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AVISO DO BWC
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
Agradecimentos
Para Sam –
tudo começou com um script
AVISO DO BWC
Uma hora depois, estou esperando nos bastidores, meu co-escritor não
consegue parar de andar de um lado para o outro e o nosso talento está
atrasado.
Nesse caso, os bastidores são o banco em frente ao escritório da Sra.
Mulaney, onde me sento mexendo no meu celular enquanto Henry
fica mais irritado a cada passo. Fitz já deveria estar aqui. Como líderes
de fato do clube de teatro da LHS, devemos apresentar ’Melted’ como
um time. Henry e eu como a dupla de roteiristas e diretores nos
bastidores, e Fitz representando o talento no palco.
Eu fico olhando para o meu telefone, observando o nosso bate-papo
no grupo Time Melted pegar fogo.
Makayla Okoye
É DIA DE MELTED AHHHH
7h29
Arjun Patel
7h29
Arjun Patel
Nos conte tudo o mais rápido possível. Eu sei que tentamos ser
uma organização de baixos riscos, mas...
7h30
Makayla Okoye
HOJE TEMOS RISCOS
7h30
Arjun Patel
(sem pressão!!!!)
7h31
Makayla Okoye
(um pouquinho de pressão )
7h31
Eu engulo o nó na minha garganta. Legal. Pressão. Legal legal legal.
Eu entendo. Nós sempre nos consideramos um clube de venha pra
se divertir! e de baixo comprometimento. Não somos atores sérios
como as crianças do teatro musical ou músicos intensos como a
banda. Somos uma mistura de atletas e cientistas, capitães de quiz bowl
e futuros políticos, todos unidos por nosso apreço mútuo pela técnica
do Sim, e... e estamos montando uma produção consistente. Para nós,
o teatro está no lado B da história da nossa vida. Mas, os melhores
momentos de qualquer personagem são sempre nas subtramas. Então,
a ideia de perdê-lo?
Isso nos abalou mais do que esperávamos.
Então, elaboramos um plano. Uma proposta de baixo orçamento
que a Sra. Mulaney e o comitê escolar não podem recusar.
Eu mudo para meu bate-papo em grupo privado com Henry e Fitz
enquanto ele vibra com uma notificação.
Reid Callahan
como foi boiled?
8h45
Eu faço outra careta, desta vez para a parte de trás da cabeça de
Reid. Ele está sentado com um grupo de membros da banda algumas
fileiras à minha frente. Ele bate os ombros com os de Lacey Henderson,
primeira flautista, e ri quando ela sussurra algo em seu ouvido. Seus
dedos batem contra sua coxa distraidamente em cinco-quatro, ao ritmo
de qualquer música que ele e meu pai tocaram esta manhã,
provavelmente.
Fitz lê a mensagem por cima do meu ombro.
— Posso?
Entrego meu celular a Fitz.
8h46
— Alguém tem alguma dúvida? — Sra. Mulaney pergunta.
Seu sorriso cheio de dentes grita, por favor, não tenham!
Henry mastiga o interior da bochecha. Fitz levanta a mão dela.
Os lábios da Sra. Mulaney pressionam em uma linha fina, sua
expressão neutra.
— Sim, Fitz?
— Podemos falar sobre os cortes ‘generalizados’ no orçamento das
artes? — Fitz se levanta na arquibancada, sua voz um decibel muito
alta. — Você não mencionou o programa de música.
O silêncio ricocheteia nas paredes do ginásio. Isso é uma coisa que
acontece quando Fitz fala. Quero dizer, os alunos nunca falam nas
assembleias da Sra. Mulaney. Mas Fitz, de pé na arquibancada com os
braços cruzados e os lábios cor de chiclete franzidos, exige atenção.
Os olhos da sra. Mulaney encontram os de Fitz.
— Temos sorte de ainda ter um currículo musical básico e um
programa de banda, mas, infelizmente, haverá cortes lá também.
Danica Martinez, uma veterana que está no centro tanto do teatro
musical quanto dos clubes a capella, levanta a mão. Isso aí! Este é o
poder da Fitz.
— O que isso significa para os Trebles?
— Isso significa…
— Sem Trebles, Danica — Fitz interrompe.
Danica franze a testa.
— Isso é verdade?
Sra. Mulaney assente.
— Eu sinto muito.
Os alunos do coral explodem em sussurros de pânico – e Fitz ainda
nem terminou.
— Sem Trebles. Sem aulas de teatro ou cinema, ou aulas de arte
avançada, ou revista literária, ou noticiário...
— Chega, Ava. — Desafiar a Sra. Mulaney a portas fechadas é uma
coisa. Chamar a atenção dela na frente de todo o corpo discente? É um
nível acima. — Há um boletim informativo em seus e-mails estudantis
explicando os cortes e como se envolver em outras iniciativas do LHS–
— Isso não explica por que a banda se livrou — diz Fitz.
Reid se vira para nos encarar.
— Porque somos bons?
Eu pisco.
— Com licença?
Reid encolhe os ombros.
— Ensaiamos por horas todas as semanas. Nós merecemos isso.
Eu... não consigo com essa agora.
Antes que eu possa pensar demais, fico ao lado de Fitz.
— Não. Os retratos da Makayla ganham prêmios
regionais. Durante o verão, Danica passou uma semana em Nova York
representando a LHS em oficinas de teatro musical. Fitz ficou em
segundo lugar no festival de teatro estadual por seu monólogo
de Barefoot in the Park. Não me diga que se trata de performances de
qualidade.
Minha voz é medida, embora eu me sinta quente, como se um
holofote estivesse brilhando em mim, no centro do palco.
Reid levanta uma sobrancelha.
— Nós não ficamos em segundo lugar, Natalie. Nós ganhamos.
— Arte não é sobre vencer! — retruco, minha voz agora uma oitava
alta demais.
Sra. Mulaney pigarreia.
— Ava. Natalie. Sentem-se.
Fitz se senta. Alisa sua saia.
— Estou bem, Caroline.
O silêncio se transforma em ooohs coletivos. Agora é uma cena.
— OK. Todos, por favor, dirijam-se às suas aulas do primeiro
período. Fitz... — O pescoço da Sra. Mulaney estala para nos
encarar. — Meu escritório.
Os olhos de Henry se estreitam.
— Bem feito, Fitzgerald.
Fitz se levanta, jogando sua mochila JanSport xadrez por cima do
ombro e dá de ombros.
— O que ela vai fazer? Suspender-me das atividades do
contraturno?
— Você é minha heroína — digo.
Fitz me sopra um beijo.
— Você também foi incrível.
— Natalie! — Henry suspira, exasperado. — Não apoie isso!
Eu coloco minhas mãos em volta dos meus lábios e
murmuro HEROÍNA para Fitz enquanto ela desce os degraus da
arquibancada e segue Mulaney para fora das portas duplas, o dedo do
meio virado atrás de suas costas.
— Isso foi bem — resmunga Henry.
Sua voz goteja sarcasmo, totalmente alheia ao mini movimento
acontecendo diante de nós. Porque os alunos que não são da
banda aplaudem Fitz enquanto ela sai do ginásio atrás dos calcanhares
da Mulaney. Na minha cabeça, é uma ária, crescendo de pianíssimo a
forte. Na realidade, são algumas dezenas de adolescentes. Mas
eu vejo. Uma divisão clara entre a banda e os outros clubes de artes se
formando. Agora que sabem que há injustiça nesses cortes de
orçamento, eles não estão tão dispostos a deixar pra lá.
É uma oportunidade. Eu sinto nos meus ossos.
Isso ainda não acabou.
1
“Treble”, de “treble clef”, clave de sol em inglês.
Papai faz o ajuste e pressiona as palmas das mãos contra o pôster,
colando-o na parede.
Eu pressiono meus lábios em uma linha firme. Eu esperava que
traidor saísse da minha boca no momento em que entrei em sua sala de
aula tão facilmente quanto foi na orientação. Não tenho certeza do
porquê. Se a escolha for enrolar em um silêncio constrangedor ou se
envolver em uma conversa honesta, papai e eu vamos enrolar o dia
todo. Então, eu fico enrolando na sala da banda. Com espaço
suficiente para uma orquestra de alunos completa, piso multinível
incluído – é praticamente uma sala de aula dos sonhos. As cadeiras são
espaçadas igualmente nos três níveis; estantes de música estão
penduradas em prateleiras na parede posterior, decorada com uma
grande variedade de pôsteres de teoria musical.
Papai desce, senta-se em sua cadeira de rodinhas e mexe o mouse
para ligar seu monitor. A tela está voltada para mim, aberta na lista de
alunos de Composição, Iniciante.
— Então, foi um show e tanto — diz ele, dando o primeiro passo.
— Eu diria que o Tony vai para você esta semana, pai.
Seus olhos encontram os meus, sua expressão suavizando.
— Porque eu acreditei em Melted?
Eu cruzo meus braços, resistindo ao desejo de relaxar.
— Um toque de realidade teria sido útil. Pelo menos um aviso de
que eles não vão substituir a Srta. Bryant.
— Eu não queria cortar seu barato com base em especulações. Você
e Henry estavam se divertindo muito neste verão. Eu amei que vocês
estavam escrevendo juntos. Eu acreditei que você tinha uma chance
real. — Papai solta um suspiro pesado e coça a barba— Lamento que
você tenha se sentido pega de surpresa.
Belisco meu esmalte de unha azul lascado, frustrada.
— Lamenta o suficiente para fazer algo?
O silêncio de papai neste momento é fortíssimo.
— Imaginei.
— Natalie, é meu trabalho tornar a banda o mais valiosa possível
para esta escola. Para me tornar o mais valioso possível.
— Mesmo que seja às custas de todos os outros estudantes de artes
e de seus clubes?
Papai franze a testa.
— Não é minha culpa. Eu entendo que você esteja chateada. Mas
você não pode simplesmente sair dos trilhos com uma campanha anti-
banda. Você entende quantos problemas nossa família terá se o
programa de música for cortado?
Sério? Papai fala como se eu não soubesse que esse é o seu trabalho
e que o dinheiro está apertado. Como se eu não tivesse vivido com a
complicada tensão da banda ser um mal necessário na minha vida por
anos.
Estou ciente disso. Eu lido com isso. Não significa que tenho que
gostar disso.
Além disso, tudo o que fiz na assembleia foi expor os fatos. Isso
dificilmente está saindo dos trilhos.
— Reid que começou–
Papai me interrompe.
— Suíça.
Eu exalo um suspiro de frustração. Tudo que eu quero é que papai
não seja o Sr. Jacobson por, não sei, dois segundos. Que me diga que,
embora seja o departamento dele, Reid também não estava certo na
orientação. Mas papai é a Suíça. “Neutro” em todas as coisas Natalie
vs. Reid. O que ele não entende é que sua neutralidade está, na verdade,
escolhendo um lado. Não sei nem porque tento.
Eu levanto e jogo minha mochila sobre meu ombro, cansada desta
cena familiar.
— Tanto f...
A porta da sala da banda se abre, interrompendo-me no meio da
saída.
— Desculpe. — Reid dá um passo para trás. — Voltarei mais tarde
se estiver...
— Ele é todo seu — digo. — Estou fora.
Eu empurro Reid, cruzando os assentos em níveis da sala da banda
e abrindo a porta antes que alguém possa ver meu rosto. Exceto que
não sou rápida o suficiente, porque ouço Reid chamando meu nome
não uma, não duas, mas três vezes enquanto me segue pelo corredor.
— Natalie — ele repete. — Eu sinto mu–
Eu me viro para encará-lo.
— Não faça isso. Você não sente. Portanto, não faça isso.
Os dedos de Reid batem contra sua coxa em meias notas, legato. A
batida que Reid toca nos minutos antes de uma prova de matemática,
ou depois da última aula com meu pai antes de uma competição.
Ele exala.
— Ferraram com você. É uma merda.
— Diz ele antes de voltar para a sala da banda — digo.
Reid encolhe os ombros.
— Vou falar com seu pai depois de química.
Antes de responder, o sinal toca e os alunos inundam o corredor. Eu
faço questão de não pensar ativamente em quanta sobreposição há em
nossas agendas, mas temos aula de química juntos. Eu não posso
exatamente me mandar daqui. Assim, caminhamos juntos, nossos
passos sincronizados. A boca de Reid se contrai, como se os cantos
estivessem tentando subir. É estranho. Andar ao lado de Reid Callahan
é estranho.
Claro que a ala de ciências fica do outro lado do prédio, o mais longe
possível da sala da banda. Nós seguimos murais que retratam os
estágios da mitose no final do corredor estreito até a sala de aula da Sra.
Santiago. É a última à esquerda, adjacente a uma saída de
emergência. As aulas de Reid coincidindo com as minhas são quase
emergenciais o suficiente para passar por aquelas portas duplas e sair
correndo. Especialmente quando ele abre a boca novamente.
— Poderíamos ter outra clarinete, você sabe.
Suas palavras me param no meio de um passo. É uma declaração tão
ridícula que me pergunto se estou tendo um sonho febril.
Minha risada ecoa pelo corredor.
— Você está brincando.
— É muito fácil, simplesmente ser o melhor — diz Reid. — Você
não sente falta de competição?
Eu balancei minha cabeça.
— Não. Eu realmente não sinto.
Eu só – é por isso que Reid e eu nunca teremos uma conversa
normal. Sua configuração padrão é arquitetar uma competição
comigo, mesmo quando não há mais nada para competir.
— Então, você só vai, o quê...? — Ele balança a cabeça. —
Estatística, química, psicologia, biologia... sua agenda é uma merda,
Natalie.
— Por que você se importa? — pergunto.
Reid enfia as mãos nos bolsos.
— Não me importo. Mas agora que Melted está acabado...
Não. Eu não posso com isso. Eu alongo meu passo até estar na
frente da sala da Sra. Santiago e abro a porta. Sento-me no assento vazio
ao lado de Fitz na mesa central no fundo.
— Você está bem? — Fitz sussurra, seus olhos cintilando na direção
do assento de Reid.
— Eu não fui mandada para a direção. Você está bem?
Fitz revira os olhos.
— Caroline dá um show difícil. Mas no final do sermão ela estava se
desculpando comigo por não ter lidado melhor com esta manhã!
Eu rio, aliviada porque pelo menos as consequências de nosso show
na orientação foram leves. Assim que o sinal toca, Santiago recita seu
discurso usual sobre segurança de laboratório e manuseio de produtos
químicos. Nossa primeira aula prática do semestre é testar como o
alumínio e o zinco reagem com o ácido clorídrico. É o único produto
químico que a escola permite que o laboratório armazene que é
realmente perigoso, então Santiago reitera todas as regras possíveis. É a
mesma aula que tivemos em Química com Honras no ano passado, mas
Reid está fazendo anotações meticulosas como se sua vida dependesse
disso.
É muito fácil, simplesmente ser o melhor.
Exceto que Reid não era o melhor. Não quando eu jogava.
Agora que Melted está acabado...
As palavras de Reid ecoam na minha cabeça e eu não quero mais
nada além de limpar o sorriso confiante de seu rosto. E aí me caiu a
ficha – existe uma competição para começar. Só que não é sobre o
clarinete.
Passo o resto da aula escrevendo em meu caderno, rascunhando e
reescrevendo a resposta perfeita ao convite de Reid para tocar o
instrumento que transformou uma rivalidade infantil em uma guerra
total. Minha caneta desliza pelo papel do caderno, ataques pessoais
compostos em uma escrita perfeita. Cada versão é uma formulação
ligeiramente diferente da mesma simples verdade.
Prefiro despejar ácido clorídrico em mim do que tocar clarinete com
Reid novamente.
E Melted está longe de estar acabado.
Parabéns para você em Jazz de Clarinete
— Estrelas ou pérolas?
Estou balanceando equações químicas na mesa da Fitz quando ela
se aproxima de mim com duas gargantilhas – uma com delicadas
estrelas de ouro na mão esquerda e outra com pequenas pérolas na
direita.
— Definitivamente estrelas — digo.
Fitz acena com a cabeça, movendo-se pelo quarto até o espelho de
corpo inteiro, onde ela ajusta a posição da gargantilha até que esteja de
acordo com os padrões de câmera. Vestida com jeans rasgados de
cintura alta com uma camiseta de algodão branco dobrada para dentro,
o look de Fitz é quase simples até que ela adiciona a peça de referência:
uma jaqueta bomber de cetim rosa dourado. É um original do If the
Shoe Fitz, reciclado de um vestido de baile que encontramos na
Goodwill durante o verão.
— Perfeito — diz Fitz, acenando com a cabeça no espelho em seu
trabalho.
Enquanto ela amassa os cachos e passa gloss rosa dourado sobre os
lábios, peço para os retratos de Maya Rudolph, Timothée Chalamet,
Stella McCartney e Daveed Diggs que estão pendurados acima da mesa
da Fitz para me enviarem forças para terminar o dever de casa, mesmo
que eu sei que já é uma causa perdida. Eles compõem a colagem cada
vez maior da Fitz de Mais-Ou-Menos Heróis Judeus.
Uma nova celebridade é adicionada cada vez que alguém diz: Ah, eu
não sabia que você era judia.
Porque ser judeu não é ter um determinado nome ou uma
determinada aparência.
Os Mais-Ou-Menos Heróis Judeus enviam vibrações positivas
enquanto eu corro para simplesmente terminar meu dever de casa antes
que Henry, Makayla, Arjun e Danica cheguem em uma hora para
discutir todas as coisas sobre HAVE A HE(ART) – nossa primeira
reunião desde o hiato de Rosh Hashanah. Depois de Chao Down,
criamos um conselho executivo menor. Makayla representa as artes
visuais, Arjun representa os alunos de audiovisuais e tecnológicos e
Danica representa os alunos do coral e do teatro musical. Cada um
deles está coordenando e planejando com seus grupos para garantir que
estamos todos na mesma página.
— Natalie — Fitz diz, seu tom indicando que esta não é a primeira
vez que ela disse meu nome —, você pode fazer a passagem de som?
Ela liga a configuração do mixer à minha esquerda. Eu fecho meu
livro e aceito que nenhum dever de casa será feito.
— O que você faz sem mim?
— Me esforço — Fitz diz, prendendo o microfone de lapela em sua
camiseta. — Eu sou uma mestre de visuais, mas o som é meu inimigo! É
irritantemente mais fácil editar quando você verifica os níveis. Sempre.
Não há uma maneira casual de dizer isso: Fitz é meio que famosa na
internet.
Coloco os fones de ouvido enquanto Fitz arruma a cena. O quarto
dela é de madeira clara e tons pastéis. Ela centraliza a câmera em sua
cama, um edredom branco com dois cobertores, lavanda e hortelã,
jogados no canto esquerdo. Dois manequins estão ao fundo, um meio
vestido com o corpete de um vestido que Fitz está fazendo para o
aniversário de 21 anos de sua irmã Tessa. Do outro lado da cama está
um cabideiro cheio de peças If the Shoe Fitz.
Baixo o volume do mixer.
— Fale.
— O que você acha que está acontecendo entre Henry e Danica?
— Fitz pergunta, sua voz ainda muito alta.
Eu estremeço, abaixando mais o volume.
— Eu não sei. Eles têm muitas aulas juntos.
— OK. Mas Henry tinha literalmente emojis de coração em seus
olhos quando Danica apareceu no Chao Down. Eu nunca o vi assim
antes. — Fitz passa para o enquadramento do vídeo, sentando-se com
as pernas cruzadas na ponta da cama. — Não deveríamos manter a
dinâmica entre os membros do conselho eletrônico do HAVE A HE
(ART) profissionais?
