Você está na página 1de 7

CAPÍTULO 2

LANCHAS DE COMBATE

2.1 - GENERALIDADES
A Estratégia Nacional de Defesa preconiza que a Marinha deve contar com embarcações de
combate, inclusive fluviais, concebidas e fabricadas com o foco no emprego versátil. Também, no que
concerne às vias fluviais, é citado que os Fuzileiros Navais serão fundamentais para assegurar o
controle das margens durante as OpRib.
Como nas OpRib, cujo propósito é o controle de áreas ribeirinhas, a relação entre as hidrovias e
as margens se dá de forma interdependente, a solução do problema não seria dispor Fuzileiros Navais
em toda a margem, mas sim, aumentar a ação de choque (poder de fogo, manobrabilidade e proteção
blindada) dos seus meios navais.
No Combate Fluvial, as ações que integram seu conceito carecem de um meio apropriado para a
sua consecução, de forma similar às demandas necessárias nas OpRib. A Lancha de Combate (LC) é o
meio propício para a execução dessas tarefas.

2.2 - CARACTERÍSTICAS

Para se entender o emprego de uma LC, torna-se fundamental entender o conceito de


maneabilidade, que é o conjunto de exercícios para pequenas frações de organizações militares
operacionais, que objetivam o desenvolvimento de técnicas e procedimentos necessários à execução
do combate e que, consequentemente, facilitam a posterior realização do adestramento. A
maneabilidade é um conceito basicamente terrestre, mas no caso de Combate Fluvial, serão
apresentadas, ao longo desse Procedimento Operativo, diversas técnicas de Maneabilidade Fluvial.
Conforme apresentado no capítulo anterior, o novo conceito de emprego dos Batalhões de
Operações Ribeirinhas fundamenta que essas unidades devem ser empregadas de forma semelhante
às Unidades de Cavalaria do Exército Brasileiro, porém, com atuação nos rios, com a predominância do
combate embarcado, com os Fuzileiros Navais executando missões de reconhecimento e segurança,
devendo progredir embarcados o maior tempo possível. Para vencer as forças inimigas e sobreviver, as
tripulações deverão ter perfeito conhecimento de suas LC, das técnicas de maneabilidade, táticas de
engajamentos de alvos, do uso efetivo de todo o armamento disponível, dos equipamentos de
comunicações e dos diversos sistemas existentes. Os Operadores Ribeirinhos deverão, ainda, conhecer
e entender os procedimentos e condutas táticas que permitirão manobrar com eficiência.
Uma LC não é um meio que deve ser pensado apenas com uma vertente de transporte de
pessoal, pois ela materializa em si mesma o combate, assim como um meio blindado que opera em

-2-1-
terra. É fundamental que ela possua características específicas e que funcionem de forma integrada,
por meios de seus 3 Sistemas Básicos: o Sistema de Navegação, o Sistema de Armas e o Sistema de
Comando e Controle.
A seguir, serão apresentadas as principais características de uma LC.
2.2.1 - Poder de Fogo
O poder de fogo é a principal característica de uma LC. Para que haja eficácia nos fogos, torna-
se fundamental que ela disponha de armamento automático fixo. Lançadores de Granadas são
extremamente úteis, também nas LC.
Ainda ocorrem adestramentos, denominados “Tiro Embarcado”, no qual os militares dentro de
uma embarcação em movimento realizam tiros com armamento individual, contra alvos posicionados
nas margens. Entretanto, para aumentar a eficácia desses focos torna-se necessário reduzir a
velocidade das embarcações, aumentando assim, o tempo de exposição. Uma lição aprendida das
Guerras da Indochina e do Vietnã foi que, nas OpRib, o primeiro tiro vem sempre da margem.
Somando-se a isso, seria muito difícil para a tropa embarcada na LC identificar um atirador posicionado
na margem, o que reforça a importância das armas automáticas. O tiro de tropa embarcada é
denominado Tiro de Abordagem ou Tiro Policial, e é empregado nos casos em que não haveria tempo
hábil para reação das armas coletivas. Será fundamental por ocasião da abordagem a um Contato de
Interesse, caso um elemento da FAdv que esteja nessa embarcação engaje a LC.
O número de armamentos fixos dependerá do projeto da LC, sendo o mínimo uma na proa, uma
nos bordos de bombordo e boreste.
2.2.2 - Blindagem
Compatível com as atuais ameaças, levando-se em consideração que mais blindagem significa
mais peso e menor manobrabilidade. Uma LC muito fechada, como as DGS RAPTOR, fornece boa
proteção blindada para a tropa, entretanto dificulta a visibilidade, inclusive da tripulação, dificultando
a reação da LC.
2.2.3 - Velocidade
Para permitir eventuais inserções ou extrações, assim como perseguições ou retraimentos. A
velocidade é importante para uma LC, mas não é mais importante que o Poder de Fogo, a Blindagem e
a Manobrabilidade. Particularmente na região Amazônica, há de se considerar as dificuldades logísticas
e as grandes distâncias envolvidas. Dessa forma, a motorização de popa, com potências até 250HP, é a
ideal. Acima disso ou motores a jato, devido à complexidade de manutenção e escassez de empresas
especializadas, configuram sua aplicação contraindicada.

