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Flúor

- A Política Nacional de Saúde Bucal tem como eixos orientadores de promoção e proteção
à saúde, incluindo:

1. Fluoretação das águas.


2. Educação em saúde.
3. Higiene bucal supervisionada.
4. Aplicações tópicas de flúor.
5. Recuperação e reabilitação da saúde bucal.

- No séc. XXI prevalência e gravidade de cárie dentária em crianças e adolescentes reduziu


graças a essas políticas.

- O Brasil dispõe do segundo maior sistema de fluoretação de águas de abastecimento


público no mundo.

- Possui um dos maiores contingentes populacionais de consumidores de dentifrícios


fluoretados e boa parte da população está exposta a múltiplas formulações do flúor.

- O que também põe em relevo a preocupação com o possível aumento de fluorose dentária
em crianças expostas sistemicamente a fluoretos durante a formação do dente.

- Ações e serviços de saúde bucal revelam que boa parte dos profissionais de saúde não
está suficientemente informada sobre aspectos fundamentais da utilização de fluoretos.

- Eficácia: refere-se ao alcance do objetivo da medida aferida por meio de estudos


metodologicamente rigorosos, em ambiente controlado, de pesquisa.

- Efetividade: é o grau de eficácia que a medida atinge na prática, no mundo real dos
serviços, ações e programas de saúde.

- Ex: uma medida pode ser altamente eficaz, mas não necessariamente efetiva.

- Em saúde pública/coletiva o alcance combinado de eficácia e efetividade é objetivo a ser


perseguido.

- Além da cárie, o F também reduz a velocidade de progressão de novas lesões.

- A fluoretação das águas de abastecimento público começou nos EUA e Canadá em


1945-1946, e após reduzir pela metade a incidência de cárie, a OMS recomendou o
método.

- Água fluoretada virou lei federal em 1974 no Brasil.

- O Brasil é o terceiro país em consumo per capita de dentifrícios, atrás dos EUA e Japão.

Mecanismo de ação
- A cárie dentária é decorrente do acúmulo de bactérias sobre os dentes e da exposição
frequente dos açúcares fermentáveis.

- Toda vez que o açúcar é ingerido, as bactérias presentes no biofilme dental produzem
ácidos que desmineralizam a estrutura mineral dos dentes durante o tempo que o pH
fica abaixo (<6,7 para dentina e <5,5 para esmalte).

- Após certo tempo de exposição ao açúcar, o pH se eleva a valores acima dos críticos
para esmalte-dentina e a saliva tende a repor os minerais dissolvidos, por meio de um
fenômeno chamado remineralização.

- Como os minerais da estrutura do esmalte-dentina são dissolvidos por ácidos e o mineral


fluorapatita (FA) é menos solúvel do que a hidroxiapatita (HA), acreditava-se que no
passado, a FA tornaria o dente menos solúvel ao ácido produzido no biofilme.

- Porém a concentração de F encontrada no esmalte formado quando da exposição a F não


chega a ter 10% de fluorapatita, valor que não diminui significativamente a solubilidade do
dente aos ácidos de origem bacteriana.

- Assim, o F incorporado sistemicamente no mineral dental tem um efeito muito limitado no


controle da cárie.

- Contudo, a FA é um mineral menos solúvel e tem maior tendência a se precipitar no


esmalte e dentina do que a HA durante os fenômenos de desmineralização e
remineralização.

- Assim, mesmo que a queda do pH gerada no biofilme dental pela exposição aos
carboidratos favoreça a dissolução da HA, havendo íon flúor presente no ambiente bucal, a
FA ainda terá tendência a se precipitar (formar cristais).

- Assim, numa certa faixa de pH, haverá dissolução de HA e, concomitante, precipitação de


FA, contrabalanceando a perda mineral líquida da estrutura dental – retardando o
desenvolvimento de lesões de cárie.

- Logo, 5,5 deve ser considerado o pH crítico para o esmalte de um indivíduo ou população
não exposta diariamente a nenhuma forma de fluoreto.

- Quando exposto ao F, o pH crítico cai para 4,5.

- Entre o valor de 5,5 e 4,5, ao mesmo tempo em que o dente perde minerais na forma de
HA, ele também tem uma certa quantidade de íons cálcios e fosfatos dissolvidos retornando
ao dente na forma de FA.

***Ou seja, na desmineralização, o dente perde minerais na forma de HA, mas ganha íons
de cálcio e fosfatos dissolvidos na forma de FA. Perde HA e ganha FA. GRAVA.