— Certo. Mas e se Danica quisesse te abraçar?
Fitz joga um travesseiro na minha cara.
— Eu sou uma hipócrita.
— Henry nos falaria se eles fossem mais do que amigos. Você está
pensando demais nisso. — Giro a cadeira da escrivaninha para ficar de
frente para a câmera e fixo a imagem descentralizada. Através da
câmera, eu noto que suas bochechas estão com um tom de rosa mais
profundo do que o blush que ela está usando. — Por que você está
pensando demais nisso?
Fitz passa os dedos pelos cabelos e encolhe os ombros.
— Eu não sei. Danica sempre teve uma grande energia queer. Mas
talvez eu esteja exagerando. Eu estou definitivamente presumindo, o
que também não é legal. Posso voltar a sofrer à distância? Sair desse
sonho de realidade alternativa que se tornou realidade no qual minha
crush está vindo para minha casa em nome de salvar as artes. Ugh.
— Como ela está vindo em — eu verifico a hora no meu telefone —
45 minutos, é um pouco tarde para isso. Se ajudar, você está fabulosa.
Fitz exala sua ansiedade e afofa seus cachos.
— Ajuda.
— OK. Concentre-se no seu vídeo. Os bagels de pizza estarão
esperando por você quando terminar.
— Eu já disse que você é minha heroína? — Fitz pergunta.
— Não com frequência suficiente — digo.
Fitz mostra a língua para mim. Certa de que ela tem o
enquadramento e os níveis de áudio certos para um vídeo perfeito, jogo
minha mochila por cima do ombro e saio do quarto da Fitz, descendo
os degraus de madeira que rangem e me levam a uma cozinha vazia.
Eu retiro as assadeiras do forno e pré-aqueço antes de abrir a
geladeira para compilar tudo que preciso para criar os bagels de pizza
perfeitos. Papai sempre me ensinou a importância da mise en place, que
o trabalho extra vale a pena.
Vinte minutos depois, Henry entra em cena com bandejas de
bubble tea.
— Eu deveria ter vindo antes.
Henry observa a cena que agora é a cozinha de Fitz: o pote vazio de
molho de pizza na pia, o queijo mussarela por todo o balcão, os restos
de vegetais deixados na tábua de cortar, as três variedades de bagels de
pizza prontos para ir ao forno. Suas sobrancelhas se franzem em uma
expressão em algum lugar entre diversão e preocupação.
— Atualmente, estou no humor de re-assistir ao episódio “Flu
Season” de Parks and Rec. Eu não sabia que você estava no nível Bagels
de Pizza de Pânico.
Eu encolho os ombros.
— Eu meio que entrei na onda.
— Fitzgerald ainda está gravando?
Abro o forno e coloco as duas primeiras formas de bagels de pizza
dentro.
— Sim.
Henry inala.
— Isso é... pesto?
Eu afirmo.
— Caótico, certo?
Limpo o queijo ruim na pia com uma toalha de papel, Henry raspa
os restos de vegetais no triturador de lixo e nós estabelecemos um ritmo
constante. Estou mil por cento mais à vontade com Henry ao meu lado
e tenho quase certeza de que essa é a definição de ser um melhor amigo
– a disposição de limpar uma bagunça que você não fez.
Depois que terminamos, a cozinha de Fitz cresce em
população. Arjun e Makayla chegam com biscoitos da Padaria da
Manuela. O cabelo na altura dos ombros de Arjun está úmido após o
treino de cross-country. Danica tem ensaio do coral da igreja, mas
chega por volta das oito horas. Estamos discutindo a vibe geral entre os
clubes quando Fitz se junta a nós.
É impressionante como ela consegue chegar incrivelmente
atrasada em sua própria casa.
— Jaqueta legal — diz Danica.
Ela sorri, e tenho certeza de que essas duas palavras acabaram de
fazer sua noite inteira.
— Obrigada! E desculpe! Eu ficava tropeçando nas palavras
dizendo “metas de rose gold” e... — Fitz faz uma pausa no meio e
percebe que estou colocando bagels em uma travessa, seus olhos se
arregalando. — Isso é pesto?
— Certo? — Henry diz. — É pior do que pensávamos.
— Quero dizer… — Arjun começa devagar — Bagels de pizza são
deliciosos. Objetivamente.
— Não quando são produto do estresse, Arjun! — Fitz diz.
Os olhos de Arjun se arregalam e sua boca se fecha. Makayla e
Danica se entreolham e contemplam suas escolhas de vida,
provavelmente.
— Algumas pessoas assam bolos por estresse — explica Henry. —
Natalie faz bagels de pizza por estresse.
— Cupcakes são muito doces — dou de ombros, passando o prato
ao redor da mesa.
Danica levanta uma sobrancelha para Henry.
— Tipo, como você fez um quilo de guacamole na noite passada?
Fitz processa essa nova informação sem perder o ritmo, como a atriz
fenomenal que é.
— Natalie e Henry são almas gêmeas. É preciso ser um chef
estressado para reconhecer outro.
— Eu não ia desperdiçar cinco abacates — diz Henry. —
Cinco! Você sabe como é raro ter cinco abacates perfeitos? Quer dizer,
foi mais do que uma pausa merecida dos deveres de casa. Era
uma obrigação.
Danica ri.
— Talvez você apenas seja ruim em comprar abacates.
Eu levanto minhas sobrancelhas. A paixão de Henry por abacates é
um... novo desenvolvimento.
— Parece que ontem foi produtivo — diz Fitz, enfiando um bagel
de pizza na boca.
Ontem, Henry e Danica não puderam trabalhar no HAVE A
HE(ART) depois da escola por causa de um projeto de espanhol
avançado sobre Cien Años de Soledad.
— Foi! Depois que terminamos, também assistimos Frozen — diz
Danica. — Para inspiração.
OK. Uau. Guacamole e Frozen?
Talvez Fitz não esteja tão errada.
— Legal — diz Fitz.
— Legal — repito, igualmente perplexa. Quando perguntei a Henry
como foi ontem, sua resposta foi quase uma falta de resposta: “Danica
é legal. Estava de boa.”
Eu engulo minhas perguntas e abro meu laptop, pronta para pular
para o HAVE A HE(ART).
Esta noite, há três itens na agenda:
1. Descrever os detalhes específicos do nosso evento HAVE A
HE(ART)
2. Escrever uma petição para apresentar ao comitê escolar exigindo
que o orçamento seja redistribuído entre os clubes de artes
3. Fazer uma estratégia de execução de todas as coisas: como,
quando e onde apresentar isso ao comitê escolar
Mas quando eu entro no Google Drive fico... confusa porque o
primeiro item nos arquivos recentes é o slide de propostas sobre
Melted que Henry e eu criamos para nos preparar para nosso encontro
com a Sra. Mulaney. Não abro desde... bem, desde a rejeição.
Eu clico nele.
O slide de título diz: BOILED: UMA ODE À PEÇA QUE PODERIA TER SIDO.
— Oh meu Deus! Eu fui hackeada. Reid! — Giro a tela do meu
computador para que fique visível para toda a mesa. Eu clico na
apresentação. Ela se foi. Melted se foi – substituída por uma
apresentação de vinte slides que lista todos os motivos pelos quais não
há esperança para Melted porque, é claro, não é Boiled. Vinte! Slides!
— Callahan... invadiu sua conta do Google? — Arjun pergunta.
— Por quê? — Danica pergunta.
— Reid e Natalie reagem um ao outro em pegadinhas — explica
Fitz. — Já faz um tempo, mas é a coisa deles.
— O que foi que você fez? — Henry pergunta.
— Nada! — protesto. Henry e a mania de culpar a vítima estão
cancelados por um tempo futuro. Eu clico na apresentação para editar
e ver se posso desfazer essa farsa, mas o meu acesso de administrador e
o de Henry foi revogado e a apresentação está marcada como "somente
visualização". Abro uma nova aba e merda – o script
de Melted também foi malditamente trocado para Boiled. Estou
bloqueada do meu próprio script!
— Isso é uma mensagem. Ele está preocupado com HAVE A
HE(ART).
— Uau — diz Makayla, percorrendo a apresentação enquanto eu
fico boquiaberta com a tela. — “A capacidade de derreter algo
dificilmente é única. Ferver? É um poder menos explorado. Toneladas
de potencial.” Eu só... — Os pensamentos de Makayla são
interrompidos pelo riso coletivo que toma conta da mesa.
— Boiled é um nome objetivamente terrível — Danica engasga, e eu
descubro que ela bufa quando ri muito alto, o que a torna cerca de dez
por cento menos intimidante.
Eu fecho meu laptop.
— Reid está mantendo Melted de refém.
— Eu faço backup de tudo no meu disco rígido — Henry me
lembra.
— Refém — eu reitero.
Obviamente, tenho que retaliar.
Henry balança a cabeça, como se pudesse ler minha mente.
— As guerras de pegadinhas nunca terminam bem.
Ele não está tecnicamente errado, mas meu cérebro já está pensando
no próximo passo, como posso fazer uma pegadinha de maneira
semelhante – mas inesperada. Reid e eu não temos um livro de regras
inteiro estabelecido apenas para eu sentar em minhas mãos e não dar o
troco.
— Não temos mais doze anos, Hen — digo.
Ele levanta as sobrancelhas.
— É mesmo?
— Estou com Chao — diz Danica. — Há muita coisa em jogo. Uma
chamada de cortina final para os formandos. Uma chance para os
novatos provarem que nossos clubes agregam tanto valor à
comunidade escolar quanto à banda. Se queremos ser levados a sério,
temos que nos levar a sério.
Fitz concorda.
— Reid nos pegou. É irritante, mas... a melhor retaliação não é...
não ter retaliação?
— Vamos manter o foco no HAVE A HE(ART) — Henry
implora.
— Podemos adicionar uma amostra de artes na proposta? Podemos
expor arte nos corredores, disponíveis para venda, como nossa
proposta de leilão — diz Makayla, tentando nos colocar de volta nos
trilhos.
— Para onde iria o dinheiro que arrecadamos? — Arjun
pergunta. — Isso provavelmente vai surgir.
— Nós dividiremos — sugiro, focando novamente em HAVE A
HE(ART). — Venda de ingressos, venda de arte, tudo isso. Entre
nossos programas e o The Sunshine Project – uma instituição de
caridade ambiental criada por nossa geração que está trabalhando para
combater as mudanças climáticas. Precisamos do dinheiro, mas não
estou falando apenas de ativismo performativo.
— Nem eu — Henry concorda. — Não é como se pudéssemos
salvar todos os nossos clubes com apenas um evento de qualquer
maneira.
— Eu amo isso — diz Fitz.
Todos concordam.
— Perfeito — digo, fazendo anotações.
— E a proposta… — Arjun começa. — Nós realmente achamos que
ir por cima da Sra. Mulaney é a melhor jogada? Não deveríamos tentar
apelar para ela primeiro?
Fitz zomba.
— Já fizemos isso.
— Meu pai se apresenta ao comitê escolar o tempo todo — digo. —
Cada reunião dedica um tempo aos comentários públicos. Só temos
que escolher uma reunião para participar e se inscrever.
Makayla levanta as sobrancelhas.
— É tão fácil?
— Falar? Sim — digo. — Na verdade, ser ouvido é a parte
desafiadora.
— Estou dentro. Eu quero interpretar Emma — Danica diz.
— Teremos que fazer uma leitura de química — diz Fitz. — Já que
sou Adina.
Henry engole.
— Podemos cruzar essa ponte só quando chegarmos nela?
Danica cruza os braços sobre a mesa, alheia.
— Eu mostrei para Cassie e Toby e estamos decididos a convencer
a trupe de teatro musical de que vale a pena fazer um teste para Melted,
mesmo sem música. Supondo que isso funcione.
— Vai funcionar. HAVE A HE(ART) é uma história. Uma
mensagem ao comitê escolar de que nossos clubes também merecem
financiamento. Que toda arte beneficia o corpo discente e a imagem da
escola — diz Fitz.
Eu concordo.
— Conseguir boas relações públicas para a escola não é apenas uma
coisa da banda.
Passamos o resto da noite debatendo nossos itens da agenda. Eu
digito anotações meticulosas enquanto fazemos o brainstorming do
evento, e é tão emocionante sentir a proposta se formando e ser capaz
de vê-la – Melted - acontecendo de verdade. Uma plateia lotada de
alunos, pais e funcionários apoiando as artes se unindo. Mas tão focada
quanto estou em HAVE A HE(ART) e em fazer de Melted uma
realidade... ainda não consigo parar de pensar em Boiled.
Principalmente, como não posso não retaliar.
As guerras de pegadinhas com Reid são uma trama recorrente em
nossa história. Ok, então a última explodiu na minha cara de uma
forma verdadeiramente traumática, terminando em um rompimento
de amizade e um rompimento com o clarinete. Eu não posso
negar. Mas eu evoluí. A pegadinha do Reid é tão irritantemente boa
que despertou algo em mim.
Estou fora de prática? Possivelmente.
Mas não o suficiente para que eu não consiga me concentrar no
HAVE A HE(ART) e distrair Reid disso.
Não posso deixá-lo vencer por falta.
Natalie X Reid
Fitz e Danica no palco juntas será uma revelação, sempre que tivermos
um palco real.
— Caramba — sussurra Makayla com admiração.
Henry geme.
— Quantas vezes temos que enfatizar que são irmãs?
— É inútil — eu digo.
Sábado é, pelo que parece ser a primeira vez desde que o HAVE A
HE(ART) começou, totalmente sobre Melted. Enquanto a banda está
tendo um ensaio extra de Star Wars em preparação para o Festival da
Colheita no próximo fim de semana, o HAVE A HE(ART) aproveita
para ter nosso próprio ensaio geral.
A próxima reunião do comitê escolar é em uma semana a partir de
segunda-feira.
Estaremos prontos.
Vou chamar a atenção do comitê escolar para a avaliação confusa
dos programas de artes.
Henry compartilhará estatísticas sobre a correlação entre programas
de artes robustos e notas de provas.
Makayla e Arjun irão destacar nossa mensagem ecoconsciente e
planos de arrecadação de fundos.
E Danica e Fitz irão fazer uma performance fascinante.
Temos até um conceito definido! Como as reuniões do comitê
escolar são abertas ao público, elas acontecem em nosso
auditório. Então Makayla e Cherish convenceram a Sra. DiCarlo a
deixá-las pegar alguns painéis gigantes de madeira para um projeto de
portfólio independente e elas o transformaram em um cânion celestial
– todo céu roxo e uma paisagem queimada de laranja queimada.
Eu tatuaria no meu rosto, eu amo muito isso.
É tão grande que as peças de arte vivem no auditório, no palco,
secando atrás das cortinas que estão fechadas desde Barefoot in the
Park. Imagine. Todo um palco foi totalmente desperdiçado. No final
da semana iremos secretamente colocar as peças no lugar para a nossa
performance.
Como não temos um auditório para os ensaios e meus pais estão no
show do papai, meu porão é a segunda melhor coisa. Nossos assentos
são o sofá de microfibra verde que afunda no meio. O palco é um tapete
pequeno demais. Ele mantém o grupo próximo. Íntimo. Duas irmãs,
após uma coroação que mudou suas vidas. Estou sentada de pernas
cruzadas na beira da espreguiçadeira, gravando o ensaio no celular de
Fitz a pedido dela, para que ela possa analisar sua própria performance,
e dando dicas. É fácil, minha capacidade de voltar a ser uma codiretora
e coordenar uma cena com Henry ao meu lado, e parece certo. É
exatamente como este ano deveria ser.
E um lembrete do que perderemos se falharmos.
— Então não faça isso — diz Danica, muita emoção em sua voz
enquanto ela sai furiosamente do palco.
Makayla e Arjun batem palmas a cada take.
— Isso está ótimo — digo, folheando minhas anotações para uma
crítica eloquente. — Vocês são ótimas.
Fitz revira os olhos, mas um pequeno sorriso aparece no canto de
seus lábios.
Estamos prestes a começar do início quando meu telefone vibra no
meu colo.
— É Delia — digo. — Pausa de cinco?
Danica engole seu gole de água.
— Mas estou na zona.
Fitz concorda com a cabeça.
— Fitzgerald quem? Eu sou Adina! Rainha de Infernodelle!
— Vamos ensaiar novamente — diz Henry.
Ok. Posso perder um ensaio. Não é grande coisa. Entrego o celular
de Fitz ao Henry e pulo do sofá para atender a ligação no lado estúdio
do porão. Empurrando a porta para entrar no estúdio do papai, atendo
a ligação do FaceTime e são Delia e Hannah, juntas, na casa de Reid.
— Troquei a música de Reid — declara Hannah.
— Você é minha heroína — digo.
Não me ocorreu até que vi Reid enlouquecido com sua música do
Albany Institute – que ele encontrou em casa, em sua mesa, intocada
por mim, para o registro – que essa é uma maneira excelente e
embaraçosa de mexer com ele. Com a ajuda de Hannah, ele terá uma
seleção de músicas de Star Wars transpostas por mim para o tom
totalmente errado para seu próximo ensaio.
— Na semana passada, ele me pediu para mexer com você, mas eu
disse: “Não estou mexendo com Natalie. Ela me empresta roupas e dá
os melhores conselhos.” Pergunte a Delia, ela estava lá.
Delia acena com a cabeça.
— É verdade.
Minhas sobrancelhas se franzem.
— Você pega minhas roupas?
—A questão… — Hannah faz uma pausa, agora usando o telefone
como espelho para aplicar brilho labial — … é que ele não vai suspeitar
de nada.
— Obrigada por mexer com ele por mim — digo.
Hannah encolhe os ombros.
— Esta é uma oportunidade de destruir o patriarcado. Além disso,
Sephora.
As irmãs vendo Reid como um símbolo do patriarcado?
Vale a pena a quantia obscena de dinheiro que provavelmente irei
gastar em maquiagem para elas.
— Natalie.
A voz de Henry acompanha uma batida na porta. Eu não percebi
que tinha trancado. Subconsciente. Mas estou mantendo meus amigos
alheios sobre o fato de que as pegadinhas de Reid não são totalmente
unilaterais. Então eu digo adeus a Delia e Hannah e coloco meu
telefone de volta no bolso antes de abrir a porta.
— Desculpe — digo, passando por Henry e pegando um bagel de
pizza no meu caminho de volta para o sofá. — Emergência nível
Pinterest de Bat mitzvah.
— Nem quero saber o que isso significa — diz Arjun.
— Você realmente não quer — Fitz confirma.
— Devemos focar em Melted? — Henry pergunta. — Eu tenho
alguns–
— Sim! Na verdade... — Eu volto duas páginas em minhas
anotações e encontro o ponto que quero enfatizar. — Da próxima vez,
Danica, não comece a se afastar até que Adina diga: “Já é pressão
suficiente ter um reino inteiro dependente de mim, sem ter que se
preocupar com você também.” Eu não quero que haja muito espaço
físico entre vocês duas. É um grande palco.
— Mas também, tipo, algum espaço físico. Vocês são irmãs —
Henry reitera. — Peguem leve com os braços tocando.
Danica e Fitz processam as anotações e fazem algumas perguntas, e
nós retomamos do início. Desta vez, Danica mantém os pés
firmemente enraizados no lugar, enquanto Fitz é puro movimento. A
emoção na atuação de Fitz é fascinante – e quando Danica, como
Emma, a irmã mais nova que se esforça tanto, já teve o suficiente, ela
gira na ponta dos pés.
