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estadao.com.br

Conheça a história de Keko, o


‘guerrilheiro do PCC’ que desafia a
polícia nas redes sociais
Marcelo Godoy

12–16 minutos

No dia 7 de junho, um admirador entrou no perfil Falujasiria, no


Instagram, que pertence a André Luiz dos Santos, o Keko, e
escreveu um comentário em uma fotografia do bandido com seu
fuzil: “Tá na mídia paizão tá passando no Kwai e TikTok direto.
Brabo demais”. Keko tem outros quatro perfis na rede social com
fotos e vídeos de seu treinamento e preparo na selva da Baixada
Santista. Sua história se confunde com as lendas criadas em torno
de seu nome. Ela está registrada em uma investigação criminal.

Um usuário de uma rede social deixa uma mensagem para Keko


em um dos perfil que o traficante do PCC mantém Foto:
Reprodução / Estadão

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‘Zap’ dos indígenas orientou Bope na caçada a bandidos com 15


mortos; veja vídeo e ouça áudios

Nos últimos dois anos, Keko atirou em policiais, quase derrubou


um helicóptero da Polícia Militar e se escondera, segundo a Polícia
Civil, na Bolívia. O Grupo de Atuação Especial e Repressão ao
Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPE),
acredita agora que ele está de volta ao seu ambiente: a mata em
torno do mangue, ao redor do Porto de Santos, onde ele é um dos
chefes da segurança do tráfico internacional de drogas, mantido
pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).

De acordo com relatório secreto da polícia, Keko “vive na mata


desde meados de 2008 quando foi condenado a nada menos que
92 anos de reclusão, mas, ao que tudo indica, nunca esteve
isolado”. Sua rede de proteção contaria com a participação de
Rafael da Silva Martins, o Marrom, apontado como o chefe do
tráfico de drogas na Vila Esperança, em Cubatão. O material
apreendido durante as investigações permitiu à polícia concluir que
Keko mantém uma estrutura capaz de escondê-lo de forma
discreta, mas sem que lhe falte o mínimo, “como água, luz, e algo
importantíssimo, o acesso à internet!”.

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A ficha de Keko, organizada pela inteligência da polícia


paulista Foto: REPRODUÇÃO / ESTADÃO

O Estadão reconstruiu os últimos passos dessa caçada ao homem


que se comporta como um guerrilheiro. Os lances mais recentes
dessa perseguição começaram em 2 de abril de 2020. Naquele
dia, o capitão Bruno, da PM, pilotava uma das aeronaves Águia, da
corporação, quando avistou uma embarcação de alumínio de cerca
de 12 pés de comprimento. A patrulha aérea sobrevoava o
mangue, em São Vicente, ao lado da Estrada de Paratinga, perto
da praça do pedágio, onde corre o Rio Boturoca.

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Os ocupantes do barco levavam dois tonéis azuis, semelhantes


aos usados por traficantes da região para esconder entorpecentes
na mata. Quando perceberam a aproximação da polícia, os
bandidos manobraram e levaram a embarcação para baixo da
vegetação ribeirinha. O piloto do helicóptero tentou se aproximar,
mas eles atiraram com fuzis. Alvejaram quatro vezes a aeronave,
comprometendo o comando dos pedais, o que obrigou o capitão

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Bruno a procurar uma área segura para o pouso de emergência.

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Documento da perícia mostra os tiros disparados por Keko que


alvejaram o helicóptero Águia, da PM Foto: Reprodução / Estadão

A Polícia Militar reagiu e despachou para lá quatro equipes do


Comando de Operações Especiais (COE), tropa criada para
combates na selva. A nova incursão começou no dia 8 de abril, em
uma pequena ilha do Rio Boturoca, em São Vicente. Duas
patrulhas avançaram pela terra e duas outras se aproximaram pelo
mar em embarcações com calado apropriado para ações de
comando.

Quando as patrulhas marítimas se aproximavam da margem do rio,


traficantes escondidos na ilha atiraram com fuzis. O policial
Rodrigo Tadeu Rodrigues foi atingido no punho direito e seu
companheiro Julio Cesar Reis foi ferido na coxa esquerda. Uma
rápida operação de resgate foi montada para transferir os baleados
para hospitais de São Paulo.

