Você está na página 1de 4

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA E

TOMOGRAFIA
PRINCÍPIOS SOBRE TOMOGRAFIA (TC) MATERIAIS HIPOATENUANTES,
A tomografia foi um verdadeiro marco HIPERATENUANTES E ESTRUTURAS ISODENSAS
para a radiologia, possibilitando novas A tomografia é um método que avalia
aquisições e modalidades de estudo. Foi o densidade tecidual, de forma que sua no-
primeiro método de imagem que possibilitou menclatura gira em torno disso. O que era
a visualização clara do encéfalo, ao con- radiotransparente no raio X torna-se hipo-
trário dos raios x convencionais, onde era denso na tomografia e o que era radiopaco
apenas possível ver componentes ósseos. torna-se hiperdenso na tomografia. Estrutu-
Com o incremento computadorizado ras de densidades semelhantes são chama-
foi possível que cortes axiais pudessem ser das de estruturas isodensa, ou de mesma
remontados em cortes sagitais e coronais, densidade. Algumas vezes ouvimos o termo
melhorando a avaliação do tecido a ser es- “hiperatenuante” e “hipoatenuante”. Eles po-
tudado. Temos aparelhos com diferentes ca- dem ser interpretados como hiperdenso e hi-
nais e quantias de cortes (singleslice, duals- podenso, respectivamente. Por muitas vezes
lice, multislice, etc). temos dúvidas no que pode ser hipodenso
Podemos inclusive regular o aparelho ou hiperdenso. Às vezes lemos sobre uma le-
para realizar cortes mais finos e com alta re- são e não sabemos ou não conseguimos
solução (a depender do tecido que quere- compreender o porquê da hipo ou hiper-
mos estudar). Tudo isso é feito no intuito de densidade. Não precisamos decorar, mas sim
obter a maior qualidade e quantidade de ter na cabeça uma tabela chamada tabela
imagens possíveis e caso tenhamos um nú- de densidade de Hounsfield (UH). De acordo
mero baixos de corte por determinado perí- com a tabela de densidades, o ar é o ma-
odo de tempo, não vamos conseguir avaliar terial menos denso (-1000) e o mais denso é
regiões anatômicas da melhor maneira. O o osso (+1000).
mecanismo de formação das imagens é o
raio X, porém, diferente daquele método
convencional, essa forma de avaliação uti-
liza princípios e noções um pouco mais
avançados.

Cada densidade terá sua represen-


tação de tons de cinza. Quanto menos
denso (mais negativo), mais escuro ou mais
hipodenso. Quanto mais denso (mais posi-
tivo), mais branco ou mais hiperdenso.
O ar é a substância mais hipodensa PRINCÍPIOS DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RM)
(menos densa) da tabela. É representado A finalidade da ressonância é, a
por uma cor bem enegrecida. Já o osso grosso modo, fornecer um campo para ori-
(desconsiderando os meios de contraste, entar os átomos de hidrogênio, estimulando-
que são altamente densos, até mesmo mais os organizadamente e estes, ao devolver a
que o osso) é substância mais densa da ta- energia que lhes foi fornecida, fornecer da-
bela. A água contém densidade 0 e as par- dos dos tecidos na qual estão localizados.
tes moles podem variar até 100 HU. A parte mais importante de uma res-
A gordura possui densidade nega- sonância magnética é o magneto. O mag-
tiva, ou seja, é hipodensa e possui densi- neto é categorizado por uma escala de po-
dade próxima de -60 a -100. O ar possui - tência chamada tesla (por isso ouvimos falar
1000. Simplificando e Resumindo: As estrutu- que tal clínica ou centro de referência com-
ras que precisamos ter em mente em quesito prou ressonância de tantos teslas). O apa-
de densidade, de acordo com a tabela de relho de ressonância usa pulsos de radiofre-
densidade de Hounsfield, são: quência direcionados ao hidrogênio.
O aparelho direciona esse pulso para
a área que queremos estudar. Os prótons
absorvem aquela energia e passam a girar
em uma frequência e direções específicas.
JANELAS DE AVALIAÇÃO DOS TECIDOS Normalmente esses pulsos de radiofrequên-
cia são aplicados através de bobinas de
CORPÓREOS E DIAGNOSE POR TOMOGRAFIA radiofrequência, cujas quais são das mais
A tomografia utiliza janelas para ava- variadas possíveis para diferentes partes do
liar os tecidos corpóreos. Dentre as princi- corpo. Quando o pulso é desligado, os pró-
pais janelas temos: Cerebral, Óssea, Medi- tons de hidrogênio começam a retornar aos
astinal e Pulmonar. seus alinhamentos naturais dentro do campo
magnético e liberam o excesso de energia
armazenada. Ao fazer isso, eles emitem um
sinal que a bobina recebe e envia para o
computador e as imagens são geradas e in-
terpretadas.