— Então não faça — diz Danica.
Ela mantém a posição por um tempo extra e a energia na sala
muda. Eu engulo o caroço na minha garganta e fecho meus olhos para
evitar que qualquer emoção visível aconteça. Não estou preparada para
abrir mão desse sentimento, desse show, dessas pessoas. Melted é
pequeno. HAVE A HE(ART) e a mensagem que estamos enviando ao
comitê escolar o torna maior. Talvez consigamos publicar um artigo no
jornal local – mas não receberá elogios nacionais pela escola como a
banda recebe.
Então, talvez eu seja ingênua de acreditar nisso.
Mas quando Danica vira as costas para Fitz e se afasta, se afasta, se
afasta – é uma performance digna de um palco, de um público que se
emociona com uma única lágrima escorrendo por suas bochechas. É
devastador e perfeito e algo que nós, alunos com as costas contra a
parede, criamos do nada.
E isso também importa.
Cena final.
Uma semana depois, estou sentada em uma toalha no Pine Hill Park
com Delia ouvindo a trilha sonora icônica do Episódio IV - Uma Nova
Esperança, comendo donuts de cidra, suando profusamente e odiando
a realidade atual que é de vinte e oito graus no início de outubro. Em
Massachusetts! E lá se vai um Festival da Colheita. Eu nasci para o clima
de usar suéteres, mas a cada ano parece que minha estação favorita fica
cada vez mais curta. Na próxima semana, o interruptor pode girar e aí
terei que usar um casaco de inverno completo.
Aquecimento global. Eu escrevi uma peça inteira sobre isso.
Limpo o suor do lábio superior com as costas da mão e verifico a
hora em meu telefone.
Duas horas restantes desta obrigação familiar. Então estou
livre. HAVE A HE(ART) terá um ensaio geral final na casa de Henry
hoje à noite. A reunião do comitê escolar é daqui a dois dias. Estamos
prontos. Nossa proposta é um compromisso de baixo orçamento,
nosso argumento sendo que o HAVE A HE(ART) dará a ilusão de que
o comitê escolar se preocupa com a preservação das artes.
Vocês já consideraram a repercussão? A reação adversa
iminente? Realmente, estamos fazendo um favor!
HAVE A HE(ART) será levado a sério. Tem que ser.
Porque todos os clubes de artes da escola estão apostando no HAVE
A HE(ART).
Em mim.
— Onde está Hannah? — pergunto.
— Não vem — Delia diz, pegando um donut de cidra do saco de
papel entre nós. — É o aniversário da Monica G. Os pais dela alugaram
toda a pista de patinação no centro da cidade.
Ah.
— Sinto muito, Dee.
Ela encolhe os ombros.
— Eu superei. Na hora do almoço de ontem, as Monicas chamaram
minha jaqueta da Capitã Marvel de “básica” – e eu percebi. Além de
precisar evitar microagressões constantes... não temos nada em
comum, as Monicas e eu. Então é, tipo, por que eu tento?
— A Hannah não tem a mesma jaqueta?
Delia se levanta e amassa o saco de papel vazio.
— Não importa. Hannah se torna uma pessoa diferente em torno
das Monicas. Como comigo, seu filme favorito é Enrolados. Mas com
as Monicas? É Hereditário.
— Mas Hannah odeia filmes de terror.
Delia atira seu lixo na lixeira mais próxima, no estilo basquete.
— Exatamente.
Então Delia faz seu caminho em direção ao palco principal para se
juntar à mamãe, me deixando sozinha na minha toalha. Qualquer
pessoa pode vir ao Festival da Colheita para curtir a música, mas pelo
preço de uma doação para o programa da banda, as pessoas podem
conseguir uma luxuosa cadeira dobrável de metal perto do
palco. Como sempre, Michelle Jacobson senta-se na primeira fila, seu
tripé montado no corredor – o que é fofo, assustador e a marca
dela. Por mais tensa que a energia possa ficar entre meus pais antes do
Festival da Colheita, no final do dia, mamãe é sempre a maior fã do
papai.
Incapaz de me concentrar na música, observo o público – os
assentos esgotados perto do palco, os grupos de toalhas de piquenique
espalhadas no gramado, as longas filas nos food trucks. Muitos
moradores da cidade que não têm nenhuma conexão pessoal com o
LHS ou a banda são cativados pela magia que é a música de Star
Wars ao vivo.
É incrível.
Também é irritante.
Quer dizer, é uma besteira, o comitê da escola comparar qualquer
outro clube de artes do LHS com a banda. Claro que a banda é
melhor! Tem suporte, recursos, oportunidades. Mas ver como uma
comunidade pode se unir e apoiar um grupo de artistas? É motivador.
Se alguma coisa vai me distrair de HAVE A HE(ART) e Melted, é
uma pegadinha bem executada. Então eu me levanto. Aliso minha saia
midi com estampa floral. Começo a caminhar na direção da tenda de
som. Consumido pela semana de ensaios, Reid não voltou atrás desde
a minha pegadinha de partituras.
Dando-me a oportunidade de dobrar, de acordo com a cláusula da
pegadinha dupla.
Honestamente, o fato de que o Let It Go assustador ainda está me
torturando merece uma pegadinha dupla.
Então eu me aproximo da tenda de som com confiança. Cody e
Jessica, amigos do papai de Berklee que lideram a equipe técnica de
som, me dão as boas-vindas à área SOMENTE PARA OS MEMBROS DA EQUIPE.
— Natalie! — Os braços tatuados de Jessica me envolvem em um
abraço.
— Aaron não nos disse que tínhamos reforços — diz Cody,
oferecendo-me um fone de ouvido.
A tenda de som é a placa-mãe de qualquer evento ao ar livre. Sem
sua configuração intrincada e as várias verificações técnicas, a música
da banda não seria ouvida em um espaço aberto. Eu assimilo o sistema
principal e a dúzia de cabos conectados a ele, alimentando a banda e
certificando que o som está alto e claro, já que a performance também
será gravada para o canal público para acessibilidade.
Memórias de estar nos bastidores quando criança voltam e estou
pronta para aproveitar ao máximo esse conhecimento. Além disso,
tudo está rotulado. Enquanto Cody e Jessica discutem os níveis de
volume, de costas para mim, eu desligo a linha do microfone
rotulada CLARINETE #1.
É quase fácil demais.
Fico conversando um pouco com Jessica e Cody sobre música (não
toco há anos!) e faculdade (muito bem indecisa!). Então eu me junto a
minha mãe e Delia no palco principal, bem a tempo de minha música
favorita, que ficou ainda melhor pelo leve constrangimento público.
Papai levanta os braços no ar para dar início à música.
Reid leva seu clarinete aos lábios e endireita sua postura.
Um cacho rebelde cai em seus olhos quando ele vira a página.
Eu expiro, tentando manter a calma. É uma brincadeira. É
uma brincadeira. Isso é uma brincadeira.
Cody ou Jessica vão ouvir o problema. Isso será resolvido em
segundos. Mas cinco segundos são suficientes para abalar Reid, para
fazê-lo desejar não ter me dado a oportunidade de uma pegadinha
dupla.
— Olha quem decidiu se juntar a nós — diz mamãe.
— O céu está estranho — sussurra Delia.
O céu, azul antes de eu entrar na tenda de som, agora está
nublado. Prendo minha respiração enquanto a banda muda de marcha
para a única música de Uma Nova Esperança que é feita para o
clarinete: Cantina Band. O arranjo favorito de papai sempre foi um
quarteto de clarinete.
Hoje, ele apresenta Reid como clarinete nº 1.
Exceto que a melodia característica mal é audível, além da batida
constante da bateria. Por minha causa.
Parece... pior do que eu imaginava.
— Oh não — mamãe murmura baixinho.
Reid continua a tocar, inconsciente ou presumindo que a falha será
corrigida.
Segundos depois, os alto-falantes explodem.
Merda. Meu coração bate forte no meu peito. Eu...?
Não. Desconectei uma linha de áudio.
Papai dá um sinal para a banda parar e todos colocam seus
instrumentos em posição de descanso, com os olhos arregalados e
confusos.
— Vamos pausar por cinco minutos para consertar isso! — papai
grita, as mãos em concha ao redor da boca porque não há microfone.
Isso não pode ser relacionado a uma pegadinha. Um cabo XLR
rebelde não causa explosão de alto-falantes.
Mamãe se levanta.
— Vou ver se posso ajudar a solucionar o problema.
— Isso é muito vergonhoso — diz Delia.
Cinco minutos se transformam em dez.
Dez tornam-se vinte.
Os períodos de atenção são curtos. A audiência diminui.
O céu escurece, agourento – como se recebesse uma ordem da
direção.
O momento da minha pegadinha é uma coincidência.
— Natalie.
Eu olho para cima para ver Reid em seu smoking de banda, o cacho
rebelde e tudo mais. A voz de Reid é chocante, mas quando meus olhos
encontram os dele, ele parece... genuinamente chateado.
Nem um pouco acusatório ou suspeito.
— O que está acontecendo? — pergunto.
— Dificuldades técnicas.
— Obviamente.
Sai mais ríspido do que pretendi.
— Obviamente — Reid repete, passando a mão pelo cabelo, uma
irritação em sua voz. — O corpo docente do Albany Institute está na
platéia, então os alto-falantes explodem. Obviamente.
Eu não sabia disso.
— Isso é uma merda.
— Extremamente. Agora parece que vai...
— Natalie…? — A voz de papai interrompe Reid. Conforme meus
pais se aproximam de mim, o céu fica mais escuro a cada passo. É
apenas um momento antes que eles estejam na nossa frente, os braços
cruzados, o pé direito de papai batendo em três-quatro. — Todo o
sistema está detonado. Eles não sabem o que aconteceu. Tudo foi
posto e testado várias vezes. Estava pronto. E eles eram as únicas duas
pessoas na tenda. Bem, além de você. Certo?
Eu engulo.
— Natalie. — A expressão da mamãe endurece.
Os olhos de Reid se arregalam, e eu vejo tudo se encaixando no
lugar.
No momento em que abro minha boca para responder, o trovão
estala e o céu se abre.
Eu retiro tudo.
Cada pensamento que me atrevi a ter no resto do meu fim de
semana cheio de culpa, cada milissegundo de momento que passei
dirigindo para a única loja de doces que vende o molho de pasta de
amendoim favorito de Reid, cada segundo que fiquei acordada na
noite passada planejando minhas desculpas totalmente sinceras em vez
de ser consumida pela reunião iminente do comitê escolar
e sentimentos sobre Melted... Eu retiro tudo.
Porque na segunda de manhã, o auditório é uma cena de crime.
Tinta preta está espalhada por todo o nosso cânion celestial.
Latas de tinta estão viradas no palco.
Devíamos encenar uma cena para o comitê escolar.
Colocando as peças no lugar para uma coroação.
— Como...? — Os olhos de Makayla se arregalam. — Meu cenário.
— Que diabos? — Arjun diz.
A expressão de Henry está murcha.
— Você começou uma guerra de pegadinhas.
— Reid começou uma guerra de pegadinhas — esclareço.
— Reid também terminou — diz Arjun.
Merda. Estou tão chateada com o molho de pasta de amendoim na
minha mochila. Achei que estávamos sendo cuidadosos. Discretos. Eu
pensei que mesmo que a guerra de pegadinhas tenha explodido o
Festival da Colheita, tinha também funcionado, mantendo Reid
distraído. Claramente, não. E, ok. Eu sei que estraguei o show da
banda. Mas foi um acidente! Uma pegadinha que deu errado.
Não há motivo para essa destruição, exceto a crueldade.
Atrás de nós, as portas do auditório se abrem e Danica e Fitz
emergem neste desastre com a Sra. Mulaney e meu pai. A Sra. Mulaney
observa a cena, sua expressão endurecendo quando fazemos contato
visual. Os olhos de papai se abrem com a visão de nosso palco em
ruínas.
— Na-ta-lie — papai diz lentamente, enunciando cada sílaba. — O
que você fez?
— Não existe um clube de teatro — diz a Sra. Mulaney,
empurrando os óculos na ponta do nariz. — No entanto, há um
cenário. Interessante.
Meu queixo cai.
O palco foi vandalizado! O que eu fiz?
— Havia um cenário — corrige Fitz, suas unhas turquesa cavando
em suas palmas. — Pretérito.
— Natalie — papai repete. — Explique. Por favor.
— Vamos apresentar Melted ao comitê escolar esta noite —
confessa Henry.
Eu suspiro. Henry é sempre o primeiro a ceder.
A Sra. Mulaney franze a testa.
— Vocês têm conduzido ensaios não autorizados dos clubes de
teatro?
— Não na escola — Henry diz.
— Mas há um cenário — diz a Sra. Mulaney.
— Havia — Fitz repete.
— Era um projeto para a aula da Sra. DiCarlo — explica Makayla.
— Que o Reid arruinou totalmente! — deixo escapar.
— Natalie — papai avisa.
Eu dou de ombros.
— O quê? Reid sabia sobre o HAVE A HE(ART). Ele tem um
motivo.
— Não graças a você — murmura Danica baixinho.
A Sra. Mulaney cruza os braços.
— Alguém pode me esclarecer?
Pego a proposta completa da minha mochila e entrego à Sra.
Mulaney.
— Olhe. Estamos usando os recursos limitados que temos para
mostrar ao comitê escolar que não precisamos de um orçamento para
criar arte. Dentro desta pasta está uma peça, uma petição e uma visão
que reúne todos os clubes de artes cortados para um evento de caridade.
A expressão de papai se suaviza.
— Vocês todos têm trabalhado juntos nisso?
Nós acenamos em uníssono.
— Não somos só nós. Só estamos liderando uma revolução
silenciosa — diz Danica.
— Mas não somos anti-banda! — Makayla diz.
— Apenas antiburocracia — acrescenta Arjun.
Eu continuo, sentindo-me fortalecida pela atenção total do meu
pai.
— Se HAVE A HE(ART) for aprovado, o comitê escolar consegue
boas relações públicas e parecerá investido em encontrar soluções
criativas para reter programas de artes. Vamos criar algo divertido e
significativo. É uma situação em que todos ganham.
— Não. — A Sra. Mulaney aperta a ponte do nariz e observa o
cenário, o palco, a bagunça. — Você nunca deveria ter estado no
auditório sem um orientador. Isso não pode acontecer novamente.
— Estávamos apenas tentando… — Henry começa.
A Sra. Mulaney interrompe Henry.
— Vocês estavam apenas querendo provocar.
Juro que o coração de agradar ao professor de Henry para.
— Primeiro período. Agora.
Caminhamos pelos corredores do auditório e eu simplesmente não
consigo entender. Eu engulo meu sarcasmo. A Sra. Mulaney está mais
focada em nossa aparente “provocação” do que literalmente no
vandalismo. Quer dizer, sério! Pintar em madeira envernizada deveria
ser considerado crime. HAVE A HE (ART) está tomando uma
atitude. Criando algo a partir das cinzas de nossos
programas. Não destruindo–
— Natalie — papai diz, parando na porta e me parando no meio do
caminho.
Fazemos contato visual, meu pai e eu. Ele enfia a mão no bolso de
trás e tira um telefone, o meu telefone. É uma pequena vitória, o peso
do meu telefone na minha mão, arrancado da palma do meu pai. Talvez
pela primeira vez na vida, papai esteja reconhecendo que seu protegido
perfeito não é tão perfeito, afinal.
— Boa sorte esta noite — papai diz.
Ele tem a audácia de soar magoado.
— Obrigada — sussurro.
— Espero que, no futuro, você e Reid possam deixar de lado o que
quer que…
Não ouço o final da frase de papai. Já fui embora porque mais uma
vez tem que ser dos dois lados. É esperar demais que um botão anti-
Reid acenda no cérebro do papai.
Fora das portas do auditório, faço uma pausa.
Exalo uma respiração instável e pressiono as palmas das mãos contra
meus olhos.
— Natalie?
Meus olhos se abrem. Claro, claro, Reid está aqui para testemunhar
as consequências do seu esquema.
— Você está bem? — ele pergunta.
Eu nem sequer dignifico isso com uma resposta, optando por abrir
minha mochila e tirar o pote de molho de pasta de amendoim e duas
colheres de plástico. Sento-me no chão, minhas costas contra o pilar, e
abro o frasco. Coloco uma colherada na minha boca e fica bom, muito
bom. Reid está perdendo. Definitivamente não estou compartilhando.
— Isso é para ser um molho de desculpas. Pelo Festival da
Colheita. Não é mais um molho de desculpas.
A expressão de Reid se suaviza.
— Natalie…
— O jeito que somos... não deveria ser assim. Temos regras.
O nariz de Reid torce e ele tem a audácia de se sentar ao meu
lado. Seus olhos estão arregalados, o pescoço rosado. Como se ele
estivesse preocupado.
— Nat, sinceramente não sei do que você está falando.
— Você pode parar de fingir. Você venceu, ok? Você. Venceu.
Eu engulo minha segunda colherada e torço meu nariz porque não
é tão boa quanto a primeira. Muito doce. Além disso, é para Reid. É
a cobertura de sorvete favorita do Reid. E é isso que deveria ser – uma
cobertura.
Antes que eu possa pensar duas vezes, viro o frasco aberto e... opa, lá
se vai seu cabelo perfeito estúpido. Reid pula para trás, mas é tarde
demais – o molho está em toda parte, achatando seus cachos,
escorrendo pelas orelhas, caindo nas costuras dos ombros de sua camisa
azul.
— Merda! Natalie! O que há de errado com você?
Reid continua tentando passar a mão pelo cabelo. Ele não
pode. Cada vez que sua mão toca seu couro cabeludo, ele é
reintroduzido no molho implacável. Sem uma resposta, eu saio de cena,
jogando o frasco vazio na lixeira mais próxima no meu caminho para o
primeiro período.
Afinal, Reid conseguiu seu molho de pasta de amendoim.
— A Sra. Mulaney sabe que temos que... escrever este musical, certo?
Reid é a primeira voz a falar quando papai nos conta a programação
da produção. É quarta-feira à tarde e estamos em um círculo de seis
cadeiras no centro do palco, na sala de música. A sala de aula do papai
ter se tornando o ponto de encontro oficial de Melted: O Musical é o
pior. A equipe criativa consiste em mim, Henry, Fitz, Danica... e
Reid. Makayla tem condicionamento de pré-temporada depois das
aulas, mas promete entregar um cenário incrível com o resto da equipe
de artes. Arjun é, eu cito, responsável pelo gerenciamento de palco
quando tiver algo para gerenciar.
Danica franze a testa com a programação.
— Cinco semanas para adaptar uma peça a um musical? É quase
como se ela quisesse que fracassemos.
— Quer dizer, nós temos um roteiro — diz Fitz, descascando o
polegar esquerdo de sua manicure azul. Seu tom é entediado e ela não
levanta os olhos das unhas, um mecanismo de defesa contra o estresse
porque, em musicais, os protagonistas geralmente cantam.
O joelho de Reid balança em colcheias precisas.
— Mas agora é mais do que um roteiro. Precisamos de
letras. Música. Comecei a escrever... mas nunca compus para uma
orquestra completa antes.
Eu franzo a testa.
— Você começou a escrever?
Ele afirma.
— São apenas três músicas até agora, mas Logan e Lacey pensam…
Eu interrompo Reid.
— Apenas três?
Reid deveria estar tão irritado quanto eu por isso estar acontecendo!
