Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DPE RJ
QUESTÃO 02 – Correção Individualizada
Parabéns pela aprovação na primeira fase ! achei a sua letra ótima, bem como a
organização das ideias na peça.
Você faz as discussões super bem, gostei muito, tem um posicionamento crítico importante
para a prova da Defensoria. A menção à convenção da OIT é obrigatória sempre que se
tratar de direitos diferenciados. No presente caso, você teria mais linhaspara desenvolver
melhor a resposta se tivesse feito ação individual. Não está tecnicamente errada a ação
coletiva, mas no caso concreto a questão deixava claro se tratar de uma situação específica
de aluna bolsista em escola particular. Mesmo assim, você corresponde a todas as
expectativas referentes a uma ACP, e eu corrigi dessa forma, descontando alguns poucos
pontos, porque as instituições ainda tem um pouco de cuidadoantes de entrar com ações
coletivas, para não banalizar, e também porque pode “atrasar” na prática um pouco a
garantia de determinado direito individual.
Primeiro ponto: abordar uma multiplicidade de teses e assuntos fará com que
suas chances de pontuar mais aumentem, desconfie se você identificou apenas alguns
poucos assuntos mais debatidos como liberdade de expressão e de crença (que inclusive
poderiam ser debatidos juntos).
Competência
Neste ponto é preciso atenção, porque a competência é da Justiça Cível comum em regra,
na medida em que se trata de obrigação de fazer cumulada com indenizatória em face de
escola particular. A questão é controvertida, mas vocês devem ter em mente que o recurso
julgado no STJ menciona a competência da Justiça da Infância e Juventude com relação
aos litígios envolvendo vaga e acesso. Atenção à Tese firmada no STJ:
Muito cuidado para não realizar uma leitura equivocada dos precedentes, porque
“banalizar” o manejo de ações perante a Justiça Especializada pode criar uma situação
estrutural de congestionamento, pode não ser estratégico no sentido da apreciação do
pedido.
Na questão, insistir no ponto, remonta a uma ideia de tutela por parte do Estado das
relações familiares, de maneira maléfica, na medida em que os genitores se
demonstravam preocupados com a situação.
Direito à educação
Neste ponto, é importante ressaltar que, tanto a Convenção da ONU sobre Direitos das
Crianças, quanto a Constituição Federal, garantem o direito à educação de maneira
progressiva:
Artigo 28
Conferência de Jomtien –
Também é importante lembrar que a doutrina da proteção integral, tem como importante
pilar o tratamento com equidade de crianças e adolescentes no Brasil, isto porque a
principal ideia de ruptura com as teorias menoristas e da situação irregular fundamentam-
se exatamente em ideias de segregação e higienismo.
Artigo 28
O art. 205 da CR trata expressamente dos objetivos da educação, dentre eles está a
preparação para o exercício da cidadania. Dentro deste âmbito o candidato deve saber
articular a dimensão da liberdade de ensino, pluralismo de ideias, bem como a
necessidade de abordar no ambiente escolar temas tais como a igualdade de gênero,
direitos diferenciados de grupos, ensino da História Afro Brasileira, dentre outros.
O Pacto de San Salvador traz uma definição interessante, merecendo a remição para
argumentação em provas discursivas:
Artigo 29
Artigo 12
Direito à Alimentação
1. Toda pessoa tem direito a nutrição adequada, que lhe assegure a
possibilidade de gozar do mais alto nível de desenvolvimento físico,
emocional e intelectual.
2. A fim de tornar efetivo esse direito e de eliminar a desnutrição, os
Estados-Partes comprometem-se a aperfeiçoar os métodos de produção,
abastecimento e distribuição de alimentos, para o que se comprometem
a promover maior cooperação internacional com vistas a apoiar as
políticas nacionais referentes à matéria.
Além disso a Lei 13.663 de 2018 traz as definições da prática de intimidação sistemática:
Art. 2º Caracteriza-se a intimidação sistemática ( bullying ) quando há
violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou
discriminação e, ainda:
I - ataques físicos;
II - insultos pessoais;
V - grafites depreciativos;
VI - expressões preconceituosas;
VIII - pilhérias.