-2-2-
2.2.4 - Manobrabilidade
Capacidade de efetuar manobras rápidas em movimento ou partindo do neutro. Nesse quesito,
LC com motores a jato apresentam um desempenho superior. Aqui, deve-se considerar que a
manobrabilidade não será obtida somente com a potência e características do motor, mas também
pela consciência situacional do piloto/patrão, para que não ocorram acidentes envolvendo as demais
LC que estão nas proximidades ou outras embarcações menores.
2.2.5 - Baixo Ruído
Para permitir uma aproximação em sigilo. Em algumas situações, as LC, devido sua Ação de
Choque, são os meios adequados para ações de infiltração e retirada de tropas. Dessa forma, seus
motores não deverão produzir muito ruído, principalmente quando operando em Velocidade de
Infiltração (entre 3 e 5 nós).
2.2.6 - Boa circulação interna
Possuir espaço interno para que a tripulação e a tropa embarcada possam circular de forma
conveniente em necessidade de desembarque ou abordagem a outras embarcações. Durante um
confronto, a LC deve permitir que militares em estações de tiro ou até mesmo seu piloto possam ser
substituídos com facilidade, sem interferir no desempenho da LC.
2.2.7 - Conforto x Rusticidade
Não podemos nos esquecer que buscamos um meio de combate, não uma embarcação que
possa atender a todos os propósitos. Nesse aspecto há o conflito entre conforto e rusticidade. No
combate buscamos a rusticidade, pois ela manterá alerta os Operadores. Vale a máxima de que não se
deve aumentar o conforto, mas sim reduzir o tempo de guarnecimento do meio, ou seja, o rodízio das
tripulações.
2.2.8 - Impacto visual x Funcionalidade
A imagem de um “caveirão fluvial” é realmente impactante. Mas no caso do Combate Fluvial,
tais características limitam muito a manobrabilidade da LC. Reforça-se que cada tipo de situação pode
demandar um tipo específico de LC, logo não há o certo ou o errado, há a funcionalidade.
2.2.9 - Comando e Controle
Possuir equipamentos de rádio ou suporte para seu acoplamento, de modo a permitir o enlace
entre os membros da tripulação e destes com a tropa embarcada, bem como com outras LC e o navio
de retaguarda.
2.2.10 - Optrônicos e Equipamentos de Navegação
Nesse item, há grande especulação em relação à eficácia de visores termais, entretanto, eles são
eficientes contra ameaças fluviais, não sendo eficaz contra alvos homiziados nas margens. Trata-se de

-2-3-
um equipamento que encarece muito o valor das LC e que, ainda assim, possui uma série de
limitações:
a) O feixe da imagem da câmera é um cone de aproximadamente 15º, reduzindo ainda mais
quando se utiliza o zoom da imagem, fazendo com que haja dificuldade para vasculhar uma área
abrangente ou perseguir um alvo, embora seja eficaz para vigiar um ponto fixo ou trecho da margem
dos rios que possam ser de interesse da missão;
b) Caso ela não possua um sistema automático de acompanhamento de alvo e integração da
câmera com sistemas de radar, o operador terá que perseguir manualmente o alvo que deseja
inspecionar ou engajar, dificultando em muito a tarefa e, por vezes, torna a utilização de
Equipamentos de Visão Noturna (EVN) portáteis mais eficazes;
c) Alguns modelos, embora possuam opções de estabilização vertical e horizontal, que visa
compensar o jogo da embarcação, é necessário que o operador ative essa função toda vez, após
movimentar a câmera manualmente. O jogo da embarcação impacta ainda mais quando utilizamos o
Zoom; e
d) A Limitação de movimentação natural do equipamento, o torna muito mais lento do que um
operador utilizando um EVN portátil.
Quanto aos equipamentos de navegação, utilizam-se os habituais que já mobíliam a maioria dos
tipos de embarcações, como por exemplo, GPS, radares e ecobatímetros.
Atualmente a MB emprega alguns modelos de embarcações que, inicialmente, podem ser
enquadradas no conceito de LC, mas vale ressaltar que elas ainda necessitam passar por uma série de
testes, de modo a verificar sua adequabilidade às características apresentadas.

