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Eleanor Donelly Erdman Hall é uma residência de estudantes projetada por Louis Khan (em

colaboração com o Bryn Mawr College, um colégio em Bryn Mawr, Pennsylvania), começando
a sua construção no ano de 1960 e finalizando-a em 1965. O aspeto mais marcante do
pensamento arquitetónico desta época foi caracterizado pelas reflexões dos espaços públicos
e privados, estando isto representado na perfeição pela obra em questão.

O arquiteto norte-americano Louis Kahn (1901-1974) identifica-se como uma das figuras
essenciais na arquitetura da segunda metade do século XX. O desenvolvimento tardio de Khan
revelaria um trabalho arquitetónico único, com uma postura muito particular desenvolvida nas
áreas da teoria, metodologia arquitetónica, pedagogia, construção e desenho. Juntamente
com essa qualidade, a sua arquitetura explora as características plásticas e simbólicas de
formas geométricas, utilizando-as para desenvolver espaços centralizados regulados por
princípios de proporção e ordem.
Apesar de Bryn Mawr College ser um cliente institucional, Khan lidou maioritariamente com
uma cliente individual: Katherine Elizabeth McBride, que era presidente do Colégio desde
1942. Kahn foi contratado para fornecer um dormitório para aproximadamente 130 alunos. O
briefing também incluiu um salão de receção, áreas sociais, refeitório, instalações
administrativas e outros serviços. A localização do prédio era num terreno estreito voltado
para sul, na periferia do campus da faculdade. O problema funcional central para Kahn era o
agrupamento do grande número de dormitórios de maneira apropriada com as outras
instalações.

"Um dormitório não devia exprimir nostalgia de casa", escreveu o arquiteto. Desenhado como
um castelo escocês moderno, o edifício era (e continua a ser) uma afirmação arrojada de
geometria. Sendo constituído por 3 sub-edifícios juntos pelos cantos, a obra combina com
muita técnica betão, ardósia, madeira, cobre e chumbo, usando extensivamente a luz natural
no interior. Esta obra-prima de Kahn é anualmente visitada por arquitetos e estudantes de
arquitetura de todo o mundo.

Como apreciadores da obra, pretendemos descodificar o significado e analisar as relações


arquitetónicas do Erdman Hall como uma totalidade de formas que o representam. Para isto,
temos de tentar avaliar o design como processo com referência à funcionalidade e estética da
obra.
Análise Formal

Nos dormitórios, Kahn desenvolve um conjunto de três volumes de base quadrada dispostos
diagonalmente sobre um eixo comum e ligeiramente sobrepostos (Fig. 127 e 128). Este edifício
requeria um vasto programa funcional com zonas de grandes dimensões, quer privadas, quer
comuns, onde se incluíam espaços administrativos, espaços de serviços, quartos e zonas de
convívio e de refeição. Formalmente, este edifício é composto por um grupo de três formas
prismáticas quadrangulares, interligadas diagonalmente e unidas pelos seus vértices. Depois de
definido o conceito do edifício, os primeiros esquissos demonstram o cruzamento de plantas
cruciformes e de base quadrada, resultado de diversas referências de Kahn, como o edifício
Unity Temple de Wright e construções medievais. Essas referências que tanto admirava
transmitiam a ideia de espaços concêntricos e espaços centralizados rodeados por estratos mais
espessos na periferia.
No final, o projeto ficaria definido por três blocos de planta quadrada, desenvolvendo o conceito
de espaços concêntricos e uma lógica de quartos em forma ‘T’, intercalados ao longo do no anel
periférico em substituição da malha modular octogonal de Tyng. Sendo o edifício composto por
três volumes com estrutura e planta semelhantes, a explicação do processo compositivo do
projeto dos dormitórios de Bryn Mawr desenvolve-se a partir da análise de um dos volumes tido
como unidade modular.

