Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apostila Medidas e Avaliações Da Educação Básica
Apostila Medidas e Avaliações Da Educação Básica
EDUCAÇÃO BÁSICA
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 4
2.3 O modelo mais aceito dentro da linguística escolarErro! Indicador não definido.
2.1 Modalidades de linguagem: Fala e escrita ............. Erro! Indicador não definido.
8.1 Princípio básico do texto comercial ........................ Erro! Indicador não definido.
8.2 Características dos textos empresariais modernos Erro! Indicador não definido.
Prezado aluno!
Bons estudos!
1 FUNÇÕES, FINALIDADES E CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO NA
EDUCAÇÃO
Em 1947, estava tudo por se fazer, pois o trabalho de alfabetização era visto
apenas como um meio para o crescimento do eleitorado. A população exigia mais
escolas, os professores reivindicavam melhores condições de trabalho e os alunos
reclamavam das precárias condições de ensino. Foi nesse contexto que teve início a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1946, que só seria concluída em
1961.
No entanto, a Lei 4024/61, também conhecida como LDB/61, resultante do
trabalho de dois grupos com orientações políticas diferentes, não atendeu às
expectativas e necessidades educacionais. A lei era ineficaz e pouco mudou após sua
implementação. Quanto à avaliação, não havia menção alguma sobre o assunto
nesse documento. As principais mudanças trazidas pela LDB/61 foram a possibilidade
de acesso ao ensino superior para os formados em cursos técnicos e a criação do
Conselho Federal de Educação e dos Conselhos Estaduais, estabelecendo um
esquema de controle rígido do sistema educacional brasileiro.
Logo após sua promulgação, a LDB/61 ganhou uma conotação de
obsolescência devido à demora para sua aprovação. Em seguida, surgiram outras
ações no campo das políticas educacionais públicas, desta vez inseridas no contexto
político dominado pelos militares. Por exemplo, em 1968, foi promulgada a Lei
5540/68, que instituiu o vestibular, e em 1971, foi criada a Lei 5692/71, também
conhecida como LDB/71, com o objetivo de atualizar a antiga LDB/61. Essa nova lei
foi resultado do trabalho de membros do governo indicados pelo então Ministro da
Educação, Coronel Jarbas Passarinho.
Na Lei 5692/71, pode-se observar um avanço em relação à importância dada à
avaliação, no entanto, fica evidente seu uso como meio de avaliar o conhecimento do
aluno e decidir se ele é promovido ou não. Dessa forma, a LDB/71 define os seguintes
critérios para a avaliação escolar (BRASIL, 1971):
Uma nova Lei de Diretrizes e Bases, intitulada Lei 9394/96 ou LDB/96, foi
projetada em 1988 e sancionada em 1996 como continuidade das políticas
educacionais. Seu objetivo era reestruturar o sistema educacional brasileiro,
estabelecendo regulamentações abrangentes nas áreas de formação de professores,
gestão escolar e currículo. Essa lei foi o resultado de debates realizados ao longo de
oito anos, envolvendo duas propostas distintas. Por um lado, havia discussões abertas
com a sociedade, que defendiam uma maior participação da sociedade civil nos
mecanismos de controle do sistema de ensino. Por outro lado, havia articulações entre
o Senado e o Ministério da Educação (MEC), sem a participação popular, que
defendiam um poder mais centralizado sobre a educação. No final, a proposta que
prevaleceu foi a que defendia um controle mais centralizado, mesmo sem a
participação popular, na "disputa" de ideias.
A LDB/96, considerada a lei educacional mais importante do Brasil, trouxe
modificações nas denominações do sistema de ensino. Agora, o sistema envolve a
educação básica, que abrange a educação infantil (até 6 anos), o ensino fundamental
(8 séries do antigo primário) e o ensino médio (3 séries), além do ensino técnico, que
agora é obrigatoriamente separado do ensino médio, e o ensino superior.