2.3 - LANCHAS DE OPERAÇÕES RIBEIRINHAS DGS RAPTOR


De produção nacional, é parte da dotação do Grupo de Embarcações de Operações Ribeirinhas
(GrEOpRibAM) do Comando da Flotilha do Amazonas, que possui duas unidades. Possui as seguintes
características:
a) Material da embarcação: fibra de vidro;
b) Deslocamento máximo: 9.200 kg;
c) Comprimento: 11 metros;
d) Boca: 2,83 metros;
e) Calado máximo: 0,7 metros;
f) Velocidade máxima: 40 nós;
g) Autonomia: 300 milhas náuticas;
h) Tripulação: 6 militares;

-2-4-
i) Tropa máxima embarcada: 10 militares;
j) Propulsão: 02 motores Caterpillar C9 e hidrojatos Hamilton Jet HJ;
k) Tipo de Combustível: Óleo Diesel Marítimo;
l) Armamento: 02 estações para Metralhadora Pesada (Reparo duplo na proa) e 02 estações internas
para Metralhadora M-60;
m) Sistemas embarcados: GPS, radar de navegação, sistema de vigilância por imagens térmicas (FLIR),
ecobatímetro, VHF (marítimo e aéreo) e intercomunicador; e
n) Blindagem: XXX.

DGS 888 RAPTOR M2

2.4 - LANCHA PATRULHA DE RIO (LPR)


Também componente da dotação do GrEOpRibAM, que possui duas unidades, tem sua origem
na Colômbia. Possuem as seguintes características:
a) Material da embarcação: fibra de vidro;
b) Deslocamento máximo: 9.200 kg;
c) Comprimento: 11 metros;
d) Boca: 2,83 metros;
e) Calado máximo: 0,7 metros;
f) Velocidade máxima: 40 nós;
g) Autonomia: 300 milhas náuticas;
h) Tripulação: 6 militares;
i) Tropa máxima embarcada: 10 militares;
j) Propulsão: 02 motores Caterpillar C9 e hidrojatos Hamilton Jet HJ;
k) Tipo de Combustível: Óleo Diesel Marítimo;
l) Armamento: 02 estações para Metralhadora Pesada (Reparo duplo na proa) e 02 estações internas
para Metralhadora M-60;
m) Sistemas embarcados: GPS, radar de navegação, sistema de vigilância por imagens térmicas (FLIR),
ecobatímetro, VHF (marítimo e aéreo) e intercomunicador; e
n) Blindagem: XXX.

-2-5-
LPR

2.5 - LANCHAS DE OPERAÇÕES RIBEIRINHAS EXCALIBUR


LC ainda em testes. Tem sua produção realizada na própria MB. Sua última versão possui as
seguintes características:
a) Material da embarcação: Alumínio naval – liga 5052;
b) Deslocamento máximo: 7.000 kg;
c) Comprimento: 9 metros;
d) Boca: 2,6 metros;
e) Calado máximo: 0,96 metros;
f) Velocidade máxima: 40 nós;
g) Autonomia: 300 milhas náuticas;
h) Tripulação: 2 militares;
i) Tropa máxima embarcada: 15 militares;
j) Propulsão: 02 motores Caterpillar C9 e hidrojatos Hamilton Jet HJ;
k) Tipo de Combustível: Óleo Diesel Marítimo;
l) Armamento: 02 estações para Metralhadora Pesada (Reparo duplo na proa) e 02 estações internas
para Metralhadora M-60;
m) Sistemas embarcados: GPS, radar de navegação, sistema de vigilância por imagens térmicas (FLIR),
ecobatímetro, VHF (marítimo e aéreo) e intercomunicador; e
n) Blindagem: XXX.

Lancha EXCALIBUR

-2-6-
2.6 - LC ARUANÃ
As características técnicas e o emprego da LC ARUANÃ serão detalhados nos capítulos
posteriores.

LC ARUANÃ

2.7 - EMPREGO
As Lanchas de Combate são capazes de cumprir o conjunto de ações que materializam o
Combate Fluvial. Dentro dessas ações, fruto da expertise dos países vizinhos da América do Sul, foram
verificadas algumas atividades que são necessárias para a sua consecução, que serão alvo dos capítulos
posteriores deste POP. São elas:
- Manobras básicas de amarração com cabos;
- Manobras básicas de navegação;
- Reboque com LC;
- Resgate de Homem ao Mar;
- Formações, sinais e gestos;
- Inserções e extrações de tropa;
- Extrações de emergência;
- Posto de Vigilância e Escuta Fluvial;
- Movimento tático com LC;
- Emboscadas e contra emboscadas; e
- Abordagem a outras embarcações.
O detalhamento de cada atividade está, basicamente, relacionada à prática com a LC ARUANÃ,
que é a LC dotada no 1°BtlOpRib. Atualmente, ela compõe o Pelotão de Embarcações da unidade e sua
organização dentro do Pelotão se dará por Seções. Para fins doutrinários, a unidade mínima de
emprego da LC será uma Seção. A Seção poderá variar de duas até quatro LC, dependendo dos fatores
da decisão. Quando formada por 4 LC, receberá também a designação de Elemento de Combate
Fluvial.

-2-7-

Você também pode gostar