- O resultado líquido desse fenômeno físico-químico presença de F no meio é uma redução


da desmineralização do esmalte-dentina.
- Adicionalmente, quando o pH do biofilme retorna a neutralidade, o F presente no meio
ativa a capacidade remineralizante da saliva, e o esmalte-dentina tem uma maior reparação
dos minerais perdidos (que teriam na ausência de F) – ou seja, ainda há uma
potencialização do efeito remineralizador da saliva.

- A presença de F constantemente no meio bucal para interagir nesses eventos


físico-químicos de des e remineralização que ocorrem diariamente na superfície do dente
(garantindo a saturação do meio com os íons que compõem a fluorapatita) é o principal
mecanismo de sua ação na prevenção da cárie.

Manutenção do fluoreto no meio bucal

- Todos os métodos preventivos baseados na utilização de F promovem o aumento de sua


concentração na cavidade bucal.

- Com a finalidade de interferir no processo de des e remineralização, independentemente


da forma de utilização (sistêmica, tópica).

- Quando ingerimos água fluoretada ou comemos alimentos preparados com essa água, há:

1. Aumento transitório da concentração de F salivar.

2. Há a ingestão de F e absorção pelo sangue e, assim, retorno à cavidade pela secreção


salivar.

- Muitas pessoas, inadvertidamente e erroneamente, deduzem que se o mecanismo de


ação é local, então os métodos melhores seriam os de aplicação tópica. - esse equívoco
está no projeto de lei n° 297, apresentado pelo senado federal em 2005.

- O mecanismo de ação é essencialmente local, na cavidade bucal, porém todos os


métodos de utilização do F funcionam, visto que possui efeito sistêmico ao ser ingerido.

- Associação de métodos de obtenção de F é positiva, desde que se leve em conta jamais


associar dois métodos cujo modo de aplicação seja sistêmico.

- O uso de métodos tópicos (bochechos, géis ou vernizes) em conjunto ao uso regular de


dentifrícios fluoretados tem pouco efeito adicional na redução de cáries.

- No Brasil, a base dos sistemas de prevenção de cárie, segundo a lógica de associação de


métodos, assenta-se na associação de água fluoretada com dentifrício fluoretado,
buscando-se permanentemente a universalização do acesso regular a esses meios de
obtenção de flúor.

- Na ausência de água fluoretada, recomenda-se o uso regular de dentifrício fluoretado em


conjunto com uma forma de uso tópico (bochecho gel ou verniz). E o custo deve se levar
em consideração, visto que a eficácia dos métodos é semelhante.

- Assim, a eficiência (custo-benefício) do gel fluoretado é maior do que a dos bochechos e


verniz, apresentando eficácia e efetividade semelhantes.
Meios coletivos do uso de flúor

I. Água de abastecimento público

- O acesso à água fluoretada é fundamental para as condições de saúde da população.

- Implantação de água tratada, ampliação do programa aos municípios com sistemas de


tratamento é a forma mais abrangente e socialmente justa de acesso ao flúor.

- Desenvolver ações intersetoriais para ampliar a fluoretação nas águas no Brasil é uma
prioridade governamental, garantindo-se continuidade e teores adequados, nos termos da
Lei n° 6.050 e normas complementares, com a criação e/ou desenvolvimento de sistemas
de vigilância compatíveis.

- A organização de tais sistemas compete aos órgãos de gestão do SUS.

- Compostos de flúor, na forma sólida ou solução aquosa, podem ser adicionados às águas
de abastecimento público, nas estações de tratamento ou poços de captação previamente
ao seu envio à rede de distribuição.

- Os produtos mais empregados no Brasil são o fluorsilicato de sódio e o ácido fluorsilícico.

- É obrigatória desde 1974 no Brasil “onde exista estação de tratamento de água” – Lei
Federal n° 6.050.

- É um dos pilares básicos para a prevenção de cárie dentária no Brasil.

- Dezenas de estudos brasileiros e internacionais admitem que a eficácia da medida


situa-se em torno de 60% de redução na ocorrência de cária dentária.

- O custo dessa medida é relativamente barato.

- Estudos mostram que essa medida beneficia proporcionalmente mais aqueles que mais
precisam dela, pois seu impacto preventivo é maior quanto maior a desigualdade
social.

- Estudos demonstram que a fluoretação de águas concentra-se nas regiões e municípios


com melhores indicadores sociais.

