Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
UMA INTRODUÇÃO
ISBN:
978-85-52993-17-9
Publicado por:
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
EPÍLOGO
5
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
6
P r efác i o
Esperamos que este breve opúsculo seja de fato uma ponte ca-
paz de reconectar o leitor às bases pedagógicas de nossa civili-
zação. Que seja, ademais, um testemunho do vigor intelectual
que sempre tiveram os clérigos católicos, não menos dotados
nas ciências humanas do que nas divinas. Sim, a Igreja Católica
produziu religiosos e clérigos tão versados em teologia como
em astronomia, direito, música, arquitetura, enfim, em todos
os ramos do saber, porque nela é cultuado aquele único Deus
uno e trino, fonte pleníssima de toda a verdade.
7
SETE ARTES
LIBERAIS:
UMA INTRODUÇÃO
1.
DIÁLOGO SOBRE AS SETE COLUNAS
DA SABEDORIA
Beato Alcuíno de Iorque
9
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
10
1 . D i á l o g o s o b r e as s e t e co lu nas da sab ed o r i a
11
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
12
1 . D i á l o g o s o b r e as s e t e co lu nas da sab ed o r i a
13
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
14
1 . D i á l o g o s o b r e as s e t e co lu nas da sab ed o r i a
15
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
16
1 . D i á l o g o s o b r e as s e t e co lu nas da sab ed o r i a
non videtur esse gaudii sed teza que de alegria. Mais tarde, porém, dará
mæroris; postea [vero], pacatis-
simum fructum exercitatis in ea um fruto de paz e de justiça aos que nela
affert iustitiæ. foram exercitados” (Hb 12, 11).
DISCIPULI — Duc, age, quo DISCÍPULOS — Vamos! Guia-nos! Com
libeat, sequimur libenter, quia
spes premii solet laborem re- prazer [te] seguiremos aonde for necessá-
levare. Omnis quippe qui arat, rio, porque a esperança do prêmio costu-
in spe arat percipiendi fructus.
Fertur itaque, dum Diogenes
ma atenuar o sofrimento. Todo aquele que
magnus ille philosophus om- ara, é na esperança de colher os frutos que
nes suos a se expulit discipulos ara. Conta-se que, quando aquele grande
dicens: Ite, quærite vobis magi-
strum, ego vero [inveni] mihi, ei filósofo chamado Diógenes expulsou todos
solus Plato adhæsit, et quadam os seus discípulos dizendo: “Ide, procu-
die lutulentis pedibus super
exstructum magistri lectulum
rai-vos um mestre, eu encontrei um para
cucurrit assidere doctori, quem mim”, Platão ficou sozinho com ele. Certo
Diogenes baculo ferire minita- dia [o discípulo] correu com os pés lama-
batur; cui puer inclinato capite
respondit: Nullus est tam durus centos sobre o leito do mestre na intenção
baculus, qui me a tuo segregare de ficar-lhe próximo; então Platão amea-
possit latere.
çou feri-lo com um bastão, ao que o servo,
com a cabeça inclinada, respondeu: “Não
há bastão tão duro que me possa separar
do teu lado”.
At si [Ms., Si ergo] ille amore Ora, se inflamado pelo amor da sabedoria
sæcularis sapientiæ flagrans,
cælestis vero, quæ ad vitam do século, e ignorando a celeste que con-
ducit perpetuam, ignarus, sic duz à vida eterna, aquele [discípulo] per-
ardenter magistrum sequi per-
sistebat, quanto magis nos
sistia tão ardentemente em seguir seu mes-
tua, magister, ingredientem tre, quanto mais nós devemos seguir teus
vel egredientem vestigia sequi passos, ó mestre, quando entras e quando
debemus, qui non solum lit-
terario [Ms., litteratorio] nos sais, tu que não somente sabes conduzir-
liberalium studiorum itinere -nos pelo caminho literário dos estudos
ducere nosti, sed etiam meliores
sophiæ vias, quæ ad vitam ducit
liberais, como também podes desvendar-
æternam [pandere] poteris? -nos os melhores caminhos da sabedoria
que conduz à vida eterna?
