Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Este trabalho foi financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência
e a Tecnologia, no âmbito do projeto UIDB/00183/2020
Capa: FBA
I – TESTA, Federico
CDU 1(091)
Paginação:
Impressão e acabamento:
para
EDIÇÕES 70
Maio de 2022
Esta obra está protegida pela lei. Não pode ser reproduzida,
no todo ou em parte, qualquer que seja o modo utilizado,
incluindo fotocópia e xerocópia, sem prévia autorização do Editor.
Qualquer transgressão à lei dos Direitos de Autor será passível
de procedimento judicial.
Vã é a palavra do filósofo pela qual nenhum
sofrimento humano seja curado. Pois tal como
não há qualquer proveito na medicina se ela não
expulsar as doenças do corpo, também não haverá
qualquer proveito na filosofia se esta não expulsar
o sofrimento da alma.
Epicuro
Michel de Montaigne
Friedrich Nietzsche
AGRADECIMENTOS
(7) Cf. Hadot, Exercices spirituels et philosophie antique, pp. 298 ss.;
Qu’est-ce que la philosophie antique?, pp. 406–407; Foucault, A Herme-
nêutica do Sujeito, p. 224.
(8) Sobre a possibilidade de uma redefinição da história da filo-
sofia a partir de Foucault e Hadot, veja-se Testa, Federico, «Towards
a History of Philosophical Practices», in Pli: The Warwick Journal of
Philosophy. Special Volume. Self-Cultivation: Ancient and Modern, 2016,
pp. 168–190.
(9) Sobre o desacordo de Hadot em relação à ideia foucaultiana
da vida como obra de arte (ou da estética da existência como definidor
da filosofia antiga — principalmente helenística — veja-se Hadot,
Pierre, «Réflexions sur la notion de “culture de soi”», in Exercices
spirituels et philosophie antique, p. 331, bem como «Un dialogue inter-
rompu avec Michel Foucault», Exercices spirituels et philosophie antique,
pp. 307–308.
18 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
(70) Cf. Ibidem, pp. 17 ss.; Nussbaum, The Therapy of Desire, pp. 353–
–54 (para uma crítica direcionada especificamente a Foucault, cf.
também pp. 5–6); e Inwood, Brad, «Introduction», in Seneca,
Selected Philosophical Letters, Oxford, Oxford University Press, 2010,
pp. xi–xxiv: xv–xvii.
(71) Cf. Cooper, Pursuits of Wisdom, pp. 19–23.
(72) Cf. Ibidem, pp. 20 ss. Veja-se também Lamb, Matthew,
«Philosophy as a Way of Life: Albert Camus and Pierre Hadot», in
Sophia, n.º 50, 2011, pp. 561–576.
36 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
A ideia do volume
Os ensaios escolhidos
Janeiro de 2022
Os organizadores
Lisboa & Bristol
1.
John Sellars
(18) Idem, Górgias 500c (hontina chrē tropon zēn). Pode argumentar-
-se que esta preocupação com a melhor forma de vida, mesmo quando
tem motivações práticas, se dirige às vidas de outras pessoas e não à
vida do próprio Sócrates. Isso é certamente possível. Mas como vimos
antes na Apologia, Sócrates diz aí que quer examinar a sua vida e a
vida de outros.
(19) Veja-se Aristóteles, Metafísica I, 1, 981a30–b6; note-se
também 982a1–3.
(20) Veja-se idem, Metafísica II, 1, 993b19–21: orth ōs d’ echei kai to
kaleisthai t ēn philosophian epist ēm ēn t ēs al ētheias. the ōrētik ēs men gar telos
al ētheia praktik ēs d’ ergon.
(21) Ibidem, 1, 993b21–3.
(22) Veja-se Platão, Teeteto 174a (DK 11A9) e Aristóteles,
Política 1259a5–18 (DK 11A10), respetivamente.
1 . O Q U E É A FILOS OFIA C OMO M ODO DE VI DA? 71
(44) Ibid.
(45) Ibid.
1 . O Q U E É A FILOS OFIA C OMO M ODO DE VI DA? 81
VII. Conclusões
Michael Chase
Introdução
(5) Cf. Hadot, Pierre, The Inner Citadel. The Meditations of Marcus
Aurelius, trad. M. Chase, Cambridge/Londres, Harvard University
Press, 1998.