- A adição de compostos fluorados à água é feita na etapa final do tratamento de água.

- As técnicas dependem do produto empregado e as condições da estação de tratamento


da água.

Vigilância epidemiológica:

- Requer levantamentos epidemiológicos periódicos.


- Segundo a OMS, levantamentos utilizando o índice CPOD devem ser realizados pelo
menos a cada cinco anos.

- Nessas pesquisas deve-se também obter dados relativos à prevalência da fluorose


dentária.

Vigilância sanitária:

- O teor adequado de flúor e a variação da temperatura no local.

- No Brasil o valor máximo é 1,5ppm ou seja 1,5mg de fluoreto por litro de água.

- Na maior parte do Brasi o teor ideal de flúor é 0,7ppm ou 0,7mg de flúor por litro.

- No sul, o teor ideal é 0,8ppm ou 0,8mg de flúor de litro.

- As populações privadas do benefício da fluoretação de água apresentam um valor de


34,3% maior para o índice de CPOD.

- Se essa medida fosse paralisada, haveria aumento de prevalência de cárie em 27% para
dentição decídua e aproximadamente 35% para dentição permanente após cinco anos.

- A vigilância para essa medida é necessária, pois há quem acredite que esta não possui
efeito ou é prejudicial à saúde humana, e quer inviabilizar a fluoretação de águas.

- Há dois tipos de vigilância: base de dados fornecidos pelas empresas de tratamento de


água (que pode não ser fiel) e heterocontrole (o próprio órgão se encarrega da coleta e
análise de dados.

Biossegurança

- Os cuidados dizem respeito à estocagem, certas concentrações armazenadas podem


causar danos aos manipuladores.

- Já quando está na água, a única consequência pode ser a fluorose dentária, porém em
graus muito leves, apenas quando o teor é preconizado para a localidade.

Aspectos éticos

- Conhecer o teor de flúor na água antes de disponibilizá-las.

- Águas hipofluoradas: com teores abaixo de 0,55ppmF.

- Isofluoradas/hiperfluoradas: teor superior a 0,84ppmF.

- Teor ótimo: 0,7ppm.

***Se a água é hipofluorada, não protege contra à cárie, e deve ser informado à população.

***Se a água é hiperfluorada, crianças até 9 de idade ficam expostas a desenvolver fluorose
dentária em graus estética e funcionalmente significativos.
Indicação

- Toda a população.

II. Dentifrícios

- É um dos métodos mais racionais de prevenção das cáries, pois alia a remoção do
biofilme dental à exposição constante do flúor.

- É considerado um meio coletivo de obtenção de flúor, pois a possibilidade de aquisição do


produto a partir de decisões de saúde pública/coletiva, independente do poder aquisitivo de
cada pessoa.

Ação

- Aumenta a concentração de flúor na saliva por cerca de 40 min após a escovação.

- Em acréscimo, o F se retém na cavidade bucal por um período ainda maior de tempo por
dois mecanismos.

- Nas superfícies dentais limpas pela escovação, o F reage com o dente, formando
regularmente pequena quantidade de fluoreto de cálcio na superfície esmalte-dentina.

- Nos residuais de placa não removidos pela escovação, o F se difunde e se deposita na


forma de reservatório com Ca, orgânico ou mineral.

- Logo, o dentifrício associa a remoção do biofilme a um aumento nos níveis de flúor na


cavidade bucal, para interferir no processo de des e remineralização.

Compostos

- Fluoreto de sódio (NaF) ou monofluorfosfato de sódio (MFP, Na2Po3F).

- A ação na cavidade bucal é a mesma independentemente do composto utilizado.

- Eles liberam o íon fluoreto na cavidade bucal

- NaF libera por ionização quando em contato com a água.

- O MFP pela ação de enzimas chamadas fosfatases, que estão presentes na cavidade
bucal.

- Os demais componentes dos dentifrícios devem ser compatíveis para evitar que o flúor se
ligue a outros íons, tornando-se insolúvel e perdendo a sua ação.

- Ex: NaF não deve ser agregado a dentifrícios contendo Ca como abrasivo, como
carbonato de cálcio, pois ocorre a ligação flúor com cálcio do abrasivo, formando-se fluoreto
de cálcio (CaF2) dentro do tubo e não no dente.
- Assim, quando for utilizado para escovação, o fluoreto de cálcio formado no dentifrício não
libera fluoreto, impedindo sua ação preventiva.