17
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
18
1 . D i á l o g o s o b r e as s e t e co lu nas da sab ed o r i a
19
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
contigo nos galhos da sabedoria que te foi ignaviæ in ramos tibi a Deo
datæ sapientiæ compone; unde
dada por Deus, donde possamos discernir aliquod veritatis lumen cernere
algo da luz da verdade; e como tantas vezes valeamus: et quoties toties pro-
misisti, septenos theorasticæ
prometeste, mostra-nos os sete degraus da
[Ms., forastice] disciplinæ gra-
disciplina teorética. dus nobis ostende.
Por estas veredas, filhos caríssimos, corra Per has vero, filii charissimi,
semitas vestra quotidie currat
diariamente a vossa adolescência, até que adolescentia, donec perfectior
na idade perfeita e com o espírito mais for- ætas et animus sensu robustior
te que o sentido, chegueis aos cumes das ad culmina sanctarum Scrip-
turarum perveniat. Quatenus
Sagradas Escrituras. Para que, armados hinc inde armati veræ fidei
assim de todos os lados, sejais sempre in- defensores et veritatis asser-
tores omnimodis invincibiles
vencíveis defensores da verdadeira fé e em- efficiamini.
baixadores da verdade.
20
2.
IMPORTÂNCIA DO TRIVIUM
E DO QUADRIVIUM
Hugo de São Vítor
21
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
Alguns, segundo se diz, estudavam com Has septem quidam tanto stu-
tanto empenho estas sete artes que as dio didicisse leguntur, ut plane
ita omnes in memoria tene-
conservavam plenamente em sua memó- rent, ut quascunque scripturas
ria. Desta maneira, independentemente deinde ad manum sumpsis-
sent, quascunque quæstiones
dos textos que tivessem em mãos ou dos solvendas aut comprobandas
problemas propostos para sua solução ou proposuissent, ex his regulas et
demonstração, não se viam obrigados a re- rationes ad definiendum id de
quo ambigeretur, folia librorum
passar as páginas dos livros para buscar os revolvendo non quærerent, sed
princípios e razões que lhes permitissem statim singula corde parata ha-
berent.
resolver as dúvidas, senão que, imediata-
mente, tinham à disposição em sua mente
a resposta para cada caso.
Isto explica por que nesse tempo havia tan- Hinc profecto accidit eo tem-
pore tot fuisse sapientes ut
tos sábios capazes de escrever mais livros plura ipsi scriberent quam nos
do que nós somos capazes de ler. Nossos legere possimus. Scholastici
estudantes, ao contrário, não sabem ou não autem nostri aut nolunt aut ne-
sciunt modum congruum in di-
querem seguir o método adequado para o scendo servare, et idcirco mul-
aprendizado, razão pela qual contamos tos studentes, paucos sapientes
invenimus. Mihi vero videtur
com muitos estudantes mas com poucos non minori cura providendum
sábios. Julgo, porém, que assim como o lei- esse lectori ne in studiis inu-
tor deve evitar o desperdício de tempo com tilibus operam suam expendat,
quam ne in bono et utili propo-
estudos inúteis, também deve fugir da ti- sito tepidus remaneat. Malum
bieza nos propósitos bons e úteis. Se é ruim est bonum negligenter agere,
22
2 . Imp o rtâ n c i a d o t r i v i u m e d o q uad r i v i u m
peius est in vanum labores mul- fazer o que é bom com negligência, pior
tos expendere.
ainda é esforçar-se muito por algo inútil.
Sed quia non omnes hanc di-
scretionem habere possunt, ut Mas, como nem todos têm capacidade de
intelligant quod sibi expediat, discernir o que lhes convém, mostrarei ao
idcirco quæ Scripturæ mihi
utiliores videantur, lectori bre- leitor quais são os escritos que me parecem
viter demonstrabo, ac deinde de mais convenientes, para logo acrescentar
modo quoque disserendi pauca
adnectam.
também umas breves reflexões sobre o mé-
todo de aprender.
23
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
Nota bem a distinção que estabeleci entre Nota quæ tibi distinxi. Duo
as artes e os apêndices das artes. Mas entre sunt artes et appenditia artium.
