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Evolução do conceito de segurança

intrínseca em áreas classificadas.

Fabio Passos Martins & Júlio Arlindo Pinto Azevedo

Abstract— This article describes the evolution of the intrinsic Estudos motivados pela ocorrência de diversos acidentes
safety concept used to protect electric equipments working in como explosões, que afetaram a imagem de algumas
hazardous areas such as gases and combustible dusts. Among empresas, aumentaram a pressão de órgãos reguladores.
other types of protection, intrinsic safety offers one of the highest Baseados nestes estudos surgiram às primeiras teorias sobre
levels of security in such environments. This article aims to show áreas consideradas de risco.
its evolution by comparing the concepts of Entity Parameters,
FISCO, High-Power Trunk, and DART, which provide a higher
O risco é uma combinação da ocorrência do evento
level of energy in hazardous areas enabling the use of multiple perigoso (frequência ou probabilidade) e das consequências
devices as a fieldbuses systems. deste evento. Para reduzir o risco, devemos reduzir ou
Index Terms— Evolution, intrinsic safety, explosive eliminar qualquer um destes fatores, aumentando desta forma
atmosphere, Entity Parameters, FISCO, High-Power, DART. a segurança. [1]
Para reduzir a probabilidade ou a frequência de um risco
Resumo—Este artigo descreve a evolução do conceito de adicionamos normalmente sistemas de proteção e instituímos
segurança intrínseca utilizado para proteção de equipamentos procedimentos para reduzirmos as chances de falhas.
elétricos em áreas com potencial risco de explosão como gases e Nestas plantas identificaram-se áreas com presença de
poeiras combustíveis. Dentre outros tipos de proteção, a vários fatores de risco, como a concentração de poeiras, gases
segurança intrínseca oferece um dos mais elevados índices de
e vapores que foram consideradas como áreas potencialmente
segurança em tais ambientes. O presente artigo tem como
objetivo abordar sua evolução comparando os conceitos de explosivas. A identificação destas áreas foram essenciais para
Parâmetros de Entidade, FISCO, Tronco de Alta Potência e a redução destes riscos.
DART, que proporcionam um nível cada vez mais alto de energia Baseado nestas pesquisas surgiu o conceito chamado de
em áreas classificadas possibilitando a utilização de vários segurança intrínseca, que consiste em limitar os valores da
equipamentos conectados em sistemas de redes industriais. energia evitando a geração de faíscas e fontes de calor que
Palavras chave—Evolução, segurança intrínseca, atmosfera poderiam servir de ignição para uma explosão, podendo causar
explosiva, parâmetros de entidade, FISCO, Tronco de alta uma grande catástrofe.
potência, DART.

II. CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS


I. INTRODUÇÃO
Segundo definições da ABNT NBR IEC 60079-14, área
Após a II Guerra Mundial, houve uma grande expansão das classificada é uma área na qual uma atmosfera de gás ou vapor
indústrias petroquímicas com o uso de derivados de petróleo. explosivo ou pós-combustíveis estão presentes, ou na qual é
Com o grande avanço das plantas de extração, transformação, provável sua ocorrência a ponto de exigir preocupações
refino de substâncias químicas e minas subterrâneas, foram especiais para a construção, instalação, utilização e
iniciados vários estudos sobre segurança nestas plantas. manutenção de equipamentos elétricos.
No Brasil a ABNT (Associação Brasileira de Normas
técnicas) utiliza a coletânea de normas IEC (International
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Nacional de
Telecomunicações, como parte dos requisitos para a obtenção do Certificado Electrotechnical Commission) que trata da classificação de
de Pós-Graduação em Engenharia de Sistemas Eletro-Eletrônicos, Automação áreas.
e Controle industrial. Orientador: Prof. Júlio Arlindo Pinto Azevedo. Trabalho Os estudos de classificação de áreas têm como objetivo
aprovado em 03/2014.
principal servir de base para profissionais selecionarem
adequadamente e especificar os tipos de proteções necessárias Quanto à sua designação por substâncias, as poeiras
para instalação de equipamentos. Sua finalidade básica é condutivas, gases e fibras combustíveis seguem classificados
mapear e determinar as extensões e abrangências das áreas que por grupos, estes podem ser divididos em I (Minas), II (Gases)
podem conter misturas explosivas, podendo ser classificada
classificadas e III (Poeiras), conforme mostrado na Tabela I:
por zonas, grupos, classe de temperatura e EPL. [10]
A NBR IEC60079-10-11 define sua classificação baseada na
frequência ou probabilidade estatística de ocorrência no tempo Tabela I. Classificação dos grupos. [7]
de duração de uma atmosfera explosiva de gás entre uma
mistura com ar e substâncias inflamáveis na forma de névoa
vapor ou gás como sendo:
Zona 0 – Local onde uma ocorrência de mistura inflamáv
inflamável
e ou explosiva é continua.
Zona 1 – Local onde a ocorrência de mistura inflamável e
ou explosiva é provável de acontecer em condições normais de
operação do equipamento de processo.
Zona 2 – Local onde uma ocorrência de mistura de
inflamável e ou explosiva
iva é pouco provável de acontecer, e se
acontecer é por curtos períodos e está associada à operação
anormal do equipamento de processo.
A NBR IEC60079-10-22 define sua classificação baseada na
probabilidade de ocorrência de atmosfera explosiva de poeira A Tabela I mostra também uma classificação por subgrupos
e pós-combustíveis
combustíveis na forma de nuvem de poeira como sendo: (IIA, IIB e IIC). Esta classificação
class baseia-se no grau de
Zona 20 – Um local na qual uma atmosfera explosiva, na periculosidade que os gases ou poeiras apresentam, como por
forma de nuvem
uvem de poeira combustível, está presente no ar exemplo, o grupo IIC que é o que possui menor energia de
continuamente, por longos períodos de tempo ou ignição. O risco de uma ignição por excesso de temperatura
frequentemente. também é considerado quando se fala de segurança em áreas
Zona 21 – Um local na qual ual uma atmosfera explosiva, na classificadas. Segundo a norma ABNT NBR IEC 60079 existe
forma de nuvem de poeira combustível no ar, é esperada de também uma classificação quanto
q a temperatura de ignição,
ocorrer eventualmente em condições normais de operação. conforme mostrado na Tabela II. II A temperatura máxima de
Zona 22 – Um local na qual uma atmosfera explosiva, na superfície dos equipamentos elétricos não deve exceder a
forma de nuvem de poeira ou combustível no ar, não é temperatura
ura mínima de ignição das substâncias
substâ combustíveis.
esperada
perada de ocorrer em condição normal, mas se ocorrer
permanece por um breve período de tempo.
Tabela II.. Temperatura de ignição. [7]

Estes métodos de classificação foram elaborados para se


alcançar a segurança total de uma planta industrial. São
Fig.1 Exemplos de classificação de áreas. [7]
requisitos mínimos exigidos para qualquer indústria que
possua uma área classificada. Abaixo segue um exemplo de
As classificações das áreas de risco visam agrupar as uma planta CAD3D com identificação plena seguindo as
diversas áreas que possuem graus de riscos semelhantes, normas:
tornando possível a utilização de equipamentos elétricos
projetados especialmente para cada área. Para atender as
exigências da Norma Regulamentadora dora Nº10, toda e qualquer
área que seja classificada deverá ser sinalizada em campo.
Tabela III. Classificação das substâncias. [2]

Fig.2 Modelo de identificação. [7]