94 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
(44) Cf. Simons, Peter, «Whose Fault? The Origins and Inevita-
bility of the Analytic-Continental Rift», in International Journal of
Philosophical Studies, vol. 9, n.º 3, 2001, pp. 295–311: 307; Nef, Frédéric,
Qu’est-ce que la métaphysique?, Paris, Gallimard, 2004.
(45) Cf. Sluga, «What Has History to Do With Me? Wittgenstein
and Analytic Philosophy», p. 103: «A arena da história foi amplamente
negligenciada pelos filósofos analíticos (…) esta falta de consciência
histórica levou a limitações e distorções curiosas em discussões ana-
líticas de fenómenos históricos. Filósofos do passado são lidos como
se tivessem escrito hoje (…).» Rosen vai ao ponto de falar da história
da filosofia como sendo «assimilada pelos métodos e pressuposições
dos campos em oposição (i.e. analítico e continental). Haverá uma
reescrita da história no estilo previsto por George Orwell, em que
os “velhos pensadores” serão transformados de ancestrais respeita-
dos, ainda que antiquados, em profetas que anteciparam os nossos
preconceitos atualmente em voga» (Rosen, «The Identity of, and the
Difference between, Analytic and Continental Philosophy», p. 342).
(46) Para um levantamento das diferenças na avaliação da lógica
nas filosofias analítica e continental, veja-se D’Agostini, Franca,
«From a Continental Point of View: The Role of Logic in the Analytic-
-Continental Divide», in International Journal of Philosophical Studies,
vol. 9, n.º 3, 2001, pp. 349–367.
2 . O BS E RVAÇÕ E S S OB RE A C ON C EÇ ÃO DE FILOSOF I A… 117
(47) Cf. Rosen, «The Identity of, and the Difference between,
Analytic and Continental Philosophy», p. 344; Simons, «Whose Fault?
The Origins and Inevitability of the Analytic-Continental Rift», p. 303.
(48) Rorty, Richard, «Analytic and Conversational Philosophy»,
in C. Prado (org.), A House Divided: Comparing Analytic and Continental
Philosophy, Amherst NY, Humanities Press, 2003, pp. 11–30.
(49) Sem endossar a sua formulação algo intemperada, podemos
citar os comentários do historiador da ciência italiano Giorgio Israel,
que fala dessa «(…) paródia grotesca da ciência que é a filosofia
analítica» (Israel, Giorgio, La mathématisation du réel. Essai sur la
modélisation mathématique, Paris, Seuil, 1996, p. 220).
118 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
(55) Cf. Miller, James, «The Prophet and the Dandy: Philosophy
as a Way of Life in Nietzsche and Foucault», in Social Research, vol. 65,
n.º 4, 1998, citando Foucault, Michel, Dits et écrits 1954–1988, vol. iv,
org. D. Defert e F. Ewald, Paris, Gallimard, 1994, pp. 712–713. Alguns
122 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
A HISTÓRIA DA FILOSOFIA
E A PERSONA DO FILÓSOFO(1)
Ian Hunter
Introdução
Este trabalho parte da premissa de que um dos mais
importantes problemas com os quais se confronta a história
(12) Tully, James (org.), Meaning and Context: Quentin Skinner and
his Critics, Princeton, Princeton University Press, 1988.
(13) Ver Pocock, John G. A., Barbarism and Religion, Volume Two:
Narratives of Civil Government, Cambridge, Cambridge University
Press, 1999; Laursen, John C. (org.), Histories of Heresy in Medieval and
Early Modern Europe: For, Against and Beyond Persecution and Toleration,
Houndmills, Palgrave Macmillan, 2002; e Hunter, Ian, Laursen, John
C. e Nederman, Cary J. (orgs.), Heresy in Transition: Transforming Ideas
of Heresy in Medieval and Early Modern Europe, Aldershot, Ashgate, 2005.
(14) Veja-se Thomasius, Cautelen zur Erlernung der Rechtsgelehrtheit,
capítulo 6, «Precautions Regarding the History of the Philosophical
Sects», pp. 108–136.
136 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
(27) Idem, Opus metaphysicum, livro i, cap. 1, ti. iii, pp. 9–10.
142 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
2. A persona do filósofo
Assim como o conceito de ato de fala da escola de
Cambridge, o conceito de persona intelectual é um meio
(49) Ibid., III, pp. 291–293 (Guyer e Wood, Critique, pp. 468–469).