Sed inter hæc tanta mihi di-
os dois eu vejo uma distância semelhante stantia esse videtur, ut ille ait:
à expressa por aquele que disse: “Quanto o “Lenta salix quantum pallenti
cedit olivæ, puniceis humi-
maleável salgueiro cede à pálida oliveira, lis quantum saliunca rosetis”
quanto a humilde valeriana aos purpúreos (Virg. in Bucol.).
roseirais”. 5
24
2 . Imp o rtâ n c i a d o t r i v i u m e d o q uad r i v i u m
Quapropter mihi videtur pri- Por isso, parece-me que antes de tudo de-
mum opera danda esse ar-
tibus ubi fundamenta sunt vemos dedicar nossos esforços às artes, nas
omnium, et pura simplexque quais se encontram os fundamentos de to-
veritas aperitur; maxime his
das as coisas e se descobre a pura e simples
VII quas prædixi, quæ totius
philosophiæ instrumenta sunt. verdade, e sobretudo às sete das quais falei
Deinde cætera quæque, si vacat, antes, que são os instrumentos de toda a
legantur, quia aliquando plus
delectare solent seriis admixta filosofia. Depois, se houver tempo, sejam
ludicra, et raritas pretiosum fa- lidas também as outras coisas; porque às
cit bonum. Sic in medio fabulæ
vezes algo recreativo causa mais deleite
cursu inventam sententiam avi-
dius aliquando retinemus. quando é mesclado com coisas sérias, e a
raridade faz o que é bom parecer precioso.
É por isso que às vezes retemos com mais
avidez uma sentença, quando a encontra-
mos no meio de uma fábula.
Verumtamen in septem libe- Sem embargo, o fundamento de todo o
ralibus artibus fundamentum
est omnis doctrinæ, quæ præ
aprendizado encontra-se nas sete artes
cæteris omnibus ad manum liberais, que devem ser preferidas às de-
habendæ sunt, utpote sine mais, posto que sem elas a disciplina fi-
quibus nihil solet aut potest
philosophica disciplina expli- losófica não costuma nem pode explicar
care aut definire. Hæ quidem ou definir qualquer coisa. Certamente es-
ita sibi cohærent, et alternis
vicissim rationibus indigent,
tas artes de tal maneira estão vinculadas
ut si una defuerit, cæteræ phi- entre si e se exigem mutuamente em suas
losophum facere non possint. razões que, se faltar uma só delas, todas
Unde mihi errare videntur,
qui non attendentes talem in as outras não são capazes de formar um
artibus cohærentiam, quasdam filósofo. Por isso, parece-me que erram os
sibi ex ipsis eligunt, et cæteris
intactis, his se posse fieri per-
que, sem ter em conta esta coerência entre
fectos putant. as artes, escolhem para si algumas e pen-
sam que podem aperfeiçoar-se nelas sem
ocupar-se das demais.
25
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
Assim, pois, em qualquer arte temos de In qualibet igitur arte duo no-
identificar e distinguir principalmente duas bis maxime discernenda sunt et
distinguenda: primum, quali-
coisas: primeiro, como deve ser tratada a ter oporteat in ipsa arte agere;
arte em si; segundo, como se devem aplicar secundum, qualiter oporteat
ipsius artis rationes quibuslibet
a qualquer outro assunto os princípios desta aliis rebus accommodare. Duo
arte. São duas coisas: tratar da arte, e agir por sunt agere de arte, et agere per
meio da arte. Tratar da arte é, por exemplo, artem. Verbi gratia, agere de
arte, ut est agere de grammati-
tratar da gramática; e agir por meio da arte, ca, agere per artem, ut est agere
é agir gramaticalmente. Há que distinguir grammatice. De grammatica
agit, qui regulas de vocibus da-
bem as duas coisas: tratar da gramática, e tas, et præcepta ad hanc vocem
tratar gramaticalmente. Trata da gramática, pertinentia tractat; grammatice
26
2 . Imp o rtâ n c i a d o t r i v i u m e d o q uad r i v i u m
agit omnis qui regulariter lo- quem trata das regras dadas para regular o
quitur vel scribit. Agere igitur
de grammatica, quibusdam uso das palavras e dos preceitos que perten-
tantummodo, ut Prisciano, Do- cem a esta arte; age gramaticalmente, todo
nato, Servio, et similibus, con-
aquele que fala e escreve segundo as regras.
venit. Agere vero grammatice,
omnibus. Portanto, tratar da gramática pertence ape-
nas a alguns escritos, como os de Prisciano,
Donato e Sérvio; mas agir gramaticalmente,
pertence a todos os livros.