Esquema 1
O desenvolvimento da análise deste projeto começa de acordo com os processos iniciais de
Kahn, isto é, com o recurso ao quadrado. Neste caso, essa forma determina o espaço do átrio
central de cada volume, representado por um quadrado rodado ou ‘diamante’ como referido
por Kahn. Os restantes espaços são determinados a partir de lógicas geométricas indicando
movimentos e espaços concêntricos que consequentemente definem espaços do mesmo tipo
Esquema 2
De seguida é definida a largura do primeiro anel concêntrico desenhando-se uma circunferência
que circunscreve o quadrado base. O novo quadrado periférico define o perímetro externo do
anel interior. O alinhamento que este anel indica será mais tarde importante para construir o
cruzamento dos três diamantes finais entrelaçados.

Esquema 3
Uma sub estrutural divide o quadrado base numa grelha de 4 por 4. Esta será
importante para definir os pontos onde o anel interior será quebrado. No cruzamento dos eixos
desta malha com os limites do quadrado base definem-se os pontos de onde arrancam as linhas
que marcam as quebras que irão surgir a 45º, desfragmentando o anel interior, transformando-
o em quatro trapézios iguais. A subestrutura modular será ainda importante ao definir
alinhamentos utilizados para criar as subdivisões dos espaços interiores deste anel
Esquema 4
O processo seguinte demonstra o início de estratégias geométricas que Kahn elaborou para
fraturar com a rigidez geométrica deste anel.
Os cantos do anel interior serão quebrados, mostrando pela anulação da
ortogonalidade dos cantos, uma forma de quebra da rigidez dos espaços desenhados pelos
quadrados concêntricos e demonstrando formalmente as dinâmicas espaciais que Kahn
desejava criar neste edifício. Estes movimentos de rutura mostram que Kahn continua a aplicar
elementos que procuram dinâmicas espaciais após os projetos da Goldenberg House e da First
Unitarian Church. No complexo dos dormitórios em Bryn Mawr, estas forças dinâmicas rompem
os elementos físicos a partir do ponto central de cada ‘diamante’, como um movimento
centrífugo rompendo a estrutura ortogonal do edifico. Como resultado dessas forças, as arestas
do espaço quadrangular central são facetadas, dando origem a quatro lanternins de luz zenital
que iluminam os três espaços centrais interiores. A fratura do anel interior quebra a
ortogonalidade rígida do quadrado central e imprime dinâmicas centrifugas, que se demonstram
através de eixos visuais do centro para o exterior. Geometricamente, os cantos quebrados do
anel interior são desenhados com paredes a 45º que ligam o quadrado base àquele que delimita
o anel interior, no ponto onde a malha estrutural e o quadrado base se intercetam. Quando
esses eixos são desenhados, percebem-se então as dinâmicas diagonais que cortam a
ortogonalidade.

Esquema 5
A descoberta da largura do corredor entre anéis surge como resultado de um processo
geométrico que introduz um movimento circular em volta do anel interior ortogonal. A largura
do corredor entre os dois funciona geometricamente como a transformação do espaço
ortogonal que circunda o anel interior num percurso circular. Um círculo concêntrico, com o raio
até ao vértice do anel interior, define a largura do corredor.

Esquema 6
Como foi referido, o alinhamento exterior do anel interior é utilizado para definir o perímetro
total de cada ‘diamante’. Acontece assim o entrelaçar de alinhamentos. Os eixos definidores do
espaço central dos ‘diamantes’ dos dois extremos cruzam e desenham o perímetro geral do
‘diamante’ central. O inverso também acontece, sendo que o alinhamento do espaço central do
‘diamante’ central define o perímetro total dos ‘diamantes’ laterais.
Nos espaços centralizados introvertidos, como o átrio de entrada, a zona de convívio e o bar
percebe-se o trabalho de Louis Kahn ao tentar criar ‘um mundo dentro de um mundo’ e a
influência dos castelos medievais na sua génese. Isso acontece porque a partir do espaço central,
e através das quebras que fraturaram os anéis, percebem-se as camadas espaciais separadas
por corredores concêntricos. As dinâmicas centrífugas que se mencionaram anteriormente
partem do ponto central de cada diamante e atravessam diagonalmente todas as camadas,
fraturando o anel interior e marcando o lado interior do anel exterior, antes de se fazerem sentir
na fachada. No corpo periférico as fachadas correspondentes aos quatro lados do quadrado são
afastadas, demonstrando essas forças de rutura espacial e volumétrica. Neste momento, a
forma geral do edifício e os traçados gerais que desenham os espaços interiores estão definidos.
Circulação

A circulação era dividida em dois eixos, um de entrada e outro secundário que era
perpendicular ao eixo de entrada.

