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CURSO DE FORMAÇÃO TÉCNICO-PROFISSIONAL

POLÍCIA PENAL – MG

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 03

2 NORMAS LEGAIS E GARANTIA DA EDUCAÇÃO NAS PRISÕES 05


2.1 Principais diretrizes e legislações: procedimentos educacionais nas prisões 07
2.2 Outras legislações educacionais nas prisões 10

3 O PROCESSO EDUCACIONAL DENTRO DE UNIDADES PRISIONAIS 15


3.1- O direito da educação para os Indivíduos Privados de Liberdade (IPL) 16
3.2- Educação e ressocialização no ambiente prisional 20
3.3- O papel do Policial Penal frente ao processo educacional dos IPL 23

4- A EDUCAÇÃO PRISIONAL EM MINAS GERAIS 26


4.1- O plano estadual de educação nas prisões em Minas Gerais 27
4.2- As práticas educativas 29

REVISANDO 35

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 37

REFERÊNCIAS 38

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1 INTRODUÇÃO

Historicamente, a prisão foi construída no referencial teórico da prevenção e


humanização e inserida em um movimento que propõe, na perspectiva da garantia dos direitos
humanos, compreender o espaço prisional como um local de educação, capaz de dar acesso a
tudo o que é essencial aos processos de socialização do Indivíduo Privado de Liberdade (IPL)
durante e após o cumprimento da pena.
De acordo com os estudos de Onofre (2015), a oferta educacional delineada para escolas
em ambiente de privação de liberdade está ancorada nos princípios da educação popular e da
educação de jovens e adultos. Ao explicitar as ideias sobre o homem, sobre o mundo e sobre
educação e produção de conhecimento, ela enfatiza que a educação, para ser válida, deve levar
em conta a vocação ontológica do homem (vocação para ser sujeito) e as condições em que
vive (contexto). Qualquer ação educativa deve, portanto, estimular o indivíduo e ele deve buscar
transformar o mundo em que está inserido e não se tornar um instrumento de adaptação à
sociedade.
Conforme Freire (1983 apud ONOFRE, 2015), não só é preciso saber que não pode
haver neutralidade na educação, como também é preciso distinguir os diferentes caminhos. A
escola é uma instituição que existe no contexto histórico de uma determinada sociedade, e para
ser compreendida é necessário entender como o poder se constitui na sociedade e a serviço de
quem atua. Portanto, o desafio atual é construir uma prática educativa pautada nos significados
atribuídos à educação como direito. É necessário, portanto, garantir o acesso aos níveis e
modalidades de ensino, conteúdos disciplinares, métodos e tecnologias necessárias ao
ensino/aprendizagem, que garantam aos sujeitos a aquisição de conhecimentos e técnicas
produzidos na e pela sociedade.
Nesse aspecto, parte-se da constatação de que é difícil para os educadores que atuam
nas prisões refletirem seus pensamentos, sentimentos e ações em relação à prática pedagógica
escolar tendo em vista a longa tradição pedagógica, que visa uma formação escolar mínima,
para organizar ideias ligadas ao significado de punição e/ou cura, sem referência a projetos de
vida e sociais, princípios básicos de uma educação entendida como lei.
O arcabouço legal que rege o sistema penitenciário e a oferta de educação nas prisões
brasileiras enfatiza a necessidade de garantir os direitos humanos no contexto prisional, o que
permeia diretamente as ações dos servidores penitenciários. Os regulamentos sobre a oferta
educativa nas prisões referem a valorização da profissão docente nesta área e sublinham a

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necessidade de promover formação e qualificação específicas. Compreender o processo
educativo das pessoas privadas de liberdade no sistema prisional significa entender a educação
como essencial ao processo de transformação da vida moral e profissional do IPL.
Segundo Oliveira (2013), a política de educação escolar nas prisões, destaca-se o seu
complexo caráter organizacional e operacional, uma vez que se baseia na articulação do sistema
de ensino com o sistema prisional (Ministério da Educação, Ministério da Justiça, Secretarias
Estaduais de Educação e Secretarias de Defesa Social, além de instituições que fazem parte
desses sistemas, como as instituições de reclusão) que por sua vez se articulam com o sistema
de justiça criminal e a sociedade.
Onofre (2015) menciona que, pensar a educação do IPL referente a liberdade restrita,
pressupõe a compreensão de que essa educação se dá em um espaço especial onde se encontram
duas lógicas opostas do que constitui o processo de reabilitação: o princípio basilar da educação,
com o seu cerne transformador, e a cultura prisional que visa a adaptação do indivíduo à prisão.
Nessa perspectiva, nos deparamos com uma situação paradoxal e um dos desafios que temos
pela frente é encontrar caminhos para desenvolver uma educação emancipatória em um espaço
historicamente opressor e contraditório: para (re)socializar, castiga-se reeducar.
A autora supracitada, relata que as pessoas privadas de liberdade, embora sujeitas ao
direito de ir e vir em determinado período de tempo, possuem outros direitos garantidos por lei
e a educação é um deles. O maior desafio, porém, é implementar medidas educativas
significativas, pois o sistema penal institucionaliza e elimina a autonomia e a educação, por um
lado, e liberta e humaniza as pessoas, por outro. Nesse sentido, deve-se considerar que o
objetivo principal desta disciplina é levar o(a) Policial Penal (PP) ao entendimento da educação
enquanto direito do IPL e saber qual o seu papel frente à garantia do referido direito.

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2 NORMAS LEGAIS E GARANTIA DA EDUCAÇÃO NAS PRISÕES

Conforme Oliveira (2013), a política educacional das escolas públicas é legitimada por
dispositivos legais em nível nacional e internacional. Dessa forma, é preciso entender, a priori,
as políticas com a característica definidora pública, ou seja, de todos, e não estatais ou coletivas.
Os IPL, como todos os outros, têm o direito humano à educação. Ainda na esteira dessa autora,
a nível internacional, destaca-se a Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) de
1948, que no seu artigo 26.º consagra o direito à educação, cujo objetivo é o pleno
desenvolvimento da pessoa e o reforço do respeito pelos direitos humanos. Os direitos humanos
são considerados universais (para todos), interdependentes (estão interligados e ninguém é mais
importante do que o outro), indivisíveis (não podem ser divididos) e legal e politicamente
exigíveis perante o Estado.
O documento internacional intitulado Regras Mínimas para o Tratamento de Presos,
aprovado pelo Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU) em
1957, prevê o acesso à educação para os IPL. Nesse sentido, Carreira (2009), evidencia o
documento afirmando que devem ser tomadas medidas para melhorar a educação de todos os
privados de liberdade.
Graciano (2005 apud OLIVEIRA, 2013) relata que o direito humano à educação é
classificado diferentemente como um direito econômico, social e cultural. Também está
incluído na esfera civil e política, pois está no centro da realização de outros direitos. O direito
à educação também é conhecido como direito sumário porque possibilita e fortalece a garantia
de outrem.
O direito à educação nas prisões está consagrado em diversos documentos
internacionais, além da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, como:

● Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos (Regras de Nelson
Mandela – ONU/1957);
● Conferência Internacionais de Educação de Adultos (CONFINTEA1)
● Convenção contra a Discriminação no campo de Ensino (Conferência UNESCO/1960);
● Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Conferência de Jomtien -1990);
● Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (ONU/1990);

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Coordenada pelo Ministério da Educação e pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e
Cultura (Unesco), a CONFINTEA é um evento intergovernamental, realizado a cada período de 11 ou 12 anos,
desde 1949.
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● Declaração e Programa de Ação de Viena (Conferência Mundial Direitos
Humanos/1993).

No âmbito regulatório nacional, a escolarização na prisão faz parte da modalidade de


ensino da educação de jovens e adultos (EJA). A educação de jovens e adultos entrou em vigor
como política pública no Brasil em 1945, e no sistema penitenciário só ganhou destaque e
perspectiva jurídica após a aprovação da Lei de Execução Penal (LEP) nº 7.210/84 e da
Constituição Federal de 1988, que estabelece o interesse público na educação das pessoas
privadas de liberdade. Os anos que se seguiram a esses aparatos jurídicos tornaram-se
emblemáticos da luta pela educação nas prisões e geraram muitas discussões.
Nesse sentido, o direito à educação nas prisões no Brasil está previsto em diferentes
documentos, além da Constituição Federal e a LEP, tais como:

● Lei nº. 9394/1996, estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,


1996);
● Resolução CNE/CEB nº 1 de 2000 - Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação de Jovens e Adultos;
● Resolução (CNPCP) n° 03, de 11 de março de 2009, que dispõe sobre as Diretrizes
Nacionais para a oferta de educação nos estabelecimentos penais;
● Resolução CNE/CEB nº 2, de 2010 - Dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a oferta
de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos
estabelecimentos penais;
● Decreto Presidencial nº. 7.626 de 24 de novembro de 2011, que instituiu o “Plano
Estratégico de Educação no âmbito do Sistema Prisional”;
● Lei nº 12.433 de 29 de junho de 2011, que dispõe sobre a remição de parte do tempo de
execução da pena por estudo ou por trabalho;
● Plano Nacional de Educação (PNE/2001), instituído pela Lei n° 10.172 de 09 de janeiro
de 2001, e o (PNE/2014) 2014, instituído pela Lei nº 13005 de 25 de junho de 2014;
● Lei nº13.163, de 09 de setembro de 2015. Institui o ensino médio nas penitenciárias;
● Resolução nº 4, de 30 de maio de 2016 - Diretrizes Operacionais Nacionais para a
remição de pena pelo estudo de pessoas em privação de liberdade nos estabelecimentos
penais do sistema prisional brasileiro.
● Plano Estadual de Educação nas Prisões – PEEPMG (2012, 2015, 2021).