Chorando com seus colegas músicos e tudo o mais! Não escrevendo
três músicas completas!
Reid encolhe os ombros.
— Não é como se tivéssemos tempo a perder. Reli o roteiro e me
senti inspirado, acho. Eu não sei. Você quer ouvi-las ou não?
Não. Sim. Eu não sei.
— Sim — papai responde em meu nome, lembrando-me que o Reid
escrevendo canções não é a pior parte de toda essa situação de Melted:
O Musical – esse prêmio vai para meu pai, que está sentado à minha
frente, no modo Sr. Jacobson total. — Acho que é um ótimo lugar para
começar.
— Eu também — diz Danica. Ela enfia a mão na mochila e tira um
caderno da Elsa que diz MÚSICA DE MELTED em letras de forma
perfeitas. Seus lábios cor lavanda se abrem em um sorriso. — Eu não
escrevo música, mas como a especialista musical da casa, tenho muitas
ideias. Felizmente, não estamos trabalhando do zero. Nós
temos Melted, a peça. Mas também temos Frozen para pegar as vibes.
Henry balança a cabeça.
— Não é Frozen.
— Mas acho que podemos nos inclinar para o tema oposto a
Frozen — diz Reid, remexendo em sua mochila e tirando seu caderno
de composição. — Adicionar alguma familiaridade para o nosso
público.
— Sim! — Danica concorda, e uau, odeio como Danica e Reid estão
na mesma página. — Exatamente.
Reid balança a cabeça e se senta ao piano. Ele abre seu caderno de
composição e começa a tocar um medley de canções que compôs para
nosso show. O show meu e de Henry. As músicas têm títulos como
Keep It In, Do You Wanna Build a Fire?, e Hate Is a Closed Window
– e enquanto os nomes das músicas são inspirados no conceito oposto
ao de Frozen, quase como se fosse uma piada... a música que Reid
compôs é totalmente original. Reid acompanha suas próprias melodias
e descreve como cada peça poderia se encaixar no show, já que as letras
ainda são um trabalho em andamento.
Eu me levanto.
— Isso não vai funcionar.
— Nat, eu também estava cético, mas isso não é ruim — diz Henry.
Eu juro, Henry parece impressionado.
Danica pisca para mim.
— Quero dizer, este é obviamente um rascunho. Mas tem potencial.
Até mesmo Fitz dá de ombros. Nesse ponto, ela fez um progresso
significativo com a mão esquerda e tem uma pilha de esmalte azul seco
no colo.
Henry acena com a cabeça.
— Natalie, como colega codiretor, sei que não foi isso que
planejamos, mas...
— Henry!
— Você pode me deixar terminar minha frase? Só, tipo, pela
primeira vez! — Henry se exalta.
Uau.
O que isso significa?
Silêncio.
— … isso ainda tem potencial para ser ótimo. Isso é tudo — Henry
termina.
— Mas já está tão errado — insisto. — Você não pode simplesmente
começar a escrever canções, Reid. Não é assim que uma colaboração
funciona.
Os dedos de Reid se chocam contra o teclado em dó menor.
— Lamento que você tenha me inspirado! — A nota desaparece no
silêncio e eu sei que as pontas das minhas orelhas estão rosadas. Reid
engole. — Eu sempre gostei de Melted. Isso nunca foi uma
brincadeira. OK?
De repente, percebo que meus amigos – e meu pai – estão
testemunhando o que parece ser uma conversa particular entre Natalie
e Reid. Eu devolvo.
— Henry e eu ainda deveríamos estar envolvidos antes que qualquer
escrita acontecesse. Na verdade, eu também quero estar envolvida no
processo de composição.
— Na-ta-lie — Reid diz lentamente, enunciando cada sílaba
enquanto seus dedos começam a se mover para cima e para baixo no
piano. — Eu liguei para você, tipo, doze vezes na noite passada. Como
podemos colaborar se você não atende o telefone?
Pego meu telefone e clico para ver as chamadas perdidas e... estou
com o Reid no modo não perturbe.
Papai limpa a garganta, parando o drama.
— OK. Estou encerrando a reunião. Todos podem ir para
casa. Codiretores, juntem-se. A Sra. Mulaney quer a aprovação do
roteiro em meados de novembro e uma lista do elenco antes do Dia de
Ação de Graças. A apresentação de uma noite do Melted: O
Musical será no dia 6 de fevereiro. Está apertado? Sim. Mas é factível,
supondo que nos juntemos e comecemos a agir como profissionais.
Exceto que, não somos profissionais. Somos alunos do ensino
médio.
Esse é meio que o ponto principal.
— Posso ser honesta, Sr. J? — Danica pergunta.
Papai acena com a cabeça.
— Por favor.
— Eu acho que Henry e eu deveríamos codirecionar — Danica diz,
e cinco pares de olhos encontram os dela. — Olha, eu deveria ter sido
presidente do clube de teatro musical. Henry também seria o
presidente do clube de teatro. Como formandos, é nossa última chance
de assumir um papel de liderança. Para Natalie e Reid, isso é uma
punição. Acho que devemos considerar que para alguns de nós... dar
um show este ano realmente significa algo.
Meus olhos se voltam para Henry em descrença, mas não consigo
ler sua expressão. Isso é sério?
— Isso não é justo — diz Reid. — Sim, Natalie e eu fomos jogados
juntos como codiretores. Mas nós é que ainda vamos estar aqui no
próximo ano. Temos algo pelo que lutar.
Eu... concordo com Reid?
Henry... quer me abandonar por Danica?
Impossível. Tudo isso.
Eu olho de volta para meu pai, que me olha como se ele estivesse tão
longe de suas profundezas.
Portanto, nosso primeiro ensaio termina com um tom estranho e
confuso. Eu vejo Danica e Henry arrumando suas coisas para ir
embora. Danica diz a Henry que ela o verá no grupo de estudos. Henry
sorri e acena, fechando o zíper de sua mochila e jogando-a por cima do
ombro, saindo de cena sem nem mesmo dizer adeus, e eu realmente
superei a atitude passivo-agressiva.
Eu o sigo para fora da sala da banda e pelo corredor.
— O que foi isso? — pergunto.
Henry se vira para me encarar.
— Eu tenho que trabalhar, Natalie.
— Você está chateado com a guerra de pegadinhas — digo.
— Nossa peça se tornou um castigo e um exercício de formação de
equipe para você e o Callahan.
— Me desculpe! Mas brigando comigo na frente do
grupo? Codirecionando com Danica? Eu sei que vocês são amigos... ou
talvez mais? Eu nem sei! O que está acontecendo?
— Eu gostaria de saber! — Henry admite. — Eu sei que nós nos
divertimos juntos. Dani está passando pelo estresse do último ano
também. É bom conversar com alguém que entende.
A entrega de Henry é tão casual que dói. Somos melhores amigos há
quase uma década... mas agora Danica entende? Sei que ainda não
estou me inscrevendo para faculdades, mas Henry sabe que entendo o
estresse disso – o estresse financeiro, o estresse da tomada de decisões
importantes. Posso ajudá-lo se ele falar comigo. Mas acho que ele está
com Danica agora.
Não consigo descobrir como dizer isso – então volto para Melted.
— Nós deveríamos ser codiretores — digo.
— Honestamente, não tenho certeza se quero ser um codiretor —
Henry admite. Ele exala, como se dizer essas palavras em voz alta fosse
um alívio. — Ainda vou às reuniões, mas preciso dar um passo
atrás. Não estou qualificado para dirigir um musical. Não quero dirigir
um musical. Ou estar no meio de você e do Reid.
Henry não quer codirecionar com Danica.
Mas ele não quer codirecionar de jeito nenhum.
— Você está terminando comigo? Em termos de direção?
— Três é uma multidão — diz Henry. — E preciso me concentrar
nas inscrições para a faculdade e em fazer mais no restaurante.
— O que mudou?
Henry encolhe os ombros.
— Nada. Tudo. Eu não sei. Eu amo escrever e adorei nosso clube de
teatro de baixos riscos. Sempre deveria ser tranquilo. Apenas para
nós. Diversão. Mas não pode ser isso agora. Não com um orçamento
inteiro em jogo.
Eu balancei minha cabeça.
— Nós deveríamos ser Jacobson e Chao.
— Ainda somos — Henry insiste. — Só que apenas uma dupla de
escritores, eu acho.
Henry vai embora... e estou tão confusa. Colocamos muito trabalho
nisso. E eu sei que temos que trabalhar mais ainda para
adaptar Melted para um musical. Mas ainda. Agora que nosso show
está acontecendo, de verdade, Henry quer... dar um passo para
trás? Porque Melted não é mais... tranquilo? Não é legal querer fazer
um show decente? Para proteger o que criamos? Henry e eu sempre
estivemos na mesma página sobre tudo, especialmente teatro, e pela
primeira vez... não estamos.
Mas o objetivo de escrever e dar tão duro por Melted – além de
salvar um clube de teatro em crise – é que possamos fazer isso juntos,
antes que Henry se forme e tudo mude.
Talvez já tenha mudado.
CAPÍTULO ONZE
Henry Chao
LIVRE DAS PROVAS PARA SEMPRE
12h10
ALIÁS Dani estava falando sobre querer ver a nova comédia
romântica da Mindy Kaling e eu disse que deveríamos ir vê-la
e ela topou!!
12h11
... exceto que ela pensou que eu disse que deveríamos ver
AGORA
12h12
EU SINTO MUITO. Aguente firme! Você consegue! Não é
como se eu fosse ser de muita ajuda na frente musical de
qualquer maneira...
12h13
Eu pisco para o meu celular. Henry está abandonando eu
e Melted para um encontro no cinema com a Danica?
Quer dizer, isso tem sentido. Eu não deveria estar surpresa. Mas
mesmo assim. Henry prometeu que estaria aqui. Para
apoiar. Consultar. Estas foram suas palavras. Pela primeira vez, pensei
que estaria lutando contra Reid em uma aliança majoritária com Henry
ao meu lado. Em vez disso, ele escolhe um filme com sua nova... melhor
amiga Danica? Namorada Danica? Solidariedade entre formandos
Danica?
O rótulo importa mesmo?
Agora tenho que lidar com a situação sozinha. Levanto-me e rolo
minha cadeira pela sala até o piano, em uma posição melhor para
colaborar ou algo assim, e me sento de pernas cruzadas.
— Você pode tocar Do You Wanna Build a Fire? do começo?
— pergunto.
Os olhos de Reid encontram os meus. Eles estão mais marrons do
que verdes hoje.
— Claro.
Eu coloco meu telefone virado para baixo no piano e envolvo meus
joelhos.
Reid começa a tocar.
Eu o interrompo quatro compassos depois.
— É muito extravagante.
Reid suspira.
— Eu prometo que é.
— Isso não soa como luto — retruco. — Talvez diminua a
velocidade. Ou–
— Natalie, vou aceitar toda e qualquer crítica depois de tocar. OK?
— Tudo bem — concedo.
Assim que me concentro em Reid, lembro por que evito o
estúdio. Por que eu não vou a shows da banda. Vê-lo tocar música me
faz sentir coisas de uma forma nojenta que não é compatível com o
resto da minha essência. Seus dedos se movem para cima e para baixo
nas teclas com facilidade, os ombros subindo e descendo com a
melodia. Cachos continuam caindo em seus olhos e isso me distrai
tanto.
Então, fecho meus olhos e me forço a separar a música do músico.
Eu me permito ouvir o potencial – do calor transmitido em Do You
Wanna Build a Fire? para o slow-burn emocional em Hate Is a Closed
Window que culmina em Adina acidentalmente incendiando a única
casa que ela já conheceu. Eu sinto a intenção em cada progressão de
acordes, até a intensidade silenciosa do motivo que une a música.
Não tenho certeza se entendi como Melted poderia soar até
agora. Mas agora sim.
É a pior coisa.
Em seguida, a nota muda e ele passa para o potencial ladrão de cena,
Keep It In. O solo de Adina. Reid escreveu a letra dessa música e ela não
está bem certa – o tom é um pouco inseguro demais. Adina não sai de
Infernodelle por falta de confiança. Ela está com medo.
Mas com a letra certa, a música poderia funcionar.
Espera. Não. Há um pequeno problema–
— Adina não pode ter nenhuma música — digo.
Reid para de cantar, mas não para de tocar.
— Adina é a protagonista.
— Fitz não sabe cantar.
Eu sussurro como se Fitz fosse pular de trás do piano para dizer que
a ofendi.
As sobrancelhas de Reid franzem, confuso.
— Todo mundo tem que fazer um teste, certo?
Quero dizer, sim. Mas não a Fitz.
— Fitz está fixa em interpretar Adina — digo, firme.
Reid finalmente para de tocar e passa a mão pelo cabelo, frustrado.
— OK. Eu sei que ela é sua amiga, mas ela deveria ser Adina
na peça. Este é um musical agora e sinto muito, mas não podemos
escalar uma atriz que não sabe cantar.
— Henry e eu escrevemos Adina para Fitz. Não vamos mudar o
elenco.
— Onde está Chao, de qualquer maneira? — Reid pergunta. —
Você não disse que ele deveria estar aqui?
Eu mastigo o interior da minha bochecha.
— Eu sei. Mas ele concordaria.
— Concordaria em tornar algo já difícil, impossível? Isso nem
deveria ser meu problema! — Reid diz. — Eu deveria passar meu
sábado focado na minha audição em Albany. As chances de eu entrar
já são baixas, mas com Melted no meu prato? Estou totalmente
ferrado.
Eu reviro meus olhos em resposta.
— O que? — Reid pergunta.
Eu dou de ombros.
— Eu não acho que isso seja um problema real. Você vai entrar.
— Oh. Obrigado — Reid diz, em sua voz de piano.
O silêncio se instala entre nós, uma medida longa demais. Não sei o
que há de errado comigo, porque elogiar Reid é a última coisa que faço.
Então eu me volto.
— Posso ouvir outra música?
Reid começa a tocar progressões de acordes.
— Sim, claro. Vou tocar o início de In Winter. Não está terminado,
mas quando você estiver ouvindo, imagine-o como seu grande número
de dança de sapateado padrão Broadway, ok?
Eu levanto minhas sobrancelhas.
— Melted não precisa de um número de sapateado padrão
Broadway.
Ele para de tocar.
— Eu também não achava, mas depois de falar com Danica, fui
sugado para algumas pesquisas na noite passada...
Eu franzo a testa. Danica? Pesquisa?
Reid pega sua mochila encostada na parede e tira seu laptop.
— Danica me enviou alguns números de dança e parece necessário
incluir um agora. Eu vou te mostrar...
— Você não pode simplesmente tocar a música? Não estamos nem
perto de ter coreografia.
— Quero dizer, eu posso. Mas você precisa acreditar na dança. Caso
contrário, você não vai entender.
Reid abre o YouTube e se senta no banco, o suficiente para que haja
bastante espaço para eu sentar ao lado dele, como se fizéssemos isso o
tempo todo. É estranho ver uma versão totalmente diferente dele. Um
Reid que escreve músicas de show originais na minha frente e meio que
brilha com a perspectiva de sapateado em vez de sorrir afetadamente
para Mozart.
— Eu gostaria de ter a habilidade para fazer isso — diz Reid,
apontando para a tela.
Isso me lembra que musicais são domínio de Reid. A música sempre
vinha primeiro, mas muitos garotos da banda também faziam teatro
musical, na época em que os títulos daquelas produções tinham o Jr. no
final e exigiam menos compromisso de tempo. A audição desanimada
de Reid o levou a estrelar The Music Man Jr. na oitava série – um papel
que foi tanto sua estreia quanto seu ato final.
Ele puxa uma sequência de vídeos tão rápido e passamos os
próximos vinte minutos assistindo a uma mistura dos números
clássicos de Anything Goes e 42nd Street, em seguida, passamos para
os favoritos mais recentes de Reid – Newsies, Aladim e The Book of
Mormon.
— Viu? É música também — diz Reid.
Eu encolho os ombros, mas entendo porque Reid está escrevendo
um número de dança. Assistir os dançarinos criarem música com seus
corpos é como ver as palavras em um roteiro executado perfeitamente
no palco.
Reid fecha seu laptop.
— Os dançarinos e a música estão intimamente ligados,
certo? Então, quando eu toco... você tem que
imaginar isso acrescentando algo.
Eu aceno com a cabeça porque, apesar de tudo, estou intrigada.
Reid se lança na música – um número conjunto de alta energia e
caprichoso, que faz o elenco sonhar acordado sobre experimentar um
inverno de verdade, algo que Infernodelle, é claro, nunca viu antes. Eu
bato meus pés com a música inconscientemente, adicionando onde as
batidas se encaixariam na melodia. Reid está tão perdido na música
quanto eu. Seu joelho bate no meu quando ele pressiona o pedal e eu
fico de pé, voltando para minha cadeira de rodinhas, de repente muito
consciente de quão próximos estamos, e quão íntimo isso é, sentar em
um banco de piano com Reid.
Ele para de tocar e me olha com expectativa. Como se o que tenho
a dizer importasse para ele.
— Eu gostei — digo, e antes mesmo de dar permissão, minha mente
está correndo com notas, ideias. — E se a última ponte mudasse de
nota?
Espero que ele zombe e explique as virtudes de manter a música em
Fá maior, mas em vez disso Reid pega meu comentário e o testa, ao vivo,
diante dos meus olhos. Ele brinca com as progressões de acordes antes
de subir um tom na ponte.
— Como ficou? — ele pergunta, e soa exatamente como eu
imaginei que seria.
— É isso — digo. Me surpreende o quanto eu quero dizer isso.
Passos descem os degraus do porão e papai entra no estúdio, uma
transição de cena para a qual não estou pronta.
— Natalie! Reid! Vocês estão colaborando? Fique quieto, meu
coração!
Eu reviro meus olhos.
— Por muito pouco.
— Eu estava apenas explicando os méritos de um número de dança
de sapateado da Broadway — diz Reid.
Papai acena com a cabeça.
— Eu tenho dez minutos antes das tarefas do bat mitzvah. Me
mostrem.
Reid toca a nova versão de In Winter – minha versão. Papai fica
perto de Reid e considera cada acorde. Reid endireita as costas, um
ajuste subconsciente sutil, porque ele é sempre aluno do meu pai,
mesmo em uma tarde de sábado. Eu juro, Reid é sustentado pelas
palavras bem feito proferidas por meu pai.
— Mudança de tom inteligente — papai observa com um aceno de
apreciação.
— Obrigado — Reid e eu dizemos ao mesmo tempo.
Com licença?
— Eu pensei–
— Você pode começar do início do segundo refrão? — Papai
pergunta a Reid.
Ele me interrompe. Como se eu nem estivesse aqui. Dou a Reid
uma ideia, tento colaborar – e ele leva o crédito cinco segundos
depois. Pego meu telefone em cima do piano e puxo meu suéter cinza
enorme para perto de mim, percorrendo o Instagram e contando as
medidas até que outra colaboração entre Reid e meu pai acabe.
— Boa sorte em encontrar uma dúzia de dançarinos — murmuro
enquanto meu pai sai do estúdio.
Reid para de tocar e me lança um olhar fulminante.
— Você quer dizer Danica e todos os seus amigos do teatro musical?
Eu aperto minha mandíbula, mas não vou ceder.
— Certo. Mas não vamos congelar os atores que não sabem cantar
ou dançar.
Os ombros de Reid ficam tensos.
— É um musical.