O regramento a respeito do tema é feito de maneira tão tímida pelo legislador, que vale a
pena colacionar seus dispositivos:
Reparem que o consentimento do responsável é exigido pelo §1º apenas para o tratamento
de dados com relação às crianças, criando uma imensa janela de oportunidades para a sua
realização sem o requisito aos maiores de 12 anos.
Tal ponto pode ser objeto de crítica pelo candidato, na medida em que a progressiva
autonomia não garante a possibilidade de realização de determinados atos da vida civil,
sendo certo que a monetização de dados por empresas, jogos e o manejo de informações
pessoais tornou-se o verdadeiro petróleo da modernidade.
Este ponto na questão era muito importante, e nem todos os alunos fizeram o debate
adequadamente, a lente decolonial é muito bem vista na prova da DPRJ, e uma
argumentação cega às diferenças pode significar a perda de preciosos pontos.
Artigo 1
A respeito da temática de povos de terreiro, citar a Convenção 169 da OIT, que protege
os povos tradicionais em seu direito à autonomia e diversidade de formas de vida, é um
diferencial na prova.
prática para a atuação defensorial se dá na justificativa de que muitas vezes essas religiões
não são formalizadas perante o Estado (não possuem CNPJ, isenções ou outros tipos de
vínculos formais).
Artigo 4°
Em face de, Escola, pessoa jurídica de direito privado, qualificação completa, pelos
fundamentos de fato e de direito que passa a expor:
1. Da Gratuidade de Justiça:
A autora e seus responsáveis são pessoas hipossuficientes econômicas, de modo que não
tem condições de arcar com as custas processuais, na forma dos artigos 98 e 99 §3º do
CPC, art. 5º, XXXV da CR.
4. Do Direito:
Cabe ressaltar que o art. 206, II e III da CR/88 garante o direito à educação emancipadora,
para a formação e exercício da cidadania (art. 29.1 da Convenção da ONU da Criança).
A Conferência de Jomtien assegura ainda que o direito à educação é qualificado,
ressaltando a imprescindibilidade de condições básicas para aprendizagem, tais quais,
saúde, alimentação, segurança e ambiente adequado. Sendo certo que na situação narrada
há violação de diversos elementos necessários a sua efetivação.
O art. 12, I da LDB dispõe sobre o dever dar instituições de ensino de combate às formas
de violência e intimidação sistemática. Na hipótese narrada, houve omissão da escola ao
art. 5º da Lei 13.185/2015 que prevê expressamente essa obrigação. Sendo certo ainda
que os deveres relativos à prestação do serviço de educação incluem a formação para
exercício de cidadania e estímulo à cultura da paz e respeito às diferenças.
Pugna-se ainda, com fundamento no art. 300 do CPC, tendo em vista a probabilidade do
direito e o perigo de dano com o iminente risco da perda do ano letivo. A especial
condição de pessoa em desenvolvimento exige medidas urgentes da judiciário para
determinar a manutenção da bolsa de estudo, a obrigação de fornecimento de alimentação
que respeite a religião da infante, bem como medidas que cessem a prática de violência.
Aquele que comete ato ilícito tem o dever de indenizar (art.5º, X), e, em se tratando de
direitos de crianças e adolescentes, o STJ vem entendendo a ocorrência de dano “in res
ipsa” em razão da doutrina da proteção integral. Além disso, a violação de Direitos
Humanos exige um compromisso em ações que visem a prevenção e não repetição, como
medidas de reparação. A eficácia horizontal de direitos fundamentais já foi tema de
decisão do STF, que acolhe a teoria, e o Estado brasileiro já teve responsabilidade
reconhecida na CIDH em razão de racismo institucional no Caso Simone André Diniz.
Deste modo, a instituição de ensino deve ser obrigada a ampliar ações afirmativas e de
promoção de diversidade no âmbito escolar, tanto na admissão de alunos por meio de
bolsas, quanto na contratação de quadro técnico e pessoal.
Nestes Termos
Espera Deferimento
Defensor Público/Local/Data