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Universidade Federal de Santa Catarina
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Engenharia Civil / Universidade Federal de Santa Catarina / UFSC
CASA RURAL ITALIANA E DA REGIÃO DE IMIGRAÇÃO NO SUL DO BRASIL:
Comparação entre as construções no norte da Itália e no Rio Grande do Sul
Resumo: No fim do século XIX e início do século XX, a arquitetura rural italiana ganhou
destaque tanto nas colônias do Rio Grande do Sul quanto nos vilarejos do norte italiano. No
entanto, as residências construídas pelos imigrantes italianos no sul brasileiro não
reproduziram de forma idêntica características tais como os elementos construtivos, técnicas
e organização das residências do norte italiano. Neste trabalho serão analisadas as
similaridades e disparidades entre as casas rurais nas colinas italianas, local de origem de
alguns dos imigrantes que atuaram como mão de obra na colonização da região Sul do
Brasil, e as residências rurais edificadas nas colônias de imigrantes italianos no Rio Grande
do Sul. Como método, utilizou-se a análise comparativa, com suporte em revisão
bibliográfica. Acredita-se que este trabalho contribua para a compreensão das adaptações,
utilizadas nas construções dos imigrantes, ao contexto do Rio Grande do Sul.
Palavras-chave: arquitetura italiana, imigração italiana, colonização, Rio Grande do Sul.
1. INTRODUÇÃO
No fim do século XIX, a Europa passava por crise decorrente de aumento não
planejado de população, altos índices de desemprego e incidência de pestes. Estes fatores
influenciaram a emigração de milhares de italianos para diversos países, como o Brasil. Na
mesma época, o Brasil passava pela fase de colonização de seu extenso território,
enfrentando necessidade de mão de obra para tal finalidade. Esta carência de mão de obra
foi ainda mais acentuada com a abolição da escravidão no Brasil em 1888. Cerca de 1,5
milhão de italianos migraram para o Brasil entre 1874 e 1914, dos quais 70% ficaram em
São Paulo, e os outros 30% migraram para os estados do Espírito Santo, do Rio Grande do
Sul, de Santa Catarina e do Paraná. A principal atração dos imigrantes para as terras
brasileiras foi a concessão de terras aos trabalhadores mais dedicados e a rápida
emancipação das colônias. Estas terras não despertavam o interesse dos luso-brasileiros,
pois geralmente estavam em localidades distantes e acidentadas. Destaca-se que estas
características assemelhavam-se às das terras da região norte da Itália, nas colinas. Com o
passar do tempo, após a chegada dos primeiros grupos de imigrantes ao Brasil, as regiões
colonizadas pela imigração começaram a crescer e se tornaram fortes comunidades com
economia ascendente, o que acelerou o processo de desenvolvimento do Brasil
(POSENATO, 2005).
Segundo Posenato (2005), a maioria das colônias agrícolas e das pequenas
propriedades no território brasileiro estava localizada no estado do Rio Grande de Sul.
Estima-se que estas povoações eram habitadas por cerca de 80 mil imigrantes. É natural
que estes imigrantes imprimissem suas marcas na arquitetura local a partir da sua cultura e
das técnicas construtivas praticadas em seus locais de origem. Neste trabalho será
analisada a relação entre a arquitetura das colônias povoadas pelos imigrantes de origem
italiana e a arquitetura das casas rurais do norte da Itália.
Para o desenvolvimento do trabalho, fez-se uso de uma análise comparativa com
base em uma revisão bibliográfica, com autores que abordam o tema da imigração e da
casa rural no norte da Itália. Os dados de comparação se deram, principalmente, acerca do
ambiente de inserção da construção, do material disponível no local e do seu uso na
construção, da localização da construção no lote, da distribuição espacial interna das casas
e dos aspectos construtivos.
Assim, conclui-se que as casas rurais dos italianos no Norte da Itália, em uma
primeira fase construtiva, fez uso de barro ou madeira e de fundações em pedra ou tijolos, e,
em uma segunda fase construtiva, utilizavam, geralmente, as pedras calcárias e os tijolos
como material de construção. A abundância de solo argiloso e pedras à disposição na
região norte da Itália fez com que a madeira não fosse uma opção comum de material
construtivo, por ser rara. Segundo WEIMER (2012 p.172), a utilização da madeira deveria
ser muito parcimoniosa, por isso as paredes eram de cantaria e só os entrepisos e as
estruturas de telhados eram confeccionados em madeira.
2.2. A casa rural dos imigrantes italianos no Rio Grande do Sul
A emigração dos povos italianos para o Brasil, em meados do século XIX, teve
como principal motivo o caos social de pestes, desempregos e crises que perduravam à
época na Europa. Entre 1875 e 1914, cerca de 100 mil italianos migraram para o Rio
Grande do Sul, no qual 90% destes provinham do norte da Itália (POSENATO, 1983). A
concessão de terras aos trabalhadores e a rápida emancipação das colônias permitiu que os
imigrantes italianos logo construíssem comunidades com uma economia e arquitetura
notáveis no estado.