- Porém, o carbonato de cálcio pode ser utilizado como abrasivo nos dentifrícios que
utilizam o MFP, pois este só libera fluoreto quando na cavidade bucal, não permitindo sua
reação dentro do tubo.

- A maioria dos dentifrícios brasileiros é formulado com MFP/CaCO3­.

- Para dentifrícios que utilizam o fluoreto de sódio, o agente abrasivo deve ser compatível
(ex: sílica, não reage quimicamente com o flúor).

Eficácia

- O efeito de produtos fluoretados deve ser avaliado com ensaios clínicos randomizados.

Efetividade

- O ano de 1989 é considerado, para fins epidemiológicos, o ano no qual grande parte dos
brasileiros passou a ter acesso a dentifrícios fluoretados.

Indicações

- Toda a população.

- Crianças, em especial crianças menores de 9 anos, deve usar pequenas quantidades


(cerca de 0,3 gramas – equivalente a um grão de arroz), devido ao risco de fluorose
dentária.

- Dentifrícios com baixa concentração de fluoretos ou fluoretados não são recomendados.

Escovação dental supervisionada

- Importante meio para obtenção coletiva de flúor, em vários locais do Brasil.

- Escovação dental supervisionada indireta, escovação supervisionada direta em programas


de saúde coletiva.

- Há pouco na literatura científica sobre isso.

- O Ministério da Saúde refere que em várias localidades a ação de escovação dental


supervisionada indireta é realizada diária ou semanalmente.

- Nessa modalidade, os profissionais de saúde envolvidos atuam no planejamento,


supervisão e avaliação de ações e indiretamente na execução. Pode ter periodicidade
quinzenal ou mensal.

- Contudo, é indispensável realizar a escovação supervisionada direta para levar o flúor e


consolidar o hábito de escovação, e avaliar periodicamente a qualidade do ato individual de
escovar, orientando o sujeito para áreas que precisam de atenção. Pode ter frequência
semestral, quadrimestral ou trimestral.
- Realizar essa atividade com frequência maior do que 4 vezes por ano não implica em
ganhos adicionais relevantes no processo educativo, onerando desnecessariamente os
recursos alocados à atividade.

- Recomenda-se que, nessa ação, o biofilme seja evidenciado e que o sujeito seja
incentivado a complementar a escovação, sem o uso do dentifrício, nas áreas e superfícies
necessárias.

- Nessa modalidade também avalia-se o desgaste, a deformação das certas e a qualidade


das escovas, assim como os aspectos dos cremes dentais que são distribuídos.

- Como vantagem, garante o acesso a fluoretos em concentrações adequadas e melhora


dos padrões de higiene oral, com consequências benéficas para a saúde periodontal.

- Pode ter como desvantagem, as dificuldades operacionais para realizar as medidas, logo,
os planejamentos, execução e avaliação devem ser compartilhados com os dirigentes
educacionais e com os responsáveis da população alvo.

- O objetivo da ação é qualitativo, visando aprimorar as habilidades do sujeito no uso da


escova para desorganizar o biofilme dental.

- São indicadas para grupos em situação de:

1. Expostos à água de abastecimento sem flúor.

2. Expostos com teores de fluoretos abaixo da concentração indicada (até 0,54ppmF).

3. Cujo CPOD médio seja maior do que 3 aos doze anos de idade.

4. Em que menos de 30% dos indivíduos dos grupos sejam livres de cárie até os 12 anos
de idade.

5. Residentes em áreas de pobreza onde se estima serem menores os níveis de exposição


geral aos fluoretos.

Enxaguatórios bucais

- Solução concentrada normalmente de fluoreto de sódio a 0,05% para ser bochechada


diariamente, e 0,2% semanal ou quinzenalmente.

- Possui como vantagem a facilidade de aplicação e baixo curso.

- É contraindicado para crianças em idade pré-escolar devido ao risco de ingestão.

- Exige pelo menos 25 bochechos semanais por ano, sem interrupções prolongadas.

- É indicado, concentração de 0,2%, para grupos em situação de:

1. Exposição à água de abastecimento sem flúor.

2. Exposição à água com baixos teores de flúor.


3. CPOD médio maior que 3 aos doze anos de idade.

4. Menos de 30% dos indivíduos do grupo são livres de cárie aos 12 anos de idade.

5. Populações com condições sociais e econômicas que indiquem baixa exposição a


dentifrícios fluoretados.

