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do Trabalho da 1ª Região
ANAIS DO I CONGRESSO
NACIONAL DE ANÁLISE
ECONÔMICA DO DIREITO NA
JUSTIÇA DO TRABALHO
Congresso Nacional de Análise Econômica do Direito na Justiça do Trabalho (1.: Rio de Janeiro : 2021)
Anais [recurso eletrônico] / I Congresso Nacional de Análise Econômica do Direito na Justiça do Trabalho,
2022. – Rio de Janeiro: Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, 2022.
ISBN 978-85-53137-08-4
CDDir 340
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE ANÁLISE
ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO Apresentação
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE ANÁLISE
ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO Apresentação
muitos dos seus estudiosos têm a nos dizer. Sem deslumbramentos utópicos
ou pessimismos preconceituosos, o nosso compromisso deverá permanecer um
só: avaliá-lo criticamente, de maneira a importar o que houver de mais útil para
o exercício da jurisdição trabalhista. Se, com a análise econômica do direito,
pudermos realizá-la de modo cada vez mais eficiente, sem descuidar do nosso
sentimento de justiça, tanto melhor. Fundamental mesmo será mantermos os
dois pés bem fincados na realidade brasileira.
Boa leitura!
Rio de Janeiro, Inverno de 2021.
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Análise Econômica
do Direito: o que ela
é e o que ela não é?
Os impactos da Reforma Trabalhista sobre o problema da
insegurança jurídica e do congestionamento judicial no âmbito da
justiça do trabalho brasileira: uma abordagem de law and economics
Luciano Benetti Timm1
Martha Macedo Sittoni2
Manoel Gustavo Neubarth Trindade3
1 Advogado. Pós-Doutor U.C., Berkeley, EUA. Doutor em Direito dos Negócios pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Direito pela UFRGS. Mestre em Direito (LLM)
pela Universidade de Warwick, Inglaterra. Professor Visitante do Programa de Pós-Graduação em
Direito da USP. Foi presidente da Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE) e do Instituto
de Direito e Economia do Rio Grande do Sul (IDERS). Membro do Comitê de Ciências Humanas e
Sociais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Professor
adjunto da UNISINOS e professor convidado da Escola Superior da Magistratura - AJURIS e da
EMAGIS. E-mail: ltimm@cmtlaw.com.br.
2 Advogada. Doutoranda em Direito e Economia na Universidade de Lisboa. Mestre em Direito do
Trabalho pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Membro da Academia Sul Rio-Grandense de
Direito do Trabalho, ocupante da cadeira de nº 25. Professora da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul – PUCRS. E-mail: msittoni@cmtlaw.com.br
3 Pós-Doutorando na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Doutor em Direito (UFRGS).
Mestre em Direito (UFRGS). Especialista em Processo Civil (UFRGS). Professor Permanente do
Mestrado Profissional em Direito da Empresa e dos Negócios da UNISINOS. Coordenador e Professor
do Pós-LLM em Proteção de Dados da UNISINOS. Coordenador e Professor do LLM em Direito dos
Negócios da UNISINOS. Coordenador e Professor da Especialização em Direito dos Contratos e da
Responsabilidade Civil da UNISINOS. Professor da Graduação em Direito UNISINOS Porto Alegre LES
(Law, Economics and Society) e da Graduação em Direito da UNISINOS São Leopoldo. Foi Presidente
e atualmente é Diretor Científico do Instituto de Direito e Economia do Rio Grande do Sul – IDERS.
Foi Diretor da Associação Brasileira de Direito e Economia – ABDE. Foi Vice-Presidente da Comissão
Especial de Energia, Mercado de Capitais e Infraestrutura da OAB/RS. Fundador do Grupo de Estudos
em Direito e Economia da OAB/RS. Advogado e Economista.
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE ANÁLISE
ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO Análise Econômica do Direito
1. Introdução
A preocupação com a racionalização processual e com os efeitos que as
decisões judiciais acarretam sobre o desenvolvimento do país ganha cada vez
mais espaço na discussão acadêmica, assim como na atividade forense.
É preciso observar o processo e a legislação sob as lentes da realidade do
comportamento das partes litigantes, do juiz e do custo envolvido na disputa. A
legislação laboral, assim como os critérios interpretativos desenvolvidos sobre
a mesma, com o fito de balizar os julgamentos, foi concebida, em muitos casos,
sem se refletir acerca das consequências práticas dos dispositivos legais sobre
a conduta dos agentes envolvidos nas disputas processuais. Foi assim também
na Constituição Federal, que abriu as portas dos tribunais superiores em nome
do “acesso à justiça”, sem se ponderar sobre o impacto econômico e sobre a
eficiência das cortes.
Para os autores que trabalham com as premissas da Análise Econômica do
Direito (ou Law and Economics), como se verá a seguir, os litigantes são agentes
econômicos racionais e, portanto, moverão ações e interporão recursos à medida
que, em sua análise probabilística de custo-benefício, houver indicativo de ganhos.
Vale dizer, ninguém ingressará com uma ação para se colocar em situação pior.
E esse cálculo probabilístico leva em conta as probabilidades de êxito da ação,
os custos processuais e os riscos de perda.
Assim, se os custos processuais e os ônus sucumbenciais forem baixos e
os precedentes judiciais erráticos, o sistema processual poderá criar incentivos à
propositura de ações descabidas. Ou seja, o sistema processual acaba colocando
em xeque o próprio direito material (assim entendidos os contratos, a propriedade
e a própria sociedade).
Em se tratando das relações laborais, uma análise simplificada da realidade,
de acordo com a qual o mercado de trabalho informal vem atingindo marcas de
mais de 45% da população ativa e as taxas de desemprego ultrapassam os 12%,
é suficiente para observar que a legislação vigente não está conseguindo atingir
o objetivo a que se propunha quando de sua criação, no sentido de proteger
o trabalhador no mercado de trabalho. Do mesmo modo, o Poder Judiciário
Trabalhista, ante o estrondoso volume de ações interpostas, mostra-se por
vezes caro ao Estado e lento para os fins aos quais se propõe, além de incentivar
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4 TIMM, Luciano Benetti; TRINDADE, Manoel Gustavo Neubarth; MACHADO, Rafael Bicca. O
Problema da Morosidade e do Congestionamento Judicial no Âmbito do Processo Civil Brasileiro:
uma Abordagem de Law and Economics. Revista de Processo, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
ano 44, n. 290, p. 441-472, abr. 2019.
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7 Expressão da língua inglesa que define as situações nas quais a tomada de determinada escolha ou
alternativa implica na renúncia ou no sacrifício de outra, como um processo de troca.
8 A justiça gratuita era ofertada a partir da mera declaração, sem qualquer necessidade de comprovação
da impossibilidade econômica nela contida e não havia espaço para honorários sucumbenciais, mas
tão somente para honorários assistenciais, ofertados para advogados de reclamantes, devidamente
credenciados aos sindicatos.
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9 Se a parte vencida for beneficiária da justiça gratuita e não obtiver proveito econômico, o crédito
ficará suspenso e decai após decorrido dois anos do trânsito em julgado (art. 791-A e parágrafos da
CLT).
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pelos juízes e aos baixos riscos, serve de estímulo para que muitos indivíduos
que, mesmo possuindo condições financeiras para arcar com tais gastos, acabem
por pleitear tal AJG, sorvam os recursos econômicos do Poder Judiciário e
congestionem o seu funcionamento.
É válido destacar que a perspectiva econômica demonstra-nos que, quanto
mais pessoas acessam o judiciário, menos este servirá para a coletividade, visto
que naturalmente reduzirá a sua capacidade de prestação de serviços. Assim, o
que uma análise eminentemente jurídica não vislumbra é que o foco adequado
para o princípio do livre acesso à justiça deveria ser a possibilidade de usufruir da
prestação jurisdicional, e não o acesso puro e simples ao órgão. (GICO JR., 2014).
A redução dos custos da transação econômica é papel fundamental do
Poder Judiciário, auxiliando na promoção do desenvolvimento, de forma que,
no momento da decisão, deverá sempre analisar os custos-benefícios para o
futuro da nação. A decisão judicial deve servir de incentivo para a otimização de
valores e expectativas financeiras e não-financeiras, promovendo a maximização
da riqueza em sentido amplo (ZANON JUNIOR, 2013). Nessa linha, segundo
Posner (2007), não há outra alternativa que não a utilização de um método
de raciocínio jurídico similar ao utilizado pelos indivíduos cotidianamente em
suas tomadas de decisões, de forma a promover a maximização da riqueza em
sentido amplo, ponderando as futuras consequências de cada decisão, a partir
de uma perspectiva de experimentação empírica, despida de palpites filosóficos
(RODRIGUES, 2021).
Outrossim, é importante também se considerar variáveis que são externas ao
sistema processual trabalhista, mas que possuem papel determinante na situação
em que o Poder Judiciário Brasileiro atualmente se encontra. Dentre elas está o
fato de existir um número muito elevado de advogados. Desse modo, é possível
e até provável que haja intensificação na disputa de espaços pelos profissionais e,
consequentemente, verifique-se a adoção de verdadeiras práticas concorrenciais,
com o consequente surgimento de um mercado jurídico. Ora, em um mercado
onde haja um alto nível de concorrência, é inevitável que os agentes que dele
fazem parte passem a fazer uso de diferentes instrumentos com o objetivo de
conquistarem uma parcela desse mercado, o que não é diferente na advocacia.
Assim, natural que alguns advogados apresentem uma postura mais ofensiva
em relação à captação de clientes, o que implica a intensificação de estratégias
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10 Neste sentido, ver MITIDIERO, Daniel. Colaboração no Processo Civil: Pressupostos sociais, lógicos
e éticos. In: MARINONI, Luiz Guilherme.; BEDAQUE, José Roberto dos Santos. (coord.). Coleção
Temas Atuais de Direito Processual Civil. v. 14. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
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11 Ives Gandra da Silva Martins Filho (2017), assim se manifesta sobre o tema: “No caso da revisão
da Súmula nº 277 do TST, a meu juízo, houve nitidamente exercício de poder legiferante por parte
do Tribunal, uma vez que, sem mudança legislativa e sem precedentes, decidiu a Corte, por exígua
maioria (vencidos os Ministros Cristina Peduzzi, Barros Levenhagen, Ives Gandra, Renato Paiva,
Aloysio Veiga, Maria Calsing, Dora Costa, Pedro Manus, Fernando Ono, Caputo Bastos e Márcio
Eurico), mudar a sinalização do referido verbete sumulado”.
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12 Nas palavras de Yeung e Timm (2015, p. 38), “De fato, a Justiça é cega: cega aos males que ela cria,
em nome de uma suposta necessidade de ‘proteção dos mais fracos’. […] Enquanto os agentes do
Direito brasileiro continuarem com a miopia nas tomadas de decisões, ignorando as consequências
efetivas de suas decisões, o ambiente de trabalho no Brasil continuará a ser marcado por conflitos,
desincentivos para a cooperação produtiva, e sobretudo para os negócios. Nestes casos, não somente
a empresa sofre, quem mais sofrerá das consequências é o próprio trabalhador, que não dificilmente
encontrará garantias para seus postos de trabalho”.
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Ao artigo 8º foi incluída nova previsão no sentido de coibir que TRTs e TST
pudessem editar súmulas ou outros enunciados de jurisprudência em sentido
contrário à vontade do legislador13 ante a alteração das disposições contidas no
art. 702 da CLT, que trata das competências do Tribunal Pleno:
Art. 702 - Ao Tribunal Pleno compete:
[…]
f) estabelecer ou alterar súmulas e outros enunciados de jurisprudência uniforme,
pelo voto de pelo menos dois terços de seus membros, caso a mesma matéria já tenha
sido decidida de forma idêntica por unanimidade em, no mínimo, dois terços das
turmas em pelo menos dez sessões diferentes em cada uma delas, podendo, ainda,
por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração
ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de sua publicação no Diário Oficial;
[…]
§ 3o As sessões de julgamento sobre estabelecimento ou alteração de súmulas e
outros enunciados de jurisprudência deverão ser públicas, divulgadas com, no
mínimo, trinta dias de antecedência, e deverão possibilitar a sustentação oral pelo
Procurador-Geral do Trabalho, pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil, pelo Advogado-Geral da União e por confederações sindicais ou entidades
de classe de âmbito nacional.
§ 4o O estabelecimento ou a alteração de súmulas e outros enunciados de
jurisprudência pelos Tribunais Regionais do Trabalho deverão observar o disposto
na alínea f do inciso I e no § 3o deste artigo, com rol equivalente de legitimados
para sustentação oral, observada a abrangência de sua circunscrição judiciária.
(grifos nossos)
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célere e efetivo (ou seja, eficiente) pode atuar até mesmo antes do ajuizamento
de ações, incentivando acordos e meios alternativos de solução de conflitos14 e
anteriormente à interposição dos expedientes recursais, servindo como estímulo
para o comportamento processual otimizado, orientando o comportamento
dos litigantes e dos próprios julgadores. Tal postura certamente contribuiria
para racionalizar o processo judicial e poupar recursos públicos hoje drenados à
rediscussão de assuntos muitas vezes já pacificados nas cortes superiores.
Nessa linha, inclusive, também a reforma trabalhista buscou lançar
luz, abrindo espaço para realização de acordos extrajudiciais, mediações e
arbitragens no que se refere ao Direito do Trabalho, o que, além de proporcionar
o desafogamento do Judiciário, permite o aperfeiçoamento das relações de
trabalho, a partir da aproximação das partes envolvidas e da conscientização
dos direitos e deveres a que ambas estão afetas (DAMASCENO, 2002, p..71).
Rodrigues (2021) sinaliza, com o que concordamos, que as soluções trazidas
pela reforma trabalhista não parecem solucionar a essência do problema – decisões
divergentes e insegurança jurídica –, revelando-se, em verdade, uma medida
paliativa, com o objetivo tão somente de evitar a edição desenfreada e atécnica
de entendimentos jurisprudenciais pelos tribunais trabalhistas, mas não sua
uniformização. Convém ressalar que esta medida paliativa não vem surtindo
efeito. Passados mais de três anos da reforma, as súmulas do TST que conflitam
com as disposições da nova lei seguem vigentes no ordenamento15, perpetuando
a insegurança jurídica para o jurisdicionado e fomentando o ajuizamento de
novos litígios, haja vista que, do ponto de vista econômico, em havendo chance
de êxito, esta é a decisão mais racional a respeito do que fazer.