Cum igitur de qualibet arte Quando, pois, tratarmos de qualquer arte,
agimus, maxime in docendo,
ubi omnia ad compendium re-
sobretudo na docência, onde tudo deve ser
stringenda sunt, et ad facilem reduzido a compêndios para facilitar a com-
intelligentiam revocanda, suf- preensão, devemos dar-nos por satisfeitos
ficere debet id de quo agitur,
quanto brevius et aptius potest com explicar o tema da maneira mais breve
explanare, ne si alienas nimium e clara possível, para evitar que, com a mul-
rationes multiplicaverimus,
magis turbemus quam ædif-
tiplicação de complicadas explicações, con-
icemus lectorem. Non omnia fundamos o aluno em vez de instruí-lo. Não
dicenda sunt quæ dicere possu- devemos dizer tudo o que podemos, para
mus, ne minus utiliter dicantur
ea quæ dicere debemus. que não sejam ditas com menos utilidade as
coisas que devemos dizer.
Id tandem in unaquaque arte Em suma, deves buscar em cada uma das
quæras quod ad eam speciali-
ter pertinere constiterit. Dein-
artes aquilo que especificamente lhe per-
de cum legeris artes, et quod tence. Mais tarde, quando tiveres estudado
uniuscuiusque sit proprium as diversas artes e, mediante a discussão
agnoveris disputando et con-
ferendo, tunc demum rationes e comparação, tiveres logrado conhecer o
singularum invicem conferre que é próprio a cada uma, então poderás
licebit; et ex alterna considera-
tione vicissim quæ minus prius
relacionar entre si os princípios de cada
intellexeras investigare. Noli uma delas e, a partir desta última consi-
multiplicare diverticula quoa- deração, investigar novamente o que antes
dusque semitas didiceris. Se-
curus discurres cum errare non não havias compreendido suficientemente.
timueris. Não multipliques os atalhos enquanto não
tiveres conhecido os caminhos principais:
caminharás seguro, quando não tiveres
medo de desviar-te.
27
3.
SETE ARTES LIBERAIS EXPLICADAS
Rábano Mauro
28
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
29
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
sentido literal. Deve-se investigar princi- est utique, ne forte illo vel illo
tropo dictum sit quod non in-
palmente se com tal ou qual figura de lin- tellegimus, et sic pleraque in-
guagem foi expresso algo que não entende- venta sunt quæ latebant” (Ibid.).
mos, pois assim foram descobertas muitas
coisas antes escondidas.
Esta matéria, embora comum aos pagãos, Quamobrem non est spernenda
hæc, quamvis gentilibus com-
não deve pois ser desprezada, mas suficien- munis ratio, sed quantum satis
temente aprendida, porque afinal muitos est perdiscenda, quia utique
varões evangélicos produziram livros im- multi evangelici viri, insignes
libros hac arte condiderunt, et
portantes sobre essa arte, e tencionavam Deo placere per id satagerunt,
com isso agradar a Deus, como foram Ju- ut fui Iuvencus, Sedulius, Ara-
tor, Alcimus, Clemens, Pau-
venco, Sedúlio, Arátor, Alcimo, Clemente, linus et Fortunatus, et cæteri
Paulino, Fortunato e muitos outros. multi.