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2.1 Principais diretrizes e legislações: procedimentos educacionais nas prisões

Quanto aos planos normativos da EJA em relação aos presídios, podemos destacar nos
anos seguintes a Lei nº 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O
inciso V da referida lei apresenta a EJA como um direito ao instituí-la como uma política
educacional voltada para um público específico que não alcançou a educação básica em idade
regular, incluindo, portanto, aquela parcela da população privada de liberdade (BRASIL, 1996).
A lei de diretrizes e bases da educação nacional (LDB), n. 9.394 de 1996, em seu artigo
37, define essa modalidade como aquela destinada a pessoas que não tenham acesso ou
continuidade aos estudos no ensino fundamental e médio na idade adequada. No contexto
específico da educação de jovens e adultos na prisão, cabe mencionar a V Conferência
Internacional de Educação de Adultos (CONFINTEA), realizada em Hamburgo em 1997. Este
apresentou Educação para Todos os Adultos no Tema VIII: os direitos e aspirações de diversos
grupos. Nesse contexto, amplia-se o debate sobre o direito à educação das pessoas privadas de
liberdade.
De acordo com a Lei de Execução Penal (LEP), a promoção à assistência educacional é
um “direito garantido à pessoa privada de liberdade e deve ser oferecido pelo Estado na forma
de instrução escolar e formação profissional, visando à reintegração da população prisional à
sociedade” (INFOPEN, 2016, p. 53).
Nesse sentido, o tema da educação na LEP reveste-se de especial importância para o
processo de ressocialização do IPL. A oferta educacional no sistema penal é definida pela
constituição federal de 1988, na qual estipula a constituição federal obrigação do Estado de
garantir a educação básica, de assegurar o acesso gratuito aos que não puderam acessá-la na
idade adequada e pela Lei 7.210/1984, Código Penal. Assim, a educação nos presídios tem
ocorrido por meio de ações realizadas diretamente pelos Estados e Distrito Federal, e também
por meio da articulação entre as Secretarias de Justiça e de Educação, visando trazer a
população privada de liberdade para a inclusão já existente, personalizando-os, se necessário,
para que possam ser utilizados nos estabelecimentos prisionais.
De acordo com a Lei de Execução Penal, o Estado tem a responsabilidade de assistir
todas as pessoas que estejam privadas de liberdade, conforme seus artigos 10º e 11º. No que se
refere ao artigo 10º, relata-se que a assistência ao IPL e ao internado é dever do Estado,
objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Já o artigo 11º

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relata que a assistência será “I - material; II - à saúde; III - jurídica; IV - educacional; V - social;
VI – religiosa” (BRASIL, 1984, Art. 11, grifo nosso).
Além disso, a LEP, nº 7.210 de 1984, prevê a educação escolar no sistema prisional nos
artigos 17 a 21:

Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a


formação profissional do preso e do internado;
Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema
escolar da Unidade Federativa;
Art. 18-A. O ensino médio, regular ou supletivo, com formação geral ou
educação profissional de nível médio, será implantado nos presídios, em
obediência ao preceito constitucional de sua universalização. (Incluído pela
Lei nº 13.163, de 2015);
§ 1o O ensino ministrado aos presos e presas integrar-se-á ao sistema estadual
e municipal de ensino e será mantido, administrativa e financeiramente, com
o apoio da União, não só com os recursos destinados à educação, mas pelo
sistema estadual de justiça ou administração penitenciária. (Incluído pela Lei
nº 13.163, de 2015)
§ 2o Os sistemas de ensino oferecerão aos presos e às presas cursos supletivos
de educação de jovens e adultos. (Incluído pela Lei nº 13.163, de 2015)
§ 3o A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal incluirão em seus
programas de educação à distância e de utilização de novas tecnologias de
ensino, o atendimento aos presos e às presas. (Incluído pela Lei nº 13.163, de
2015)
Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de
aperfeiçoamento técnico.
Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua
condição;
Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com
entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos
especializados;
Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada
estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de
reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos (BRASIL,
1984 - grifo nosso).

Nesse sentido, Oliveira (2013) menciona que o artigo 17º estabelece que a assistência
educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso. O artigo 18º
relata que o ensino do 1º grau é obrigatório e o Artigo 18º-A, que o Ensino Médio, regular ou
supletivo, deve ser implantado nas prisões. Já o artigo 21º estabelece a exigência de implantação
de uma biblioteca por unidade prisional, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de
livros instrutivos, recreativos e didáticos.
Amaral (2013) relata que a LEP, embora atualmente disputada em alguns pontos, sendo
um deles justamente o seu caráter assistencialista, muito antes da constituição federal de 1988
e em pleno andamento como avanço democrático, humanitário e legítimo, o processo de

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redemocratização ainda era considerado não concluído. O autor considera que esse avanço se
deve aos movimentos sociais e políticos do final dos anos 1970 e início dos anos 1980, que
estiveram entre as ações fundamentais que estimularam esse novo momento na concepção de
uma política penitenciária mais garantida. No entanto, a LEP ainda não conseguiu realizar a
execução da sentença de forma sólida. Ainda na esteira desse autor, seria muito ingênuo esperar
que uma única lei pudesse mudar o contexto de um sistema prisional que por séculos se baseou
em um discurso puramente normativo, disciplinar e excludente.
A educação na prisão, segundo Craidy (2007), é uma questão de dignidade humana,
uma vez que o princípio da dignidade humana também é um pilar para a reinserção social das
pessoas privadas de liberdade é de grande relevância jurídica na área constitucional, já que este
princípio é abordado com confiança em relação aos aspectos éticos da personalidade ali
estabelecidos. Portanto, a educação não é uma questão de privilégio ou regalia, por isso não é
oferecida às pessoas privadas de liberdade. Ao longo da história da humanidade, a educação
sempre foi uma questão que possibilita aos indivíduos o exercício de sua autonomia. Mas,
acima de tudo, a educação é um direito de todos – o único direito que o IPL perdeu
temporariamente foi o direito de ir e vir, ou seja, o direito à liberdade.
Craidy (2007) relata que a educação deve ser considerada um elemento chave em
qualquer abordagem para proporcionar oportunidades de IPL para melhor aproveitamento do
tempo que permanecem na prisão. No entanto, segundo esse autor, a educação deve suprir as
necessidades básicas para que todas as pessoas que estão na prisão, independente do tempo,
possam aprender habilidades como leitura, escrita e cálculos básicos que ajudam a sobreviver
no mundo exterior. Portanto, podemos perceber que a educação é um dos fatores essenciais para
promover a ressocialização do IPL.
Assim, nas atuais políticas policiais brasileiras, a educação ocorre por meio da
articulação entre os Ministérios da Justiça e da Educação, que regulam as políticas nacionais, e
por meio de ações realizadas diretamente pelos Estados e pelo Distrito Federal. Tais medidas
têm como premissa garantir o acesso aos direitos fundamentais e a inclusão das pessoas
privadas de liberdade nos programas e políticas públicas de educação no Brasil.

2.2 Outras legislações educacionais nas prisões

No entanto, mesmo com diversas leis citando a obrigatoriedade da educação nas prisões,
isso não integrou efetivamente a agenda da política educacional até 2004, quando foi criada a

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Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) como parte da
estrutura do Ministério da Educação (MEC), que posteriormente foi ampliado com a
renomeação de Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
(SECADI). Assim, por meio da Diretoria de Políticas de Alfabetização e Educação de Jovens
e Adultos (DPAEJA), esta Secretaria oferece apoio técnico e financeiro à implantação da
educação de jovens e adultos no sistema prisional.
Em 2005, foi implantado o projeto “Educando para a Liberdade”, fruto de uma parceria
entre os Ministérios da Educação, da Justiça e a representação da UNESCO no Brasil, que se
tornou referência fundamental para o desenvolvimento de uma política pública de educação no
país no contexto prisional. Concretizado de forma integrativa e colaborativa; representou um
novo modelo de desempenho a ser desenvolvido dentro da administração prisional. (UNESCO,
2006). Segundo Ireland (2011), esse projeto questionava a necessidade de uma política nacional
com diretrizes nacionais para a oferta de educação na prisão organizada em torno de três eixos
– gestão e articulação, formação e questões.
Julião (2013) observa que a EJA para o IPL passou por muitas mudanças ao longo dos
anos, dando origem a novas discussões e novos dispositivos que garantem esse direito, e destaca
as iniciativas dos Ministérios da Educação e da Justiça na implementação do Programa
Nacional de Educação Programa para o Sistema Prisional. A autora aponta que essa política
promoveu conquistas importantes em relação à educação dos IPL. Segundo o autor acima, entre
as conquistas mais importantes estão as seguintes: A aprovação das Diretrizes Nacionais para
a Oferta de Ensino em Instituições Penitenciárias pelo Conselho Nacional de Crimes e Política
Penitenciária (Resolução nº 3 de 11/03/2009 de o CNPCP); Alteração da Lei de Execução Penal
permitindo que os presos tenham suas penas reduzidas com base nas horas de estudo; e o Plano
Estratégico de Educação nos Presídios (Portaria 7.626 de 24/11/2011).
A partir de então, as discussões sobre a EJA para os IPL tornaram-se mais frequentes,
assim como inúmeros desafios para sua implementação. Quanto ao marco legal da EJA para o
público em privação de liberdade, além da já citada Lei de Cumprimento das Prisões, a
Resolução nº 03 de 11 de março de 2009, que dispõe sobre as Diretrizes Nacionais de Formação
em Presídios, constituídas por parcerias entre os Ministérios da Educação, o Ministério da
Justiça e a representação da UNESCO no Brasil e com base no projeto “Educando para a
Liberdade” (BRASIL, 2009).
Em relação ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), dispõe
sobre as Diretrizes Nacionais para a Oferta de Ensino em Instituições Penitenciárias. A

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resolução acima indica que o governo federal, representado pelos Ministérios da Educação e
Justiça, é responsável pela promoção e implementação de políticas públicas estaduais na área
de educação nas prisões e as necessárias parcerias com os Estados, Distrito Federal e os
municípios (BRASIL, 2009).
Além de algumas orientações, a referida resolução dispõe em seu artigo 2º que as
medidas educativas no contexto prisional devem ser fundamentadas na legislação educacional
e na lei de execução de penas vigentes no país e devem corresponder às especificidades do
diferentes níveis e modalidades de educação e ensino. Portanto, de acordo com o artigo 3º - A
oferta de educação no contexto prisional:

I – Atender aos eixos pactuados quando da realização do Seminário Nacional


pela Educação nas Prisões (2006), quais sejam: a) gestão, articulação e
mobilização; b) formação e valorização dos profissionais envolvidos na oferta
de educação na prisão; e c) aspectos pedagógicos;
II – Resultar do processo de mobilização, articulação e gestão dos Ministérios
da Educação e Justiça, dos gestores estaduais e distritais da Educação e da
Administração Penitenciária, dos Municípios e da sociedade civil;
III – Ser contemplada com as devidas oportunidades de financiamento junto
aos órgãos estaduais e federais;
IV – Estar associada às ações de fomento à leitura e à implementação ou
recuperação de bibliotecas para atender à população carcerária e aos
profissionais que trabalham nos estabelecimentos penais; e
V – Promover, sempre que possível, o envolvimento da comunidade e dos
familiares do(a)s preso(a)s e internado(a)s e prever atendimento diferenciado
para contemplar as especificidades de cada regime, atentando-se para as
questões de inclusão, acessibilidade, gênero, etnia, credo, idade e outras
correlatas (BRASIL, 2009, Art. 3º)