A arquitetura da imigração italiana no Rio Grande do Sul, segundo Júlio Posenato
(1983), era espontânea e possuía características peculiares, tais como: a utilização da mão
de obra livre e a linguagem arquitetônica própria. Estes povos se destacaram também por
criarem uma diversidade de soluções e técnicas construtivas em meio às limitações
industriais e materiais disponíveis no lote e no entorno, fato que resultou em edificações que
se transformaram em verdadeiras obras de arte. O autor chega a afirmar que esta consistia
numa arquitetura popular considerada como a melhor já erigida no Brasil.
No início do século XX, a madeira, especialmente de árvores do gênero Pinus, era
abundante em algumas regiões do Rio Grande do Sul, como no Alto Uruguai. Este material
foi largamente utilizado nas edificações, seja na parte ornamental, como portas e janelas, ou
mesmo como peças estruturais de grandes dimensões, tais como pilares, vigas e barrotes.
Foi a partir do desenvolvimento industrial, com o surgimento de serrarias, que a utilização da
madeira se tornou algo mais comum entre as diversas comunidades de imigrantes italianos.
A produção, em larga escala, de peças em madeira serrada tornou popular a utilização do
encaixe macho-e-fêmea em forros e pisos e o uso das mata-juntas em paredes, como pode
ser visto na Figura 3 (POSENATO,1983).
Então, é possível afirmar que as casas rurais dos imigrantes italianos no Rio Grande
do Sul são constituídas, geralmente, de madeira, desde as paredes, partes estruturais e até
as aberturas. Isso é resultado da ampla disponibilidade do material na região, que dispunha
de uma rica floresta, na qual a madeira da araucária era a matéria prima insuperável para
exploração.
Weimer (2012) afirma que rapidamente as construções de pedra, que foram as
primeiras construídas pelos imigrantes na Serra Gaúcha, foram reservadas para as
fundações sobre as quais passaram a erguer construções de madeira. No caso da
existência da cantina, as fundações correspondiam às paredes.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se afirmar que as casas rurais dos imigrantes italianos eram semelhantes, em
grande parte, às casas rústicas do norte das colinas da Itália, com uso de mesmos tipos de
elementos construtivos e do material disponível no lote, além de evidente valorização do lar.
Porém, houve desvinculação do padrão de origem nas seguintes características: as casas
eram construídas de forma esparsa no lote e a cozinha não fazia parte do corpo principal da
casa.
Quanto aos materiais, verificou-se que enquanto nas casas rurais do norte da Itália
se tinha majoritariamente o emprego da alvenaria em pedra calcária ou tijolos, os quais
tinham acesso facilitado no terreno, no Rio Grande do sul os imigrantes italianos
diversificaram o uso dos materiais conforme a implantação das colônias. Em colônias
antigas, utilizou-se inicialmente a alvenaria de basalto, e após, utilizou-se amplamente a
madeira como material de construção, reservando a alvenaria para os porões e cantinas.
Desta forma, nota-se que os imigrantes italianos e seus descendentes,
estabelecidos no Rio Grande do Sul, não reprisaram simplesmente as tecnologias
construtivas do seu país de origem, mas adaptaram às condições locais, e com criatividade
se tornaram os italianos do Rio Grande do Sul. Os ítalo-gaúchos estruturaram uma vida com
uma linguagem própria, influenciada pela cultura e fortes tradições italianas, porém aberta a
influência de outras culturas disseminadas no Brasil.
Este pesquisa, que ainda se encontra em andamento, apresentou a análise
comparativa entre os métodos e elementos construtivos das casas rurais do norte da Itália e
das casas dos imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, construídas no final do século XIX
e início do século XX. Pretende-se dar continuidade aos estudos, esperando-se obter no
futuro informações mais aprofundadas.
5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq pela concessão de bolsa PIBIC - UFSC, ao Grupo
Interdisciplinar de Estudos da Madeira (GIEM) e ao apoio institucional do Programa de Pós
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina
(PósARQ).
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PALLONI, Renata. La casa rural en Las Marcas (Italia). In: TERCER CONGRESO
NACIONAL DE HISTORIA DE LA CONSTRUCCIÓN, 3., 2000, Sevilla. Actas del Tercer
Congreso Nacional de Historia de la Construcción. Sevilla: CEHOPU, 2000. p. 779 - 788.
Disponível em: <http://www.sedhc.es/biblioteca/actas/CNHC3_091.pdf>. Acesso em: 01
jun. 2017.
POSENATO, Júlio. Arquitetura da Imigração italiana no Rio Grande do Sul, Est- Educs,
1983.
POSENATO, Júlio. A arquitetura do Norte da Itália e das colônias italianas de pequena
propriedade no Brasil, In: Turbulência cultural em cenários de transição: o século XIX Ibero-
americano p. 51 a 88. Marcondes, N; Bellotto, M. (org.) Edusp, 2005.
WEIMER, Günter. Arquitetura popular brasileira. Martins fontes, São Paulo, 2012.
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