- Bochechos diários de NaF a 0,05% em combinação com dentifrícios fluoretados, são


recomendados para indivíduos de alto risco de cárie (ex: que usam

Géis

- Concebido para ser usado em aplicações profissionais, no ambiente restrito ao consultório,


ou clínica odontológica.

- Foi difundido no Brasil nos anos 80 e integrado nos anos 90 como “Procedimentos
Coletivos de SB”.

- É um gel de flúor-fosfato acidulado (FFA) com concentração de 1,23% de fluoreto em


ácido ortofosfórico a 0,1M durante 4 min.

- Recomendação de não beber água e nem comer por 30 minutos após a aplicação, porém
não há evidência da relevância anticárie.

- Recomenda-se aplicação semestral ou quadrimestral.

- Pode ser usado em moldeiras ou através de escovação sem necessidade de profilaxia


prévia.

- A profilaxia prévia deve ser considerada para grupos de alto risco de cárie, para que o F
forme reservatórios na superfície dental, sem a camada de biofilme por cima.

- Não há risco de fluorose devido a baixa frequência.

- A frequência é de 2 a 3 vezes ao ano.

- Possibilita maior cobertura quando comparada aos bochechos.

- Há necessidade de supervisão, especialmente quando se trata de aplicação em moldeiras


para crianças em idade pré-escolar, devido ao risco de ingestão.

- Possui a mesma indicação para bochechos.

- Também se recomenda o uso em populações onde métodos de alta frequência são


isoladas ou distantes dos centros urbanos.

Meios individuais de uso de flúor


i. Bochechos de NaF a 0,05%

São indicados para pacientes com alto risco ou atividade de cárie que não estão
conseguindo controlar a cárie por meios convencionais de uso de flúor (ex: pessoas que
usam aparelho ortodôntico).

ii. Suplementos para uso individual na gestação e infância

- Surgiu na época que se considerava que o efeito anticárie do F era sistêmico, e assim,
seria necessário e indispensável ingerir F durante a formação dos dentes.

- Considerando que o F age quando presente na cavidade bucal, e levando-se em conta


abrangência dos métodos tópicos de utilização, com especial destaque aos dentifrícios
fluoretados, a indicação de comprimidos fluoretados para se alcançar um efeito
sistêmico (que nada mais é do que um aumento da concentração de flúor na cavidade
bucal) parece ser irrelevante.

- Atualmente, mesmo em regiões não fluoretadas, os indivíduos estão expostos a outras


fontes sistêmicas de flúor.

- Por isso, considera-se que essa indicação dos suplementos não é racional.

- Faltam estudos clínicos controlados justificando a indicação desse meio, considerando


os outros métodos já existentes.

- Acreditava-se que a ingestão de flúor durante a gravidez beneficiaria, hipoteticamente,


os dentes decíduos da criança (que iniciam sua mineralização in útero).

- Ao nascimento, apenas os primeiros molares estão iniciando sua mineralização.

- Também acreditava-se que existia uma barreira placentária inibindo a passagem de F


para o feto, esse erro se deveu a limitações das técnicas de dosagem de F do passado,
as quais não tinham sensibilidade para detectar pequenas quantidades de F que se
incorporavam no feto em formação.

- Se a gestante ingerir água fluoretada, a suplementação pré-natal está contraindicada.

- Para regiões sem água fluoretada, a suplementação de 1mg de F por dia.

- A ingestão de F em complexos vitamínicos que contêm cálcio, o cálcio reage com o F


e diminui a absorção de ambos.

- A diminuição da ingestão de cálcio traz consequências para a gestante.

- Nenhum estudo comprovou eficácia da ingestão F durante a gravidez na diminuição da


incidência de cárie em dentes decíduos.

- Por isso, nenhuma organização internacional recomenda a prescrição de F pré-natal.


- A indicação pós-natal tem indicação muito limitada.

- É contraindicada como medidas de saúde pública/coletiva.

iii. Vernizes

- São materiais aderentes à superfície dentária com o objetivo de reagir com a superfície
dental e manter uma liberação de F para um ambiente bucal por um período maior de
tempo.

- Recomendam-se, no mínimo, duas aplicações anuais para pacientes com atividade de


cárie ou com história passada de alta experiência de cárie.

- No programa de saúde pública/coletiva, recomendam-se de duas a quatro aplicações


anuais.