Na próxima seção, apresentaremos, de forma introdutória, alguns meios
de coordenação possíveis de serem aplicados à realidade do Judiciário brasileiro,
relacionando-os, também, à divulgação de informações.
14 Para maiores detalhes, consultar Cooter and Rubinfeld, Economic Analysis of Legal Disputes and
Their Resolution. In: Journal of Economic Literature, Vol. 27, nº 3 (Sep., 1989), p. 1067/1097.
15 Por maioria, os Ministros do TST entenderam por bem aguardar a manifestação do Supremo
Tribunal Federal, nos autos da Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 62, na qual se discute a
constitucionalidade dos dispositivos reformistas que fixam procedimento e regras para o estabelecimento
e a alteração de súmulas e enunciados de jurisprudência pelo TST e TRTs.
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Um exemplo de jogo que faz parte dessa teoria é o jogo de soma zero. Nesse
tipo de jogo, para que um dos players ganhe, o outro, necessariamente, tem que
perder ou, ainda, dependendo das estratégias adotadas, é possível que nenhum
deles tenha saldo algum. Percebe-se que, diante desse quadro, a ocorrência de
conflitos entre as escolhas feitas pelos players é algo certo. Diz-se que, nesse tipo
de jogo, a possibilidade de cooperação entre os indivíduos é nula.
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Jogador B
Cara Coroa
Jogador A Cara 1 ; -1 -1 ; 1
Coroa -1 ; 1 1 ; -1
Fonte: (BAIRD, 1998, p. 24)
De acordo com o disposto na tabela acima, tem-se que o ideal para qualquer
dos players seria contar com a cooperação do outro indivíduo, mas percebe-se,
também, que este não tem qualquer incentivo para fazê-lo, uma vez que, agindo
desta forma, ele acabará perdendo o jogo.
Ademais, Baird (1998, p. 43) ressalta que “Given any combination of pure
strategies, one player is always better of changing to the other.” Ou seja, qualquer
que sejam as combinações realizadas entre os players, sempre será melhor para
qualquer um deles alterar sua estratégia para outra que, por consequência,
proporcionará, individualmente, o melhor resultado.
Da mesma forma, se um dos players conseguir antecipar a estratégia adotada
pelo outro, certamente aquele que tiver acesso às informações privilegiadas terá
maior chance de terminar o jogo em melhores condições (PINHEIRO, 2006). Ora,
se ambos os jogadores escolherem a mesma jogada, o player A sempre ganhará.
Agora, no caso contrário, quando as escolhas dos jogadores forem diferentes, o
player B é quem ficará com a vitória. Percebe-se que o quadro apresentado inibe
qualquer tentativa de cooperação entre os jogadores.
Ao tratar dos jogos do tipo soma zero, Pinheiro (2006) sustenta que os
players racionais que objetivam vencer um ao outro e maximizar suas vantagens
tornam o jogo uma verdadeira guerra. Nesse sentido, para melhor entender as
escolhas dos players, deve-se esclarecer que os indivíduos são racionais e preferem
uma maior a uma menor retribuição pelas suas jogadas.
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Caçador B
Caça ao cervo Caça à lebre
Caçador A Caça ao cervo 3;3 0;2
Caça à lebre 2;0 1;1
Fonte: Stag Hunt
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resultados dos jogos seriam mais eficientes. O mesmo autor sugere, então, a
tabela abaixo:
Comportamento dos jogadores no jogo de caça ao cervo (Stag Hunt) com
inclusão de sanções:
Caçador B
Caça ao cervo Caça à lebre
Caçador A Caça ao cervo 3;3 0 ; -2
Caça à lebre -2 ; 0 -1 ; -1
Fonte: Stag Hunt
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(grandeza dos custos) não incidirá da mesma forma (na mesma proporção), mas
em menor grau, já que as suas probabilidades (expectativas) de improcedência
ou desprovimento são menores, de modo a implicar, também, a menor elevação
dos seus custos esperados (média de todos os resultados de perdas possíveis,
ponderada pela probabilidade de ocorrência – peso – de cada um desses resultados).
Dessa forma, a finalidade maior do poder judiciário, de se proporcionar a
concessão de direitos não cumpridos, não restará severamente comprometida,
havendo mais adequado equilíbrio, criando-se incentivos negativos para a
interposição de ações ou pedidos temerários e carentes de efetiva expectativa
de deferimento.
Assim, considerando a alteração dos resultados esperados (payoffs)
percebidos pelas partes (jogadores), o desenho dessa regra processual parece-
nos estar no sentido de induzir o alcance de eficiência, ou seja, configurando um
mecanismo de incentivo negativo apto a estimular o comportamento eficiente
dos litigantes, ainda que possa se revelar necessário lapidá-la um pouco mais, a
fim de que se obtenha ainda maior eficiência.
Ademais, é possível inferir que a alteração dos retornos esperados frente
a cada possível jogada, no caso o ato de ajuizar uma ação, pode estimular a
realização de acordos, posto que a parte sucumbente possuirá maiores incentivos
para transacionar, com vistas a reduzir as suas perdas (prejuízos). Como visto
acima, tal imposição pode constituir uma espécie de sanção capaz de tornar jogos
não cooperativos em cooperativos, nos moldes sustentados por Pinheiro (2006).
VI – Considerações finais
No presente estudo, ainda que de forma panorâmica, buscou-se trazer
ponderações acerca da imprescindibilidade da aplicação da Análise Econômica
do Direito ao estudo do Processo do Trabalho e, com isso, chamar atenção para a
necessidade de sua utilização, a fim de que se obtenha, sobremaneira em termos
pragmáticos, maior profundidade e completude na tarefa de produzir normas
jurídicas que acarretem uma justiça mais eficiente e célere no país.
Por meio das decisões emanadas do Poder Judiciário, responsável por
aplicar e interpretar as leis e regulamento, é possível identificar o impacto
econômico do sistema jurídico. O sistema processual, portanto, é conformador
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Referências
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GAJARDONI, F. F. Breve Análise estatística de alguns pontos da 1ª fase das
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de Processo, São Paulo, n. 114, a. 29, p. 173/186, março/abril, 2004.
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Quando o jurista descobre a ciência: o que é a Análise Econômica
do Direito?
When the jurist discovers science: what is the Law and Economics?
1. O que é a economia?
Antes de aprofundar a análise econômica do Direito propriamente dita, é
pertinente conceituar o que se entende por Economia. A Economia é o estudo
da alocação de recursos escassos em seu uso mais eficiente, considerando o
comportamento de diferentes agentes na busca pela maximização do atendimento
de suas preferências pessoais.
O termo Economia tem origem na palavra grega oikonomos: oiko significa
casa, enquanto nomos pode ser traduzido como regras. A etimologia da palavra
relaciona-se a um administrador doméstico ou de determinada organização, cuja
função é a de aproveitar ao máximo os finitos bens à disposição do seu grupo para
satisfazer os interesses de cada um de seus componentes. A comparação entre
1 LL.M. (Master of Laws) pela Harvard Law School. Doutorando em Direito pela Universidade de São
Paulo (USP). Mestre em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Juiz de Direito
do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ex-Juiz Instrutor perante o Supremo Tribunal Federal.
Ex-Juiz Auxiliar da Presidência do Tribunal Superior Eleitoral. Presidente da Associação Brasileira
de Direito e Economia (ABDE). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP).
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2 Adam Smith, An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations 183 (1822).
No original: “What is prudence in the conduct of every private family, can scarce be folly in that of
a great kingdom.” (SMITH, 1982.).
3 Gregory Mankiw, Principles of Microeconomics 4 (2008), que destaca a etimologia da palavra
Economia e define esse ramo do conhecimento pelo estudo de como a sociedade gere seus recursos
escassos.
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4 Russell Korobkin, em The Endowment Effect and Legal Analysis, 97 Northwestern University Law
Review 1227 (2002),. define a análise econômica do Direito positiva como a explicação do presente
estado do sistema jurídico derivada diretamente de uma preocupação implícita ou explícita com a
eficiência.
5 A divisão dos aspectos da análise econômica do Direito em heurística, descritiva e normativa é
proposta por Richard A. Posner, Frontiers of Legal Theory 4-5 (2004). Steven Shavell menciona
apenas os aspectos descritivos e normativos: Steven Shavell, Foundations of Economic Analysis
of Law 1 (2004).
6 Norman Campbell, What Is Science? 27-29 (1952): “Science is the study of those judgments
concerning which universal agreement can be obtained. […] When the possibility of applying the
strict criterion of universal agreement was realized, then, for the first time in the history of thought,
science became truly scientific and separated itself from other studies.”.
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7 V. Lee McIntyre, Explaining Explanation – Essays in the Philosophy of the Special Sciences
17 (2012), que.rejeitando a ideia de que as ciências sociais requerem independência metodológica em
relação às ciências naturais, bem como a de que a inquirição nomológica seria impossível ao cientista
social, pela suposta impossibilidade de explicar o fenômeno social por meio de leis.
8 V. Lee McIntyre, (id. p. 37). O autor destaca que a ciência é a busca sistemática por ordem com vistas à
realização de predições, e combatendo a alegação, defendida por filósofos como Karl Popper, de que a
consciência do homem seria uma barreira à predição da ação humana. Uma das principais discussões
da filosofia jurídica no século XX diz respeito à possibilidade de reduzir o Direito à tarefa de prever
como juízes decidirão. V. g., v. Herbert L. A. Hart, Positivism and the Separation of Law and Morals, 71
Harvard Law Review 593, 629 (1957). O adequado enfrentamento da discussão foge ao escopo do
presente texto. Basta notar que, mesmo assumindo ser essa a preocupação central do Direito, ainda
lhe faltariam atributos essenciais da ciência, como a universalidade, a inquirição nomológica e o rigor
metodológico.
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9 V. Charles N. Moore, Mathematics and Science, 81 Science 27-32 (1935), pp. 27-32. p. 31. Com
expressa menção às ciências sociais, o autor afirma que: “There exists no branch of science […] in
which some mathematical procedure is not found essential. Moreover, the natural evolution of all
scientific theory is in the direction of increasing use of quantitative methods.”.
10 Lee McIntyre, Dark ages: the case for a science of human behavior (2006). Uma retrospectiva
histórica da relação entre iluminismo, ciência e estudos sociais foge ao escopo do presente trabalho.
Para uma exposição conglobante sobre o tema, v. John C. Torpey, Enlightenment: Impact on the Social
Sciences, International Encyclopedia of the Social & Behavioral Sciences 664-668 (2015).
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11 Richard A. Posner, The Problems of Jurisprudence 63 (1993): “Economics, including the branch
known as economic analysis of law, or ‘law and economics,’ really is a science, though an immature
one (…). The practitioners of law and economics are trying with some success to usc the methods
and results of economics to improve our understanding of law and assist in its reform.”
12 V. Lee McIntyre, What can medicine teach the social sciences?, 6 Hastings Science & Technology
Law Journal 31-41 (2014). Observando que, na primeira metade do século XX, exames clínicos
básicos não eram universalmente praticados e médicos normalmente não buscavam impedir a negativa
evolução do quadro clínico, mas tão somente descrever o curso da doença ao paciente, o que só mudou
a partir do descobrimento da penicilina em 1940.
13 Eric Maskin, Mechanism Design: How to Implement Social Goals, 98 American Economic Review 567
(2008).
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14 A título exemplificativo: “O nome mesmo de advogado soa como um grito de ajuda. Advocatus, vocatus
ad, chamado a socorrer. Também o médico é chamado a socorrer; mas só ao advogado se dá este nome.”
Francesco Carnelutti, As misérias do Processo Penal (2006). Para uma comparação detalhada entre
as profissões do médico e do Juiz de Direito: Barak Richman, On Doctors and Judges, 58 Duke L.J. 1731
(2009). Em suma, o autor narra dois tipos de comparações entre médicos e juízes. O primeiro tipo,
de cunho superficial, nota a semelhança entre vestimentas, jargões, títulos profissionais, o respeito
social e o grau de deferência prestado à autoridade de suas declarações. O segundo tipo, de cunho
analítico, é inspirado em artigo de Kenneth Arrow sobre o papel dos símbolos sociais na medicina para
a Economia da saúde. As instituições e padrões sociais que conferem aos médicos destacada autoridade
surgem como soluções para problemas de incerteza e não-observabilidade inerentes aos serviços de
saúde. Ao distinguir o profissional médico como aquele que exerce suas funções com objetividade,
ainda que contra os próprios interesses financeiros, pacientes são estimulados a se submeter a
tratamentos os quais recusariam na ausência das referidas instituições sociais. Similarmente, os
jurisdicionados se submetem ao ordenamento jurídico não apenas em razão da ameaça de coerção,
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senão também pelas normas sociais que determinam a deferência às decisões judiciais e o respeito à
figura do magistrado. Eventual descrédito na lisura das decisões judiciais, tal como a inobservância
generalizada de prescrições médicas, culminaria em grave comprometimento do bem-estar social.
O ponto sustentado no presente texto é o de que a proeminência social, conquanto possua papel
relevante, pode constituir barreira ao aperfeiçoamento da profissão, na medida em que exige uma
custosa transição do status quo para um panorama em que proposições são julgadas mais pelo seu
valor científico que pela autoridade de quem argumenta.
15 Armen A. Alchian & William R. Allen, Exchange and Production – Competition, Coordination,
& Control 9 (1983). Os autores afirmam que o caráter científico da análise econômica fundamenta-
se na compreensão de uma regularidade virtualmente universal no comportamento humano, bem
como na investigação dos fenômenos estudados por meio da construção e do teste de teorias.
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suas teorias. Nas ciências sociais, esses axiomas e teorias dizem respeito à ação
humana, um fenômeno que depende de inúmeros fatores decorrentes da vida
social e da natureza16. É evidente que uma generalização jamais será capaz de
explicar, só por si, todas as nuances de todos os eventos observáveis. Ciente dessa
limitação, o cientista social recorre a modelos para decompor abstratamente a
realidade em diversas fatias, com o objetivo de facilitar a sua compreensão.
Roger Myerson, economista laureado com o prêmio Nobel, comparou os
modelos econômicos a fábulas que nos ajudam a entender a realidade que nos
circunda17. O cientista social, na impossibilidade de isolar perfeitamente elementos
de interesse no mundo concreto, cria verdadeiros mundos de laboratório a partir
de determinados pressupostos, correspondentes aos fatores mais relevantes para
a solução do problema examinado. Nessa tarefa, a parcimônia é uma virtude.