Embarcação abandonada por Keko e encontrada pela polícia na


região do Rio Boturoca, no mangue da Baixa Santista Foto:
REPRODUÇÃO / ESTADÃO

O COE permaneceu por mais de 24 horas na região de mata


fechada. Vasculharam cada pista deixada pelos bandidos – não
muito longe dali, um suspeito seria baleado perto da linha férrea
Santos-Jundiaí. Apesar do cerco, Keko e seus homens fugiram,
deixando para trás drogas, explosivos, munições, balanças de
precisão e anotações com a contabilidade do tráfico.

A maioria da cocaína apreendida estava nos tonéis plásticos, em


esconderijos cavados na terra. Uma parte menor foi achada em
cima de uma bancada, em porções de cerca de um quilo. Os
policiais haviam, pela primeira vez, desbaratado um dos bunkers

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de Keko. O lugar tinha câmeras de monitoramento para vigiar o


seu entorno, além de uma rede de casamatas usadas para repelir
invasores.

Os tonéis de plástico azul com cocaína escondidos no meio da


mata pela quadrilha de Keko Foto: REPRODUÇÃO / ESTADÃO

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Parte da droga armazenada ali serviria para abastecer a


comunidade da Vila Esperança. Outra era levada à noite por Keko
e suas equipes até o porto, onde mergulhadores do PCC prendiam
o entorpecente em navios com destino à Europa.

Lá, outros mergulhadores ligados à facção ou aos seus parceiros


europeus, como a Ndrangheta e a máfia sérvia, recuperavam a
droga para distribuí-la no continente. Trata-se de um negócio na
Baixada Santista hoje dominado por traficantes como André de
Oliveira Macedo, o André do Rap, atualmente foragido.

O mapa áreo da região da Vila esperança, em Cubatão, onde Keko


se esconde Foto: REPRODUÇÃO / ESTADÃO

Nova operação

Após as incursões de abril de 2020, a PM manteve a vigilância na


área do Rio Boturoca. Foi ali que seus homens detectaram meses
depois um bando em lanchas rápidas, com fuzis, circulando pelo
mangue. Era 11 de junho. Três dias depois, novas informações
chegaram ao Batalhão de Operações Especiais (Bope): os
bandidos desembarcaram mais tonéis azuis na região. Os policiais
identificaram as coordenadas de GPS de três pontos que teriam
sido ocupados pelos criminosos.

A Justiça recebeu o pedido e concedeu a ordem para monitorar os


suspeitos. Depois, expediu mandados de busca. Às 7 horas de 20
de junho, homens do COE e do esquadrão antibombas da PM

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irromperam nos três pontos monitorados. Mas os agentes


chegaram tarde demais. Tudo tinha aspecto de abandono. Foi
pouco a pouco que as provas das atividades dos bandidos foram
surgindo.

Keko se desloca com fuzil, roupas camufladas e usa balaclavas em


seus treinamentos na mata; aqui, imagens de um de seus
vídeos Foto: REPRODUÇÃO / ESTADÃO

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A ação no primeiro endereço foi decepcionante. Em uma rua de


terra batida, às margens da ferrovia, um muro alto e um portão
escondiam um barracão. Ali, em uma caixa plástica, embaixo de
uma bancada de madeira, foi achado o único vestígio deixado
pelos criminosos: um carregador de fuzil.

As coisas só começaram a mudar a quase um quilômetro dali, na


encosta de um morro. Uma armadilha feita com linhas e uma
granada pelos traficantes estava no caminho dos policiais,
comandados pelo tenente-coronel Valmor Saraiva Racorti, que
tiveram de detoná-la.

A trilha onde Keko armou com um fio uma armadilha com uma
granada para deter invasores perto de sua casa, na mata Foto:
REPRODUÇÃO / ESTADÃO

No fim da trilha, havia uma casa de alvenaria. Em meio à mata


nativa, Keko construíra um imóvel com piscina e um lago artificial,
mas não se esqueceu de também estender ali armadilhas para os
invasores. Contava ainda com a companhia de um cão da raça
pitbull.

Em seus perfis nas redes sociais, o traficante publicou vídeos


ensinando o cachorro a subir em árvores e a resgatar troncos
presos a anilhas de equipamentos de musculação – material
semelhante ao encontrado pelo COE –, jogando-os na piscina.