- É necessária a limpeza prévia dos dentes, por meio de escovação, posterior secagem,
isolamento relativo.

- Pode ser usado em populações pré-escolar.

- Mesmas indicações para uso de gel.

- Custos e questões operacionais devem ser considerados.

- A aplicação é individual.

iv. Materiais dentários liberadores de flúor

- Inicialmente desenvolvidos como materiais restauradores para prevenir cárie secundária


(ao redor de restaurações), tem sido utilizado como selante fóssulas-fissuras, na colagem
de aparelhos ortodônticos fixos e no tratamento paliativo de cárie conhecida como TRA
(tratamento restaurador atraumático).

- Os materiais de maior potencial anticárie são classificados como CIV e cimentos de


ionômero de vidro modificados por resina (CIVMR).

- A eficácia de prevenção de cárie secundária pelo CIV e CIVMR está sustentada em


inúmeros estudos laboratoriais em in situ, porém não há evidência com base em estudos
clínicos controlados randomizados a favor ou contra a eficácia anticárie desses materiais.

- Em acréscimo, embora o fluoreto liberado do CIVMR tenha reduzido a cárie tanto de


esmalte como de dentina, esse efeito foi reduzido quando o dentifrício fluoretado foi
utilizado três vezes ao dia.

- Há evidência que esses materiais utilizados como selantes de sulcos e fissuras previnem
não só a iniciação como a progressão de cárie.
- O efeito selador sugere eficácia de aplicação desses materiais na TRA.

- A retenção de selantes ionoméricos é menor do que em resinosos e não há evidência por


meio de estudos dos CCR de superioridade do fluoretado em relação ao resinoso.

- Em relação aos materiais para colagem de aparelhos ortodônticos, há alguma evidência


de que materiais ionoméricos reduzem a ocorrência e severidade de lesões de cárie, porém
a qualidade da evidência não permite a recomendação do melhor adesivo entre os em uso.

- A grande vantagem é a liberação de F constantemente, mantendo baixas concentrações


de F no meio bucal controlando a cárie, independente do autouso de f pelos indivíduos.

- Como desvantagem, há a menor retenção e qualidade estética desses materiais, quando


comparados aos resinoso convencionais.

- São indicados para indivíduos de alto risco de cárie (experiência passada de cárie) e para
aqueles que não usam regularmente dentifrícios fluoretados.

Fluorose dentária

- Embora a maioria dos casos relatados na literatura atual aponte a predominância de


fluorose leve ou muito leve, e não sendo considerada um problema de saúde pública por
não apresentar impacto na aparência ou na função, deve ser implementada uma prática de
saúde pública prudente para minimizar essa condição.

- É resultado da ingestão crônica de flúor.

- Gera mudanças visíveis de opacidade do esmalte devido as alterações no processo de


mineralização.

- O grau dessas alterações é função direta da dose de F ingerida e do tempo de duração da


dose.

- Mudanças desde linhas opacas brancas finas cruzando transversalmente o longo eixo da
coroa, até quadros onde áreas de esmalte gravemente hipomineralizadas se rompem, e
geralmente, o esmalte restante fica pigmentado.

- Fluorose leve: apenas alterações estéticas por pigmentação branca no esmalte.

- Fluorose moderada a severa: manchas amarelas ou marrons, além de defeitos estruturais


no esmalte.

- A fluorose tem diagnóstico diferencial de opacidades do esmalte.

- Altas prevalências ocorrem em regiões onde a fluorose é endêmica, devido à alta


concentração de F nas águas de abastecimento.

- A dose limite de ingestão de fluoretos capaz de produzir fluorose é entre 0,05 e 0,07 mg
F/dia/kg de peso corporal.
- O período crítico de exposição a dosagens excessivas é do nascimento até oito anos de
idade.

- Baixo peso corporal, taxa de crescimento esquelético, períodos de remodelamento ósseo,


estado nutricional, alterações renais e homeostase do cálcio são sugestivos de interferência
na severidade da fluorose dentária.

- O fato de risco é a ingestão de fluoretos advindos de múltiplas fontes.

- O uso de água fluoretada, dentifrício fluoretado, suplementos com F e bebidas ou


alimentação infantil em pó contendo fluoretos antes dos seis anos de idade têm sido
considerados fatores mais importantes.

- Acesso aos produtos com F antes dos 3 anos é apontado como fator de risco.

- É importante salientar as estratégias voltadas para o controle de fatores de risco e


incremento de fatores de proteção contra a fluorose dentária.