Nenhum modelo será perfeitamente correto, por mais elaborado e complicado
que seja – não apenas na Economia, mas também nas ciências naturais, como
a Física18.
Justamente porque a sociedade apresenta problemas extremamente
complexos, o raciocínio analítico propõe uma investigação que parte de relações
simplificadas, verdadeiros recortes abstratos que isolam características do
ambiente observável, para modelos mais elaborados, mediante a adição progressiva
de elementos que podem influenciar os resultados obtidos19. As conclusões
extraídas desses modelos teóricos fornecem valiosos elementos para enfrentar
desafios práticos cuja correta compreensão é impossível sem uma reflexão detida
16 William H. Riker, The Political Psychology of Rational Choice Theory, 16 Political Psychology 23-44
(1995). O autor explica que o objetivo da ciência é produzir generalizações precisas sobre a natureza,
por meio da criação de classes, com a finalidade de realizar predições. Ainda segundo o autor, para que
seja possível prever um efeito, a generalização precisa estar contida em uma teoria a partir da qual as
condições necessárias e suficientes para a ocorrência daquele efeito sejam deduzidas logicamente.
17 Roger B. Myerson, Fundamentals of Social Choice Theory, 8 Quarterly Journal of Political Science
305-337 (2013).
18 George E. P. Box, Science and Statistics, 71 Journal of the American Statistical Association
791-799 (1976). O autor destaca que todo modelo científico é errado, de modo que a descrição da
realidade deve ser econômica nos seus parâmetros, para que o cientista se concentre nos erros mais
importantes que o modelo pode evidenciar.
19 Hal R. Varian, Intermediate Microeconomics – A Modern Approach 1-2 (2010). De acordo com
o autor, um modelo econômico que pretenda descrever cada aspecto da realidade seria inútil, de modo
que o valor de um modelo reside na sua capacidade de eliminar todos os detalhes irrelevantes para a
solução do problema.
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disciplina com pretensão científica21. Afirmar que o Direito não é ciência exata
não é desculpa para refutar ou ignorar a Matemática,22 precisamente porque
as relações sociais são extremamente complexas, a transparência e a lógica
da fundamentação matemática têm extrema relevância para a sua adequada
compreensão, tal como para a Sociologia, para a ciência política e para a própria
Economia.23
A propósito, no início do século XX, o uso da matemática era extremamente
controvertido mesmo na Economia24, mas atualmente a maioria dos acadêmicos
emprega ferramentas matemáticas para a solução de problemas econômicos. Além
disso, argumentos jurídicos também envolvem simplificações da realidade e partem
de determinadas premissas convenientemente assumidas como verdadeiras. A
diferença é que, não sendo empregada a lógica formal, essas premissas não são
reveladas, as conexões entre as proposições tornam-se obscuras e a falseabilidade
das conclusões fica prejudicada.
21 Richard Feynman, The Character of Physical Law 40 (1985). Para o autor, a Matemática é
linguagem acrescida de lógica, bem como ressaltando a utilidade da matemática para qualquer tipo
de raciocínio cuidadoso.
22 Como afirmou Simonsen: “A economia [sic] pode não ser ciência exata, mas nem por isso se deve
transformar em ciência confusa”.
23 V. Karl Menger, Morality, Decision and Social Organization: Toward a Logic of Ethics
1 1974.: “logico-mathematical studies are an indispensable training for most other branches of
intellectual activity and, strange as it may seem to you, especially for the treatment of questions of
morality. Indeed, the applicability of exact thinking to ethics appears to me to be an aspect of science
that is of some importance for human life.”. V. tb. Phillip Bonacich & Philip Lu, Introduction to
Mathematical Sociology (2012); James Samuel Coleman, Introduction to Mathematical
Sociology (1964).
24 V. John Von Neumann & Oskar Morgenstern, Theory of Games and Economic Behavior 3 (2007).
Segundo o autor, “The arguments often heard that because of the human element, of the psychological
factors etc., or because there is – allegedly – no measurement of important factors, mathematics will
find no application, can all be dismissed as utterly mistaken. Almost all these objections have been
made, or might have been made, many centuries ago in fields where mathematics is now the chief
instrument of analysis.”.
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31 John R. Commons, Law and Economics, 34 The Yale Law Journal 371 (1924-1925).
32 No original: “It is generally agreed that this article has had an immense influence on legal scholarship,
but this was no part of my intention. For me, “The Problem of Social Cost” was an essay in economics.
It was aimed at economists. What I wanted to do was to improve our analysis of the working of the
economic system”. COASE, Ronald. “Law and Economics at Chicago”. In: The Journal of Law and
Economics, n. 36, 1993 p. 250.
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do Direito e Economia. Posner observa que o realismo não era conhecido por
Coase e Becker,33 bem como afirma ser duvidosa a influência daquela corrente
do pensamento jurídico sobre o trabalho de Guido Calabresi na área de
responsabilidade civil, considerado um dos primeiros no campo da análise
econômica do Direito – apesar de Calabresi ser oriundo da escola de Direito de
Yale, antigo reduto de acadêmicos realistas34.
O realismo e a análise econômica do Direito também se diferenciam
pela finalidade. Ao passo que a proposta dos pensadores realistas pugnava por
uma multidisciplinariedade no âmbito jurídico, a análise econômica do Direito
constitui seara interdisciplinar, de modo que a Economia não é mero adendo
ou conhecimento auxiliar, senão elemento central do estudo do Direito como
política pública35. Se a preocupação do realismo era ampliar os limites do Direito,
a análise econômica do Direito é absolutamente indiferente à demarcação dessa
fronteira.
Da mesma forma, a interminável disputa entre positivistas e jus naturalistas
sobre a conexão entre Direito e moral, bem como sobre o que deve guiar o juiz
ao decidir casos difíceis, em contraste com sua atividade nos casos obviamente
abrangidos pelo texto da regra jurídica, não é do interesse dos proponentes da
análise econômica do Direito36.
Essa linha científica examina os institutos jurídicos a partir da sua capacidade
de gerar ganhos para o bem-estar social, comparando os interesses em jogo e os
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37 Mancur Olson, Toward a Unified View of Economics and the Other Social Sciences, Perspectives on
Positive Political Economy 212-232 (1990). O autor ressalta que não há qualquer divisão natural
que separe a Economia das outras ciências sociais, motivo pelo qual qualquer compartimentalização
entre elas será arbitrária; o texto anota, ainda, que há uma desejável tendência de convergência entre
esses ramos.
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38 Richard Posner resumiu as principais falhas que diferenciam o Direito de uma verdadeira ciência:
“What is missing from law are penetrating and rigorous theories, counterintuitive hypotheses that
are falsifiable but not falsified (and so are at least tentatively supported), precise instrumentation,
an exact vocabulary, a clear separation of positive and normative inquiry, quantification of data,
credible controlled experiments, rigorous statistical inference, useful technological byproducts,
dramatic interventions with measurable consequences, and above all and subsuming most of the
previous points, objectively testable – and continually retested – hypotheses.” Richard A. Posner,
The Problems of Jurisprudence 69 (1993).
39 Para uma análise da desejabilidade social da atividade dos advogados em instruir seus clientes sobre
como se comportar para evitar a imposição de sanções jurídicas, v. Louis Kaplow & Steven Shavell,
Legal Advice About Information to Present in Adjudication: Its Effects and Social Desirability, 102 Harvard
Law Review 565, 615 (1989).
40 Para uma discussão sobre o o papel da coerção no Direito, v. Frederick Schauer, The Force of Law
(2015). V. tb. Richard McAdams, The Expressive Powers of Law: Theories and Limits (2015).
O autor defende que a efetividade do direito não se deve apenas à ameaça de sanção ou à deferência
à autoridade da qual emana o comando normativo, mas principalmente às funções coordenativa e
informativa do direito – isto é – , indivíduos obedecem regras jurídicas porque necessitam de um norte
para ordenar suas atividades e inferem da própria existência da norma legal informações relevantes
para suas decisões.
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Com isso, quer-se afirmar que não se trata de uma disputa estéril entre
departamentos, mas sim da expansão do emprego de ferramentas científicas
consolidadas para explicar e prever cada vez mais facetas da conduta humana41.
Espera-se que, em um futuro não muito distante, seja possível cogitar-se de um
prêmio Nobel de ciências jurídicas.42
41 Edward Lazear denomina a expansão da Economia para abranger outras disciplinas como “imperialism
econômico”, que o autor atribui a três características distintivas da Economia como uma ciência
genuína: (i) a teoria da escolha racional; (ii) o conceito de equilíbrio; e (iii) ênfase em um conceito
bem definido de eficiência. Edward P. Lazear, Economic Imperialism, Disponível em: <http://www.
nber.org/papers/w7300>. Acesso em 1.abr.2021.
42 Thomas S. Ulen, A Nobel Prize in Legal Science: Theory, Empirical Work, and the Scientific Method in the
Study of Law, 4 University of Illinois Law Review 875 (2002).
60
2
Jurimetria:
estatísticas a serviço
do Direito
Jurimetria e Análise Econômica do Direito: algumas notas
exploratórias sobre empirismo, direito e ciência econômica1
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Com o tempo, percebi também que o Direito tinha muitas semelhanças com a
Medicina e que os testes utilizados pelos médicos eram, em parte, aproveitados nas
pesquisas empíricas no Direito. Processos judiciais apresentam comportamentos
endêmicos; o estudo do tempo processual, por conta de censuras, apresenta
analogias com o tempo de sobrevida de pacientes. Percebi, por fim, que esses
paralelos não eram coincidências e que o Direito é uma espécie de Medicina
Social, que previne, diagnostica e trata males do convívio.
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teste. Temos a pretensão de que todos os possíveis efeitos de uma lei, em um país
de dimensões continentais como o Brasil, podem ser antecipados mentalmente.
Basta concentramos muito nossos poderosos intelectos jurídicos sem treinamento
matemático.
Somos hábeis lobistas, mestres na construção de alianças e gênios na
disseminação de cizânias, só não temos muita noção das consequências de nossas
posições. Enganamo-nos com fúria nos debates sobre projetos de lei, mas, depois
de aprovados, não voltamos para verificar o que aconteceu. Somos médicos que
ministram remédios não testados em nossos pacientes e que não retornam no
dia seguinte para ver se a febre baixou.
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Notas sobre a jurimetria: políticas públicas e comportamentos
estratégicos individuais
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1. Introdução
Experto credite.
2 Consultou-se VIRGÍLIO. Eneida. Tradução de Tassilo Orpheu Spalding. São Paulo: Círculo do Livro.
1994, p. 237. Em outra tradução, que mantém a forma poética, traduz-se como: “Provei, Crede”
(VIRGÍLIO. Eneida brazileira. Tradução de Manuel Odorico Mendes. Paris: Typographia de Rignoux,
1854, p. 320).
73
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3 NUNES, Marcelo Guedes. Jurimetria: Como a Estatística pode reinventar o Direito. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2016, p.112.
4 Por todos, brevitatis causa, seja consentido remeter ao nosso estudo: GALDINO, Flávio. Direitos não
nascem em árvores: introdução à teoria dos custos dos cireitos. Rio de Janeiro: Editora Lumen Iuris,
2005, com amplas digressões bibliográficas sobre a Análise Econômica do Direito. E, ainda, ARAÚJO,
Thiago Cardoso. Análise econômica do Direito no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Lumen Iuris, 2017.
5 YOUNG, Luciana. Jurimetria. In: RIBEIRO, Marcia Carla Pereira; DOMINGUES, Victor Hugo; KLEIN,
Vinicius (Coord.). Análise Econômica do Direito: Justiça e Desenvolvimento. Curitiba: Editora
CRV, 2016, p. 133-140.. Sobre a estatística inferencial, veja-se novamente NUNES, Marcelo Guedes.
Jurimetria: como a Estatística pode reinventar o Direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016, p. 62.
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8 Por todos, ÁVILA, Humberto. Segurança Jurídica. São Paulo: Editora Malheiros, 2011, p.. 122 e
seguintes, p. 665 e seguintes (conclusões) e esp. p. 126 acerca da opção pela expressão calculabilidade.
9 FRENKEL, Edward. Amor e Matemática: o coração da realidade escondida. Rio de Janeiro: Casa da
Palavra, 2014, p. 275, 277.: “[…] as fórmulas matemáticas são algumas das expressões mais puras,
versáteis e econômicas da verdade conhecidas pela humanidade. Elas transmitem conhecimento
atemporal e valioso, imune a modas passageiras e comunicam o mesmo significado para qualquer um
que entre em contato com elas […] do meu ponto de vista, a objetividade do conhecimento matemático
é a fonte de suas possibilidades ilimitadas”.
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10 No seio de profícua bibliografia, brevitatis causa, refira-se aqui, quanto à Análise Econômica do Direito:
GICO JR., Ivo; RIBEIRO, Gustavo Ferreira. O Jurista que calculava. In: GICO JR., Ivo; RIBEIRO,
Gustavo Ferreira (Coord.). O Jurista que Calculava. Curitiba: Editora CRV, 2013, ps. 11–23, esp. p. 22.
Ainda sobre as vantagens da linguagem matemática (e respectiva metodologia), veja-se FUX, Luiz;
BODART, Bruno. Processo civil e análise econômica. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2019, p. 8
(com referência ao “raciocínio matemático”).
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11 PINHEIRO, Armando Castelar. Judiciário, reforma e economia: a visão dos magistrados. In: PINHEIRO,
Armando Castelar (Coord.). Reforma do Judiciário. Rio de Janeiro: IDESP/Booklink, 2003, ps.
138–215, esp. p. 144 – e, depois, p. 155 acerca da falta de agilidade e falta de previsibilidade. Sobre
os resultados da pesquisa implementada em Portugal, veja-se o reporte de PATRÍCIO, Miguel Carlos
Teixeira. Análise económica da litigância. Coimbra: Almedina, 205, p. 162. Sobre a ausência de
dados empíricos alguns anos antes, do mesmo autor: PINHEIRO, Armando Castelar. Judiciário e
Economia no Brasil. São Paulo: Editora Sumaré, 2000, p. 61 (com referência à expressão de Justin
Yufu Lin e Jeffrey Nuggent). Oportuno lembrar aqui a observação sempre arguta de TUCCI naquele
período: “Sem embargo da impossibilidade de precisar em que medida atuam os males da demora da
tutela jurisdicional, sabe-se que o prejuízo é sempre enorme” (in TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo
e processo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1997, p. 145.