III. SEGURANÇA INTRÍNSECA Os equipamentos intrinsecamente seguros seguem três


padrões de categorias, podendo ser classificados em ia, ib, ic,
conforme abaixo:
A origem do conceito de segurança intrínseca surgiu no Nível de proteção ia: Equipamento intrinsecamente seguro
inicio do século XIX na Inglaterra, quando uma explosão em incapaz de provocar a ignição da atmosfera explosiva em
uma mina de carvão provocou a morte de muitos operação normal e com a aplicação de até duas falhas
trabalhadores. contáveis, além das falhas não contáveis que conduzem à
A partir deste grave acidente, foi organizada uma
um comissão condição mais crítica (Utilização possível em Zonas 0, 1 e 2).
para averiguar e investigar as possíveis causas. Após estudos, Nível de proteção ib : Equipamento intrinsecamente seguro
verificou-se
se uma quantidade excessiva de gás no interior da incapaz de provocar a ignição da atmosfera
a explosiva em
mina. Com isto, foi analisada a possibilidade de alguma operação normal e com a aplicação de uma falha contável,
ignição ter sido provocada em seu interior, ocasionando a além das falhas não contáveis que conduzem à condição mais
explosão. crítica. (Utilização possível em Zonas 1 e 2).
Verificou-se então os procedimentos que os trabalhadores Nível de proteção ic: Equipamento intrinsecamente seguro
realizavam para o processo de retirada do carvão. A incapaz de provocar
rovocar a ignição da atmosfera explosiva em
comunicação entre os mineiros era realizada com a ajuda de operação normal (Utilização possível em Zona 2).
uma campainha, em que trabalhadores internos comunicavam A falha contável é aquela que está em conformidade com os
com os trabalhadores externos. A campainha possuía uma requisitos (regras de construção da norma NBR IEC 60079- 60079
fonte de energia composta por uma bateria de seis células 11) de construção básicos do tipo de proteção; e as falhas não
Leclanche, com baixa tensão e corrente. Apesar de um circuito contáveis são aquelas não em conformidade com essas regras.
de baixa tensão, foi detectado que todo este processo para O sistema de aterramento em uma rede de circuitos IS
acionamento da campainha poderia gerar uma fagulha elétrica (Intrinsecamente Seguros)) apenas é permitido quando este for
possibilitando uma ignição. um requisito de segurança e operação.
Um circuito ou parte dele é intrinsecamente seguro quando De uma forma geral os circuitos
rcuitos IS classificados por zonas
sob condições de ensaios prescritas na Norma NBR IEC 0/20 e 1/21 devem ser instalados de maneira isolada sem
60079-11,
11, não é capaz de liberar energia elétrica (faísca) ou aterramento.
térmica suficiente para, em condições anormais (por exemplo,
exempl Caso seja necessário ser realizado o sistema de aterramento,
curto circuito ou falha para terra), causar ignição de uma dada este deve ser feito em um único ponto com
atmosfera. equipotêncialização de todo o circuito através das conexões
Toda a mistura ou produto inflamável possui o chamado Exi de todos os dispositivos de campo e em áreas classificadas
MIE (Minimun Ignition Energy), ), energia mínima de ignição, como zona 0/20 o ponto de conexão deve ser no interior ou na
em função da concentração da mistura. Trabalhando com um fronteira da área classificada.
valor abaixo do MIE do produto, será impossível provocar O modelo de segurança intrínseca oferece um dos mais
uma detonação.Ver Tabela III. elevados índices de segurança em áreas classificadas como
Baseado na energia mínima de ignição, todo o circuito de atmosfera explosiva, mas isto apenas não é o suficiente se a
segurança intrínseca sempre utiliza energia em níveis mais instalação, a manutenção, o projeto ou a inspeção técnica não
baixos que o limite mínimo para a explosividade dos gases for realizado por pessoas devidamente treinadas e certificadas.
representados. Isto traz uma grande vantagem, tornando
possível a instalação até mesmo em Zona 0.
IV. FOUNDATION FIELDBUS V. PARÂMETROS DE ENTIDADE IS