— O objetivo é representar todos os departamentos que foram
cortados. Não apenas os de música. Tudo isso é um meio-termo, então
você e sua "visão" também precisam se flexibilizar. Falando nisso, este é
um bom começo, mas não podemos aprovar nada sem o Henry.
Reid franze a testa.
— OK. Mas onde ele está?
— Preso no restaurante — minto. Mesmo que eu esteja irritada, não
vou expor que Henry está interessado na atriz, não no show. O Chao
Down, pelo menos, é uma desculpa válida.
Reid fecha seu caderno, sua expressão mudando.
— Eu ainda estou me corroendo por dentro. Claramente. Mas eu
prometo que estou falando sério sobre isso. Eu vou aparecer.
— OK.
— Natalie, eu estou falando–
— Sério. Eu sei. Você sempre está.
Reid franze a testa enquanto afrouxa a ligadura de seu clarinete para
mudar a palheta, já pronto para voltar ao ensaio.
— Isso é um problema? Tudo o que eu digo vai ser um
problema? Somos codiretores. Temos que pelo
menos tentar colaborar.
A risada que escapa dos meus lábios é aguda.
— Então você pode ficar com todo o crédito? De jeito nenhum.
— Então, como isso vai funcionar?
— Você escreve a música. Vou escrever a letra. Sozinha.
Reid franze a testa.
— Natalie, isso não é–
Abro a porta do estúdio e saio antes que Reid termine sua frase,
incapaz de impedir meu cérebro de voltar ao meu pai elogiando
Reid. Especialmente depois de como reagi às músicas. Isso me faz me
arrepender de ter baixado a guarda, mesmo que por um momento. Não
vou deixar seu talento musical dominar minha visão. É uma verificação
da realidade necessária, um lembrete de que codirecionar com Reid é
absolutamente um problema sem solução real.
Porque quando se trata de Reid e música, sempre será uma
competição.
Mesmo quando deveríamos estar no mesmo time.
Superada
UM GRANDE EU TAMBÉM
11h11
perfeito!
11h14
— Fitz vai nos pegar às duas — digo.
Delia acena com a cabeça.
— Obrigada, Natalie.
— Compras excessivas não curam todas as feridas, mas sempre
ajudam. Lamento que Hannah esteja sendo uma bundona. Uma
terceira Monica. Será...
Uma batida na porta interrompe meu conselho de irmã. Mamãe e
papai enfiam a cabeça para dentro.
— Sabe, lembro-me de ter vetado um convite para qualquer pessoa
chamada Monica — mamãe diz inocentemente. — Nos culpe.
Nós os seguimos de volta para baixo, e minha irmã pega um Sharpie
preto e risca As Monicas da lista de convidados.
Remove uma fonte de conflito entre Adina e Mais tempo para flertes entre Emma/Kris
Emma
O simbolismo está muito no nariz
Ele é! O! VILÃO!
Além disso, o enredo não faz sentido, tipo, POR QUE
Emma confiaria em um cara que acabou de conhecer para
proteger seu reino?
— Está ficando muito, não sei. Parecendo jazz? — Henry diz na manhã
seguinte, fazendo mãos de jazz exageradas acima de sua tigela de cereal.
— É um musical, Hen — digo, tomando dois ibuprofenos. — É
para ser um pouco jazzístico.
A casa, milagrosamente, não se parece com todas as cenas padrão de
uma comédia adolescente de uma casa pós-festa. Mas mais cedo,
mamãe me mandou uma mensagem dizendo que ela e papai estariam
de volta no início da tarde, o que não me dá horas suficientes para não
me transformar em um desastre de ressaca.
— Eu sei. Só, eu não sei, não parece bobo para você? Dragões
dançantes, baladas poderosas, sapateado — diz Henry.
— É uma bobagem. Mas é isso que faz funcionar. — As palavras de
Henry doem. Se ele quisesse contribuir, ele poderia ter entrado
em qualquer sessão de escrita. Considerando que ele foi convidado
para todas elas.
Henry parece ferido.
— Desde quando você gosta disso?
— Desde quando sua língua desce pela garganta de Dani? — Fitz
rebate.
Henry engasga com seu cereal.
— Eu nem sei. Mas ela vai me deixar na friendzone de qualquer
maneira, se isso fizer você se sentir melhor. — Os ombros de Henry
caem para frente. — Eu posso sentir isso em meus ossos.
Eu odeio testemunhar mudanças na dinâmica da amizade em tempo
real. Não tem como isso acabar bem.
— Bem, eu gosto das músicas, Nat. Quem vai interpretar Adina?
— Você vai — eu digo.
Ela estreita os olhos para mim.
— Eu não sei cantar.
— Adina não canta. Ela é uma poetisa.
Eu deixo de fora que ainda estamos tentando descobrir como isso
vai funcionar, mas vale a pena pela expressão no rosto de Fitz enquanto
ela joga os braços em volta de mim.
— Você lutou por mim!
— Claro — eu digo. — Você é Adina.
— Huh. Você e Callahan. Concordando de repente. Não tentando
matar um ao outro — Henry interrompe.
Aparentemente, Henry não se distrairá.
— Que escolha eu tenho? Estou passando muito tempo com Reid
porque preciso, porque temos um musical para fazer.
— Você é mesmo capaz disso? Porque eu realmente não quero ficar
por aqui e assistir você direcionar este show para o chão mais do que
você já fez!
Uau.
Henry e eu ficamos frustrados um com o outro, mas as brigas são
raras. Quando uma acontece, é assim que acontece. É como se ele fosse
incapaz de me dizer como se sente quando sente isso. Não. Ele prefere
engarrafar e internalizar até que tudo desmorone em um momento.
E ele sabe como acertar onde dói.
Eu pisco
— Henry. Do que você está falando?
Henry joga as mãos para o alto.
— Eu não quero brigar.
— Claramente você quer — eu digo.
— É o aniversário dela, seu peidão — diz Fitz.
— Não volte atrás. — Agora que está exposto, não posso
simplesmente engolir mais.
Henry empurra os óculos para cima, as sobrancelhas franzidas.
— “Melted” foi divertido de escrever – embora você só ouvisse
minhas ideias pela metade. “HAVE A HE(ART)” foi legal, apoiar uma
causa e mobilizar os outros clubes de artes. Mas então de alguma forma
isso se transformou em uma situação de Natalie X Reid. Poderíamos
ter “Melted”. Poderia ter sido a peça que deveria ser. Mas, mais uma
vez, uma guerra de pegadinhas explodiu na sua cara. Não apenas na sua
cara – todas as nossas caras. Como eu disse que aconteceria. Mas você
não escuta. Tipo. Sempre. Você apenas faz. E você ainda está fazendo
isso e agindo como se fosse a vítima.
Eu pisco para conter as lágrimas.
De onde está vindo isso?
— É só... não é o que eu queria, Natalie. Você entende?
— Henry, eu sei–
Ele balança a cabeça.
— Você não sabe. Você nunca pergunta com o que estou de
acordo. Não com “Melted”. Não com nada. Quando começamos isso
juntos, era para ser um adiamento das coisas do último ano... e agora é
apenas mais estresse. Você nem mesmo percebe isso. Você apenas
dirige, como se fôssemos todos personagens secundários na sua
história, ajudando você a conseguir o que deseja.
Eu tenho opiniões fortes? Sim. Sou eu que estou tentando proteger
o que nós dois queríamos, pelo menos tanto quanto possível. Mas eu
escuto suas ideias! O ajuste com Moritz foi sua sugestão! Tudo que eu
queria era que Henry fizesse parte disso, ainda ter nosso último show
juntos.
Ele é quem está indo embora.
— Parece que você está chamando Natalie de egoísta e isso é muito
irônico — Fitz rebate em minha defesa. — Você nos largou totalmente
pela Dani! Sabendo como me sentia – sinto – sobre ela. Você é meio
idiota, Chao.
— Você nem conhece Dani — Henry diz.
— Eu sei como ela me faz sentir — diz Fitz.
— Não podemos ler sua mente, Henry — eu digo. — Então, o
abandono repentino? Foi uma merda.
Henry zomba.
— Você não pode ler mentes? Você não escuta. Eu só. Não consigo.
Henry amarra seu Adidas, sobrancelhas franzidas, lábios
pressionados juntos em uma linha fina, e eu pisco e ele está fora da porta
dos fundos, tipo, tipo, se foi. Tchau!
Com sua dramática saída da sala realizada, eu me viro para desabafar
com Fitz. Mas seus olhos se enchem de lágrimas e ela sai furiosamente
na direção oposta, em direção à sala de estar. Eu corro minha mão pelo
meu cabelo, frustrada, e pego meu telefone para ler minhas mensagens
perdidas.
Reid Callahan
a noite passada foi estranha
9h37
Em anexo está um vídeo que Fitz gravou no telefone de Reid, dele e
de mim, cantando “For the Last Time Ever”. Eu não clico nele. A
imagem estática é o lado do rosto de Reid, com a sugestão de um
sorriso. Meu rosto está corado, provavelmente devido aos aplausos que
recebemos na música anterior. Ou a vodca.
Reid retaliou com uma pegadinha que obteve zero pontos para
criatividade, mas pontos máximos de nojo. No sábado seguinte às
palhetas de alho, desci as escadas para encontrar ovos mexidos e um
copo de suco de laranja em meu lugar à mesa. Reid já estava sentado,
folheando seu telefone após sua aula matinal de clarinete.
Sem pensar duas vezes, peguei o suco de laranja e tomei um gole
generoso.
Isso foi um erro.
Imediatamente, eu engasguei, cuspindo laranja em mim mesma, e
Reid estava rindo em suas mãos. Porque suco de laranja, não
era. Não. Reid dissolveu um pacote de tempero de macarrão com
queijo em um copo de água e eu odiei o quão brilhante era – como ele
me pegou sem esforço.
Não olhei para o suco de laranja da mesma forma desde então.
As pegadinhas aumentaram conforme a umidade diminuía e o ar de
outono ficava mais fresco.
Contamos com a ajuda das irmãs em uma rodada. Hannah
escondeu cada par de sapatos de Reid horas antes de ele encontrar
Madeline no rinque de patinação. Reid é extremamente meticuloso
com seus pertences, então esse aqui mexeu com ele da melhor
maneira. Alguns dias depois, peças que eu não tinha memorizado ainda
estavam faltando na minha pasta de músicas.
A Sra. Sullivan me chamou e meus ouvidos ficaram quentes de
vergonha.
— Vocês dois são tão juvenis — Madeline declarou depois da aula,
enquanto arrumava seu saxofone.
Quanto mais brincadeiras aconteciam, mais frustrada Madeline
ficava. Exatamente como planejei.
— Desculpe, Madi. — Eu balancei minha cabeça. — Não vamos
parar até que haja um vencedor.
Madeline revirou os olhos. Mas então eles deixaram a aula juntos de
mãos dadas, e uma separação iminente ainda parecia bem
improvável. A brincadeira de Reid acendeu um fogo em mim, no
entanto. Foi um lembrete de que a guerra de pegadinhas era séria para
Reid. Para ele, tudo se resumia ao clarinete.
Eu assisti Madeline e Reid se afastarem e de repente, eu sabia como
usar isso contra ele.
Henry Chao
Oi. Eu vim depois do meu turno para conversar, mas Delia
disse que você está vendo Rei Leão com Reid??
17:45
Reid Callahan
O que você tem até agora?
18h22
NADA
18h22
Reid Callahan
Já disse isso antes, mas você não pode pensar nisso como um
monólogo.
22h21
Ainda é mais ou menos uma canção. Você tem que sentir
isso. Precisa de uma batida.
22h21
Eu sei que estou apegado a Keep It da mesma forma que você
está apegada ao Moritz... mas talvez haja algo no ritmo da
música que possamos salvar.
22h22
Pode ser mais fácil do que começar do zero.
22h22
Eu considero a ideia de Reid.
Pela primeira vez, vejo o poema.
E eu ligo pro Reid por FaceTime.
— Natalie? — Ele atende no segundo toque, meu nome um ponto
de interrogação em sua voz.
Eu imediatamente desligo.
Merda. O que há de errado comigo? Reid e eu não fazemos
FaceTime! Mensagens de texto casuais são novas o suficiente! Vê-lo na
minha tela, sentado em sua cama, seus cachos úmidos saídos do
chuveiro – é um novo nível para esta trégua que eu não tenho certeza
se estou pronta. Mas somos colaboradores. E não consigo transmitir
por texto o que sinto quando ouço sua batida.
É “Melted”. Não era nem estranho... até que eu desliguei em pânico
e deixei tudo estranho.
Meu telefone começa a vibrar.
Ele está ligando de volta.
Eu verifico meu cabelo no espelho. Não posso explicar por quê.
— Ei — eu respondo. — E aí?
As sobrancelhas de Reid se erguem em diversão.
— Eu não sei. Você me ligou.
— Certo.
Faça um silêncio muito longo.
— Natalie? — Reid pergunta. — Eu travei?
— A batida — eu digo. — Acho que sei o que nosso momento
quieto do segundo ato precisa ser.
— Você teve um avanço! OK. Me dê um segundo.
Reid está em movimento, saindo de sua cama e indo para sua
mesa. Leva mais de um segundo para fazer a configuração certa. Eu
alcanço o meu laptop enquanto tenho certeza de que Reid está
tentando me equilibrar em uma pilha de livros. A tela fica preta com
um baque. Mas depois de uma medida, estou preparada para ver o
perfil de Reid, seu teclado ao fundo.
— OK. Me passe a visão — diz Reid.
— “Keep It In” — eu digo. — Podemos desmontá-la?
Reid para de digitar e olha para mim.
— Espera. Mesmo?
Eu afirmo.
— Nunca pensei em retrabalhar suas letras porque sempre imaginei
um grande momento. Talvez não seja. Talvez seja o momento
tranquilo e poderoso de que “Melted” precisa. Não cantado. Falado.
Reid considera.
— Mas... você está tão apegada ao monólogo.
— Eu ainda estou — continuo. — Tem tudo o que eu quero dizer
– sobre a relação de Adina com seus poderes, sobre o medo e a raiva que
vêm com o ajuste de contas com uma crise climática que ninguém mais
reconhece. Mas não se encaixa. Não mais. Então, talvez usemos o
monólogo como inspiração para reescrevê-la. Sua música. Meu
monólogo virou letra.
Outra batida de silêncio.
— Então, o que você está dizendo — Reid começa, com um sorriso
afetado no canto da boca — … é que você não acha que devemos…
deixar isso livre estou?
Eu desligo.
Reid liga de volta imediatamente.
— Eu te odeio — eu respondo.
— Vamos! Você me armou para isso — Reid diz, rindo. — É uma
ótima ideia. Uma verdadeira colaboração.
Ele compartilha um documento do Google comigo intitulado KEEP
IT IN — REDUX.
Eu clico no arquivo e vejo Reid digitar em tempo real.
— Estou pensando em manter o acompanhamento super simples
— digo.
— Concordo. Temos de ter cuidado. Pode ser feito da maneira
certa ou pode ser o filme Les Mis.
— Eu não sei o que isso significa — eu digo.
Reid me envia um link para “Valjean's Soliloquy”, no qual Hugh
Jackman está falando? Cantando? Eu não tenho certeza do que isso
deveria ser. Eu assisto trinta segundos do clipe antes de sair porque
Reid fez seu ponto. “Keep It In” não pode ser... seja o que for isso.
— Esse é apenas um exemplo — diz Reid.
— Entendido. E vou riscar Les Mis da minha lista.
Não quis dizer a segunda parte em voz alta.
— Que lista? — Reid pergunta.
— Oh, estou assistindo musicais — digo. — Para preparação.
Reid luta para esconder a surpresa em seu rosto.
— Não risque! Em vez disso, assista ao concerto do décimo
aniversário.
— Anotado.
Reid cola suas letras de “Keep It In” e o monólogo original no
documento lado a lado e passamos horas reescrevendo as letras,
transformando uma música totalmente orquestrada em um momento
emocional mais pessoal para Adina. Experimentamos com a música
que o acompanha, brincamos com o andamento e o volume e com o
quanto podemos reduzir. Parece uma verdadeira parceria, uma
verdadeira colaboração que nunca se sentiu tão fácil, desde que Henry
e eu escrevemos a cena de abertura de Melted durante o verão, que
agora parece uma vida inteira atrás.
Quando saímos de nossa zona criativa, são quase duas da manhã.
Eu pisco. Como?
— Devo estar em sua casa em cinco horas — diz Reid.
— Eu tenho três testes amanhã — eu digo.
— Bem, pelo menos “Melted” está pronto. — Reid fecha seu laptop
e volta para sua cama, a tela escurecendo por um momento enquanto
ele apaga as luzes do quarto e acende a lâmpada em sua mesa de
cabeceira que atinge apenas metade de seu rosto. — Ele está pronto,
certo?
— Está — eu concordo. — Mas o verdadeiro trabalho está apenas
começando. Co-diretor.
— Certo. Ugh. Não estou nem cansado.
— Nem eu — eu admito. — O arrependimento chegará no segundo
período.
— Sem arrependimentos. — Reid balança a cabeça. — Isso significa
que posso dedicar algum tempo real à minha inscrição para Albany esta
semana. Antes de começar a elencagem na próxima semana. Como já
estamos neste ponto?
— É um cronograma ridículo — eu digo. — Como vão as
coisas? Coisas de Albany?
Reid está sem palavras por um segundo.
Eu também. Quando nossas conversas se afastam de “Melted”,
nunca é em direção ao clarinete.
— O prazo é até meados de dezembro — diz Reid. — Eu ainda
tenho tempo. Precisa ser perfeito. Preciso…
A frase desaparece, inacabada.
— O quê? — pergunto.
— Há muito em jogo – um avanço nas inscrições para
conservatórios, bolsas de estudo em potencial, sinalizando para meus
pais que isso não é apenas um hobby. Eu sei que sou bom o suficiente.
— Confiante — digo.
Reid sorri.
— Sempre.
Eu reviro meus olhos, uma ação que parece normal.
Mas o sorriso desaparece. Reid suspira.
— Eles nem sabem que estou me inscrevendo.
— Para Albany?
Reid acena com a cabeça.
— É uma jogada arriscada, então por que começar qualquer
coisa? Meus pais estão fortemente empurrando a rota tradicional. Meu
pai diz que não vai financiar parcialmente um curso de artes inútil. É
como se meus pais esquecessem que há pessoas por trás da arte que
adoram consumir. Pessoas como eu. Não se trata nem de dinheiro. Eu
teria empréstimos de qualquer maneira. É mais como... — Reid para
novamente. — Eu sinto muito. Não sei por que estou lhe contando
isso.
Eu também não.
Reid desabafar no meio da noite é o oposto do normal. Quer dizer,
eu sabia que as coisas com os pais dele eram tensas sobre o
conservatório. Sempre apreciei o pragmatismo de Rebecca e
Leonard. Mas ouvir Reid falar sobre experimentá-lo... Não tenho
certeza se ainda aprecio. É, tipo, não me admira que ele seja tão intenso
com a música.
Ele tem algo a provar.
— De qualquer forma, você tem sorte — continua Reid,
preenchendo o silêncio. — Seus pais são os melhores. Não sei o que
faria sem o seu pai.
E aí está. O porque eu não gosto de conversas sobre o
clarinete. Espero que a onda de angústia e animosidade chegue. A
reação típica de afastamento com a qual estou tão acostumada. Mas
isso não acontece. Talvez eu esteja muito cansada. Talvez a epifania
de O Rei Leão teve mais impacto do que eu pensava. Talvez seja bom
conversar com Reid sem ter que pensar sobre como isso poderia ser
usado contra mim.