Podemos observar que a depender da ja-


nela temos enfoque em diferentes partes do
corpo. A primeira imagem nos possibilita MATERIAIS HIPOINTENSO, HIPERINTENSO E
avaliar claramente o encéfalo. A segunda ESTRUTURAS ISOINTENSAS
nos possibilita avaliar os componentes ós- A nomenclatura utilizada na ressonân-
seos deste encéfalo. A terceira focaliza o cia magnética também muda. No raio X con-
mediastino e a quarta focaliza os pulmões. vencional tínhamos radiopaco e radiotrans-
Cada janela tem sua utilidade e pode ser parente. Na tomografia tínhamos hipodenso,
utilizada pelo radiologista para avaliar me- isodenso e hiperdenso. aqui temos hipoin-
lhor determinada região. Observe na se- tenso para imagens escuras, isointenso para
gunda imagem que, ao avaliar os compo- imagens com intensidades de sinal semelhan-
nentes ósseos, com alta densidade, pode- tes e hiperintenso para imagens brancas.
mos ver o contraste que os seios paranasais Quando juntamos um TR x com um TE
e células da mastoide fazem com os ossos. y podemos criar as ponderações. As duas
Os seios paranasais e as mastoides estão principais são as que conhecemos pelo
hipodensas por conter ar, que possui muito nome de T1 e T2. A principal característica
pouca densidade. A janela óssea é requisi- de T1 é exibir sinal escuro (hiposinal ou hi-
tada em vários outros sítios anatômicos. pointensidade) para a água.
Quanto mais água naquela região, Diferente da água, que exibe hiposi-
mais escura ela ficará. A recíproca também. nal em T1 e hipersinal em T2, a gordura
Menos água, menos hipointensidade. Já a apresenta hipersinal tanto em T1 quanto em
principal característica de T2 é exibir sinal T2. A diferença é que em T1 ela apresenta
claro (hipersinal). Vamos identificar essas um brilho (hipersinal) maior e mais evidente
duas principais ponderações nas imagens a que em T2. Essa característica da gordura
seguir: poderá nos ajudar quando estivermos em um
corte de tecido que não tenha água para
nos guiarmos. Por exemplo? Ressonância de
ombro e de joelho.