A FF (Foundation Fieldbus) é uma arquitetura totalmente O modelo de Entidade IS surgiu na década de 80 como uma
aberta para integrar a informação, seu objetivo é interconectar solução para o conceito de segurança intrínseca e foi definido
equipamentos de controle e automação industrial, distribuindo de acordo com a ABNT NBR IEC-60079-11, como sendo um
funções e fornecendo informações a todas as camadas do método de validação para segurança em áreas intrinsecamente
sistema. Esta tecnologia veio substituir o sistema 4-20mA, seguras. O conceito permite a interligação de instrumentos de
possibilitando a comunicação digital e bidirecional entre os campo intrinsecamente seguros com barreiras sem que os
equipamentos de uma forma mais eficiente. mesmos tenham sidos certificados em conjuntos.
A FF é a evolução técnica digital em instrumentação e Os critérios definidos para a interconexão no conceito
controle de tecnologia vai muito além de um protocolo de entidade foram baseados em estudos de compatibilidade entre
comunicação digital ou uma rede local. Sua rede possui os instrumentos de campo intrinsecamente seguros e suas
diagnósticos avançados de proteção contra falhas, barreiras de segurança. Os valores de tensão, corrente e
redundâncias, manutenção a quente, processamento potência que os instrumentos de campo podem receber, devem
distribuído, configuração e supervisão de interfaces de ser maiores ou iguais a tensão, corrente e potência de saída da
comunicação e etc. barreira de segurança. Não podendo ser desprezados também
Uma das funções dos equipamentos de campo é executar a os valores de indutância e capacitância dos cabos.
aplicação de controle e supervisão do usuário que foi
distribuída pela rede. Essa é a grande diferença entre
Foundation Fieldbus e outras tecnologias, que dependem de
Uo ≤ Ui
um controlador central para executar os algoritmos. [6] Io ≤ Ii
Sua camada física pode seguir dois padrões, o H1 e o HSE.
O H1 possui taxa de transmissão de 31,25 kbits/s e é voltado Po ≤ Pi
basicamente para instrumentos de campo, mas também pode Co ≥ Ci + Cc
ser utilizados onde é necessária a segurança intrínseca.
O HSE possui taxa de transmissão de 100 Mbps e é Lo ≥ Li + Lc
utilizada para a comunicação entre PLCs, Gateways e PCs.
Sua camada física foi baseada no padrão Ethernet (IEEE802.3-
2000, ISSO/IEC8802.3-2000). A seguir segue na Tabela IV Os parâmetros de Entidade IS padronizados para Fieldbus
uma comparação entre os dois padrões da camada física. recomendam, Uo= 24 V, I = 250 mA e P = 1.2 W para fontes
de alimentação usadas para o grupo de gases IIC. [2]
Atualmente o conceito de entidade é pouco utilizado devido
Tabela IV. Resumo das características das camadas físicas. [9] algumas desvantagens como, fornecer energia somente para 3
instrumentos, requerer um esforço significativo na base de
cálculo para validar sua segurança e também de possuir um
alto custo em sua tecnologia.
Se os critérios da Entidade IS forem seguidos, podemos
então dizer que a conexão pode ser implantada com total
segurança, independentemente do modelo do equipamento ou
até mesmo do fabricante.
Na década de 90 a tecnologia Fieldbus se tornou mais
conhecida no setor de automação, e isto se traduziu em uma
perfeita solução para sua implantação em áreas classificadas.

A Foundation anunciou a adoção do FISCO em 2001, VI. FISCO


quando este novo conceito foi adicionado nos parâmetros das
especificações da camada física. Desde 1996, a camada física O Conceito Fieldbus Intrinsecamente Seguro (FISCO), foi
para sistemas Intrinsecamente Seguros usavam os parâmetros desenvolvido para fornecer uma maneira de suprir energia
do modelo de Entidade incluído na Norma IEC 61158. adicional para um segmento Fieldbus enquanto se mantém o
Este modelo assume a eletrônica passiva para determinar os nível de energia abaixo do que poderia causar uma
parâmetros dos circuitos aceitáveis. Com o modelo FISCO explosão.[2]
desenvolvido pelo PTB (Physikalisch-Technische- O conceito FISCO foi criado através de tentativas práticas
Bundessanstalt) em acordo com os padrões CENELEC e IEC de campo pelo centro de pesquisas PTB da Alemanha. Seu
61158-2, foi possível se aumentar o número máximo de comprimento do cabo é limitado a 1000 metros para Grupo
equipamentos instalados em áreas classificadas por Zona 1. [4] IIC e 1900 metros nos Grupos IIB, sendo, portanto idêntico a
qualquer sistema Fieldbus e permitindo a conexão de
equipamentos intrinsecamente seguros a rede. A Fig.3 a seguir O número máximo de dispositivos de campo
nos resume a arquitetura dos equipamentos FISCO, que foi intrinsecamente seguros em uma rede FISCO por derivação
definido no relatório da PTB como PTB W39 e ABNT IEC segundo a norma é de 32.
60079-27. A rede também é composta por terminadores, que são
compostos por um resistor de 90 Ohms e um capacitor de no
máximo 2,2 µF. Seus terminadores tem a função de igualar a
impedância da rede, um em cada extremidade, podendo
também ser incorporados nos dispositivos de campos ou
fontes de alimentação, desta forma eliminando o efeito de
reflexão da rede.