30
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
31
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
Afinal, se pela arte retórica apregoa-se tan- “Nam cum per artem rhetori-
to o verdadeiro como o falso, quem ousará cam et vera suadeantur et fal-
sa, quis audeat dicere adversus
dizer que a verdade deva permanecer iner- mendacium in defensoribus
me nos seus defensores contra a mentira, suis inermem debere consiste-
re veritatem, ut videlicet illi
a ponto de os propagadores do erro sabe- qui res falsas suadere conantur,
rem já no exórdio ganhar a benevolência, noverint auditorem vel beni-
a atenção e a docilidade do ouvinte, e os volum, vel intentum, vel facere
docilem proœmio, isti autem
outros não o saberem? De aqueles expo- non noverint? Illi falsa breviter,
rem o erro com brevidade, clareza e veros- aperte, verisimiliter, et isti vera
sic narrent ut audire tædeat,
similhança, e estes narrarem de tal modo a intelligere non pateat, credere
verdade que sejam tediosos, incompreensí- postremo non libeat? Illi fal-
veis e não se façam crer? De aqueles com- lacibus argumentis veritatem
oppugnent, asserant falsitatem,
baterem a verdade e defenderem a falsida- isti nec vera defendere, nec fal-
de com sofismas, e estes não serem capazes sa valeant refutare? Illi animos
audientium in errorem mo-
nem de defender a verdade nem de refutar ventes impellentesque dicendo
o erro? De aqueles, que movem e impelem terreant, contristent, exhilarent,
os ânimos dos ouvintes ao erro, tremerem, exhorrentur ardenter, isti pro
veritate lenti, frigidi dormi-
chorarem, rirem e arrepiarem-se ardente- tent? Quis ita desipiat, ut hoc
mente ao discursar, e os defensores da ver- sapiat?” (August., l. c., IV, 2).
dade, lentos e frios, dormirem? Quem há
tão falto de juízo que o possa aprovar?
Portanto, já que existe a faculdade da elo- “Cum ergo sit in medio posita
quência, tão poderosa para persuadir do facultas eloquii, quæ ad persua-
denda seu prava seu recta valeat
que é mau ou do que é bom, por que ela plurimum, cur non bonorum
não é adquirida pelo bons a fim de mili- studio comparatur, ut militet
veritati, si eam mali ad obti-
tar em favor da verdade, se os maus a usam nendas perversas vanasque cau-
para a iniquidade e o erro a fim de vencer sas in usus iniquitatis et erroris
causas perversas e vãs? usurpant?” (Ibid.).
32
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
33
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
Por ora basta isto que dissemos sobre a re- Sed hæc de rethorica nunc dicta
tórica, pois acerca de suas regras no gênero sufficiant, cum reservamus pau-
lo post iura eiusdem in dicendi
do discurso trataremos com mais detalhe genere planius demonstranda.
depois.
34
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
35
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
Com efeito, o Apóstolo não deduzia algo “Non enim vera inferebat
verdadeiro quando dizia: “Também Cristo Apostolus cum diceret: Neque
Christus resurrexit. Et illa alia:
não ressuscitou”. E também: “É vã a nossa Inanis est fides nostra, inanis est
fé, vã a nossa pregação” (1Cor 15, 13-14). prædicatio nostra (1 Cor., XV ).
Quæ omnino falsa sunt, quia
Tudo isto é completamente falso, porque et Christus resurrexit, et non
Cristo ressuscitou, e porque não era vã a erat inanis prædicatio eorum
pregação dos que isto anunciavam nem a qui hoc annuntiabant, nec fides
eorum qui hoc crediderant. At
fé dos que nisto criam. Mas como é falsa quia falsum est quod sequitur,
a consequente, é necessariamente falso necesse est ut falsum sit quod
præcedit. Præcedit enim non
o antecedente. O antecedente é que não esse resurrectionem mortuo-
há ressurreição dos mortos, como diziam rum, quod dicebant illi, quorum
aqueles cujo erro o Apóstolo queria eli- errorem destruere voluit Apo-
stolus. Porro illam sententiam
minar. Ora, daquela sentença precedente præcedentem, qua dicebant non
segundo a qual diziam não haver ressur- esse resurrectionem mortuo-
rum, necessario sequitur: Neque
reição dos mortos, conclui-se necessaria- Christus resurrexit. Hoc autem
mente: “Também Cristo não ressuscitou”. quod sequitur, falsum est; Chri-
Mas esta conclusão é falsa, porque Cristo stus enim resurrexit: falsum est
ergo quod præcedit. Præcedit
ressuscitou; logo, é falso o antecedente. O autem non esse resurrectionem
antecedente é que não há ressurreição dos mortuorum: est igitur resur-
rectio mortuorum. Quod totum
mortos; logo, há ressurreição dos mortos. breviter ita dicitur: Si non est
Em suma: Se não há ressurreição dos mor- resurrectio mortuorum, neque
tos, também Cristo não ressuscitou; ora, Christus resurrexit; Christus
36
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
Sed quia de logica iam diximus, Tendo já falado sobre a lógica, falaremos
de mathematica consequenter em seguida sobre a matemática.
dicemus.