Essa lei fundamenta as ações subsequentes do governo no campo
educacional, que serão discutidas a seguir, como os Parâmetros Curriculares
Nacionais - Ensino Médio (PCNEM) e as Orientações Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio.
No que diz respeito à avaliação, a Lei de Diretrizes e Bases/1996 aborda o
processo avaliativo no Art. 24, inciso V, que estabelece a verificação do rendimento
escolar, considerando os seguintes critérios (BRASIL, 1996):
Em 1990, o SAEB deu início ao seu primeiro ciclo, abrangendo uma amostra
de escolas que ofereciam as séries iniciais do Ensino Fundamental (1ª, 3ª, 5ª e 7ª
séries) na rede pública urbana. De acordo com Pestana (1998), o Ministério da
Educação (MEC) coordenou todo o processo, enquanto as secretarias estaduais de
educação foram responsáveis pela aplicação dos testes e questionários. Os alunos
foram avaliados em Língua Portuguesa, Matemática e Ciências, sendo que, nas séries
de 5ª e 7ª, também foram incluídas avaliações de redação. Esse modelo de avaliação
permaneceu até a edição de 1993.
Conforme a autora, em 1995, o SAEB passou por uma avaliação externa, o
que resultou em mudanças metodológicas significativas no sistema de avaliação. A
principal alteração foi em relação ao público avaliado, que foi restrito às séries finais
dos ciclos. Com essa modificação, o SAEB passou a examinar conteúdos que
abrangiam praticamente todo o cronograma proposto para a Educação Básica no
país. Essa mudança buscou uma avaliação mais abrangente e representativa dos
conhecimentos e habilidades adquiridos pelos alunos ao longo de sua formação
educacional.
Outra mudança significativa foi a adoção de uma nova metodologia para a
construção das avaliações e análise dos resultados, a Teoria de Resposta ao Item
(TRI). Essa abordagem permitiu a comparação dos resultados ao longo do tempo e
entre diferentes séries, uma vez que a unidade de análise passou a ser o item da
prova, em vez da prova completa ou do aluno individualmente. Anteriormente, eram
aplicadas provas clássicas com cerca de 30 questões sobre conteúdos específicos.
Atualmente, com o uso da TRI e uma técnica de balanceamento de conteúdos, o
SAEB utiliza aproximadamente 150 questões em cada disciplina avaliada, embora
cada aluno responda apenas entre 30 e 35 questões. Os resultados analisados com
base na TRI permitem a comparação e a colocação desses resultados em uma escala
única de desempenho. Conforme destacam Araújo e Lúzio (2005, p. 35), "é possível
avaliar o nível médio de desempenho dos alunos nas áreas selecionadas, mesmo que
eles tenham respondido a conjuntos diferentes de itens".
A partir de 1995, o SAEB expandiu sua aplicação para todas as redes de
ensino, tanto públicas quanto privadas, em todas as unidades da Federação. Nos
ciclos de 1997 e 1999, os alunos das 4ª e 8ª séries foram avaliados em Língua
Portuguesa, Matemática e Ciências, enquanto os alunos do 3º ano do Ensino Médio
realizaram os testes em Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Física,
Química e Biologia.
A partir de 2001, o SAEB passou a avaliar apenas Língua Portuguesa e
Matemática. Em 2005, o SAEB passou por uma reestruturação e foi dividido em duas
avaliações: a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e a Avaliação do
Rendimento Escolar (ANRESC), que ficou conhecida como Prova Brasil. Essa nova
configuração permitiu uma análise mais detalhada do desempenho dos alunos e
contribuiu para o aprimoramento da qualidade da educação no país.
Segundo o INEP (2009), o SAEB continua realizando avaliações de forma
amostral, seguindo critérios estatísticos, para avaliar as redes públicas e privadas por
meio da ANEB, que agora tem um foco na gestão da educação básica. Essa avaliação
amostral permite uma análise abrangente do sistema educacional. Por outro lado, a
Prova Brasil é realizada de forma censitária, abrangendo todas as escolas que
possuem uma quantidade mínima de alunos nas séries finais de cada ciclo,
atualmente 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio. Seu objetivo
é gerar resultados individuais por escola e município. Desde 2007, as duas avaliações
passaram a ser operacionalizadas em conjunto, utilizando a mesma metodologia. Isso
possibilita uma visão ampla e consistente do desempenho dos alunos e do sistema
educacional na totalidade.