(50) Ibid., III, p. 237 (Guyer e Wood, Critique, p. 386).
(51) Veja-se, por exemplo, a explicação de Scheibler sobre Deus
como um ser espiritual agindo espontaneamente sobre si mesmo em
Opus metaphysicum, livro II, pp. 496–8.
156 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
Daniele Lorenzini
1. O logos e o ergon
disso será jamais possível e verá a luz do sol a cidade que há pouco
descrevemos.(3)
2. Filosofia ou espiritualidade?
Esta série de reflexões permite, segundo vejo, definir
o plano de fundo que justifica o tratamento simultâneo,
a aproximação, mas também o confronto das perspetivas
ético-políticas desenvolvidas por Foucault, Hadot e Cavell.
Com efeito, esses três filósofos renovaram a reflexão sobre o
problema do real da filosofia, ou seja, do modo de inserção
do discurso filosófico no seio do real, com a convicção de
que o logos não encontra e não pode encontrar nele mesmo,
nas palavras que o constituem, a sua verdadeira razão de ser.
Assim, é através de uma reativação de uma conceção antiga
da filosofia que Foucault, Hadot e Cavell redefinem a sua
3. Ambiguidades cartesianas
4. Técnicas do ordinário
John Cooper
RESUMO E CONTEXTO
INFORMAÇÃO PARA A CONFERÊNCIA I
II
III
IV
ARGUMENTOS TERAPÊUTICOS(1)
Martha Nussbaum
II
III
(28) Para uma discussão valiosa dos debates sobre literacia, veja-
-se Chen, Martha, A Quiet Revolution: Women in Transition in Rural
Bangladesh, Cambridge, MA, Schenkman, 1983; para uma discussão
geral sobre deformações percetivas na hierarquia de género, veja-se
Sen, Commodities and Capabilities.
6 . ARGUM EN TOS TERAPÊUTIC OS 255
IV
Penso que poderia mudar e viver com animais, eles são tão
plácidos e autocontidos,
Paro e olho para eles muito tempo.
VI
Como explico aí, eu uso os dois termos sem distinção para me referir
ao género do qual o sofrimento, a pena, a ira, o amor, a alegria e
outros conceitos semelhantes são as espécies.
270 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
VII
VIII
IX
Julia Annas
LEGADO DE UM PHILOSOPHE:
O SÉNECA DE DIDEROT, ENTRE HYPOMNĒMATA
E EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS(1)
Matthew Sharpe
vol. 65, n.º 2, 2004; Goulemot, Jean M., «Jeux de conscience, de texte,
de philosophie: l’art de prendre des positions dans l’Essai sur les règnes
de Claude et de Néron de Diderot», in Revue des Sciences humaines, vol. 54,
n.º 82, 1981–2, pp. 45–53; Lojkine, Stéphane, «Du détachement à la
révolte: philosophie et politique dans l’Essai sur les règnes de Claude
et de Néron», in Lieux littéraires/ La Revue, dir. Alain Vaillant, n.º 3,
2001, pp. 95–127; Quintili, Paolo, «Le stoïcisme révolutionnaire
de Diderot dans l’Essai sur Sénèque par rapport à la Contribution à
l’Histoire des deux Indes», in Recherches sur Diderot et sur l’Enciclopédia, n.º
36, online a 14 de setembro de 2009.
(23) Como Andrew o coloca: «As obras de Diderot sobre Séneca
foram (…) uma apologia da sua vida (de Diderot) como beneficiário
da tirania [de Catarina, a Grande], assim como uma acusação de orgu-
lho satânico e ingratidão da parte do seu antigo amigo Rousseau.»
Andrew, «The Epicurean Stoicism of the French Enlightenment»,
p. 385; cf. «Senecan Moment», pp. 294–295. Cf. Nouis, Lucien,
«L’Emploi du Temps: Diderot et Rousseau Lecteurs de Sénèque»;
Russo, «Slander and Glory in the Republic of Letters», esp. p. 9;
Citton, Yves, «Retour sur la misérable querelle Rousseau-Diderot:
position, conséquence, spectacle et sphère publique», in Recherches
sur Diderot et sur l’Enciclopédia, n.º 36, online a 14 de setembro de
2009.