Em relação ao artigo 9º, os educadores prisionais, gestores, técnicos e funcionários


prisionais devem ter acesso a programas integrados e de formação contínua que ajudem a
compreender a especificidade e relevância da educação prisional e a dimensão educativa do
trabalho. No entanto, de acordo com esse artigo, recomenda-se que os educadores devam
preferencialmente fazer parte do corpo funcional do Ministério da Educação, serem
selecionados por meio de concurso público e receber remuneração e benefícios financeiros
adequados às especificidades do cargo (BRASIL, 2009).
Ressaltamos, ainda, que esta resolução ainda representa a conciliação entre trabalho e
educação no contexto prisional, prevista em seu Artigo 8º, que destaca que o trabalho prisional,
também entendido como elemento de formação integrada à educação, em horas e condições
deve ser ofertado compatíveis com as atividades educativas. Por um lado, este trabalho para as
unidades prisionais satisfaz necessidades internas emergentes, evita a inatividade e desvia o IPL
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do envolvimento em atividades ilegais. Segundo Julião (2013), o trabalho é entendido pelo IPL
como uma forma de passar o tempo – mais do que atividades educativas, que geralmente são
realizadas apenas numa parte do dia – e, em alguns casos, como uma forma de passar o tempo
recebendo uma remuneração adequada.
Outra lei muito importante sobre a educação prisional foi a Resolução CEB/CNE nº 2,
de 19/05/2010, que estabelece diretrizes curriculares nacionais para a oferta de educação nas
prisões. Atualmente, a proposta curricular de educação prisional, com base na política de EJA,
está sendo elaborada em conjunto com a Secretaria Estadual de Educação, com o objetivo de
oferecer uma formação que permita aos IPL se reconhecerem como sujeitos sociais de direitos
e suas oportunidades de desenvolvimento ser enfatizado, ou seja, voltado para uma perspectiva
crítica (BRASIL, 2010). O inciso VIII desta resolução prevê, em seu artigo 3º, que a oferta
educacional de menores e adultos em estabelecimentos prisionais seja organizada de forma que
sejam atendidas as características temporais, espaciais e mutáveis dos internos do
estabelecimento prisional, tendo em vista a flexibilidade prevista no artigo 23º da Lei nº
9.394/96 Lei de Diretrizes e Fundamentos da Educação Nacional (BRASIL, 2010).
Ressalte-se que há outras importantes diretrizes encontradas no Artigo 8º que estabelece
que as políticas, projetos e programas governamentais voltados para a EJA, incluindo o
fornecimento de material didático e escolar, apoio educacional, alimentação e saúde dos Alunos
Considerar as instituições e instituições de ensino programas de instituições prisionais
(BRASIL, 2010). No que se refere à formação profissional em estabelecimentos prisionais, o
artigo 9º exige a observância das Diretrizes Curriculares Nacionais do Conselho Nacional de
Educação, inclusive no que se refere ao estágio profissionalizante supervisionado concebido
como ato educativo (BRASIL, 2010).
Destacamos também outra resolução muito importante, a saber, o Decreto n. 7.626, de
24 de novembro de 2011, que instituiu os Planos Estratégicos de Educação nas Prisões (PEESP)
no Brasil e dispõe em seu artigo 2º, o qual contempla a educação básica na modalidade de
Educação de Jovens e Adultos, a educação profissional e tecnológica e a educação superior,
tendo a finalidade de ampliar e qualificar a oferta de educação nos estabelecimentos penais. A
orientação do PEESP está no artigo 3º, que dispõe:

I - Promoção da reintegração social da pessoa em privação de liberdade por


meio da educação;
II - Integração dos órgãos responsáveis pelo ensino público com os órgãos
responsáveis pela execução penal; e

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III - Fomento à formulação de políticas de atendimento educacional à criança
que esteja em estabelecimento penal, em razão da privação de liberdade de
sua mãe (BRASIL, 2011, Art. 3º).

Nessa seara, os objetivos do Plano Estratégico de Educação no âmbito do Sistema


Prisional encontram-se no artigo 4º, que são:

I - Executar ações conjuntas e troca de informações entre órgãos federais,


estaduais e do Distrito Federal com atribuições nas áreas de educação e de
execução penal;
II - Incentivar a elaboração de planos estaduais de educação para o sistema
prisional, abrangendo metas e estratégias de formação educacional da
população carcerária e dos profissionais envolvidos em sua implementação;
III - Contribuir para a universalização da alfabetização e para a ampliação da
oferta da educação no sistema prisional;
IV - Fortalecer a integração da educação profissional e tecnológica com a
educação de jovens e adultos no sistema prisional;
V - Promover a formação e capacitação dos profissionais envolvidos na
implementação do ensino nos estabelecimentos penais; e
VI - Viabilizar as condições para a continuidade dos estudos dos egressos do
sistema prisional (BRASIL, 2011, Art. 4º).

Nesse contexto, Silva e Moreira (2011) apontam que, a partir dessas aprovações, abriu-
se caminho para uma discussão sobre a pertinência e especificação de um projeto político-
educativo adequado à penitenciária no sentido de se tornar uma ferramenta educacional, o um
Reinterpretando o significado de crime, punição e prisão. Esse decreto isentou o Estado
brasileiro da responsabilidade pela formação do IPL e confirmou que a escola funcionava como
direito inalienável na prisão e atuava na projeção do exercício da cidadania, ressocialização e
emancipação do IPL, conforme destaca Pereira (2011) que relatam que a educação prisional é
um processo de empoderamento social, pois existe um currículo formal e não formal dedicado
ao ensino e aprendizagem de conteúdos escolares transversais.
Segundo análise de Silva e Moreira (2011), a educação nas prisões é norteada por três
eixos, que incluem articuladamente a rede pública de ensino e a administração penal dos
Ministérios da Educação e da Justiça, e as ações interdepartamentais de educação e
administração penitenciária nos Estados. Portanto, os autores declaram:

O eixo A (gestão, articulação e mobilização) orienta a formulação, a


execução e o monitoramento da política pública para a educação nas prisões,
inclusive com a participação da sociedade civil, prática coletiva comum na
seara da educação, mas nova para a administração penitenciária e a execução
penal; O eixo B (formação e valorização dos profissionais envolvidos na
oferta) indica que a educação nas prisões deve atender, além das óbvias

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necessidades dos presos, as necessidades de formação continuada e
permanente de educadores, agentes penitenciários e operadores da execução
penal; O eixo C (aspectos pedagógicos) impõe aos Estados a obrigatoriedade
da criação de seus próprios projetos político-pedagógicos, com base nos
fundamentos conceituais e legais da educação de jovens e adultos, bem como
nos paradigmas da educação popular, calcada nos princípios da autonomia e
da emancipação dos sujeitos do processo educativo-popular (SILVA;
MOREIRA, 2011, p. 91 –grifos nosso).

Conforme os estudos de Ireland (2011), algumas medidas foram adotadas para uma
melhor educação nas prisões, sendo elas: Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); a oferta
do Exame Nacional de Certificação para Educação de Jovens e Adultos (Encceja); inclusão no
plano de ação articulado relacionado à educação (PAR); o Plano de Desenvolvimento (PDE)
de medidas específicas de apoio à educação nas prisões; a implantação (experimental) do
Programa Nacional de Integração Juvenil (ProJovem/Urbano) nas unidades prisionais; e do
Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na
modalidade de juventude e educação de adultos na educação inicial e continuada com a
educação básica (Proeia FIC).
Ainda na esteira dessa autora, a educação na prisão como forma de educação de jovens
e adultos está inter-relacionada com a garantia dos direitos humanos, seus contornos jurídicos
e administrativos. Com base nos fundamentos conceptuais e legais da educação de jovens e
adultos, assume-se que o seu acesso à educação, inserido numa concepção permanente,
representa um aspecto essencial do exercício deste direito, bem como uma possibilidade de
promover o exercício do direito para a educação na política, participar da vida social, cultural
e científica.

3 O PROCESSO EDUCACIONAL DENTRO DE UNIDADES PRISIONAIS

A educação nas prisões visa a humanização do cárcere e a formação do IPL, com vistas
a uma ressocialização mais abrangente ao término da prisão. A Educação de Jovens e Adultos
(EJA) nessa área visa tanto a educação escolar quanto a educação não formal, pois é um direito

14
garantido por lei que não pode ser negado por qualquer motivo, pois é uma medida legal, que
reúne todas as condições para contribuir para a promoção social do IPL.
Pereira (2011) conceitua e sinaliza a intencionalidade dessa educação no sistema
prisional brasileiro quando diz que a educação prisional é juridicamente um tipo de educação
de adultos que visa educar, treinar e qualificar os presos provisórios para que após cumprir o
tempo de liberdade podem se reinserir no mundo social e do trabalho com dignidade, já que
essas pessoas costumam ter pouca ou nenhuma escolaridade. Neste sentido, a maioria dos IPL
necessitam de uma formação ampla e diferenciada para que adquiram competências, saberes e
práticas que lhes permitam (re)construir a sua cidadania, se de facto foram produtivos em algum
momento da sua vida social ou sentiam-se cidadãos.
A própria educação sempre foi e sempre será um espaço que fomenta a transformação
da sociedade. A função social da educação exerce forte influência para possibilitar o
desenvolvimento e a qualificação do sujeito na sociedade. Segundo Santos (2002), a formação
prisional teve início na década de 1950. Até o início do século XIX, as prisões serviam apenas
para abrigar pessoas – prisão. Não houve sugestão de requalificação do IPL. Essa proposta só
surgiu quando os programas de tratamento estavam sendo desenvolvidos nas prisões. Antes
disso, não havia nenhuma forma de trabalho, nenhuma educação religiosa ou secular.
Devemos pensar a educação como um espaço que permite ao sujeito melhorar de vida,
onde tal sujeito tenha as condições necessárias para ingressar no mercado de trabalho com todas
as competências e habilidades para desempenhar sua função e, portanto, a capacidade de tecer
reflexão e pensamento crítico sobre a sua realidade. Assim, para Aguiar e Magalhães (2018), o
principal objetivo da educação é trabalhar a ressocialização do IPL. Algumas pessoas ainda
acreditam que a escolaridade para o IPL é uma perda de tempo e dinheiro mal investido. Mas
não podemos negar a eficácia da educação no sistema prisional porque ela tem dois objetivos,
por assim dizer, o primeiro é a reabilitação do IPL e o segundo é a remição da pena.
Aguiar e Magalhães (2018) apontam que são vários os fatores que levam os indivíduos
a buscarem a escolarização nas prisões, tais como: passatempos, penas reduzidas, acesso a
outros pavilhões, e aqueles que saem com a intenção genuína de aprendendo a transformar a
realidade de suas vidas. Portanto, a educação é um fator relevante quando se trabalha com IPL
que se encontram em situação de aprisionamento. No entanto, este trabalho deve considerar não
apenas o perdão, mas também a reabilitação por meio da autorreflexão, sob pena de retornar ao
mundo da criminalização.

