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EUGÊNIO KUSNET

ATOR E METODO

QUARTA EDrÇÃO

EDITORA HUCITEC
INSTITUT'O BRASILEIRO DE ARTE E CULTURA
São Paulo-Rio de Janeiro,7992
SUMÁRIO

Nota do Autor XI
() Ator e a Verdade Cênica ou Estar Ardendo, para Inflamar,
Fernando Peíxoto XIII
lntrodução XIX

lhrurtne Panrn
rNrcrAÇÃo À anrr DRAMÁTrCA

t'apítulo 1

Trabalho de teatro é trabalho de equipe


Ciência Verdades da Arte
- Verdades da
Ator, elemento ind-ispensável
- Teatro, capacidade
ao teatro
- de representar a vida do
Espírito Humano
- Fé Cênica Obtenção da Fé Cênica.
- -
( irpítulo 2 13

Objetivos do Personagem Objetivos do Ator Lógica da


Ação
-
Contínua e Ininterrupta
-
- Ação
Interior - Ação Exterior
Não existe Ação sem objetivo.
e Ação
-
t ,rpítulo 3 35

Circunstâncias Propostas O mágico SE FOSSE Visuali-


zaçáo.
- -
( irl)ítulo 4 48

Meios de Contato e Comunicação: Físicos e Mentais


cênica Círculos de Atenção
- Atenção
-
dade do Ator.
- Ação Instaladora
- Duali-
1

Capítulo 5 62 Capítulo 10 133

Visualização das Falas


- Origem da linguagem humana
- O
Comunicação Essencialmente Emocional
ampliar o contato com o subconsciente
- Meios doRefle-
Ator
sentido e o valor sonoro das palavras Inflexão e ênfase nas -Psicologia
palavras Leitura lógica.
- xológica esclarece e confirma esse método de trabalho no
- Teatro
- Temperatura Limite das
Excitação e Inibição conscientes
Emoções: Processo de
"Laboratórios": Equilíbrio
Capítulo 6 71 -
entre Realidade Objetiva e Realitlade Subjetiva Neces-
-
sidade de constantes experiências para resultar concretamente
Monólogo Interior e Sub-texto
Personagem
- O raciocínio e açáo do
Improvisação e Espontaneidade do Ator o trabalho em Teatro.
Falas Internâs
- Temperamento e
-
Estrutura Psíquica do Ator.
-

SncuNoa PeRrB
MEIOS DE COMUNICAÇÃO EMOCIONAL

Capítulo 7 83

Tempo-Ritmo Efeito emocional do Tempo-Ritmo Tem-


(
po-Ritmo Simples
- Tempo-Ritmo Composto
-Tempo-
I
Ritmo Exterior
-
Tempo-Ritmo Interior.
-
-
Capítulo 8 97

Análise Ativa Improvisação Objetivada Receplividade


-
do Ator para Trabalho de equipe
-
tos "Fatores ativantes" - Roteiro dos acontecimen-
Como desenvolver a "Análise
- -
Ativa" numa peça
- Diretor e Elenco
Espontaneidade, faculdades exercitáveis
- AComoImaginação e
fixar re-
sultados obtidos nos "laboratórios"
-
Análise fria da Impro-
visação
-
Improvisação dentro das Circunstâncias Propostas
-
:
- Seleção dos Elementos da Ação - Bom
do texto teatral: co-autoria do texto
Assimilação gradativa
senso e Prática do
-
Diretor para a escolha das etapas da "Análise Ativa".
:
a
Capítulo 9 118
:

Escrever cartas: preparação mental e física para ação cênica


, livre dentro das "Circunstân-
,
(concentraçao)
cias Propostas"
- Improvisação
Meio de fixar materialmente os pensamen-
-
tos do ator para racionalização e seleção dos resultados obti-
dos espontaneamente.
I
I
I t2 EUCÊNIO KUSNET
I

I pessoel perante essa situação e esses objetivos


imaginários, ele sentirá von-
tade de agir no lugar do personagem.
N1.q1ele^exemplo do trabalho de um ator genial verificamos
que o
"fé cênica" pode se tornar bastante claro para nós, teoricamente.
11rrmo Mas
toclo o problema consiste em descobrir como .quele
"estado psicofísico", a
que nos referimos acima, poderia ser conseguiai r_
priilro SEGUNDO CAP|TULO
Em vez de tenter o impossível _ p"nãr.". no subconsciente
de Salüni
ou de um outro ator geniai, nosso corit.-po.âneo,
para descobrir a mecâ-
nica de sua "fé cênicã"
- na9 ler! mais'prático ""r"ã;-;.;-pl"".,d". llnt.s de começar a leitura deste capítulo, procurem lembrar-se do que
^
por que agra Otelo que Salvini
:o-? " representava? E já que Otelo,'embora lcram anteriormente:
é um ser hJ-"ro .o,n,oi" J."-pi.*tj"a" a.
Tlfllld,:::.-shakespeare,
sua vlda rntenor'
nâo seria necessário, antes de mais nada, - O trabalho de teatro é um trabalho d" "q,rip".
proa,r."a conhecer
todos. os aspectos da complicada humana na vida real? E depois, - A comunicação do âtor com o espectador.
I
armados com esses conheciÀento., ^.ção
não poderíamos usar o caminho inverso - Nossos estudos serão feitos na base do Método de Stanislavski.
do que os gênios usam, isto é, emvez dà pro.rr.".
usar o nosso talento e a - É necessário estabelecer bases comuns pâra esses nossos estudos: o
c3meÇar, simplesmen te objetivo do teatro é a revelação da vida do espírito humano, e o objetivo do
il::" -,,:r:,:1?, po. agi, no lu gar ;; ;;;;;;;_
srmples logica da sua situaçâo e dos seus
oúl"tiuorl e .íao, ""
ator - convencer o esPectador da realidade dessa vida.
::.jr:" não conseguiríamos chegar
aglnclo' 1,1
- A origem do Método é o estudo dos processos que regem a atuação
a acreditar na rearid-ade dessa ação? Não
conseguiríamos, através disto, obte. ao menos uma dos atores geniais (ou das crianças): através da inspiração eles adquirem a fé
pârte da ,,fé cênica,, que
os gênios obtém intuitivamente? no que é imaginário.
l Foi na basedessa hipótese que Stanislavski começou suas
pesquisas:
- A natureza dessa fé em teatro é específica e deve ser chamada de "fé
estudar os processos natu.ai. qu" ."g"- a ação cênica".
n" üáa .""1 r---
prr, á"poi,
-'
í transpor os conhecimentos adquirido,
f"., o t.rb"lho de teatro. - A "fé cênica" induz o ator a agir e' conseqüentemente, ele age no
Nos prôxim.os capítulos pioc,rr"..-os estudar que ê imaginário, ou seja, age como Personagem.
. os resultados dessas pes-
quisas e a sua aplicação no ,,oiro trabalho. - O problema da obtenção da "fé cênica": escolher um caminho dife-
l rente daquele que é usado pelos atores geniais, isto é, em vez de usar a
\ intuição, àstudar os processos que regem a ação na üda real, Para que agindo
dentro da lôgica da vida do personagem, conseguir acreditar no que é imagi-
I nário, isto é, obter a "fé cênica".

Assim, através de várias considerações, chegamos à conclusão de que o


I
fator.mais importante na nossa arte é o fator AÇAO.
É interessante notar que a palavra AÇÃO e o verbo "AGIR" fazem
parte da terminologia teatral desde os temPo§ mais remotos. A palavra
IDRAMA" .- g."gá significa ação. A p.l"rr., "ÓPERA", usada em todas as
iínguas com o significado de "DRAMA MUSICADO", vem do verbo operar,
ou-seja, agir. A prl"rr." "ATOR" que nos dicionários consta como signifi-
cando simple.-"trta "agente do ato, o que age", é usado em quase todas as
línguas como sendo "homem que rePresenta em teatro, cinema, etc.".
I

I
Enquanto âos outros artistas se dá uma definição mais concreta (escultor; o
que e..,.rlp.; pintor: o que pinta; violinista: o que tocâ violino, -etc.) ao
artista de ieatro ninguém chama de "teatralista" ou coisa que o valha, mas
sim de ator; a umâ parte de peça teatral não chamam de "capínrlo" e sim de
re
âto.
t4 EUGÊNIO KUSNET ATOR E rrlÉrOpO 15

É claro
qr.le não se trata de uma cas'ualidade. o uso dessa raiz ,.rr()u espontaneamente um caso interessante. sua ação era espontânea,
. nos prov-a que a idéia da AçÃo preocupava os homens
grcâ-
etimoló_
de teatro desde ,,'.,,1:, pela prôpria üda: "Eu, Carmen Montero, vou contar â meus amigos
milênios e milênios. ,r, (:rso muito interessante". o resto foi completado e realizado pela pró-
Vamos pois analisar como AÇÃo se processa na vida rear
,
deve se processar em
e como era I'rr.r rratureza, e Carmen Montero não precisou procurâr conseguir a fé no
teatro. ,1,r, t'la contou ela a tinha!
Durante uma aula para um gr"po-de atores prof*sionais, -
(]ue aconteceu na segunàa vez? Um texto dramático, um texto de
eu pedi a uma
atriz, carmen Montero, qrr" algum fato impressionante d'e sua vida. r' .rrro (embora criado por eLa mesma, não importa!) foi-lhe imposto como
"orràr.ã
Sua narração foi por mim gravada. ,'l'ri.t,ttôio. A atriz Carmen Montero teve que interpretar um papel (embora
Ela contou ,- .Tl que realmente impressionou muito seus r,l,.rttico a ela, não importa!) e agir como se fosse o persorogàm. para isso o
colegas. Às
dez horas da noite ela foi itacada numa das'principais ,,,irrirno necessário seria estudar e compreender alôgica da ação do perso-
ruas de são p",rio, po.
,ri i:di:,íd.u.o. que queria leváJa para d".r't.o do ,.r, ."..o. E rr,t.s,rn (entbora fosse ela mesma, não importal): 1) eual é a situição?
.f"
da rua, qrr*"o,,"
resistiu decididamente, foi espancada e atirada no meio l)ur:ulte uma aula num curso de teatro, :uma atrb ("não eu, Carmen Mon-
i..orrr-
ciente. t,'tt', e sim uma atriz idêntica a mim"), a pedido do professor, conta um
Em seguida ela contou o que se passou uns dias mais tarde: ,.,,,,, impressionante de um assalto de que ela foi vítima. 2)
quando ela eual é o obje-
estava passando numa outra ruà basta-nte escura, desceram rrv() dessa ação? O personagem acha que o caso é muito interessante e quer
da u-'.".ro doi.
rapazes, ficando ainda mais um dentro do carro, se rrrprcssionar os seus colegas com a complexidade do acontecido.3) eual
e d.irigiram , .ü.-ap.r..
de se ver num perigo m,rito maior do que na primeira víz ',, ri:r a atitude da atríz Carmen Montero diante da situação e dos objetivos
rnente por causa disso), ela inesperadamente crilu cor"gem
@u taluez exata-
,1,, pcrsonpgem? Que faria Carmen Montero se fosse aquela atriz?
porque imaginou
que estava armada com um revólver, e pensou: ,,agora á Sô depois de responder essas perguntas é que Carmen Montero poderia
,i*1,, éo*
mãos nos bolsos do casaco' ela-passou calmamente entre -iao ", ,.nrcçar a narraçâo na segunda vez. E então, agindo dentro da lógica da
os dois rapazes que
não tiveram coragem-de atacâ-la. Logo em seguida ela se üu '.rruação e dos objetivos do personagem, ela obteria a"{écênica',. Sô nessas
.or."íào
=l
EI
uma louca por uma das ruas adjaceús. E.r""últi*r
p.rr" r"i"""ilá" "o-o
.o- ,,,rrdições a atriz estaria agindo na segunda nanação como se
fosse pela
tanto^humor que ela mesma e os ouvintes riram às g".jdlrra.., neira oez,
1n i
É' Ouündo. a
-gravação
em casa eu fiquei -riio "i_p."ssionado com a Que fez Carmen Montero em vez disso? Depois de ouvir várias vezes a
expressiüdade da narração e com-a complexidade das'emoçõe;ã
Achei que o material era digno d" rer e'rt,rd"do como
;"çr. 11 :rvação, - que ela certamente achou magnífica (o que alias, era oerdade!)

a" l, r o c u r o u s i mple s men t e r e pr o du z i r s uas p r ó p ri as infle x õe s,


teatro. Transcrevi a narração e, na próxima aula, propus à"-i-úã"..r" O que mudou em comparação com o que deüa ter sido feito, conforme
mesma atriz que,
depois de ouür várias vezes a gravação, estudasse o texto escrito , xplicamos acima? Vamos ver isso em detalhes:
como se
fosse cena de uma peça e, interpretasse rrovamente. Notem 1) Qual foi a situação desta vez? A atriz Carmen Montero interpre-
que se tratava de uma moça"-"."g,rú"r-a
que eu considero uma jovem atilz de grande t.,rrdo um papel (e não uma atríz contando um caso interessante).
talento e muito estudiosa.
Ela concordou e, depois de uma rápida preparação, interpretou 2) E o objetivo? Carmen Monrero querendo provâr que ela é uma
a cena , xcelente atriz (e não uma atriz querendo impressionar os seus colegas com
que foi gravada novamente.
Surpreendentemente para todos, inclusive para a própria t,s dc ont ec imen t os narrados ).
intérprete,
todo o valor da narração ãspontânea desrpa.eceu. o qre eá brirhanê to.- 3) E a sua atitude? Essa foi puramente exibicionista, não tendo nada
nou-se_monôtono; o que provocou ,ro. o.rrirrt", um* cómpai*ão (luc ver com a situação e os objedvos do personagem.
na primeira
narração, provocou sorrisos.na seg*nda; o que causou .isor Como, através dessa ação completamente desligada do personagem,
rleg... na pri-
il meira vez, causou uma espécie de eitranheza. - poderia Carmen Montero obter a "fé cênica"?
Que aconteceu então? como se pode explicar esse inesperado fra- E claro que nessas condições, a sua ação tornou-se fraca, insípidaeaté
càsso? I;rlsa.
'
. Para compreender isso é preciso analisar como transcorreu
dois
AÇÃo nos
a Através desse exemplo verificamos como a AÇÃO se processa na üda
,
casos, Quem estava asnão na primeira vez? Foi C-armen Mont"ro qu" ,cal e como ela deve processar-se em teatro,
16 EUGÊNIO KUSNET ATOR E MÉTODO t7

Em cena nôs, atores, agimos em nome de uma outra pessoâ, agimos () mesmo acontecia com os outros intérpretes da Peça: todos eles esta-
como se fôssemos outra pessoa. Isso não quer dizer que a pessoa do ator !.'r. preocupados em "brilhar" nos seus papéis.
deva desaparecer deixando seu lugar ao personâgem. Nada disso. Isso signi-
Os que assistiram àquele espetáculo devem se lembrar que não se tratava
Êca apenas qúe o ator aceita a situaÇão e todos os problemas do personagem
,L urÍlâ simples caricatura dos atores antiquados, havia uma certa sinceri-
como se fossem dele prôpio e então, para solucioná-los, age como tal. É ,l.,tlc na sua interpretação, eles se sentiam realmente comovidos, mx5 não
eüdente que os problemas do ator - executar com brilho (como compete a ,,'rno personagens e sim como "atores formidáveis que eram"'_E.é o que
um bom ator, que é) o seu trabalho, transmitir corretamente a idéia do ,,..,lrnente acontece com muitos atores: é fácil confundir suas próprias emo-
autor, manter permanentemente o interesse e â atenção do espectador, etc. ,, oI'S COIÍr as do personagem.
- tudo isso permanece nele, mas em estado subconsciente, porque, durante Osentimenialismo ãpróprio do ator. E preciso que hajamuitaügilância para
a ação devem prevalecer esmagadoramente os problemas do personagem.
,f uc uator não seja suavítima,Étãotentador fazerumacena.quePJovoque lagri
Quando o etor não consegu.e agir no sentido dos objetivos do persona- ,i',,r.rplatéia! Á'of^r", essa cenao ator admira a si póprio, e fica comoüdo
gem, ficam apenas os objetivos do ator: brilhar, ser admirado, ser "o tal", , , ,,r, .rr"-irrt"rpretação, a ponto de chorar lágrimas de verdade' Mas o que essas 1á-
etc. Mas, durante o espetácu.lo, ao ator em si não pode interesser o especta- do personagem? Nada! O ator sai comple-
t,r rÍnas tem a ver com os problemas
dor. Ele vem ao teatro para uer a úda do persorngem na interpretação dtt ,.,,,r"rt. da ação do pêrsonagem ,mesmo sem percebê-lo' Mas o espectador per-
ator. ,,'bel Eleperceb" qu. r,"qo.l" momentoPresenciaummelodramabaratoem vez
A predominância dos objetivos do ator sobre os objetivos do persona- , l" ,m p.ofundo dà*" hu-rno_em que as lágimas.talvez
nem devessem ter lugar.
gem, ou mesmo quase-ausência desses últimos, foi admiravelmente demons- o
Eu tenho pÍazeÍ de confess:u um "crime" desses e esPero que a minha
trada pelos atores do "Teatro dos Sete" em "Ciúmes do Pedestre", de ,,,níissão rirra de prova de que toda a vigilância é pouca para salvar o ator
Martins Pena. ,h' um dos ,.u, -rio.". inimigos: o sentimentalismo'
Os intérpretes desse espetáculo não pretendiam representar os papéis Eu traduzi com meu amigo, o falecido Brutus Pedreira, uma das peças
dos personagens da peça e sim os papéis dos atores contemporâneos de ,1,, dramaturgo russo, Leonid Andréiev, "Aquele que- leva^ bofetadas".
Martins Pena, representando os papéis da sua peça naquele tempo. Por (
luàndo ."."*bi o. primeiros exemplares mimeografados, figuei muito
conseguinte, os objetivos dos personagens não eram levados em conside- , rnocionedo pelas recordações que surgiram naquele momento' E que eu fiz
ração, o problema era mostrar os objetivos dos atores canastrões daquele .,quela peça em nlsso, em 1924, com um dos geniais atores russos, I'
tempo. I'cwsov.'Aidóia de pode. representâr esse texto em Português e mais ainda,
Assim, Sérgio Brito fez o papel de um ator-trágico que, por sua vez, rcpresentar nao o papel que fi2, o do Conde Mancini, mas o papel feito por
fazia o papel de marido ciumento. O objetivo principal do ator-trágico era l,cwtsov, o papel pá"cip"l. Essa idéia me deu vontade de experimentar
demonstrar a sua formidável voz e a sua capacidade interpretativa. As excla- irnediatament" r.n" .".r.- da peça. Eu liguei meu gravador de som e li a cena
mações "Ah" e "Oh" eram feitas na base de voz superimpostada e numa das
.,o microfone. Durante a leitura, as lágrimas me sufocaramlll Então, pensei
cenas, o timbre da voz mudava conforme o animal com que o personagem se
ou, a cenâ deve ter saído maravilhosal Liguei o gravador' fiquei ouvindo
comlxrrava: houve um "Oooh! . . ." especial para tigre e leão e um ., . . , chorei novamente. Era uma prova cabal: o meu primeiro ouvinte -
eu
"Aaaahl ..." p*" elefante. É claro que os problemas do "marido traído"
prôprio - também ficou comovidà! P"." completar o.meu "triunfo", pedi
sumiam atrás dos problemas do ator-trágico.
q,re- minha mulher ouüsse a gravação. Desde os primeiros momentos
estra-
Fernanda Montenegro fuia o papel de "Primeira Dama" da companhia, uma de dureza
,rh"i o*. certâ surpresa no ro;to dela e, em seguida, espécie e
que interpretava o papel de "Esposa Adúltera". A preocupação da "Primeira
rrão sei o qrrê *ri, - tudo menos a admiração que eu esPeravâ'.Quando'
Dama" era demonstrar ao público o seu virtuosismô. Quando, "enfrentando
«lepois de ,r* lo.rgo silêncio, insisti que -:1".*" dissesse sua opinião' ela
a morte", dizia ao marido: "Agora que te ouvi, ouve-me tambéml . . ." etc., ,,nrorromDeu em uma torrente de insulios", chamando-me de canastrão, de
sua voz era de um timbre quase masculino, de tanto heroísmo e coregem No primeiro momento atribui tudo
que a atriz queria demonstrar. Mas quando passava a nâÍrâr sua infância:
.io. d" .ádio-rror"lr., e saiu correndo.
isso a alguma outra razão. Procurei adivinhar "91". foi qu" t:lhe.fiz? "
Mas
"Minha mãe, Deus a perdoe . . ." etc., a sua voz adquiria o timbre infantil. fiquei um tanto
trão hou"ve nada. Passado meia hora nessas considerações,
Preocupada com esses problemas, poderia a "Primeira Dama" agir como o ,,e se elâ em paÍte tem razão? " Voltei a ouvir agravação . . . e
desconfiado:
personaçm?
logo tive a terrível conÊr-mação: não era em "patte", - ela tinha razão
19
ATOR E MÉTODO
18 EUGÉNIO KUSNET

completamente, era pior do que qualquer rádio-novela!