— Sim, eu sou. Mas você também.
Há uma pausa.
Está tarde.
Eu deveria dizer boa noite.
— Nós vamos–
Reid me interrompe.
— Posso te perguntar uma coisa? Agora que despi minha alma.
Meu coração bate em ritmo acelerado.
— Talvez.
— Nós colaboramos — diz Reid. — Tipo, a semana toda.
— Isso não é uma pergunta.
— Eu sei. — Reid passa a mão pelo cabelo e morde o lábio
inferior. — Desculpa. Ainda estou processando. Eu não sei. Eu ainda
sou eu. Você ainda é você. Exceto, você está falando sério. É mais do
que uma trégua e mais do que salvar o seu clube. O que mudou? Além
de “Hakuna Matata”.
Eu processo a pergunta de Reid e a seriedade em sua voz.
É preciso tudo em mim para não me desconectar em pânico. Porque
isso parece íntimo. Nossos rostos podem estar nas telas, mas estão mais
perto do que nunca. Cada expressão está em exibição – a peculiaridade
da sobrancelha de Reid, a intensidade na forma como seus olhos fixam
os meus.
Não há onde se esconder.
Nada me impede de admitir para mim mesma que o rosto de Reid...
não é um rosto feio.
Objetivamente.
Oh meu Deus.
Nunca desejei tanto a capacidade de excluir um pensamento.
Então eu vou para uma distração. A verdade.
— Eu ouvi meus pais conversando algumas semanas atrás. Sobre
possíveis demissões.
Mesmo no escuro, vejo a cor sumir do rosto de Reid.
— Merda.
— Parece um boato. Mas me assustou… — quase tanto quanto essa
confissão em um vômito de palavras está me assustando — … então, se
pareço mais séria, é porque estou. Vou me comprometer, dirigir um
musical e deixar nossa história de lado enquanto durar a trégua.
— Merda — Reid repete. — Desculpa. Eu não esperava por isso.
— Eu sei. Os riscos já pareciam altos — digo.
— Tio Aaron não pode estar seriamente no bloco de demissões —
diz Reid.
— Eu não sei. Mas se ele estiver, a culpa é minha, então temos que
fazer isso direito, Reid. Precisamos ser co-diretores.
— Nós vamos.
Eu acredito nele.
— Uma nota estranha para terminar, mas devemos…
Reid me interrompe.
— Sim. Boa noite, Natalie.
— Noite.
Eu desligo, desta vez de verdade.
Mas dormir é impossível – minha mente está acelerada, esta semana
inteira de conversas em um loop. A colaboração desta noite. A
animação sobre a magia do Rei Leão semana passada. A confissão das
duas da manhã desta noite.
Há uma linha na qual estou presa.
Eu não esperava por isso.
Então, o que Reid esperava que eu dissesse quando perguntou o que
mudou?
Eu não sei.
Eu sei que é um alívio dividir o peso dos riscos com outra pessoa.
Mesmo que esse alguém seja Reid.
mds natalie
4:45 PM
eu te amo, mas não se preocupe em meu nome
4:46 PM
EU CAÍ. tá tudo bem ser objetiva.
4:46 PM
contanto que eu ainda esteja desenhando os figurinos
4:46 PM
Eu expiro.
A melhor parte sobre Fitz é que ela deixa suas emoções visíveis.
O oposto total de Henry.
Eu não tenho que ler nas entrelinhas – ou me preocupar que ela não
queira dizer isso. Mesmo assim, não torna a decisão mais fácil. Quer
dizer, já escrevemos um musical inteiro centrado na incapacidade de
cantar da Fitz. Porque Adina sempre foi Fitz.
Não sei se estou pronto para deixá-la ir.
Luto com a ideia pelo restante das leituras de química, até que o
futuro elenco de “Melted: The Musical” seja dispensado, deixando
Reid e eu para finalizarmos a lista com meu pai. Fitz me envolve em um
abraço na saída. Danica e Henry saem juntos e eu não posso nem
processar que a primeira conversa de verdade que Henry e eu tivemos
desde meu aniversário foi ele me acusando de largar Fitz. Especialmente
quando Fitz está mais tranquila em largar Fitz do que eu!
É além de frustrante.
— Que semana! — Papai exclama assim que todos vão embora,
usando sua voz de professor. — Seu show vai...
— Emerson deveria interpretar Adina — diz Reid.
Uau. Nem deixa papai terminar a frase!
Mesmo que eu quase concorde, a maneira como ele aborda isso
reacende a Natalie X Reid em mim.
— Fitz pode fazer isso — rebato. — Se formos bons diretores,
podemos ajudá-la a fazer isso.
— Já estamos com um prazo ridículo, Natalie. Por que tornaríamos
qualquer parte do processo mais difícil para nós? — Reid pergunta.
— Porque trabalhamos nisso! Tiramos uma música da Fitz! Eu...
pensei que estávamos na mesma página.
— Nós estávamos. Mas é difícil estar agora, quando Emerson está
bem na nossa frente.
Papai levanta as mãos e me atira um olhar que diz ouça-me.
— Olha, Natalie. Eu sei que você investiu na Fitz. É compreensível.
— Ela é uma das melhores atrizes que temos — insisto. — Isso não
é tendência de amizade!
— Mas isso é show business e também assunto de comitê escolar, e
se você quiser ser levada a sério... Fitz não é forte o suficiente para liderar
um musical — diz papai.
Aqui está. A palavra. Sério.
E tudo bem. Eu sei que eu disse isso. Mas parece diferente, ouvir do
papai.
Até agora, levar o musical a sério significou perder Henry como co-
diretor e colocar nossa amizade no pior lugar que já existiu. Agora
significa largar a Fitz. Eu odeio que existam riscos. Que estou liderando
uma produção séria sem minhas pessoas favoritas – exatamente o
oposto de porque lutamos tanto pelo clube de teatro.
Não é por isso que eu faço Arte.
Mas agora, é como eu preciso fazer Arte se eu quiser ser capaz de
fazer daquela forma novamente.
Se um erro de elenco – se minha teimosia – arruinar a programação
de arte do próximo ano para um corpo discente inteiro, nunca poderei
mostrar minha cara no LHS novamente.
Eu nem mesmo deixo a outra possibilidade de pior caso se tornar
um pensamento.
— Você não está errado — digo. — Mas eu tenho condições.
Não sei quem parece mais chocado.
— Mesmo? — Reid pergunta.
— Você... não vai lutar contra isso? — Papai pergunta.
Eu balancei minha cabeça.
— Eu quero manter o “Keep It In” simplificado. Podemos escrever
uma melodia simples para Emerson, mas não estamos revertendo. Ela
será uma ótima Adina. E se isso nos trouxer financiamento, posso
escrever algo ótimo para Fitz no próximo ano.
— Combinado — diz Reid.
— Fitz também é a substituta de Emerson — digo.
Reid acena com a cabeça.
— Beleza. Mas nada de fazer pegadinhas para Emerson ficar fora do
show.
— Eu nunca!
Reid me olha como se dissesse, “sério?”.
Papai fica atordoado em silêncio por um momento, antes de se
recompor. Claro que dói, a maneira como papai estava tão obviamente
ficando do lado do Reid. A maneira como papai sempre fica do lado do
Reid. Mas eu engulo. Por enquanto, sou um profissional. Estou
colocando o futuro das artes à frente dos meus próprios problemas. É
chamado de crescimento.
— Excelente! — Papai diz. — Huh. Talvez a gente não vai estar
aqui a noite toda.
Adina foi o único papel em debate e o resto da lista do elenco se
forma com pouca fanfarra. Todo mundo que fez o teste terá um papel
no elenco, é claro. Fora do elenco principal, há papéis coadjuvantes,
dançarinos principais e solos importantes para escalar, mas quase todos
concordamos. Quando não fazemos isso, Reid concorda comigo
porque temos uma Adina que pode cantar.
— Conseguimos — diz Reid. — Temos um elenco.
Eu reviso a lista final digitada.
Eu não posso mentir. Eu sinto a perda de Fitz – não ver seu nome
no conjunto.
Mas a emoção também está presente.
Porque na próxima semana, eu vou dirigir.
Bem, co-dirigir.
A Armadilha
4
Trocadilho com "you need each other", traduzindo: vocês precisam um do outro.
um presente? Especialmente porque ele definitivamente não tem um
para mim, então isso vai ser estranho.
Eu me afasto das mensagens de Fitz enquanto Reid mergulha seu
último pedaço de latke em um molho de maçã como um esquisitão. Eu
acho que a nossa história de nunca concordar em qualquer coisa
começou com coberturas de latke. Sour cream para a vida.
— Posso te mostrar uma coisa? No andar de baixo? — Reid
pergunta. — Relacionado a “Melted”.
Papai ouve e se insere na conversa no pior momento possível.
— Estamos em um bom momento. Não há problema em tirar a
noite de folga. É um feriado!
Mamãe bate no ombro do meu pai.
— Como se isso já tivesse parado você!
— Nunca — Leonard reitera.
— Você não pode mostrar a todos? — Delia pergunta.
— Não estou confiante o suficiente nas minhas habilidades de
sapateado ainda — Reid diz sem perder o ritmo.
Hannah levanta as sobrancelhas.
— Você precisa praticar uma rotina de sapateado? Agora?
Eu concordo.
— Considerando que a primeira coisa na programação de amanhã é
uma versão completa de “In Winter”, é incompreensível que Reid
esteja nesta mesa comendo latkes esta noite. Falando como sua diretora.
Cientes de que estamos agindo superficialmente como o diabo,
disparamos. Reid fecha a porta do porão atrás dele e começa a rir e
estamos perto, muito perto. Seu cabelo está liso por causa do chapéu de
feltro e leva tudo para não passar minhas mãos por ele, para não
despentear de volta ao seu normal cacheado.
— Trouxe uma coisa para você — diz Reid, depois que o riso
diminui. — Para Chanucá.
— Oh? — Eu caio para trás no sofá e levanto minhas sobrancelhas
porque eu esperava que descer fosse um código para, hum, vamos se
pegar. Não sei o que é mais surpreendente – o fato de que não estamos
se pegando agora, ou que Reid me deu um presente também.
— Não é grande coisa — diz Reid. — Eu sei que não fazemos
isso. Eu não queria que os pais – ou Hannah e Delia – vissem e
tornassem isso algo que não é.
— O que não é?
— Uma grande coisa — Reid reitera.
Eu sorrio.
— Você gosta de mim.
Reid balança a cabeça, mas está sorrindo.
— Eu realmente não gosto.
— Onde está meu presente?
Reid revira os olhos.
— Cale-se.
Ele me joga uma pequena caixa embrulhada em papel menorá
azul. É do tamanho de uma caixa de jóias, o que desencadeia uma
espécie de pânico que nunca senti antes. Para me distrair, coloco a mão
no bolso enorme do suéter e pego meu pequeno presente.
— Você também tem um presente. De mim.
Reid começa a rir.
— Espere, sério? Tenho estado tão estressado que isso é estranho.
— Quero dizer... é estranho.
Reid abre seu presente primeiro, uma caixa de palheta personalizada
que encontrei durante uma de minhas fuçadas no Etsy mais
patéticas. Está escrito REID'S REEDS5 no verso porque, bem, eu escrevo, e
não resisto ao jogo de palavras. De pé aqui, observando-o abrir, vendo
seu rosto – como se ele estivesse chocado por eu ser capaz de ser
atenciosa.
Ele sorri tão grande.
— Eu amei isso. Obrigado. Abra o seu.
Meu presente não são joias, graças a Deus. É um chaveiro com dois
pingentes – uma chama e uma placa de diretor. Eles são de metal e
5
Traduzindo: palhetas do Reid.
planos, ambos gravados na parte de trás. MELTED: O MUSICAL no pingente
de chama e a data de estreia no verso da placa. Provavelmente estou
fazendo a mesma cara de Reid agora, porque de alguma forma é
perfeito.
Eu envolvo meus braços em volta dos meus joelhos.
— Obrigada.
— Você poderia fazer isso — diz Reid. — Escrever e dirigir, de
verdade. Se você quiser.
Meu coração incha. Meus pais me dizem isso há anos, mas em um
jeito muito deseje a uma estrela e seus sonhos podem se tornar
realidade. Quando Reid diz isso, acredito que posso fazer isso, de
verdade. Reid não fala palavras que não quer dizer, pelo menos não
comigo. Ele nunca poderia.
Abro a boca para dizer algo, mas em vez de falar palavras, minha
boca está na boca dele, oops. Exceto que não parece um oops, como
nosso primeiro beijo. Este beijo é mais suave, intencional – sua mão
segura minha bochecha e a minha está em seu cabelo, finalmente. Beijar
Reid é tão bom que, tipo, por que passamos todos esses anos brigando
quando poderíamos estar fazendo isso?
Provavelmente é o cérebro de “Melted”, provavelmente a pressa de
uma semana de ótimos ensaios e vendo nosso show ganhar vida pela
primeira vez que está despertando todos esses sentimentos do
nada. Estou convencida de que, depois que acabar, as coisas voltarão a
ser como eram. É por isso que temos feito o trabalho – então Reid pode
ter sua banda de volta e eu posso dirigir dramas não musicais e nunca
teremos que trabalhar juntos novamente.
Mas... acho que vou sentir falta. Acho que vou sentir falta dele.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Toda vez que beijo Reid Callahan, me pergunto por que eu não
estava sempre beijando Reid Callahan.
Estamos no meu porão, pós-encontro de patinação, nossos narizes
e pontas dos dedos ainda descongelando por causa das horas no
rinque. Delia está na casa de Reid e meus pais estão em Connecticut
hoje à noite para um show e, pela primeira vez, não temos que nos
preocupar com alguém entrando ou fingir que estamos apenas
trabalhando juntos ou manter nossas vozes baixas. Podemos ser quem
quisermos.
Eu quero.
Mal chegamos ao sofá antes que eu abrisse o zíper do moletom de
Reid. Sua respiração acelera porque isso é novo, mas ele tira o moletom
e ele cai no chão. Reid se senta e eu me sento em seu colo, minhas
pernas em volta de sua cintura. Eu puxo sua camiseta sobre sua cabeça
entre beijar sua boca, sua mandíbula, seu pescoço. Meus lábios
pressionam contra seu pulso e Reid geme baixinho. Eu nem tenho
tempo para me perder nisso porque antes que eu saiba, Reid envolve
seus braços em volta de mim e me vira para que minhas costas fiquem
pressionadas contra o sofá. Eu puxo meu suéter sobre minha cabeça,
revelando minha regata preta.
Reid se afasta, tirando meu cabelo dos olhos.
— Você é tão linda, Nat.
Eu reviro meus olhos.
— Cala a boca.
Reid balança a cabeça e antes que mais tolices saiam de sua boca, eu
o puxo de volta para mim porque não quero ter nenhuma pergunta
agora, não quero pensar, só quero sentir. As mãos de Reid descem pelo
meu corpo. Seus lábios seguem. Reid beija meu queixo, meu pescoço…
A porta se abre, a luz se acende e Reid cai no chão.
Eu pisco, meus olhos se reajustando à luz.
— Oh. — O rosto do meu pai está cinquenta tons de mortificado,
mas Reid ganha dele. Tenho certeza de que Reid deseja poder derreter
no chão e desaparecer. Eu sei que eu desejo. — Hum.
— Como foi Connecticut? — Eu pergunto, porque talvez se eu
fingir que isso é normal, não é grande coisa, Reid não está sem camisa
no chão, não, meu pai vai sair em silêncio e podemos conversar sobre
isso pela manhã. Se tivermos que falar sobre isso. Prefiro nunca falar
sobre isso, obrigada.
— Bom. Tio Adam, hum, está gripado, então não... — Papai faz
uma pausa. Inspira. — Você sabe o que? Eu não posso fazer isso
agora. Só tenho que perguntar: vocês estão protegidos?
— Ai meu Deus — diz Reid.
— Pai — eu digo.
— Nós não... nós não…
Papai levanta a mão, cortando Reid, cuja camisa agora está do
avesso.
— Poupe-me dos detalhes. Eu estou… — Papai olha para trás e para
frente entre nós, engole — …indo embora agora.
Papai recua, fechando a porta atrás de si.
Merda.
Reid e eu sentamos ombro a ombro, em silêncio, fervendo de
vergonha. Reid teme que meu pai o odeie agora e ele pare de ensiná-
lo. Eu o acalmo porque isso é impossível. Papai está temporariamente
traumatizado, claro. Eu gostaria que meus pais me avisassem que eles
voltariam para casa esta noite? Claro. Mas o mais importante é...
— Quanto tempo até meus pais saberem? — Reid pergunta.
Eu suspiro.
— Eu acho que eles já sabem.
— Ugh. — As bochechas de Reid estão tão vermelhas que parecem
quase roxas. Não tenho certeza se elas vão voltar a um tom normal. Ele
fecha o zíper do moletom e pega as chaves da mesinha de canto. — Eu
só vou, tipo, ir para casa e fingir que os últimos dez minutos nunca
aconteceram?
— É — digo. — O antes, entretanto? Muito bom.
Reid sorri.
— Sim. Muito bom.
Reid me beija mais uma vez e sai pela porta lateral. Eu me enrolo no
sofá do porão, assistindo meus episódios favoritos de Parks and Rec até
ter certeza de que meus pais estão dormindo. Não quero falar sobre o
que isso significa. O rosto do papai, vendo Reid e eu parcialmente
vestidos em seu sofá, gritou, Merda, queria que eles ainda se odiassem,
meu Deus, era melhor assim!
Não sei como Reid e eu estaremos depois que o musical acabar.
Não sei o que o veredito do comitê escolar vai fazer conosco.
Eu sei, entretanto, que quando eu não desperdiço tanta energia
tentando me convencer de que eu odeio Reid – eu gosto dele. Bastante.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Reid Callahan
e intervalo! alguma correspondência hoje?
15h22
Eu ignoro porque meus pensamentos estão espiralando.
E eles chegam a isto: Reid nunca se importou
se “Melted” acontecesse. Ele usou minha peça como uma musa para
criar boa música, música incrível para sua audição em Albany. Eu o
ajudei a chegar aqui. Ele agia como se se importasse com algo diferente
do clarinete, mas ele estava apenas... usando a mim e a “Melted”. Mas...
estou presa na participação da banda, os riscos musicais, meu pai. Tudo
isso não significa nada para Reid? Enquanto ele se prepara para o
sucesso musical?
Penso em Reid e Madeline, sem me importar que ele tenha
arruinado nossa amizade no processo. Papai dizendo a Reid que
sempre há o próximo ano, mesmo que isso significasse me
derrubar. Todas essas memórias enterradas ressurgem e–
Eu sou tão estúpida.
E agora – e quanto a “Melted” ? O show é em três semanas! Os
ingressos já estão à venda! É tarde demais para fazer qualquer coisa,
exceto deixar Reid nos arruinar.
Lágrimas brotam dos meus olhos e merda, odeio o quanto isso dói.
Eu odeio ter dado a ele a habilidade de me machucar.
Eu rasgo a carta ao meio.
Rasgo as metades ao meio.
Coloco os pedaços do futuro de Reid de volta em seu envelope. Em
seguida, rasgo o envelope ao meio por precaução. Eu corro escada
acima para o meu quarto, pegando os pedaços do futuro de Reid e
enterrando-os no fundo da gaveta da minha mesa, onde Reid nunca os
encontrará.