CAPUT IV. De
mathematica IV. Sobre a matemática
37
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
38
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
“Ita vero suis quisque numerus Cada número encerra-se de tal modo em
proprietatibus teminatur, ut
nullus eorum par esse cuiquam suas propriedades, que nenhum deles pode
alteri possit. Ergo et dispares ser igual a qualquer outro. Logo, são desi-
inter se atque diversi sunt, et
guais entre si e diversos, e cada um indi-
singuli quique diversi sunt, et
singuli quique finiti sunt, et vidualmente é diverso, cada um é finito, e
omnes infiniti sunt” (August., todos são infinitos. 10
39
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
Com efeito, o curso dos dias e dos anos de- “Quaternario namque numero,
senvolve-se com base no número 4: os dias et diurna et annua curricula
peraguntur: diurna matutinis,
correm no espaço das horas matutinas, meridianis, vespertinis, noctur-
meridianas, vespertinas e noturnas; e os nisque horarum spatiis; annua
vernis, æstivis, autumnalibus,
anos, segundo os meses da primavera, do hiemalibusque mensibus. A
verão, do outono e do inverno. Portanto, temporum autem delectatione
em vista da eternidade na qual queremos dum in temporibus vivimus,
propter æternitatem in qua vi-
40
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
41
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
42
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
43
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
44
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
Hæc ergo disciplina tam nobilis Esta disciplina é tão nobre e tão útil que,
est, tamque utilis, ut qui ea ca-
ruerit, ecclesiasticum officium sem ela, não é possível cumprir as funções
congrue implere non possit. eclesiásticas como convém. Pois tudo que é
Quidquid enim in lectionibus
pronunciado decentemente nas leituras, e
decenter pronuntiatur, ac qui-
dquid de psalmis suaviter in tudo que dos salmos é cantado suavemen-
ecclesia modulatur, huius disci- te na igreja, é regulado pelo conhecimento
plinæ scientia ita temperatur, et
non solum per hanc legimus et desta disciplina; e por ela não só lemos e
psallimus in ecclesia, imo omne salmodiamos na igreja, mas cumprimos
servitium Dei rite implemus.
adequadamente todo o serviço de Deus.
“Musica ergo disciplina per A música é uma disciplina que se difunde
omnes actus vitæ nostræ hac
ratione diffunditur: primum si por todos os atos da nossa vida, e da se-
creatoris mandata faciamus et guinte maneira: primeiro, se obedecemos
puris mentibus, statutis ab eo
aos mandamentos do Criador e, com almas
regulis, serviamus. Quidquid
enim loquimur, vel intrinsecus puras, sujeitamo-nos às regras por ele fixa-
venarum pulsibus commove- das. Com efeito, tudo aquilo que dizemos
mur, per musicos rhythmos
harmoniæ virtutibus probatur ou [se] somos movidos interiormente pelas
esse sociatum. Musica quippe vibrações das veias, [tudo isto] demonstra
scientia est bene modulandi.
estar associado ao poder da harmonia atra-
Quod si nos bona conversa-
tione tractamus, tali disciplinæ vés dos ritmos musicais. Ora, a música é a
probamur semper esse sociati; ciência da correta modulação. Donde, se
quando vero iniquitates geri-
mus, musicam non habemus. nos tratamos com boas maneiras, demons-
tramos estar sempre associados a esta dis-
ciplina; mas quando praticamos iniquida-
des, não temos música.