12 Consoante lembrado por SOUSA, José Augusto Garcia de. A tempestividade da Justiça no processo
civil brasileiro. Salvador: Editora JusPodium. 2020, p. 157.
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13 COSTANDRADE, Paulo Henrique Arazine de Carvalho; GICO JR., Ivo; RIBEIRO, Gustavo Ferreira.
Panorama do judiciário brasileiro: crises e números. In: GICO JR., Ivo; RIBEIRO, Gustavo Ferreira
(Coord.). O jurista que calculava. Curitiba: Editora CRV, 2013, ps. 37–70, esp. p. 22. Veja-se, ainda,
WOLKART, Erik Navarro. Análise econômica do processo civil. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2019, p. 67 (acerca da repercussão geral) e p. 70 (acerca da influência da recorribilidade
em geral, em tom agudamente crítico na p. 73).
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14 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2020. Brasília, 2020, p. 186. Disponível
em: www.cnj.jus.br. Acesso em 21.abr.2021.
15 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2019. Brasília, 2019, p. 154. Disponível
em: www.cnj.jus.br. Acesso em 21.abr.2021.
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em casos com perícia prévia (ainda que o controle da viabilidade possa ser
considerado uma extrapolação indevida). Ou seja, a partir desses dados, parece
lícito inferir que a perícia prévia mostrou-se ser um instrumento útil, pois evita
que sejam indeferidos pedidos recuperacionais de empresas viáveis com base na
simples impressão de que as mesmas não seriam viáveis. Servindo-nos do dito
popular, o legislador atirou no que viu e acertou no que não viu – mas seja qual
for a conclusão, a análise demonstra a relevância da coleta e tratamento de dados
para a formulação e avaliação de políticas públicas em geral – inclusive no plano
processual e da insolvência em particular.
4. Conclusão
Certa vez um respeitado matemático afirmou que solucionar um problema
matemático complexo é como montar um quebra-cabeças19, exceto pelo fato
de que você não conhece imagem final. Diante da dificuldade de solver um
determinado problema, um dos caminhos experimentados é tentar adivinhar a
solução e depois testar as hipóteses aventadas até encontrar a solução através
da confirmação da resposta, obviamente observados os rigorosos métodos das
ciências matemáticas.
Essa imagem aparentemente simples nos remete ao esquema conceitual que
preside a solução de um conflito judiciário, com a prolação de uma sentença. Segundo
sugere a percepção de muitas pessoas, inclusive profissionais experimentados, o
juiz muitas vezes decide o processo antes de justificar a sua decisão, de modo que
o juízo de valor (axiológico) precede a respectiva fundamentação. Na verdade,
cuida-se de caminho lógico diverso do esperado: ao invés de decidir e depois
fundamentar a decisão, a decisão deveria decorrer logicamente dos fundamentos
adotados. É como se o juízo de valor (rectius: a decisão) fosse intuído e depois
demonstrado – como a adivinhação sugerida pelo matemático.
19 FRENKEL, Edward. Amor e Matemática: o coração da realidade escondida. Rio de Janeiro: Casa da
Palavra, 2014, p. 73: “Solucionar um problema matemático é como resolver um quebra-cabeça, exceto
pelo fato de que você não conhece com antecedência a aparência da imagem final” – e continua na p.
77: “No entanto, isso me deu uma maneira de enfrentar o problema: se eu conseguisse adivinhar a
resposta correta, então teria um caminho para demonstrá-la seguindo esse método” (…) De repente
como num passe de mágica, tudo ficou claro para mim. O quebra-cabeça se completou, e a imagem
final se revelou plena de elegância e beleza, num momento que sempre lembrarei e tratarei com
carinho”.
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23 Novamente NUNES, Marcelo Guedes. Jurimetria: como a estatística pode reinventar o Direito. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p.112, p. 71.
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26 MOREIRA, José Carlos Barbosa. As Reformas do Código de Processo Civil: condições de uma avaliação
objetiva. In: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de Direito Processual. Sexta Série. São Paulo:
Editora Saraiva, 1997, ps. 81–93, esp. p. 82 e 93. Cumpre referir o contraponto formulado por SOUSA,
José Augusto Garcia de. A tempestividade da Justiça no Processo Civil Brasileiro. Salvador Editora
JusPodium. 2020, p. 201, em tom crítico a “uma mentalidade excessivamente voltada para números
e fatores quantitativos”.
27 ANLEU, Sharyn Roach; MACK, Kathy. Trial Courts and Adjudication. In: CANE, Peter; KRITZER,
Herbert M. (Coord.). The Oxford Handbook of Empirical Legal Research. New York: Oxford University
Press, 2010, p. 567: “There is often a disjunction between these empirical findings and public or popular
consciousness”.
28 ROSA, Hartmut. Aceleração – A transformação das estruturas temporais na Modernidade (tradução
de Rafael Silveira). São Paulo: Editora UNESP, 2019.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO Jurimetria
29 ELLENBERG, Jordan. How not to be wrong: The Power of Mathematical Thinking. New York: Penguin
Books, 2014, p. 437: “To do mathematics is to be, at once, touched by fire and bound by reason. This is
no contradiction. Logic forms a narrow channel through intuition flows with vastly argumented force (…)
The lessons of mathematics are simple ones and there are no numbers in them: that there is structure in
tworld, that we can hope to understand some of it and not just gape at what our senses present to us; that
our intuition is stronger with a formal exoskeleton than without it”.
91
3
A neuroeconomia
e o neurodireito:
para onde vamos?
Neuroeconomia e tomada de decisão no Direito
1 Doutor em Direito (UnB), Mestre em Neurociências e Graduado em Direito pela UFMG. Foi pesquisador
visitante na École Normale Supérieure, em Paris. É integrante da carreira de Especialista em Políticas
Públicas e Gestão Governamental (EPPGG) federal. Ocupou vários cargos de assessoria e de chefia de
gabinete na Presidência da República, no Ministério da Justiça e no Conselho Nacional de Justiça.
Professor no Instituto Rio Branco, na Escola da AGU Victor Nunes Leal e na Escola Nacional de
Administração Pública (ENAP).
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
1. Introdução
Como o cérebro toma decisões? O que a ciência contemporânea tem a
nos dizer sobre como decisões, das mais simples às mais complexas, emergem
da atividade de neurônios no nosso encéfalo? E qual a relevância disso para o
Direito? São perguntas provocativas que demandariam respostas elaboradas e
complexas. Mesmo assim, uma visão panorâmica pode fornecer elementos que
convidam a repensar algumas concepções ainda arraigadas.
O problema da tomada de decisão é central ao Direito. No entanto, a
despeito da disponibilidade de décadas de pesquisas em ciências da decisão, poucos
juristas dedicam- se a estudar decisão para além das abordagens tradicionais – as
chamadas teorias da interpretação ou da argumentação jurídica. Essas abordagens
têm sua relevância – estabelecer parâmetros normativos para a racionalidade do
discurso jurídico é tarefa essencial num Estado Democrático de Direito. Porém,
são trabalhos que muitas vezes têm pouco a dizer sobre aspectos cruciais como o
papel dos vieses cognitivos, das emoções ou da intuição na tomada de decisão2.
Neste trabalho, buscaremos traduzir alguns dos achados neurocientíficos
recentes para o público leigo em ciências comportamentais. Para aprofundamento,
remetemos aos inúmeros trabalhos que já estão disponíveis em português3, ou
a obras recentes em inglês4.
2 COSTA, Alexandre Araújo; HORTA, Ricardo Lins, Das Teorias da Interpretação à Teoria da Decisão:
por uma perspectiva realista acerca das influências e constrangimentos sobre a atividade judicial,
Opinião Jurídica, n. 20, p. 271–297, 2017.
3 ROSA, Alexandre Morais da, Guia do Processo Penal conforme a Teoria dos Jogos, 5a. ed. Florianópolis:
EMais, 2019; NOJIRI, Sérgio, O Direito e suas interfaces com a Psicologia e a Neurociência, Curitiba:
Appris, 2019; NOJIRI, Sérgio, Emoção e Intuição: Como (de fato) se dá o processo de tomada da
decisão judicial, Belo Horizonte: Arraes Editores, 2021; CARDOSO, Renato César; STANCIOLI,
Brunello; WYKROTA, Leonardo Martins, Temas em Neurodireito, Belo Horizonte: Ampla, 2021;
NUNES, Dierle; LUD, Natanael; PEDRON, Flávio Quinaud, Desconfiando da Imparcialidade dos
sujeitos processuais: um estudo sobre os vieses cognitivos, a mitigação de seus efeitos e o debiasing,
2a. ed. Salvador: JusPodivm, 2020; COSTA, Eduardo José da Fonseca, Levando a imparcialidade
a sério: proposta de um modelo interseccional entre direito processual, economia e psicologia,
Salvador: JusPodivm, 2018.
4 GLIMCHER, Paul W., Foundations of Neuroeconomic Analysis, New York: Oxford University Press,
2011; GLIMCHER, Paul W.; FEHR, Ernst, Neuroeconomics: Decision Making and the Brain, 2nd. ed.
New York: Elsevier, 2014; MERCIER, Hugo; SPERBER, Dan, The Enigma of Reason, Cambridge,
Massachussetts: Harvard University Press, 2017; SAPOLSKY, Robert M., Behave: The Biology of
Humans at our Best and Worst, New York: Penguin Press, 2017.
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5 BARON, Jonathan, Thinking and Deciding, 4th. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
6 Para exemplos de experimentos feitos com juristas brasileiros, vide, por exemplo, STRUCHINER,
Noel; DE ALMEIDA, Guilherme da F.C.F.; HANNIKAINEN, Ivar R., Legal decision-making and the
abstract/concrete paradox, Cognition, v. 205, n. September 2019, p. 104421, 2020; STRUCHINER,
Noel; HANNIKAINEN, Ivar R.; DE ALMEIDA, Guilherme da F.C.F., An experimental guide to vehicles
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in the park, Judgment and Decision Making, v. 15, n. 3, p. 312–329, 2020; NOJIRI, Emoção e
Intuição: Como (de fato) se dá o processo de tomada da decisão judicial.
7 GLIMCHER, Paul W.; FEHR, Ernst, Introduction: a brief History of Neuroeconomics, in: Neuroeconomics:
Decision Making and the Brain, London: Elsevier, 2014, p. xvii–xxviii.
8 KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. Já
há muita produção, entre juristas brasileiros, que explora a contento quais seriam esses vieses e por
que eles importam para a tomada de decisão no Direito. A esse respeito, vide as referências na nota
n° 3.
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9 Outra linha de explicação pode apelar a explicações evolucionistas, ligadas à história evolutiva do
cérebro. Pode ser que o nosso cérebro tenda a privilegiar recompensas presentes, porque o processo
de seleção natural tenha favorecido esse tipo de raciocínio. Afinal, na maior parte do tempo de
existência da espécie humana, pode ser que recompensas como alimentos, parceiros sexuais, etc.,
fossem escassas, disputadas e incertas – e, nesse caso, a melhor estratégia não seria aguardar por
maiores recompensas no futuro, mas garantir desde já as disponíveis. Vide HORTA, Ricardo Lins.
Por que existem vieses cognitivos na Tomada de Decisão Judicial? A contribuição da Psicologia e das
Neurociências para o debate jurídico. Revista Brasileira de Politicas Publicas, v. 9, n. 3, p. 83–122,
2019.
10 Em seu livro, Daniel Kahneman expressamente diz adotar o termo sistema a partir do trabalho de
dois teóricos, Keith Stanovich e Richard West. Com o passar dos anos, o campo deixou de adotar o
termo sistemas para se referir a essa divisão, dando preferência à expressão tipo de raciocínio. Na
conclusão do livro, Kahneman utiliza o termo personagens fictícios para se referir aos dois sistemas,
deixando claro, portanto, tratar-se de uma metáfora, não propriamente de um sistema localizado no
cérebro. Vide KAHNEMAN, Rápido e devagar: duas formas de pensar.
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11 Os debates mais recentes referem-se à possibilidade de se dizer que esses dois tipos de raciocínio são
mesmo distintos, seja porque operam em série ou em paralelo, seja por conta do papel da memória de
trabalho. Há críticas, porém, sobre o fato de existirem mesmo diferenças qualitativas ou de grau entre
esses dois modos de raciocínio, ou se modelos não duais explicariam melhor fenômenos experimentais.
DE NEYS, Wim, On Dual- and Single-Process Models of Thinking, Perspectives on Psychological
Science, p. 1–21, 2021; DE NEYS, Wim, Dual Process Theory 2.0, New York: Routledge, 2018.
12 FRISTON, Karl, A theory of cortical responses, Philosophical Transactions of the Royal Society
B: Biological Sciences, v. 360, n. 1456, p. 815–836, 2005; HUTCHINSON, J. Benjamin; BARRETT,
Lisa Feldman, The Power of Predictions: An Emerging Paradigm for Psychological Research, Current
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
Directions in Psychological Science, v. 28, n. 3, p. 280–291, 2019; SHADLEN, Michael N.; KIANI,
Roozbeh, Decision making as a window on cognition, Neuron, v. 80, n. 3, p. 791–806, 2013.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
Isso ocorre porque o desafio do sistema nervoso é, com base em poucos estímulos,
ou estímulos pouco salientes, ter que dar respostas rápidas e corretas.
Um outro exemplo pode deixar isso mais claro. Suponha que você está
ouvindo, num determinado ambiente, uma música, mas num volume muito
baixo. Você parece reconhecer alguns acordes, mas não a reconheceu ainda – e
parece difícil distinguir qual é a música, diante de outros sons que a abafam.
Então, ou o refrão, ou uma palavra da letra encaixa- se, e você a reconhece de
imediato. A partir daí, mesmo que a canção continue tocando no mesmo volume
baixo, você consegue acompanhá-la, e cantar junto. O que ocorreu nesse caso?
Os estímulos chegaram à parte do seu cérebro que processa sinais auditivos, a
qual passou a buscar padrões reconhecíveis. A fraqueza do sinal – o volume baixo
– dificultava a discriminação da sequência de sons. Era como se os neurônios
estivessem tentando probabilisticamente decifrar um padrão, tentando prever
o que viria a seguir, se o acorde A, B, ou C. Porém, à medida que os sinais iam
se somando, e com base na sua memória do conjunto das músicas que você já
ouviu, o padrão emergiu – e a música passou a ser reconhecida.