8 . L E G A DO DE U M P HI L OS OP HE: O S ÉN EC A DE DI DE ROT… 311
(33) Ibid., pp. 287–288, 298, 308, 313, 314, 315–316, 317–318,
339–340, 342, 345–346.
(34) Ibid., pp. 297, 303, 337, 401–403.
(35) Ibid., pp. 271, 274–276, 278–280, 329–333, 452–454.
(36) Ibid., pp. 282, 284, 294, 321, 322–323, 343.
(37) Ibid., pp. 292–293, 304.
(38) Ibid., pp. 373–378.
(39) Ibid., pp. 306; [eg] 300–302.
(40) Ibid., pp. 463–468, n. Sobre a retórica de Diderot nestes
textos, veja-se Russo, «Slander and Glory in the Republic of Letters»,
p. 5; Cabane, «D’un Essai l’autre», p. 24; Mall, Laurence S., «Un
œuvre critique: l’Essai sur les règnes de Claude et de Néron de
Diderot», in Revue de Histoire Litteraire de la France, vol. 106, n.º 4,
2006, pp. 843–857: 847, 852.
314 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
4. O philosophe na cidade
Martine Béland
(1) Este ensaio é uma versão revista de um texto que foi origi-
nalmente publicado em inglês, com o título «Vocation as Therapy:
Nietzsche and the Conf lict between Profession and Calling in
Academia», no volume Nietzsche’s Therapeutic Teaching. For Individuals
and Culture, org. H. Hutter e E. Friedland, Londres/Nova Deli/Nova
Iorque/Sydney, Bloomsbury, 2013, pp. 13–30. Tradução de Marta
Faustino. Todas as citações, incluindo as de fontes primárias, foram
traduzidas a partir do texto de Martine Béland. No caso das obras
publicadas de Nietzsche foram consultadas as traduções portuguesas
indicadas nas respetivas notas de rodapé.
(2) Nietzsche, Friedrich, Humano, Demasiado Humano, trad.
Paulo César de Souza, São Paulo, Companhia de Bolso, 2000, Prefácio,
§ 7. [Tradução modificada, N. dos O.]
340 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
(44 ) Weber, Max, Die protestantische Ethik und der Geist des
Kapitalismus, in Gesammelte Aufsätze zur Religionssoziologie, ed. Marianne
Weber, Tuebingen, Mohr Siebeck/UTB, 1988, p. 63. Sobre Nietzsche
e o luteranismo, veja-se Large, Duncan, «“Der Bauernaufstand des
Geistes”. Nietzsche, Luther and the Reformation», in N. Martin
(org.), Nietzsche and the German Tradition, Bern, Peter Lang, 2003,
pp. 111–137.
(45) Veja-se Weber, Max, «Wissenschaft als Beruf», in Gesammelte
Aufsätze zur Wissenschaftslehre, vol. 1, ed. J.F. Winckelmann, Tuebingen,
Mohr Siebeck/UTB, 1988, pp. 588 (relativamente à especialização)
e 590 (relativamente ao método).
(46) Weber, «Wissenschaft als Beruf», pp. 590–591.
358 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
A REANIMAÇÃO DE NIETZSCHE
DA FILOSOFIA COMO MODO DE VIDA(1)
Michael Ure
a sua vida (em primeiro lugar, antes das suas obras). É essa a
sua obra de arte.»(13)
Em A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos, Nietzsche
expande o seu compromisso com uma história da filosofia
como prática vivida. Aqui procura enfatizar apenas aquele
aspeto das doutrinas de um filósofo que constituem uma
marca da sua personalidade: «Vou narrar uma versão sim-
plificada da história desses filósofos: de cada sistema quero
apenas extrair o fragmento de personalidade que contém e
que pertence ao elemento irrefutável e indiscutível que a his-
tória deve guardar.»(14) Nietzsche dá prioridade ao estudo
dos caracteres dos filósofos pré-platónicos relativamente aos
seus sistemas: «o que devemos amar e venerar sempre e que não
nos pode ser roubado por nenhum esclarecimento posterior:
o grande ser humano.»(15) De facto, Nietzsche reabilita
o género antigo das anedotas de Diógenes Laércio: «em
sistemas que foram refutados só nos pode interessar o ele-
mento pessoal, uma vez que é a única realidade eternamente
irrefutável. Com três anedotas é possível dar a imagem de
um ser humano; vou tentar extrair três anedotas de cada
sistema, e não me ocuparei do resto.»(16)
Nietzsche também utiliza este modelo antigo da filosofia
para estruturar duas das suas Considerações Extemporâneas(17),
«Da Utilidade e Desvantagem da História para a Vida» (feve-
reiro de 1874) e «Schopenhauer como Educador» (outubro
de 1874). Como veremos, as chamadas «considerações» ou
«meditações» [Betrachtungen] de Nietzsche são moldadas
(20) Ibid., § 1.