“Cælum quoque et terra, vel om- Também o céu e a terra, ou tudo que neles
nia quæ in eis superna dispensa-
tione peraguntur, non sunt nisi
acontece por disposição divina, não existe
45
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
A música também está muito unida à pró- “Hæc et in ipsa quoque reli-
pria religião cristã. Daí que não poucos gione Christiana valde per-
mixta est” (Ibid.) ac inde fit ut
conteúdos ficam inacessíveis e ocultos “non pauca etiam claudat atque
dada a ignorância de algumas coisas no obtegat nonnularum rerum
musicarum ignorantia. Nam
campo musical. Uma pessoa, por exemplo, et de psalterii et citharæ diffe-
desvendou engenhosamente algumas me- rentia, quidam non inconcinne
táforas a partir da diferença entre saltério aliquas rerum figuras aperuit;
et decem cordarum psalterium
e cítara. Também quanto ao saltério de dez non importune inter doctos
cordas, é de interesse dos eruditos investi- quæritur, utrum habeat aliquam
musicæ legem, quæ ad tantum
gar se há aí alguma regra musical que exija nervorum numerum cogat; an
este número de cordas, ou, não a havendo, vero, si non habet, eo ipso ma-
se tal número deve ser antes tomado em gis sacrate accipiendus sit ipse
numerus, vel propter decalo-
sentido místico, quer em referência aos gum legis, de quo item numero
dez mandamentos (em cujo caso não pode si quæratur, non nisi ad crea-
torem creaturamque referen-
ser referido senão ao Criador e à criatura), dus est, vel propter expositum
quer se trate do número 10 em si mesmo ipsum denarium” (August., De
como expusemos acima. Doc. Crist., II, 16).
46
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
“Non enim audiendi sunt erro- Portanto, não devemos dar ouvido às fal-
res gentilium superstitionum,
qui novem Musas, et Iovis et sidades das superstições dos pagãos, que
Memoriæ filias esse finxerunt. representaram as nove Musas como filhas
Refellit eos Varro: quo nescio
de Júpiter e Mnemósine. Varrão os refuta,
utrum apud eos quisquam ta-
lium rerum doctior vel curio- e não sei se pode haver entre eles alguém
sior esse possit. Dicit enim mais versado e interessado nestas coisas. Se-
civitatem nescio quam (non
enim nomen recolo) locasse gundo ele, certa cidade (não me recordo o
apud tres artifices terna simu- nome) encomendou a três artífices três está-
lacra Musarum, quod in templo
tuas das Musas, que seriam colocadas como
Apollinis donum poneret, ut
quisquis artificum pulchriora oferta no templo de Apolo, e seriam esco-
formasset, ab illo potissimum lhidas e compradas, de preferência, aquelas
electa emeret. Ita contigisse ut
opera sua illi quoque artifices do artista que lograsse fabricar as mais be-
æque pulchre explicarent, et las. Aconteceu que os artífices produziram
placuisse civitati omnes novem
obras igualmente belas, e a cidade gostou
atque omnes esse emptas, ut in
Apollinis templo dedicarentur; das nove e comprou todas para que fossem
quibus postea dicit Hesiodum destinadas ao templo de Apolo. E Varrão
poetam imposuisse vocabula.
[conclui] dizendo que posteriormente o
poeta Hesíodo deu nome a cada uma.
“Non ergo Iupiter novem Mu- Logo, não foi Júpiter que gerou as nove
sas genuit, sed tres fabri ternas
creaverunt. Tres autem non
Musas, mas três artesãos fabricaram três
propterea illa civitas locaverat, delas cada um. E aquela cidade encomen-
14
47
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
dara três, não por tê-las visto em sonho, quia in somnis eas viderat, aut
tot se cuiusquam illorum oculis
nem por elas se terem manifestado em demonstraverant; sed quia faci-
número de três aos olhos de algum dos ci- le erat animadvertere omnem
sonum, quæ materies cantile-
dadãos; mas porque era fácil perceber que
narum est, triformem esse na-
todo som, elemento material das canções, tura. Aut enim voce editur, si-
é por natureza de três tipos: pois ou é pro- cuti eorum est qui faucibus sine
organo canunt; aut flatu sicut
duzido pela voz, como no caso dos que tubarum et tibiarum; aut pulsu
cantam com a boca e sem instrumento; ou sicut in citharis et tympanis, et
quibuslibet aliis, quæ percu-
pelo sopro, como o das trombetas e flautas;
tiendo canora sunt” (Ibid., 17).
ou pela percussão, como nas cítaras, tam-
bores e demais instrumentos que ressoam
através da percussão.