A. Barreiras de segurança intrínseca

As barreiras são fontes e condicionadores de energia que


limitam a tensão e a corrente da alimentação do circuito IS,
para evitar que haja uma fagulha ou centelha elétrica nos
dispositivos instalados em campo.
A barreira de segurança intrínseca FISCO é instalada em
área segura e o cabo de conexão é que vai até a área
classificada. Sua fonte de alimentação deverá ser posicionada
Fig.3 Arquitetura da rede típica FISCO. a menos de 60 metros da extremidade do cabo tronco. A
Norma IEC60079-27 especifica que apenas um condicionador
de energia pode ser instalado em cada seguimento, mas com a
O FISCO permite apenas uma fonte de alimentação por evolução da tecnologia Fieldbus surgiu o conceito chamado de
seguimento Fieldbus e pela primeira vez foi imposta uma barreira de segurança redundante.
norma para instrumentos e cabos em relação a sua Para obter a redundância para um segmento FISCO deve-se
capacitância e indutância. Sua categoria para proteção foi assegurar que apenas uma fonte de tensão esteja em
dividida em 3 classes, ia, ib e ic que é determinada pelo menor funcionamento. As fontes são gerenciadas por módulos de
nível de proteção dos dispositivos de campos interligados ao arbitragem, que por sua vez monitoram o nível de saída de
circuito da rede. tensão de cada uma delas.
Todo e qualquer equipamento que for conectado a uma rede Assim que houver uma queda de tensão ou falha, a troca é
FISCO, deve obrigatoriamente respeitar as limitações iniciada e por um curto período a rede Fieldbus perde a
impostas pela norma. As grandes vantagens do FISCO são: A alimentação. Como regra é utilizada um fator de 100ms como
possibilidade da interconexão de mais equipamentos em tempo máximo para se evitar falhas, porém a transferência de
relação à Entidade IS (ver Tabela V Tipo de suprimento de redundância tem influência significativa na comunicação da
energia), aumento da disponibilidade de energia além da rede, podendo haver perda de comunicação.
facilidade para a validação de sua proteção contra explosão.

Tabela V. Tipo de suprimentos de energia. [2]

Fig.4 Barreira redundante FISCO.


Ao compararmos as barreiras redundantes com a barreira Podemos calcular os 3 casos através dos valores específicos da
fonte de tensão única, devemos levar em conta que a barreira queda de tensão e as resistências dos cabos utilizados. Nos
redundante precisará de um espaço ainda maior no gabinete, já casos 1 e 2 os cálculos são realizados utilizando apenas sete
que será necessária a instalação de módulos eletrônicos de instrumentos de campo e no caso 3 foi calculado utilizando o
arbitragem. A barreira de segurança redundante FISCO número máximo de instrumentos seguindo as características
elimina o risco de falha quanto à quebra de um único da rede FISCO em áreas de classificação IIB com 16
componente da rede eletrônica, tornando a rede ainda mais instrumentos de campo a uma corrente máxima de 240 mA.
confiável. Seu nível de energia é determinado pelo subgrupo Os cálculos citados acima podem ter e representar uma
das sustâncias explosivas indicados nos estudo de caso da área importância significativa para a instalação, já que muitas
classificada. Outra grande vantagem da rede FISCO é que o vezes não é possível encontrar um cabo padrão Fieldbus e até
usuário pode escolher usar outro cabo com diâmetro maior, mesmo movido pela economia nos custos da instalação são
assim as limitações como resistência e indutância e utilizados cabos com resistências menores. Assim podemos
capacitância podem ser compensadas com distâncias maiores calcular a distância máxima, igualando a resistência e
de cabo. Isto pode ser comprovado por cálculos, utilizando a capacitância do cabo utilizado sem diminuir o grau de
Lei de Ohm. [2] segurança da instalação.
A fig.5 é um exemplo do cálculo da queda de tensão FISCO
para a classificação de área IIB.

VII - TRONCO DE ALTA POTÊNICA.

Com o conceito chamado HPTC (High-Power Trunk


Concept) tronco de alta potência, o condicionador de energia
Fieldbus pode alimentar o segmento em alta tensão e alta
corrente na área segura, tornando possível instalar uma rede
Fieldbus com o máximo do comprimento de seu cabo 1,900
m. O sistema tronco de alta potência foi o grande responsável
por sua maior aceitação no setor de automação.