(21) Ibid., § 5.
380 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
(22) Ibid., § 5.
(23) Ibid., § 10.
(24) Cf. Ibid., § 1 e 10.
1 0 . A RE A N I M AÇ ÃO DE N IETZ S C HE DA FILOS O F I A… 381
(25) Ibid., § 1.
(26) Ibid., § 1.
(27) Ibid., § 1.
382 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
(28) Cf. Sellars, John, The Art of Living: Stoic Ideas Concerning the
Nature and Function of Philosophy, Aldershot, Ashgate, 2003.
(29 ) «Mesmo enquanto celebrava Schopenhauer como meu
educador», escreveu, «tinha esquecido que por muito tempo antes
disso nenhum dos seus dogmas conseguia resistir à minha descon-
fiança (…) porque me deleitava em gratidão no poderoso impacto
que Schopenhauer — posicionando-se livre e corajosamente perante as
coisas e contra elas — tinha tido em mim uma década antes» (Nietzsche
cit. in Breazeale, Daniel, «Introduction», in D. Breazeale (org.),
Philosophy and Truth: Selections from Nietzsche’s Notebooks of the Early 1870s,
Atlantic Highlands, NJ, Humanities Press, 1979, pp. xiii–xlix: xxxii;
cf. xvii–xviii). Vejam-se as notas de Nietzsche sobre Schopenhauer
de 1868, nas quais, como observa Janaway, «Schopenhauer aparece
como um adversário filosófico e sofre, por assim dizer, um ataque ao
sistema nervoso central, um ataque que deveria fazer-nos duvidar se
Nietzsche alguma vez aderiu seriamente à metafísica da vontade de
Schopenhauer» (Janaway, Christopher, «Schopenhauer as Nietzsche’s
Educator», in N. Martin (org.), Nietzsche and the German Tradition,
Oxford, Peter Lang, 2003, pp. 155–185: 163). «Em 1871, o mais tardar,
ele havia rejeitado privadamente não apenas o pessimismo “negador
do mundo” de Schopenhauer, mas também o seu dualismo funda-
mental de “aparência” (“representações”) e “realidade” (a “vontade”
enquanto “coisa em si”). Mesmo que mantenhamos desconfiança
quanto à afirmação tardia de Nietzsche de que “sempre desconfiei
do sistema de Schopenhauer”, ainda assim não pode haver dúvida
de que na altura em que escreveu a terceira Consideração já tinha há
muito rejeitado qualquer fidelidade que alguma vez possa ter tido aos
dois traços mais distintivos do sistema filosófico de Schopenhauer»
1 0 . A RE A N I M AÇ ÃO DE N IETZ S C HE DA FILOS O F I A… 383
(33) Ibid., § 3.
(34) Idem, Sämtliche Werke, vol. 7, 31[10], p. 752 [ênfase acrescentada,
N. do A.].
1 0 . A RE A N I M AÇ ÃO DE N IETZ S C HE DA FILOS O F I A… 385
(49) Ibid.
(50) Ibid., § 5.
(51) Ibid., § 5.
(52) Ibid., § 5.
(53) Ibid., § 5.
392 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
aprender cada vez mais a ver como belo o que é inevitável nas
coisas: assim serei um daqueles que tornam as coisas belas. Amor
fati: que seja este de ora em diante o meu amor!(102)
Conclusão
Keith Ansell-Pearson
Introdução
Press, 2015; Worms, Frédéric, Bergson ou les deux sens de la vie, Paris,
PUF, 2013; Foley, Michael, Life Lessons from Bergson, Macmillan, 2013;
Lefebvre, Alexandre, Human Rights as a Way of Life: Bergson’s Political
Philosophy, Stanford, Stanford University Press, 2013.