15
Segundo estudos de Nunes (2005), o declínio do sistema prisional brasileiro, como o de
outros países, deve-se essencialmente ao aumento dos custos do encarceramento e à
consequente falta de investimento da administração pública no setor e à consequente
superlotação carcerária. A partir desses problemas surgem problemas como a falta de condições
necessárias para a sobrevivência, tais como: falta de higiene, má alimentação, falta de leitos;
falta de assistência médica; alto uso de drogas; corrupção; abuso sexual repetido; ambiente
violento; a quase total ausência de perspectivas de reinserção social; a falta de uma política
abrangente e inteligente para o setor.
Conforme os estudos de Craidy (2007), a educação inserida em instituições
penitenciárias é de suma importância, não só para aqueles sujeitos a penas privativas de
liberdade restritivas, mas para a sociedade como um todo, uma vez que a inserção de
conhecimentos para pessoas que apresentavam comportamento antissocial tem sido rejeitada
pela sociedade como de um modo geral, a tentativa de reeducação desses indivíduos será mais
efetiva, permitirá uma melhor convivência quando retornarem à sociedade e possibilitará maior
oportunidade no mercado de trabalho.

3.1- O direito da educação para os Indivíduos Privados de Liberdade (IPL)

Na sociedade moderna, a prisão é vista como uma instituição com uma forma de punição
por meio da privação da liberdade e prisão do condenado. Segundo estudos de Nunes (2005),
são convivências que trazem uma realidade diferente aos presos, levando a uma perda gradativa
de sua individualidade e mudanças no comportamento social.
Na prisão, o sujeito tem de se adaptar a uma nova realidade e passa a viver em grupos
fechados, sendo o maior grupo constituído pelos IPL, onde são mantidos, com regras próprias
e particulares, em que esses indivíduos provêm de diferentes realidades sociais e distintas ideias
relacionadas à família, vida em sociedade, comportamento, meio ambiente, religião, educação
e também pertencem a diferentes faixas etárias. O indivíduo excluído da convivência com
familiares e amigos já enfrenta dificuldades em aceitar as novas regras de um sistema
disciplinar. Aceitar que sua reabilitação exige superar a situação atual significa priorizar as
oportunidades de mudança.
A Educação Prisional é um grande desafio tanto para os alunos encarcerados quanto
para os profissionais envolvidos nesse processo pouco discutido. Diversos estudos apontam
críticas e alguns aspectos positivos que devem ser ampliados nesse contexto, uma vez que o

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direito à educação é de todos, segundo o artigo 205º da Lei de Diretrizes e Fundamentos da
Educação Nacional (Lei N° 9.934/1996), que traz:

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, Art. 205).

No que se refere ao direito à educação dos IPL, a Constituição Federal estabelece o


dever do estado e o direito de todas as pessoas de ter acesso à educação sem discriminação e
visa o desenvolvimento integral da pessoa e a preparação para a naturalização. A escolarização
é importante para ajudar a reabilitar os presos, estimulá-los a refletir e ensiná-los a lidar com
conflitos e contradições, ajudando assim a criar valores e responsabilidades perante a sociedade.
É uma educação voltada para um público heterogêneo, que em grande parte decorre de
processos de exclusão.
Mayer (2013 apud ONOFRE, 2015) relata que a educação prisional, por sua vez,
representa o conhecimento que advém de processos de ensino e aprendizagem que não são
característicos do sistema prisional. É uma educação que vai além do espaço prisional, pois a
educação escolar é concebida como educação prisional e, como tal, destina-se a servir à
emancipação dos seus alunos. Em síntese, a educação prisional visa adequar os sujeitos às
normas do sistema prisional, enquanto a educação prisional é uma ferramenta para a libertação
dos oprimidos. Sem desconhecer que a cultura escolar prisional se cruza com a cultura prisional,
é importante ressaltar que o processo de aprendizagem não pode se limitar à sobrevivência
nesse espaço. Então, conforme o autor supracitado, é preciso que o ambiente de aprisionamento
ensine algo de diferente do contexto da própria reclusão.
Julião (2013 apud ONOFRE, 2015) relata que a escola, como as demais práticas sociais
que ali existem, gera interações entre os indivíduos, promove situações de vida de melhor
qualidade, cria raízes, remonta identidades, fomenta redes afetivas e permite (re)conquistar a
cidadania. Situada em um espaço repressivo, estimula processos educativos para além da
escolarização, destacando a figura do professor como peça fundamental na construção de
espaços onde o IPL possa chamar o mundo de algo dinâmico e inacabado
Nesse sentido, pensar a educação nas prisões requer considerar uma questão apontada
por Ireland (2011, p. 11 apud ONOFRE, 2015, p.245) que indaga “qual seria uma educação
socialmente relevante para jovens e adultos reclusos?” Certamente, não há uma resposta única
e precisa para questão tão complexa. No entanto, alguns apontamentos sinalizados em estudos
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e por investigadores da temática nos permitem arrolar algumas possibilidades de caminhos,
fazer nossas apostas e o mais importante incluir tais enfrentamentos em nossa agenda de tarefas
imediatas.
Segundo os estudos de Onofre (2015), mesmo dentro de uma prisão, a escola é vista
como uma instituição com atribuições específicas, distinta de outras instâncias de socialização
e com identidade própria e relativa autonomia. O papel da escola é estimular situações em que
as interações e a intersubjetividade estejam presentes, permitindo enfatizar a ideia de que o
homem faz a história a partir de uma circunstância concreta e de uma estrutura pré-existente.
Ainda na esteira dessa referida autora, a sala de aula de diferentes espaços educativos é
portadora de diferentes culturas, cidadanias, identidades e cabe à escola trabalhar com esse
complexo jogo de pertencimento e pertencimento.
Onofre (2015), ainda menciona que, apesar das limitações ideológicas, sociais, políticas
e culturais, o professor tem consciência de que um dos elementos da eficácia do seu papel reside
no processo de resgate da liberdade e da cidadania perdidas, sendo a escola uma das instituições
que melhor cumpre esta tarefa. Oferecer oportunidades que libertem e conectem ao mesmo
tempo. A vida na prisão está sujeita a um tempo e espaço diferentes, mas ainda assim
pertencentes e não alheios à sociedade livre, uma vez que as prisões não estão fora da sociedade
e não infringem regras e normas sociais; pelo contrário, são protegidos pela sociedade e
obedecem às leis que ela promulga. Assim, se torna imprescindível que essas pessoas salvem a
dimensão humana de sua existência, busquem formas de assegurar-lhes seus direitos e
entendam que os presos não são meus amigos, mas não é necessário ser meu amigo, para que
eu possa reconhecer seus direitos em cada caso. Segundo Maeyer (2013 apud ONOFRE, 2015),
o direito não se dá por pena, mas porque é um direito. Ele não precisa de uma explicação, pois
escolhemos viver em sociedade e dar direitos iguais a todos. Esta exigência moral torna-se uma
exigência social e legal.
Onofre (2015), relata que diante da ineficácia das prisões no cumprimento de sua função
social. Assim a (re)interpretação e (re)construção trata-se de treinar o olhar para enxergar no
privado de liberdade o ser humano que, como todos os outros, é inacabado e inacabado
(FREIRE, 2011 apud ONOFRE, 2015) e por isso é capaz de transformar e mudar seus
caminhos.
Portanto, Onofre (2015) considerando as especificidades do contexto, indica que a
educação prisional deve ser feita a partir de uma perspectiva humanística que vá além do
período de reclusão, ou seja, entendida como um continuum que apresente uma visão coerente

18
com os direitos dos presos e ocupe desde dimensão global sem se limitar ao contexto prisional.
Ainda na linha desse autor, aprender ao longo da vida sobre o ambiente de reclusão significa
sair por um momento da condição preliminar de preso para se inscrever em uma perspectiva de
longo prazo, sem acrescentar um julgamento social ao julgamento criminal.
Conforme defende Vieira (2012 apud ONOFRE, 2015), é necessário que a educação
seja pensada para responder às necessidades e anseios da população atendida, por meio de
propostas mais adequadas ao tipo de vida e história passada, presente e futura são os condenados
que entendem que em Nesse sistema, a história da maioria dos sujeitos é marcada pela exclusão
e falta de acesso aos bens culturais e materiais que os marginalizaram e os afastaram do percurso
escolar. Pereira (2011 apud ONOFRE, 2015) relata que é preciso respeitar as especificidades
desse espaço e tentar motivar essas pessoas a enxergarem a educação como uma possibilidade
de emancipação, mesmo que estejam reclusas.
Por outro lado, é importante notar que a responsabilização da escolarização pela
(re)socialização dos IPLs não é exequível, pois, como aponta Teixeira (2007), isso exigiria mais
do que a educação devida - uma vez que a tarefa de (re)socialização e a integração na sociedade
é tarefa do sistema penal. No entanto, a educação pode ser vista como uma das ferramentas para
fortalecer esse processo.
Mayer (2011 apud ONOFRE, 2015) adverte que a especificidade da educação em sala
de prisão será, sem dúvida, ajudar o ILP a identificar e priorizar a aprendizagem para dar-lhe
sentido, pois com a ciência dos fatos pode oferecer-lhe escolhas, de modo que a capacidade de
escolha encontre seu rumo de ação, ou seja, o ego aprisionado, mas encarcerado por um certo
tempo.
Ireland (2011) aponta que a educação para o IPL diz respeito à educação formal, bem
como à educação profissional e outras necessárias ao processo de reabilitação, ou seja, quando
é um direito amplo que precisa ser garantido pelo Estado. Para tanto, a autora se manifesta
categoricamente, relatando que a educação visa cooperar para a formação plena e a libertação
do homem, enquanto a prisão visa privar as pessoas da convivência social normal, mantendo-
as separadas do restante da sociedade. Portanto, se o preso perder sua liberdade, ele não perderá
seu direito à educação e outros direitos humanos básicos. Na esteira dessa autora, como parte
essencial do processo de ressocialização, a oferta educacional para os IPL - geralmente jovens
com pouca escolaridade e baixa qualificação profissional - não deve se limitar à educação
escolar e deve ser articulada com outras ações formativas e assistenciais.