Só então eu mando uma mensagem de volta.
não
14h27
Eu trabalhei muito neste musical.
Todo o futuro das artes na LHS depende desse musical.
Reid iria abandonar “Melted” para esta audição. Eu sei que ele
faria. É uma vaga em um dos programas de verão mais prestigiados. Sua
inscrição no conservatório de Albany em seu currículo seria uma
chave. Seria uma escolha básica.
Como eu poderia pensar que Reid e eu poderíamos ser mais do que
os rivais que sempre fomos? Eu conhecia as regras e as ignorei porque
pensei que poderíamos mudar. Mas aparentemente nada mudou em
nós.
Então, a trégua acabou. E desta vez estou dando o primeiro passo.
O destino do Albany Institute de Reid está em minhas mãos.
Eu também tenho a habilidade de machucá-lo.
Qualquer Coisa menos Música
Eu não conto a ninguém o que eu fiz. Não até que seja tarde demais
para consertar.
A semana entre saber a verdade sobre o que Reid fez e o prazo de
confirmação para a audição do Albany Institute é gasta dobrando em
todas as coisas sobre “Melted”. Estamos a poucas semanas da noite de
estreia e tudo começa a entrar em foco. Tenho estado tão distraída com
todas as coisas do Reid. Não mais. Henry e eu somos co-diretores
novamente e quando Reid pede para sairmos após os ensaios, eu dou
desculpas. Estou exausta. Eu tenho muito dever de casa. Temos um
longo dia amanhã. É hora de focar. Tudo isso é verdade – mas
tem sido verdade. Isso nunca impediu Reid e eu de nos demorarmos
depois dos ensaios.
Cada vez que olho para ele, vejo quem ele realmente é e o que ele
faria conosco. Mas então eu vou assistir ele roubar a cena, tão focado
em “Melted”. Ou há um chai esperando por mim na mesa da cozinha
nas manhãs em que ele tem aulas de clarinete. E fica difícil reconciliar
novamente.
Eu tenho que dar crédito a ele, ele é um ator melhor do que eu jamais
poderia imaginar.
Mas não posso confrontá-lo sobre isso até que a data de vencimento
passe.
Na quarta-feira, Makayla pede a Cherish para trazer sua câmera
DSLR para o ensaio durante as provas de figurino e elas fazem uma
sessão de fotos de Danica e Emerson na frente de uma tela
verde. Cherish e o clube de fotografia criarão panfletos com um cenário
ilustrado de Infernodelle que comercializa a parceria de “Melted” com
o The Sunshine Project.
Quanto mais perto chegamos da noite de estreia, mais clubes
participam, e é muito bom.
Como uma verdadeira vitrine de por que todos os nossos clubes são
importantes.
Enquanto Cherish se afasta, Reid se aproxima de mim em um colete
dourado metálico e jeans cinza. Os encaixes estão demorando muito
mais do que deveriam. Vale a pena porque Fitz é uma designer incrível,
mas significa que Reid tem tempo para vir falar comigo.
— Ei. — Reid se senta ao meu lado na ala direita do palco, nossos
pés balançando para o lado. — Nós estamos bem?
Não.
— Hmm?
Reid coça o cotovelo.
— Você está agindo estranho.
Porque você é um mentiroso manipulador e quero tanto beijar seu
rosto, mas não posso, porque você provou de uma vez por todas que é
o pior.
— Estou bem. — Eu passo meus dedos pelo meu cabelo. —
Estressada. Está tudo tão perto, sabe?
Reid acena com a cabeça e olha para mim.
— Eu não entrei em Albany.
Minha respiração fica presa na minha garganta.
— O quê?
Reid dá de ombros, mordendo o lábio inferior.
— Eles nunca me contataram para uma audição. Eles deveriam ter
feito isso agora. O que significa que não recebi uma.
— Isso é estúpido da parte deles. — Minha voz é quase um sussurro.
— Seja o que for — Reid diz. — Eu sabia que era um tiro no
escuro. Candidatam-se músicos de todo o país. A maioria está tendo
aulas particulares sofisticadas desde que começou a andar. Eu não
sei. Eu me senti muito bem com a audição quando a enviamos, mas
acho que não sou suficiente para Albany.
Você é. Eu cravo minhas unhas em minhas palmas porque não
deveria me sentir culpada.
E ainda assim–
— Sinto muito, Reid — digo.
— Eu queria que você soubesse. Eu pensei que talvez eu guardando
isso para mim fosse o motivo de estarmos mal.
— É apenas coisas de “Melted”. Eu juro — digo.
Reid acena com a cabeça.
— Bem, estou aqui se precisar de mim.
Fitz, terminada com a sessão de fotos, chama Reid para fazer mais
medições e Reid salta para fora do palco com as mãos, seus pés
pousando no chão com um baque suave. Reid sabe que algo está
errado. Apesar de tudo, quase tenho vontade de contar a ele antes que
seja tarde demais. Não consigo separar que sei o quanto ele quer isso. O
quanto eu queria isso para ele antes de saber a verdade. Mas também sei
que preciso que “Melted” aconteça, e foi ele quem escondeu isso de
mim. Ele começou os segredos. Dizer a verdade a Reid significa
sacrificar “Melted”. E eu não posso, não vou.
Eu não digo.
Naquela noite, Henry me leva para casa depois do ensaio, com um pit
stop muito necessário em Chao Down para o jantar. O ano novo nos
redefiniu, eu acho. Henry tem sido tranquilo nos ensaios e somos uma
ótima equipe, co-direcionando as partes não musicais de “Melted”.
— Eu senti falta disso — Henry diz, ecoando meus próprios
pensamentos.
— Eu também — eu digo.
Mas eu não consigo não ver o rosto de Reid no ensaio, a forma como
sua expressão murcha quando ele me disse que não conseguiu um
teste. Não consigo parar de pensar, sim, você conseguiu, porque você é
brilhante, ok? Não consigo parar de pensar que ele não sabe por minha
causa.
— O quê? — Henry pergunta.
A expressão em seu rosto muda para preocupação genuína.
— Natalie. O que está errado?
E porque é o que fazemos, conto tudo a Henry, a verdade
escorrendo dos meus lábios antes que eu possa retirá-la. Eu, Natalie
Jacobson, tenho o sonho de Reid escondido em pedaços no fundo da
gaveta da minha mesa. Eu, Natalie Jacobson, arruinei o garoto que
odeio antes que ele pudesse me arruinar. Porque eu, Natalie Jacobson,
acho que o garoto que odeio pode acidentalmente ter se tornado o
garoto que amo, embora isso nunca dará certo, porque ele sempre
amará mais música.
Henry pisca.
— Você tem que dizer a ele.
— Mas “Melted”.
— O Albany Institute não é brincadeira. Tio Joey já tem Kelli
trabalhando em sua inscrição. Ela é uma caloura! Callahan não tem
treinamento clássico além das aulas de banda da escola pública e seu pai
e – ok, sim, seu pai é muito bom – mas as probabilidades estavam
contra ele desde o início, e ele tem uma chance. Você não pode tirar isso
dele.
Eu engulo, indignada.
— Você tem que admitir que é errado ele ter aceito ser o Moritz,
sabendo que sua audição será no fim de semana de “Melted”. E ele tem
um histórico.
Henry balança a cabeça.
— Eu tenho que acreditar que há uma explicação.
— A explicação: Dane-se Natalie — digo. — É Madeline Park de
novo.
— Ok. No espírito de me comunicar melhor, eu, pelo menos, nunca
acreditei que fosse uma brincadeira. E mesmo que fosse... isso foi
besteira da sétima série. Reid está tão afim de você agora, Nat. — A
expressão de Henry se suaviza. — Eu sou sua pessoa, certo? Você
realmente acha que eu não te contaria se achasse que Reid estava
brincando com você?
Eu olho para o chão.
— Não.
— Você precisa falar com ele — diz Henry.
Eu pego meu telefone da minha mochila. Tenho três chamadas
perdidas. Do Reid. E outra aparece.
— Ei, Reid. Eu estou…
— Natalie? Posso passar por aí? É importante.
Reid... não soa como Reid.
— Está tudo bem? — Eu pergunto.
— Não sei — diz Reid. — Está?
O desafio em sua voz me pega desprevenida.
— Sim. Estou em Chao Down com Henry. Estarei em casa em dez
minutos.
Reid tosse.
— Esquece. Apenas me diga onde está minha carta do Albany
Institute. Eu preciso dela.
Quase deixo cair o telefone, minha mão está tremendo tanto.
— Na minha mesa. Gaveta. Eu…
A linha corta antes de eu terminar minha frase.
Eu esperava que ele tivesse ido embora, mas Reid ainda está na minha
casa quando Henry me deixa.
Toda a conversa para quando eu entro na sala de estar. Os olhos de
Reid estão grudados em seu laptop, sua digitação frenética. Ele nem
mesmo olha para cima. Os olhos da mamãe estão estreitos, brilhando
com o brilho da decepção. Delia passa por mim em seu caminho escada
acima, resmungando não é legal sob sua respiração. Papai, entretanto,
está em outro nível. Seus braços estão cruzados e eu não posso olhar
para ele agora.
— Oi — eu digo para o chão.
O rosto do papai está tão vermelho que a veia acima de sua
sobrancelha aparece.
— Isso é tudo o que você tem a dizer agora?
— Eu sei que isso é ruim.
— Você sabe? — Papai pergunta. — Eu não acho que você
entendeu. O Albany Institute não é um acampamento de verão. Não é
apenas para se divertir. É um dos programas pré-conservatórios mais
competitivos do país. Você sabe como é difícil fazer uma audição? Dez
por cento. Essa é a taxa de aceitação apenas para a audição. Reid
entendeu. Reid trabalhou para isso e está tudo em risco. Por causa
de você.
— Posso apenas… — novas lágrimas começam a cair pelo meu
rosto, merda — … falar com Reid? Sozinha?
— Certo. Estou tão desapontado, Natalie.
Papai se retira pela cozinha e desce para seu estúdio para nos dar
espaço. Mamãe o segue. Eu me enrolo na cadeira ao lado de Reid,
envolvendo meus braços em volta dos meus joelhos. Cada vez que
limpo meus olhos, novas lágrimas caem porque me sinto mal, mas esta
também é a mesma história da minha vida. Papai nem pensa em me
perguntar por quê. Nem pensa que posso não ser a única a trair alguém
nesta situação.
— Eu não vi até depois do ensaio, mas eu tinha uma chamada
perdida de um número com código de área 518. Achei que fosse spam,
mas havia um correio de voz. Do escritório de admissões do Albany
Institute. Ligando porque não receberam minha confirmação, ou o
depósito de cinquenta dólares, e hoje é o último dia para enviá-
lo. Achei que eles deviam estar com o número errado. Não recebi a
carta, então não consegui uma audição. Então, eu não liguei de volta
imediatamente. Mas então eu percebi... eu consegui uma. E você
sabia. Você tinha que saber. — O olhar de Reid ainda está fixo na
tela. — É por isso que você esteve tão distante a semana toda.
Eu aceno porque não consigo formar palavras.
— Isso não é uma pegadinha, Nat. Esta é minha vida. Meu
futuro. Dissemos nas regras, as pegadinhas devem ser engraçadas. Isto
é…
Eu cavo minhas unhas em minha pele.
— Ok. Eu não deveria ter rasgado e escondido a carta. Mas podemos
pelo menos reconhecer que você estava preparado para completamente
deixar eu e todo o elenco pendurado o tempo todo? A pegadinha
final. Você se preocupou com a música porque ela lhe deu um
portfólio. Mas co-direcionar? Expulsar o Toby? Tornar-se Moritz –
você fez tudo isso quando sabia que sua audição seria no mesmo fim de
semana se você tivesse uma. Agora todo mundo está ferrado. Meu
último ano será destruído, e só porque eu não sou um prodígio como
você, não significa que minha arte não importa.
Reid me encara com o olhar mais perplexo em seu rosto.
— Uau.
Minhas unhas deixam marcas na pele das palmas das mãos.
— Há uma parte que eu não entendo. Me machucar é uma coisa –
mas ferrar com a banda é outra completamente diferente. Como você
pode fazer aquilo? Para seus amigos? Para o meu pai. Não é como... eu
disse a você o que ouvi.
Ele fecha seu laptop.
— Em primeiro lugar, não vou nem mesmo dignificar você por
trazer Toby para isso com uma resposta. Em segundo lugar, você
realmente acha que eu colocaria tanto esforço em “Melted” apenas
para abandoná-la? Eu amo esse show. Eu amo o que fizemos. Não
coloque palavras na minha boca ou aja como se eu não me importasse
ou tente me dizer que eu tratei “Melted” – e você – como uma grande
piada. Isso é besteira.
— Se isso for verdade, por que você concordou em ser o Moritz
quando o fim de semana de “Melted” é o único fim de semana de
audições? — Eu o desafio. — Diz diretamente no site, sem solicitações
individuais.
— Porque não é! Há um período de adiamento para atividades
relacionadas à escola. Eu teria enviado um pedido para um adiamento
e feito a audição no fim de semana extra. Agora não posso. Então,
obrigado, Nat. Agora é Albany ou “Melted”. Se eles me derem a vaga
de audição de volta. Quando liguei de volta, ninguém sequer atendeu.
O ar sai correndo de mim.
— Oh. Eu... não sabia disso.
Não é como se o site do Albany Institute dissesse algo sobre
o adiamento da audição. Eu verifiquei o site, mas – eu tirei a pior
conclusão. Eu não pensei.
Eu... não confiei nele.
A risada de Reid é fria.
— Não brinca.
— Mas então por que você não me contou? — Eu pergunto.
— Porque não era um problema! Até que você fez disso um
problema.
— Eu pensei… — Minha voz sumiu. Estou indefesa, mas de repente
estou desesperada para fazê-lo entender. — Ler aquela carta foi como
uma chicotada emocional, ok? No começo eu estava feliz, muito
feliz. Então eu vi a data. Parecia o ponto alto de todas as
pegadinhas. Como se tudo entre nós fosse um grande esquema
também e eu caí nessa. Há, você pensou que poderia se apaixonar por
Reid Callahan? Bem, a piada é sobre você! Eu sinto muito. Eu
realmente não estou defendendo o que fiz. Eu sei que não
posso. Apenas como me senti. Por que meus sentimentos por
você? Eles são reais. Tão reais, Reid, e a ideia de que tudo poderia ter
sido uma mentira? Aquilo me assustou.
Reid pisca para conter as lágrimas, mas quando fala sua voz é fogo.
— A única pessoa que trama esquemas elaborados é você,
Natalie! Sempre foi você. Como com o clarinete. Você fez de tudo uma
competição. Você arruinou sua amizade com Madeline. Você desistiu.
— Porque nunca foi sobre o clarinete! — As palavras explodiram de
mim, de um lugar onde estiveram escondidas por muito tempo. — O
clarinete era a única maneira de me encaixar no mundo do meu
pai. Mas então você apareceu com sua técnica e paixão perfeitas e meu
pai escolheu você. Cada. Vez.
Nunca ouvi o silêncio ecoar assim.
Reid finalmente fala.
— Seus problemas com seu pai não são minha culpa.
E essas palavras me quebram.
Porque ele não está errado.
Minha vida toda, estive com raiva da pessoa errada.
Reid aperta a ponte do nariz e dá um passo para trás.
— O que seja. Eu só... não posso continuar falando sobre você
agora. Eu preciso ir e, tipo, descobrir como vou implorar pela minha
audição de volta.
— Nós vamos descobrir — digo, pegando sua mão, mas ele se
esquiva. De mim.
— Eu vou descobrir.
Reid sai da cena e me ocorre que se alguém
arruinou “Melted”, nos arruinou – fui eu.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
— Reid disse para parar de mandar mensagens para ele — Delia diz,
caindo na minha cama de barriga para cima.
Estou percorrendo a página inicial do site do Albany Institute,
anotando todos os e-mails e números de telefone. Comunicação por
meio das irmãs não é nada que não tenhamos feito antes. Exceto que
dessa vez não se trata de rivalidade infantil e pegadinhas estúpidas e de
sermos teimosos demais para falar com a outra pessoa primeiro. Isso é
severo.
— Estou apenas tentando descobrir com quem no Albany Institute
Reid já entrou em contato.
Já que ele não vai responder, estou enviando um e-mail para todos
com um endereço @albanyinstitute.edu. Anexei as peças de audição do
Reid, que consegui roubar com um pen drive do computador do
estúdio do papai. Alguém vai abrir o e-mail. Alguém saberá que
Reid tem que fazer um teste. Alguém terá misericórdia do meu coração
estúpido e lhe dará uma segunda chance.
— Hannah disse que vocês não durariam um mês. Eu odeio que ela
estava certa.
— Eu também — eu digo.
— Reid deveria ter tido a chance de escolher — Delia diz. —
Conserte isso.
— Estou tentando.
Ela se levanta.
— Bem, talvez não mande mensagens para ele a menos que você
consiga.
Delia joga chiclete na minha cara e desaparece de volta para seu
quarto.
Eu me sinto a pior diretora do mundo. “Diretor” é uma palavra
chique para solucionador de problemas. “Melted” foi um tipo especial
de desastre do início à execução – mas mesmo as melhores produções
têm obstáculos. Um bom diretor – um grande diretor – não tem medo
de que algo dê errado. Isso é inevitável. Algo vai dar errado. Um bom
diretor está preparado para consertar. Eu deveria ter sido assim desde o
início.
Não sei se consertar o problema de Reid resolverá nosso problema
maior.
Ainda assim, eu sei que eu não sou uma diretora que leva não como
resposta. Se eu posso fazer um musical existir, um musical que deveria
ser uma peça, uma peça que foi derrubada antes mesmo de ter uma
chance – eu posso conseguir a audição de Reid de volta. Reid acreditou
em mim uma vez. Eu tenho que acreditar agora.
Ele fará sua audição, encontraremos um substituto de alguma forma
para “Melted” e... talvez ele ainda me odeie para sempre.
Mas vou saber que não perdi a chance dele naquilo que tenho muito
medo de tentar.
Eu clico na página do diretório dos professores e leio a biografia de
cada membro até que minhas pálpebras pesem, procurando por algo
útil, qualquer coisa que possa–
Querida Natalie,
Embora lamento que Reid Callahan tenha perdido o prazo
de confirmação, lamento informar que nada pode ser feito. O
instituto acompanha cada candidato antes do prazo, para
garantir que todos tenham sido devidamente notificados. Os
registros indicam que ligamos para Reid. Se abrirmos uma
exceção para um candidato, a integridade de todo o nosso
programa será comprometida.
Reid é bem-vindo para se inscrever no Instituto de Inverso,
um curso intensivo de uma semana em fevereiro. As inscrições
abrem neste verão.
Envie meus cumprimentos ao seu pai. Espero que ele ainda
toque.
Tudo de bom,
Jenny
Depois das 35 rejeições em formulários que recebi de vários
professores do Albany Institute, foi revigorante abrir um e-mail que
começa com Querida Natalie, então eu tinha certeza de que era
isso. Mesmo assim, é uma rejeição.
Os e-mails são tão insensíveis.
Mostro o e-mail a papai no café da manhã, comendo ovos mexidos.
— O que você disse a ela? — Papai pergunta.
— Eu disse a ela que a carta se perdeu.
Papai olha para mim.
— Essa é uma boa maneira de expressar isso.
Esfaqueio ovos frios com o garfo.
— Eu não poderia explicar em uma mensagem de voz. Me
desculpe. Eu tentei.
