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RODADAS DE PEÇAS

BANCA 3 – DIREITO PÚBLICO

ESPELHO DE RESPOSTA – RODADA I - QUESTÃO Nº 02

DPE RJ
QUESTÃO 02 – Correção Individualizada

Prof. Juliana Rodrigues Riscado


Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro
Direito da Criança e Adolescente

Parabéns pela aprovação na primeira fase ! achei a sua letra ótima, bem como a
organização das ideias na peça.
Você faz as discussões super bem, gostei muito, tem um posicionamento crítico importante
para a prova da Defensoria. A menção à convenção da OIT é obrigatória sempre que se
tratar de direitos diferenciados. No presente caso, você teria mais linhaspara desenvolver
melhor a resposta se tivesse feito ação individual. Não está tecnicamente errada a ação
coletiva, mas no caso concreto a questão deixava claro se tratar de uma situação específica
de aluna bolsista em escola particular. Mesmo assim, você corresponde a todas as
expectativas referentes a uma ACP, e eu corrigi dessa forma, descontando alguns poucos
pontos, porque as instituições ainda tem um pouco de cuidadoantes de entrar com ações
coletivas, para não banalizar, e também porque pode “atrasar” na prática um pouco a
garantia de determinado direito individual.

Critérios para correção


Ação de Obrigação de Fazer c/c tutela antecipada 0,65/0,75
Competência para Vara Cível – nesse caso, como você fez uma ACP, 0,25/0,25
o endereçamento posto está adequado ! mas o correto seria ação
individual de obrigação de fazer
Cuidado: O adequado seria endereçar à competência cível, a decisão
do STJ menciona vaga, matrícula.
Tema 1058 "A Justiça da Infância e da Juventude tem competência absoluta
para processar e julgar causas envolvendo matrícula de menores em creches
ou escolas, nos termos dos arts. 148, IV, e 209 da Lei 8.069/90."
Prerrogativas da DP, Gratuidade, Prazo em Dobro 0,25/0,25
Mencionar, sempre que possível o silêncio do ECA quanto à DP no art.
152, §2º do ECA.
Educação Direito Fundamental, previsão Constitucional, que inclui as 0,25 /0,25
condições necessárias para a aprendizagem (Conferência de Jomtien) –
pontuação integral, excelente o debate sobre educação
emancipadora e plural. Lembre sempre de incluir o direito à
aprendizagem, e que a Conferência de Jomtien está expressamente
prevista no edital
Igualdade de Permanência na Escola (art. 206, I, CR; art. 28. 1. E 0,00/0,25
Convenção da ONU; art. 53, I ECA; art. 3º, I LDB)
Direito à Igualdade como não discriminação/não submissão (art. 227, 0,20/0,25
CR; art. 3º, 5º, 16, V, ECA aborda, mas não o suficiente – um ponto
importante, é que você faz a discussão a respeito do mínimo
existencial, citando inclusive ana Paula de barcellos, não é incorreto,
mas não é o mote da questão, que trata exatamente de um direito
qualificado à educação, com o necessário respeito às diferenças,
explico isso para perceber que toda escolha na prova será
estratégica, e diante da concorrência é preciso ser certeiro nos temas
(abordando claro, os dispositivos de maneira integral em razão do
prequestionamento)
Direito à autodeterminação dos povos, Convenção 169 da OIT e respeito 0,2/0,5
aos diferentes modos de vida. Direito de educação que compete também
aos pais. (art. 2.a, 26, 29 da Convenção 169 da OIT) não abordado. É
imprescindível quando se tratar de direitos de povos diferenciados.
A pontuação foi conferida em razão dos pedidos em formato de
litígio estrutural, tais quais a formulação de um plano de
enfrentamento ao racismo
Direito à Alimentação Escolar Adequada, dispõe expressamente sobre 0,25/0,25
respeito à cultura, Direito à Segurança Alimentar, Discriminação Racial
Indireta, Violação da Convenção Interamericana Contra o Racismo. (art.
2º, I da Lei 11.947/2009; art. 2º, §1º da Lei 11.346/2006; art. 1.2 da
Convenção Interamericana de Combate ao Racismo e Discriminação –
aborda muito bem a discussão sobre racismo, se posiciona de
maneira firme e cita a convenção
Omissão Específica da Escola com relação ao combate à violência 0,5/0,5
escolar. Necessidade de adoção de ações que estimulem o respeito à
diferença, preparo para cidadania como obrigação inerente ao
cumprimento da LDB e diplomas internacionais. Ponto muito bem
abordado e “amarrado” na argumentação, inclusive porque inicia a
discussão com o debate da educação plural emancipadora
LGPD, violação quanto à finalidade do uso dos dados pessoais sensíveis 0,25/0,25
certeiro, perfeitamente abordado
Tutela Antecipada para manter a bolsa, bem como garantir a alimentação 0,10/0,15
adequada além de ações que estimulem a o respeito à diferença no
ambiente escolar. (art. 300 CPC) pugna pela manutenção da bolsa,
mas não por condições de aprendizagem de maneira antecipada
(alimentação e etc)
Dano Moral In res Ipsa; Caso Simone André Diniz e a possibilidade de 0,15/0,15
aplicação do sistema de violação de DH a particulares considerados
em razão do pedido de dano moral coletivo
Pedido de condenação de ampliação das medidas afirmativas/de 0,00/0,15
inclusão das diferenças como condenação – é legal mencionar
“medidas de não repetição”, são um jargão internacionalista
Pedido de honorários ao CEJUR (importante, a banca de prerrogativas 0,05/0,05
está na III)
Total 3,1
Introdução - Dicas Práticas para Questões Discursivas e Peças