Esse exemplo também vale para o aprendizado da fala – bebês aprendem a
discriminar palavras dessa forma. Se a maioria das vezes em que ouve o fonema
“ma” é seguido de “mãe”, o cérebro deles passa a discriminar um padrão, “mamãe”.
Ao computar, estatisticamente, qual o fonema mais provável, os neurônios do
bebê separam, de um fluxo contínuo de som (a fala), uma palavra. De forma ainda
mais surpreendente, isso parece ocorrer já desde o ambiente intrauterino13.
Segundo esse modelo, o cérebro está constantemente tentando prever o
que ocorre a seguir e testando hipóteses, com base em cálculos probabilísticos.
É o chamado modelo do cérebro bayesiano, que recebe esse nome porque o
funcionamento dos circuitos pode ser descrito pelo Teorema de Bayes, reverendo
inglês do século XVIII que o concebeu14. Sem entrar em detalhes matemáticos,
esse teorema – muito utilizado nas ciências da computação, mas já célebre nas
ciências comportamentais – expõe a forma como se pode atualizar o cálculo
da probabilidade de ocorrência de um evento à medida que novas evidências
13 DEHAENE, Stanislas, How we learn: why brains learn better than any machine… for now, New
York: Viking Penguin, 2020, p. 64–66.
14 Ibid., p. xxv–xxvii; 43–48; BARRETT, Lisa Feldman, How emotions are made: the secret life of the
brain, Boston: Mariner Books, 2018, p. 57–66.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
15 Para o público jurídico, vale apontar que também existem abordagens bayesianas na área de Epistemologia
Jurídica, isto é, na área que estuda as provas no processo. Propostas nos anos 1960-1970 nos Estados
Unidos, a forma como aplicam o cálculo bayesiano especificamente a esse problema é hoje vista com
ressalva por muitos teóricos. A crítica, ressalte-se, não se dá ao cálculo bayesiano em si, mas se ele
seria útil ou aplicável à questão da avaliação do conjunto probatório para se decidir sobre a culpa de
alguém. Vide DAHLMAN, Christian; PUNDIK, Amit, The Problem with Naked Statistical Evidence,
in: DAHLMAN, Stein & Tuzet (Org.), Philosophical Foundations of Evidence Law, Oxford: Oxford
University Press, 2021.
16 BARRETT, How emotions are made: the secret life of the brain, p. 84–87.
17 Tomemos outro exemplo que pode ajudar a esclarecer o que significa descrever a atividade do cérebro
da mesma forma. Já pode ter ocorrido com você de encontrar uma pessoa conhecida fora do seu
contexto usual: uma colega de trabalho no clube, no final de semana, ou um amigo de escola numa
cidade completamente diferente daquela onde estudaram juntos. Muitas pessoas se veem na situação
de demorar a reconhecer essa pessoa, e se sentem constrangidas com isso. A mudança do contexto
de onde se esperaria encontrar aquela pessoa frustra uma expectativa do cérebro, e é como se ele
precisasse recalcular as suas probabilidades anteriormente assumidas.
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repetitivos e com pouca variabilidade, essa, muitas vezes, pode ser a forma mais
eficiente de solucioná-los18.
Esse modelo do cérebro preditor segue a mesma dinâmica de uma das
descobertas mais estimulantes da Neuroeconomia: como conseguimos processar
informações sobre o valor subjetivo das coisas no cérebro e, a partir disso, fazer
escolhas.
18 Essencial ressaltar que em ambientes instáveis, imprevisíveis e pouco estruturados, isso deixa de
ser o caso. Os debates entre Daniel Kahneman e Gary Klein (Vide o capítulo 22 de KAHNEMAN,
Rápido e devagar: duas formas de pensar) mostram que a intuição de tomadores de decisão muito
experientes pode ser superior na solução de problemas com os quais estão acostumados, mas que
diante de cenários novos e mutáveis, a boa tomada de decisão depende mais de raciocínio deliberado e
menos do piloto automático – mais “sistema 2” e menos “sistema 1”, na metáfora a que nos referimos
acima.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
Isso leva à seguinte questão: como o cérebro consegue juntar todas essas
variáveis ao estimar o valor subjetivo de uma escolha? Como se leva em conta,
numa decisão, tanto questões econômicas, como sociais, morais, além de hábitos
de consumo?Uma das descobertas mais interessantes da Neuroeconomia é
que existe uma moeda única no cérebro, para a qual são convertidas todas
essas variáveis, e que permite que se faça escolhas tão complexas19. Trata-se
da codificação de valores pelos neurônios do neurotransmissor dopamina, em
circuitos ligados à recompensa.
Muito resumidamente, trata-se de estudos feitos a partir de meados da
década de 199020. Alguns deles foram realizados com primatas, com técnicas
invasivas: medindo-se a atividade dos neurônios com eletrodos implantados
nessas áreas profundas do cérebro. Esses primatas executavam tarefas de tomada
de decisão, após as quais se seguiam recompensas (geralmente, goles de suco
através de um canudo, uma recompensa muito apreciada por esses animais).
Outros estudos foram feitos com humanos, usando técnicas de neuroimagem
não invasivas, como é o caso da ressonância magnética funcional. Trata-se de
um método que permite medir o nível de oxigenação de determinadas áreas
cerebrais, e com isso inferir uma maior atividade de grupos de neurônios quando
o sujeito pesquisado realiza tarefas de tomada de decisão. Infelizmente, não
nos cabe detalhar ainda mais as minúcias desses métodos e experimentos, mas
muito foi publicado a respeito.
Esses experimentos mostraram que o processamento de recompensas
no cérebro funciona da mesma forma do cérebro bayesiano ou preditor que
apresentamos acima. Os neurônios dopaminérgicos não computam, como
já se acreditou, o prazer no cérebro. Na verdade, eles computam um sinal de
expectativa. Diante de uma recompensa inesperada, eles disparam com maior
frequência, sinalizando que ocorreu algo bom, que não estava nos planos (“Um
presente inesperado! Que surpresa!”). Quando se espera uma recompensa, eles
disparam sinalizando a expectativa, e se de fato a recompensa ocorre, seguem
disparando normalmente (a previsão foi confirmada). Quando, porém, uma
19 LEVY, Dino J.; GLIMCHER, Paul W., The root of all value: A neural common currency for choice,
Current Opinion in Neurobiology, v. 22, n. 6, p. 1027–1038, 2012.
20 SCHULTZ, W.; DAYAN, P.; MONTAGUE, P. R., A neural substrate of prediction and reward, Science,
v. 275, n. 5306, p. 1593–1599, 1997.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
expectativa é frustrada (“Vim de longe para comer aquele doce nesta loja, mas
ele acabou!”), os neurônios dopaminérgicos apresentam uma redução no seu
nível de disparos, sinalizando um “erro de predição de recompensa”.
A computação do “erro de predição de recompensa” como forma de
codificação do valor subjetivo é uma das grandes descobertas da Neuroeconomia,
e ajuda a explicar por que as coisas não têm um valor objetivo, que independa das
expectativas prévias do tomador de decisão. Todas as pessoas estão constantemente
fazendo previsões sobre a satisfação que podem obter a partir de uma determinada
escolha, e revisando suas expectativas conformemente.
A codificação do valor subjetivo das coisas sempre depende, assim,
de um ponto de referência prévio, bem como de valores sociais e culturais
aprendidos. O cálculo de custo e benefício que as pessoas fazem depende, assim,
fundamentalmente, das expectativas que vão sendo construídas.
Não só isso. Os neuroeconomistas conseguem mapear redes específicas e
medir cada um dos padrões neurais que sinalizam as representações internas de
valor, associadas a diferentes possibilidades de escolha. e também, o momento
em que redes de neurônios associadas a diferentes escolhas competem entre
si, até que uma delas prevalece – e a decisão é enfim tomada. Os modelos mais
recentes são capazes de formalizar essas computações realizadas pelos circuitos
de valoração e escolha21.
Esses modelos recentes de tomada de decisão desafiam, inclusive, uma das
concepções mais comuns sobre como se dá a tomada de decisão: o modelo clássico
do livre-arbítrio, segundo o qual primeiro o sujeito teria vontade e consciência
do agir, para então, no momento seguinte, executar a ação. Ora, se o cérebro
é um preditor, verifica-se que muitas vezes a previsão de um movimento já foi
iniciada em paralelo, ou antes mesmo do processamento da informação sobre
as escolhas possíveis. Na realidade, o cérebro é mais eficiente computando de
forma simultânea escolhas e movimentos. Os neurônios estão constantemente
atualizando previsões e encadeando possibilidades de decisão e movimentos de
21 WU, Shih-Wei; GLIMCHER, Paul W., The Emerging Standard Neurobiological Model of Decision
Making, in: CHEN, Shu-Heng; KABOUDAN, Mak; DU, Ye-Rong (Orgs.), The Oxford Handbook of
Computational Economics and Finance, New York: Oxford University Press, 2018, v. 1.
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE ANÁLISE
ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
22 WISPINSKI, Nathan J.; GALLIVAN, Jason P.; CHAPMAN, Craig S., Models, movements, and minds:
bridging the gap between decision making and action, Annals of the New York Academy of Sciences,
n. October, 2018.
23 BARRETT, How emotions are made: the secret life of the brain, p. 60.
24 BARRETT, How emotions are made: the secret life of the brain.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
culturalmente com nomes específicos – tais como raiva, medo, frustração, alegria,
vergonha – são, dessa forma, conceitos construídos, derivados de predições que
os neurônios fazem, com base nas experiências passadas. Uma emoção, de acordo
com essa perspectiva, é uma espécie de aposta que guia a ação em resposta num
presente momento.
Nenhuma decisão, pois, ocorre num vazio emocional: ao contrário, o cérebro
está sempre traçando previsões sobre como agir com base em informações
internas, construindo uma realidade afetiva interna que acaba por rotular eventos,
pessoas e objetos de forma positiva ou negativa, influenciando o comportamento.
Isso não é uma novidade para quem já levou a sério o conselho de nunca
tomar uma decisão importante antes de uma boa noite de sono, ou já experimentou
o quanto um estado de raiva ou euforia pode influenciar cabalmente uma decisão
que de num outro momento teria sido completamente diferente. O que importa
é que as Neurociências têm finalmente compreendido como e por que isso ocorre
dessa maneira.
Mais importante para a presente discussão, essa abordagem ajuda a explicar
por que, mesmo na tomada de decisão em processos judiciais – um tipo de
decisão altamente complexa e com múltiplas questões envolvidas – variáveis
aparentemente irrelevantes, como o cansaço, a fome, ou o sono do tomador
de decisão, ou seu humor negativo derivado de questões como o mau tempo
ou a derrota do time na noite anterior25 poderiam influenciar o desfecho de
processos judiciais.
Sobretudo, é uma alerta para que se saiba que a realidade afetiva leva- nos
a projetar no mundo exterior nossos estados afetivos internos e, principalmente,
a decidir influenciados por eles.
25 CHEN, Daniel; SPAMANN, Holger, This Morning’s Breakfast, Last Night’s Game: Detecting
Extraneous Influences on Judging, IAST working paper, 2016; DANZIGER, S.; LEVAV, J.; AVNAIM-
PESSO, L., Extraneous factors in judicial decisions, Proceedings of the National Academy of Sciences,
v. 108, n. 17, p. 6889–6892, 2011; CHO, Kyoungmin; BARNES, Christopher M.; GUANARA, Cristiano
L., Sleepy Punishers Are Harsh Punishers: Daylight Saving Time and Legal Sentences, Psychological
Science, v. 28, n. 2, p. 242–247, 2017.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
26 HARRIS, Allison P.; SEN, Maya, Bias and Judging, Annual Review of Political Science, v. 22, p. 241–259,
2019; HORTA, Ricardo Lins; COSTA, Alexandre Araújo, Desafios da Agenda de Pesquisa Empírica
em Psicologia da Tomada de Decisão Judicial no Brasil, Revista de Estudos Empíricos em Direito,
v. 7, n. 3, p. 76–110, 2020.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
capaz de raciocinar para resolver uma prova de conhecimentos gerais, para que
decida como se um adulto fosse, especialmente em contextos emocionalmente
salientes27. Sendo assim, questões que são trazidas a tribunais, sejam elas ligadas
à responsabilização penal ou ao trabalho infantil, precisam ser instruídas com
a ciência recente, e não com falácias argumentativas.
Uma terceira área que poderia se beneficiar de uma melhor compreensão do
comportamento humano, e aqui mais próxima da Análise Econômica do Direito,
é a linhagem dos chamados estudos da Economia do Crime. Alguns trabalhos
recentes vêm tentando aplicar ao contexto brasileiro o modelo do economista Gary
Becker28, segundo o qual a inibição da criminalidade dependeria especialmente
da elevação de custos e da redução de possíveis benefícios aferidos no crime.
Além de inúmeros problemas de ordem metodológica sobre um suposto papel
de dissuasório da lei penal no crime – algo muito problemático do ponto de vista
empírico29 –, esses estudos frequentemente padecem de uma teorização pobre
sobre como pessoas que cometem crimes percebem, por exemplo, o real risco de
descoberta, apreensão e punição30. Os achados da Economia Comportamental
sugerem que modelos simplórios que não incorporam o papel de intuições,
aspectos emocionais e sociais, heurísticas e vieses são incompletos31.
8. Conclusões
Neste texto, procurei mostrar, de forma sucinta, e acessível a pessoas
leigas, como descobertas recentes das Neurociências, e particularmente da
Neuroeconomia, podem nos ajudar a melhor compreender não só a mente
humana, como também a tomada de decisão juridicamente relevante. Em nome
27 CASEY, B J et al, How Should Justice Policy Treat Young Offenders ?, The MacArthur Foundation
Research Network on Law and Neuroscience, 2017.
28 BECKER, Gary S., Crime and Punishment: An Economic Approach, Economic Analysis of the Law:
Selected Readings, v. 76, n. 2, p. 255–265, 2007.
29 NAGIN, Daniel S, Deterrence in the Twenty-first Century: A Review of the Evidence by a Criminologist
for Economists, Annual Review of Economics, v. 5, p. 83–105, 2013; HORTA, Ricardo Lins, A
desalentadora função preventiva das prisões: revisitando as Teorias da Pena à luz da Psicologia
Experimental, Direito, Estado e Sociedade, 2020.
30 APEL, Robert, Sanctions, Perceptions, and Crime: Implications for Criminal Deterrence, Journal of
Quantitative Criminology, v. 29, n. 1, p. 67–101, 2013.
