Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
A radiologia é uma área importante, que abrange diversas técnicas que
utilizam radiação. A descoberta da radiação e de seus usos, no final do
século XIX e início do XX, resultou em grandes avanços na medicina, agri-
cultura, odontologia, veterinária e indústria. Na medicina, por exemplo, a
radiologia possibilita o diagnóstico por imagem, bem como o tratamento,
o acompanhamento e a prevenção de doenças.
Neste capítulo, você vai estudar a história da radiologia, conhecendo
os principais acontecimentos que marcaram o seu desenvolvimento.
Além disso, vai ver como as técnicas radiológicas são empregadas em
diferentes áreas e vai ter uma noção geral do que são as radiações ioni-
zante e não ionizante.
2 Panorama histórico, fundamentos básicos e introdução à radiologia
História da radiologia
No dia 8 de novembro de 1895, na tentativa de bloquear o efeito da luminosidade
externa sobre a fluorescência que emanava naturalmente de um novo tipo de tubo,
denominado de Crookes-Hittorf, o físico alemão Wilhelm C. Röntgen colocou
o tubo dentro de uma caixa de papelão e escureceu o ambiente. Ao fazer isso,
notou, espantado, que uma cartolina com platinocianeto de bário, colocada a
alguns metros do aparelhamento, fosforescia no escuro. Alguma coisa estava
sendo emitida pelo tubo, pois, ao desligá-lo, a fosforescência desaparecia.
Röntgen começou então uma série de experimentos que duraram semanas,
procurando entender a natureza do fenômeno. Sendo assim, testou colocar
vários objetos entre o tubo e a cartolina e percebeu que todos ficavam com
aparência transparente. Sua maior surpresa, porém, foi quando sua própria
mão escorregou para frente e ele pode ver seus ossos no papel.
A partir desse momento, a humanidade podia observar o interior do corpo
em um organismo intacto, por meio daquilo que foi, por muitos anos, conhecido
pelo nome de seu descobridor: o roentgenograma.
Röntgen registrou essas imagens em seus estudos e somente em período
posterior percebeu que estava diante de algo novo. Em 28 de dezembro de
1895 ele entregou à Sociedade Físico-Médica de Wurzburg, um relatório
preliminar da descoberta, descrevendo a pesquisa que fizera nas sete semanas
anteriores, na qual os objetos se tornavam transparentes diante de raios ainda
desconhecidos — motivo pelo qual ele chamou esses raios de raios X.
Em 1901, Röntgen foi laureado pela descoberta com o primeiro Prêmio
Nobel da Física. Posteriormente, por sua importância histórica, seu nome foi
dado como o elemento número 111 da tabela periódica.
Röntgen descobriu os raios X por acaso — sobre isso parece não haver dúvidas. De
qualquer forma, não se sabe qual foi o acidente que proporcionou essa descoberta
e em que momento exato ela ocorreu pela primeira vez. É difícil imaginar que, no
primeiro arranjo experimental, ele tenha realmente envolvido o tubo com a cartolina.
O que, de fato, ele esperava ver atravessando a cartolina, será que era mesmo o raio
X? Seria possível alguém abordar aquela quantidade de aspectos fundamentais de
um fenômeno totalmente desconhecido em questão de meses, por mais genial que
seja? Acidente ou não, o fato é que a repercussão da descoberta foi de tal ordem que,
com justiça, ele recebeu o primeiro Prêmio Nobel de Física.
Panorama histórico, fundamentos básicos e introdução à radiologia 3
Com a morte de Pierre, em 1906, Marie Curie não parou seus estudos sobre
radioatividade, mas seguiu, principalmente, na linha de estudo de técnicas de
uso da radiologia para aplicações terapêuticas. Em consequência disso, em
1911, mais uma vez recebeu um Prêmio Nobel, mas dessa vez de Química,
devido a suas pesquisas com o uso do elemento rádio, sendo a primeira pessoa
a ganhar o Prêmio Nobel duas vezes. Em atitude totalmente altruísta, optou por
tornar públicas suas descobertas, não patenteando o processo de isolamento
com uso do elemento rádio, permitindo que investigação das propriedades
pudessem continuar por toda a comunidade científica.
Marie Curie ainda fundou o Instituto do Rádio, situado em Paris, local onde
se formaram diversos e importantes cientistas, reconhecidos no mundo inteiro
por suas contribuições cientificas. Em 1922, Marie Curie também se tornou
membro da Academia de Medicina. Seu falecimento, em 1934, foi uma perda
inestimável à comunidade científica, mas o seu legado já era concreto. A causa
da sua morte está associada à uma leucemia, provavelmente provocada pela
exposição aos elementos radioativos que tanto estudava em suas pesquisas.
O legado de Marie não acabou com seu falecimento. Sua filha Irène Joliot-
-Curie, totalmente inspirada pela mãe, trabalhou com o seu marido, Frédéric
Joliot, na análise de campos da estrutura dos átomos e em física nuclear, estu-
dando as estruturas de nêutrons. Assim descobriu a radioatividade artificial,
feito que lhe rendeu também um Prêmio Nobel de Química, 1935.
Expondo um pouco mais da história da radioatividade, a Agência Inter-
nacional de Energia Atômica (Iaea) nos mostra aonde ocorreram alguns fatos
considerados “acidentes”. Veja a seguir.
6 Panorama histórico, fundamentos básicos e introdução à radiologia
O projeto Manhattan
Em carta enviada ao presidente Franklin Roosevelt em agosto de 1939, o
conhecido físico Albert Einstein, ganhador do Prêmio Nobel de Física de
1921, afirmava que os Estados Unidos deveriam priorizar o desenvolvimento
de uma bomba baseada em energia nuclear, antes que os alemães a fizessem.
Dessa forma, em outubro de 1939, o presidente resolveu custear uma pesquisa
atômica por meio do Advisory Committee on Uranium. Em fevereiro de 1940,
um contrato foi assinado para iniciar a construção de em reator nuclear na
Universidade de Columbia.
Na Universidade de Chicago, Arthur Compton observava o progresso
da pesquisa com grande interesse, pois tinha por objetivo estabelecer um
laboratório de pesquisa em física atômica naquela universidade. Usando seus
contatos com importantes cientistas, Compton assegurou a participação da
Universidade de Chicago nessas pesquisas pioneiras sobre energia nuclear.
Nesse mesmo ano, surgia o Projeto Manhattan, que tinha por objetivo
desenvolver e construir armas nucleares. O projeto recebeu esse nome pela
ligação que tinha com o Distrito de Engenharia de Manhattan, e, principal-
mente, pelo fato de toda a pesquisa inicial desse projeto ter sido realizada
nesse distrito, situado na cidade de Nova York.
O sucesso do projeto não demorou e, em julho de 1945, no estado do Novo
México, no meio do deserto, a cerca de 100 km da cidade de Alamogordo,
região habitada apenas por formigas, aranhas, cobras e escorpiões, a primeira
bomba atômica da história, conhecida como Gadget, foi detonada. A compo-
sição da bomba era de duas porções pequenas (bolas) de plutônio, cobertas
por níquel; em seu centro, havia berílio e urânio. O que ativava a explosão
eram explosivos convencionais.
Esse foi o início do desenvolvimento da indústria nuclear, e foi um marco
histórico na Segunda Guerra Mundial.
Três dias após a explosão, nenhum comunicado ainda havia sido feito pelo
governo soviético a respeito do acidente nuclear em Chernobyl. As autorida-
des soviéticas somente assumiram o ocorrido após o governo da Suécia ter
detectado altos níveis de radiação no Sul de seu país.
Um satélite americano varreu a região da Ucrânia, encontrando uma usina
com o teto destruído e o reator ainda em chamas, com fumaça vertendo do
interior. Mikhail Gorbachev, então presidente, demorou 18 dias para comentar
o acidente, só fazendo isso em maio de 1986. O total de mortos diretamente
relacionado ao acidente foi de 31 pessoas, devido a sua participação direta no
combate aos incêndios. Outros 237 trabalhadores foram hospitalizados com
sintomas da exposição, e muitas dessas vítimas apresentaram queimaduras
e outros tipos de lesões. Com base em dados oficiais, estima-se que mais de
8,4 milhões de pessoas foram expostas à radiação.
Mais de 40 radionuclídeos diferentes escaparam do reator em consequência
do incêndio nos primeiros 10 dias após o acidente, entre eles elementos e
compostos altamente voláteis, como iodo, sais de césio e estrôncio. O césio
radioativo foi o mais perigoso, tendo contaminado uma região entre 125.000
e 146.000 km2.
Com uso de helicópteros, foram jogadas toneladas de uma mistura de areia,
argila, bicarbonato de cálcio, magnésio, boro e chumbo sobre os reatores.
Após o incêndio ser controlado, a unidade 4 do reator foi selada com aço e
concreto. Apesar disso, essa estrutura não é resistente e, atualmente, há planos
para sua reconstrução.
Além das mortes diretas, houve um aumento contínuo no número de casos
de câncer, principalmente os de tireoide, em especial nas pessoas que eram
crianças ou jovens na época do acidente. O problema ocorreu por falta de
tempo hábil para a distribuição de comprimidos de iodeto de potássio, que é a
melhor maneira de evitar a presença de iodo radioativo na tireoide. O atraso na
administração dos comprimidos foi causado pela demora no aviso do acidente
por parte do governo. Os comprimidos foram distribuídos a tempo na Polônia
e em outros países da Europa, fazendo com que nesses lugares o número de
casos de câncer relacionados ao acidente de Chernobyl tenha sido desprezível.
O material radioativo segue presente no solo da região, por isso, outra
consequência seríssima e presente é a radioatividade distribuída pelo efeito
de chuvas e derretimento da neve, erosão pelo vento, incêndios na floresta e
transporte pelos rios.
Panorama histórico, fundamentos básicos e introdução à radiologia 9
Radioesterilização
A esterilização por radiação ionizante é uma técnica altamente eficiente, que
vem sendo utilizada para minimizar a imunogenicidade, matar bactérias e
reduzir o risco de transferência de doenças contagiosas em todos tipos de
materiais biológicos transplantáveis (pele, osso, âmnion etc.).
A radioesterilização também vem sendo utilizada na área alimentícia,
na eliminação de bactérias e fungos. Nessa área é preciso haver um grande
cuidado, pois a radiação usada para matar todo e qualquer tipo de fungo e
bactéria é de alta potência. O problema dessa técnica é que ela eleva o preço
dos alimentos; por outro lado, a durabilidade dos alimentos aumenta em 1/3,
em muitos casos.
Radiologia industrial
A radiologia industrial é utilizada como método de inspeção, com emprego
de radiação ionizante em processos industriais, principalmente para controle
de qualidade de produtos (como peças, placas e soldas), ou em serviços de
segurança, como em portos, e aeroportos e aviões.
Em processos industriais, a aplicação de radiação em peças possibilita
inspecionar, conforme a penetração da radiação, se elas possuem falhas no
seu processo produtivo, como você pode visualizar na Figura 2. Em serviços
de segurança, o raio X é utilizado para identificar cargas indevidas em ae-
roportos e portos.
12 Panorama histórico, fundamentos básicos e introdução à radiologia
Radiologia ambiental
É muito utilizada no tratamento de solos. Utilizando radionuclídeos, a técnica
aumenta a conservação do solo, ajudando no controle de erosões e da qualidade
de nutrientes. Os radionuclídeos são uma ferramenta poderosa para avaliar a
eficácia das medidas de conservação do solo. Segundo a Agência Internacional
de Energia Atômica (AIEA), o uso dessas técnicas pode melhorar a agricultura
sustentável, pois minimiza a degradação da terra.
Radiologia odontológica
A radiologia odontológica auxilia dentistas na saúde bucal, sendo o método de
diagnóstico por imagem mais efetivo e preciso disponível para a odontologia.
É utilizada, por exemplo, para diagnosticar lesões, fraturas ósseas, dentes
supranumerários e dentes inclusos, permitindo o planejamento, para a melhor
intervenção cirúrgica, e o acompanhamento. Acompanhe um exemplo de
emprego da radiologia odontológica a Figura 3.
Panorama histórico, fundamentos básicos e introdução à radiologia 13
Radiologia veterinária
A radiologia veterinária tem uso, principalmente, em exames de diagnóstico,
para acompanhamento e tratamento de patologias em animais, que podem ser
de pequeno e grande porte. Exemplos de uso são a tomografia computadori-
zada, a ressonância magnética e o raio X. A radioterapia também é uma área
importante dentro da medicina veterinária, porque o câncer é a causa mais
comum de morte de animais pequenos com mais de 10 anos. Veja na Figura
4 um exemplo de raio X em uso veterinário.
14 Panorama histórico, fundamentos básicos e introdução à radiologia
Radiologia médica
Na medicina, as radiações são utilizadas para a realização de diagnósticos,
o controle e o tratamento de doenças. Ela permite a visualização de ossos,
órgãos ou estruturas por meio do uso de radiações ionizantes e não ionizantes.
Radiação ionizante
As radiações ionizantes são ondas eletromagnéticas de frequência elevada com
capacidade de arrancar elétrons de átomos ou moléculas e, ainda, de produzir
íons. Elas possuem energia suficiente para produzir ionização mediante ruptura
dos enlaces atômicos.
Panorama histórico, fundamentos básicos e introdução à radiologia 15
Mesmo à sombra, uma pessoa pode estar exposta às radiações UV emitidas pelo sol.
Existem superfícies, como pisos e areia da beira da praia, que são refletoras dessa
radiação, principalmente, as de cores claras, superfícies metálicas ou reflexivas. As
zonas do corpo que mais sofrem com essa exposição e, por consequências, apresentam
maior risco à saúde, são a pele e os olhos.
Leituras recomendadas
BRASIL. Instituto Nacional do Câncer. Radiações não-ionizantes. Brasília, DF, 2019. Dispo-
nível em: https://www.inca.gov.br/exposicao-no-trabalho-e-no-ambiente/radiacoes/
radiacoes-nao-ionizantes. Acesso em: 3 out. 2019.
ENTENENDO A RADIÇÃO MÉDICA. Imagem molecular. Brasil, 2019. Disponível em:
http://www.radiacao-medica.com.br/tipos-de-imagens-medicas/imagem-molecular/.
Acesso em: 3 out. 2019.
18 Panorama histórico, fundamentos básicos e introdução à radiologia