Na edição de 2005, o número mínimo de alunos por turma na última etapa dos
anos iniciais ou finais era de 30 estudantes, e a partir da edição de 2007 esse número
foi reduzido para 20 alunos por série. Nessa edição, a Prova Brasil foi aplicada aos
alunos do final de cada ciclo do Ensino Fundamental, ou seja, 5º e 9º ano, com testes
de Língua Portuguesa e Matemática, visando avaliar a habilidade de leitura e
resolução de problemas. A partir dos anos de 2007, 2009 e 2011, as escolas rurais
que possuíam o mínimo de 20 alunos matriculados nas séries finais de cada ciclo do
Ensino Fundamental passaram a participar da Prova Brasil. A partir dessa edição, a
Prova Brasil passou a ser realizada em conjunto com a aplicação amostral da ANEB,
utilizando os mesmos instrumentos de avaliação.
No contexto brasileiro, as avaliações em larga escala ganharam destaque a
partir da década de 90, seguindo uma tendência internacional. Com a ampliação do
acesso à escola, surgiram questionamentos sobre a qualidade do ensino oferecido,
especialmente diante dos altos índices de evasão e reprovação. O Brasil também
participou de conferências internacionais que ressaltaram a importância do acesso a
uma educação de qualidade. Um exemplo disso foi a Conferência Mundial sobre
Educação para Todos, realizada em 1990, na cidade de Jomtien, Tailândia. Nesse
evento, foi produzido um documento intitulado "Declaração Mundial sobre Educação
para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem", que reafirmou
a educação como um direito de todos e a necessidade de melhorar a qualidade
educacional.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9.394/1996 (LDB)
estabelece, em seu inciso IX do artigo 4º, que o Estado tem o dever de garantir
padrões mínimos de qualidade de ensino na educação escolar pública. Embora o
conceito de "qualidade" não seja explicitado nos documentos, a busca por ela se
tornou uma justificativa para a implementação de políticas de avaliação pelo Estado.
Essas políticas visam conhecer e medir os resultados dos alunos, qualificar programas
e serviços, além de avaliar todo o sistema educacional. Desde 1990, as avaliações
externas se tornaram uma parte consolidada da cultura educacional brasileira,
realizadas a cada dois anos. Atualmente, essas avaliações são aplicadas nos 3º, 5º e
9º anos do Ensino Fundamental, bem como no 3º ano do Ensino Médio, abrangendo
as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.
Segundo os documentos oficiais, o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica (SAEB) visa principal realizar um diagnóstico do sistema
educacional brasileiro, identificando fatores que possam influenciar o desempenho
dos alunos e fornecendo indicativos sobre a qualidade do ensino oferecido. As
informações obtidas têm a finalidade de subsidiar a formulação, reformulação e
monitoramento de políticas educacionais, visando à melhoria da qualidade, equidade
e eficiência do ensino. Em 2013, conforme a Portaria n. 482/2013, foi estabelecida a
Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), integrada ao SAEB. A ANA faz parte do
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), um acordo formal entre o
Governo Federal, estados, municípios e entidades, que estabelece o compromisso de
alfabetizar crianças até, no máximo, 8 anos, ao final do ciclo de alfabetização
(BRASIL, 2012).
A proposta apresentada tem caráter piloto e será reflexiva, desenvolvida e
testada em 2013, para ser aprimorada e consolidada em 2015. Nesse contexto, a
matriz desenvolvida refere-se exclusivamente ao 9º ano do ensino fundamental,
sendo aplicada como piloto ao final desse ciclo. As matrizes para o 5º ano e para a 3ª
ano do ensino médio serão elaboradas posteriormente, após a análise dos resultados
da aplicação piloto, a fim de servirem como parâmetro para a construção e revisão
das demais matrizes do SAEB. Da mesma forma, para a 3ª série do ensino médio,
sendo que a matriz do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) servirá como
referência para a aplicação experimental de 2013.