..,racarreira, numa Peça dirigida por-mim' em que
ele,f'azia
" qil"-t-9:l1
de uma cnse aguoe oa
,,crrrótico. Haüa uma cena em que ele' no momento
Como aconteceu isso? A explicação não é difícil. Ao começar a convencido de que se
gravação, eu nem me dei ao trabalho de pensar ra situação e nos objetiuos ,l.cnça, beijava ,- *",,"q"i- à" m"téti" plástica'
certa altura do trabalho' num dos ensaios'
do persorngen, limpei a garganta e me dcdiquei unicamente a meu próprio rratava de uma moçâ,'i'l''r'lt'Ín"
uma de gestos' moümentos e entonações
objeüuo: experimentar o meu talento! Provar que eu era um ator formi- ,, âtor começou a cena com P-orção
ele respondeu:
,lc absolura incoerência. ôãJ"'ffr. p".goIt"i
arazío disso,
dávell . . . E vejam a que resultado lamentável cheguei! . . . analisando com ele a situação
Assim chegamos à conclusâo de que os problemas e os objetivos do ator ';;";;;;"nagem é uÀ louco!" Êntáo'
de que o não poderia achar
não podem interessar ao espectador, porque eles não têm nada a ver com as l,»,rientnente. chesamos lo,,"l,"ao Personagem
circunstâncias em que se passa a ação da peça. Certo. Mas não se deve i,.:#ff;;;;r"r,""".ãà" o*" -oç" de quem gosta muito'
a" estar beijanào
l,ois, naquele momento, para ele existia uma P"tto",:',1'-"^'::r:iT"""-
entender isso ao pé da letra: "o ator nunca deve pór seus problemas pessoais lógica e nada mais' o
dentro da ação cênica". Não é isso. Lembrem-se de que no prefácio deste ,,r,i," ,rün.id. Bastava que o ator agisse com essa
viam qtue com toda essa
liwo, levantamos o problema da comunicação do ator com o espectador. clcito de loucura .., '"go''o, Porque oi espectadores
uma moça viva'
nâo
,irrcerídade e ruturabüde, tL bÉi1"'" um manequim' e
Essa comunicação pode ter formas variadas, a começar pela tendência "da como
nos ensâlos
quarta parede" (hoje considerada completamente arcaica), isto é, de isolar o I l,.nois de constatar isso, o ator semPre Procuravâ tanto
do marrequim' sentir através
ator como se a platéia não existisse, conforme se fazia no teatro realista (oz :':I;".,",J;;, ;;"d';;; n" '""lid"d! a" "ia' corpo' Em resultado' essa
mais exato: rwturalkta) do início do século, e a terminar pela comunicação ,lo contato de ,r" mão, à tJot, a maciez daquele
(cÍra, semPre Provocava um calafrio-na platéia'.
aberta que chega a transformar-se em diálogo entre ator e a platéia conforme d'" t"o da lógica' diário de um
Há um o,r,.o "T."9
acontece freqüentemente no teatro atual. "*t"iJn'"-"-"*pf"
Lrg6s", de N. Gogol, t";;;;;;ilpo'
e dirigido por lvan de
De maneira geral, o teatro atual escolheu a "coexistência em cena do 1.u!e1Coãe" tem um rei ' "
;;;;;";".. q"La" i""o-"^gà1.dizia: "A Espanha
ator-cidadão com o personagem". O que varia é a "dosagem" dessa coexis- "
l,inalmente o descobriram'. . . So,,"et'1" não
se sentia nem a mínima tendên-
tência: em muitos casos ela é ostensivamente física, exterior, e em muitos de loucu'a' não havia nele mais do
cia do ator de dar a "'f"t'"
outros, é quase puramente emocional, espiritual. "J;;;;'; a sua grande responsabili-
O exemplo típico da coexistência é o teatro épico de Bertolt Brecht. A :;.; h;r.rú;J" a. "" ,,,o""t" tà q'" assumiatornava a fala tragicamente
E erâ exatamente simples lôgica que
.lade. "s'"
própria estrutura de suas peças exige que o ator, enquanto representa o
louca e muito comovente'
'"-";-;;o, no
papel, comente, âpresente e julgue o seu personagem.
Mais tarde falaremos da natureza e da técnica dessa coexistência que
o p"U,"'"rei da Espanha"' ao falar de seus trabalhos
a China 'e a Espanha
Stanislavski chamava no seu Método de "dualidade do ator", o que aliás, plano da política i,,'"t'i"tionú dizi^a: "descobri que
provâ que contrariamente ao que se afirma a;té agora, não havia divergência, tormamumúnicoemesmopaís.'.AprovaestáquequandoSeescreve
nessa "lôgica
nesse sentido, entre os dois grandes homens do teatro contemporâneo. ;;;;,; õti*t" "àt t""ti"t"' " "'"^lo"tt"" "*'1""tnte
Mas voltemos ao que dissemos a respeito da necessidade de estudar as *-t3"0":f'; estudos gerais da
caracterÍsticas da ação na vida real para, depois, aplicar os conhecimentos
lôgica deve começar logo nos primeiros
necessária e obrigatoriamente até o
adquiridos no nosso trabalho em teatro. siruação e dos objetivos e continuar arruinar a
mínimo detalhe. Sr*" ..ru na lôgica de um pegueno Ponto para
A primeira particularidade a ser notadâ é que, na üda red, a ação
sempre obedece à lô§ca. Essa afirmativa de início, parece errada. Por cenainteira.
o âtor Pâra solucionar pro-
Vejam como o uso da lôgica pode ajudar
exemplo, quem pode considerar l6gca a ação de um louco? Realmente, do seja o plpel de um cego' o
nosso ponto de vista - do ponto de vista de gente mentalmente sã - não blemas bem difíceis' ;g";;"q"t'o p'ob"l"*a -E"taà
nào enxerga' é muito simples: eu
existe lógica na ação de um demente, Mas e do ponto de üsta dele, do que é um cego? E uma Pessoâ que
essa lógica-simplista não ésuficiente'o
louco? Pois parâ ele tudo o que ele faz deve ser perfeitamente lôgicol fecho os olhos e t"ço J;;;ti:'ü"
diabo é que o cego *á à" olhos abertoi m"'mo assim não vê' Cómo
Portanto, se nós fazemos o papel de um louco, a lógica de quem deve "
interessar ao espectador? A nossa ou a do louco? j:.{',i::,x;..;:;#i.;trHü;
Isso me faz lembrar o caso de um dos nossos excelentes atores, Sérgio ffiu*::T*1i:xL:T'.11;;' t intérprete papel' consiga a "fé
Brito. O caso se passou há mais de 20 anos, praticamente quase no início de rua. Portanto , é p'"';;;";;;' desse
I
i

20 EUGÉNIO KUSNET ATOR E METODO 2t


I

I
I
cênica" de não estar enxergando. Senão não poderei convencer ninguém da cena em que meu personagem age sob hipnose. Como dàvo encarar esse
realidade da minha cegueira. O que devo fazer? problema?-" Respondi que sendo a hipnose um estâdo semelhante a sono, -
Pois bem, em primeiro lug3.r, vou procurar compreender o que se passa .*bo." haja nele alguns' pontos de "iigflia" que possibilitam o contato dó
com os sentidos de um cego. Sei que a natureza compensa a falha ou o hipnotizado com o hipnotizador - o primeiro problema seria "sentir-se
enfraquecimento de um determinado sentido, aguçando os outros. A visão, .lormindo" e que para isso, seria lógico procurar con-seguir um -estado de
por exemplo, é substituida pela audição e pelo tato. Esses dois sentidos num rnáxima abstração po.qu. a pessoa está mentalmente fora do_ambiente em
cego se transformam em tisão mental, Por exemplo, na rua, o cego anda que se encontra fisicaÀente, Para conseguir esse estado de abstraçâo seria
"tateando" o chão com os pés ou com.umâ bengala, para wr mentalmente ,iecessário encontrar uffn preocupação tão grande-que todos os cinco senti-
os possíveis obstáculos; ele procura ouür todos os ruidos dt nta paru, wr ,!os do personagern fossi* absàruidos por eln. É tagi.o que, nessás con-
nentalmente o que possa ameaçáJo, por exemplo, um automóvel que se tliçóes, o ambiente físico deixaria de existir Para o Personâgem'
aproxima enquanto eh atravessa a rua. Essa minha explicação não foi suficiente: embora concordasse comigo
Já que eu vou fazer o papel de um cego, vou procurar agir dentro das tcoricamente, a atrrz rrão conseguiu ver nela uma soluçâo prática.
I
circunstâncias as quais cheguei refletindo logicamente e a título de ensaio, funcionar os cinco sentidos numa Preocupação imagi-
oou andar setn olhar gla o chão procurando imaginá-lo, ou seja, procurando - "Como fazer
nâna? "
uê-lo mentalmente,
Experimente isso, leitor, da seguinte maneira: peça pera alguém colocar
- "Como na vida real", resPondi eu.
- "E como é que isso acontece na vida real? "
I
vários objetos, livros, caixas, tábuas, etc. Em seguida, atravesse o quarto de
olhos abertos, porém impedindo-se de ver o châo, por exemplo, segurando Compreendi que estava faltando um exemplo prático, mas uma feliz
na altura do seu queixo um liwo ou um caderno. Ao atravessar o quarto, coincidêniia ajudáu a explicação. O conhecido psiquiatra, Dr. Bernardo
i pense nos obstáculos cuja posição você ignora e quando chegar a tocar neles lllay, que assisiia , aol" poi pura curiosidade, dirigiu-se a uma das alunas: "O
com o pé, procure uê-los rnentalmente porque, com um pequeno descuido qr" a !"" a senhora está fãzendo? " A moça-em questão olhou par-a ele
de sua parte, eles podem levá-lo a um tombo. literalmente corno se estíuesse acordando naquele momento, e disse: "Nada"
Ao terminar a travessia, você constatará que apesar de ter andado com E o diálogo continuou assim:
os olhos abertos, deixou de uer (ou quase) o que se achava do outro lado do
- "A senhora ouviu o que nôs estavamos dizendo? "
quaÍto. ttNão.t'
-
Para maior clarezq faça um colega seu fazer esse exercício na sua pre-
sença e observe seus olhos enquanto ele estiver andando: se ele realmente
- "Por que? "
consegu.ir imaginar os objetos colocados no chão, rendo-os mentalmente,
- "Eu estava pensando."
você verá o olhar de um cego. Portanto, não se trata de procurar acreditar na
- "Em quê? "
sua cdgueira, - isso seria impossível - e sim, de agir dentro de uma situação
- "No eiercício de improüsação que vou fazer agora"'
em que agiria um cego precisando atravessar um espaço desconhecido. Quem Como vocês vêem, não houve necessidade de uma PreocuPação "tão
se lembra do filme "Belinda", na magnífica interpretação de Jane Wyman, grande" para que a atriz ficasse completamente abstraida, bastou vmapreo-
certamente se lembrará do olhar cego, completamente ôco, do personagem' cupação pequena, mas real.
Acredito que esse milagre da arte dramática nâo foi conseguido por inspi-
' A tiriz que levantou o problema disse que compreendeu essa lógica e,

ração e sim através de muito trabalho em que predominou a lôgica e, confor- mais tarde.ot tou que aplicou com sucesso no seu trabalho'
me veremos mars tarde, provavelmente através do uso dos outros elementos Vocês devem i.. tàt"do que nos exemplos que eu dei acima, al;gca
do Método. não é muito simples. É porqrr", na üda real ela é muito mais complicada e
Da mesma maneira podem ser resolvidas outras situações difíceis: um contraditôria do-que aquela que freqüentemente usamos em teâtro. A meu
paralítico que procura andar, o comportamento de uma pessoa que acorda, ver, um dos g..nd-'es p".igot p"." o atual - que. vive no meio.dos seus
"tot
etc. contemporân-eos tão psiqiricimente complicados - é simplificar'a lógica da
Lembrome que uma outra aluna daquele curso parâ os atores profissio- vida, tàá-la ôbvia ; hnear. E-m teatro nôs representamos "O Amor", "O
nais me pergu.ntou durante uma aula: "Estou ensaiando na teleüsão uma Ôdio", Alegria", mas raramJnte mostramos ã
"A do Fulano, o ôdio do
"t 'ot
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3

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22 EUCÊNIO KUSNET ATOR E MÉTODO 23
Êl

ii Beltrano, a alegria do Cicrano. Mas como sâo diversos, na vida real, as ,A" mulher sabia que não podia recorrer à polícia e que a única maneira
i manifestações de alegria ou de tristeza em pessoas dife.entesl Como sào ,l, salvar o pai seria matar o "chefão". Sob o pretexto de tratar de um
i
inesperados, por exemplo, uma risada estridente no momento de um grande rri gôcio, el:L vai até o apartamento dele, Provocâ-o, excita-o e, durante um
i
sofrimento, ou imobilidade e silêncio, prôprios de um estado de pânico, no l,r'i_jomata-o com um punhal.
i
momento de extrema felicidadel Na primeira tentativa pàra a Íeallzàção dessa cena' Carminha só se preo-
i
Por que eu digo isso? É porque ja'vi isso nos muitos contâtos hurnanos ( upou com o ódio mortal que tinhâ pelo "chefão". Assim munida, chegou
durante a mirrha vida, porque já me acostumei com o inesperado e contra- .rri' o apârtamento dele e é claro que, dessa maneira, nunca seria recebida I

ditório comportamento dos meus semelhantes. lx)rque o ódio transparecia à distância, como vemos na fotografia n.o 1.
Por isso, mesmo quando numa peça não encontro nenhuma complexi Carminha procurou interpretar unicamente a ação do momento' omitin-
dade, eu procuro e, se for preciso, crio as contradições humanas porque sei ,l,r por completo os dados da ação contínua, com o passâdo e o futuro da
que meus espectadores também são seres contraditórios, que, há muito nào .,1;io, porque conforme o temâ proposto o Problema do personagem não era
aceitam em teatro a fórmula "pão-pão, queijo-queijo". .()mente matàr o "chefão" por óüo, mas sim.fingir uma paixão, envolvêJo,
Mas passemos agora a mais uma característica da açâo na vida real: a ,lrrdi-lo e só então màtá-lo, vingando as mortes "ontem" cometidas por ele e
ação é sempre contínua e íninterrupto.. Nunca deixamos dc agir, nem Ínesmo .,,,ivando "amanhã" a vida de seu pai.
quando dormimos: os nossos sonhos às vezes são forma de ação mais intensa Passamos para a segunda tentativa e o tesultado foi o oposto, embora
do que na nossa realidade. E os bons cristãos dizem que ncm a.morte ,r:io sc perdcssc de vista o primeiro objetivo, o de matar o "chefão", o ódio
interrompe a ação. licou diluído c o que vemos na fotografia n.o 2 é uma grande sensualidade,
Cada momento de nossa ação na üda real tem seu passado e seu futuro. runa volúpia. Observamos que até o punhal foi quase esquecido pelo perso-
Quero dizer que cada momento presente tem suas origens no passado e seus ,,agem :- vejam como ficaram relaxados os dedos da mão!
objetivos no futuro. A frase de Stanislavski: "O nosso 'hoje' é apenas cr Sô quando Carminha conscguiu reunir dentro da sua ação os dois obje-
resultado do movimento do nosso 'ontem' em direção ao nosso 'amanhã' ", tivos, isto ó, dirigir o scu "ontcm" (o ódio fotografia n.o 1)no sentido de
define bem a mecânicâ da ação contínua tanto na vida real, como em cr:nâ. chegar ao seu "amanhã" (salvar o pai através do fingimento de amor -
Os atores deveriam preocupaÍ-se muito menos com a ação do rnomento liitografia n.o 3), íoi que ela chegou ao resultado satisfatório, esPontanea-
do que com a ação anterior e posterior porque a ação do momento se reuliza lnente,
automaticamente se o ator realmente exerce a açio contínua. Em teatro a ação cênica frcqüetttemente sotre interrupções: intervalos
Para ilustrar isso escolhemos um tema muito banal, mas suficientemcnte cntre os :rtos ou quadros, saídas do àtor de cena, g.andes Pausas em que o
claro e lógico, que foi realizado por minha aluna e colaboradora, Carminha ator, embora prescntc em cena, fica àParelltemente inativo.
Fávero. Que dcve fazer o âtor para climina. o efeito nocivo dessas interruPções?
No submundo do crime, uma mulher que faz parte de uma "gang" Deve manter o seu "cstado cênico", isto é, continuar agindo como o Perso-
sofreu várias ofensas graves - mortes de muita gente querida - e nunca nagem, mesmo quando está fora de cena? Há atores que Procuram fazer isso
conseguiu descobrir os autores dos crimes. Na realidade todos eles foram na medida do possível, mas não literalmente, é claro, pois muitas coisas que
cometidos pelo "chefão" qr", posteriormentc, sempre aparecia como eles têm que fazer nos intervalos não podem ser feitas como se fossem
defensor e protetor da rnulher, mas que, "infelizmente", sempre por um personagens: rnelhorar a maquilagem, rever o texto, consultar o diretor a
triz, não conseguia salvar as vítimas. O seu objetivo eüdentemente era fazcr .erp"ito- de algum detalhe importante, etc. Outros atores acham e talvez
com que ela se lhe entregasse "por amor" e não à força - o que seria fácil com razão - que nos intervalos eles não devem cansar demais a sua imagina-
ção, e por isso "se desligam do papel". Mas o mínimo que se deve exigir
demaisl de
Um dia ela foi prevenida por um velho membro da "gang", .- que todo e qualquer ator é que, antes de entrar novamente em cena, ele recorra à l1

também estava apaixonado por ela, - que o "chefão" tinha planejado o ação anterior (o "ontem") e posterior (o "amanhã") do personagem' como j