19
Com base nesse princípio, a educação nas prisões foi regulamentada e está à disposição
do IPL na forma de um direito que se afasta de perspectivas religiosas e/ou experimentais para
se basear na educação como política, de acordo com o dispositivo que rege a educação e a Lei
regula as fundações em vigor. Nesse sentido, Silva (2015) afirma que a educação nas prisões
tem o papel exclusivo de ajudar as pessoas privadas de liberdade a desenvolver competências
e habilidades para que possam competir em melhores condições pelas oportunidades
socialmente criadas.
Segundo Onofre (2015), o sistema prisional representa uma área onde grande parte da
população ainda não concluiu o ensino fundamental e médio no tempo regular. Isso significa
afirmar que a defesa da educação formal e não formal é uma luta política dentro e fora do espaço
prisional para que esse direito humano ao IPL seja concretizado. Este autor complementa
afirmando que a educação no sistema prisional é vista como um dos mais importantes
mecanismos de fomento do conhecimento que habilita os IPL a se (re)integrarem após a sua
saída do ambiente de reclusão.

3.2 - Educação e ressocialização no ambiente prisional

A educação nas prisões deve estar integrada no contexto de desenvolvimento social e


cognitivo do IPL, com possibilidades emancipatórias de educação política, libertária, capaz de
contribuir significativamente para a transformação da sociedade, promovendo o
autoconhecimento como sujeito, desenvolvendo potencialidades. Nesse contexto, a educação
para pessoas privadas de liberdade se insere na perspectiva da EJA, pois segundo Julião (2013)
é uma modalidade de formação que apresenta diretrizes que norteiam o desenvolvimento de
atividades escolares, sociais e culturais, tendo como objetivo a transformação social e política
do IPL na perspectiva do exercício da cidadania e da participação social.
Segundo estudos de Mayer (2013), há muito se fala em ressocialização de pessoas
presas, cujo objetivo é esclarecer os homens sobre suas transgressões à ordem social. O sistema
prisional é uma apreensão do Estado e especialmente dos críticos dos direitos humanos. A
educação é, portanto, um dos fatores relevantes para o processo de ressocialização do indivíduo
carente. Para Netto (2006), o principal objetivo da educação prisional é promover uma educação
que contribua para a restauração da autoestima e a eventual reinserção do indivíduo na
sociedade; realização pessoal no exercício da cidadania e na preparação para o trabalho.

20
Nesse caso, segundo Bitencourt (2011), ressocializar significa pensar em uma sociedade
mais igualitária, impor punições mais humanas, desconsiderar ao máximo as penas de prisão,
orçamentar de acordo com a dimensão do problema carcerário, formar quadros técnicos, etc. A
consequência da teoria da reabilitação específica preventiva é o tratamento do delinquente na
prisão. O primeiro revés que ocorre em relação ao tratamento prisional é a sua efetividade diante
das condições de vida que a prisão oferece atualmente. Em segundo lugar, são mencionados os
possíveis problemas para o agressor e seus direitos fundamentais que o aplicativo acarretaria.
Finalmente, a terceira posição refere-se à falta de recursos adequados e de pessoal treinado para
oferecer um tratamento prisional eficaz.
Bitencourt (2011) relata que a efetividade do processo de ressocialização depende muito
do plano de ação estadual, seja federal ou estadual, de prover locais adequados de estudo para
os detentos, de forma a proporcionar as condições mínimas necessárias para que esses detentos
possam prosseguir seus estudos. Segundo Albergaria (1996), a ressocialização é um dos direitos
fundamentais do IPL e está perpetuada ao estado social de direito, que visa assegurar o bem-
estar material de todos os indivíduos, de forma que os auxilie fisicamente, economicamente e
socialmente.
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Diante desse cenário, a pesquisa de Netto (2006) mostra que a educação promove a
ressocialização do apenado, aumenta sua autoestima e o prepara para o retorno à sociedade.
Esse retorno é abreviado pela remição das penas, pois o condenado reduz 1 (um) dia de pena a
cada 3 dias (12 horas) de atividade educacional, conforme prevê a legislação da LEP 4.210/1984
(BRASIL, 1984). Como podemos ver no seguinte dispositivo:

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto


poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar -
atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou
superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3
(três) dias. (BRASIL, 1984, art. 126º, § 1º - grifos nosso).

21
Assim, o sujeito condenado por sua prática criminosa tem o direito de reformar sua pena
tanto pelo estudo quanto pelo trabalho. Mas a intenção do decreto não é apenas reduzir a pena,
mas reabilitar o condenado por meio dos estudos. Netto (2006) afirma que o acesso à educação
é de suma importância para a vida da humanidade na atualidade, pois se o Estado proporcionar
esse acesso para todos, pode exigir eticamente que todos sejam plenamente conscientes de suas
ações e atuantes por meio das práticas de cobrança realizadas por todos, sem esquecer que todos
são arrastados por todos.
A Seção V da LEP prevê a assistência educacional como tarefa do Estado. Nela, o
Estado deve possibilitar às pessoas privadas de liberdade o acesso ao estudo seja no atual ensino
fundamental obrigatório, seja no ensino médio (seja por meio do ensino regular ou
complementar). Netto (2006) aponta que cabe, portanto, ao Estado, como alicerce do complexo
sistema da sociedade, independentemente de situações agravantes, seja pela vastidão do
território nacional ou por dificuldades estruturais e econômicas, assegurar o acesso à educação
para todos aqueles sob a proteção do Estado. Independentemente das ações do sujeito, o Estado
deve promover e facilitar o acesso à educação dessas pessoas privadas de liberdade e não deve
se omitir sobre o tema da educação.
A educação deve ser vista como um campo de reflexão da ação, pois por meio da
educação o sujeito capacita o homem a realizar ações racionais no exercício de sua autonomia.
Segundo estudos de Mendes (2013), o autor Kant considera o desenvolvimento da natureza
humana rumo a uma vida moral uma condição para esse progresso educacional. O objetivo da
educação prisional é trabalhar a questão da consciência moral dos detentos e incentivá-los a
refletir sobre si mesmos e sobre seu modo de vida em sociedade. A educação não só permite ao
condenado mudar de vida, mas também deixar o mundo do crime e viver uma vida honesta e
livre de crimes.
Ainda na esteira de Mendes (2013), o homem está destinado pela razão a viver em
sociedade com os humanos e nela cultivar, civilizar e moralizar-se, pois todo sujeito está
destinado a tornar-se humano por meio da luta ativa da humanidade contra os obstáculos
atrelados à ele por causa de sua natureza impura. Portanto, a educação é essencial na vida do
ser humano para que ele tenha a capacidade de ser ativo, pensar e tomar decisões de forma
autônoma.
A educação vai além de entregar conteúdo às pessoas, principalmente ao condenado que
cumpre pena. Tem o caráter indiscutível para a transformação e progresso do homem. Nesse
sentido, Mendes (2013) afirma que o objetivo final da educação não é teórico, mas prático, pois

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os alunos devem ser ensinados a usar suas habilidades e talentos de maneira moralmente correta
para cumprir seu destino, o que requer o desenvolvimento do julgamento moral e disciplina
necessária para agir de acordo com o dever.
Portanto, segundo Mayer (2011), a educação tem tantos significados para o condenado,
e um deles é a saída do sistema educacional, do mundo do crime, da vida limítrofe e
perturbadora da lei e da ordem. A educação é o agente transformador do comportamento moral
de pessoas que viveram à margem da sociedade.

3.3 O papel do Policial Penal frente ao processo educacional dos IPL

No que diz respeito ao ambiente prisional, importa resgatar o conceito de prisonização,


que Thompsom (2002) define como um conjunto de fatores que afetam todos os sujeitos
envolvidos no ambiente prisional (IPL, agentes, técnicos, professores), para que haja uma
personalização e uma Assimilação, que corresponde à entrada e intrusão de um grupo ou pessoa
em outro grupo, onde os dois se fundem. Assim, segundo este autor, a prisão é semelhante à
assimilação, pois toda pessoa que é encarcerada enfrenta algum grau de reclusão.
Existe uma cultura prisional em que todos os sujeitos envolvidos colecionam,
compartilham e reproduzem experiências e que na realidade prisional atual está inserida no
conceito de instituição total. Compreender a produção e reprodução dessa cultura pode ser um
passo importante para intervir na instituição como um todo e superar a incompletude
institucional. Assim, a figura do(a) PP, considerada uma nova profissão na regulamentação
brasileira e derivada dos antigos agentes penitenciários da polícia civil, está no cerne do dilema
entre segurança e educação. Assim, como compreender os educadores como integrantes da área
de atendimento do IPL que não têm se preparado para cumprir suas funções no ambiente
prisional ou com o público/alunos ali presentes, o qual enfrentam o desafio de construir uma
prática educativa naquele ambiente de reclusão, na contradição permanente entre punição e
educação para uma educação emancipatória.
Nesse sentido, segundo o executivo, essa relação é mediada diretamente pelos
servidores que exercem suas funções nas unidades prisionais. De acordo com a LEP em seu
Capítulo VI, Seção III, que trata da administração e do pessoal das instituições penais, em seu
Artigo 76, que estabelece que os servidores penitenciários são divididos em diferentes
categorias funcionais, de acordo com as necessidades do serviço, e esclarece as atribuições em
relação às funções de direção, direção e assessoria da instituição e demais funções (BRASIL,