— Porque não pode ser explicado. Eu nunca vou te entender,
Natalie.
Lá está ele de novo. Não importa o que eu faça ou o quanto estou
tentando. Não importa o quão duro eu trabalhei – nós trabalhamos –
em “Melted”. Não importa mesmo quando eu faço algo certo.
Eu estraguei a audição do Reid. Não consigo consertar. Isso é tudo
que importa para papai.
— Você não pode dizer isso se nem mesmo tentou. Você é tão
fixado no Reid. Sempre. Desde o momento em que ele pegou o
clarinete. Tornou-se uma competição – quem poderia fazer escalas
mais rápido, quem poderia ler uma música melhor, quem seria o
primeiro presidente. Você é um professor. Você viu o potencial de
Reid. Entendo. Mas você nunca me viu lutando para estar à altura. Eu
sinto muito. Eu sei que errei. Entendo. Estava cem por cento
errada. Mas se você quer entender por quê, é porque também estive
obcecada por Reid – minha vida inteira – por causa do clarinete. Por
causa de você.
Uma vida inteira de sentimentos complicados sobre o papai
reverberam nos armários da cozinha.
Meu coração bate forte no meu peito.
Não posso acreditar que disse tudo isso em voz alta. Finalmente.
Papai franze a testa, mas quando fala tudo o que diz é:
— Então você está tentando dizer que é minha culpa? Você nunca
aceita responsabilidade.
Eu balanço minha cabeça. Claro que ele ainda não entendeu. Mas
eu não desisto.
— Isso sou eu assumindo a responsabilidade. Por culpar o Reid
quando na verdade era sempre sobre nós. Perdi tantas horas em um
instrumento que nunca amei porque pensei que era, tipo, a chave para
passar tempo com você. A música veio primeiro. Se eu tocasse música,
também estaria em primeiro lugar. Mas então Reid começou a tocar e
eu não valia mais o seu tempo, mesmo se eu tocasse.
Papai franze a testa.
— É nisso que você acredita? Não seja…
— Dramática? — termino.
— Ridícula. Sério, Natalie. Isso não é justo. — Papai engole. — É
diferente. A música não é um hobby para Reid. É a vida dele. Ele quer
fazer disso sua vida e eu sou o único que quer fazer isso acontecer para
ele. Você não consegue imaginar não ter um sistema de apoio. Sua mãe
e eu deixamos claro que apoiamos tudo o que te faz feliz. Você não sabe
o que é fazer isso sozinho. Você simplesmente não sabe.
Meu lábio inferior treme, mas não vou chorar, não vou.
— Meus pais eram... muito parecidos com Leonard e Rebecca, na
verdade. Pelo menos, quando se tratava de me inscrever na Berklee —
diz papai. Ele raramente fala sobre seus pais, que foram cirurgiões que
faleceram quando eu era muito pequena para me lembrar deles. — A
mesma postura. Você pode fazer música, mas por conta
própria. Mesmo que as intenções sejam boas, dói.
— Você ainda está perdendo o ponto. Você sempre perde o ponto.
Papai franze a testa.
— Ok. Me esclareça. Qual é o ponto?
— É sempre sobre Reid. Mesmo agora, quando Reid conseguir a
audição de volta, pode colocar tudo em risco para nossa família. Eu me
dediquei a tornar “Melted” sério por você, pelo seu trabalho, porque
estava com medo de ter arruinado muito mais do que um show quando
estraguei o Festival da Colheita. Eu sabia o que estava em jogo. E eu sei
que isso é minha culpa no final, mas mesmo com tudo isso em jogo,
Reid é a prioridade! Então eu entendo. Eu nunca serei suficiente para
você.
Papai olha para mim, completamente surpreso.
Faz uma pausa para uma nota inteira.
Então responde.
— Natalie, do que você está falando?
Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Eu ouvi você e mamãe. Falando em demissões. E como
“Melted” precisava ser perfeito para você manter seu emprego.
A expressão de papai se suaviza.
— Oh. Isso não é... O que quer que você tenha ouvido, não era para
você. Eu estava... sob muita pressão. Mas estamos bem. Meu trabalho
está bem. Pelo menos por enquanto. Mesmo se não estivesse, não é um
problema para você consertar. Mas há um problema para você
consertar. Você jogou fora a chance de Reid.
O silêncio se instala entre nós e a pequena esperança que eu tinha se
esgota. Ninguém quer consertar isso para Reid mais do que eu. Mas
papai voltou a esse ponto depois de tudo que eu disse. Ele nunca vai me
entender. Quando fica claro que não vou responder, papai recorre ao
movimento que conhece melhor.
Sair da cena.
Eu deixo o choque de anos de sentimentos desencadeados se
estabelecer por um momento, mas não é tão ruim quanto eu
esperava. De certa forma, me sinto mais leve. Mesmo assim, deixo de
lado o resto dos meus sentimentos sobre meu pai para processar mais
tarde. Apesar do que ele não entende, papai está certo sobre o
problema de Reid. Eu gostaria que Jenny tivesse ligado. Porque isso
não é um comprometimento da integridade do programa – de forma
alguma. É punir Reid por meu erro. Ela entenderia. Eu sei que ela
entenderia.
Se eu pudesse falar com ela.
Estou de pé e ligo para Henry e Fitz por FaceTime em dois
segundos.
— Ei! — Fitz responde.
Henry boceja.
— O que é…?
— O que vocês acham de Albany? — pergunto.
— Hum. Frio? — Fitz diz.
— Há alguma razão para que vocês precisem estar na escola hoje?
Fitz estala a língua.
— Além de “Melted” e, tipo, a lei... não?
— Vocês poderiam, talvez. Não sei. Ir para Albany. Comigo. Hoje?
Antes de admitir de uma vez por todas que não posso consertar isso,
preciso falar com Jenny Nelson. Eu preciso apresentar meu caso a ela,
pessoalmente. É fácil dizer não a um e-mail. É fácil dizer não quando
você não entende o talento que está perdendo. Ela precisa ouvir
as composições de “Melted” dele. Se ela disser não, ela precisa dizer na
minha cara.
— Faltar aula? — Henry pergunta.
— É o segundo semestre do seu último ano, Hen! O que é mesmo
aula? — Fitz pergunta.
— Um exame de cálculo, um laboratório de física e uma redação de
Hemingway — diz Henry. — Desculpe, ou eu iria.
Quero dizer, o Henry quebrar as regras é sempre difícil, mas eu não
queria não incluí-lo.
— Se sairmos agora, vamos voltar a tempo para o ensaio — digo,
voltando para Fitz.
— Sempre quis ir para Albany, sabe — diz ela. Eu posso ouvir o
sorriso em sua voz.
— Vou atrasar o ensaio — Henry diz.
— Amo vocês dois — digo, desligando o telefone antes que Fitz
mude de ideia.
Ela envia uma mensagem dizendo que vai me buscar em dez
minutos e eu corro escada acima em um redemoinho, reunindo tudo
que preciso para o dia. Fazer as malas agora. Lidar com meus pais e as
consequências de matar aula mais tarde. Quando souberem que parti,
teremos cruzado os limites do estado. São três horas até Albany. Se
tudo correr bem, estaremos de volta no último período.
As chances de isso funcionar são mínimas. Eu sei que são.
As chances de eu ter ainda mais problemas são garantidas.
Mas há uma chance de que isso vai funcionar. Uma pequena
chance, mas uma chance.
E eu estou buscando ela.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
Pai
Por que recebi um e-mail informando que você está ausente?
8h54
Eu vi você sair com Fitz esta manhã. Fitz também está marcada
como ausente.
8h57
Pai Correio de voz
8h58
Pai (2) Correio de voz
9:01
Mãe
Natalie Louise, onde você está? Onde está Fitz? Vocês estão
juntas?
9h04
Pai
Henry não está falando. Reid diz que também não sabe.
9h05
Pai
Natalie, entendo que você se sinta mal, mas, por favor, volte
para casa.
9:17
Mãe
Nunca tivemos uma criança fugindo do estado antes. Como
ESSA punição funciona?
9h18
Pai
Tenho certeza de que vamos pensar em algo.
9:19
Eu jogo meu telefone na minha mochila naquele momento porque
eu tinha cumprido meu dever, disse a meus pais onde eu estava e me
servi para um certo castigo. Não preciso vê-los planejar minha punição
em tempo real, muito obrigada.
Fitz pega a saída em direção ao Albany Institute.
— Posso distraí-la com notícias?
— Por favor — eu digo.
— No que diz respeito aos programas de verão… também me
inscrevi! Em Nova Iorque. Não tipo, meio do nada, Nova York,
assim. Em Nova York, Nova York. FIT, especificamente. O Fashion
Institute of Technology.
— Fitz, isso é incrível.
Ela sorri.
— Danica me encorajou a me inscrever! Ela está fazendo um estágio
de verão em um teatro antes de começar na NYU.
— Uau. Isso é sério.
— Seriamente perfeito. Eles têm o programa pré-universitário mais
incrível. E é o teste perfeito para ver o que faculdade em Manhattan
seria. Usei as fantasias de “Melted” para o meu portfólio. Espero que
isso e If the Shoe Fitz sejam suficientes.
— Suas fantasias e plataforma são perfeitas, Fitz. Uau. Eu amo
muito tudo isso para você.
Eu fico quieta por um instante. Todos em minha vida estão tão
confiantes em seu caminho e no que vem por aí. O conservatório do
Reid. Faculdade de moda para Fitz. Faculdade de negócios para
Henry. Todos estão pulando de cabeça não apenas em uma direção,
mas em suas paixões. Eles não têm medo de cair. Falhar.
O GPS de Fitz nos alerta que estamos entrando em não exatamente
Albany. O bairro tem as placas de rua mais bonitas e os gramados
cobertos de neve. Honestamente, é um ataque. Eu esperava por ruas e
cafés e passear pelo shopping center do centro da cidade até encontrar
um lugar para me encher adequadamente de cafeína antes do grande
momento.
— É aqui. Eu acho — Fitz diz, parando no estacionamento de
visitantes, e nós estamos, de fato, aqui. O Albany Institute of the Arts
à nossa frente é este lindo campus. Enquanto Fitz procura um lugar,
fico maravilhada com a fileira de edifícios coloniais holandeses, no
quadrante coberto de neve, com o fato de que os dormitórios têm
nomes de progressões de acordes e os edifícios têm nomes de
compositores. Os alunos passam de um prédio para o outro com
violoncelos nas costas e saxofones no pescoço e eu já posso ver: Reid
aqui. Reid prosperando. Reid pertencendo.
Abro a porta do carro, pronta para começar minha missão:
encontrar Jenny Nelson mesmo sem cafeína.
Mas, uau, Fitz está certa. Albany está frio. Assim que saio do carro,
um vento gelado chicoteia meu cabelo. Enrolo meu cachecol em volta
do pescoço o mais apertado possível.
— Ok. E agora? — Fitz pergunta.
Eu, na verdade, não tenho ideia para onde estou indo. Chegar aqui é
o máximo que alcancei em meu plano.
E, bem, estamos aqui.
— Com licença? — Eu digo, me inserindo no caminho direto de
um cara com cabelo ruivo que passa e cuja caixa de trombone está
pendurada pela alça sobre seu ombro. — Qual é o caminho para os
sopros?
Trombone ergue as sobrancelhas.
— Novas estudantes?
— Possível futura — diz Fitz. — Natalie toca um clarinete feroz.
— Legal. — Trombone sorri. — Os sopros estão em Mozart.
Claro. Ele nos aponta na direção do prédio e estamos a caminho de
Mozart, em direção a Jenny Nelson, em direção à chance de consertar
meu grande erro.
Eu espero.
Envio uma mensagem para a Fitz dizendo que vai demorar um
pouco.
E espero.
Mando uma mensagem para o Henry informando que ele terá que
começar o ensaio esta tarde sem mim.
E espero.
Quase uma hora depois, Jenny retorna com chocolate quente e
croissants.
Quando ela me entrega uma caneca quente, eu... fico confusa.
— Apenas dez por cento dos candidatos passam pela triagem inicial
— diz Jenny, continuando de onde paramos. — Das audições
presenciais, um em cada oito candidatos será aceito. Estou dizendo isso
para enfatizar o quão competitivo é este programa. E mesmo que seu
não amigo Reid Callahan faça uma audição, não é de forma alguma
uma garantia de que ele entrará. Mas acho que você sabe disso.
Eu concordo.
— Então, por favor, me esclareça.
Conto tudo a Jenny e tudo parece tão ridículo quando tento
explicar. Conto a ela como o clarinete sempre colocou Reid e eu em
oposição e as circunstâncias que nos uniram para
fazer “Melted”. Como trabalhar juntos mudou tudo. Como eu pensei
que essa audição iria estragar tudo. Porque não importa o quão
próximos estejamos, a história não pode ser apagada, e eu tirei a pior
conclusão.
Digo a Jenny que não era sobre Reid. Era sobre mim.
— Uau. Ok — Jenny coloca sua caneca vazia em sua mesa. É há
quanto tempo estou falando – vale a pena toda uma experiência de
chocolate quente. — Isso é muito.
Eu expiro.
— Sim.
— Você tem os materiais de audição dele?
Meus olhos se arregalam.
— Sim! — Abro o zíper da minha mochila e tiro meu disco rígido
dela. — Aqui. Está tudo bem aqui.
— Não estou fazendo nenhuma promessa — diz Jenny. — Mas isso
parece ter estado fora do controle de Reid, então vou ouvir.
— Obrigada!
— Sem promessas — Jenny repete, antes de apertar o play.
Ouvir o medley de “Melted” do Reid novamente? Evoca
exatamente o mesmo sentimento que senti na primeira vez que ouvi no
estúdio do papai. É perfeito. Reid entende. Reid me entende. E eu só...
não o entendi. Por muito tempo, quando olhei para Reid, só pude ver
o menino que roubou de mim. Roubou a música, roubou meu pai,
roubou minha melhor amiga. Não importa quantas guerras de
pegadinhas eu iniciei e ganhei, eu nunca poderia pegar de volta tudo
que Reid roubou. Mas isso nunca foi verdade.
Se eu não posso consertar isso, bem, serei eu quem roubou. Um
roubo horrível e imperdoável.
A música desaparece e a expressão de Jenny é perfeitamente neutra,
considerando.
Eu não tenho ideia do que isso significa.
Eu conto e são os vinte e dois segundos mais estressantes da minha
vida.
Mas então sua expressão muda.
— Eu acho que entendo o motivo pelo qual você dirigiu todo esse
caminho. São peças extraordinárias – tanto para alguém de sua idade
quanto para alguém sem treinamento em um conservatório particular.
Extraordinário! Reid é extraordinário!
— Reid pode fazer a audição pessoalmente. O segundo dia está
lotado antes de nossa deliberação, mas podemos encaixá-lo no final do
primeiro dia. 6 de fevereiro. É o melhor que posso fazer.
Eu pulo da minha cadeira e envolvo meus braços em torno de
Jenny.
— Obrigada. Você não sabe o quanto isso significa.
Jenny ri.
— Eu faço. Mal posso esperar para conhecê-lo.
Eu pago a taxa de audição e agradeço a Jenny mais um milhão de
vezes antes de dizermos adeus e estou flutuando porque consegui. Reid
vai fazer uma audição. Ele vai arrasar em sua audição e passar o verão
aqui, morando em Mozart durante o dia e dormindo em Lá Maior, ou
como quer que os dormitórios sejam chamados.
Não sei o que isso significa para a noite de estreia de “Melted”. Eu
sei que não vou desistir desse show, do meu elenco. Chegamos tão
longe, enfrentamos todos os obstáculos. Nós não deveríamos
existir. Mas nós existimos. Eu – junto com Henry e Fitz e todo o elenco
– vou achar uma solução para “Melted”. Eu deveria saber que
poderíamos fazer isso desde o início.
Mas, primeiro, eu tenho um Moritz que estou tão ansiosa para
demitir.
CAPÍTULO VINTE E SETE
O tempo é estranho.
Noventa minutos parecem uma eternidade quando é uma
passagem de ensaio durante a semana técnica. Esta noite, o tempo
voa. Meu coração está tão cheio de ver “Melted” se desdobrar do fosso
da orquestra, que eu nem mesmo tenho tempo para processar meus
nervos sobre conduzir a orquestra ou permitir que eles se
espalhem. Estou arrebatada pela performance de Danica e Emerson,
pela forma como o cenário ganha vida com a iluminação adequada,
pelo pequeno milagre que é zero problemas de áudio. Estou tão
orgulhosa que quase perco a deixa para começar a música “Hate Is a
Closed Window”.
Todos atuam de forma plena, de todo o coração. Cada nota, cada
linha, cada sugestão de iluminação – tudo é perfeitamente
imperfeito. Fitz vai na direção errada, mas continua como se ela
pretendia. Kevin estraga sua primeira fala, mas se recupera
perfeitamente. Arjun perde uma deixa de iluminação, deixando
Emerson no escuro um minuto a mais. Mas a música é cativante. A
rotina de sapateado de “In Winter” é icônica. E a cena da morte de
Moritz é hipnotizante.
O público ruge para a vida quando a música é cortada e as luzes
escurecem.
Então é hora de os outros clubes terem seu momento de brilhar.
Os Trebles realizam um medley de Frozen no palco durante o
intervalo.
Nos corredores, um leilão de arte está ao vivo.
A revista literária “The Melted: Uma Meditação Sobre Ansiedade
Climática” está à venda.
Cada peça tem pelo menos um lance no leilão e a revista se esgota
antes que a cortina volte a abrir.
Não consigo nem processar quanto dinheiro é isso. Para nossos
clubes. Para o The Sunshine Project.
Então eu não o faço. Eu volto ao meu lugar e conduzo.
E antes que eu perceba, é hora da chamada ao palco. A noite toda,
minhas costas estiveram voltadas para o público, focada na
música. Mas agora, enquanto subo no palco para minha reverência, o
holofote se suaviza e eu vejo isso. Todo o lugar está de pé,
aplaudindo. Duas silhuetas até mesmo ficam de lado, com as costas
pressionadas contra a parede de tijolos brancos. Esgotado, mais espaço
para ficar em pé? É basicamente o sonho de todo diretor se tornando
realidade. Penso em como costumávamos encher metade do teatro – e
como, depois desta noite, duvido que algum dia teremos esse problema
novamente. Se tivermos a chance de fazer isso de novo.
Meus olhos se ajustam à luz ofuscante e a multidão recupera suas
feições, incluindo as duas figuras em pé. Mordo meu lábio inferior,
com força, para evitar suspirar audivelmente.
Porque as silhuetas em pé são Reid e meu pai, que têm os maiores
sorrisos em seus rostos. Eu… Reid e papai deveriam ainda estar em
Albany.
No entanto, eles estão aqui.
Reid e papai estão aqui.
Eu já senti a emoção de dirigir uma grande peça. Mas nada nunca
chegou próximo a isso. Estar envolvida em tantas partes diferentes do
processo de escrita criativa, direção, música, é como se um pedaço
gigante do meu coração estivesse incorporado em “Melted” e exposto
para todo mundo ver. E é importante para eles. Isso é propósito. Isso é
magia.
Eu acredito em você. Eu nunca vou esquecer a maneira como Reid
sussurrou essas palavras para mim, tão suavemente, fora da Olive &
Twist naquela noite nevosa de dezembro.
Não consigo tirar o sorriso do meu rosto.
Mal posso esperar para dizer a Reid que também acredito em mim.
CAPÍTULO TRINTA