África Ocidental e até lá apenas para limpar o lo- são dogmáticas, os japoneses estão cantando
as invenções na base do nosso também para entender a his- Central, em meados do século cal, que estava abandonado. estão abertas, reggae! Não há dúvida de que
progresso como seres huma- tória da modernidade. Sem- XV, e as viagens subsequentes Eu estava preocupado porque o que torna os descendentes de africanos
nos, da mitologia, passando pre pensamos que a Europa às Américas, estimularam se deixássemos aquele espaço possível tomar deram muito ao mundo em
pela tecnologia de ponta, até a trouxe a modernidade para a uma visão do mundo que mu- daquele jeito poderiam usar is- algo emprestado termos culturais, e em termos
construção de cidades, todas África, mas minha pesquisa dou as culturas locais e a com- so como desculpa para que ou- e transformá-lo de criatividade. A cultura po-
essas coisas aconteceram pri- preensão do mundo. Os africa- tras pessoas eventualmente em algo único” pular nos dias de hoje é basica-
meiro na África. Portanto, sem nos escravizados usaram a tra- assumissem o local. Hoje, es- mente a cultura da diáspora
estudar a África, não podemos dução dessa experiência atlân- te cemitério é um registro africana. É outro exemplo de
entender o que temos em co- tica global, já em curso na Áfri- histórico nos EUA, e há como podemos criar mesmo
mum como Humanidade. E ca desde meados do século XV, muitos outros. Um dos nas piores circunstâncias, de
além de compreender a histó- “Sem estudar a África para se adaptarem e criarem exemplos mais conheci- como ainda assim podemos
ria africana, é fundamental não podemos entender novas culturas nas Américas. dos, que atraiu atenção trazer algo novo para com-
também compreender a dos o que temos em comum Ou seja, o estudo da cultura e global, foi a descoberta de partilhar com o mundo. As
povos africanos que chegaram da história africanas é impor- um cemitério afro-america- culturas e as religiões africa-
aqui (no Brasil) como escravi- como Humanidade” tante para entender melhor as no durante obras do governo nas não são dogmáticas, es-
zados. São portadores da he- contribuições dos africanos e federal americano em tão abertas, o que tor-
rança africana. Precisamos “Os europeus dos povos indígenas também Nova York. Por cau- na possível para
prestar atenção às contribui- realizaram um para a construção do Brasil co- sa do ativismo nós tomar algo
ções dos africanos na África e lonial e do subsequente Esta- negro na cida- emprestado e
na diáspora para nossa civiliza- genocídio cultural do brasileiro. de e em todo o transformá-
ção global. Quando não pres- apagando a memória país, o local lo em algo
tamos atenção nisso, ficamos da civilização africana” No Brasil, especificamente no foi preserva- único.
DIVULGAÇÃO