- Considerando que a água fluoretada e o uso de dentifrício fluoretado são as formas mais
eficientes e custo-efetivas para a prevenção de cáries, outras formas deveriam ser
indicadas apenas para pessoas com alto risco de cárie ou atividade da doença.

- Crianças menores de 6 anos, principalmente as crianças menores de 2 anos, têm risco


aumentado – pais e cuidadores devem ser aconselhados sobre os cuidados para o uso de
dentifrícios fluoretados para crianças pequenas.

***Limitar a frequência de escovação a 2x/dia, aplicar uma quantidade equivalente a uma


ervilha ou grão de arroz (máx de 0,3g), supervisionar a escovação, encorajar a criança a
cuspir todo o excesso).

***Para crianças abaixo de dois anos, o profissional de saúde deve considerar outras fontes
de fluoretos, como o nível de F na água, e outros fatores que podem afetar a suscetibilidade
à cárie para indicar ou não o uso de dentifrício fluoretado.

- Crianças abaixo de 6 anos não devem utilizar bochechos com soluções fluoretadas pelo
risco de ingestão repetida.

- Suplementos com fluoretos não são indicados como medida de saúde coletiva.

- O aleitamento materno por um período maior que seis meses pode ser um fator de
proteção ao desenvolvimento de fluorose dentária, evitando assim o uso de fórmulas para o
aleitamento artificial.

- A indústria deve garantir a indicação de dosagem de fluoreto no rótulo de águas minerais.

- Garantia de um sistema integrado de vigilância epidemiológica e sanitária do flúor.

- A vigilância epidemiológica da fluorose dentária deve ser parte do processo de vigilância à


saúde, como atribuição da esfera municipal, tendo como objetivos:
1. Monitorar a ocorrência, distribuição e gravidade de casos de fluorose.

2. Avaliar a necessidade de controle de consumo de produtos com flúor.

3. Avaliar o impacto da fluorose sobre a qualidade de vida das pessoas atingidas.

4. Acompanhar as tendências de ocorrência da fluorose ao longo do tempo.

5. Incrementar a vigilância sanitária de produtos com flúor disponíveis para a


população.

6. Avaliar o impacto da fluorose sobre a qualidade de vida das pessoas atingidas.

- Um sistema de notificação de casos de fluorose moderada e severa permite a avaliação


indireta do uso de diferentes fontes de flúor de modo sistêmico pela população,
constituindo-se como um “evento sentinela” da fluorose no município. Esse sistema
deve ter como objetivos:

1. Acompanhar casos graves de fluorose.

2. Identificar fatores determinantes a partir de um processo de investigação detalhada.

3. Avaliar a necessidade de monitoramento de teor de flúor nos produtos disponíveis.

4. Despertar nos profissionais envolvidos com a saúde bucal o interesse pelo


reconhecimento e diagnóstico da fluorose dentária e pela utilização racional do flúor.

Toxicidade aguda do flúor

- Refere-se à ingestão, de uma única vez, de grande quantidade de flúor provocando desde
irritação gástrica até a morte.
- Nenhuma pessoa pode estar exposta a concentrações iguais ou superiores a 5,0 mgF/kg
corporal – que corresponde à dose provavelmente tóxica (DPT).

- São raríssimos os casos de intoxicação aguda letal resultante da ingestão de fluoretos em


formulações usadas para prevenção de cárie.

- Náuseas e vômitos têm sido relatados quando a aplicação tópica de F-gel com moldeiras,
entretanto sem nenhuma preocupação com a letalidade.

- Acidentes ocorreram no passado com produtos que não são mais usados atualmente.

Efeitos adversos para a saúde humana

A absorção de flúor ocorre de maneira similar se o flúor em questão é encontrado na


natureza ou adicionado em águas.

Os elementos químicos usados no processo de fluoretação de águas advêm da fabricação


de fertilizantes tendo por base fosfatos, cuja matéria prima provém de fontes naturais.

Oponentes da fluoretação das águas provocam efeitos adversos para a saúde geral das
pessoas, o que carece de comprovação científica.

Muitas pessoas, em todo o mundo, estão expostas a concentrações variáveis de flúor


natural, enquanto outras se beneficiam da medida artificialmente (fluoretação).

- Não existem efeitos comprovados na literatura a respeito de riscos de doenças ou


mortalidade entre a fluoretação das águas e os efeitos sistêmicos adversos.

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