Fig.5 Queda de tensão. [2]

Para realizarmos os cálculos, primeiramente será necessário


estarmos de posse do projeto para que possamos saber qual a
quantidade máxima de dispositivos de campo envolvidos no Fig.6 Tronco de alta potência. [3]
segmento. Através da queda de tensão realizamos o cálculo da
resistência do Trunk:
A energia é distribuída dentro da área classificada através
de interfaces limitadoras em toda sua rede até o destino final.
R  = ∑
Comparado ao outros métodos de instalação intrinsecamente
seguros o conceito apresenta um projeto mais simples com um
custo menor. As fontes de alimentação podem ter
(1) configurações redundantes e serem ligadas em paralelo,
Após determinarmos a resistência do Trunk podemos possibilitando uma maior confiabilidade, já que por sua vez
calcular a distância máxima do segmento: quando uma fonte falhar, outra assume a função
imediatamente sem interrupção, além de aumentar a vida útil
da fonte de energia. O tronco de alta potência mistura as

D â =  
 
combinações dos dispositivos FISCO e ENTIDADE em um
único segmento.
(2)
VIII - TECNOLOGIA DART Após este momento, na fig. 2 pode-se notar quando o
sensor detecta a mudança de corrente e interrompe a energia, a
A tecnologia DART (Reconhecimento e Extinção de Arco fim de cessá-la.
Voltaico) possui um fator de segurança através de uma Esta tecnologia também é responsável por conseguir obter
proposta inovadora. O DART monitora o comportamento os maiores valores de tensão possíveis na rede e é baseado em
elétrico do circuito, reconhecendo o momento exato quando é um cabo tronco de até 1,000 m com comprimento de spurs de
gerada uma faísca na rede. 120 m.
DART foi certificado de acordo com os padrões da Norma Esta tecnologia apresenta todas as características do
NBR IEC 60079-11, sua validação e seu projeto são simples e conceito tronco de alta potencia, FISCO e Entidade IS juntas.
não precisa de cálculo. [10] Dentre suas principais vantagens, a tecnologia DART pode
A energia que é transmitida no período de chaveamento é conectar até 24 instrumentos de campo por segmento, possui
reduzida para um valor abaixo do valor mínimo do gás fonte de tensão redundante, conexão com dispositivo FISCO,
utilizado, alem de permitir um considerável aumento da Entidade e diagnóstico avançado contínuo da camada física.
energia que pode ser manipulada no circuito. As fontes de Após o conceito da tecnologia DART surgiu um novo
tensão DART e os protetores de segmento DART sempre conceito baseado na mesma análise de detecção de falhas,
trabalham juntos fornecendo grande proteção para o tronco de trazendo outra grande vantagem, o aumento da potência de
alta potência. Sempre que ocorre uma faísca no circuito há consumo do circuito, uma evolução do conceito DART. Este
um aumento de tensão, ocasionando um aumento natural de conceito ainda está sendo estudado e pesquisado para a
temperatura possibilitando uma fonte de ignição seja ela realização de uma norma técnica.
gerada por uma centelha ou por superaquecimento. A fig.7 Em 2011 foi proposta pelo Comitê Técnico de
mostra o comportamento típico de uma faísca e indica as Normalização da Alemanha sob a coordenação do PTB a
mudanças características da corrente na fase critica com elaboração de uma nova Norma Técnica, a IEC TS60079-39
potencial de faísca. (Intrinsically Safe Systems with electronically controlled
spark duration limitation) Power-i. Este conceito foi baseado
na evolução da tecnologia DART.