O SAEB atual, passou por um processo de validação pública para garantir sua
efetividade e relevância. Nesse processo, foi reconhecido que a inclusão da disciplina
de ciências na avaliação é um elemento importante para uma avaliação mais
abrangente e completa da qualidade da educação. No entanto, essa inclusão precisa
estar alinhada aos objetivos estabelecidos para o SAEB, que visam fornecer
informações relevantes sobre o desempenho dos alunos e a qualidade do ensino.
Dentre os objetivos do SAEB, destacam-se (LACERDA, 2011):
A avaliação não deve ser encarada como um procedimento isolado, mas sim
como parte integrante do processo de formação do aluno. É essencial incorporar a
avaliação nas discussões relacionadas ao ensino-aprendizagem, mesmo que, em
muitas ocasiões, esteja permeada por práticas conservadoras que promovem
exclusão e classificação.
Ao longo da história da Educação, ocorre uma transição gradual do
tradicionalismo das avaliações rígidas para um processo mais elaborado, que
reconhece o aluno como sujeito tanto do conhecimento produzido quanto do
conhecimento adquirido. Nesse contexto, a avaliação também se concentra,
principalmente, na prática docente, explorando suas qualidades e deficiências, o que
leva a uma reflexão sobre os aspectos que precisam ser aprimorados.
A avaliação, quando concebida como problematização, questionamento e
reflexão sobre a prática educativa, desempenha um papel fundamental no processo
de ensino-aprendizagem, sendo inseparável dele. Segundo Gadotti (1988), educar
implica agir como sujeito, problematizando o mundo em busca de superar
contradições e se comprometer com a constante reconstrução desse mundo.
Dessa forma, a avaliação se transforma em reflexão e ação, impulsionando
novas reflexões. É dever do educador refletir de forma contínua sobre sua realidade
e acompanhar de perto o aluno na construção do conhecimento.
Ao avaliar na escola, o professor precisa adotar uma perspectiva construtiva do
conhecimento. Hoffmann (1996) propõe duas premissas básicas para a avaliação
nessa abordagem:
a) é fundamental, ao avaliar na escola, confiar na habilidade do aluno em
construir suas próprias verdades; e
b) valorizar suas expressões e interesses.
Na abordagem de construção do conhecimento, a avaliação adota uma nova
perspectiva em relação ao erro e à dúvida. Ao invés de considerá-los como sinais de
fracasso e falta de conhecimento, eles são vistos como elementos significativos para
o progresso educacional. Os erros e dúvidas dos alunos permitem ao professor
observar e investigar como eles constroem suas próprias verdades e se posicionam
diante do mundo.
Conforme destacado por Vasconcelos (2005), é fundamental fazer uma
distinção entre avaliação e nota. A avaliação é um processo que envolve uma reflexão
crítica sobre a prática educacional, permitindo a identificação de avanços, dificuldades
e a busca por soluções para superar obstáculos. Por outro lado, a atribuição de notas,
seja por meio de números ou conceitos, é uma exigência do sistema educacional, mas
não deve ser confundida com a avaliação em si.
A avaliação é uma componente essencial do processo de ensino-aprendizagem
e, por isso, requer uma análise contínua. Ao longo da história, ela tem sido vinculada
à aprovação ou reprovação, sendo responsável por selecionar os estudantes aptos
ou não aptos. Em muitas instituições de ensino, as avaliações ainda consistem em
provas e exames que não estão diretamente relacionados ao processo de
aprendizagem, o que suscita questionamentos sobre o verdadeiro significado da
avaliação e como essa prática pode assegurar uma educação de qualidade para o
aluno.
No entanto, mesmo com o avanço representado por esse marco legal, alguns
estudiosos enxergam esse processo sob uma perspectiva regulatória ou técnica.