Parabéns pela aprovação na primeira fase !

A questão elaborada exigia do candidato (a) (e) uma a abordagem de uma


infinidade de pontos, tal qual o espelho que será enfrentado nessa concorrida segunda
fase. Por isso, a primeira orientação é: nada de desespero, o espelho da prova da DPRJ
não é feito para que seja integralmente cumprido. De verdade, é muito difícil mesmo na
hora da sua prova abordar absolutamente tudo que estará no espelho, e, ficar ansioso com
isso faz com que você perca a frieza necessária para estabelecer algumas estratégicas
básicas.

Primeiro ponto: abordar uma multiplicidade de teses e assuntos fará com que
suas chances de pontuar mais aumentem, desconfie se você identificou apenas alguns
poucos assuntos mais debatidos como liberdade de expressão e de crença (que inclusive
poderiam ser debatidos juntos).

Segundo ponto: gastar muitas linhas no mesmo assunto provavelmente significa


que você está se alongando em demasiado (meu limite por exemplo eram de 5 linhas para
pontos menores, 7 a 10 estourando para maiores). Isso evita repetir pontos, e ainda insistir
em um tópico em que você já esgotou a pontuação prevista.

Terceiro: estabelecer um mapa mental para estrategicamente garantir mais


pontos, como por exemplo mencionar direito à educação para exercício da cidadania, ou
educação plural, ou educação e aprendizagem. Igualdade como não discriminação, direito
à alimentação adequada. Qualificar os direitos elevam o tom da sua correção, causam boa
impressão e pontuam mais.

Quarto: ao mencionar direitos ou suas violações é imprescindível citar a


legislação correlata, ou não irá pontuar. Isso porque, em um litígio judicial é preciso
pensar em prequestionar os dispositivos legais, e tudo tem que ser trazido à apreciação
desde o primeiro momento. Não só de vitórias se fazem as iniciais.

Agora vamos ver alguns pontos de direito a respeito da peça:


PONTOS ABORDADOS:

Competência

Neste ponto é preciso atenção, porque a competência é da Justiça Cível comum em regra,
na medida em que se trata de obrigação de fazer cumulada com indenizatória em face de
escola particular. A questão é controvertida, mas vocês devem ter em mente que o recurso
julgado no STJ menciona a competência da Justiça da Infância e Juventude com relação
aos litígios envolvendo vaga e acesso. Atenção à Tese firmada no STJ:

"A Justiça da Infância e da Juventude tem competência absoluta para


processar e julgar causas envolvendo matrícula de menores em creches
ou escolas, nos termos dos arts. 148, IV, e 209 da Lei 8.069/90."

Muito cuidado para não realizar uma leitura equivocada dos precedentes, porque
“banalizar” o manejo de ações perante a Justiça Especializada pode criar uma situação
estrutural de congestionamento, pode não ser estratégico no sentido da apreciação do
pedido.

Quem manejou Ação Coletiva, foi considerada a competência da Justiça Especializada,


com fundamento na necessidade de observar esta para a tutela de direitos diferenciados.
*atenção redobrada à menção da DP como custus vulnerabilis: na hipótese a
Defensoria foi procurada pelos genitores do infante, de modo que não havia qualquer
conflito de interesse, “situação de risco”, ou fundamento para representação da
adolescente pela instituição em detrimento de seus pais. A DP vem “perdendo” a briga
pela função de curadoria da infância, as decisões do STJ afastam a possibilidade de
atuação (muito embora a discussão seja legítima em determinadas hipóteses)

DEFENSORIA PÚBLICA. ATUAÇÃO COMO CURADOR


ESPECIAL HAVENDO INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. HIPÓTESES EM QUE INCAPAZ NÃO É PARTE.
INTERVENÇÃO OBRIGATÓRIA DA DEFENSORIA PÚBLICA
NÃO CONFIGURADA. SOBREPOSIÇÃO DAS FUNÇÕES DO
PARQUET E DO CURADOR. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO. RECURSO ESPECIAL Nº 1.296.155 - RJ
(2011/0288074-2)

Na questão, insistir no ponto, remonta a uma ideia de tutela por parte do Estado das
relações familiares, de maneira maléfica, na medida em que os genitores se
demonstravam preocupados com a situação.

Direito à educação

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao


pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;


MERENDA, TRANSPORTE, SEGURANÇA, ADPF 635

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às


instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; art.
5º, IX CR; art. 13 CADH; art. 13 ONU – notar que no cenário
internacional a liberdade de expressão envolve o direito de receber
informação, essa informação na infância é qualificada, regrada, tem que
ter qualidade como veremos

V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência,


garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
(Redação dada pela Lei nº 13.845, de 2019) →DIREITO
QUALIFICADO

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do


processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas
educacionais

Neste ponto, é importante ressaltar que, tanto a Convenção da ONU sobre Direitos das
Crianças, quanto a Constituição Federal, garantem o direito à educação de maneira
progressiva:

Artigo 28

1. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança à educação e, a


fim de que ela possa exercer progressivamente e em igualdade de
condições esse direito, deverão especialmente:

a) tornar o ensino primário obrigatório e disponível gratuitamente para


todos;

b) estimular o desenvolvimento do ensino secundário em suas


diferentes formas, inclusive o ensino geral e profissionalizante,
tornando-o disponível e acessível a todas as crianças, e adotar medidas
apropriadas tais como a implantação do ensino gratuito e a concessão
de assistência financeira em caso de necessidade;
c) tornar o ensino superior acessível a todos com base na capacidade e
por todos os meios adequados

Conferência de Jomtien –

Foco nas condições básicas de educação, uma educação voltada à aprendizagem Os


principais objetivos da Conferência é universalizar o ensino com qualidade e equidade,
sendo importante a sua leitura e conhecimento para a prova de segunda fase, na medida
em que o tema da educação ou alimentação escolar tem grandes chances de estar sendo
cobrado na prova. Um dos fatores mais importantes nessa fase do concurso é a capacidade
de articular os pontos que estão sendo cobrados, inserindo nas respostas a maior
quantidade de pontos do edital existentes.

ARTIGO 4 CONCENTRAR A ATENÇÃO NA APRENDIZAGEM 1.


A tradução das oportunidades ampliadas de educação em
desenvolvimento efetivo – para o indivíduo ou para a sociedade –
dependerá, em última instância, de, em razão dessas mesmas
oportunidades, as pessoas aprenderem de fato, ou seja, apreenderem
conhecimentos úteis, habilidades de raciocínio, aptidões e valores. Em
consequência, a educação básica deve estar centrada na aquisição e nos
resultados efetivos da aprendizagem, e não mais exclusivamente na
matrícula, frequência aos programas estabelecidos e preenchimento dos
requisitos para a obtenção do diploma. Abordagens ativas e
participativas são particularmente valiosas no que diz respeito a garantir
a aprendizagem e possibilitar aos educandos esgotar plenamente suas
potencialidades. Daí a necessidade de definir, nos programas
educacionais,os níveis desejáveis de aquisição de conhecimentos e
implementar sistemas de avaliação de desempenho.

ARTIGO 6 PROPICIAR UM AMBIENTE ADEQUADO À


APRENDIZAGEM
A aprendizagem não ocorre em situação de isolamento. Portanto, as
sociedades devem garantir a todos os educandos assistência em
nutrição, cuidados médicos e o apoio físico e emocional essencial para
que participem ativamente de sua própria educação e dela se
beneficiem. Os conhecimentos e as habilidades necessários à ampliação
das condições de aprendizagem das crianças devem estar integrados aos
programas de educação comunitária para adultos. A educação das
crianças e a de seus pais ou responsáveis respaldam-se mutuamente, e
esta interação deve ser usada para criar, em benefício de todos, um
ambiente de aprendizagem onde haja calor humano e vibração

O foco na qualidade e na aprendizagem da educação traz um ponto interessante ao debate


que vem sendo travado na instituição, especialmente porque a cobrança a respeito da
temática já vem sendo objeto de concursos públicos há algum tempo, sendo certo que a
qualificação da educação, standards de aprendizagem básica, condições equânimes de
aprendizagem elevam os padrões de cumprimento da obrigação constitucional, e são a
cara da prova da DPRJ!

Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola

Também é importante lembrar que a doutrina da proteção integral, tem como importante
pilar o tratamento com equidade de crianças e adolescentes no Brasil, isto porque a
principal ideia de ruptura com as teorias menoristas e da situação irregular fundamentam-
se exatamente em ideias de segregação e higienismo.

Deste modo é importante fundamentar as políticas públicas especializadas em matéria da


infância e juventude, além dos já conhecidos argumentos em matéria de Direito
Constitucional, nos princípios específicos previstos no ECA. A própria Constituição ao
regulamentar a oferta de ensino no Brasil estabelece uma forma de igualdade qualificada,
na sua prestação:
CR Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios:

I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

ECA Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando


ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Convenção da ONU da Criança

Artigo 28

1. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança à educação e, a


fim de que ela possa exercer progressivamente e em igualdade de
condições esse direito, deverão especialmente: (...)

e) adotar medidas para estimular a freqüência regular às escolas e a


redução do índice de evasão escolar.

Educação Plural e para o exercício da cidadania

O art. 205 da CR trata expressamente dos objetivos da educação, dentre eles está a
preparação para o exercício da cidadania. Dentro deste âmbito o candidato deve saber
articular a dimensão da liberdade de ensino, pluralismo de ideias, bem como a
necessidade de abordar no ambiente escolar temas tais como a igualdade de gênero,
direitos diferenciados de grupos, ensino da História Afro Brasileira, dentre outros.

A CR traz expressamente o pluralismo de ideias como princípio do ensino no Brasil:


Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência


de instituições públicas e privadas de ensino

O Pacto de San Salvador traz uma definição interessante, merecendo a remição para
argumentação em provas discursivas:

Artigo 13 Direito à educação

1. Toda pessoa tem direito à educação.

2. Os Estados Partes neste Protocolo convêm em que a educação deverá


orientar-se para o pleno desenvolvimento da personalidade humana e
do sentido de sua dignidade e deverá fortalecer o respeito pelos direitos
humanos, pelo pluralismo ideológico, pelas liberdades fundamentais,
pela justiça e pela paz. Convêm, também, em que a educação deve
capacitar todas as pessoas para participar efetivamente de uma
sociedade democrática e pluralista, conseguir uma subsistência digna,
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações
e todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades
em prol da manutenção da paz.

A Convenção dos Direitos da Criança da ONU pormenoriza ainda mais os elementos


necessários para a formação educacional, incluindo-se expressamente o respeito ao meio
ambiente:

Artigo 29

1. Os Estados Partes reconhecem que a educação da criança deverá estar


orientada no sentido de:
a) desenvolver a personalidade, as aptidões e a capacidade mental e
física da criança em todo o seu potencial;

b) imbuir na criança o respeito aos direitos humanos e às liberdades


fundamentais, bem como aos princípios consagrados na Carta das
Nações Unidas;

c) imbuir na criança o respeito aos seus pais, à sua própria identidade


cultural, ao seu idioma e seus valores, aos valores nacionais do país em
que reside, aos do eventual país de origem, e aos das civilizações
diferentes da sua;

d) preparar a criança para assumir uma vida responsável numa


sociedade livre, com espírito de compreensão, paz, tolerância,
igualdade de sexos e amizade entre todos os povos, grupos étnicos,
nacionais e religiosos e pessoas de origem indígena;

e) imbuir na criança o respeito ao meio ambiente.

O ideal em uma prova discursiva é mencionar o tema da educação plural, voltada


para a formação cidadã, respeito aos direitos humanos, abrindo um parêntesis e
mencionando todos os dispositivos acima.

Direito à Alimentação Adequada + Alimentação Escolar

A questão trazia a violação do direito à alimentação com respeito às diferenças, de


maneira interligada. Já era um dado trazido pelo enunciado que a escola fornecia
alimentação a todos os alunos, sendo certo que integrava a necessidade educacional
naquele contexto específico, muito embora fosse instituição privada. Esses assuntos
devem ser relacionados pelo candidato ao princípio da proteção integral, especial
condição de desenvolvimento, bem como o direito à saúde e ensino (aprendizagem).
Lei 11.346 de 2006

Art. 2º A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano,


inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos
direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público
adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e
garantir a segurança alimentar e nutricional da população. Art. 3º A
segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de
todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em
quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades
essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde
que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural,
econômica e socialmente sustentáveis

Lei 11.847 de 2009

Art. 2o São diretrizes da alimentação escolar:


I - o emprego da alimentação saudável e adequada, compreendendo o
uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições
e os hábitos alimentares saudáveis, contribuindo para o crescimento e o
desenvolvimento dos alunos e para a melhoria do rendimento escolar,
em conformidade com a sua faixa etária e seu estado de saúde, inclusive
dos que necessitam de atenção específica;
II - a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino
e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema
alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de
vida, na perspectiva da segurança alimentar e nutricional;
III - a universalidade do atendimento aos alunos matriculados na rede
pública de educação básica;
IV - a participação da comunidade no controle social, no
acompanhamento das ações realizadas pelos Estados, pelo Distrito
Federal e pelos Municípios para garantir a oferta da alimentação escolar
saudável e adequada;
V - o apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos para a
aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito
local e preferencialmente pela agricultura familiar e pelos
empreendedores familiares rurais, priorizando as comunidades
tradicionais indígenas e de remanescentes de quilombos;
VI - o direito à alimentação escolar, visando a garantir segurança
alimentar e nutricional dos alunos, com acesso de forma igualitária,
respeitando as diferenças biológicas entre idades e condições de saúde
dos alunos que necessitem de atenção específica e aqueles que se
encontram em vulnerabilidade social.

Menção a dispositivos internacionais, tais quais o art. 11.1 do Pacto Internacional de


Direitos Econômicos, Sociais e Culturais também são bem vindos, além do disposto no
art. 12 do Pacto de San Salvador:

Artigo 12
Direito à Alimentação
1. Toda pessoa tem direito a nutrição adequada, que lhe assegure a
possibilidade de gozar do mais alto nível de desenvolvimento físico,
emocional e intelectual.
2. A fim de tornar efetivo esse direito e de eliminar a desnutrição, os
Estados-Partes comprometem-se a aperfeiçoar os métodos de produção,
abastecimento e distribuição de alimentos, para o que se comprometem
a promover maior cooperação internacional com vistas a apoiar as
políticas nacionais referentes à matéria.

O voto de Cançado Trindade no Caso Villagran Morales vs Guatemala expressa em


âmbito internacional o dever reforçado em matéria de infância:

O dever do Estado de tomar medidas positivas se acentua precisamente


em relação à proteção da vida de pessoas vulneráveis e indefesas, em
situação de risco, como são as crianças na rua. A privação arbitrária da
vida não se limita, pois, ao ilícito do homicídio; se estende igualmente
à privação do direito de viver com dignidade

Deve ser também relacionado com o combate à discriminação e às condições elementares


para aprendizagem, trazidas também pela Conferência de Jomtien, que consta
expressamente no edital.

Combate ao Bullying e Omissão da Instituição de Ensino

Uma das condições para o fornecimento de educação e aprendizagem é o oferecimento


de um ambiente escolar sadio, plural, e afeto às diferenças culturais. Na situação narrada
pela questão a aluna enfrentou uma série de dificuldades com relação ao convívio escolar
e era importante identificar a omissão específica da direção com relação à obrigações
trazidas pelo Programa Nacional de Combate ao Bullying.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que consta expressamente no edital, trata do


tema da violência nas escolas de maneira tímida, e refere-se, especificamente à temática
do bullying:

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns


e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: (...)

IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate


a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática
(bullying), no âmbito das escolas; (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018)
X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas
escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018)

Além disso a Lei 13.663 de 2018 traz as definições da prática de intimidação sistemática:
Art. 2º Caracteriza-se a intimidação sistemática ( bullying ) quando há
violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou
discriminação e, ainda:

I - ataques físicos;

II - insultos pessoais;

III - comentários sistemáticos e apelidos pejorativos;

IV - ameaças por quaisquer meios;

V - grafites depreciativos;

VI - expressões preconceituosas;

VII - isolamento social consciente e premeditado;

VIII - pilhérias.

Parágrafo único. Há intimidação sistemática na rede mundial de


computadores ( cyberbullying ), quando se usarem os instrumentos que
lhe são próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e
dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento
psicossocial.

Deste modo, era importante identificar a necessidade de elaboração, por parte da


instituição de ensino, de medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à
essa forma de violência, nos termos do art. 6º da referida lei.

LGPD e a Proteção Deficiente em matéria de Infância

É importante, como já ressaltado em alguns pontos na apostila, que o candidato tenha


condições de formular críticas na prova discursiva da DPRJ, inclusive no que tange à
dispositivos de legislação vigente, sempre à luz do que está apresentado pelo examinador
no caso concreto.

O regramento a respeito do tema é feito de maneira tão tímida pelo legislador, que vale a
pena colacionar seus dispositivos:

Art. 14. O tratamento de dados pessoais de crianças e de adolescentes


deverá ser realizado em seu melhor interesse, nos termos deste artigo e
da legislação pertinente.

§ 1º O tratamento de dados pessoais de crianças deverá ser realizado


com o consentimento específico e em destaque dado por pelo menos
um dos pais ou pelo responsável legal.

§ 2º No tratamento de dados de que trata o § 1º deste artigo, os


controladores deverão manter pública a informação sobre os tipos de
dados coletados, a forma de sua utilização e os procedimentos para o
exercício dos direitos a que se refere o art. 18 desta Lei.

§ 3º Poderão ser coletados dados pessoais de crianças sem o


consentimento a que se refere o § 1º deste artigo quando a coleta for
necessária para contatar os pais ou o responsável legal, utilizados uma
única vez e sem armazenamento, ou para sua proteção, e em nenhum
caso poderão ser repassados a terceiro sem o consentimento de que trata
o § 1º deste artigo.

§ 4º Os controladores não deverão condicionar a participação dos


titulares de que trata o § 1º deste artigo em jogos, aplicações de internet
ou outras atividades ao fornecimento de informações pessoais além das
estritamente necessárias à atividade.

§ 5º O controlador deve realizar todos os esforços razoáveis para


verificar que o consentimento a que se refere o § 1º deste artigo foi dado
pelo responsável pela criança, consideradas as tecnologias disponíveis.
§ 6º As informações sobre o tratamento de dados referidas neste artigo
deverão ser fornecidas de maneira simples, clara e acessível,
consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais,
intelectuais e mentais do usuário, com uso de recursos audiovisuais
quando adequado, de forma a proporcionar a informação necessária aos
pais ou ao responsável legal e adequada ao entendimento da criança.

Reparem que o consentimento do responsável é exigido pelo §1º apenas para o tratamento
de dados com relação às crianças, criando uma imensa janela de oportunidades para a sua
realização sem o requisito aos maiores de 12 anos.

Tal ponto pode ser objeto de crítica pelo candidato, na medida em que a progressiva
autonomia não garante a possibilidade de realização de determinados atos da vida civil,
sendo certo que a monetização de dados por empresas, jogos e o manejo de informações
pessoais tornou-se o verdadeiro petróleo da modernidade.

Direito à Igualdade como não discriminação/não submissão; Combate ao Racismo]

Este ponto na questão era muito importante, e nem todos os alunos fizeram o debate
adequadamente, a lente decolonial é muito bem vista na prova da DPRJ, e uma
argumentação cega às diferenças pode significar a perda de preciosos pontos.

O debate a respeito da liberdade de religiosa tem que obrigatoriamente passar pela


explanação de que a sociedade brasileira é atravessada, o tempo todo, pelo racismo
estrutural. Então a discussão a respeito da igualdade jurídica não pode se ater a preceitos
da igualdade pura e simples, ou da igualdade entre os desiguais (Ruy Barbosa e
Aristóteles). O princípio da ponderação como estamos acostumados não é suficiente para
a defesa de povos e populações que estão historicamente alijados da distribuição de bens
socio-culturais e materiais.
Assim, era imprescindível trazer os conceitos a respeito da igualdade como não
discriminação/não submissão de Roberto Sada, que envolve a exigência de um atuar
positivamente para então haver a possibilidade de comparar, ponderar, falar em
verdadeira liberdade de expressão e de credo.

Uma boa “cola” na hora da prova é a Convenção Interamericana contra o Racismo:

Artigo 1

Para os efeitos desta Convenção:

1. Discriminação racial é qualquer distinção, exclusão, restrição ou


preferência, em qualquer área da vida pública ou privada, cujo
propósito ou efeito seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos
e liberdades fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais
aplicáveis aos Estados Partes. A discriminação racial pode basear-se em
raça, cor, ascendência ou origem nacional ou étnica.

2. Discriminação racial indireta é aquela que ocorre, em qualquer esfera


da vida pública ou privada, quando um dispositivo, prática ou critério
aparentemente neutro tem a capacidade de acarretar uma desvantagem
particular para pessoas pertencentes a um grupo específico, com base
nas razões estabelecidas no Artigo 1.1, ou as coloca em desvantagem, a
menos que esse dispositivo, prática ou critério tenha um objetivo ou
justificativa razoável e legítima à luz do Direito Internacional dos
Direitos Humanos.

3. Discriminação múltipla ou agravada é qualquer preferência,


distinção, exclusão ou restrição baseada, de modo concomitante, em
dois ou mais critérios dispostos no Artigo 1.1, ou outros reconhecidos
em instrumentos internacionais, cujo objetivo ou resultado seja anular
ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de
igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais
consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados
Partes, em qualquer área da vida pública ou privada.

4. Racismo consiste em qualquer teoria, doutrina, ideologia ou conjunto


de ideias que enunciam um vínculo causal entre as características
fenotípicas ou genotípicas de indivíduos ou grupos e seus traços
intelectuais, culturais e de personalidade, inclusive o falso conceito de
superioridade racial. O racismo ocasiona desigualdades raciais e a
noção de que as relações discriminatórias entre grupos são moral e
cientificamente justificadas. Toda teoria, doutrina, ideologia e conjunto
de ideias racistas descritas neste Artigo são cientificamente falsas,
moralmente censuráveis, socialmente injustas e contrárias aos
princípios fundamentais do Direito Internacional e, portanto, perturbam
gravemente a paz e a segurança internacional, sendo, dessa maneira,
condenadas pelos Estados Partes.

5. As medidas especiais ou de ação afirmativa adotadas com a


finalidade de assegurar o gozo ou exercício, em condições de igualdade,
de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais de grupos
que requeiram essa proteção não constituirão discriminação racial,
desde que essas medidas não levem à manutenção de direitos separados
para grupos diferentes e não se perpetuem uma vez alcançados seus
objetivos.

6. Intolerância é um ato ou conjunto de atos ou manifestações que


denotam desrespeito, rejeição ou desprezo à dignidade, características,
convicções ou opiniões de pessoas por serem diferentes ou contrárias.
Pode manifestar-se como a marginalização e a exclusão de grupos em
condições de vulnerabilidade da participação em qualquer esfera da
vida pública ou privada ou como violência contra esses grupos.
É importante inclusive saber fazer a crítica, de uma forma mais aprofundada na prova da
DPRJ desses conceitos, especialmente quando falamos em populações historicamente
vulnerabilizadas que são o foco de atendimento da instituição.

Convenção 169 da OIT

A respeito da temática de povos de terreiro, citar a Convenção 169 da OIT, que protege
os povos tradicionais em seu direito à autonomia e diversidade de formas de vida, é um
diferencial na prova.

É consenso na doutrina que a proteção conferida pela mencionada convenção


internacional abarca os terreiros de religião de matriz afro-brasileira, e a sua importância

prática para a atuação defensorial se dá na justificativa de que muitas vezes essas religiões
não são formalizadas perante o Estado (não possuem CNPJ, isenções ou outros tipos de
vínculos formais).

Assim, demonstrar a capacidade de criticamente elaborar essas formas de pertencimento


comunitário pode alçar a resposta a outro nível, para além das garantias Constitucionais
de liberdade de crença – como afirmado acima, em um sistema estruturalmente desigual
é imprescindível adotar medidas proativas por parte do poder público, e também da
sociedade como um todo. Nos termos do que dispõe a Convenção:

Artigo 4°

1. Deverão ser adotadas as medidas especiais que sejam necessárias


para salvaguardar as pessoas, as instituições, os bens, as culturas e
o meio ambiente dos povos interessados.

2. Tais medidas especiais não deverão ser contrárias aos desejos


expressos livremente pelos povos interessados.
3. O gozo sem discriminação dos direitos gerais da cidadania não
deverá sofrer nenhuma deterioração como conseqüência dessas
medidas especiais.

Artigo 5° Ao se aplicar as disposições da presente Convenção:

a) deverão ser reconhecidos e protegidos os valores e práticas


sociais, culturais religiosos e espirituais próprios dos povos
mencionados e dever-se-á levar na devida consideração a natureza
dos problemas que lhes sejam apresentados, tanto coletiva como
individualmente;

b) deverá ser respeitada a integridade dos valores, práticas e instituições


desses povos;

c) deverão ser adotadas, com a participação e cooperação dos povos


interessados, medidas voltadas a aliviar as dificuldades que esses
povos experimentam ao enfrentarem novas condições de vida e de
trabalho.
PEÇA PROCESSUAL

AO JUIZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL

Joana, qualificação completa, representada por seus genitores, qualificação completa,


vem, pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, propor

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/ PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA


C/C AÇÃO INDEZITATÓRIA

Em face de, Escola, pessoa jurídica de direito privado, qualificação completa, pelos
fundamentos de fato e de direito que passa a expor:

1. Da Gratuidade de Justiça:

A autora e seus responsáveis são pessoas hipossuficientes econômicas, de modo que não
tem condições de arcar com as custas processuais, na forma dos artigos 98 e 99 §3º do
CPC, art. 5º, XXXV da CR.

2. Das Prerrogativas da Defensoria Pública:


Pugna pela observância às prerrogativas conferidas à instituição, de intimação com vista
pessoal dos autos, dispensa de mandato, e prazo processual em dobro (art. 186 do CPC;
art. 128, I da LC 80/94; art. 87, XIII da LCE RJ nº6/77), cumprindo ainda apontar o
silêncio eloquente do art. 152, § 2º do ECA com relação à Defensoria Pública.

3. Dos Fatos: dispensado

4. Do Direito:

4.1 Do direito à educação plural, para o exercício da cidadania:

Cabe ressaltar que o art. 206, II e III da CR/88 garante o direito à educação emancipadora,
para a formação e exercício da cidadania (art. 29.1 da Convenção da ONU da Criança).
A Conferência de Jomtien assegura ainda que o direito à educação é qualificado,
ressaltando a imprescindibilidade de condições básicas para aprendizagem, tais quais,
saúde, alimentação, segurança e ambiente adequado. Sendo certo que na situação narrada
há violação de diversos elementos necessários a sua efetivação.

4.2 Do direito à Igualdade como não submissão e igualdade de condições para


permanência na escola (art. 206, I CR; art. 53, I ECA; art. 28.1.e da Convenção da ONU):

A igualdade como não submissão pressupõe a constatação de situação de discriminação


estrutural, que implica em desvantagem perante os demais, sendo certo que a adoção de
postura neutra tende a reforçar esse padrão sistemático de discriminação. A instituição
escolar ao se omitir com relação aos direitos diferenciados da infante viola,
consubstanciado na necessidade de adotar medidas positivas para promoção da efetiva
inclusão, além de violar o princípio da igualdade de condições para permanência na
escola, e o combate à evasão escolar.

4.3 Violação do Direito à Alimentação Adequada. Convenção Interamericana contra o


Racismo:
Ao negar à estudante as adaptações necessárias para a sua alimentação, a instituição de
ensino viola o direito à alimentação escolar adequada, que inclui, na forma da legislação
pátria as adaptações necessárias para respeitar as diferenças culturais existentes. Viola-se
o disposto no art. 2º, I, VI da Lei 11.947/09, bem como o art. 2º, I da Lei 11.346/06.
Incorre ainda em discriminação indireta, como conceituado no art. 1.2 da Convenção
Interamericana contra o Racismo.

4.4 Do dever de combate ao Bullying. Violação à Lei 13.185/2015.

O art. 12, I da LDB dispõe sobre o dever dar instituições de ensino de combate às formas
de violência e intimidação sistemática. Na hipótese narrada, houve omissão da escola ao
art. 5º da Lei 13.185/2015 que prevê expressamente essa obrigação. Sendo certo ainda
que os deveres relativos à prestação do serviço de educação incluem a formação para
exercício de cidadania e estímulo à cultura da paz e respeito às diferenças.

4.5 Do direito à liberdade de crença. Convenção 169 da OIT.

Os art. 5º, VI e VIII da CR asseguram a igualdade de tratamento e liberdade de crença a


todos da sociedade, bem como o art. 18 do PIDCP, artigos 2º e 14 da Convenção da ONU
sobre direitos da Criança. Esse direito é reforçado no caso vertente, eis que as religiões
de matriz afro-brasileira inserem-se no âmbito de proteção da Convenção 169 da OIT que
pressupõe obrigação reforçada por parte do Estado brasileiro, bem como das instituições
em garantir a autonomia, condições de igual direito e oportunidade, e sobretudo respeito
às particulares formas de vida sem obstáculo ou discriminação (art. 2º e 3º da Convenção).
Menciona-se ainda a obrigação de adoção de medidas especiais (art. 4º da Convenção
169) necessárias a salvaguardas as pessoas, instituições e culturas. É importante
mencionar ainda que o direito à educação, bem como direitos sociais estão previstos de
forma conjunta com os direitos individuais neste importante diploma protetivo, do qual o
Brasil é signatário.

4.6 Da violação à Lei Geral de Proteção de dados e Direito de Imagem:


O STJ vem conferindo especial proteção ao direito de imagem no âmbito da infância e
juventude, além disso, o art. 14 da Lei Geral de Proteção de Dados deve ser lido sob o
âmbito do princípio da proteção integral, de modo a abarcar os adolescentes no seu
espectro limitativo, sob pena de incorrer em proteção deficiente. Ao permitir o desvio de
finalidade no uso das imagens da estudante, a instituição de ensino viola o tratamento dos
dados sensíveis fornecidos, sem autorização específica e delimitada, violando o seu §1º.

4.7 Da Tutela Antecipada:

Pugna-se ainda, com fundamento no art. 300 do CPC, tendo em vista a probabilidade do
direito e o perigo de dano com o iminente risco da perda do ano letivo. A especial
condição de pessoa em desenvolvimento exige medidas urgentes da judiciário para
determinar a manutenção da bolsa de estudo, a obrigação de fornecimento de alimentação
que respeite a religião da infante, bem como medidas que cessem a prática de violência.

4.8 Do Dano moral e medidas de não repetição:

Aquele que comete ato ilícito tem o dever de indenizar (art.5º, X), e, em se tratando de
direitos de crianças e adolescentes, o STJ vem entendendo a ocorrência de dano “in res
ipsa” em razão da doutrina da proteção integral. Além disso, a violação de Direitos
Humanos exige um compromisso em ações que visem a prevenção e não repetição, como
medidas de reparação. A eficácia horizontal de direitos fundamentais já foi tema de
decisão do STF, que acolhe a teoria, e o Estado brasileiro já teve responsabilidade
reconhecida na CIDH em razão de racismo institucional no Caso Simone André Diniz.
Deste modo, a instituição de ensino deve ser obrigada a ampliar ações afirmativas e de
promoção de diversidade no âmbito escolar, tanto na admissão de alunos por meio de
bolsas, quanto na contratação de quadro técnico e pessoal.

5. Dos Pedidos: Pelo exposto, pugna-se

a) pelo recebimento da presente, concessão de gratuidade de justiça, bem como o respeito


às prerrogativas indicadas para;
b) deferir a tutela de urgência pleiteada, garantindo a bolsa permanência da infante,
alimentação e medidas para cessar a violência, sob pena de multa diária por
descumprimento;

c) citar a parte ré, determinando a realização de audiência de conciliação, e para oferecer


resposta se assim o desejar;

d) intimação do Ministério Público na forma do art. 178, I e II do CPC;

e) a confirmação da tutela deferida, condenando ainda a instituição de ensino ao valor em


danos morais, bem como às medidas de não repetição pleiteadas;

f) condenação em honorários a serem destinados ao fundo do CEJUR;

Protesta-se por todos os meios de prova admitidos em direito.

Nestes Termos

Espera Deferimento

Defensor Público/Local/Data

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