(3) Veja-se o meu capítulo «A Melancholy Science: Bergson on
Lucretius», in K. Ansell-Pearson (org.), Bergson. Thinking Beyond
the Human Condition, Londres/Nova Iorque, Bloomsbury, 2018,
pp. 41–55.
(4) Bergson, Henri, «The Possible and the Real», in The Creative
Mind, trad. Mabelle L. Andison, Totowa, Nova Jérsia, Littlefield,
Adams & Co., 1975, p. 106; Ouevres, Paris, PUF, 1972, p. 1345.
(5) Para informação relevante sobre Plotino, veja-se Emilsson,
Eyjolfur K., «Plotinus on sympatheia», in E. Schliesser (org.),
Sympathy: A History, Oxford, Oxford University Press, 2015, pp. 36–61.
Sobre o estoicismo e a sua abordagem da simpatia cósmica, veja-se
Murray, Gilbert, The Stoic Philosophy (1915), Leopold Classic Library,
s./d., pp. 42–43. Bergson é mencionado na página 38. As palestras de
Bergson sobre o estoicismo podem ser encontradas em Bergson Cours
IV: Cours sur la philosophie grecque, ed. Henri Hude e Francoise Vinel,
Paris, PUF, 2000, pp. 115–136. Para uma visão instrutiva sobre a série
de palestras de Bergson sobre os estoicos, veja-se Kotva, Simone,
«The God of Effort: Henri Bergson and the Stoicism of Modernity»,
in Modern Theology, vol. 32, n.º 3, 2016, pp. 397–420.
1 1 . B E R GS O N E A FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA 419
(39) Hadot, Pierre, The Present Alone is our Happiness, trad. Marc
Djaballah, Stanford, Stanford University Press, 2009, p. 126.
(40) Bergson, Creative Evolution, p. 176; Oeuvres, p. 645.
(41) Ibidem, p. 167; Ibid., p. 637.
438 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
(42) Ibid.
(43) Ibid., p. 175; Ibid., p. 644.
(44) Ibid., p. 31; Ibid., p. 520.
1 1 . B E R GS O N E A FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA 439
(45) Ibid., p. 189; Ibid., p. 655. Deve referir-se que a ciência con-
temporânea, por exemplo, sob a forma da teoria da complexidade,
está em sintonia com o conceito de intuição de Bergson, como um
modo de acesso privilegiado ao carácter simpatético da vida e da sua
evolução. O melhor exemplo que conheço é a obra do falecido Brian
Goodwin. Veja-se o seu Nature’s Due, Floris Books, 2007, e a colecção
em sua memória, Intuitive Knowing: A Tribute to Brian Goodwin, org.
David Lambert e Chris Chetland, Floris Books, 2013.
440 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
Conclusão
Tobias Dahlkvist
Arnold I. Davidson
a Carlo Ginzburg
Se isto é um homem
Vós que viveis seguros
Em vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais, regressando à noite
Refeição quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Que trabalha no barro
Que não conhece paz
Que luta por um pedaço de pão
Que morre por um sim e por um não.
Considerai se isto é uma mulher
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para lembrar
Olhos vazios e ventre frio
Como uma rã no inverno.
Meditai que isto se passou:
Ordeno-vos estas palavras.
Esculpi-las em vosso coração
Em casa ou andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-las aos vossos filhos.
Ou então que se desfaça a vossa casa,
Que a doença vos empeça,
Que os vossos recém-nascidos vos virem a cara.(18)
(22) Ibidem.
(23) Ibid., p. 36.
(24) Idem, La filosofia come modo di vivere, p. 81.
(25) A expressão francesa significa «eu fui» ou «eu era um
homem». [N. do T.]
(26) Antelme, Robert, L’espèce humaine, Paris, Gallimard, 1957,
p. 11.
480 FILOS OFIA C OM O M ODO DE VI DA
Que Eichmann seja culpado, isso nos salta aos olhos; mas é
preciso que cada cidadão, ainda nos bancos escolares, aprenda
o que significam a verdade e a mentira, e que aprenda também
que elas não se equivalem; e que alguém pode manchar-se de
culpas gravíssimas a partir do momento em que abdica da própria
consciência para substituí-la pelo culto ao Líder «que tem sempre
razão».(27)
AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
INTRODUÇÃO
Filosofia como modo de vida: Cartografia de um debate 13
6. ARGUMENTOS TERAPÊUTICOS
Martha Nussbaum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 483