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A piscina da casa de Keko, em meio à mata, em Cubatão; à


esquerda, seu pitbull na piscina Foto: REPRODUÇÃO / ESTADÃO

Em um outro vídeo, o traficante mostra que o cão atendia ao


comando “amém” para só então começar a comer. O dono fazia
ainda as vezes de veterinário do bicho e chegou a se filmar
cuidando de um ferimento do animal.

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No imóvel, todo bagunçado e com a piscina vazia, os policiais


encontraram um fuzil BMG, calibre .50, modelo 82A1. Mais
adiante na mata, perto de uma cachoeira, eles localizaram um
barraco onde Keko supostamente guardara quatro rolos de
emulsão explosiva.

Fuzil calibre .50 apreendido pelos policiais do COE na terceira


ação para tentar capturar Keko, na área do mangue Foto:
REPRODUÇÃO / ESTADÃO

O bandido, no entanto, escapou. Nenhum traço que levasse a sua


captura foi encontrado. A alcunha de ”guerrilheiro do PCC” teve
origem em um informe, nunca confirmado pela polícia, de que
Keko passara uma temporada na Colômbia, onde teria aprendido a
navegar pela selva com os guerrilheiros das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Há muita lenda em torno
dele”, reconhece o promotor Lincoln Gakiya, um dos maiores
conhecedores do PCC no País.

O homem procurado pela PM sumiu no meio da mata, como nos


vídeos que ele divulga nas redes sociais onde diz: “Não existe
atalhos, tudo é repetição e treinamento”. Ou como escreveram os
investigadores da Polícia Civil em um relatório secreto: “A ousadia
demonstrada nas duas ações chega a ser assustadora, mas ao
que tudo indica, ‘Keko’ treinou muito e se preparou para o dia do
combate”.

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O guerrilheiro do PCC

Condenado a 92 anos de prisão, bandido treina técnicas de


guerrilha e se esconde no mangue da Baixada Santista

Ao ser questionado sobre o paradeiro de Keko, em fevereiro, o


delegado Luiz Carlos do Carmo, diretor do Departamento de
Polícia do Interior-6 (Deinter-6), responsável pela Baixada Santista,
disse ao Estadão o que todos até então acreditavam: Keko fugira
para a Bolívia. Era lá que ele estaria.

Transformada em santuário do PCC, o país andino abrigara


durante anos o megatraficante Gilberto Aparecido dos Santos, o
Fuminho, antes de ele se transferir para Moçambique, onde foi
preso pelos agentes da Drug Enforcement Administration
(DEA), dos EUA. Agora, a Bolívia seria, segundo agentes da
Polícia Federal que combatem as facções criminosas, o refúgio
escolhido por André do Rap, coincidentemente, outro criminoso
que nasceu na Baixada Santista.

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Entretanto, não ia demorar muito para que a inteligência da Polícia


Civil obtivesse uma informação que coloca novamente Keko com
os pés na Baixada. Foi por meio de uma mensagem telefônica em
que ele fez ameaças a um desafeto que a polícia localizou o local
exato de onde partira o recado: a favela Vila Esperança, em
Cubatão, vizinha ao mangue. “Temos a informação de que ele
voltou”, afirmou o promotor Sílvio Loubeh, do Gaeco da Baixada,
com mais de 15 anos de experiência no combate ao crime
organizado.

Após a segunda fuga de Keko, o Gaeco havia pedido à Justiça que


os perfis mantidos pelo narcotraficante fossem desativados, mas
até a semana passada era possível acessar os vídeos e as fotos
postadas pelo bandido, quase tudo material antigo. É que desde a

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“sua volta”, Keko mantém silêncio.

A casa de Keko no meio da mata, na região do mangue; imagem


do laudo pericial Foto: REPRODUÇÃO / ESTADÃO

Nada de novo aparece em suas contas no Instagram. Suspeita-se


de que ele tenha criado novos perfis, onde procura manter vídeos
de treinos para o combate, como os que circulam livremente em
redes populares, como o Kwai e o TikTok. No material de 2020, os
investigadores encontraram provas para ligar o bandido aos
bunkers e aos objetos apreendidos, além de pistas para localizá-lo.
Talvez, por isso mesmo, ele esteja, agora, mais cauteloso.

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