31 POGARSKY, Greg; ROCHE, Sean Patrick; PICKETT, Justin T., Offender Decision-Making in Criminology :
Contributions from Behavioral Economics, Annual Review of Criminology, v. 1, p. 4.1-4.22, 2018.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
da concisão, muitas questões relevantes tiveram que ser deixadas de lado, mas
espero ter permitido que se vislumbrem alguns pontos interessantes.
Em primeiro lugar, hoje sabemos quais são as áreas e circuitos neurais
ligados à tomada de decisão com base em valores e finalidades. A decisão sempre
depende do contexto, porque é com base nele que os neurônios traçam previsões
que guiarão o comportamento humano. Há muito a ser pesquisado e compreendido
ainda sobre as minúcias desse processo, e os próximos anos refinarão ainda mais
os modelos hoje disponíveis. Contudo, a visão que emerge desses estudos é a de
que o cérebro constantemente constrói uma realidade mental interna, que longe
de ser um espelho fiel da realidade externa, é, na verdade, derivado de uma série
de suposições e apostas internas, ligadas à história e às experiências do indivíduo.
Além disso, mostramos como a compreensão correta do comportamento
humano e seus substratos neurais é um convite a deixar de lado visões simplificadas,
como dicotomias entre racional e emocional. Mesmo a metáfora dos dois sistemas
da tomada de decisão (“sistema 1 x sistema 2”), que pode ser útil em algumas
discussões, não descreve como o cérebro funciona e oculta uma série de nuances.
Esperamos, também, ter mostrado a impropriedade de ser dizer que existe
uma tomada de decisão racional, e portanto boa, versus uma decisão emocional”
e ruim: essa distinção ignora que ambos são processos intrinsecamente ligados,
especialmente no contexto social – e que toda decisão tem seu componente
afetivo, quer se queira ou não. Compreender, assim, a importância de se manter
uma rotina saudável, bem como aprender a interpretar as próprias emoções pode
mudar a forma como se toma decisões.
Por fim, e caso isso ainda não estivesse suficientemente óbvio, acreditamos
ter trazido elementos que nos convidam à reflexão. Sempre aprendemos coisas
novas e conferimos valores às coisas, eventos e pessoas, com base em expectativas
construídas sobre experiências passadas e memórias emocionais, valendo-nos de
atalhos cognitivos e hábitos estabelecidos. Em resumo, nunca somos tomadores
de decisão neutros, isentos e imparciais, simplesmente porque não é assim que
a nossa mente funciona.
110
As (ir)racionalidades da Economia e do Direito: o curioso caso do
homo economicus.
The (Ir)rationalities of Economics and Law: the curious case of homo economicus.
Sergio Nojiri1
1. Introdução
Este texto pretende abordar, de forma crítica, a questão da racionalidade
econômica e dos supostos ganhos em sua utilização na resolução de casos jurídicos.
A crítica parte da seguinte hipótese: se a Análise Econômica do Direito (AED) parte
1 Professor Associado da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo –USP.
Juiz Federal em Ribeirão Preto.
111
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2. A Escola Neoclássica
O termo “Neoclássico” sugere um renascimento da Economia Clássica.
Ele surge em um momento em que a escola dominante era a de pensamento
keynesiano. Naquele período da economia norte-americana, Keynes pensava que
o quadro macroeconômico estava especialmente propenso à possível escassez de
demanda agregada, o que poderia facilitar o surgimento de recessões econômicas.
Nesse contexto, de possível queda nos investimentos privados, o resultado mais
provável seria o aparecimento do “desemprego involuntário”. Em tal situação,
a saída para impulsionar a economia seria um aumento nas despesas públicas
(GHISELLINI; CHANG, 2018, p. 5-6).
No entanto, esse relato econômico pareceu inconcebível para economistas
neoclássicos como Thomas Sargent, Robert J. Barro e Edward Prescott. Para eles,
as mudanças de preços garantiriam que os mercados tendessem ao equilíbrio,
possibilitando, assim, que os agentes econômicos otimizassem o resultado de
suas escolhas. Caso os investimentos privados caíssem, as empresas poderiam
prontamente cortar salários para restaurar os lucros, uma vez que os trabalhadores
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aceitariam a melhor opção disponível (ou seja, salários mais baixos em vez do
desemprego). Assim, da mesma maneira como previam os economistas clássicos,
o sistema econômico buscaria o equilíbrio (GHISELLINI; CHANG, 2018, p. 6).
Assim, para os economistas neoclássicos, as políticas macroeconômicas
devem, basicamente, assegurar o melhor ambiente possível para os agentes
econômicos, ou seja, com o mínimo de distorções intertemporais (intertemporal
distortions). Para isso, as regras (políticas) devem ser simples, confiáveis e
transparentes. A estrutura econômica proposta por esses economistas deve
ter: 1) componentes essenciais para um equilíbrio intertemporal; 2) mercados
compostos por agentes voltados para a otimização de resultados; 3) agentes
econômicos que tomam decisões altamente eficientes, otimizando a utilidade
esperada a partir de uma racionalidade plena (GHISELLINI; CHANG, 2018, p. 8).
Para uma devida compreensão da Escola Neoclássica há que se falar, ainda,
sobre o conceito de utilidade. Em termos econômicos, a utilidade é uma função
que cria valor ou eficiência que nos beneficia em tudo o que nos esforçamos
para realizar na vida. É algo útil, ou um meio, como o dinheiro, de atender as
necessidades e desejos da vida diária, principalmente na forma de consumo. Ela
se relaciona com o conceito de qualidade de vida e de bem-estar (GHISELLINI;
CHANG, 2018, p. 9-10).
Um desafio enfrentado pelos economistas neoclássicos surgiu em decorrência
do próprio sentido atribuído ao conceito de utilidade, que é a questão de sua
mensuração. Afinal, como medir a utilidade? A resposta a essa pergunta tem a
ver com o que se pode esperar de um agente econômico racional. Isso porque,
na análise da utilidade padrão, um agente econômico racional deve ser capaz
de tomar decisões sobre a utilidade da qual se beneficiará no futuro, com base
no resultado final de seus cálculos. Portanto, a medida da utilidade está, nesse
contexto, diretamente relacionada com as expectativas racionais do agente
econômico.
A teoria econômica convencional das decisões racionais parte de uma forte
premissa de que as pessoas agem de forma a alcançar os melhores resultados para
si próprio. O agente econômico que recupera toda a informação e conhecimento
disponíveis, nesse sentido, além de racional, ele é também egoísta.
Na visão de economistas clássicos como Adam Smith, não haveria problema
algum com o egoísmo. Smith conjecturou que se alguém persegue seu próprio
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3. Críticas
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como a descrita por Marx, por exemplo, segundo a qual no lugar de harmonia
haveria, na realidade, uma batalha entre classes sociais (MAZZUCATO, 2018).
Seguindo essa linha de pensamento, especialmente a partir da segunda
metade do século XX, houve um crescente aumento de modelos econômicos
baseados em cálculos matemáticos cada vez mais sofisticados. Nesse movimento,
que teve início no século XIX, economistas vêm elaborando uma teoria diretamente
inspirada nos grandes avanços teóricos feitos na ciência a partir do século XVI,
como a Física de Newton e a teoria da seleção natural de Darwin. A estratégia
é ver o comportamento como forças reflexas que se movem em direção a um
equilíbrio estável, que maximiza ou minimiza alguma variável teoricamente
crucial. No caso da microeconomia, essa variável é a utilidade e o equilíbrio é
fornecido por um nível de preço que a maximize.
Daí surge a pergunta: a economia conseguiu atingir o mesmo nível de
confiabilidade teórica dessas ciências? Muito provavelmente a resposta é negativa.
Anos de trabalho nessa direção não produziram nada comparável à descoberta
dos físicos de novos planetas ou a compreensão biológica do mecanismo de
adaptação e hereditariedade.
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a influência do costume e da moda, que faz com que ele seja considerado por
alguns, o pai da economia comportamental. Edward Cartwright, por exemplo,
lembra que, no início, a psicologia andou de mãos dadas com a economia por
muito tempo depois de Adam Smith. Os primeiros economistas deram muita
importância às emoções, impulsos, estímulos, moralidade, etc. Foi somente no
início do século XX que a Economia se afastou da Psicologia (CARTWRIGHT,
2011, p. 5).
No entanto, a partir da década de 1960, a Psicologia foi gradualmente
retornando à Economia. Um dos elementos motivadores desse retorno foi
o trabalho desenvolvido por Herbert Simon. Ele questionou seriamente a
suposta racionalidade do agente econômico, que ficou conhecido depois como
homo economicus. Em um artigo publicado em 1955, Simon apontou para uma
completa falta de evidências de que, em situações reais de escolha humana, de
qualquer complexidade, supostos cálculos podem ou são, de fato, realizados.
O reconhecimento das limitações enfrentadas pelas pessoas levou-o a cunhar
a famosa expressão racionalidade limitada. Simon, posteriormente, ganhou o
Prêmio Nobel de Economia em 1978, por sua pesquisa pioneira no processo de
tomada de decisão em organizações econômicas. No entanto, os economistas
convencionais continuaram e continuam a utilizar o modelo do homo economicus.
Talvez por isso, Simon tenha escrito em sua autobiografia, o seguinte: “Meus
amigos economistas há muito desistiram de mim, mandando-me para a psicologia
ou para algum outro terreno baldio distante” (CARTWRIGHT, 2011, p. 7).
Essa imagem superestimada do homo economicus, que a economia neoclássica
nos apresentou como uma pessoa comum agindo de acordo com modelos e
fórmulas matemáticas, como se fosse uma empresa, continuou, após Simon,
sofrendo duras críticas. E não é para menos. A ideia de um homo economicus
extremamente individualista, impulsionado em grande parte pelo ganho
monetário e profundamente desconfiado de qualquer pessoa (especialmente do
público), exceto de si mesmo, só poderia existir no reino da fantasia. De acordo
com Peter Fleming, a narrativa da economia acadêmica dominante, ao criar um
mundo supereconômico, acaba por nos deixar do lado de fora. Essa forma de
abordagem econômica está teimosamente ligada a uma visão completamente
inoperante da sociedade. Em outras palavras, a adoção de seus pressupostos faz-
nos perder imediatamente o contato com a realidade. A maior parte da economia
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como também glorifica esse comportamento, fazendo com que o altruísmo seja
visto como uma atitude irracional. É fácil ver, assim, como os indivíduos que
recebem instrução formal em análise econômica tendem a perceber as pessoas
como mais egoístas do que realmente são (STOUT, 2008, p. 168).
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5. Considerações finais
Inúmeras pesquisas apontam para o fato de que existem relevantes limitações
no processamento cognitivo de julgamento e tomada de decisão, judicial ou não.
Ao confrontarmos modelos da teoria da escolha racional, desenvolvidos por
economistas convencionais, com o mundo real, percebemos a necessidade de
incorporação de outros elementos, especialmente comportamentais.
A Psicologia, há muito tempo, já vem se distanciando do modelo de
racionalidade frequentemente utilizado pela Economia. O Direito, da mesma
maneira, deveria se afastar de teorias econômicas de recorte neoclássico que se
baseiam em suposições errôneas acerca do comportamento humano. Nós, do
Direito, deveríamos ser mais cautelosos ao tratarmos da questão da racionalidade.
Deveríamos, a partir dos trabalhos desenvolvidos pelos psicólogos, buscar
alternativas ao modelo do homo economicus, esse agente racional, egoísta e,
sobretudo, fictício.
Referências
CARTWRIGHT, Edward. Behavioral Economics, Routledge, 2011.
CHERNAVSKY, Emilio. Crisis and Perplexity: the economists in face of the
rupture of the pattern of global growth, The Perspective of the World Review,
vol. 4, n. 3, 2012.
FLEMING, Peter. The Death of Homo Economicus: Work, Debt and the Myth
of Endless Accumulation, Pluto Press, 2017.
GHISELLINI, Fabrizio; CHANG, Beryl Y. Behavioral Economics: Moving
Forward, Palgrave Macmillan, 2018.
HARRIS, Allison P.; SEN, Maya. Bias and Judging, Annual Review of Political
Science, vol. 22, 2019. Disponível em: https://www.annualreviews.org/doi/
full/10.1146/annurev-polisci-051617-090650 Acesso em: 26 jun. 2021.
JOLLS, Christine; SUNSTEIN, Cass R.; THALER, Richard. A Behavioral
Approach to Law and Economics, Stanford Law Review, vol 50,1998.
Disponível em: https://chicagounbound.uchicago.edu/cgi/viewcontent.
cgi?article=12172&context=journal_articles Acesso em: 23 jun. 2021.
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE ANÁLISE
ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A neuroeconomia e o neurodireito
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4
A teoria dos jogos
nos tribunais
Teoria dos jogos e decisão judicial: aplicações e desafios
Resumo: Este trabalho apresenta alguns elementos básicos de teoria dos jogos
que justificam sua importância para o raciocínio judicial, especialmente no atual
contexto de inclinações pragmáticas pelo qual vem passando o direito público
brasileiro. Para tanto, serão apresentados os traços marcantes dessas inclinações
pragmáticas e, depois, serão debatidas possíveis aplicações da teoria dos jogos
no Direito. Finalmente, serão explorados como limites de conhecimento podem
modular a utilidade da teoria dos jogos para orientar a justificação de decisões
judiciais.
Palavras-chave: Teoria dos Jogos. Raciocínio Jurídico. Consequencialismo.
Pragmatismo.
Abstract: This paper presents some basic aspects of game theory and their
relevance for judicial reasoning, especially in the context of pragmatic inclinations
currently influencing Brazilian public law. Main features of these pragmatic
inclinations are therefore outlined. Subsequently, possible applications of game
theory within law are discussed. Lastly, the paper explores the way in which
limits of knowledge can modulate the usefulness of game theory to guide judicial
decision-making.
Keywords: Game Theory. Legal Reasoning. Consequentialism. Pragmatism.
1 Professor da FGV Direito Rio, Rio de Janeiro, RJ (Brasil). Doutor em Direito pela Christian-Albrechts-
Universität zu Kiel (Alemanha), com apoio do serviço alemão de intercâmbio acadêmico (DAAD). Doutor
e mestre em Direito Público pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Realizou estágio
pós-doutoral na condição de pesquisador visitante na Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg. Algumas
ideias deste trabalho foram apresentadas previamente em: LEAL, Fernando. Consequencialismo,
racionalidade e decisão jurídica: o que a teoria da decisão e a teoria dos jogos podem oferecer? In:
Armando Castelar Pinheiro, Antônio Maristrello Porto e Patrícia Regina Pinheiro Sampaio (Orgs.).