Veiga (2003), por exemplo, argumenta que certas normas e regulamentos entram em
conflito com a possibilidade de um projeto pedagógico "emancipatório e edificante",
uma vez que são orientados por preocupações de padronização, uniformidade,
controle burocrático e planejamento centralizado. Isso resulta na produção de um
sistema que permanece essencialmente o mesmo, com algumas modificações.
Azanha (1998) também reconhece o risco de soluções genéricas,
estabelecimento de normas, prazos e especificações homogêneas para que as
escolas cumpram a exigência legal do projeto pedagógico. Segundo o autor, se a
tarefa essencial da escola é a elaboração e execução desse projeto, e se a escola é
uma instituição social única, situada em um determinado contexto, com valores,
conhecimentos e práticas que permeiam as relações sociais e definem papéis e
expectativas institucionais, é necessário um esforço coletivo para enfrentar seus
problemas. A escola, juntamente com seu diretor, corpo docente, funcionários e
associações de pais, precisa examinar sua própria realidade específica e local, avaliar
suas dificuldades e se organizar para superá-las.
Caso contrário, o projeto pedagógico não será capaz de refletir a realidade
escolar, as aspirações da equipe de professores, dos alunos e da comunidade. Ele
não orientará as ações desenvolvidas na instituição e, consequentemente, não será
capaz de romper com a formalidade e a burocracia que frequentemente o
caracterizam. Somente o projeto pedagógico resultante das reflexões da própria
escola e de sua comunidade poderá ser verdadeiramente autônomo, como Veiga
(2003) o denomina, emancipatório ou edificante. Ao mesmo tempo, o autor vai além,
afirmando que a dificuldade de participação dos membros da comunidade escolar não
se deve apenas às imposições que vêm de cima para baixo, mas também à nossa
própria cultura escolar, fortemente fundamentada no trabalho individualizado do
professor:
Mesmo que os pontos (iv) e (v) não sejam adotados explicitamente, podemos
perceber, assim como em algumas produções acadêmicas analisadas, a presença de
uma política de accountability na avaliação do ENEM. Isso ocorre porque o exame
direciona as instituições a atingirem metas estabelecidas, o que implica na
responsabilização dos professores pelos resultados de desempenho dos estudantes.
A política de accountability no contexto do ENEM se baseia na ideia de
estabelecer objetivos claros e mensuráveis para as instituições de ensino, que
avaliadas por meio dos resultados obtidos pelos estudantes no exame. Esses
resultados são divulgados publicamente e podem influenciar a reputação e o prestígio
das escolas, bem como a avaliação do trabalho realizado pelos professores.
Andrade (2008) discute a possibilidade de uma “política mais agressiva" que se
baseia em experiências americanas, onde se promove a adoção de um "mecanismo
de incentivos no qual professores/diretores são considerados responsáveis pelo
desempenho dos alunos e são remunerados de acordo com isso".
O autor compara essa remuneração baseada no desempenho dos alunos a
uma competição "desigual", onde "escolas com alunos de perfil socioeconômico mais
favorecido tendem a levar vantagem na disputa pelo prêmio, independentemente do
verdadeiro esforço dos professores/diretores" de escolas com alunos em condições
socioeconômicas desfavoráveis (ANDRADE, 2008).
Além disso, o autor argumenta que os professores enfrentariam dificuldades
em melhorar ou manter sua remuneração, uma vez que seus salários estão vinculados
à melhoria no desempenho dos alunos (ANDRADE, 2008).
A prática de vincular o salário dos professores ao desempenho em avaliações
ainda não é amplamente adotada, porém, essa possibilidade tem sido discutida e
mencionada em anúncios de políticas públicas educacionais, que enfatizam a suposta
deficiência do sistema educacional. De acordo com Foucault (2014, p. 35), "ninguém
é admitido na ordem do discurso se não atender a certas exigências ou se não for,
inicialmente, qualificado para isso". Embora nem todas as áreas do discurso sejam
acessíveis e abertas, outras são disponibilizadas, sem restrições prévias, para cada
indivíduo que fala, o que autoriza, nesse caso, a adoção de uma perspectiva
mercantilista em relação à educação.