23
1984). Em Minas Gerais, o quadro de pessoal do(a) PP é dividido em setores administrativo,
técnico e de segurança. Por mais que sejam delineadas as funções de segurança e reabilitação e
seus respectivos executores, as normativas e políticas dirigidas à profissão de PP determinam
que eles também sejam atores reabilitadores.
No entanto, segundo o Executivo, esta relação é mediada diretamente pelos funcionários
que exercem as suas funções nas unidades prisionais, ou seja, polícia criminal, técnicos e
professores, entre outros. Compete a estes profissionais o cumprimento do disposto no artigo
1.º da LEP, segundo o qual a execução penal visa a concretização do disposto na sentença ou
decisão penal e a criação de condições para a harmoniosa integração social do “condenado e do
internado”. Por meio da integração social, ou seja, dos processos de socialização que
possibilitam uma formação humana contínua do sujeito privado de liberdade. Assim, tais
profissionais navegam entre as contradições inerentes ao sistema prisional que tornam este local
de trabalho único. Isso exige certa habilidade dos servidores em conciliar a efetivação dos
direitos do IPL com a disciplina exigida pelo ambiente prisional, ao mesmo tempo em que
devem priorizar a dignidade da pessoa humana, fato mais difícil de ser superado, especialmente
dadas as condições das prisões brasileiras e o contínuo aumento da população carcerária.
Ressalta-se que não existe formação específica para professores que trabalham com o IPL.
Além disso, a questão da primazia da manutenção da ordem e da disciplina no tocante
ao castigo é abordada no contexto das atividades escolares na prisão nas salas de aula. Assim,
para além das salas de aula, a relação com as forças de segurança na prisão parece ter uma
influência significativa no desenvolvimento das atividades escolares, quer ao nível da
possibilidade de atingir um maior número de IPL, quer ao nível da concessão de acesso aos
direitos dentro ou fora do ambiente de reclusão.
Nesse sentido, Mayer (2006) menciona que a educação na prisão não é apenas educação
para os presos. A educação prisional na perspectiva da aprendizagem ao longo da vida para
todos inclui o meio ambiente e, portanto, também os funcionários (administrativos e técnicos
analistas) e os(as) PP. Em muitos países, esses profissionais recebem treinamento básico sobre
funções e medidas de segurança. O seu papel potencial no apoio e promoção da educação formal
e não formal ainda é pouco enfatizado.
Segundo Moraes (2013), há poucas pesquisas sobre a figura do(a) PP no processo de
formação do IPL, embora seja peça fundamental no contexto prisional. Durante décadas, a
identidade desses profissionais foi subestimada e desvalorizada, uma imagem distorcida,
desvalorizada e estigmatizada na sociedade, pois esse agente era associado ao carrasco

24
medieval e aos corruptos. Portanto, é importante conhecer a atuação desses profissionais que
educam e contribuem para a reabilitação do IPL.
Algumas experiências têm sido promovidas com sucesso em alguns países e o papel
social da polícia criminal tem sido destacado e valorizado – são as pessoas que mais têm contato
com os presos. O papel que desempenham entre todos os funcionários da prisão e em relação
às famílias dos reclusos é vital. Para tanto é necessário manter e aprimorar o entendimento sobre
a continuidade da formação entre aqueles que atuam no contexto prisional, a fim de despertar
a motivação das pessoas privadas de liberdade e dos profissionais que com elas trabalham e
defendem a compreensão o direito à educação como inevitável e as políticas públicas de
educação nas prisões como resultado das políticas nacionais.

4 A EDUCAÇÃO PRISIONAL EM MINAS GERAIS

Segundo estudos de Craidy (2007), os Planos Estaduais de Educação nas Prisões contêm
planos de oferta de ensino fundamental e superior, educação profissional e tecnológica e

25
atividades complementares à educação escolar com o objetivo de ampliar e qualificar a oferta
dos estabelecimentos prisionais. As atividades patrocinadas pelo governo federal e
implementadas pelas secretarias estaduais de educação incluem: Turmas de Educação de Jovens
e Adultos, Programa Brasil Alfabetizado e Exames Nacionais de Certificação. A educação
deve, portanto, ser preconizada nos planos estaduais de educação, enfatizando planos, diretrizes
e metas a serem alcançadas. A educação desenvolve no homem a capacidade de exercer seu
raciocínio em sociedade e lhe dá a capacidade de analisar e refletir sobre sua realidade.
Segundo Craidy (2007), a assistência educacional é um dos serviços básicos mais
importantes não só para o homem livre, mas também para o IPL, e nesse sentido constitui um
elemento do tratamento prisional como meio de reintegração do indivíduo no meio social. A
educação é garantida a todas as pessoas e visa o pleno desenvolvimento da personalidade
humana e o fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais.
O primeiro registro de práticas de educação escolar nas prisões mineiras encontra-se em
Câmara (1951 apud AMORIM-SILVA, 2016). O autor relata que, na época, o sentenciado
trabalhava nos presídios de Ouro Preto e Uberaba em oficinas de sapateiros e carpinteiros, o
qual aprendia um ofício. A educação oferecida era filantrópica e ainda não regulamentada pela
Secretaria Estadual de Educação (SEE), realizada por duas freiras da Itália que trabalhavam
com o apoio do IPL.

● Na década de 60 foi reconhecida pela SEE e de acordo com o artigo 31º do Código
Mineiro do Ensino Fundamental, a Escola César Lombroso foi autorizada a funcionar e
desenvolver suas atividades com 09 classes básicas - 1ª a 4ª série;
● Na década de 70, o supletivo foi a modalidade de ensino ofertada nas escolas prisionais
para as turmas de 5ª a 8ª série. Executado por meio das Unidades de Estudos Supletivos;
● Nas décadas de 80 e 90, passou a chamar-se Centro de Estudos Supletivos (CESU);
● Nos anos 2000, o Centro Estadual de Educação Continuada consistia em uma espécie
de serviço escolar com métodos de ensino personalizados e matrículas por disciplinas
de acordo com os interesses e possibilidades dos alunos, sem frequência diária.

Desde 2004, a antiga SEDS e agora a SEJUSP trabalham em parceria com a SEE para
regulamentar, melhorar e expandir os serviços educacionais nos estabelecimentos prisionais de
Minas Gerais. A partir de 2005, de acordo com a orientação nacional que indica a modalidade
EJA para escolas em presídios, o departamento de pedagogia elementar foi convocado nas

26
primeiras e últimas séries, cada uma com três períodos de instrução; A inclusão do ensino
médio, bem como todas as escolas prisionais existentes e desde então criadas em Minas Gerais,
foram regidas por portarias para esses tipos de oferecimentos. Assim, em 2007, foi assinado o
primeiro convênio entre essas secretarias, estabelecendo um trabalho conjunto para a oferta e
implantação da educação de jovens e adultos nas unidades prisionais do Estado.

4.1 O plano estadual de educação nas prisões em Minas Gerais

Atualmente vigora um Convênio que firma o termo de cooperação mútua entre a SEE e
a SEJUSP, para o atendimento dos estudantes/IPL, por meio da oferta de educação básica,
atividades educacionais regulares e atividades educacionais complementares nas Unidades
Prisionais, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, em todo Estado de Minas Gerais.
Esse termo estabelece a responsabilidade compartilhada basicamente em dois pilares: a
infraestrutura e a segurança sob incumbência da SEJUSP, enquanto a SEE se responsabiliza
pelo pedagógico, pelos materiais (permanentes e de uso contínuo) e pelos recursos humanos.
Cabe destacar que esse convênio foi assinado em março de 2019 e tem validade de 60 (sessenta)
meses (MINAS GERAIS, 2023).
De acordo com o Plano Estadual de Educação para Pessoas Privadas de Liberdade e
Egressas do Sistema Prisional de Minas Gerais do ano de 2021, apresenta os ordenamentos que
amparam a educação do indivíduo privado de liberdade, podemos citar a Lei de Execução Penal
nº 7.210 de 11/07/1984, a Resolução nº 02, de 19/05/2010 (Dispõe sobre as Diretrizes Nacionais
para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos
estabelecimentos penais), a Resolução nº 03, de 11/03/2009 (Dispõe sobre as Diretrizes
Nacionais para a Oferta de Educação nos estabelecimentos penais), a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Básica (LDB) nº 9394 de 1996 (Estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional), e o Acordo de Cooperação técnica entre a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança
Pública e a Secretaria de Estado de Educação. As diretrizes legitimam a educação escolar nas
prisões que deve estar articulada com o Sistema de Educação Brasileiro, o Sistema de Justiça
Penal e a sociedade (MINAS GERAIS, 2021).
De acordo com o referido Plano Estadual, essa proposta é vista como uma melhoria da
organização da oferta educacional nos estabelecimentos prisionais do Estado de Minas Gerais
e definição de novas estratégias para qualificar a política de educação no âmbito do sistema

27
prisional aos privados de liberdade e egressos, nos exercícios de 2020 a 2024, pautando-se pelas
seguintes diretrizes:

1. Fortalecimento da parceria ou pactuação dos profissionais da Secretaria de


Estado de Educação e Secretaria de Justiça e Segurança pública atuantes na
oferta de educação básica dentro das unidades prisionais;
2. Fortalecimento das ações articuladas com diversos órgãos estaduais dos
Poderes Executivo e Judiciário e com Instituições Públicas e Privadas de
Ensino;
3. Busca de parcerias formais com a Sociedade Civil Organizada para ações e
controle social relacionados à política de mulheres no sistema prisional;
4. Ampliação da oferta educacional, considerando atividades socioculturais,
esportivas e projetos de leitura;
5. Adequação dos espaços para qualificação das atividades educacionais em
sentido amplo;
6. Fortalecimento das ações com o governo federal na efetivação dos repasses
financeiros em prol da educação nas prisões;
7. Busca por parceria para oferta de programa de alfabetização para pessoas
privadas de liberdade do sistema prisional.
8. Promoção da igualdade efetiva e a garantia de assistência educacional,
considerando as especificidades das mulheres, idosos, estrangeiros, população
LGBTQIA, indígenas e minorias étnico-raciais, pessoas com transtorno
mental e pessoas com deficiência (MINAS GERAIS, 2021, p. 8 e 9)

Nesse sentido, os objetivos do presente Plano Estadual foram delineados balizando-se


nas diretrizes, no diagnóstico de educação no sistema prisional estadual, e nas possibilidades
encontradas junto às redes parceiras, sendo eles:

1. Promover a reorganização e os alinhamentos adequados a fim de definir


fluxos, rotinas e procedimentos para as ações educacionais no sistema
prisional;
2. Aprimorar os instrumentos de captação de dados sobre os processos,
atividades ações de educação para pessoas presas e egressas no Estado;
3. Realizar levantamento diagnóstico de dados sobre os processos, atividades
e ações de educação para pessoas presas e egressas no Estado;
4. Propor elaboração de cursos de capacitação para aperfeiçoamento e
qualificação dos profissionais da educação e do sistema prisional;
5. Desenvolver estratégias para a ampliação da oferta de atividades
educacionais no sistema prisional do Estado;
6. Desenvolver estratégias para elevação da escolaridade dos custodiados;
7. Considerar a diversidade de públicos no sistema prisional para o fomento à
educação formal e não formal;
8. Buscar articulações para garantir acesso à educação formal e atividades
complementares para pessoas que cumprem pena em meio aberto (semiaberto/
aberto) e para egressas do sistema prisional;
9. Elaborar normativos para organização do ensino formal e não formal;
10. Buscar soluções para o aumento e/ou readequação dos espaços
educacionais no sistema prisional;

28
11. Ampliar as ações dos projetos de acesso à leitura, inclusive com a busca
de instituições parceiras para realização de projetos de remição pela leitura;
12. Ampliar as ações das atividades socioculturais e esportivas nas unidades
prisionais, incluindo a busca por instituições parceiras para realização de
projetos;
13. Buscar articulações para que as ações educacionais no sistema prisional
sejam efetivadas em todas as unidades prisionais do Estado;
14. Ampliar a oferta de educação à distância, com diferentes métodos, para o
sistema prisional;
15. Capacitar pessoas egressas do sistema prisional acompanhados pelo PrEsp
e seus familiares por meio da oferta de cursos de curta duração;
16. Promover, através da articulação com entes públicos e privados, a
assistência educacional aos grupos específicos do sistema prisional;
17. Promover a formação profissional e tecnológica articulada com aumento
de escolaridade dos indivíduos privados de liberdade.
18. Buscar compor o quadro pessoal da SEJUSP para o melhor atendimento e
desenvolvimento da assistência educacional no sistema prisional (MINAS
GERAIS, 2021, p. 9 e 10).

4.2 As práticas educativas2

Conforme os estudos de Amorim-Silva (2016), de acordo com o Plano Estadual de


Educação para Pessoas Privadas de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional de Minas Gerais,
a oferta de ensino e a gestão escolar é de responsabilidade da SEE que mantém o funcionamento
das escolas nas unidades prisionais; a SEJUSP é responsável pela estruturação dos espaços e
encaminhamento dos privados de liberdade para as atividades educacionais. O Analista
Executivo de Defesa Social - Pedagogo e/ou responsável pelo Núcleo de Ensino e
Profissionalização (NEP) realiza a interface entre a escola - aluno - unidade prisional,
possibilitando o acesso dos privados de liberdade às atividades educacionais formais. Dentre
outras ações destaca-se o desenvolvimento de atividades socioculturais e esportivas, bem como
a matrícula em cursos profissionalizantes e de graduação (MINAS GERAIS, 2021)
Segundo Amorim-Silva (2016) e ainda na esteira desse Plano Estadual de Educação, a
oferta educacional é coordenada pelo Departamento Penitenciário, por intermédio da
Superintendência de Humanização do Atendimento, representada pela Diretoria de Ensino e
Profissionalização (DEP), em conjunto com a Subsecretaria de Desenvolvimento de Educação
Básica, por meio da Superintendência de Políticas Pedagógicas e sua Diretoria de Ensino
Médio. Nessa perspectiva, contempla ações pedagógicas voltadas para a educação básica, na

2
Este item está embasado nos estudos de Amorim-Silva (2016), conforme a dissertação apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social da Faculdade de Educação da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
29
modalidade EJA, a fim de reafirmar o direito, o acesso, a permanência e a qualidade do ensino
nas escolas em funcionamento nas Unidades Prisionais do Estado de Minas Gerais (MINAS
GERAIS, 2021).
A legislação estadual das escolas de Unidades Prisionais em Minas Gerais é regida pela
Instrução para a Organização da Educação Básica de Jovens e Adultos nas Escolas Estaduais
em funcionamento nas Unidades Prisionais de Minas Gerais de 2008 e pelo Regimento da
Educação de Jovens e Adultos nas Escolas Estaduais em funcionamento nas Unidades
Prisionais de Minas Gerais desde 2011. A estrutura organizacional e curricular presente nesses
regulamentos determina que o Ensino Fundamental deva ser dividido em Anos Iniciais e Anos
Finais, os quais têm ambos a duração de três anos letivos, organizados em três períodos. Os
períodos são desenvolvidos em regime anual, tendo cada um a duração de duzentos dias letivos,
quarenta semanas anuais, cinco dias de cento e cinquenta minutos de carga horária presencial,
com carga horária total de mil e setecentas horas. As turmas de alfabetização são integradas no
processo de aprendizagem do curso completo de Ensino Fundamental (AMORIM-SILVA,
2016).
Segundo os estudos de Amorim-Silva (2016), de acordo com o Regimento supracitado,
a organização curricular do Ensino Fundamental compreende, no mínimo, os seguintes
componentes da Base Nacional Comum: Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia,
Ciências, Artes, Educação Física e Ensino Religioso. Consta que tais conteúdos curriculares
devem ser trabalhados de maneira interdisciplinar, a partir da problematização de temas
geradores, priorizando-se a dimensão formativa sobre a informativa. Enfatiza que a abordagem
dos temas curriculares deve ser interativa e contextualizada, definindo para cada período os
objetivos a serem atingidos conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais. No tocante às
práticas educativas, o regimento estabelece que devam resultar de um planejamento coletivo e
levar em consideração a realidade e as potencialidades de alunos e professores. Salienta, ainda,
que os currículos do Ensino Fundamental têm a obrigação de abranger o estudo da Língua
Portuguesa e da Matemática, o conhecimento físico e natural e da realidade social e política
especialmente do Brasil.
Ainda na esteira dessa autora, o Ensino Médio tem a duração de dois anos letivos
organizados em três períodos. O primeiro período é desenvolvido em regime anual, de duzentos
dias letivos e quarenta semanas letivas. O segundo e o terceiro períodos são desenvolvidos em
regime semestral tendo cada um a duração de 100 (cem) dias letivos e 20 (vinte) semanas
letivas, sendo a carga horária total presencial de 1200 (mil e duzentas) horas. Cabe destacar que

30
os temas transversais são trabalhados conforme a exigência legal, sendo que cada disciplina é
programada de acordo com o currículo e a proposta pedagógica, os quais são construídos pela
unidade escolar por meio de seu Projeto Político Pedagógico.
Amorim-Silva (2016), relata que as escolas, para serem instaladas nas unidades
prisionais, necessitam obter autorização a partir de demanda existente e ambientação adequada
de salas de aula comprovadas em documento pelo Diretor Geral da referida Unidade Prisional
(UP) e encaminhada à DEP. Esta, por sua vez, solicita tal instalação à Superintendência
Regional de Ensino da região à qual a unidade pertence. A partir de então, a forma de
funcionamento segue a mesma forma de organização de qualquer outra instituição escolar de
educação básica da rede estadual de ensino de Minas Gerais. Assim, também devem proceder
à inscrição das suas turmas em funcionamento no SIMADE (Sistema Mineiro de Administração
Escolar) e lançar os dados no Educacenso do governo federal. Tais procedimentos, inclusive,
são necessários para questões de financiamento, uma vez que essas escolas têm recebido verbas
através das fontes de recursos públicos do governo federal vinculados à manutenção e ao
desenvolvimento do ensino, entre as quais o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), Plano Nacional
de Educação (PNE) e Plano de Ações Articuladas (PAR).
No que se refere ao material didático e pedagógico, Amorim-Silva (2016) relata que as
escolas do ambiente prisional recebem a cada 3 (três) anos os livros didáticos do Programa
Nacional do Livro Didático para a EJA (PNLDEJA), para alunos do Ensino Fundamental, e do
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para os alunos do Ensino Médio. A distribuição
é feita pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Nesse sentido, a LEP
dispõe em seu artigo 21º, cada estabelecimento prisional deverá dotar-se de uma biblioteca.
Nesse sentido, a autora supramenciona esclarece que o acervo das bibliotecas é montado
por meio do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) pelo qual o MEC disponibiliza verbas
para aquisição de livros de leitura. Sendo assim, os Núcleos de Ensino e Profissionalização
(NEP) das unidades juntamente com a escola promovem campanhas de arrecadação de livros
literários para ampliação do acervo das Unidades Prisionais. O empréstimo de livros é realizado
de acordo com o planejamento de cada escola e/ou UP, mas, geralmente, é feito um cadastro
com dados pessoais e estipulada a data de entrega.
Amorim-Silva (2016), destaca ainda que não há uma normatização específica para todo
o estado sobre a utilização do material didático e literário. Quanto aos demais materiais, cabe
ao Diretor-Geral de cada UP deliberar sobre os critérios de acordo com o perfil dos IPL,

31
observando o seu grau de periculosidade e os transtornos que o uso de tais materiais acarretará.
Um importante ato de estímulo à leitura foi a Recomendação nº 44 de 26 de novembro de 2013
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que dispõe sobre atividades educacionais
complementares para fins de remição da pena pelo estudo e estabelece critérios para a admissão
pela leitura e assim dispõe em seu artigo 5º: "estimular, no âmbito das unidades prisionais
estaduais e federais, como forma de atividade complementar, a remição pela leitura,
notadamente para apenados aos quais não sejam assegurados os direitos ao trabalho, educação
e qualificação profissional ".
Nos estudos de Amorim-Silva (2016), é mencionado que constitui falta disciplinar grave
o dano ou extravio de livros conforme artigo 27, inciso XII do Regulamento Disciplinar
Prisional (REDIPRI), a saber: "danificar, dolosamente, objeto ou equipamento do
estabelecimento ou de terceiros". Caso um IPL pratique tal ato, será lavrado auto de infração e
encaminhado ao Conselho Disciplinar (CD) e, caso este seja considerado culpado
incidentalmente por aquele conselho, poderá ser retido em cela de onze a trinta dias, com
benefícios suspenso até que o Juiz pronuncie em audiência de justificação, podendo este ato
acarretar, inclusive, na regressão do regime e na perda dos dias remidos, se houver.
Ainda de acordo com essa autora, quanto ao modo de inserção dos IPL em atividades
educativas, incluindo sua matrícula escolar, ela ocorre por meio de um vasto processo que se
inicia a partir de sua admissão na Unidade Prisional (UP). Trata-se da Classificação do IPL
regida pelo Capítulo I do Título II da LEP. Conforme o artigo 5º da referida legislação, os
condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e sua personalidade, para orientar
a individualização da execução penal. Já no artigo 6º a lei regulamenta que a classificação será
feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador da pena
privativa de liberdade adequada ao condenado ou IPL provisório. E por fim, no artigo 7º, aponta
os integrantes dessa comissão técnica classificatória, sendo presidida pelo diretor e composta,
no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um)
assistente social (BRASIL, 1984).
Amorim-Silva (2016), esclarece ainda que, ao ser admitido na UP, o IPL é submetido a
atendimentos em todos os setores que prestam as assistências garantidas a ele constantes na
LEP (saúde, assistência educacional, social, psicológica e jurídica). Por meio de um documento
intitulado Entrevista de Classificação, os profissionais desses setores traçam um perfil do IPL
correspondente à sua área de atuação. No que diz respeito à educação, o profissional
responsável por realizar tal entrevista é o pedagogo da SEJUSP, na qual é realizado