Sendo ou não verdadeiros os fatos narra- “Sed sive ita se habeat, quod
Varro retulit, sive non ita, nos
dos por Varrão, nós, contudo, não deve-
tamen non debemus propter
mos evitar a música por causa da supersti- superstitionem profanorum
ção dos profanos, se pudermos extrair dela musicam fugere, si quid inde
utile ad intellegendas sanctas
algo útil à compreensão das Sagradas Es- scripturas rapere potuerimus,
crituras; nem devemos dar atenção às suas nec ad illorum theatricas nugas
converti, si aliquid de citharis
futilidades teatrais, quando investigamos
et de organis, quod ad spirita-
algo sobre cítaras e órgãos que contribui lia capienda valeat, disputemus.
para a compreensão de coisas espirituais. Neque enim et litteras discere
non debuimus, quia earum <re-
Afinal, não é porque eles dizem ser Mer- pertorem> dicunt esse Mercu-
cúrio o inventor das letras, que nós não de- rium, aut quia iustitiæ virtuti-
que templa dedicarunt, et quæ
vemos aprendê-las. E se eles consagraram
corde gestanda sunt in lapidi-
templos à Justiça e à Virtude, e preferiram bus adorare maluerunt, propte-
adorar na pedra o que se deve cultivar no rea nobis iustitia virtusque fu-
gienda est. Immo vero quisquis
coração, nem por isso devemos evitar a bonus verusque christianus est,
justiça e a virtude. Ao contrário: que todo domini sui esse intellegat, ubi-
cumque invenerit veritatem”
bom e verdadeiro cristão, onde quer que (Ibid., 18).
encontre a verdade, entenda que ela per-
tence ao seu Senhor.
48
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
49
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
Esta parte da astrologia que, com inves- Hanc quidem partem astrolo-
giæ, quæ naturali inquisitione
tigação natural, trata dos movimentos do
exsequitur, solis lunæque cur-
sol, da lua e das estrelas, e cuidadosamente sus atque stellarum et certas
examina certas mudanças do tempo, esta, temporum distinctiones caute
rimatur, oportet a clero domini
50
3. S e t e a rt es li b er a i s ex p li cadas
solerti meditatione disci, ut per digo, convém seja aprendida pelo clero do
certas regularum coniecturas
et ratas ac veras argumento- Senhor com diligente meditação; a fim de
rum æstimationes, non solum que, por certas conjecturas das leis e por
præterita annorum curricula
estimações calculadas e verdadeiras dos
veraciter investiget, sed et de
futuris noverit fideliter ratioci- argumentos, não apenas investigue veraz-
nare temporibus, usque pascha- mente o transcurso pretérito dos anos, mas
lis festi exordia et certa loca
omnium solennitatum atque também saiba raciocinar fielmente sobre
celebrationum sibi sciat inti- os tempos futuros, de maneira que saiba
mare observanda, et populo dei
descrever para si mesmo o início da festa
rite valeat indicare celebranda.
da Páscoa e os dias exatos de todas as sole-
nidades e celebrações a serem observadas,
e possa instruir corretamente o povo de
Deus acerca das celebrações.
51
EPÍLOGO
SOBRE O BEATO ALCUÍNO
James Burns
1
1. Traduzido a partir de: James Burns, “Alcuin”. In: The Catholic Encyclopedia,
v. 1. New York: Robert Appleton Company, 1907. Disponível em <https://
www.newadvent.org/cathen/01276a.htm>. Acesso em 18 jan. 2024. Verbete
adaptado passim para esta publicação.
53
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
54
EP Í LOGO : S o b r e o B e at o A l c u ín o
55
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
56
EP Í LOGO : S o b r e o B e at o A l c u ín o
57
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
58
EP Í LOGO : S o b r e o B e at o A l c u ín o
59
SOBRE HUGO DE SÃO VÍTOR
Papa Bento XVI
2
60
EP Í LOGO : S o b r e H u g o d e S ão V í t o r
61
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
62
EP Í LOGO : S o b r e H u g o d e S ão V í t o r
63
SOBRE RÁBANO MAURO
Papa Bento XVI
3
64
EP Í LOGO : S o b r e R á ban o M au ro
65
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
66
EP Í LOGO : S o b r e R á ban o M au ro
67
S E T E A RT ES LI B ERA I S: U M A I N T RO D U ÇÃO
68
EP Í LOGO : S o b r e R á ban o M au ro
69