Direito e Economia: Diálogos. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2019, p. 85-113.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A teoria dos jogos nos tribunais
1. Introdução
O avanço da análise econômica do direito, do pragmatismo jurídico e de
outras teorias e metodologias de decisão orientadas na consideração de efeitos
futuros de alternativas decisórias vem exigindo a expansão da tradicional caixa
de ferramentas disponível para a justificação de decisões dentro das fronteiras
do direito. Introduzidas, sobretudo recentemente, em debates teóricos e em
processos de justificação de decisões judiciais, abordagens prospectivas ou, mais
especificamente, consequencialistas revelam, ao mesmo tempo, os limites do
conhecimento jurídico ordinário e apontam para a necessidade de desenvolvimento
de mecanismos confiáveis para lidar com projeções e avaliações de um futuro
nem sempre facilmente antecipável.
Nesse cenário de desafios para a qualidade do raciocínio jurídico, a teoria
dos jogos aparece como instrumental útil e atraente para a compreensão de
como as regras do direito afetam o comportamento individual e coletivo. Nesse
sentido, ela pode desempenhar importante papel para a justificação de decisões
judiciais preocupadas com os seus efeitos ou para a revisão judicial de escolhas
de outras instituições sustentada sobre o seu potencial para incentivar ou
inibir certos comportamentos. Isso não quer dizer, contudo, que a teoria dos
jogos seja relevante para a modelagem e a antecipação do comportamento
esperado de agentes racionais em qualquer problema jurídico. Sua utilidade
real tampouco pode ser efetivamente capturada se a sua incorporação à prática
judicial for limitada a (i) referências muito gerais – tornando a referência a jogos
meras metáforas para descrever problemas de ação coletiva2 – ou vazias; (ii)
expressões de exercícios de pseudoerudição decorrentes da simples utilização
do vocabulário da teoria desacompanhado de maiores esforços de aplicação; ou
(iii) não mais do que o produto de um entusiasmo acrítico. Nesses casos, a teoria
dos jogos tende a ser um simples modismo repetido festivamente, mas incapaz
de garantir a processos reais de justificação de decisões judiciais maiores níveis
de segurança, estabilidade ou racionalidade.
Com essas preocupações em mente, este trabalho pretende apresentar
elementos básicos de teoria dos jogos aptos para justificar a sua importância para
2 BAIRD, Douglas G., GERTNER, Robert H., PICKER, Randal C. Game Theory and the Law. Cambridge:
Harvard University Press, 2002, p. 1.
131
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE ANÁLISE
ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A teoria dos jogos nos tribunais
3 A esse respeito ver: ARGUELHES, Diego Werneck; LEAL, Fernando. Pragmatismo como [meta]teoria
da decisão judicial: Caracterização, Estratégias e Implicações. In: Daniel Sarmento (Coord.). Filosofia
e teoria constitucional contemporânea. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2009, p. 171-211.
4 “Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.” BRASIL.
Decreto-lei 4.657/1942. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Rio de Janeiro, 1942.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm. Acesso em:
14 jul. 2021.
5 LEAL, Fernando. Juízes pragmáticos são necessariamente juízes ativistas? Revista Brasileira de
Direito. Passo Fundo, vol. 17, n. 1, janeiro-abril, 2021, p. 14.
132
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE ANÁLISE
ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A teoria dos jogos nos tribunais
6 POSNER, Richard. Law, Pragmatism, and Democracy. Cambridge: Harvard University Press, 2003,
p.11-12.
7 Ver, por exemplo, a justificativa do PL 349/2015, do Senado, base para a promulgação da lei 13.655/2018,
em que se lê: “Como fruto da consolidação da democracia e da crescente institucionalização do Poder
Público, o Brasil desenvolveu, com o passar dos anos, ampla legislação administrativa que regula o
funcionamento, a atuação dos mais diversos órgãos do Estado, bem como viabiliza o controle externo
e interno do seu desempenho. Ocorre que, quanto mais se avança na produção dessa legislação, mais
se retrocede em termos de segurança jurídica. O aumento de regras sobre processos e controle da
administração têm provocado aumento da incerteza e da imprevisibilidade e esse efeito deletério
pode colocar em risco os ganhos de estabilidade institucional”. BRASIL. Senado Federal. Projeto
de Lei nº 349/2015. Brasília, 2015, p. 4. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/
documento?dm=4407647&ts=1593913219661&disposition=inline. Acesso em: 24 jul. 2021.
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11 Ver, por exemplo, BARAK, Aharon. Purposive Interpretation in Law. Princeton: Princeton University
Press, 2005; MAGALHÃES, Andréa. Jurisprudência da crise. Uma perspectiva pragmática. Rio de
Janeiro: Lúmen Juris, 2017; PORTO, Antônio Maristrello; GAROUPA, Nuno. Curso de Análise
Econômica do Direito. São Paulo: Atlas, 2020.
12 Ver, por exemplo, STONE, Martin. Four qualms about “legal pragmatism”. In: HUBBS, Graham; LIND,
Douglas (Ed.). Pragmatism, law, and language. New York/London: Routledge, 2014; TAMANAHA,
Brian Z. Law as a means to an end: threat to the rule of law. Cambridge: CUP, 2006; DWORKIN,
Ronald. Why Efficiency. In: ___. A matter of principle. Cambridge: Harvard University Press, 1985,
p. 267-289. LUBAN, David. What’s pragmatic about legal pragmatism?. Cardozo Law Review, Nova
Iorque, v. 18, n. 1, pp. 43-74, set. 1996.
13 Ver a respeito: FALCÃO, Joaquim; SCHUARTZ, Luis Fernando; ARGUELHES, Diego Werneck.
Jurisdição, Incerteza e Estado de Direito. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 243,
2006.
14 RESNIK, Michael D. Choices. An Introduction to Decision Theory. Minneapolis: University of
Minnesota Press, 2006, p. 121.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A teoria dos jogos nos tribunais
sua decisão deve ser tomada15. Diferentemente disso, jogos envolvem típicos
problemas de decisão caracterizados pela interdependência de cursos de ação
passíveis de serem selecionados por diferentes decisores.
Analisar o comportamento humano em situações de decisão interativa
não é uma ambição recente. Matemáticos têm se ocupado com jogos de salão
buscando a identificação de estratégias ótimas (e obtendo sucesso) desde o
século XVIII16. Já no século XX, os elementos básicos de uma teoria dos jogos
são desenvolvidos de maneira rigorosa por John von Neumann, que, com Oskar
Morgenstern, “escreveram o livro seminal sobre teoria dos jogos, o qual propunha
de maneira detalhada como representar jogos de um modo matemático preciso e
oferecia um método geral para analisar o comportamento [dos jogadores]”17. A
teoria dos jogos, no entanto, ganhou um impulso definitivo graças ao trabalho de
John Nash, “que cunhou a distinção-chave entre modelos teóricos cooperativos
e não-cooperativos e criou conceitos de comportamento racional – os chamados
‘conceitos de solução’ – para os dois campos”18.19
A teoria dos jogos, de larga aplicação, cuida da análise e da previsão ou
prescrição do comportamento racional esperado nas chamadas situações de jogo.
Elas se caracterizam pela relação de dependência que se pode estabelecer entre a
determinação do curso de ação a ser escolhido por um agente racional e as decisões
de pelo menos outro agente racional envolvido na mesma situação e vice-versa.
Sua utilidade para o direito é elevada, uma vez que problemas jurídicos podem
envolver tanto situações de interdependência, em que os atores em situação
de jogo (os jogadores) podem se comunicar para coordenar estratégias (jogos
cooperativos), como casos em que os interesses são opostos e a coordenação não
é possível, ainda que haja regras permitindo a comunicação entre os jogadores
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Prisioneiro 2
Regina Pinheiro Sampaio (Orgs.). Direito e Economia: Diálogos. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio,
2019, p. 101.
25 Por exemplo, PORTO, Antônio Maristrello; GAROUPA, Nuno. Curso de Análise Econômica do
Direito. São Paulo: Atlas, 2020, p. 118-119.
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A teoria dos jogos nos tribunais
Conhecer teoria dos jogos, por isso, está além do plano intuitivo e pressupõe
conhecer, antes de tudo, (i) para que tipo de problemas de decisão ela pode ser
útil, (iii) como modelá-los e (iii) como ela pode, por meio de conceitos de solução,
contribuir para a identificação do comportamento esperado de decisores racionais
envolvidos em uma específica situação de jogo.
29 PORTO, Antônio Maristrello; GAROUPA, Nuno. Curso de Análise Econômica do Direito. São Paulo:
Atlas, 2020, p. 127.
30 WATSON, Joel. Strategy. An Introduction to Game Theory, 3. ed. New York: Norton, 2013, p. 38.
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31 BAIRD, Douglas G., GERTNER, Robert H., PICKER, Randal C. Game Theory and the Law. Cambridge:
Harvard University Press, 2002, p. 270.
32 LEAL, Fernando. Consequencialismo, racionalidade e decisão jurídica: o que a teoria da decisão e a
teoria dos jogos podem oferecer? In: Armando Castelar Pinheiro, Antônio Maristrello Porto e Patrícia
Regina Pinheiro Sampaio (Orgs.). Direito e Economia: Diálogos. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio,
2019, p. 107.
33 RESNIK, Michael D. Choices. An Introduction to Decision Theory. Minneapolis: University of Minnesota
Press, 2006, p. 4; JONES, Bryan D. Bounded Rationality. Annual Review of Political Science, Palo
Alto, n. 2, 1999, p. 299.
34 JONES, Bryan D. Bounded Rationality. Annual Review of Political Science, Palo Alto, n. 2, 1999, p.
297-321, p. 298.
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Isso significa que, seja por limitações propriamente informacionais, seja por
limitações especificamente cognitivas, não se deve considerar como imediatamente
útil, sem maiores esforços, o recurso a elementos básicos de teoria dos jogos para
ampliar a racionalidade de justificações consequencialistas em típicas situações de
jogo. Ônus associados à obtenção de dados confiáveis devem ser estabelecidos e
mecanismos de compensação de déficits epistêmicos devem ser imaginados pelo
direito para que a referência não mais do que nominal a “jogadores”, “estratégias”
e “payoffs” não camuflem juízos meramente intuitivos sobre efeitos esperados de
alternativas de decisão. Como dizem Baird, Gertner e Picker, “o poder da teoria
dos jogos aplicada ao direito ou qualquer outra disciplina deve derivar, no final
das contas, da acurácia das previsões que fornece sobre as escolhas que as pessoas
são chamadas a fazer”36. Por isso, quanto mais o raciocínio jurídico for capaz
de exigir prognoses robustas sobre o comportamento esperado de indivíduos
ou grupos de indivíduos, mais a teoria dos jogos poderá nos ajudar a entender
melhor o que pode ser juridicamente controvertido e a buscar as soluções mais
adequadas para problemas concretos levados à apreciação do Poder Judiciário.
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5. Conclusão
O contexto de inclinações pragmáticas no direito público brasileiro favorece
o recurso a raciocínios consequencialistas para a justificação de decisões nas
esferas administrativa, controladora e também judicial. Essa abertura do
raciocínio jurídico ao futuro, no entanto, não vem desacompanhada de desafios.
Conhecer a estrutura de raciocínios prospectivos e os seus problemas justifica
a criação de diálogos mais intensos com teorias também fora das fronteiras do
direito que possam contribuir para a ampliação da racionalidade de justificações
orientadas em efeitos futuros de alternativas de decisão. A teoria dos jogos é
uma dessas alternativas. Sua utilidade real, porém, depende da compreensão
de suas possibilidades e carências em contextos reais de tomada de decisão,
marcados por limitações cognitivas e informacionais. Nesse instigante cenário
em que a sensibilidade para as consequências práticas de alternativas de decisão
cada vez mais importa, conhecer o direito e conhecer a teoria dos jogos, como já
se disse, são desafios que andam de mãos dadas37 – e não há razões para supor
que deva ser diferente.
Referências
ARGUELHES, Diego Werneck; LEAL, Fernando. Pragmatismo como [meta]
teoria da decisão judicial: caracterização, estratégias e implicações. In: Daniel
Sarmento (Coord.). Filosofia e teoria constitucional contemporânea. Rio de
Janeiro: Lúmen Juris, 2009, p. 171-211.
BAIRD, Douglas G., GERTNER, Robert H., PICKER, Randal C. Game Theory
and the Law. Cambridge: Harvard University Press, 2002.
BARAK, Aharon. Purposive Interpretation in Law. Princeton: Princeton
University Press, 2005.
BRASIL. Decreto-lei 4.657/1942. Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro. Rio de Janeiro, 1942. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm. Acesso em: 14 jul. 2021.
37 BAIRD, Douglas G., GERTNER, Robert H., PICKER, Randal C. Game Theory and the Law. Cambridge:
Harvard University Press, 2002, p. 271.
143
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A teoria dos jogos nos tribunais
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ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A teoria dos jogos nos tribunais
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Qual a utilidade da teoria dos jogos para o Direito brasileiro de
2021?
1. Introdução e objeto
O objeto principal deste artigo é indicar possíveis aplicações para a teoria
dos jogos junto aos tribunais judiciários brasileiros, e, ao mesmo tempo, sugerir,
sobre o assunto, uma agenda de pesquisa investida na realidade. O texto foi
escrito em sequência ao I Congresso de Análise Econômica do Direito da Justiça
do Trabalho, organizado pela Escola Judicial do TRT da 1a Região39.
Duas observações fazem- se necessárias. Em primeiro lugar, um registro
de transparência: nem tudo do que se vai tratar no texto encerra- se dentro do
conteúdo estrito da teoria dos jogos, tal como ela vem sendo canonicamente
entendida. Entretanto, o conteúdo do escrito mira a referida teoria, mas também
frequenta lugares próximos e de interesse. Segunda observação: escapa ao limite
do texto realizar abordagem profunda ou excessivamente técnica sobre o assunto.
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE ANÁLISE
ECONÔMICA DO DIREITO NA JUSTIÇA DO TRABALHO A teoria dos jogos nos tribunais
40 O livro de referência sobre o tema é BAIRD, Douglas G;GERTNER, Robert H.; PICKER, Randal C.
Game Theory and the Law. Cambridge: Harvard University Press, 2004.