âssassinato do seu pai para o dia seguinte. Desta vez, ele tomaria parte no ümos no exemplo acima. I

crime pessoalmente. Como sempre, ele seria encontrado no local como se Infelizmente nem todos os atores correspondem a essa exigência míni-
tivesse chegado no último momento para defender o pai, mas.. . que azarl ma. São capâzes de contar uma piada exatamente no momento de entrar
Tardedemaisl .., para fazer rrln^ ."r" trág|ca. Há atores que parà demonstrar aos colegas sua

=
u EUGÊNIO KUSNET ATOR E MÉTODO 25

"técnica", ficam de costas para a platéia, fazendo caretas cômicas procuran-


tkr provocar riso nos seus colegas, para logo em seguida encarar a platéia
com suas "máscaras trágicas". E nem passa pelas suas cabeças a idéia de que
,raqueles breves momentos, eles cometem um erro gravíssimo: eles cortam o
scu contato emocional com a platéia, Basta um instante pâra que o especta-
,krr mesmo sem perceber os seus tnrques "tão engraçados", sinta que alguma
t oisa interrompeu a sua tensão de espectador, que se formou um vácuo no

I ffi
scu contato com a cena.
E agora vamos ver a terceira característica da ação: ela tem sempre e
*. simultaneamente dois aspectos - ação inteior e ação exterior, ou seja, ação
rrrental e ação física,
Essas duas formas de ação não podem existir em separado, elas se
l)rocessam sempre simultaneamente, mesmo quando uma delas aparente-
rnente está ausente. Por exemplo: a imobilidade total de uma pessoa (açá-o
(xterioÍ nula) simtitaneemente com ume série de pensementos frenéticos
(açio interior intetsa). Para compreender como isso funciona, faça uma
t'xperiência na base de uma ação imaginária: você acompanha com um olhar
,lc longe, o enterro de uma pessoa muito querida. Por uma ou outra razío (é
importante que essa razão seja bem clara para oocê), você não pode acompa-
,rhar o enterro de perto. Complete com sua imaginaçâo os detalhes faltantes:
quem é o falecido? Em que circunstâncias ele morreu? O que impede você
chegar mais perto? Quem sâo as pessoas que acompanham o enterro? etc. E
:rgora vá agindo, ou seja: apcnas acompanhe com o olhar o enterro que você

M
vô na sua imaginação, pensando tudo o que pensaria o personagem nessas
circunstâncias. Se você não cometer ncnhum erro de lôgica e não esquecer o
"ontem" e o "amanhã" dessa ação, nós, espectadores, certamente sentire-

W rnos a intensidade da sua ação interior apesar da sua imobilidade.


É facit imaginar e experimentar a título de exercício, um exemplo do
contrário: você está extremamente cansado mâs por uma ou olutra raz,ão, é
obrigado a divertir alguém contando-lhe uma estória muito engraçada. Nesse
cxercício você terá que executar uma ação exterior muito intensa junto a
uma ação interior quase nula, conseqüente do seu estado de desânimo! E
como no exemplo anterior, nós, espectadores, sentiremos ou ao menos
suspeitaremos do seu desânimo, apesar de suâ aparente alegria.
Se você tiver a vontade de repetir esses dois exercícios com o mesmo
rcsultado tão animador, é preciso que você antes de mais nada restabeleça e
fixe o seguinte:
1) o que você "üu" mentalmente antes, durante e depois da ação cênica?
2) o que você pensou antes, durante e depois da ação cênica?
Fotografia n.o 1 No correr da repetição da experiência você terá que exercer fielmente
todos esses detalhes.
t:
I
I

I
26 EUGÉNIO KUSNET ATOR E METODO 27

As duas formas da ação, a física e a mental, são ligadas entre si tão


intimamente que o ator dificilmente poderá estabelecer como e onde uma
influi sobre a outra. Sô uma experiência ou um acaso podem indicar-lhe o
caminho que ele deve escolher no uso desse elemento do Método, pois há
ll

sempre dois caminhos: um - de dentro para fora, e o outro - de fora para


dentro. Quero dizer com isso que, por exemplo, uma emoção adquirida
espontaneamente pode produzir um gesto muito adequado, mas também um
gesto encontrado pelo ator através de um raciocínio lógico, pode provocar

M uma emoção desejada,


A título de maior esclarecimento, quero contar-lhes um câso que acon-
tcceu comigo durante as representações de "Canto da Cotovia" de Jean
I
Anouilh, no Teatro Maria Della Costa.
'Na cena em que o Bispo Cauchon cujo papel eu fazia procurâ
- -
convencerJoana D'Arc a abjurar, eu f.azía um gesto em direção aJoana, com
a palma da mão virada para cima, um gesto de súplica, que surgiu esponta-
neamente quando senti a ânsia de convencê-la. Mas ao mesmo tempo, esse
gesto não sei exatamente porque, provoceva em mim a sensação de maior
harmonia com a roupe de Cauchon e o magpíÍico cenário de Gianni Ratto.
Este foi o "caminho de dentro para fora" que eu usei e que me levou a um
resultado, a meu ver, satisfatório.
Depois de um dos espetáculos, o cineasta Lima Barreto que acabava de
assistir a representação, me disse que não sentiu naquele meu gesto "um
homem de igreja" e que o gesto deveria ser feito de maneira inversa, isto é,
com a palma da mão ürada para Joana, como numa bênção: "Não é um
',';',""1* homem qualquer - é um bispo que suplica, e ele suplica como tal."
Achei que sua observação era muito lôgica e, depois de voltar para casa,
procurei ensaiar sozinho o trecho da cena, incluindo o gesto aconselhado
e . , . de repente me senti muito mais bispo, senti a enorme responsabilidade
perante a igreja, senti o medo de não conseguir convencer Joana. A com-
plexidade dessas emoções e pensamentos me levou a ansiedade ainda maior
do que nos espetáculos anteriores.
,
Desta vez, como vocês podem constâtar, o caminho escolhido foi "de
fora para dentro".
Resumindo, podemos dizer que ao construir seu papel, o ator nunca
dcve perder de vista a coexistência natural desses dois aspectos da ação,
porque sô assim o seu personagem será realmente um ser humano.
E agora estamos chegando a última característica da ação na vida real:
ruío existe ação sem objetivo. Quando agimos é sempre para conseguir
alguma coisa, porque sempre desejamos alguma coisa. À primeira viita isso
não parece lôgico. Há quem possa perguntar: "E a apatia? E a prostração?
Que pode desejar umâ pessoa nesse estado? Então deve haver na nossavida
Fotografia n.o 2 momentos em que não desejamos nada? " Eu afirmo que não: mesmo
fl
ATOR E MÉTODO
28 EUCÊNIO KUSNET - 29

quando temos a certeza de nada querer, provavelmente, lá no funào, quere-


mos não querer, isto é, rejeitamos quâlquer vontade, Mas, nesse caso, a nosse
intenção de não ter vontade torna-se um objetivo. Ou ainda como o máximo
tla falta de objetivo na üdâ, seria a vontade de morrer, mas a morte nesse
czrso seriao nosso objetivo. Portanto, convenhamos que em teatro nâo
l)ossamos admitir que a ação cênica seja desprovida de objetivos. Como na
vida real, a necessidade estimula a atiüdade do homem dentro de uma
determinada situação, assim também em teatro o objetivo do personagem
r:stimula a imaginação do ator e o induz a agir dentro das circunstâncias da
,rbra dramática.
Vejamos um exemplo de como a presença de um objetivo ou ausência
,lo mesmo, se reflete no trabalho do ator. Tirei esse exemplo da minha
própria experiência, comparando duas fotografias minhas tiradas em dois
papéis diferentes. Vejamos as duas: a primeira, de "Mister Pitchum" da

W ru
"Ópe." dos três vinténs", (foto n.o 4), e a segunda, de "Maneco Terra", do
íilme "Ana Terra" (foto n.o 5), - filme que nunca foi realizado porque a
oompanhia Vera Cruz, naquela época, tinha quase entrado em falência.
Vou thes contar a histôria das duas fotografias. Eu fiz o papel de
"Pitchum", no espetáculo realizado pela Escola Dramática da Bahia, sob a
rüreção de Martim Gonçalves. Antes de começâr uma das representações, eu
cstava muito preocupado com alguns detalhes da roupa e dos acessórios. Uns
poucos minutos antes do início, um aluno da Escola me aüsou que um
,M
rcpórter precisava tirar com urgência uma fotograÍia minha. Eu me recusei
pois não haüa mais tempo. Ele insistiu: "Kusnet, sô um instante". Para me
ver liwe desse problema, aceitei pedindo que fossem rápidos. Mal tive tempo
,W .le me colocar ao lado da escrivaninha do escritório de "Mister Pitchum",
0t,,,, tomei rapidamente ((a atitude de Mr. Pitchum" e pronto; a fotografia foi
tirada. O resultado como vocês podem ver (vejam a fotografia n,o 4), foi
lamentável: há apenas uma careta de Pitchum e nenhum vestígio da ação
W interior do personagem. Por quê? Porque naquele momento eu não pensei
1,
algum objetivo de Mr. Pitchum. Sô havia um objetivo, e este era um
"m
objetivo do ator Kusnet - ser fotografado o mais rápido possível.
Agora vejam a outra fotograÍia, a de Maneco Terra (vejam a fotografia
rr.o 5). Ela foi tirada bem no início dos trabalhos. Trata-se de umacena em
que Maneco faz sinal a seus dois filhos para que matem o índio que seduziu
rua filha Ana. O objetivo de Maneco é muito complexo: por um lado ele
rlecidiu cumprir o dever do pai cuja filha foi desonradâ mâs, ao mesmo
tempo, ele daria a vida para eütar a mágoa que essa decisão causaria a sua
Íllha adorada. Esses dois objetivos contraditórios foram cuidadosamente
cstudados e usados no trabalho.
Casualmente analisando com meus alunos alguns detalhes dessa cena,
constatamos que cobrindo com um cartão a parte inferior do rosto, na
Fotografia n.o 3

I
EUGÊNIO KUSNET ATOR E MÉTODO 31.
30

Íotografia, e deixando descobertos os olhos, encontramos neles muita


tlureza, quase uma crueldade fria; entretanto quando deixamos descoberta a
l,,rca, cobrindo os olhos, vimos uma amargura, uma tristeza que chegava às
l,igrimas; por isso o conjunto fazia sentir a complexidade do estado emocio-
,':rl do personagem. Portanto, a presença real dos objetivos do personagem,
nresmo na imobilidade de uma fotografia, faz com que o espectador sinta a
.,rr:r ação interior.
Há um detalhe do trabalho do ator que nunca deve ser perdido de vista:
í u atratividade dos objetiuos do personagezn. Se um ator não consegue
irrteressar-se profundamente pelos problemas do personagem, há pouca pro-
l,;rbilidade de sucesso no seu trabalho. E já que é ele próprio quem estabe-
l, cc e dá forma aos objetivos, a atratividade dos mesmos depende dele
1».óprio.
iii Como sempre, o maior inimigo do ator nesse trabalho, é a tendência de
',irnplificar demais os problemas. Quanto mais complexo for o objetivo do
lx'rsonâgem, tanto mais facilmente será despertada a imaginação do ator. O
i,i citado diretor soúético - Nicolái Okhlópkov, falando sobre problemas da
tlireção, disse: "Não deixe o ator procurar um botão perdido quando ele
lurde procurar um amor perdido!"
O atraente para nôs é aquilo que nos interessa profundamente. Interes-
.,,r-se profundamente pelos problemas alheios só é possível quando nós
,,rnseguimos colocar-nos no lugar da pessoa. Por isso é sempre aconselhável
(lúe o ator procure algum paralelo entre a situação do personagem e algum
! ,lctalhe ..-ilhart" a sua própria vida. É assim que ele pode descobrir mais
l:rcilmente a atratividade dos objetivos do personagem.
Para demonstrâr a enorme importância que tem a atratividade dos obje-
tivos, quero thes contar um caso que me parece muito ilustrativo.
Durante os ensaios de "O Canto da Cotovia", na cenâ em que Joana
l)'Arc entra no palácio real para propor ao delfim lhe confiar o comando do
, xército francês, Maria Della Costa, que fazia o papel de Joana, achava que o
r'stado emocional da heroína devia ser o de timidez, porque ela, uma simples
(:rmponesa, pela primeira vez entrava num palácio. Apesar da lôgica do
g,róprio texto em que se fazia sentir a altivez de Joana, apesar das cenas
.rrrteriores em que Joana estava em contato direto com um ser muito supe-
rior aos reis, o Arcanjo Sâo Miguel, Maria não se convencia. Ela raciocinava
,ra base de um exemplo de sua prôpria vida, quando ela foi ao Palácio do
(;atete para uma audiência com Getúlio Vargas. Ela ia pleitear um subsídio
l)are o seu teatro que naquela época se achava em construçâo. Ela racio-
tinava: "eu vou incomodar o nosso grande presidente com os pequenos
lrroblemas do meu insignificante teatàl ... ja entrada do Catete m.
Fotografia n.o 4
srrrti tão intimidada que, por pouco, não desisti do""encontro".
- I ATOR E MÉTODO
32 EUGÊNIO KUSNET 33

Vejam bem: com essa forma em que se revestiu o seu objetivo, ela só
podia se sentir humilde. E tudo isso provinha da comparaçío do'g.rrde
presidente com a "insignificante" Maria, da grande pát.ia com o ,,inlignifi-
cante" teatro. Mas por que a insignificante Maria? po. qr. o insignificante
teatro? os problemas da arte,em nosso país não são
-"ir i-po.i.ntes do
que muitos, mútos outros problemas? por que então essa insignificância?
Para dar maior ênfase a minha idéia, sugeri Maria que consid"erâsse o selr
" ," .oráp"netrasse
teatro o fator mais importânte do mundã, q,r. da idéia de
que a falta do seu tearro em são paulo p..iudica.i" â frt,r.o das geraçôes
inteiras, que mesmo os problemas da misérla, da fome são
-enof impor-
tantes, etc, etc. "convencida disso," pergu,tei eu, "em que estado de ânimo
você entraria no Catete? "
Enquanto eu falava, os olhos de Maria brilhavam caàavez mais, e vocês
precisavam::r com que infinito orgulho ela se ajoeihou perante o delfim e
começou a falar: "Garboso delfim, eu, Joana D'Arc . . .,,, it .
Assim, através de um paralelo, os objetivos do personagem tornaram_sc
grandiosos, empolgantes para a atriz.
Mas não se deve e-squecer de que o âtor scmpre corre o perigo de
confundir objetivos do personagem, que o induzeÀ ,gi. .orr,á tal com
.os
"
os seus prôprios objetivos, que o induzem a se exibir, a brilÁar, como naque-
le caso que citei no início deste capítulo, quando contei o que aconteceu
comigo depois de ter gravado uma cena de "Áquele que leva bofetadas".
- Para-se apoiar realmente sobre um objetivo do personagem, o ator deve
saber definí-lo com e máxima clareza, tornando-o po. ,.sini d.izer, p;rlpável.
Nâo me ente'dam mal: não cstou sugerindo a simpliÍicaçâo do objeiivo, mas
apenas a necessidade de eútar a possível con[úsâo por falta ã" .1r."r".
Mesmo um objetivo muito complexo e conrraditôrio, como por exemplo
aquele de Maneco Terra, deve ser estabelecido com toda a lógica e clareza.
Por isso é aconselhável ao definir o objetivo, ura. o ,erbã ,,querer" na
primeira pessoa e não numa forma descritiva. Em vez de dizer: "õ objetivo
do pe.rsonagem é vingar sua honra", diga: ,,Eu quero ..ing". a ái,h"
.a
1l
honra", O uso desse verbo facilita a aquiiição da ^,,fé cêricã,, e evita a
Ii confusão a que nos referimos acima. certamente, Maria Della costa ao
Ír
,,*MlfrlWffiIil entrar naquela cena com o delfim, deve ter pensado mais ou menos assim:
"Eu quero que o delfim me obedeça, quero que me entregue o comando do
ilHfrflflW[iflfl exército, porque sou a única pessoa cepaz de salvar a Fãnçal', Mas se em
ryffiilro,
..: vez disso, Maria pensasse: "Eu quero fazer essa cena maiavilhosamenter
Quero sentir muito orgulho no momento de me ajoelhar", a que resultado
ela chegaria? A uma ação completamente falsa.
Apesar dos meus longos anos de teatro profissional, eu também nem
sempre me sinto isento dessa confusão. Um caso desses aconteceu comigo
em "Os Pequenos Burgu.eses" na cena da briga de,,Bessêmenov,'com seu
Fotografia n.o 5
-