IX – CONCEITO POWER-I

O conceito POWER-I (sistemas intrinsecamente seguros


com duração da centelha eletronicamente controlada)
baseia-se na formalização de uma nova norma técnica sobre
atmosferas explosivas a IEC 60079-39, com o objetivo de
proporcionar mais energia elétrica com os mesmos níveis de
proteção exigidas para atmosferas explosivas.
Fig.7 Comportamento típico da faísca.[3] Esta norma é aplicável para equipamentos com fontes de
alimentação variando entre 20 a 30Vcc para áreas do Grupo
A tecnologia DART reconhece as mudanças características
IIC, para Grupo IIA e IIB com fontes de alimentação entre 20
do circuito e interrompe a energia de forma segura nos
a 40Vcc.
primeiros instantes. Sua proteção é acionada durante a fase
Mesmo este conceito sendo a tecnologia mais nova e segura
inicial e seu circuito eletrônico realiza um chaveamento
encontrada para áreas de atmosfera explosiva, a instalação não
simples, desligando sua fonte de tensão durante um período de
dispensa o uso de outras proteções EX como invólucros,
5 a 10ms sem interromper a comunicação e extinguindo a
encapsulamento, etc.
possibilidade de causar uma ignição.
Comparando o sistema POWER-I com os outros sistemas
intrínsecos baseados na Norma IEC 60079-11, o sistema
POWER-I pode ser instalado com consumo de potência de até
50 W enquanto nos outros conceitos pode ser instalados com
carga de somente 2 W.
Diferentemente do sistema DART que utiliza sua proteção
baseada em um chaveamento rápido para desligar sua fonte de
alimentação, o sistema POWER-I reage dinamicamente à
alteração do valor da corrente quando um nível crítico de
variação é detectado, seu circuito eletrônico de chaveamento
possui dois tempos de comutação que atuam na ordem de
microssegundos aumentando assim sua confiabilidade.

Fig.8 Faísca extinta DART.[3]


O conceito FISCO foi elaborado através de teste realizados
em tentativas práticas em campo, tornando-se o conceito mais
seguro para áreas classificadas.
A Foundation Fieldbus já era um dos protocolos de
comunicação mais confiáveis e seguros para a época e esta
união trouxe grandes benefícios para o crescimento da
tecnologia. Através do conceito FISCO foi possível conseguir
um maior nível de energia para as áreas classificadas, isto
aumentou número máximo de instrumentos de campo por
derivação e também houve uma queda nos custos de
instalação.
Como uma evolução natural da rede FISCO surgiu o
chamado conceito tronco de alta potência, que realiza a união
dos conceitos Entidade IS e Fisco. Sua principal característica
Fig.9 Diagrama básico de blocos de uma fonte POWER I. é conseguir utilizar um nível de energia mais alto na rede, fora
da área classificada, conseguindo assim poder utilizar toda a
Outra grande vantagem deste novo conceito é a capacidade do meio físico. Suas fontes podem ser redundantes
possibilidade de instalações em outras redes mais complexas e serem instaladas em paralelo.
como a rede Fieldbus. Tecnologia DART é a mais nova solução encontrada pelo
PTB, nela se encontra a união de todos os conceitos estudados.
Sua característica diferencial é o diagnóstico contínuo da
camada física possibilitando uma análise do sistema elétrico,
identificando e cessando uma faísca antes que ela se torne uma
fonte de ignição.

Fig.11 Evolução dos conceitos.[3]

Fig.10 Exemplo de um sistema POWER-I com arquitetura em rede Fieldbus.


Ao compararmos os conceitos Entidade, FISCO, tronco de
alta potência e DART (ver Tabela VI), podemos entender
X. COMPARANDO OS CONCEITOS melhor a evolução da tecnológica da segurança intrínseca.
Cada conceito possui suas características e até hoje são
conceitos usuais no mercado. Sua instalação depende de um
Com a evolução da tecnologia na área de segurança rigoroso critério de estudo e também de pessoas altamente
intrínseca hoje temos um dos mais elevados índices de qualificadas.
confiabilidade e segurança no setor. Este é um fruto de muitas
pesquisas, testes, falhas e muitas histórias. Chegou-se então a
conclusão de um modelo padrão a ser seguido. Desde seu Tabela VI. Comparação entre as características dos conceitos. [3]
surgimento o modelo conhecido como Entidade IS em 1980, a
segurança intrínseca segue uma evolução brusca em crescente
ascensão.
O conceito Entidade se baseou na instalação de barreiras de
proteção, para assegurar a quantidade mínima de energia a ser
entregue aos dispositivos de campo localizados em áreas
classificadas. Isto tornou o modelo mais seguro, porém com
um custo muito alto para a época.
Cerca de 10 anos após do surgimento do conceito Entidade
IS o centro de pesquisas PTB criou o chamado FISCO,
Conceito Fieldbus Intrinsecamente Seguro. Este conceito
reuniu duas tecnologias distintas, a rede Foundation Filedbus e
o conceito de segurança intrínseca.
[2] VERHAPPEN, Ian, PEREIRA, Augusto. Foundation
XI – CONCLUSÕES Fieldbus. 4. ed. ISA,2013.