41 MENDONÇA, José Vicente Santos de. Direito Constitucional Econômico: a intervenção do estado na
economia à luz da razão pública e do pragmatismo. 2a ed. Belo Horizonte: Fórum, 2017.
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42 Art. 20 do Decreto-lei n. 4.657/42, com a alteração da lei n. 13.655/18: Nas esferas administrativa,
controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam
consideradas as consequências práticas da decisão. V., ainda, art. 21.
43 Art. 15 da lei n. 12.016/09: Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público
interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso
suspender, em decisão fundamentada, a execução da será levado a julgamento na sessão seguinte à
sua interposição.
Art. 27 da lei n. 9.868/99: Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal,
por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que
ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
Migalhas: Brasil tem um advogado para cada 190 habitantes. Acessível em: https://www.migalhas.com.
br/quentes/312946/brasil-tem-um-advogado-para-cada-190-habitantes. Acesso em: 29 jul. 2021.
liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias,
que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua interposição.
44 Art. 27 da lei n. 9.868/99: Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal,
por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que
ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
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45 Migalhas: Brasil tem um advogado para cada 190 habitantes. Acessível em: https://www.migalhas.
com.br/quentes/312946/brasil-tem-um-advogado-para-cada-190-habitantes. Acesso em: 29 jul.
2021.
46 LEAL, Fernando; MENDONÇA, José Vicente Santos de. Transformações do Direito Administrativo:
consequencialismo e estratégias regulatórias. Rio de Janeiro: FGV, 2016.
47 A Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho propôs Ação Direta de Inconstitucionalidade contra
as alterações promovidas pela lei 13.655/18 no Drecreto-lei n. 4.657/42. A íntegra da petição inicial
pode ser obtida aqui: https://www.anamatra.org.br/images/DOCUMENTOS/2019/01-Anamatra-
STF-ADI-LINDB-Inicial_-_Assinado_4.pdf.
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ônus pode ser aliviado ao se construir um dever das partes de indicar, em suas
manifestações processuais, o que entenderiam ser as possíveis consequências
da decisão judicial. O dever é fraco: de seu descumprimento não decorreria
dano direto e imediato a quem o descumpre. Mas, é claro, o acquis epistêmico
do órgão julgador acabaria não contando com a participação do silente – do que
pode decorrer algum prejuízo.
(b) Um contraditório para as consequências. Em razão da técnica anterior,
as partes podem ser instadas a falar especificamente sobre as consequências
apresentadas de lado a lado. Claro que o juiz continua sendo um juiz de direito;
mas sempre poderá arbitrar entre consequências jurídicas e administrativas, e,
inclusive, não-jurídicas, desde que expressadas em linguagem acessível. Sem
falar que o juízo poderá solicitar o auxílio pericial.
(c) Um incidente processual de avaliação de consequências: amicus consecutio.
Ainda na linha das sugestões anteriores, o juízo poderá, a qualquer momento,
suscitar um incidente de avaliação de consequências, abrindo-se à participação
de entidades e especialistas na área cujas consequências se cogita (universidades,
entidades de classe, especialistas etc.). Tratar-se-ia de um amigo da corte voltado
à análise de consequências; um, por assim dizer, amicus consecutio.
(d) A constituição e o uso de repositórios empíricos confiáveis. Um dos desafios
do manejo de consequências é estabelecer a qualidade das premissas empíricas
com base em que elas serão construídas. Uma forma de atenuar a dificuldade é
estabelecer, por meio de alguma espécie de acreditação institucional, um conjunto
de repositórios empíricos confiáveis. O Conselho Nacional de Justiça, ou outra
entidade de igual projeção judicial, elaboraria uma lista de fontes preferenciais
para utilização em decisões. IBGE, OMS; revistas científicas com peer review duplo
cego, possivelmente aproveitando algum ranqueamento da Qualis/CAPES – são
diversas as possibilidades.
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48 BROWN, John Prater. Towards an Economic Theory of Liability. The Journal of Legal Studies. Vol.
2, n. 2.
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5. Conclusão
O consequencialismo jurídico não é nenhum bicho de sete cabeças.
Entendê-lo dentro de seus limites e de suas possibilidades é tarefa crucial ao
operador do direito de 2021. Ao mesmo tempo, a teoria dos jogos, que frequenta
área de interesse comum – junto à análise econômica do direito e às ciências
comportamentais aplicadas – , a par de seus usos jurídicos já consolidados (por ex.,
na delação premiada), pode ser explorada em outras áreas e matérias, podendo,
inclusive, inspirar indagações de pesquisa acadêmica junto ao comportamento
de julgadores em tribunais.
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Regulamentação do
mercado de trabalho
Informalidade, trabalho remoto e efeitos da pandemia no mercado
de trabalho
Informality, remote work and effects of the pandemic on the labor market
Fernando Veloso1
1. Introdução
A pandemia da Covid-19 teve um impacto profundo no mercado de trabalho,
afetando principalmente os trabalhadores com menor proteção social. No Brasil
os efeitos foram particularmente significativos, não somente em função da
queda sem precedentes da população ocupada, mas também pelo fato de que,
diferentemente de crises econômicas anteriores, desta vez os trabalhadores
informais foram mais atingidos que os formais. As ocupações de baixa escolaridade
foram particularmente afetadas, principalmente os trabalhadores que não
completaram o ensino fundamental.
A pandemia também acelerou a adoção do trabalho remoto em muitos
países, incluindo o Brasil. Essa mudança pode ter efeitos de longo prazo, na
medida em que vários setores podem utilizar essa modalidade de trabalho de
forma mais intensa após o fim da pandemia.
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2. Indicadores de informalidade
Existem vários indicadores de informalidade do trabalho na literatura
nacional e internacional. De modo geral, tais indicadores procuram captar em
que medida o trabalhador tem acesso aos benefícios assegurados pela legislação
trabalhista, como salário mínimo, previdência social, seguro desemprego e férias
remuneradas, entre outros. Alguns deles consideram algum nível de proteção
social, como a contribuição previdenciária.
Segundo esse conceito, trabalhadores informais seriam aqueles sem acesso
aos benefícios da legislação trabalhista ou a alguma proteção social assegurada
por lei. A seguir, são apresentadas os níveis que serão utilizados na próxima
seção para analisar a evolução da informalidade no Brasil.
Informalidade 1: A informalidade do trabalho é mensurada como a razão
entre os trabalhadores sem carteira de trabalho assinada e a soma dos trabalhadores
com carteira e sem carteira.
Informalidade 2: A informalidade nesse caso é mensurada como a soma dos
trabalhadores sem carteira e por conta própria dividida pela população ocupada.
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3. Evolução da informalidade
O gráfico 1 mostra a evolução da taxa de informalidade do trabalho no
Brasil desde o início da década de 1990, de acordo com as quatro medidas
descritas na seção anterior, utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (Pnad) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(Pnad Contínua).2
2 A Pnad foi realizada anualmente pelo IBGE desde meados da década de 1970 até 2015. Em substituição
a essa pesquisa, foi iniciada em 2012 a Pnad Contínua, que divulga dados trimestrais. Neste artigo
compatibilizamos as informações da Pnad e da Pnad Contínua, utilizando uma metodologia desenvolvida
em Ottoni, B. e Barreira, T. (2016). “Metodologia de retropolação da PNAD Contínua”. Nota Técnica.
IBRE/FGV.
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4.1. Idade
A Tabela 1 mostra que a maior parcela dos trabalhadores sem carteira tem
idade entre 15 e 24 anos (23,2%). Já o perfil etário dos trabalhadores com carteira
tem peso maior na faixa entre 25 e 44 anos. Os trabalhadores por conta própria,
por sua vez, têm perfil etário similar ao dos empregadores, concentrando-se na
faixa acima de 40 anos.
4.2. Escolaridade
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Tanto entre os trabalhadores sem carteira como entre os por conta própria,
uma parcela significativa não concluiu o ensino fundamental (34,1% e 36,8%,
respectivamente), enquanto essa proporção é bem menor entre os que possuem
carteira e os empregadores (16,9% e 15,8%, respectivamente).
Essas diferenças podem ser sumarizadas pela escolaridade média de cada
grupo. Como mostra a Tabela 2, a média de anos de estudo de trabalhadores
sem carteira assinada e por conta própria é bastante similar (9,8 e 9,5 anos,
respectivamente) e consideravelmente menor que a dos trabalhadores com
carteira (11,5 anos) e empregadores (12,2 anos).
4.3. Renda
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3 A metodologia considera se a ocupação de cada trabalhador permite que seu trabalho seja executado
de forma remota. Por exemplo, trabalhadores que operam máquinas não podem trabalhar de casa,
enquanto que profissionais do setor financeiro podem fazê-lo. Para mais detalhes, ver Dingel, J. e
Neiman, B. (2020). “How many jobs can be done at home?”. Journal of Public Economics 189.
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A regulação do mercado de trabalho no Brasil e a recuperação do
emprego no pós covid-19
1 Cecilia Machado é economista-chefe do Banco BOCOM BBM, professora e pesquisadora da FGV EPGE
e pesquisadora afiliada ao Instituto de Economia do Trabalho IZA. Possui graduação em economia
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado em Economia pela PUC-Rio e doutorado em
Economia pela Universidade de Columbia. É editora associada da Revista Economia.
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1. Introdução
A regulação trabalhista no mercado de trabalho tem efeitos controversos. De
um lado a regulação pode levar a um aumento da eficiência econômica, ao corrigir
distorções geradas por imperfeições de mercado. De outro lado, entretanto, é
possível argumentar que regras excessivas prejudicam o livre funcionamento do
mercado de trabalho. Como firmas e trabalhadores são agentes econômicos que
internalizam as restrições impostas pela regulação em suas decisões, o resultado
de uma política pode ser distante de seu objetivo original. Nesse sentido, a teoria
econômica ajuda na compreensão dos efeitos não esperados (ou não previstos)
da regulação, que consideram a reação dos agentes econômicos em resposta à
determinada política na aferição de seu efeito total.
A teoria econômica fornece modelos que contribuem para uma análise
disciplinada das forças em ação em uma determinada regra jurídica, os mecanismos
diretos e indiretos pelo qual ela se propaga e como afeta as escolhas dos agentes.
Mas, os resultados esperados são também função direta do tipo de modelo
econômico utilizado. Dessa forma, torna-se relevante aliar os modelos econômicos
às evidências empíricas trazidas pela abundância de dados de mercado de trabalho
hoje disponíveis.
Apesar de a literatura econômica sobre a regulação trabalhista ser bastante
ampla e numerosa, muitas das evidências existentes foram estabelecidas para
países desenvolvidos. Para países em desenvolvimento, entretanto, as conclusões
podem ser bastante diversas. No caso do Brasil, é necessário considerar a interação
da legislação com a existência de um grande setor informal na economia para
o qual a legislação não se aplica (ASSUNÇÃO e MONTEIRO, 2012; ROCHA,
ULYSSEA e RACHTER, 2018; Meghir, C., Narita, R. e Robin, J., 2015). A própria
informalidade, inclusive, pode ser vista como consequência de uma política de
regulação muito severa nesses países.
Este artigo busca analisar as principais características da regulação trabalhista
no Brasil e avaliar seus impactos no mercado de trabalho, utilizando a teoria
econômica para explicitar os principais efeitos esperados das regras estabelecidas
no campo jurídico. Também usaremos dados para fornecer estatísticas descritivas
básicas sobre o funcionamento do mercado de trabalho no Brasil, com informações
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A. PNADC/A
Fundamental (F) 1209.48 1260.35 1300.29 1219.69 1230.24 1250.46 1249.07 1209.86
Médio (M) 1810.07 1857.97 1848.33 1735.40 1755.65 1747.11 1764.62 1730.09
Superior (S) 4734.43 4817.59 4907.83 4502.82 4789.71 4718.63 4742.35 4628.67
razão S/M 2.62 2.59 2.66 2.59 2.73 2.70 2.69 2.68
razão M/F 1.50 1.47 1.42 1.42 1.43 1.40 1.41 1.43
B. RAIS
Fundamental (F) 1810.77 1884.27 1897.99 1817.26 1837.43 1879.74 1870.62 1778.77
Médio (M) 2184.62 2255.92 2269.33 2160.80 2162.16 2199.33 2167.12 2057.77
Superior (S) 6548.13 6619.20 6574.53 6345.65 6177.08 6213.63 6076.64 5842.09
razão S/M 3.00 2.93 2.90 2.94 2.86 2.83 2.80 2.84
razão M/F 1.21 1.20 1.20 1.19 1.18 1.17 1.16 1.16
SM: Salário Mínimo
Nota: Em valores de 2019, INPC usado como deflator.
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A. PNADC/A
B. RAIS
4. Discussão
O Brasil é caracterizado por um expressivo setor informal, para o qual boa
parte dos direitos trabalhistas estabelecidos não se aplica. Nesse contexto, a
imposição de regras muitos rígidas no mercado de trabalho, ainda que garantidora
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Referências
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impact of bureaucracy simplification and tax cut on formality in Brazilian
microenterprises. Journal of Development Economics, Volume 99, Issue 1,
2012, p 105-115.
BARROS, R..; CORSEUIL, C;. GONZAGA, G. (1999). Labor Market Regulations
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BENTOLILA, S. e BERTOLA, G.. Firing Costs and Labour Demand: How Bad
Is Eurosclerosis? The Review of Economic Studies, 57, no. 3.1990, p.381-402.
BOERI, T., HELPPIE, B. e MACIS, M. (2008). Labor regulations in developing
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Discussion Paper 0833, The World Bank.
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MEGHIR, C.; NARITA, R.; ROBIN, J.. Wages and Informality in Developing
Countries. American Economic Review, 105(4), 2015, p. 1509-1546.
ROCHA, R..; ULYSSEA, G.; RACHTER, L.. Do Lower Taxes Reduce Informality?
Evidence from Brazil. Journal of Development Economics, v.134, 2018, p. 28-
49.
SCHMIEDER, J.; VON WACHTER, T. (2016). The Effects of Unemployment
Insurance Benefits: New Evidence and Interpretation. Annual Review of
Economics, 8: p547-81.
ULYSSEA, G.. Firms, Informality, and Development: Theory and Evidence from
Brazil. American Economic Review, forthcoming, 2018
VAN DOORNIK, B., SCHOENHERR, D., SKRASTINS, J. (2018). Unemployment
Insurance, Strategic Unemployment, and Firm Collusion, Working Paper
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