32
levantamento quanto à vida pregressa do IPL, a fim de obter informações a respeito de sua
trajetória escolar até o momento da entrevista. De posse dos dados de escolaridade, nome da
última escola e cidade onde estudou, situação do histórico escolar, torna-se possível identificar
a situação escolar desse IPL e então encaminhar a síntese dessa entrevista para a reunião da
Comissão Técnica de Classificação (CTC).
Em Minas Gerais, é uma equipe multidisciplinar (formada por técnicos de saúde,
psicólogos, assistentes sociais, analistas jurídicos, educadores e vigilantes). Seu principal
objetivo é realizar um encontro para discutir a coleta de informações de diferentes áreas que
ocorreu na entrevista de classificação e para a elaboração do Programa de Reabilitação
Individualizado. Neste sentido, havendo interesse em estudar e indicado pelo CTC, o IPL passa
a inscrever-se de acordo com a oferta de emprego de acordo com as suas necessidades
educativas, bem como cursos profissionalizantes, participação em atividades culturais,
desportivas e de lazer e realização de provas do Exame Nacional para Certificação de
Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA) e Exame Nacional do Ensino Médio para
Pessoas Privadas de Liberdade (ENEM PPL), buscando contribuir para a melhoria da qualidade
desse nível de escolaridade, proporcionando ao IPL a chance de conclusão e certificação do
Ensino Médio e/ou de concorrer às vagas em Instituições de Ensino Superior (IES) (AMORIM-
SILVA, 2016).
Amorim-Silva (2016), relata que tais exames, ao atingirem pessoas privadas de
liberdade, garantem seu acesso aos programas e políticas educacionais e escolares do governo
federal e afirmam nosso compromisso constitucional com a educação universal e igualitária.
Ainda que dentro de uma perspectiva escolástica, a inclusão das pessoas privadas de liberdade
nesses exames representa uma concepção delas como sujeitos de direito. Para que isso aconteça
nos presídios, cada unidade junto ao Inep tem termo de compromisso, responsabilidades e
obrigações assinado e um educador é responsável por realizar o cadastramento de todos aqueles
que desejam prestar os referidos exames.
No que se refere à documentação escolar, caso não seja possível obter o seu histórico
escolar anterior, é aplicada uma Avaliação Diagnóstica pela escola de acordo com o artigo 24,
item II (c), da lei nº 9394 de dezembro de 1996 LDB para a reclassificação e devida enturmação
do aluno IPL tanto para o Ensino Fundamental, quanto para o Médio. Faz parte, ainda, da
política pública de educação nas prisões a oferta de educação denominada não formal pelos
regulamentos artigo 10º da Resolução nº 03/2009 do CNPCP, artigo 12º da Resolução
nº02/2010 da CEB. Estas são realizados através de projetos e atividades desenvolvidas nas

33
escolas e/ou instituições parceiras, por meio de atividades socioculturais e desportivas, tais
como: artesanato, música, dança, artes visuais, teatro, projetos literários e cinematográficos,
bem como projetos específicos para o público feminino e LGBTQIA+ (AMORIM-SILVA,
2016).
Nesse sentido, Amorim-Silva (2016) relata que a educação nas prisões, inicialmente
concebida como um dispositivo capaz de transformar as pessoas com o objetivo de sua
reabilitação, e posteriormente como suporte básico com o objetivo de sua integração social,
caracteriza-se atualmente pela eficácia na garantia do acesso a esse direito em vista da
Integração em aspectos sociais básicos apoia os serviços em um processo permanente de
socialização. Nessa última perspectiva, propõe-se que não apenas o sistema de ensino escolar
cumpra essa função, mas que todo o sistema prisional possa se constituir como um espaço
educativo na concepção de educação. No entanto, percebe-se que ainda há um longo caminho
a ser percorrido, pois a própria escola luta para se enxergar por meio dessa perspectiva.
Nota-se que há uma cadeia de ampliações e evoluções na oferta educacional nas prisões
mineiras. Nota-se, ao longo do tempo, o desejo de incorporar às políticas educacionais estaduais
o que tem sido uma tendência nacional em educação. A oferta de níveis de ensino expandiu-se,
começando pelo antigo ensino básico e estendendo-se agora ao nível superior. As modalidades
também foram modificadas, compreendendo as especificidades desse público, que agora faz
parte da concepção da EJA. Ressalte-se que, segundo estudos e dados levantados, a oferta
educacional nas penitenciárias mineiras tem se concentrado essencialmente na educação
escolar. Existem atividades educativas não formais específicas que acabam por se tornar parte
de projetos escolares complementares (AMORIM-SILVA, 2016).
De acordo com os estudos de Amorim-Silva (2016), a consolidação de um convênio
entre a SEE e a SEJUSP foi um passo importante para exigir que as ações pedagógicas nesse
ambiente possam ao menos ser mais aceitas e mais padronizadas entre as unidades. É inegável
que a educação nas prisões mineiras está em meio a um processo onde há lacunas e muito
trabalho a ser feito. No entanto, é importante destacar como esse tema tem ganhado espaço no
contexto prisional e por isso tem demandado maior investimento e a implantação de um projeto
político-pedagógico específico, bem como a criação de materiais didáticos específicos.

34
Segundo Ireland (2011), o panorama atual da escolarização nas prisões tem revelado
tanto fragilidades quanto necessidades emergentes. Por outro lado, com base nas leis e diretrizes
nacionais vigentes, mostram-se possibilidades de implementação de uma ordem pública
pedagogicamente articulada com a execução de penas. Nessa perspectiva, Craidy (2007) aponta
que a educação prisional atinge um pequeno número de detentos no Brasil e no mundo. Mais
ainda, indica que a possibilidade de um trabalho efetivo de educação escolar nos presídios se
sustenta, atualmente, principalmente no empenho pessoal dos envolvidos na tarefa. Isso pode
revelar uma contradição na medida em que as previsões normativas nacionais e internacionais
sobre o tema apontam para um movimento que reafirma a educação como um direito de todos.
Para tanto, é fundamental ampliar esforços de articulação entre a administração
penitenciária e as instituições de ensino, representadas no nível macro pelos Ministérios da
Justiça e da Educação e no nível micro por seus gestores e técnicos, ressaltando a
responsabilidade de todos a aplicabilidade do direito à educação e, portanto, às políticas
nacionais. É fundamental reconhecer que a criação de novas escolas, principalmente ligadas ao
ensino profissional, não é suficiente para resolver o problema da educação de jovens e adultos
do IPL. É preciso valorizar e colocar em prática uma concepção ampla e articulada de educação,
capaz de promover e contribuir para a formação de sujeitos com potencialidades e competências
que favoreçam a mobilidade social.
Como se depreende da análise das representações do IPL, o cotidiano escolar na prisão
apresenta contradições frente às bases que norteiam a regulação normativa. A superação dessa
situação pode ser feita na medida em que a educação prisional seja politicamente articulada
com uma orientação interdisciplinar, capaz de buscar sobretudo a implementação das políticas
existentes que, se aplicadas, podem contribuir para melhorar o acesso à melhoria do direito à
educação nas prisões.
Segundo Oliveira (2013), nos ambientes prisionais, a escola deve priorizar uma
concepção e uma prática pedagógica capaz de promover, sobretudo, a formação de cidadãos
conscientes de sua realidade social e de seus direitos. Portanto, é importante que os órgãos
competentes adotem a educação como uma das políticas de inclusão social e vejam, em
articulação com as políticas setoriais, a construção coletiva de uma educação voltada para a
formação crítica e integral, e não apenas escolar.

35
O debate e a discussão sobre a educação dentro do sistema prisional continua sendo um
tema bastante delicado e espinhoso para a sociedade e para os pesquisadores da área. Podemos
dizer que é um tema delicado porque ainda se acredita que o indivíduo privado de liberdade não
tem direito à educação. Delicada, porque quando você fala em educação está falando do sistema
como um todo. Sabemos que as pessoas privadas de liberdade continuam a ser tratadas de forma
desumana no século XXI.
Portanto, trilhamos um caminho para mostrar a relevância da educação no sistema
educacional. Somos guiados por não discutir a questão do crime dos IPL. Assim, dentro do
sistema prisional, a educação tem duas finalidades, podemos dizer: a primeira é a
ressocialização do IPL e a segunda é a remição da pena. Portanto, a educação é um fator
importante no processo de reabilitação do IPL. Devemos entender que educação é muito mais
que conteúdo, é o ponto chave para fazer o sujeito pensar, analisar e refletir sobre seu cotidiano
e modo de vida. Não pretendemos fazer juízos de valor sobre o seu comportamento. Mas a
educação por si só é capaz de obrigar esse indivíduo a realizar uma autoanálise.

36
1) De acordo com a análise de Silva e Moreira (2011, p. 91), a educação nas prisões é orientada
por três eixos que envolvem, de forma articulada, o sistema público de ensino e a execução
penal. Qual das alternativas NÃO é considerada como um desses eixos?
a) Gestão, articulação e mobilização.
b) Aspectos estéticos e rígidos.
c) Formação e valorização dos profissionais envolvidos.
d) Aspectos pedagógicos.

2) De acordo com o artigo 126º da LEP 4.210/1984, que relata que o condenado que cumpre a
pena em regime fechado ou semiaberto terá remição por estudo, tem-se que o apenado diminui:
a) 1 (um) dia de pena a cada 5 dias (20 horas) de atividades pedagógicas.
b) 1 (um) dia de pena a cada 4 dias (16 horas) de atividades pedagógicas.
c) 1 (um) dia de pena a cada 3 dias (doze horas) de atividades pedagógicas.
d) 2 (dois) dias de pena a cada 3 dias (doze horas) de atividades pedagógicas.

3) De acordo com o Plano Estadual de Educação para Pessoas Privadas de Liberdade e Egressas
do Sistema Prisional de Minas Gerais, estabelece a definição de novas estratégias para qualificar
a política de educação no âmbito do sistema prisional aos privados de liberdade e egressos, nos
exercícios de 2020 a 2024, pautando-se pelas seguintes diretrizes, EXCETO:
a) Ampliação da oferta educacional, considerando atividades socioculturais, esportivas e
projetos de leitura.
b) Adequação dos espaços para qualificação das atividades educacionais em sentido amplo.
c) Fortalecimento das ações com o governo federal na efetivação dos repasses financeiros em
prol da educação nas prisões.
d) Promoção da igualdade efetiva e a garantia de assistência educacional, considerando
especificamente as mulheres e idosos.
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