Devido à sua autoridade para discutir os desafios e soluções na área da
educação, é comum serem feitas cobranças em relação aos resultados em diferentes
contextos e por diferentes atores. Segundo Maroy e Voisin (2013), a "nova
accountability" reforça a ideia de que, atualmente, a prestação de contas não deve se
limitar apenas aos recursos, meios ou processos de ensino e aprendizagem, mas
principalmente aos sistemas de ensino e seus resultados. As autoras argumentam
que nas avaliações externas, não apenas os resultados dos alunos são avaliados,
mas por meio desses resultados também são analisados o desempenho das
instituições e do sistema educacional, incluindo, especialmente, o trabalho dos
professores.
De acordo com estudos recentes (MARÇAL, 2014; MENEGÃO, 2015; DI
NALLO, 2011), profissionais da área da Educação expressam a percepção de que a
classificação derivada de avaliações em larga escala, como o ENEM, tem
consequências nas relações interpessoais e na identidade da escola, dos professores
e dos estudantes. Marçal (2014) e Menegão (2015) afirmam que a responsabilização
dos professores pelos resultados pode dificultar a implementação de abordagens mais
ativas, reflexivas, coletivas e autônomas em relação ao seu próprio trabalho e aos
objetivos educacionais, que seriam mais benéficas para a formação dos alunos do
que participar de uma corrida por posições em rankings. Essas pesquisas ressaltam
a importância de repensar a utilização de avaliações em larga escala e o papel da
responsabilização dos professores, buscando promover uma abordagem mais
abrangente e reflexiva sobre a qualidade da educação.
Conforme estudos recentes (MARÇAL, 2014; MENEGÃO, 2015; DI NALLO,
2011), profissionais que atuam na área da Educação compartilham a visão de que a
classificação proveniente de avaliações abrangentes, como o ENEM, produz efeitos
nas relações interpessoais e na identidade da escola, dos professores e dos
estudantes. Marçal (2014) e Menegão (2015) argumentam que a responsabilização
dos professores pelos resultados pode dificultar a adoção de abordagens mais
participativas, reflexivas, colaborativas e autônomas em relação ao seu próprio
trabalho e aos propósitos educacionais, que seriam mais vantajosas para o
desenvolvimento dos alunos do que se envolver em uma competição por posições em
rankings. Esses estudos enfatizam a necessidade de reavaliar o modo como as
avaliações em larga escala são utilizadas e o papel desempenhado pela
responsabilização dos professores, visando promover uma abordagem ampla e
reflexiva em relação à qualidade da educação.
Por isso, para Menegão (2015), os professores passam
O ENEM pode ser considerado tanto uma política de avaliação quanto uma
política curricular, uma vez que os currículos escolares estão cada vez mais sendo
organizados com base nas questões das provas do Exame. No entanto, segundo
Moura (2014), se a avaliação não estiver relacionada ao Projeto Pedagógico (PP) da
escola, dificilmente alcançará os objetivos estabelecidos no projeto, o que diminuiria
sua importância e papel.
Durante grande parte de sua realização, o ENEM permitiu a obtenção de
certificação para a conclusão do Ensino Médio, além de possibilitar o acesso às
universidades. Isso conferia ao Exame um valor extremamente alto, já que "uma
pessoa de 18 anos que nunca frequentou a escola e não possui grandes recursos
financeiros poderia estar, graças ao ENEM, em uma boa faculdade aos 19 anos,
dependendo de sua nota no exame" (TRAVITZKI, 2013, p. 252). Isso levou a
sociedade a enxergar o Exame como uma possível forma de democratização da
educação em um país desigual como o Brasil.
Com relação às desigualdades nos sistemas públicos de ensino, Emerique
(2007), em sua pesquisa sobre o ensino no município do Rio de Janeiro, observou
que o anúncio de redução das desigualdades educacionais passava por: