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FATO
Vídeo retrata uma sala de aula, na qual estão uma professora e vários alunos, estes, aparentemente,
adolescentes.
Há, entretanto, um aluno deitado ao chão, num corredor entre cadeiras, deitado ao chão, dormindo.
A professora, verificando o aluno dormindo, em tese, sem licença para tanto, pega uma garrafa que
estava sobre a mesa de um aluno, se dirige até o aluno que está dormindo e despeja o líquido sobre
este aluno, atingindo-o no rosto, principalmente, em tese, no ouvido. É possível ouvir que ela indica
que o garoto vá para casa, pois ele não teria vergonha, ao tempo em que o adjetiva, em tese de forma
irônica, de “tadinho”.
O aluno se levanta abruptamente, supostamente atônito e constrangido pelas risadas dos colegas.
A análise aqui, em caráter pedagógico, considerará que a escola seria pública e será realizada sob 04
perspectivas de conduta: da professora; do aluno; da escola; dos colegas que riram.
ANÁLISE
Ante de mais nada, é imperioso consignar que as medidas abaixo constituem grau máximo de
resposta. Não precisamos sempre adotar a maior punição possível em face de um erro. Somos
humanos e, portanto, falhos, principalmente sob estresse e problemas pessoais que muitos sequer
imaginam. A profissão de professor, em si, é das mais penosas. Se todo professor fosse, de igual modo,
processar alunos que o desacatam, o humilham, o Poder Judiciário estaria mais assoberbado e os
ofensores poderiam ter futuras carreiras comprometidas.
A atitude da professora é de todo reprovável, não há dúvidas, e não relativizando o sofrimento do
aluno diante de tamanho constrangimento, mas as medidas abaixo podem ganhar proporções
indesejáveis e, talvez, se tornarem muito severas, como a perda do cargo pela professora, esta que
pode ter ascendentes ou descendentes que dela dependem. A punição tem caráter sancionatório,
indenizatório, mas, acima de tudo, deve ser pedagógica, é mais importante quem erra aprender a
fazer certo do que simplesmente receber um castigo.
E por mais que se vindique indenização, a pecúnia, não obstante seja incapaz de remediar dano
imaterial sofrido, não é uma certeza, devendo o postulante ter em mente que ela é uma tentativa, a
qual pode restar frustrada e ensejar condenação em honorários sucumbenciais.
E não se desconsidere, no âmbito penal, que a denunciação, em sendo caluniosa, constitui o crime
previsto no art. 339 ou mesmo o crime do art. 340, ambos do Código Penal 1, sem prejuízo de eventual
obrigação de indenizar.
Sendo assim, uma possibilidade seria o aluno, representado/assistido por seus responsáveis, mediante
protocolo escrito, devidamente entregue na Escola mediante ateste de recebimento, dirigido ao
1 Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo
administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 14.110, de 2020)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Gestor, expor os fatos e oportunizar que a Escola e a professora, cientificadas dos direitos do aluno e
das possíveis repercussões jurídicas, manifestem desculpas e comprometimento de que não se
repetirá, evitando, assim, a adoção de medidas judiciais. Se desejar um impacto maior e a
demonstração inequívoca da seriedade, a comunicação poderia ser assinada por advogado, inclusive.
Este seria um procedimento prudente, pedagógico, potencialmente eficaz e evitaria desdobramentos
maiores do que o necessário.
PROFESSORA
a) Cível: O aluno foi submetido a tratamento que, em tese, feriu suas dignidade e moral, o que é
vedado, conforme art. 1º, inc. III, e art. 5º, incs. V e X, da CF/88 3. Ademais, a conduta da professora,
supostamente, causou constrangimento ao aluno, o que é vedado, conforme art. 18 da Lei 8.069/1990
- Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA 4. O aluno, assim, em tese, faz jus a uma indenização,
conforme dispositivos já citados e, ainda, os arts. 186, 187 e 927 do Código Civil de 2002 5. Acaso algum
bem do aluno tenha sido danificado, ele fará jus a indenização por dano moral. E se o líquido causou
ao aluno alguma enfermidade, posto que, em tese, poderia conter resíduos orgânicos do aluno a quem
pertencia a garrafa, este fato também seria passível de indenização. A ação tramitaria numa vara cível
comum ou juizado especial cível, a depender do valor indenizatório pretendido e da complexidade das
provas envolvidas, mediante iniciativa do aluno, representado/assistido por seus responsáveis, com ou
sem (em caso de juizado e buscando indenização de até 20 salários mínimos) auxílio de advogado.
b) Criminal: Seria necessário verificar o dolo da professora, através de outros elementos do contexto,
se foi:
c) Administrativa: A GRE e a Secretaria de Educação têm o dever de adotar medidas para a apuração e,
se for o caso, à punição, da servidora, mediante processo administrativo apuratório/disciplinar. Para
tanto, o aluno, representado/assistido por seus pais (art. 1.634, inc. VII, do CC/2002), pode protocolar
um requerimento, instruído das provas do ocorrido.
ALUNO
O aluno poderia sofrer punição, pela Escola, pois, ao dormir em sala, desestimulou a concentração de
outros alunos, incitou atitudes semelhantes, foi de encontro o Princípio do Interesse Público (a maioria
quer/precisa estudar e possui direito a um ambiente adequado para isto) e, possivelmente, violou
dispositivo do regimento interno da escola. Os responsáveis poderiam ser convocados para
participação na apuração das razões que levaram o garoto a dormir.
ESCOLA
A Escola, enquanto integrante da Administração Pública, é submetida ao art. 37 da CF/88 11, ao tempo
em que deve observar os já citados art. 1º, inc. III, e art. 5º, incs. V e X, da CF/88, sendo um dever,
também, observar o art. 227 da CF/88 12. A ação seria contra o Estado de Pernambuco e tramitaria
numa vara da fazenda pública ou juizado especial da fazenda, a depender do valor indenizatório
pretendido e da complexidade das provas envolvidas, mediante iniciativa do aluno,
representado/assistido por seus responsáveis, com ou sem (em caso de juizado e buscando
indenização de até 20 salários mínimos) auxílio de advogado.
6 Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em,
quanto aos filhos: (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em
que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
7 Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência
resulta lesão corporal.
8 Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
9 Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
10 Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada.
11 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
12 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
COLEGAS QUE RIRAM
Não respondem sob qualquer aspecto jurídico, todavia, moralmente, poderiam ter defendido o colega,
impedido que a professora o hostilizasse ou mesmo o acolhido após o fato, mas, de forma imatura,
limitaram-se a rir, o que tacitamente significa que acharam graça na conduta da professora.