34 EUGÊNIO KUSNET
I

I afilhado Nil, durante o almoço do segundo âto. Num dos espetáculos


três meses depois,da estréia eu senti um verdadeiro p"io. q"""ao - uns
-
bateu com o punho na mesa e gritou: ,,o senhor nâo'poJ";;á;...,,
NiI
Lembro-me perfeitamente de que naquele momento eu cireguei
, f"nr".,
"Agora ele vaime bater nacaral , .," óepois do espetáculo,."l.rpit,rrãr,do o IERCEIRO CAPITULO
gue se passou_, fiquei contentíssimo poi te. .r.oit.rdo ,à,.
essa emoção de Bessêmenov. Na noite seguinte, preocupado "o*em não clareza
la, no último momento, e.m
perdê_
p"rrr"i: ,,Eu' preciso ,"rri,
T)
:e1â
pavorl" É chro que o resultado foi ^b..á l\esumindo o conteúdo do capítulo anterior, podemos dizer que as
um veràadeiro f.".r'rro, rrrr,." fi, ".r"
cena de maneira tão falsa. Por que? porque Bessêmenov nâo podia ..ouerer "rr. quatro câracterÍsticas fundamentais da ação, - tânto na vida real, como em
teatro, - são as seguintes:
sentir.o pavor", ele podia "querer fugir da bofetada", isto simr Se o
obietivo
no ultimo momento fossã realmente esse: "Ele vai me baterr (rr.ro 1) A ação sempre obedece à lógica.
fugirl ' . ." o verdadeiro pavor seria resultado automático desse pensamento. 2) A açío é sempre contínua e ininterrupta.
. Assim completamos as nossas considerações sobre as quatà caracterís- 3) A ação sempre tem, simultaneâmente, dois aspectos: ação interior e
ticas essenciais da ação na üda real e o ,.,., ,ro no ósso ,r"brlho
em teatro. ação exterior.
se você realmente quiser assimilar as noções contidas neste capítulo,
saiba que não é suficiente apenas .o-p.""rrd.. e saber repetir o .., .torrt.ú- 4) Não existe ação sem objetivos.
do. É preciso fazer os e*erc?cios ,rrg".ido, (,,a cegueira,,),,aabstração,,,,,o O conhecimento dessas características é de extrema importância no
resgate", "o enterro", e',a piada,,) e muitos outros que a sua imaginação trabalho do ator. Mas o conhecimento teórico não basta, é preciso saber
possa lhe sugerir. só assim você poderá assimirar na p'rátíca a idéia"do utilizá-lo na prática quando começamos a trabalhar com um determinado
uso
das características da ação no sãu trabarho d" ,toi. ert".ip"nàà .erto. material dramatúrgico, seja ele um simples exercício ou um complicado
problemas de nossos estudos, devo esclarecer desde já que a oç'ão papel numa determinada peça.
dos temas
acima citados deoe ser improrisada por uocê. portanto, não caia Por onde devemos começar?
no erro de
preestabelecer por escrito o esquemâ- rígido da açâo e dos diálogos
(or.r Já sabemos que no palco devemos agir em nome do personagem; que
monólogos) do exercício, para seguí-los ã .isca. piocure improris.'. rirre- devemos aceitar, como se fossem nossos, tanto a situação em que o perso-
mente tanto os movimentos como as falas. nagem se encontra como também os objetivos de sua ação. Mas para come-
_ Improvisação é a base de todos os trabalhos teatrais pelo Método de çar a agir no lugar do personagem é necessário, em primeiro lugar, estabe-
stanislavski. Mais tarde trararemos detalhadamente do métoáo d" i-prã-r"- lecer com a máxima clareza quem é o personagem, quais são as suas caracte-
ção. rísticas. Como ele é? Bom, mau, jovem, velho, inteligente, burro? Onde ele
Insisto na necessidade de você próprio criar novos exercícios, porque, üve e para que vive? E, principalmente, o que ele quer?
desta maneira, você desenvolve
-"-i. ,r-, das importante, qudidid..- do A resposta a tudo isso pode ser encontrada, em parte, no material
ator: a sua iniciatir.ta. Neste livro pretendo sugerir exr.m-plos de traba- dramatúrgico com o qual estamos trabalhando. Este material, cujos compo-
lhos práticos e seria um erro do leitor não pio..r.^, '.,rritor
comp.leta;jesse material nentes devem ser cuidadosamente analisados e selecionados, servirá de base
com o que a sua imaginação possa produzir.
para o nosso trabalho. No método de Stanislavski ele é denominado com o
termo: CIRCUNSTANCIAS PROPOSTAS. Para nós, atores, esse termo signi-
fica a verdade, a realidade da vida do personagem nas situações que o autor
da obra dramática nos propõe. Portanto, não se trata da verdade da vida real
e sim da "verdade cênica", especificamente teatral como o é a"fé cênica".
A mesma verdade da üda real, isto é, â realidade objetiva, pode ser
interpretada e apresentada por dois artistas de maneira muito diferente, sem
çe ã... diferença prejudique a "verdade artística", ou seja a .realidade
subjetiva de cada um deles.
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SÉTIM) CAPíTUL)

L."io que você, leitor, muitas vezes ouyiu esses famosas frases: "O
espetáculo não é mau, mas falta ritmol . . .", ou "Essa cena precisa de muito
maisritmo! ..."
Esses comentários são comuns nos intervalos de um espetáculo, tanto
na platéia como nos bastidores do teatro. Não sei se os comentadores que
usam essas frases têm uma idéia exata do que significa o ritmo em teatro. Sei
que em muitos casos, ao üzer "ritmo", eles subentendem simplesmente a
rapirlez com que a ação da peça deveria se desenrolar.
E indiscutível que o ritmo em teatro é um problema de imensa impor-
tância, e é exatamente por isso que ele nâo deve ser encarado com tanta
ingenuidade.
Por onde vâmos começar para entender como e por que o ritmo faz
parte da arte dramática. Comecemos por ver como se define o significado da
palavra "Ritmo". No Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa
encontramos o seguinte :
"Em Música, agrupamento de valores de tempo combinados por meio
de acentosi organização do movimento dentro do tempo, com volta perió-
dica de tempos fortes e tempos fracos, num verso, numa frase musical, etc.;
em Física, Fisiologia, etc., movimento com zucessão regular de elementos
fortes e elementos fracos; em ârtes plásticas e nâ prosa, harmoniosa corre-
lação das partes."
Se a definição é clara no que diz respeito à música e à poesia, e se
mesmo em relação à física e à fisiologia, ela é bastante compreensível, não se
pode .li,er o mesmo a respeito da definição do ritmo na prosa: harmoniosa
correlação das partes. Em que consiste essa harmonia? Como se processa a
correlação das partes?
Por isso me parece, que para compreender o que é o ritmo na prosa, é
bom começar por entender melhor como funciona o ritmo na música.
Para facilitar a compreensão do nosso problema, comecemos por simpli-
ficar a própria definição. Para nós o ritmo em müsica será: "diüsão do
compesso musical em valores de tempo".
Vamos ver isso num exemplo muito simples.
I

u EUGÊNIo KUSNET ATOR E MÉTODO 85

Imaginem,os que cada um desses cinco compassos tenha duração de Apresentamos esses exemplos em dois pentagramas cada um, e o último
quatro- segundos, Nessas condições, poderíamos dividir o espaço de quatro em três, para que o leitor possa experimentálos em forma de percussão
segundos em vários valores de tempo, conforme feito no rrossã e*"-plà: organizada com duas ou três pessoas, ou então usando um metrônomo para
C,omp.sso n.o 1 - Não dividindo o compasso, temos uma nota (ualor marcar o tempo-ritmo do pentagrama de baixo e executando as batidas dos
de tempo) de duração de quatro segundos. outros personagens pessoalmente.
Regule o metrônomo para várias velocidades, alterando assim o ter.lpo,
Compasso n.o 2 - Diúdindo em dois temos duas notes de duraçâo de
e acompanhe as batidas de acordo com a diüsão conitante do pentagrama
dois segrndos cada uma,
de cima- Procure sentir e constatar o efeito que lhe causa cada alteração do
Clmpasso n.o 3 - Ditidindo em quatro temos quatro notas de um tempo: ela o torna mais animado? ou mais concentrado? ou mais triste?
segu.ndo cada uma.
Compsso n.o 4* Dividindo em duas notas de duração diferente te- L. t.
mos uma nota de três segundos e uma de um segundo.
Compsso !.o S - Dividindo em cinco notas de duração diferente te-
mos uma nota de dois segundos e quatro de meio segundo cada uma-

O número de divisões possíveis não tem limite.


Convenhamos pois que, para a maior facilidade de nosso raciocínio, a
-
divisão do compasso musical, como ela é feita no nosso exemplo, representa
o ritmo em música.
Mas é preciso notar que o ritmo apresentado graficamente, como o
^
fizemos no nosso exemplo, só existe em ieoria. para lornáJo realidade, isto
ê, transformáJo em música, temos que imprimir-lhe uma determinada
-pan
velocidade (que os músicos chamam dà andamento) e acrescentar uma
melodia.
Deixando de lado o problema de melodia,
- porque o que nos interessa
ê o ritmo mesmo sem melodia, digamos dentro de uma percussão, pode-
mos dizer-que, o ritmo pode realmente existir ac.escião apenas d" u-"
-
determinada velocidade.
Como vimos na definição do ritmo, existe em música mais um termo:
"tempo". Sua definição no mesmo ücionário é a seguinte:
"Cada-uma das p4rtes completas de uma peça musical, em que o anda-
mento muda; duraçâo de,cada parte do compasso".
Simplificado ngvamente, podemos dizer: ..para nós o termo ,.tempo,'é
velocidade do ritmó".
Nessas condições, e f que os dois,
- o tempo e o ritmo - não podem
existir em separado (a nõo ser em teoia), Stanislavski, no seu trabalho em
teatro, sempre usou o termo único - TEMPORITMO frisando com isso a
-
úsoluta necessidade de nunca separar esses dois fatores na sua aplicação em
teatro.
Para que o leitor possa experimentar o efeito do ,,tempo-ritmo", damos
. -
abaixo. exemplos de várias divisões do compasso, . por mais simples
e terminando por combinações mais complicadas. "o-.ç"i
l
I

86 EUGÊNIO KUSNET ATOR E rrAÉrOOO 87


i

chamálo de TEMPGRITMO COMPOSTO para diferenciá-lo do TEMPG


zuTMO SIMPLES.
Agora podemos dizer que temos uma noção mais ou menos exata do
que é o ritmo em música. Mas como e por que iríamos usá-lo no trabalho em
teatro falado ?
Em primeiro lugar, pela definição que citamos, podemos constatar quc
o ritmo existe praticamente em todas as atividades humanas, inclusive na
Prosa.
A natureza inteira é organizada na base do ritmo, a começar pelo movi-
mento dos astros e terminando pelo moúmento das amebas. Tudo no mun-
do obedece ao ritmo.
Pode também experimentar o efeito da alteração do tempo usando para O homem primitivo sentia a presença do ritmo em tudor na regularidade
isso uma música. Se você tem uma vitrola, ponha um dúco de múiica do movimento do sol, da lua, do ruído da chuva ou de uma cascata, nas
orquestrada e toque-a normalmente, usando a rotação indicada 33rpm ou pulsaçóes do próprio coração. Assim os sentimentos do homem primitivo
-
45, ou.78. Em.seguida repita o trecho escolhido alterando a rotaçãà, por também passaram a obedecer ao ritmo, principalmente nas primeiras mani-
exemplb, tocando o,disco gravado em 33 rpm com velocidade de 78 iprrr, o. festações religiosas, nos cantos e nas danças rituais que, pouco a pouco, se
üce-versa. Dentro de experiências desse tipo não é raro sentir uma-alegria trarrsformaram em ação teatral que, por sua vez, continuou a obedecer ao
frívola causada por uma marcha fúnebre, sôporque ela foi tocada em tempo ritmo.
acelerado. Não há pois dúüda que a prosâ em teatro também deve obedecer ao
Portanto o efeito emocional do tempo-ritmo sobre um ouvinte nunca ritmo, Sei, que no início, é difícil de se convencer disso. Como podemos
depende apenas do ritmo em si,
- seja elã simples ou complicado, - e sim encontrar ritmo, cuja presença é tão eüdente nos versos de poesias, como
de lurmoniosa in-terdependência desses dok fatores, tempô e ritmo. Alte- encontrá-lo naquilo que é antônimo da poesia, na prosa?
rando um deles, alteramos o efeito global do tempo-ritmo. Realmente, não é fácil, porque os atores do teatro falado que, ao repre-
Nas experiências feitas com o quadro acima o leitor certamente pode sentar, conseguem agir e falar dentro de um "tempo-ritmo" ccrto, chegam a
constatar que o efeito do ritmo muito primitivo (letra,4) pode,", esse resultado de maneira geral, intuitivamente e não conscientemente. Nes-
"guiado
pela aceleração do rempo, e que o ritmo mais complicado (t"*o f1pãd" ... sas condições eles têm dificuldade em constatar e fixar o tempo-ritmo
bastante excitante mesmo com o tempo lento. obtido.
Mais conüncente ainda seria o confronto de certas obras musicais. Mas o tempo-ritmo que eles criam existc! É preciso que eles saibam
como um exemplo, gostaria de sugerir a comparaçâo da euarta Sinfonia de
usá-lo à sua vontadel
pydr-.o- o "Pássaro de Fogo" de Straüniki. Creio que são dois discos
fáceis de se conseguir para ouvir. É impressionante o exemplo de Shakespeare. Em suas obras freqüente-
Na sinfonia de Haydn você vai encontrar trechos de máxima sinseleza: mente passava da prosa à poesia, e vice-versa. Ator inato que era, sentia que
vários instrumentos tocam a mesma melodia, dentro do mesmo ritrio. se num determinado trecho da peça, havia necessidade de um ritmo mais
você tivesse a oportunidade de'ver as partituras orquestradas dessas duas nítido, que a ação da cena o exigia.
obras, constataria a enorme diferença entre elas, pois em,,pássaro de Fogo" O mesmo podem e devem fazer os atores, sem que, para isso, seja
muitos instrumentos tocam simultaneamente melodias diferentes e em necessário alterar o texto da obra. Eles podem colocar ritmo mais nítido
ritmos diferentes. Por isso podemos chamar certos trechos da sinfonia de dentro de sua interpretação do papel, tornar o texto da prosa mais ritmado,
Haydn de exemplos de RITMO SIMPLES, ao p:lsso que alguns trechos de çando as "Circunstâncias Propostas" o exigirem.
Stravinski, são exemplos de RITMO COMPLICADO. Vejamos um exemplo que em primeiro lugar, vai nos provar a existência
. . Mais tarde, por meio de vários exemplos, verificaremos que a complexi_ real do tempo-ritmo achado por atores intuitiuamente e, em seguida mostrar
dade do-"tempo-ritmo- na arte dramática decorre do fato de-que freqüente- por onde um ator deve começar para vencer a dificuldade do uso consciente
mente ele é composto de vários tempo-ritmos diferentes. NessÀ casos-vamos fusse tempo-dtmo.
I

1,'[

EUGÉNIO KUSNET ATOR E MÉTODO 89


88

Em cinema os atores rePresentem cenas qüe sãci Íilmadas em esPeços de


MODERATO: J 80
tempo relativamente curtos; essas cenas são ligadas entre si em "copiões";
fu-ie t dublagem dos diálogos' colocam-se os sons suplementares'-etc.:
ligam-se os "cãpiões" e o Êlme está quase pronto. Falta apenas a música.
tevr müio dirreÍdo à moa
CÍega um compLsitor, âssiste À exibição do filme e depois escreve e Srava a
música.
Sabemos que a música é composta de harmonia, melodia e ritmo. Onde
é que o co-posito. poderá enc;ntrar o ritmo Para essa sua. música? É echo que qucbrei dois copos
eviãente qo" ró podeiá encontrá-lo na ação que se desenrola no filme,
em mcditação

inclusive, Lem enierrdido, no comportamento físico e nas falas dos intér-


pretes dos papéis. Portanto o compositor não inventa um ritmo novo, ele
*b["ttr, cãmpleta e em Parte' corrige o ritmo já existente, criado pelos
intérpretes intuitivamente.
(O tmborilü dos dcdos)
Mas, se. em vez de assistir ao filme Pronto' o compositor recebesse
apenas para o qual devesse escrever um "fundo musical"? Esse
o "script"
"'frrrdo *osicil", ..i.do pot um bom músico, certamente seria de grande
utilidade para os intérpretes dos papéis, porque os faria sentir o tempo-ritmo
da sua ação no filme.
E se o próprio ator tivesse essa capacidade de criar o "fundo musical"
para cada J"n" do filme? Se ele, a exemplo do compositor, conseguisse
;'p.rrr", musicalmente" enquanto improvisasse as cenas do seu papel? O seu
Br êu t. -Í pan de um poscio perto do montuhs , . .
tempo-ritmo estaria pronto muito antes dele enfrentar a câmara'
É etse o problema dos estudos do tempo-ritmo na Prosa.
Um exemplo do uso do "tempo-ritmo" num esPetáculo de pura prosa, Devo acrescentar ainda que es pequenas peusas no trecho "presto" eram
foi ..o Diário ãe um Louco" de N. Gogol. Os seus criadores, Ivan de Albu- preenchidas com uns golpes de respiração ofegante, que continuavam mar-
querque e Rubens corrêa chegaram a criar um verdadeiro exemplo do uso cando o "tempo-ritmo" mesmo nâs pausas.
á"rr"'"1"-"rto no trabalho deleatro, Se o "tempo-ritmo" do espetáculo foi E notem que não há nenhum exagero no meu exemplo: os pentagramas
criado intuitivamente no correr dos ensaios, - e é exatamente isso que eu acima produ-zem fielmente as pausas e o ,,tempo-ritmo';usado-po, {uben,
zuponho, - é certo que, depois ele foi fixado e usado conscientemente, pois corrêa, detalhes_estes que rirei meticulosamente da gravação que fiz durante
toào. o, detalhes dó "tempo-ritmo" se repetiam com precisão nos esPetá- um dos espetáculos.
culos. Como já disse, o espãtáculo todo foi marcado pelo uso exemplar do Entretanto, durante a representação, nunca me p:rssou pela cabeça a
..tempo-ritmõ',, mas há cinas em que esse fator torna-se particularmente i-déia do "tempo-ritmo" que Rubens Corrêa o."rr; e,r-ri-plesmente senti a
cl"ro. Escolhi uma cena cujo "tempo.ritmo" me PaÍeceu tão claro lUe vi a força de sua interpretação.
possibilidade de apresentá-lo em forma gráfica, como em müsica' E o que - Espero ter tornado bastante clara a razão porque devemos usar esse
vou tentar em seguida' elemento do Método no nosso trabalho.
sobre a possibilidade dele F, agora surge um problema mais difícil: o que devemos fazer para
Nessa cena o personagem, depois de meditar .
ser descoberto o único herdeiro do trono espanhol, de repente tor- descobrir o "tempo-ritmo" desejável? Em que foima ele entra no nosso ilr
"oào
rrr-se muito triste: por algum tempo, ele volta à realidade, lembra-se do que trabalho?
sua .-pr"gd" Mawa. É a parti. desse momento que eu gostaria de Nas aulas de "tempo-ritmo" os estudantes chegam a compreender o
disse
problema através de várias experiências práticas cujo conteúdã é muito
fizer t minha demonstração.
ill
90 EUGÊNIO KUSNE|r ATOR E MÉTODO 91

difícil de se explicar por escrito num livro. Tentarei aPresenter uma idéia conveniente para as pe-ssoas pouco versadas em música. os que conhecem
çe talvez torne possível uma ou outra experiência pessoal- música ou possuem o dom musical, podem preferir o uso de tàchos de uma
- Longe de mim a idéia de dar aqui uma receita
Para o uso do "tempo' música coúecida cujo ritmo corresponda na sua opiniâo, às características
ritmo", Esse elemento é de uma sutileza e complexidade tão grandes que a do texto. sendo essa música conhecida, poderia .., faciim"rrte gravada na
dificuldade de seu uso só pode ser vencida Por um longo e sistemático memôria do ator, seria ainda-melhor se eÍe pudesse compor uma"espécie de
trabalho com muitas e muitas experiências práticas que semPre devem ser "música de fundo", como o fez o nosso hipttético comiorito.
feitas sob um controle rígido. "-'"irr"-".
E finalmente, há atores de grande senso .ítmlico cuja imaginação cria
e fixa o
A sugpstão que pretendo fazer aqui, só deve ser encarada por vocês "tempo-ritmo" que não precisa ser gravado, .1" o texto por
como um meio de adquirir aPenas uma noção de como se cria e se usa o pura intuição do ator.
- ""oÀp"rh"
"tempo-ritmo". Não se "mpólguem pois com uma possível sensação de Agora quero lembrar aos leitores que, sendo o .,tempo_ritmo,' um dos
sucesso nas experiências que vou ProPor.
-
fatores da ação humana,-ele obedece às leis que regem a
Vamos usar parâ esse fim o exemplo de Rubens Corrêa. Imaginem que o
irópria ação, _ ele
tem, simultaneemente dois aspectos: "tempo-ritÀo inieriàr', e ,,tempo-
"tempo-ritmo" do trecho citado fosse criado por uma simples intuiçâo' ritmo exterior". os dois raramente têm :rs mesmas características, como
Nesse caso, nem o prôprio Rubens Corrêa teria noção do "tempo-ritmo" também raramente as tem a prôpria ação em seus dois aspectos.
que ele mesmo criou. O uso simultâneo dois aspectos do ,,tempo-riimo,' produz o que
Mas se ele pudesse ouvir a gravação da cena e transcrevê-la' como eu a .dos
chamamos de "tempo-ritmo compo-sto".
fi2, teria diante dele a reprodução, em forma gráfrca, do "tempo-ritmo" que Na cena de "o Diário de um Louco" temos um raro exemplo do contrá-
ele criou intuitivamente e cuja existência ignorava, Assim ele teria o seu rio, isto é, de "tempo-ritmo simples".
" tem po-ritmo" c onscie ntiz aào e mat e ri ali z a do vi s ualmen t e. Que os leitores mais esclarecidos em psiquiatria me perdoem a simplifi-
úa, poderia ir ainda mais longe em suas experiências, Em vez de caçâo exagerada que eu adoto para tornaimais cl"r, estárápida explicação.
"le
dizer o texto da cena em voz alta, ele poderia "pensá-lo", como se o texto Psicose é caracterí.za{1 p"t" perda do senso de realidade obj'etiva.
o
fosse o seu "monôlogo interior" e, enquanto pronunciasse mentalmente as mundo objetivo é substituído rr"
-int" do psicopata pelo mundo fítástico,
palavras, marcaria cada sílaba com uma batida na mesa' Toda a seqüência que o seu cérebro doente criou.
àessasbatidas deveria ser registrada num gravador de som' . Nessas condições não há contradições possíveis na psique do doente, ere
Ao ouvir a gravação, ele estaria diante da materialização, desta vez diz o.que pensa e pensa o que diz. Daí-a unicidade do seu 'i.^po-ri*o".
sonora, do seu "tempo-ritmo" qr", acredito deveria causar-lhe as mesmas pessoas consideradas psiquicamente normais ,irem permanente
-As entre a "m (interpre-
sensaçóes que ele já tlnha obtido intuitivamente, o que certamente seria de conÍlito, ."Jid"de objetiva e a representa
.p:rc.epçio .d" ção
grande utilidade no seu trabalho' tação) dessa realidade. Daí a permanente divergência entre . irt".io.
Portanto, seria útil se o ator, ao ensaiar, pudesse dizer o texto da cena ("Monôlogo Interior") e a ação fÍsica (fatas e moíimentos). "çaà
ouvindo simultâneamente o som gravado do seu "tempo-ritmo". Para ilustrar isso com.um exemplo muito simples, proponho que
imagi_
Mas, não podendo semPre ter a seu lado um gravador para poder ouür o nem uma vendedora de feira, rrum dia de muito ."lor, ,.nà"ndo .ir"
,,tempo-riimo" enquanio ensaiasse a sua cena, ele seria obrigado â gravâr doria, ügamos, frutas. -....-
seu
os sons da percurssão na sua memôria. A sua "realidade objetiva" é essa: sol impiedosamente quente, sonolên-
Nessas condições, enquanto estipesse dizendo o texto da cena, ele pro- cia, fraqueza, apatia. Sâo esses os fatores que originam o ,e'u ,,t"mpo-.it,,,o
cttraria outir mental^"ni, o "tempo-itmo" grartado que, assim correria interior" muito lento,
paralelamente ao texto, ativando ainda mais o efeito causado anteriormente Mas a sua "realidade subjetiva" é a absoruta necessidade de vender,
outros elementos do Mêtodo, com "a visualização", "o mágico SE quanto antes, suas frutas. Por isso ela tem que gritar alto e alegremente os
|los
FOSSE", "o monólogo interior", etc. das frutas que vende,- para chamar i atÃçao . pro.,o."f a simpatia
suas experiências 1om1
dos tregueses. E isso que forma o seu "tempo-ritm; exterior" muito
. É este o caminÉo qo. me parece aproveitável para
pessoais, na forma que nôs usamos em nossas aulas. agitado.
A maneira de fixar o "tempo-ritmo" através de uma percussâo, como -o "tempo-ritmo composto" resultante da fusâo dos dois, deve dar o
exemplificamos acima, evidenternente é longe de ser a única. Ela é mais resultado procurado
- a contradição humana.
92 EUGÊNIO KUSNET ATOR E METODO 93

Sempre procurando meios <ie dar a maior clareza possível às minhas .batidas
.9
r:g""do pentagrama mostra o ,,tempo-ritmo', básico em forma de
explicações, vou novamente recorrer a exemplos apresentados graficamente, do metrônomo e deve ser mantido antes, durante e depois da,,fala
embora saiba que a matéria tão sutil como o "tempo-ritmo" não possa ser interna", bem como durante todo o diálogo.
reduzida à materialização exagerada. Assim seria o "tempo-ritmo" da preparação da cena, da sua ,,ação ante_
Vamos pois a um exemplo de "tempo-ritmo composto". rior",
Uma senhora recebe em sua casa vários amigos da família. Ela procura âgora ao texto da cena. Dentro do ,,tempo-ritmo', preestabe_
.lecido,
. .Passemos
ser gentil com todos os convidados para tornar sua visita agradável. Digamos o seu aspecto seria o seguinte:
que kso seja o seu único objetito, Ela está calma e segura de si, Sâo estas as
"circunstâncias propostas". De_pois de submetê-la ao trabalho igual ao que MODERATo: J sa
vocês fizeram nos exercícios dos capítulos anteriores e, principalmente,
depois de criar as "falas Internas" correspondentes à situação anterior à ação
cênica (o que ela fez ou pensou antes da recepção), Procurem executar a PERSON.

ação que contêm apenas duas frases que a senhora dirige a um amigo cuja nas que Prâzer voce PoÍ
visita ela não esperava.
I,íETRON.
SENHORA Oh, mas que prazer! Você por aqui?
-
VISITA - Você sabe como eu gosto de sua casa. Alice nâo pôde vir,
está um pouco adoentada.
SENHORA - Que é isso? Nada de grave, espero? . VISITA - (falando dentro do ritmo basico que o metrônomo continutt
VISITA - Não, nada. batendo) você sabe como eu gosto de suâ casâ. Àlice não pôde vir, está um
pouco adoentada.
É bom notar desde já que entre
a primeira e a segunda frase da senhora
há uma pausa durante a qual ela escuta o visitante. Essa pausa também está
zujeita aã "tempo-1itmo" ãa cena. PERSON.

Que "tempo-ritmo" deve ser usado nessa cena? A personagem está Nada de grave, espcro
cdma, segura de si, contente. Que "música de fundo" você escolheria? Não
seria uma valsa calma, não muito lenta, nem muito viva? Portanto, seria um METRON.

ritmo de 3/4.
O que estaria pensando a personâgem antes de começar o diálogo com o
üsitante? Digamos que seja o seguinte: "Tudo corre muito bem. Graças a VISITA - (sempre dentro do ritmo basico) Não, nada.
Deus!" Esta "fala interna" teria o "tempo-ritmo" que graficamente Poderia
ser apresentado assim: Assim se apresenta o_"temporitmo simples,' dessa simples cena, porque
preestabelecemos que o único objetiuo da senhora seria sei agraür;el', o que
elimina toda a qualquer contradiç'do em sua ação.
MODERADO: J 88 . Mas digamos que as "circunstâncias propostas" sejam acrescidas de unr
elemento novo: a personâgem está em de abandonar seu marido. o seu
arnânte exige que ela o faça hoje mesmo "ias
e disse que telefonaria durante a
festa. Ela não tem coragem dã ir embo.a hoje e nâo sabe o que fazer.
PEP.§oN.
Evidentemente está múto nervosa, mas faz questâo de nâo deixaios convi-
Tudo conc muito Creçes a Dcus! dados perceberem o seu estado.
Que forma tomaria, nesse caso, a preparação da cena?
METRON.
um lado, ela procurari, .o.,r"*à. a calma e, para isso faria o pos-
sível para ela prôpria âcreditar que nada de extraordinário estivesse aconre-

I
ATOR E METODO 95
94 EUGÊNIO KUSNET

cendo, pois só assim poderia convencer os seus convidados. Ela estaria pen-
sando:'itudo.o.r" rrrrrito bem! Graças a Deusl . .."
Mas, ao mesmo tempo, não poderia deixar de sentir o peso de sua Vaê sbc como gosto dc sue cua Alicc nio podc vü . . . ctc
indecisão, o pâvor do que pode acontecer. A sua "fala interna", neste caso
poderia ser, por exemplo: "Que faço? . . . Nâo tenho coragem! . . . Oh! meu
Deusl...".
Se procurarmos unir o "tempo-ritmo" da preparaçâo da cena com outro
que possa corresponder ao acréscimo que fizemos nas "circunstâncias pro- Creio que, embora compreendesse bem a mecânica do "tempo-ritmo
postas", o conjunto poderá ter o aspecto seguinte:
composto", o leitor certamente teria que fazer uma pergunta: "Depois de
criar e fixar os dois componentes ) como poderia o ator ntanter em nrcnte L>
MODERATO: J SA
"tempo-ritmo interior", enquanto exercesse o "tempo-itmo exteríor" com
rclativa facilidade graças ao apoio substancial que lhe dá o ato de dizer o
texto? Onde poderia ele encontrar esse apoio para o "tempo-ritmo
Ntno 1.o
interior? "
Tudo cor- rc muito bcm Gregu Dcus Acho que ele poderia procurá-lo nas ações físicas que acompanham as
,-;\
falas. Basta que essas ações estejam dentro da lógica das "circunstâncias
Ritqro 2.o ír#,1;*1.-2 ffi propostas" e correspondam, por sua natureza, ao "tempo-ritmo" procurado.
Que faço? Não tcnho coreçm Mcu Dcus Todos nôs fazemos mútos movimentos, gestos, sem mesmo nos dar
conta disso. Mas esse comportamento inconsciente deve ter sua razão de
METRON,
ser e, certâmente reflete algum "tempo-ritmo interior". Por exemplo, um
tremor do pé enquanto o resto do corpo está em absoluta imobilidade;
um homem que, falando calmamente, faz um milhão de assinaturas numà
Este é um exemplo de "tempo-ritmo composto", contraditório em que
folha de papel; uma pessoa que rôi unhas, apesar de parecer muito calma.
os dois componentes devem influir um sobre o outro. Como conseguir isso
Todos esses tiques, e muitos outros que vocês podem imaginar,
na prática? Não há fórmula alguma, mas podemos tentar.
podem ser usados, mesmo em cena aberta, para apoiar e, por assim dizer,
Para começar, creio que seria conveniente:
materializar o "tempo-ritmo interior". E cvidentc que esses tiques só
1) Gravar a percussão do "ritmo 2.o" juntamente com as batidas do podem ser usados quando cabem logicamente dentro da ação cênica.
metrônomo, para poder ouvi-las enquanto diz o texto do "ritmo 1.o". Muitos atores usam para fil<ar o "tempo-ritmo interior", os sons, os
2) Gravx a percussão do "ritmo 1.o" com as batidas do metrônomo ruídos e os movimentos em cena, como por exemplo, o tique-taquc do
enquanto pronuncia o texto do "ritmo 2.o". relôgio, o barulho do mar, a trovoada, ctc., e finalmente, a música que
acompanha a cena.
Assim você teria a primeira sensação do efeito de um "tempo-ritmo"
Atores que não utilizam a sonoplastia do cspetáculo são inimigos de
sobre o outro,
si prôprios, pois num bom espetáculo não há sons casuais, - todos eles
Quando você constatar que sente o efeito inquietante e angustiante são criados pelo diretor exâtâmente para fixar os "tempo-ritmos" da
desse "tempo-ritmo composto", deixe de lado as gravações e trate de sirn-
.", etc. Acredito que, nessas condi-
plesmente dizer o texto: "tudo corre . . Peça'
É freqüente nos trabalhos de alguns bons diretores brasileiros, - seja em
çÕes, você poderá constatar que a sua maneira de dizer o texto tornou-se
teatro, em cinema ou em televisão, - que a sonoplastia entra proposital-
diferente.
mente em contredição com a ação cênica.
Se você tiver dificuldade em chegar ao resultado desejado, poderá expe-
'rimentar uma outra maneira, por exemplo, usar o "tempo-ritmo interior" (o Um magnífico exemplo disso é uma cena do filme de Anselmo Duarte,
"ritmo 2.o") ao pronunciar o texto, - ("Qr" faço? . . ." etc.) - enquanto
"O Pagador de Promessas". Nessa cena, enquanto o Personagem, Zê do
Burro, extenuado, perdendo as últimas forças, lentamente carrega a sua
ouve a fala do üsitante.
96 EUGÉNIO KUSNET

pesada cruz, na esquinâ da rua os populares dançam uma batucada num


ritmo frenêtico.
Acredito que essa contradição rítmica foi de grande ajuda no trabalho
do intérprete do papel, Leonardo Vilar. Na platéia nós sentiamos que dentro
do seu extremo cansaço haüa também uma imensa ansiedade. E isto, creio OITAVO CAPITULO
eu, sô podia ser resultado desse "tempo-ritmo composto,,.
Terminando esse capítulo, tenho a impressão de que o leitor talvez sinta
uma certa perplexidade diante do problema do ,,tempo-ritmo". Todas as Lr
fl,té
^ agora, como o leitor deve ter notado, o que nos preocupou foi a
partes do eapítulo podem parecer bastante clrras, mas o conjunto, talvez necessidade de dar uma idéia mais clara possível sobre a maioria dos elemen-
por ser complexo demais, ê capaz de escapar da compreensão. tos do Método de Stanislavski, vistos através dos problemas atuais do nosso
E que, na aplicação prática, o "tempo-ritmo" da prosa raremente tem teatro.
precisão do ritmo musical, como nos meus exemplos que dei apenas para O maior perigo na aplicaçâo prática do Método é sua fragmentação, ou
evitar a fa.lta de clareza. seja, o uso de cada elemento em separado.
A criação e o uso do "tempo-ritmo" depende de inúmeros fatores, dos Stanislavski comparava os elementos do seu Método com os pios de
quais o mais importante é a cstnrtura psíquica, a personalidade do ator, o caçador: basta escolher um pio certo para que toda a caça venha sozinha.
que torna ainda mais complexo o estudo desse problema. Por exemplo, a "üsualizaçâo" adequada da "situação", com seus "círculos
Mas gostaria de terminar este capítulo com uma nota de otimismo. É de atenção" bem selecionados, p.ovoca o surgimento da "ação interior"
precis<.r que o ator confie no poder criador da natureza. É preciso que ele procurada que, por sua vez, cria automaticamente o "monôlogo interior"
saiba estabclccer condições em quc a própria natureza possa criar at.rvés correspondente à ação da cena, contribuindo, com isso na elaboração da
delc. A condição essencial para isso é a espontaneidade do ator. Essa condi- "instalação".
ção sô é conseguidâ através do uso de improvisações, e é exatamente dentro Meus alunos fre<1üentemente me perguntavam: "Mas qual seria esse pio
de uma_ ação improüsada que nesce o "tempo-ritmo',. E então basta que o certo? Como escolhêlo? " Normalmente a respostâ era: "Tente! Tente até
ator saiba fixáJo para que o problema seja definitivamente resolüdo. encontrar o mais útil".
Mais tarde, ao estudar a "análise ativa", - o último método que Stanis- Felizmente, agora há possibilidade de usar um método seguro que auto-
lavski revelou ântes de morrer, - veremos como isso se processa. maticamente envolve todos os elementos. Stanislavski denominou esse méto-
do de "Análise Ativa".
Embora o método da "Análise Ativa" nâo tenha sido usado, até agora,
sistematicamente, no teatro brasileiro, houve muitas experiências feitas
pelos nossos homens de teatro, experiências estas que se aproximaram bas-
tante do método usado por K. S. Stanislavski no fim de sua vida e ampla-
mente divulgado pelos seus colaboradores depois de sua morte.
Infclizmente o próprio Stanislavski não nos deixou nes suas obras escri-
tas ensinamentos sistematizados e concretos, como ele costumava fazer a,nte-
riormente com todo e qualquer elemento novo de seu "Método".
Os adêptos de Stanislavski continuaram, como ainda continuam, as suas
pesquisas, e há muitos livros de alto valor sobre o assunto da "Análise
Ativa". C)s seus autores enriqueccram muito a matéria com o relato das
experiências práticas feitas em teatro, mas como é óbüo, não houve nenhum
que tivesse feito um estudo completo csgotando todos os problemas e todas
as dúvidas.
Resta-nos pois, continuarmos as experiências na base do que eÍé agora
conhecemos. O sucesso ou o fracasso dependerá da nossa habilidade.
98 EUGÉNIO KUSNET ATOR E METODO 99

Em que consiste o método da "Análise Ativa"? Como diz o próprio adquire a capacidade de conceber sempre com surpreia a ação preestabele-
termo, é uma maneira dos atores analisarem o material dramatúrgico: anali- cida, como se ela fosse inesperada.
sá-lo em ação, ou seja, procurar compreender a obra dramática através da Não devemos estranhar esse fenômeno, - temos vários exemplos disso
ação praticada pelos intérpretes dos papéis na base de conhecimentos super- em outras artes. Um pianista, tocando e mesma música em todos os seus
Êciais da peça, e não na base de longos estudos cerebrais. concertos, executa as mesmas combinações de notas escritas na Partitura'
Isso, eüdentemente, pressupõe a diminuição ou quase eliminação, da dentro do mesmo ritmo e leva em consideração semPre as mesmes indica-
análise puramente racional que, anteriormente, representavâ a pârte essen- ções do composítor. E entretanto, se o concertista for realmente um artista,
cial do trabalho com umâ peça. No trabalho com o método da "Análise sempre haverá uma diferença na sua interpretação em cada concerto, dife-
Ativa" basta que os atores conheçam o conteúdo da peça a ponto de poder ."rrç" que os ouüntes constatarão emocionalmente' São bem conheci-
contá-la com clareza, para que a "Análise Ativa" possâ ser iniciada. "rt,
dos os comÀntários dos freqüentadores dos concertos: "Hoje ele tocou tão
Nessas condições, é eüdente que a única maneira de executar a ação da diferente! Parecia outrâ música! . . .", mas em que consistia a diferença, esse
peça nos ensaios é improvisáJa de acordo com que os atores acabam de ouünte não saberia explicar. É pois evidente que o pianista também impro-
conhecer. visa dentro dos limites obrigatórios da obra musical, tocando-a como se
A improvisação é a base da criação em todas as artes. Improúsa o fosse pela primeira tez.
escultor, improvisa o músico, improvisa o ator, Não improvisa o contador, o O que estimula a sua improvisação são vários elementos que se encon-
mecânico, - no seu trabalho eles apenas imitam o que já foi criado e tram fora da obrigatoriedade e que variam de um concerto Para o outro: o
transformado em regras fixas pelos outros. seu próprio estado psicofísico, a sua "visualização" da obra musical, a
O artista sempre cria coisas inéditas. Por isso um músico ao criar ou ao reação da platéia.
executar uma obra musical não deve sofrer influência de outras obras ou Na prática do ator esses elementos são ainda mais ricos e estimulantes.
outras interpretações, senão ele corre o perigo de imitar em vez de cnar, A Sem contar a influência do seu estado psicofísico (que em grande parte
sua ciação deue ser sempre espontânea. depende dele prôprio, pois a predisposição para o seu trabalho artístico
Em teatro a espontaneidade é a mais importante qualidade de um ator. depende da sua "primeira instalação"), há um vasto camPo de surpresas
Espontaneidade e talento tornaram-se, em teatro, quase sinônimos. A frase: esiimulantes, que representâ o seu contato, em cena' com os companheiros'
"ele é um ator muito espontâneo" pode ser substituída pela frase: "Ele é de que também nunca representam com a mesma precisão, bem como a reação
muito talento". Se partirmos do princípio de que â espontaneidade se revela da platéia, que em teatro, geralmente, rcage da maneira mais sensível do que
na ação improvisada, - ou vice-versa, que a ação improüsada é o resultado nos auditôrios de música.
da espontaneidade inata, - podemos chegar à conclusão de que o dom de E note-se: num verdadeiro teatro o espírito de improvisação nunca
improvisação bem desenvolüdo pode substituir o que chamamos de talento. perturba, nem prejudica a harmonia do espetáculo' Porque todos os_ atores
Mais tarde veremos como se processa a improvisação no correr dos são acostumados a improrisar sem nunca perr)er de uista os objetitos
ensaios pelo método da "Análise Ativa". Por enquanto quero apenas frisar comuns e, por isso, sempre improtisam dentro dos limites preestabelecidos.
que a presença da improúsação, numa ou noutra forma, é absolutamente Isto é, dentro das "circunstâncias propostas".
necessária em todas as etapas do trabalho, a começar do primeiro ensaio e O exemplo mais convincente desse fenômeno é o jogo dc futebol. Nin-
terminando pelo último espetáculo. guém duüda que o sucesso de um jogador de futebol, depende da sua
Para o leitor deve ser bastante clara a idéia de começar os trabalhos pela capacidade de improüsar o jogo, conforme âs surPresas que lhe causa o jogo
improvisação de uma ação apenas conhecida superficialmente, Mas como dos adversários; mas o seu improviso, por mais agudo que seja' nunca pode
improvisar aquilo que já foi decorado e repetido mil vezes nos ensaios e nos ser totalmente livre, porque dele dependem os seus dez companheiros que
espetáculos? Como poderia funcionar a espôntaneidade do ator nessas têm em mira o mesmo objetivo que ele: gol'
condições ?
Para desenvolver o seu dom de improüsação o jogador de futebol üve
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que não estamos falando de treinando, sempre tendo em vista o aPerfeiçoamento da técnica do jogo de
improvisação relativamente liwe, como no início do trabalho, e sim da conjunto, e não apenas o seu sucesso pessoal.
presença do espírito de improvisação, numa ou noutra forma, durante todos É o que deve {azer também.o ator: treinar o seu dom deimproüsação
os períodos do trabalho com uma peça, E isso só é possível quando o ator no sentido de desenuoluer a sua receptitidade da ação dos outros, ou seja, a
ATOR E METíJDO 101
100 EUGÊNIO KUSNET

mas alterações de ordem técnica, transformou-se no que hoje conhecemos


capacidade de usar em cada nova improvisação o máximo de sua atençâo como "Análise Ativa",
para perceber a ação dos outros, compreendê-la, comentá-la e depois (só "Em cada ação física", dizia Stanislavski "se ela ntío for mecanízada
depob) reagir, pois é através da açâo dos outros que nós concebemos o
início da nossa própria ação.
(grifo meu - E. K.) esconde-se uma açâo interior, um sentimento". Os
comentaristas das obras de Stanislavski, K. C. Kristi e V. N. Prokofiev,
E oportuno lembrar ao leitor que a receptividade de que estamos falan- acrescentam a isso: "Mas por meio desse novo método o ator chega aos
do, tem as mesmas características dos "círculos de atenção" e das leis da sentimentos indiretamente, através da üda orgânica do corpo humano".
fala humana de que tratamos nos capítulos anteriores. Para que os leitores possam ter uma idéia mais clara sobre as origens da
Graças ao seu poder de receber, o ator consegue captar, em cada novo "Análise Ativa" e da sua organicidade dentro da arte dramática, remeto-os
espetáculo, novos detalhes da ação cênica, aos quais por serem novos para ao trecho do livro de Stanislavski, "A Criação de um papel" (Ediçdo Ciuiliza-
ele, reage com a autêntica surpresa. Essa faculdade quando bem desenvol-
ção Brasileira, pag.238), em que ele apresenta um diálogo imaginário de um
vida, garante ao ator a possibilidade de sempre estar dentro do espírito de professor da escola dramática com um grupo de atores famosos. É impot-
improvisação e poder lutar contra o maior flagelo do teatro: a mecanização
sível imaginar uma explicação mais simples e mais clara.
progressiva dos espetáculos em cartaz e o uso costumeiro dos "clichés" pelos
Quanto à maneira de que Stanislavski usava para realizar o trabalho com
atores,
a "Análise Ativa", encontramos explicações muito claras a esse respeito no
Mas mesmo se o ator reconhece plenamente a necessidade da improvisa-
livro "A Vida Toda" de Maria Knebel, antiga aluna, atriz e colaboradora de
ção no seu trabalho, pouco lhe ajudaria o conhecimento teórico do proble-
Stanislavski. Em 1936, dois anos antes da morte do mestre, ela foi convi-
ma e algum dom natural. O dom de improvisação, salvo raras exceções de
dada a lecionar no seu último estúdio exatamente na época em que Stanis-
grande talento, só se torna produtivo depois de passar por longos períodos
lavski estava realizando suas primeiras experiências do novo método, com os
de exercícios e treinos de imaginação,
alunos da sua escola e os atores do seu teatro.
Alguns dos nossos diretores, adeptos sinceros do método da "Análise
"Os primeiros experimentos", escreve M. Knebel, "consistiam no uso de
Ativa", acabaram abandonando-o porque não encontram âtores capazes de dois elos inseparáveis: um rápido reconhecimento dentro das "circunstâncias
improvisar. Os atores de longa prática em teatro profissional, acostumados
propostas", por meio de raciocínio e, em seguida, um "laboratório". (*)
durante muitos anos com o método de análise cerebral, sentem-se muito
"O reconhecimento por meio de raciocínio pressupunha uma metodo-
mais à vontade dentro do ambiente dos "ensaios à mesa" e, conseguindo logia muito mais precisa do que a anterior divisão da peça e do papel em
bons resultados, simplesmente grâças a seu talento, não vêm nenhuma neces-
"pedaços" (**). Nasceu o tratado sobre os "acontecimentos" ou, como diz
sidade de aderir ao método de improvisação. Stanislavski, os "fatos ativantes" da peça, que pudessem ser usados como
Quanto aos atores jovens, produto das nossas escolas, infelizmente eles verdadeiros propulsores da ação".
não entram no trabalho em teetro profissional solidamente armados com a No Brasil nôs adotamos o termo "Roteiro dos Acontecimentos".
prática de improüsação. A seleção dos "fatos ativantes" é um problema difícil. Um erro do
Apesar das condiçóes econômicas difíceis em que, geralmente, üve o diretor, nesse sentido, pode prejudicar e desvirtuar o trabalho dos atores ou
nosso teatro, alguns diretores, diante dessas deficiências, "dão-se ao luxo" dos alunos.
de treinar e instruir os seus atores em matéria de improvis.'çâo, antes ou Em primeiro lugar surge o problema: os "acontecimentos" devem ser
durante os ensaios da peça escolhida. Essa medida, embora incompleta e âpresentados com muita clareza, com muitos detalhes, ou superficialmente?
insuficiente, chega a ãar resultados apreciáveis porque, através ãela o Iú Knebel conta que, quando ela apresentava a Stanislavski a sua lista de
diretor consegue criar e manter a comunicação emocional entre o palco
e a platéia, que a meu ver é o maior problema do nosso teatro atual-
mente.
A improvisação de uma cena representa execução de uma série de ações (*) Tanto M. Kncbel, con)o o prôprio Stanislavski, usavam cm russo uma palavra
francesa "étude", no scntido de "esboço de um cstudo". Preferimos adotar o
físicas cabíveis dentro das "circunstâncias propostas", que já sabemos,
termo "laboratório" por ser mais usual no lJrasil.
envolve automaticamente a ação interior do ator. A permanente interdepen-
(++) "Unidades de extcnsâo", como consta da tradução brasileira de "A criação de unr
dência desses dois fatores foi colocada por Stanislavski como alicerce para o papelt', pag. 248.
seu "Método de Ações Físicas". Mais tarde este método, com apenas algu-
to2 EUGÊNIO KUSNET ATOR E MÉTODO
103

"acontecimentos", ele invariavelmente lhe propunha cortes drásticos, para atores acostumados com o- método de improvisação,
a escorha deve ser feita
que a peça pudesse ser vista pelo ator, como ele dizia, "du vol d'oiseau", isto pelo diretor, conforme vários fatores q,r"'"I"
a""" r"r*-"*r-.liria"."çu", .
é, no seu aspecto geral em que se destacasse apenas o mais importante, nível intelectual e artístico do seu,elenlo, a
experiência profissionar dos seus
deixando os detalhes aos cuidados da própria "Aná,lise Ativa". atores' a complexidade da obra dramárica,
ir"uiria"ãáà" frãpl" air"r".
"Quanto ao sentido dos "laboratórios", continua M. Knebel, "a idéia de de despertar a atenção e a curiosidad"
do, " através de trima'narração, o
Stanislavski também mudou. Anteriormente, ele improvisava com os alunos "tor",
prazo que ele tem p:rf,a os ensaios, etc. Enfim,
é prátic" qu"-fãá" i"ai"* .
várias cenas "em redor" da peça. Os "laboratórios" referiam-se ao passado melhor escolha. o importante q-" o di.etàr "
9 não perca de vista o objetivo
do personagem ou âos episódios capezes de esclarecer a "biografia" do desiertar o maior inte.esse porríJ.
t, personagem, Posteriormente, os alunos faziam "laboratôrios" sobre os acon- :.""T1,*:"i:""
o esprrrro cÍosl)1-neríodo:
arores ,..p"r".
..é.ie
tecimentos da própria peça". pequenos exercícios de .p-1 " improvisaçâo da ação cênica. Um, d"
"visualizição" e de "mlnórogo inr"i".", .o-"
Stanislavski nâo se cansava de repetir que o método da "Anáüse ativa", que sugerimos no fim do tercei.o capíturo, ,";-"-
permite, âo ator incluir no processo de análise nâo somente o seu cérebro, ]9]eles
*o.:.Pill d. s.lnáe utili-
poderiam predispor o ator para o d. improvisaçeof
como támbém o seu corpo. Assim o ator penetra fisicamente no âmago da (J unrco membro da equipe, "to
que deve conhecer d"i"lhadamente é
ação, dos choques e dos conflitos em que o personagem toma parte. o diretor. Ele deve estar em.àrrdiç0". de ,.rford.. " i"ç"
a todas as persunras dos
Embora aparentemente muito simples, o método, na sua aplicação prá- atores, mes em hipótese dguT", d"re co-.ir
or.t."b.lho, pãüir"". p.a
tica, apresenta muitas diÍiculdades por não ter sido ainda suficientemente prios comentários. A razãá desta ,ecomendaçâo
é óbvia: q"'.^i"
sistematizado ples e menos detalhada for a ação proposra, -à ,ir"-
tanto mais liwe será p.r-";"
Stanislavski deixou-nos um plâno, bem concreto, de trabalho com um improvisação dos atores. "
papel pelo "Método de Ações Físicas", no seu citado livro Qtag. 248). Pela Na medida do possível, tudo deve ser entregue
à iniciativa do ator, É ele
riqueza dos detalhes e pela sua clareza, esse plano deveria servir de exemplo,
çe deve procurâr as melhores corrdições para o seu próximo improúso e,
aparentemente ainda hoje, para quem se interessasse por esse trabalho espe- portanro, é ele que deve pedir
sobre J q";il; ;;:;, ,rg"
cífico. Mas o plano foi criado no período anterior àquele em que M. Knebel "r.1".".i-"rtos
ou insuficienre durante a- leitura ou narraçâo d" i;";;: Er;; ã;;;p."",
cooperou com Stanislavski na elaboração e nas pesquisas do método da orientá-lo para eütar, desde o início, erros jrimários.
"Análise Ativa". Como já vimos, Stanislavski alterou profundamente alguns O diretor não deve começar a improvisaçâo de uma
detalhes, principalmente no que diz respeito à diüsão do material dramaúr- determinada cena
antes de constatar que os atores estão
em condições d" p"d;;,--"'-"-*'
gico em "pedaços", substituindo-o pela seleçâo dos "fatos ativantes". Ele
morreu antes de concluir esse trabalho.
1) Contar o que acontece ne cena. Em termos de ,.lnstalaçâo,,
(vide o
quarto capítulo) isso significa: responder a pergunra,
Os seguidores de Stanislavski continuaram suas experiências. Alguns qual é a,,ritr"çai,,
publicaram os resultados obtidos, mas não é fácil assimilar a técnica do
que se processa a ação em cada determinado
p.iíodo da cena? "_
mêtodo através da leitura dos livros e artigos escritos a respeito. Eles não são 2) Resp.onder. a pe.rgunta:
.euais os objetivos do ..necessidades,,
termos de "l nstalação" isso significa: personagem? Em
concludentes e, às vezes, são até bastante contraditórios, o que nos dá a guais sao as i'l1l

impressão de que todos os trabalhos dos adeptos de Stanislavski ainda se personâgem gue ele precisa satiifazer em cada -p".iãá" do
determinado a"
encontram em fase de pesquisas indiüduais. Não nos resta, pois, outra solu- cena?