A escolha por qual conceito a ser utilizado depende da [3] BECK, Armin, HENNECKE, Andreas. Fieldbus
planta industrial e das condições de processos. Há uma intrinsecamente seguro para áreas classificadas (on
grande variedade, desde pequenos processos a processos line). Disponível na internet. URL:
mais complexos como refinarias de petróleo. Em processos http://files.pepperlfuchs.com/selector_files/navi/productIn
de pequeno porte, simples, é usualmente utilizado o fo/doct/tdoct1548a_por.pdf, 2013.
conceito Entidade que também pode ser economicamente
[4] CASSIOLATO, César. FISCO: Fieldbus Intrinsically
mais viável a instalação.
Safe Concept, (on line). Disponível na internet. URL:
Em processos mais complexos de grande porte são
http://www.smar.com/newsletter/marketing/index34.html,
utilizados outros conceitos como FISCO, Tronco de alta
2013.
Potência e DART. Este é um estudo, como foi visto
anteriormente, muito criterioso e todos estes conceitos [5] OLIVEIRA, L. L. A. Fundamentos e principios de
citados precisam ser certificados e possuem alto grau de segurança intrinseca (on line). Disponivel na internet.
confiabilidade. URL:
A classificação de uma planta primeiramente exige que http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAwQkAH/instr
se tenha uma equipe especializada contendo engenheiros de umentacao-fundamentos-principios-seguranca-senai-es,
segurança, engenheiro elétrico, engenheiro de produção, 2013.
técnicos de manutenção sem se esquecer de todos os
colaboradores do processo que também possam estar [6] MARTINS, Paulo. Desmistificando as atmosferas
envolvidos, pois a experiência aliada à comunicação é de explosivas (on line). Disponível na internet. URL:
extrema importância para o sucesso do estudo. http://www.maex.com.br/?p=2677, 2013.
A escolha do conceito utilizado é uma característica
própria de cada instalação cabendo a equipe responsável. [7] Site da internet: Subcomitê SC-31 - COBEI, disponível
Nos dias atuais, um assunto muito discutido é a na internet. URL:
formação de pessoas especializadas para trabalhar tanto em http://cobei-sc-31-atmosferas-
áreas de segurança intrínseca como na instalação ou na explosivas.blogspot.com.br/, 2013
manutenção da rede. Este é um sério problema que pode ser
[8] SUZUKI, Hélio Kanji. OLIVEIRA, Roberto Gomes.
resolvido através da especialização e treinamento, já que
Instruções gerais para instalações em atmosfera
pode acarretar o chamado efeito cascata.
explosivas. Disponível na internet. URL:
As empresas de projeto e fabricação destes equipamentos
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAXFMAK/atm
são rigorosamente auditadas a cada novo equipamento osferas-explosivas, 2013.
fabricado e esta certificação induz um custo maior ao
equipamento, mas que é facilmente justificado, pois o [9] SMAR. Manual dos procedimentos de instalação,
produto já certificado recebe a conformidade internacional operação e manutenção, Foundation Fieldbus.
aumentando sua confiabilidade. Disponível na internet. URL:
Mas mesmo que o dispositivo receba a sua conformidade HTTP://www.smar.com/pdfs/manuals/geral-ffmp.pdf,
não quer dizer que a instalação estará segura, já que sua 2013.
instalação requer cuidados. Caso a instalação não seja
realizada por pessoas treinadas e especializadas o resultado [10] Site da internet. Aplicando o DART Fieldbus,
pode ser desastroso, anulando o grau de segurança dado disponível na internet. URL :
pela conformidade do dispositivo. http://www.pepperl+fuchs.com.br/brazil/ pr/16608.htm,
Assim finalmente chegando ao efeito cascata, onde o 2013.
corre um erro na última etapa do processo derrubando todo
o sistema de segurança desenvolvido na engenharia.

REFERÊNCIAS

[1] Pascon, P. E. Segurança intrínseca, (on line). Disponível


na internet. URL:
http://www.processos.eng.br/Portugues/PDFs/seguranca_i
ntrinseca.pdf , 2013

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