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ATIVIDADE - ANÁLISE DE VÍDEO (28/09/2023)

FATO
Vídeo retrata uma sala de aula, na qual estão uma professora e vários alunos, estes, aparentemente,
adolescentes.
Há, entretanto, um aluno deitado ao chão, num corredor entre cadeiras, deitado ao chão, dormindo.
A professora, verificando o aluno dormindo, em tese, sem licença para tanto, pega uma garrafa que
estava sobre a mesa de um aluno, se dirige até o aluno que está dormindo e despeja o líquido sobre
este aluno, atingindo-o no rosto, principalmente, em tese, no ouvido. É possível ouvir que ela indica
que o garoto vá para casa, pois ele não teria vergonha, ao tempo em que o adjetiva, em tese de forma
irônica, de “tadinho”.
O aluno se levanta abruptamente, supostamente atônito e constrangido pelas risadas dos colegas.
A análise aqui, em caráter pedagógico, considerará que a escola seria pública e será realizada sob 04
perspectivas de conduta: da professora; do aluno; da escola; dos colegas que riram.

ANÁLISE
Ante de mais nada, é imperioso consignar que as medidas abaixo constituem grau máximo de
resposta. Não precisamos sempre adotar a maior punição possível em face de um erro. Somos
humanos e, portanto, falhos, principalmente sob estresse e problemas pessoais que muitos sequer
imaginam. A profissão de professor, em si, é das mais penosas. Se todo professor fosse, de igual modo,
processar alunos que o desacatam, o humilham, o Poder Judiciário estaria mais assoberbado e os
ofensores poderiam ter futuras carreiras comprometidas.
A atitude da professora é de todo reprovável, não há dúvidas, e não relativizando o sofrimento do
aluno diante de tamanho constrangimento, mas as medidas abaixo podem ganhar proporções
indesejáveis e, talvez, se tornarem muito severas, como a perda do cargo pela professora, esta que
pode ter ascendentes ou descendentes que dela dependem. A punição tem caráter sancionatório,
indenizatório, mas, acima de tudo, deve ser pedagógica, é mais importante quem erra aprender a
fazer certo do que simplesmente receber um castigo.
E por mais que se vindique indenização, a pecúnia, não obstante seja incapaz de remediar dano
imaterial sofrido, não é uma certeza, devendo o postulante ter em mente que ela é uma tentativa, a
qual pode restar frustrada e ensejar condenação em honorários sucumbenciais.
E não se desconsidere, no âmbito penal, que a denunciação, em sendo caluniosa, constitui o crime
previsto no art. 339 ou mesmo o crime do art. 340, ambos do Código Penal 1, sem prejuízo de eventual
obrigação de indenizar.
Sendo assim, uma possibilidade seria o aluno, representado/assistido por seus responsáveis, mediante
protocolo escrito, devidamente entregue na Escola mediante ateste de recebimento, dirigido ao

1 Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo
administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 14.110, de 2020)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Gestor, expor os fatos e oportunizar que a Escola e a professora, cientificadas dos direitos do aluno e
das possíveis repercussões jurídicas, manifestem desculpas e comprometimento de que não se
repetirá, evitando, assim, a adoção de medidas judiciais. Se desejar um impacto maior e a
demonstração inequívoca da seriedade, a comunicação poderia ser assinada por advogado, inclusive.
Este seria um procedimento prudente, pedagógico, potencialmente eficaz e evitaria desdobramentos
maiores do que o necessário.

PROFESSORA

O art. 3º da Constituição Federal 2 estabelece objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil


que devem ser seguidos por todos, indiscriminadamente, e que, se bem observados, preveniriam e
combateriam situações como esta em análise. Deixou a professora de adotar medidas que pudessem
sanar o fato de que havia um aluno indevidamente dormindo no chão da escola, como: acordá-lo
gentilmente e encaminhá-lo a uma cadeira na qual pudesse se sentar e acompanhar a aula; ou
direcioná-lo à coordenação para receber apoio adequado daquela unidade, que buscaria as razões que
o levavam a dormir em sala. Agindo como o fez, a professora é passível de responsabilização nas 3
esferas:

a) Cível: O aluno foi submetido a tratamento que, em tese, feriu suas dignidade e moral, o que é
vedado, conforme art. 1º, inc. III, e art. 5º, incs. V e X, da CF/88 3. Ademais, a conduta da professora,
supostamente, causou constrangimento ao aluno, o que é vedado, conforme art. 18 da Lei 8.069/1990
- Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA 4. O aluno, assim, em tese, faz jus a uma indenização,
conforme dispositivos já citados e, ainda, os arts. 186, 187 e 927 do Código Civil de 2002 5. Acaso algum
bem do aluno tenha sido danificado, ele fará jus a indenização por dano moral. E se o líquido causou
ao aluno alguma enfermidade, posto que, em tese, poderia conter resíduos orgânicos do aluno a quem
pertencia a garrafa, este fato também seria passível de indenização. A ação tramitaria numa vara cível
comum ou juizado especial cível, a depender do valor indenizatório pretendido e da complexidade das
provas envolvidas, mediante iniciativa do aluno, representado/assistido por seus responsáveis, com ou
sem (em caso de juizado e buscando indenização de até 20 salários mínimos) auxílio de advogado.

b) Criminal: Seria necessário verificar o dolo da professora, através de outros elementos do contexto,
se foi:

2 Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
3 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação;
4 Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
5 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
b1) Causar a humilhação do aluno: o aluno, representando/assistido por seus responsáveis
(art. 1.634, inc. VII, do CC/2002 6), deve ir até a Delegacia de Polícia Civil especializada em
crimes contra menor de idade, para apresentar uma QUEIXA-CRIME, por ser uma ação penal
privada 7, em razão da suposta conduta de INJÚRIA REAL por parte da professora, conforme
art. 140, §2, do Código Penal 8.

b2) Causar constrangimento ao aluno: o aluno, representado/assistido, pode se dirigir até o


Ministério Público, através da Curadoria da Infância, a fim de informar o suposto
cometimento, pela professora, do crime do art. 232 do ECA 9, eis que, em sendo o caso, a
ação penal é pública incondicionada, conforme art. 227 do ECA 10

c) Administrativa: A GRE e a Secretaria de Educação têm o dever de adotar medidas para a apuração e,
se for o caso, à punição, da servidora, mediante processo administrativo apuratório/disciplinar. Para
tanto, o aluno, representado/assistido por seus pais (art. 1.634, inc. VII, do CC/2002), pode protocolar
um requerimento, instruído das provas do ocorrido.

ALUNO

O aluno poderia sofrer punição, pela Escola, pois, ao dormir em sala, desestimulou a concentração de
outros alunos, incitou atitudes semelhantes, foi de encontro o Princípio do Interesse Público (a maioria
quer/precisa estudar e possui direito a um ambiente adequado para isto) e, possivelmente, violou
dispositivo do regimento interno da escola. Os responsáveis poderiam ser convocados para
participação na apuração das razões que levaram o garoto a dormir.

ESCOLA

A Escola, enquanto integrante da Administração Pública, é submetida ao art. 37 da CF/88 11, ao tempo
em que deve observar os já citados art. 1º, inc. III, e art. 5º, incs. V e X, da CF/88, sendo um dever,
também, observar o art. 227 da CF/88 12. A ação seria contra o Estado de Pernambuco e tramitaria
numa vara da fazenda pública ou juizado especial da fazenda, a depender do valor indenizatório
pretendido e da complexidade das provas envolvidas, mediante iniciativa do aluno,
representado/assistido por seus responsáveis, com ou sem (em caso de juizado e buscando
indenização de até 20 salários mínimos) auxílio de advogado.

6 Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em,
quanto aos filhos: (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em
que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
7 Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência
resulta lesão corporal.
8 Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
9 Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
10 Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada.
11 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
12 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
COLEGAS QUE RIRAM

Não respondem sob qualquer aspecto jurídico, todavia, moralmente, poderiam ter defendido o colega,
impedido que a professora o hostilizasse ou mesmo o acolhido após o fato, mas, de forma imatura,
limitaram-se a rir, o que tacitamente significa que acharam graça na conduta da professora.

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