ção senão seguir o mesmo caminho de experiências na base do que conhe-


cemos até agora.
. 3) Responder o que faria o ator: como ele estaria agindo Íisicamente se
estivesse-na situação do.personagcm que lili
procur" ..rlir"i,.", E",
Baseando-me em algumas experiências feitas por mim, procurarei dar termos de "lnstalaçâo" isso signúcar ito-", "ú;"ii""..
a atitude ativa,, corio se o ator
uma idéia do uso desse processo. rosse o Personegem.
Qual seria a melhor maneira de iniciar o trabalho de uma peça, pelo (Aqui que fazer uma ressarua muito importante. Asr
método da "Análise Ativa"? - quer.dizer
trão
.temos
executar apenas uma série de gestos e mouimentos
fisicamente
do oerso-
. Eu hesito entre uma leitura (uma só!), e uma simples narração da peça tutgem. E um eno interpretar assim esse termá
cre stanislaush:i. À-f"t"ír" o_
pelo diretor. A meu ver, as duas formas sâo válidas pâra uma experiência ra tamüm é uma ação'física. Era é c-oweqiiéncia do
com os alunos de uma escola dramática. Mas num trabalho concreto com os prtanto, também faz prte
peasam"-ri i,àn"
da aça-o física do perrorogem). "
ATOR E MÉTODO 105
EUGÊNIO KUSNET
104
Gostaria de ilustrar essas dificuldades contando um caso que se deu
UmavezconcluídaessaPrimeirapartedotrabalho,a..Instalação',se comigo durante o trabalho de estudos com um grupo de atores.
a cena'
de improvuar Numa das aulas, escolhemos como material para o exercício de "Análise
efetua e o ator está em condições o diretorexplique
É importante q", ;;;;á;-"ot"çL Ativa" a cena final de Trepliov no último ato de "A gaivora" de A. Tchekov.
;i"r;J"ào', "improvisacão'
6 um estado de pÍontida=o psíco' O personagem, depois de ter definitivamente fracassado como drama-
lavamente aos âtores ü;-; tarefa' Em teatro' Para conse- turgo, acaba de percler Nina, a única mulher que ele amava. Depois de uma
fíri;"';;t; a realizaçãoie uma determina-da
i"tit"d" ativa" diante dos prãblemas do
guir essa prontidão' t "; ;;;; cena de extremo desespero, Nina sai. Sozinho, durante um longo silêncio,
a improvisação eleninca deixa
de
personagem' o qo" qo"' di'"': durânte Trepliov chega à conclúão de que nada mais resre na suaüda
iir'J ;ii"rtiroião"'e o " monôlo goapesar interior." do personagem' não há outra saída senão a morte. Durante uma pausa de dois "!r., "go.",
minutos ele
da.apai""t" da "situação"
sem isso, mútas ';'":;;;;;t";^"i.tiado "ltt"'"de umrtrabalho Êca rasgando lentamente todos os seus papéis e manuscritos e os joga em
pela'perspectiva baixo da escrivaninha. E é estranho que a única frase que ele pronuncia
e das,,necessidades", í"""rãr, do p'ábl"-' e Passer a descobrir'
muito atraenr", durante essa cena é: "Nâo é bom que alguém encontre Nina no parque e
'"tit"a em vez de
em Drimeiro lugar, o ;": ;""t;;;';;-tt i""t" o pttto"'g"*'
",qo""Jio-úà
^,;ttf,o"át']"
depois conte à mamãe . . . Isso pode magoáJa . . ." Com isso ele sai. Entram
ele/aria no lugar do personagem'
:ili"^t,,,.*'". PerguntE o que os outros personagens e, dentro de uns poucos minutos, ouve-se um tiro,
t"6""'o' como é'tent"do' descãbrir' desde os pri- Trepliov acaba de morrer.
Todos nós, atores'
que levam o Personagem "às lágrimas O ator designado para esse exercício conheceu a peça, conforme nos
meiros momentos' os'';;;;;';"
ou "ao riso cristalino"'
-"''Éioi-tritti'
amargas" r rr r -lli.^ Ativa"
Âti.ra" não é disse, através de uma única leitura na véspera daquela aula.
de que o ob.jetivo da "Análise Ao comentar a cena muito superficialmente, procurei evitar detalhes,
"' "-plüitt t"ál-i'"' a compreensão do que o deixando tudo, a título de experiência, aos cuidados do aluno. Ele falou
a busca de emoções,';t;';-P;ãp"i" natural de uma ação
personagem faz' As emoçóes
ütâo como conseqüência sobre os seus insucessos em literatura, sobre as suas relações com Nina e,
certa.
particularmente, sobre a cena trágica entre os dois no último ato.
recomendava que antes de comeÇar Eu me dei por satisfeito, mâs, entes de começar a improvisação, lem-
Conforme já dissemos' Stanislavski
Ativa"' o ator ipreciasse a peça 'dc
o trabalho pelo métoá;i'1ie"aitt- procurando ver aPenes o mârs
brei-lhe da necessidade de preocupar-se mais com a ação física do persona-
,ol d'ãi"""";' sem detalhes' gem, do que com os seus sentimentos.
;;;1,;;; 1í'du
t*t";::lt;;"blema O aluno concentrou-se e, em seguida, improvisou a cena da destruição
do diretor que''repetimos'
exige muito cuidado da parte dos papéis e a cena do próprio suicídio (esta última não faz parte do texto
q";;;"" a peça profundamente' E
u . ;:l:"Tlãililt";i;; 'o"i'""'
de "fatos ativantes" que Possarn
da pega).
ele que d"r" p'eest"L;ü;;; t'mínimo
-ãI
ação durante a impro-
E preciso dizer que o aluno improvisou as cenas com muita sinceridade,
,.rúi, como A*" Sr""i"i"".ú, fr"pulsores da ümos lágrimas nos seus olhos, E entretanto as cenas produziram pouco
üsação'
----'P"r" a efeito sobre os presentes, não comoveram quase ninguém.
nôssâm
^^ ativantes"
^+I.'^-rac" realmente servir de propulsores'
possam rea Para esclarecer a razão disso, pedi ao ator que nos explicasse qual era o
que os "fatos muiio menos pela
divisão da peça ";;;;;"-i"'"ntás" deve '"' "toti'"d" seu "monólogo interior" durante a concentração e o que ele estava pen-
"- que sofrem as "necessi'
mudança a", "ti*"çâ"tl;';;; F"["'."lte'"çõ"' em que mu-
sando ?
áeve descobrir os momentos
dades" do personaçÃ'-o aitti"t no momento - "Estava pensando na minha morte próxima", - respondeu ele, "na
o'-oú5t'i'os do personagem e' exâtamente
dam as intenções j'''i
L *,d.,'ç", i,''"*o*p""" menos u:*
"
dor que causaria a bala ao penetÍar no crânio, no desespero da minha mãe e
dos outros durante o meu enterro, A visualização muito intensa de tudo isso
grave' T::"1J#"i:l,iL",Iliu",
sobre a
eo!
Outro problema, não conhecimentos
causou-me uma enorme tristeza",
;;; A insuÍiciência de
peça, que o diretor'd;;; ""to"'o-ttt'
levar os atores muito longe do conteú-
- "E que mais? " - pergtrntei eu.
àâs ".i..orrrtâ""i"' P;;;;';;;" de tempo injustificável' P-or
outro - "Creio que foi só isso", e provavelmente vendo o meu desaponta-
do da peçâ, o qo" *i'Jtntaria uma perda
é cePaz de PreocuPar
mento, continuou, - "Você ácha pouco? Mas você mesmo disse que eu
;ü5:;;tã-a" í"'ãí"' "-uo'"L"ito úteis em si'ação' Como encontrar
deüa preocupar-me mais com a ação física. Por isso me preocupei com o ato
:;;"""' " to" liberdade de
da minha morte".
demais o ator e' "t;;;
uma medida certa?
ATOR E MÉTODO t07
106 eucÊNto KUSNET

Desta vez não ümos lágrimas nos seus olhos, ele parecia quase
,,Mas eu não disse", - respondi eu, - "que você não devia .preo- mas a tensão nervosa que a cena causou entre os ,.us iolegas,
calmo,
- disse? A frustàção de toda a sua
vida' o i.rou
cupâr-se com úú ,o,a"' io'úcídio' Nina' não deles às lágrimas. "lgum ilil1
desespero ao perder Pensou
seu fracasso como dramaturgo' o seu o seu."monólogo interior", que ele procurou restabelecer em voz alta,
em tudo isso? " correspondia à nossa sugestão, . r,". fÀ"r que desta vez ele citou, não
nis-so? "
- "Quando eurasgava
Poüa PensaÍ
os papéis"'
houve nenhuma referência aos "sentimentos rãgicos", nâo houve ,rr.i,
qrr"
ilili
- "Enquanto .. um raciocínio sobre a situaçâo sem outra saída senâo a morte. Entretanto,
a
- "Bem, eu Penser' mas ' ' ' antes"' sua improvisação foi um verdadeiro exemplo de comunicação
emocional
- "Quando"? entreoatoreaplatéia. ililtl
depois da leitura da peça"'
- "dnr.rn,vale'dizer qu-e desta vez não pensou? "
uma excelente demonstração de como se usa uÍn simples raciocínio no
- "ó-;;.
,,É.rerdade",
trabalho com a "Análise Ativa" e como disso resultam .áoções, e i"ã"
- - confessou o ator' anexo do liwo "A criação de um papel". "o
alto demais' ele só via a morte e , Numa cena que não foi publicada no texto do livro, o professor Tortsov
Resumindo: o seu "vol d'oiseau" era barata
em ,.o
demonstra aos alunos d, escól^ o trabalho com o papel d. i(ert"kor,
suas conseqüências, o que lhe
causou uma grande auto-piedade lchaue
sobre "as circunstâncias inspetor geral", na cena de sua primeira entrada. pa.a maio, clareza, traàrzi
pra todos o, ^."uaii^Ã)' e' i"fotãaçóes foram insuficientes' Na Peça o um pequeno trecho, no qual o professor Tortsov raciocina em voz alta
propostas", que ele ;; improvisação
"t; do que cnquanto ensaia a cena, improvisando tudo,
íato de sua morte '"*"'i""otiápo'ta"ci" "t:""t"t-1:::"Yf:
por si' pouco rmPresslona'
ao suicídio. Se as causas são omiiidas'
a morte' ". . . Estou com fome, mas onde é que vou arranjar comida? Não sei o
Embora absolutamente sincero' o
ator não caltsou ao expectador mars que fazer' Mandar ossip ou_ir pessoalme-nte ao bufetã e fazer Iá um grande
pouco mais do que causaria uma cscândalo com o dono da hospedaria? No lugar de Klestakov
do oue "a pena a" ttti"ái"r'" qt'" mo"t"' cstaria indeciso". "r,
,.]rrbé-
norài, policial num jornal'
que ele esquecesse detalhes Tortsov novamente saiu do palco. Demorou fora muito tempor prova-
Tudo isso eu contei ao ator, e receando
importantes, p"U q"t- ttpetisse todas
as oue levaram Trepliov ao mental-Ãt" d". ,.circunstánci". p.oport"r',,,' '
velmente para se cercar
'azõJs d'
,,ri.ídio. Quando .h ;';:;i" Jst;d""lt" "o"to' Ptt:*TP]:l:::"*
caderno com a primeua cena
Depois lentamente abriu a porta e, indeciso, parou no umbral. Em
ou de um .,:ryid"' tendo resolüdo ir ao bufete, Tortsov abruptamente virou
uma carta de amor, "'ià a" "'iá-1"' as costas a
de teatro, que ele "tt'";";;;ãTnã
t"-po de colégio' e.outros^PaPéis quc (hsip para que este lhe tirasse dos ombros o sobretudo,
e ordenou curto:
ele deüa
..visualizar" ;;; ã;;tgáJo,, "u sublinha=va a importância desses "Tte!"
detalhes' - ua a cena' a sua concentração - Depois começou a fechar â porta atrás de si para descer ao bufete, mas
a de repente acovardou-se, parou muito quietinho, e timidamente de novo
Quando o ator começou PreParaçao P: Isso me deixou inquieto' -
levou muito -"i' ú;";til"i'" "'' cntrou no quarto, fechando a porta devagarinho. illtil
"*ioã; o raPaz com o
comecei a sentir t l""'"ot"i o meu erro: sobrecarreguei
"A pausa foi longa demais", comentou Tortsov, ,,houve muitos detalhes
de detalhes, dificultando-lhe a
improvisação'
;;;;';; supérfluos, inventados, mas uma ou outra coisa veio da realidade".
Realmente, um minuto depois de
ter começado a-cena de rasgar or (É que durante todo esse tempo, Tortsou não estatta procurando
llliilr
por oue? ele disse que não conse' "sentir"-1laro,
papéis, ele parou. q""tJ" r.h9 rytqunlei'
llrll
carta e do coka alguru, ele estaua simplesmente raciocinand.o e comentando
mria lembrar-r. o o'"**-J'-tt"'a*ü"
l"' rasgar' alénr-da
,ção que acabaua de executar. E. I(.)
a
lui
""t"tàt
fora de ação' -
:;d.;;;:;;r;i.,Jo d.i*o' completamente
imperdoável que co-meti'.propur - "Be-e-eml . . .", continuou ele falando entre os dentes. .,para com-
Além de pedir-lhe desculpas peloerro
";";;"'.' preender a realidade da ação na peçâ, por enquanto basta-me o que eu achei
q,.'i; " d'
pÀ :":. à".t
".' ":: -'.ttlff :'" :::TL[":""
"fl:H;i nesta cena. com tempo tudo isso vai assentar melhor. vamos adiante, ao
llii[i

'lsituação" e nas "necessidades": tracasso


rápida preparaçõo
,"ry:{" episódio que eu chamaria ,.estou com fome',. Aliás, o primeiro
suicídio, apesar do ;;;;-^ôrrer'
Depoi:-l: lrilli
"'"" cpisódio tem o mesmo problema . . ."
' ("ação anterior") o ator recomeçou
a irnprousaçao' lll
lllr

It
1.08 EUCENIO KUSNET
AToR E METODO
109
Ele parou, ficou muito tempo pensativo, imóvel, falando baüinho:
"Be-e-em! ... Compreendol ... A escada principal fica... aí", ele Expliquei-lhe
- Jlj me
mas que esre faro nâo l"r:"r*;nte- julgava_me unr péssrnc,
im provisador,
indicou o corredor, por onde acabava de entrar. "O que é que me atrai impedia a.,,r.;. improüsaçào
po,ssibilidades, porque dentro àr, minha,
", perguntou ele a si próprio.
mais?
"Tortsov não íazia nada,
apenas mexia os dedos, como que procurando
método. " p.áii." _. d.*.
rr!ç uemonstrou a grande utilidade desse
ajudar o seu raciocínio. Contudo estava se operando nele uma certa altera-
ção, ele se tornava desamparado, com os olhqs de um coelho assustado, e
.,. *!:;T,";;Ti: fi:,'i:T: [";5*
envorver o ator. :
"r
ab oraç ào d o s se u s c or
cena em que fosse mais
e gas m ais
todo o seu rosto parecia o de uma criança, mais manhosa do que zangada, F"i fácij
Ele ficou imôvel, entorpecido, não pensando em nada, com o olhar parado "r.;;i;; ;'í;:'""1,r-a
personasema".,".""*","á.".*i.",-l;:;[,:ffi."ii.1,,.['j;,:T"r;:,,:
num ponto. Depois, como que acordando, perscrutou com os olhos todo o gado por todos nós, ele, pouco a
Iide ra Douco.
a o h, u a i da de,t
quarto procurando alguma coisa". n ç (

no papel: romou ."n.,r^1: ?,.,;; i- ;. ;, ü;,."i, :;;:::: J ;.; ::" ?. ..,ll ; i:


"Eu admirei a sua firmeza no trabalho. Admirei ainda mais o fato de r,,.n;,;"i;; ;;;;., improvisaçào.
que, não obstante a sua apârente inatiüdade, eu senti toda a intensidade de tornou-sJ u-.do.
1l||':.''# :'-':, "o'. m^ià.es enrusiasras do
sua vida interior".
Pensem bem no resultado dessa demonstraçâo. O raciocínio frio com
que o professor Tortsov estava elaborando as ações físicas de Klestakov, ncio
-ar"laT.
: :l-": r;,
extrarr
*;i *
r,.,'.Tü
da sua açâo vários dctalhà, :ilH,',',:'Í' .f ;:"iu,r.'"'J;i;j.*[;
'
nagern. Tudo isso se processavâ
: i;;;;;;;,", pare a compostçào
composiçào do
impediu que os sentimentos reais surgissem espontaneamente, a ponto de d, perso
Processavâ' conforme
"^;;;::^:i:"rl'""
diss", a".r."-J.'i-l"lb.olrr"
causar admiração aos espectadores.
espontaneidade. "le
Um dos maiores obstáculos na prática dos "laboratórios", com um esPontaneidade, no nosso.meio,
grupo de atores pouco experientes no campo de improvisação, é a obriga-
,, i'"i":":'"ffidâ é ainda muiro confuso.
d,. á r; p. iJ ;'":' :,'11: : ilX, :iff 1.,.,,*
a, a" e,.,c,.,,"I""
toriedade de enredos fixos, de temas concretos. Basta dizer ao ator: a-.

"lmprovise o que eu acabo de te contar", para que ele se sinta ainda mais
há "',":.
r

r,, ;;;;;;;;;.'"r,".,,, dizem cres, .,",


i

;:o^::
t::ili i" i: *I#::
nâo adianta nenhum Io ha esPontaneidade
constrangido do que nas famosas "leituras expressivas" às quais obrigavam rnétodo,,. "rT e, então,
o ator antigamente parâ que ele revelasse as suas "possibilidades no ôampo
Um dos meus alunos,.discutindo
cssc problema
emocional da peça".
disse que achava ,-:",:l::l
,r*;;,;", ;;"r,aneidadedurante uma aula,
real, iguat àquet;r
Nesse caso, o andamento do trabalho depende muito da habilidade do :lr;::o'r,.111, pela própria naturcza, ,r"r.o arravés
dos iecursos da
diretor, O constrangimento desaparece quando o diretor consegue "se-
Para ilustrar sua idéia, clc
duzir" os seus atores tomando partl do jogo de improvisação junto com citou o espetáculo de Adcmar
Ele achava que o sesredo Guerra, ,,Hair,,.
eles, atraindo-os ao jogo até que eles próprios "achem graça" nas impro- d" i;;;;;rr"'.lro"rr.r,. era a esponraneidade
visações.
Lembro-me de um ator que, desde Àinício dos trabalhos com uma lJi :f',',1'ÂIff :3,';:,lJó,"
;;:; ";' ;il';'
res ur ra do i gu a r n u
nc. poderia
"Os atores do elenco,,, dissc
peça, declarou-se contrário ao método da "a\álise ativa", Ele explicou que ele, .,realmente_adoram juventude
a
estava acostumado a um outro processo, com.o qual, aliás, dava-se muito e suas
r1T Í I j:::l,t1r"jj. ; r;ilr, # i i',.0,,.,.
bem: receber o texto, procurar compreendê-lo através de várias leituras,
assimiláJo a ponto de "sentir o papel" e só começar a agir no lugar do
i:: :: ; rj* : :,j,1li:r,
uma flor com a água d"..rlônir,,. lvvells :€ o mesmo que perfumar
personagem depois de decorar o texto. Ele não concebia nenhuma outrl .Acredito que, cm princípio, cle tinha razâ o
neidade d"quel"rjovens esponta- e que a admirável
maneira de trabalhar. intocável.
arores era
A razâo de sua atitude, a meu ver, nâo era apenas o hábito de traba- Mas eu pergunto: por quânto
espontaneidade autêntica
tempo o diretor poderia
lhar de maneira diferente, era um ator muito jovem para ter hábitos enrai. de todos manter essa
algum dia, cansados dessa
o. .J* iité.p."t.ri N;o .rtr.ir_
zados. verdadeira rtzão era simplesmente a inibiçào. Ele se julgavr
A alegria diá;;;"; rlu"
o risco de sucumbir ,"1 "1.r,
não correria
incapaz de improvisar e, como a maioria dos atores, tinha medo dr ;l Fd;r'#
"rrorr"reidade
expor-se ao ridículo. açâo? E entào, em vez de " rEro de repetir sempre a mesma
uma r".drd"i.".fà_,
chave do e s pe t á cur o, n ao
fi.
".i"
;;;; ;;}:H,t:;. :ffi,'.T*:;.f":
ATOR E MÉTODO 111
110 EUGÊNIO KUSNET

2) A ima§ruÇão, - e portanto, a espontaneidade, - é uma faculdade


da peça)? E' nesse caso'
fria (o que, aliás, aconteceu no fim -da-.carreirajá esgotada? exercitápel. A espontaneidade inata pode ficar atrofiada por falta de exercí-
autênticá' mas
como substitui. "rpo"t""eidade cios, ou crescer e enriquecer-se pelos exercícios de imaginação constantes
" D:l'll: um curso organizado no teatro
A resposta não se fez esPerar' que, em teatro, sempre redundam no uso de "Instalações".
ii p"ç.":'ttt".e Paravários atores de fora' eu
"A;;;rí-;;" " "b;;; 3) A "Instalação" (a "fé cênica"), quando elaborada corretamente, é
propus ao gnrPo,to*o'"*J"io à" i-p'o'i'"ião' o tema do início da peça' estáuel e fixa (veja o quarto capítulo). Isto quer dizer que ela pode ser
a atriz Maria Helena cântava
o primeiro encontro de "luppies" "tqo*to repetida sem que a repetição prejudique sensivelmente a espontaneidade do
"Aquarius"' ator. A "Instalaçdo" sobre situações imà§nárias, como ela é sempre em
- I oor meio de uma "carta"' -
Os atores deviam concentrar-se PaÍa
a açac teatro, cria, conforme foi provado cientificamente, ilusões que perduram
um novo recurso q""":;;ú;""i -'"it t"i"'
à"' que' no fundo' .é uma enquanto o indioíduo mantém a atitude ativa para com o imaginado,
ação cênica e' Portânto rePresenta uma
improvisação dos antecerlàntes da Portanto, é evidente que a "Análise Ativa", confirmada cientificamente
das f"."t da "Análise Ativa"' e aprovada na prática por ter dado excelentes resultados, deve ser usada em
podia entrar em cenâ e
Cada ator, quando terminava a sua "carta"' nossos teetros. A meu ver, a única coisa que dificulta o seu uso em larga
liwemente com os do grupo "hiPPy"
começar a comtmicar-se "t" 'Àigo' acala é a falta de atores acostumados com a prática de improuisações.
mesmo"a' t"t"'iu"t da famosa tt"'
ãt "câmara lenta"'
desprezando Num dos encontros que tive com nossa gente de teatro, um diretor me
"té trabalho' ficaram como esPecta-
Uns vinte atores, não ocupados naquele perguntou se eu acharia possível usar o método de "Análise Ativa" quando
dores na Platéia. o prazo pâra a montagem de umâ peça fosse muito curto, por exemplo, um
as "cartâs" e a entrada
A concentração, ou seja' o Processo de
escrever mês. Eu respondi que, se os atores de seu elenco não tivessem prática de
le""m muito tempo e chegaram a cansar os improvisação, seria uma verdadeira loucura tentar a "Análise Ativa" nessas
urr"^rJ'p"i o,i, áo' ato"res,
esPectadores' condições, mas que, numas poucâs experiências feitas com atores bem trei-
nossos i- l^^
-^-i:
.