O líquor dos ventrículos laterais está escuro (hipoin-


tenso) em T1 e brilhante em T2 (hiperintenso). Outro
fator que nos ajuda a diferenciar T1 de T2 na neu-
rorradiologia é a substância branca e a substância
cinzenta. A substância branca possui mielina, já que
contém axônios. A mielina é hidrófoba, ou seja, a
substância branca contém muito pouca água. Já a
substância cinzenta é composta por corpos de neu-
rônios e compreende o córtex e os núcleos da base, T1 é uma ótima ponderação para
ou seja, a substância cinzenta irá conter uma gra- vermos a anatomia local e aspectos mais fi-
duação aquosa maior que a substância branca. Em siológicos enquanto que T2 é uma ótima
T1 a água fica escura e podemos perceber que a
substância branca fica clara em T1 (contém pouca ponderação para vermos patologias. Obvi-
água, então pouco hiposinal, predominando o hi- amente T1 também tem seus papeis em pa-
persinal) e a substância cinzenta (córtex e núcleos tologias diversas, porém, T2 é mais bem utili-
da base) ficam escuros em T1 (mais água, mais hi- zado para esse fim, devendo-se, inclusive,
pointensidade). Em T2 a lógica é inversa. Quem tem utilizarmos várias ponderações para com-
muita água fica claro e quem tem pouca fica es-
curo. Pela mesma lógica, a substância branca fica plementar nosso arsenal de avaliação ima-
escura (tem pouca água) e a substância cinzenta ginológica.
(núcleos da base e córtex) fica clara (tem + água).
PONDERAÇÕES E A DIAGNOSE POR RM
T1 é uma ótima ponderação para
vermos a anatomia local e aspectos mais fi-
siológicos enquanto que T2 é uma ótima
ponderação para vermos patologias. Obvi-
amente T1 também tem seus papeis em pa-
tologias diversas, porém, T2 é mais bem utili-
À esquerda um T1 e à direita um T2. Como saber? zado para esse fim, devendo-se, inclusive,
Devemos procurar a água em alguma região anatô- utilizarmos várias ponderações para com-
mica do território que estamos estudando. Nesse
corte temos dois locais. O primeiro é o estômago plementar nosso arsenal de avaliação ima-
(apontado pela seta vermelha). O estômago con- ginológica. Existem várias outras pondera-
tém secreções gástricas aquosas. Observe que no ções (FLAIR, STIR, GRE, DP, DIFUSÃO, ADC, SWI,
T1 o conteúdo estomacal (aquoso) contém hiposinal etc), técnicas (Spin eco, fast spin eco, etc) e
(é escuro) e no T2 o conteúdo estomacal (aquoso) técnicas especiais na ressonância (Em fase,
contém hipersinal (é claro). Outra região é no canal
medular (apontado pela seta verde). O canal fora de fase, perfusão, etc).
aquoso contém líquor (que contém água). É o Na reação inflamatória temos quatro
mesmo princípio do líquor usado na neurorradiolo- componentes básicos: Calor, rubor, dor e
gia que estudamos acima. Em T1 o líquor do canal edema. O edema é obviamente composto
medular fica escuro e em T2 o líquor do canal me- por água, que é hiperintensa em T2. A gor-
dular fica claro.
dura apresenta hiperintensidade tanto na
sequência T1 quanto na sequência T2.
Como a água apresenta hiperintensi- Observe um T2 (À esquerda) e um T2 com satura-
dade em T2 e a gordura também apresenta, ção (ou supressão) de gordura à direita. Perceba
como não foi possível perceber as lesões (que bri-
o que fazer diante de um território corpóreo lham na ponderação com supressão de gordura)
que contém tecido adiposo e que contém destacadas em vermelho. Isso se deve pelo fato de
uma inflamação ou processo patológico que a gordura e a água brilham em T2. Ao isolar o
que contenha edema? Como vamos ver essa sinal da gordura e deixar o edema mais visível, po-
lesão? E se eu te falasse que existe uma téc- demos caracterizar as lesões de uma forma melhor.
Cuidado para não confundir tudo que brilha com
nica chamada técnica de supressão de lesões. Observe que os vasos (setas) se tornam mais
gordura, onde iremos suprimir o sinal da gor- destacados como efeito “colateral” do uso dessa
dura, deixando apenas o componente hipe- técnica radiológica.
rintenso da patologia visível?
VANTAGENS E DESVANTAGENS
DA RM E DA TC

Observe como o sinal da gordura (in-


clusive na medula óssea amarela) é supri-
mido. Basta compararmos a primeira imagem
com a segunda e perceber como a primeira
está mais escura que a segunda, especial-
mente o osso. Isso nos dá margem para ava-
liarmos melhor patologias inflamatórias sem
que o sinal da gordura nos atrapalhe.

~ EUDIANE ZANCHET ~

REFERÊNCIAS
O Básico Que Todo Generalista Deve Sa-
ber Sobre Radiologia – Parte 1.

Você também pode gostar