No volume central encontravam-se as escadas principais e circulação vertical e o resto da


circulação era feita nos corredores centrais que ficavam entre os quartos e os serviços. Nos
dois restantes volumes existe duas escadas secundarias que interligam os pisos. Os três
volumes eram também separados por pequeno hall que se encontravam nas zonas onde os
volumes eram interligados.
Funções dos espaços

Os espaços estão distribuídos em redor do Hall Central situado no centro de cada diamante.
Em redor do centro do edifício são criados os espaços públicos e serviços e estes são
separados de três tipologias de quartos através de corredores acabando por criar uma
hierarquia de utilização, onde as zonas mais usadas são as centrais e as zonas mais privadas
são periféricas.

Hierarquia do espaço

Os espaços eram organizados de acordo com a importancia sendo os centrais mais


importantes por serem os hall´s principais, a seguir eram os quartos e por ultimos os
corredores.
Onde:

- No volume do meio encontra-se o hall principal e mais importante que é o hall de entrada e
saída e se encontra do centro do edificio e onde os espaços convergem.

- Nos outros volumes os hall´s são de distribuição e circulação.

- Por último os quartos acessivies apenas pelos estudantes

Análise Construtiva e matérias

Bryn Mawr produz uma espécie de movimento apesar da aparente estabilidade do complexo
evidenciada na disposição e detalhes das paredes externas.

Os fatores para este acontecimento são uma série de movimentos e efeitos de design que se
destacam: cantos abertos, faixas horizontais e verticais, detalhes de fluxo e a repetição de
compartimentos abertos.

O edifício é construído com uma estrutura de betão armado, paredes de blocos de cimento,
revestimento externo de ardósia e gesso interno.

Nas fachadas são utilizados vidros grandes fixos e operáveis, aço inoxidável nas soleiras e
corrimãos e nas portas de madeira (carvalho).

Teto com “caixotes” que


absorvem o ruido

Paredes interiores: Betão

Corrimãos em madeira
Diferente do tijolo de ambos Richards Médica e de Rochester, Bryn Mawr usa grandes painéis
de ardósia com duas e três divisões, na orientação horizontal e vertical. A decisão de
interromper as paredes delimitadoras e de não fechar nenhum dos cantos dos três diamantes
cria um efeito de deslizamento, reforçando a sensação de movimento já identificada através
da análise da planta e do hall de entrada. Essa estratégia é contínua mesmo nas torres de
escada leste e oeste que estão localizadas em dois dos doze cantos.

O revestimento é estendido ao ponto de rutura nos cantos. Isso pode ser interpretado como
paredes forçadas a separar-se por alguma pressão interna ou simplesmente à deriva. Kahn usa
consistentemente um dispositivo específico para reforçar essa leitura: a parede sempre
''quebra '' ou se abre nos cantos. Isso é verdade nos quatro retornos dos volumes sobrepostos,
nos seis cantos externos e nas extremidades leste e oeste.

Luz
As duas fachadas principais estão viradas para Este e Oeste, o que faz o arquiteto criar 4 caixas
de luz em cada um dos diamantes para iluminar o interior do edifício e que acabam por criar
um impacto visual e espacial maior.
Os cantos de cada uma das três salas dissolvem-se à medida que a luz puxa o olhar para fora
da sala e para os cantos de uma maneira diferente do alcançado na Primeira Igreja Unitarista,
recém-concluída em Rochester, que é caracterizada por caixas de luz estão voltadas para
dentro e continuam nas paredes de canto fechadas da sala de reuniões. O foco está no espaço
contido e no teto cruciforme.

Na Bryn Mawr, a solução de design é diferente. As caixas de luz estão voltadas para fora e são
colocadas a 45 graus do alinhamento da sala. Em Rochester, a luz é direcionada para dentro e
o foco é contido e amplamente horizontal enquanto que em Bryn Mawr, os cantos estão
abertos e a luz e a sombra deslizam pelas paredes. O foco é externo e o olhar é dirigido para
cima, realçando o movimento oblíquo já encontrado na disposição do plano.

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