aproximadamente a metade dos participan- nados em improvisaçôes lembora de pouca prática em teatro profissional),
Quando no palco reuniu-se finalmente' todos os atores
tes, a ação ficou bastante animadã'
Mas quando' foi provado que uma peça pode ser estreada com apenas um mês de ensaios.
de suprema
se encontrara- eles chegararrr a crtar um ambiente Em parte, isso se explica pelo fato de que as improüsações, além de
"* """', transformou em verdadeira comuni- indispensáveis no trabalho do ator, redundam numa real economia de tempo
amizade efelicidade";;'"";; ;;;it lágrimas e aplausos tanto nâ platéia'
cação emocior,tl tol"tiãt-tt""i""i'o" no trabalho do diretor, por várias razões entre as quais há as seguintes:
como no Palco.
novo'
r -:^-- ^a :-^^.
capaz-de.excitar imaginação - porque o diretor, durante as improvisações dos seus atores, freqüen-
E note: não se tratava de um tema temente consteta e corrige possíveis erros de sua prôpria concepção do texto
e sim de um espetáculo em üas de
meca-
dos atores pela sua dramatúrgico, elaborada previamente, - ele gasta menos temPo em seus
""'iatat'
nização. estudos teóricos;
esgotada pod'e se1 readqui-
Isso nos demonstrou que a esPontaneidade - porque, durante as improüsações, ele adquire idéias novas e tnais
Ariva". se-o resultado não for tão
rida através ao ,."uliã1.'ii-"1.Á'"ai"e através da espontaneidade
nítidas iobre as futuras "marcações", que às vezes podem ser fixadas desde
perfeito .o,,,o'q"ll'"l;;";'"";;íi,*;' logo;
autênticadoator,pelo'menoselesetánaisdutadouÍoernenossuieitoa
ser semPre renovado conscientemente
e - e, principalmente, porque o diretor obtém exemplos de "tempo-
&.soaste *",o'i'oçlõ', poi' pod"'e ritmo" criado espontaneamente que também pode ser selecionado e fixado
"
naJdependerá da inspiração do ator' da na hora.
para ver .. ."rrà .""is disro, basta lembrar-se das particularidades
e conÍirmadas cientiÍic amente'
Mas a improvisação é um "pau de duas pontas". Ela pode trazer um
" t rrri"l.ç ao;;, verifi cadas bem inestimável, como também pode causar grandes transtornos' se não for
método de Stanislavski' a "fé
' 1) A "Instalação", ou usando o termo do a aceitação de uma usada racionalmente.
nos oossibilita
cênica", é um estado psicofísico que nossos (ueia o fim do pd'
Na prática do uso dos "laboratórios" em nossos teatros houve muitos
'" foí"^
,,o'io
sitwção e de obietilos' olh"io' c"so, quàr,do os atores, estimulados pelo diretor que lhes dava a liberdade
meiro caPítulo).
ilr
tt2 EUGÊNIO KUSNET ATOR E METODO 113 lx

ilimitada parâ improvisar dentro de um tema relativamente vago' conse- suas qualidades e, além disso, teria ficado mais exposto ao risco de se ver um
g1ri"- r"tirfr.do. irrrpr"r.ionantes da üvência interior autêntica do perso- dia, mecanizado, Acredito que o apoio sôlido para o permanente frescor
adqui- daquele espetáculo foi o seu "tempo-ritmo" encontrado intuitivamente, mas
nagem, nas suas mals agudas manifestações',Aparentemente os atores 1I

riaL, através dirro, .rri material emocional de grande importância Pâra a 6xado conscientemente junto aos outros elementos selecionados durante os
do PaPel. ensaios.
interpretação
- Nesse processo de permanente seleção dos resultados da ação impro-
ii". qorrrdo, p"." fi*". os resultados obtidos - o que' eüdentemente
o diretor pedia para repetir o impro- visada é que reside o verdadeiro valor da "Análise Ativa".
o objetiro essencial dos trabalhos - Nas recordações de Maria Knebel no seu livro "A üda toda" encontra-
"ra
viso, os áto.es não conseguiam reproduzir a décima parte do resultado ante-
mos uma admirável conclusão que a autora tira de uma conversa que el4, no
.ior, Irro freqüentementJ crur"r" perplexidade -de p1te. Perte' chegava a
a
seu tempo de aluna da escola+stúdio do Teatro de Arte, teve com a profes-
p."a"ri. um, decepção total e até o "b"t'do'o do método de improüsação'
' sora E. S. Telechova.
Qo.l seria a causa do insucesso do ator ao rePetir "laboratório"?
o Po1
resultado igu'al ou, ao menos' semelhante ao da Prr- A professora lhe disse: "Improüsação sô pode se tornar forma suprema
que ele não conseguia
de arte teatral, se o ator conseguir enquadrar seu improüso sempre dentro
meira vez ?
repetição desaparecia o fator novidade, surPre^sa'
," das "circunstâncias propostas".
É qu.
Na primeira ve, o aga esPontâneamente sob o efeito da estimula- E depois, falando do ator genial, Mikhail Tchekov, com quem M.
"to,
e incitação da sua prôpria imaginação que em Knebel estava estudando anteriormente, a professora disse: "Foi bom ele ter
ção sugestiva do diretor da
contagiado você com o espírito de improüsação, mas o mal é que você não
nada foi limitada pelo diretor.
do. dire- aprendeu a fazer o essencial: conservar o que você adquire através da impro-
Mas n" ,.grr,d" vez' antes de repetir o "laboratório" a pedido
inconsciente' üsação e saber usálo à sua vontade".
tor, o ator, r", de se entregar novamente a uma excitação
"rri vou Depois da criação espontânea da ação cênica, deve-se usar novamente o
.rrcorrt.aua-.. diante de u.t pÃbl.tn' bem consciente: "Como é que
E' aliás' qual foi esse mais puro raciocínio sobre os resultados consegtridos, para selecioná-los,
."p"titZ O que é que vou f^,2, p^'^ fixar o resultado?
rejeitando os que estejam fora da lôgica das "circunstâncias propostas" e os
resultado ? "
E a resPosta não vinha, Porque o ator não conseguia restabelecer na que sejam de pouca eficiência ou importância,
memória as ações que lhe tinÊam causado as sensaçóes do prim-eiro
impro- No decorrer de muitos trabalhos feitos por mim junto aos alunos e
deixava de fazer o mais atores constatei que a consciência da necessidade de selecionar os elementos
üso; porque .l., d"poir do primeiro "laboratório"'
o resultado coueguido' constatar' sele.cionar da ação improüsada, nem sempre é suficiente para levar o trabalho a resul-
;#;;i;;; oirroi 1ao*rire
d*", os elementos de ação usados por ele intuitivamente durante a imPro- tados satisfatórios. Para usar esses elementos novos com o máximo proveito
",i."çao, o seu ,,monôlogo interior" ó suas "visualizações". Graças a inter- nas improvisações subseqüentes, é precko saber usá-los com a mestkt espon-
^, do
d"firrdên"i" da ação f?ri." . à ação mental' ele poderia. na .rePetição tattei dade da impr ouisação anterior.
"laboratôrio", usar conscientemente o que de "palpável" tivesse encon- De que maneira pode o ator conseguir que a colocação consciente de
tr"Jo, ,r" certeza de que a "ação interioi" com as suas emoções' voltaria fatores racionalizados não prejudique a sua espontaneidade na prôxima
âutomaticam"nt. drrr"int. a repetição, enriquecida ainda mais pelas novas improvisação?
'exemplo d" i,te.dependência desses dois Em primeiro lugar, procuremos compreender o que é que pode preju-
descobertas. Lembrem-se do
;;; da ação humana, ,ru-, t.n"ãt "O Caato da Cotoüa"' que citamos ücar a espontaneidade nesse caso? E exatamente a tendência de u.sar os
nouos elementos conscientetnente. Se o ator, durante a improvisação, se It
no segundo capítulo.
o "tempo-ritmo" da cena
Muitas vezes o ator cria intuitivamente todo lembrar de repente que ele deve incluir este ou aquele elemento, é claro que,
naquele momento, desaparece o próprio espírito de improvisaçâo, pois o
queimprovisâ'masseeleeodiretornãosederemcontadisso,apreciosa
descoberta ficará esquecida.
ator, em plena ação improvisadora, procurâ racionalizá-la, o que, evidente-
Lembrem-se do maravilhoso "tempo-ritmo" do "Diário de um
louco" mente, exclui a prôpria improvisação
Albuquerque e Rubens Correa' Por isso, o ator nunca deve perder de vista a necessidade de üstinguir,
de N. Gogol. Se os seus criadores, Ivan de
ptot,rtei demonstrar no capí- durante o trabalho pelo método de "Análise Ativa", as duas fases que se
não o tive"ssem Íixado fisicamente - como
"t, usam alternadamente:
tuloanterior,-talvezoprôprioespetáculoteriaperdidograndepartede

lri
ATOR E MÉ'TODO 115
tt4 EUGÊNIO KUSNET

l) Selecionar racionalmente os elemenros da ação improvisada. Esses Durante os comentários que, normalmente são feitos depois de cada
elementos devem tomar forma de "Monôlogo Interior" e de "Visualizações" "laboratório", o diretor, para justificar suas críticas às falhas de lógica,
do personagem, de cujo teor o ator pode tomar nota Por escrito. Portanto' cometidos pelos atores, ou pera tornar mais claras as indicações que thes dá iil

sobre os novos elementos de ação, lê um determinado trecho da cena corres-


essa fase é puramente racional.
pondente e, em seguida, comenta-a. rlii
2) Em seguida, a partir do início de uma nova improüsação, o ator Com isso, ele não somente corrige as falhas e indica o caminho certo,
deve dedicar-si unicamente ao "Contato" e à "Comunicação" com a ação como também faz com que os atores assimilem, cada vez mais, o texto da
énica ora improvisada, isto é, prestar a máxima atenção eo que se Passa em peça e o retenham na merrrória automaticamente. Desta maneira o diálogo
fl

cena, usando'p"." irro os "Circulos de Atenção" e-a "Visualização das improvisado, pouco a pcuc .l é substituído pelo texto exato da peçâ. iliil

Falas,,, .o-"rràrrdo e avaliando ininterruptamente toda a ação improvisada Nas poucas experiênc.as em que a "Análise Ativa" foi usada correta-
pelos outros. Sô assim o ator pode fazer func.ionâr novamente a sua esPon- mente, os atores nunca precisaram decorar o texto, ele se fixava na memória
Lneid.de dentro das circunstâncias novas resultantes da seleção feita. ill1
imperce ptivelmente.
selecionados o Aos leitores que duvidarem disso gostaria de contar um dos casos que
Quanto ao perigo de perder de vista os novos elementos
iil
freqüentemente aconteciam nas minhas experiências com os nossos atores.
ator ;ão d"". pr"o.-rrp".-rã .o- isso, pois a prôpria na rrrezase encarregará
Ao trabalhar com um determinado grupo de atores, usamos como mate-
do processo di Í^r", i"s.urgi. em ação impróvisada, independentemente de ilrl
rial para os nossos estudos o texto de "Os Pequenos Burgueses". A improü-
*"'.rorrt"d., tudo o que foi gravado na sua mente através do raciocínio. Se o sação da cena de Helena com Têterev no 3,o ato foi repetida muitas vezes
ator realmente passou pelo ireino no sentido de desenuoluer a sua receptirti'
pelos mesmos intérpretes, As improvisações sempre foram comentadas antes
dade da oção ios outios, conforme comentamos no início deste capítulo,
de serem repetidas.
ele estará ,"-pr. pronto para receber esse auxÍüo de sua naturezacriaàora.
Numa certa altura, notamos que durante a improvisação muitas fa.las
possíveis pequenas falhas nesse processo, isto é, o desaparecimento de Âcaram idênticas às do texto de Gorki.
urn ou outro deialhe selecionado, não representa perigo dgo*, pois nos Como aconteceu isso, se a atriz fazia questâo de não memorizar o texto,
comentáÍios seriam constatadas e novamente sublinhadas' e sim sempre e unicamente improvisáJo? Não podia tê-lo memorizado invo-
Embora a seleção dos elementos da ação improüsada seja, normal- luntariamente? Foi exatamente o que aconteceu, porque durante os comen-
mente, feita pelo diretor e comunicada durante os comentários aos atores, tários nós citávamos vários detalhes do texto original para corrigir os erros
estes também^podem e devem fazer aseleção por contâ prôpria. Não impor- de lôgica cometidos durante a improüsação. Se, por exemplo, na cena
ta que . seja errada, durante os comentários surgirá uma discussão improvisada não sentíamos a feminilidade de Helena, âpontávamos à atriz
"r.ol'hu
.o- o diretor isio só poderá ser útil, pois o autor chegará à conclusão
e essa omissão e, para justificar a nossâ crítica, citávamos as falas como: "Eles
correta não por uma simpies indicação do diretor, mas através da sua própria adoravam os passarilhos, como adoratam a mim também ...", ou: "Eu me
iniciativa, o que certamente fixará o resultado na mente do ator mais natu- vesria, só para agraü-los, da maneira ma"is üstosa possível . , ." Essas cita-
ralmente. ções eram tão oportunas e interessavam tanto aatrtz, que se fixavam na sua
A aplicação dos elementos selecionados nas improvisações subseqüentes memória muito mais facilmente do que através da "decoraçâo".
quc deve saber encaminhar as É eüdente â enorme vantagem desse processo, A assimilação paulatina
-irit" irabilidade e prática do diretor
ltr
".ig"
implovisações sempre na àireção certa, estimular a imaginação dos atores do texto da peça elimina o maior mal do processo de decorar o papel: d
coà sugestões oPortunas, que Podem§er feitas em voz alta durante a ação aceitação obrigatoria de um texto em cuja ciação o ator nunca tornou
improri"sada. Ao'intercalar L r-ir"r réplicas, o diretor não deve ter medo
de prte.
,,dãstruir o estado emocional do ator-". Para maior eficiência desse trabalho, No processo de assimilação paulatina o ator aceita as correções do texto ll
o diretor pode, inclusive tomar Pârte na ação improvisada como um Perso- por ele improvisado, pouco a pouco, não por imposição, mas em sucesslvas
sua vez' discussões depois de cada improvisação, cedendo à lógica e à qualidade do
rlagpm imaginario auxiliar, não existente na Peça' Os atores, Por
lillr

d"i"* ".oJt,r-".-." com as intervenções do di.etot, procurando aceitá-las texto da peça,


Através desse processo o ator chega à sensação de ser o co-autor do lli
com a maior naturalidade, como se elas fizessem parte normal da impro-
texto e, por isso, o aceita como
se fosse dele próprio.
visação. tl

li
EUGENIO KUSNET ATOR E MÉTODO Ll7
116

Se no início dos trabalhos, é aconselhável evitar detalhes das "circuns- Felizmente, o uso de um elemento novo levou-me casualmente â uma
tâncias propostas" para não deixar de ver a peça "du vol d'oiseau", é preciso série de experiências bastante detalhadas e deixou-me um material consi-
não esquecer g,,te a colocação paulatína desses detalhes é ineütável e neces- derável que me parece útil para resolver o problema de improvisações sobre
sária. Os atores devem pouco a pouco, começar a tomar conhecimento tanto os temas das ações "extra-cênicas".
dos diá,logos, como das ações físicas exatas. É este método que eu pretendo exPor no próximo capítulo.
O bom ou o mau termo desse processo de conhecimentos e assimilações
paulatinos dos elementos obrigatórios da peça (texto, movirtentos, am-
biente, costumes, etc.) depende inteiramente da sensibilidade do diretor:
apressando demais esse processo, ele prejudica a improúsação, porque ao
introduzir antes do tempo muitos detalhes obrigatórios, tolhe com isso a
liberdade da ação do ator; mas, atrasando-o, perde tempo, vicia seus âtores
em improvisações gratuitas e improdutivas e reduz o seu interesse pelo
trabalho.
Esse ultimo fator, - o permanente interesse dos atores pelo processo do
trabalho, - taTvez possa servir de critério pera o diretor. Notando alguns
sinais de tédio, - a falta de atenção espontânea e de curiosidade, - o diretor
talvez deva acelerar a colocação dos detalhes.
É p.eciso levar em consideração a natural impaciência dos atores no
sentido de querer experimentar, quanto antes, os resultados obtidos nas
improvisações diretamente sobre o texto da peça,
É preciso explicar aos atores que, se a tentação os levar a experimentar
isso em c:xa, eles porão em risco o bom andamento do seu trabalho nos
ensaios, porque, fazendo a experiência sem controle alheio, eles certamente
prestarão atenção quase exclusiuamente ao resultado emocional do trabalho
(é tão conhecido esse uício do ator!) e poderão chegar à uer&tdeira adoração
dos seus prôpríos senümentos. Com isso, é evidente, eles porão em perigo
toda a necessíxíal6gca e acabarão tomando por base de trabalho elementos
completamente errados.
Até aqui, em traços gerais, procuramos expor a iàéia de como deve ser
processada a "Análise Ativa" de uma peça.
É eüdente que seria um absurdo estabelecer com precisão a ordem
cronolôgica em que devem ser usadas as etapas do trabalho. O bom senio e a
prática devem sugerir ao diretor as alterações dessa ordem, de acordo com as
particularidades do seu eventual trabalho: o nível e a experiência do elenco,
a natureza da peça, o prazo designado para os ensaios, etc.
Resta-nos acrescentar que, quando falamos do uso dos "laboratórios"
no processo de analisar as "circunstâncias propostas", é evidente que nâo
nos referimos apenas aos "laboratórios" sobre as ações constantes do texto
da peça. E de cnorme importância submeter ao mesmo processo as açôes
"extra-cênicas", a começar pela biografia dos personagens e ao terminar pela
"ação anterior" de cada cena.

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