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MESTRADO EM MÚSICA
ESTUDOS EM PRODUÇÃO MUSICAL EVANGÉLICA
JOÊZER MENDONÇA / ANDRÉ EGG
Eduard Henry Lui
DOLGHIE, Jaqueline Ziroldo. Um estudo sobre a formação da hinódia protestante brasileira.
In Âncora (Instituto Âncora de Ensino. Online), v. 1, p. 83-106, 2006.
Para trazer à tona a discussão sobre a formação da hinódia brasileira, oriunda das
canções e hinos protestantes estadunidenses, a autora se debruça sobre definições
metodológicas, em especial a diferenciação entre salmos, hinos e cânticos espirituais expressos
na carta paulina aos Efésios 5:19. Ela afirma que a definição de hino ainda não foi totalmente
esgotada, a partir de uma rápida análise, constata-se que o tipo ideal de hino é aquele que exclui
um modelo de produção musical. Dolghie traz a ideia que, para além da questão do que é o
hino, ou do que ele não é, e acresce a necessidade de um conceito para música sacra. A autora
questiona se há uma oposição direta àquilo que é considerada música profana e constata que
música sacra, ou religiosa, é menos música e mais sacra, concordando e citando Jaci Maraschin.
Da mesma forma, Dolghie evidencia em seu texto que ainda há confusão a respeito dos
conceitos de corinhos, cânticos e hinos. Afirma que há uma falta de clareza sobre o que é cada
um evidenciando uma tentativa de classificar aquilo que é próprio e o que é impróprio para ser
aplicado a um culto à Deus. Ela afirma que após a Reforma Protestante a música cristã ocidental
ficou dividido entre o catolicismo romano e o protestantismo. No âmbito do protestantismo os
estilos musicais mais popularizados foram os Salmos de João Calvino e os Corais de Martinho
Lutero.
Para Lutero a música é vista como um importante instrumento de divulgação da fé
reformada. Assim, Lutero criou o estilo musical denominado Coral, caracterizado pelo uso da
língua local (no caso, a língua alemã) em oposição ao latim comumente usado nas liturgias
católicas, o uso de uma métrica versificada e silábica, cantada em uníssono e à capella. A função
do coral era acompanhar a congregação a fim de compreender o texto cantado. Lutero se
apropriou de hinos latinos e medievais, de canções populares cujas letras eram substituídas por
letras de cunho religioso. Para ele, as letras determinavam a sacralidade da música. A autora
constata portanto que, desde o início da música protestante existe a aproximação da música
popular com a música erudita.
O estilo difundido por Calvino, os Salmos, eram assim chamados porque ele entendia
que os Salmos da Bíblia eram a única forma de se cantar a Deus. Eles eram cantados
metricamente em uníssono e à capella. Calvino, assim como Lutero, prezava pela simplicidade
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É importante ressaltar que o texto de Jacqueline Ziroldo Dolghie é de 2006. Muitos dos anseios em mudar certas
práticas relacionadas ao uso da música brasileira nos cultos das igrejas protestantes passou por mudanças
significativas nesses últimos 16 anos. A inserção dos evangélicos brasileiros nas grandes mídias provocou
impactos que diferenciam muito o perfil da igreja protestante de 2006 para com o perfil de culto da igreja
protestante de 2022. Considerando sempre as variadas diferenciações entre as inúmeras denominações que
carregam o termo evangélico.
musical. O chefe da igreja de Genebra publicou o Saltério com regras rígidas de composição;
eles se tornaram populares e influenciaram a música sacra na Inglaterra, Escócia e Estados
Unidos.
A trajetória da considerada música sacra tem sequência no texto apresentando a hinódia
inglesa que influenciou a posteriormente a salmodia americana, com pouca influência da
hinódia luterana. A salmódia prevaleceu na Inglaterra até o século XVII e a transição da
salmodia para a hinódia moderna não foi simples, conforme relata a autora. Elementos como a
versão musical e literária inferiores dos saltérios ingleses, a prática do lining-out, quando uma
pessoa lia linha por linha do salmo para que a congregação repetisse em tons mais graves, e a
falta de contextualização dos salmos para o público inglês foram fatores que exigiram a
mudança. Evidencia-se as igrejas independentes (não anglicanas) como pioneiras na elaboração
de hinódia e a autora verifica que a hinódia Batista e Congregacional se libertaram das amarras
da composição musical seguir uma tradução literária da Bíblia. Verifica a importância dos
irmãos Wesley (Metodismo) na ampliação do repertório hinológico, em especial com a
experiência de John Wesley com os Morávios na América do Norte.
Nos Estados Unidos a autora relata que o hino luterano chegou pelos colonos alemães,
mas não ganhou espaço e repercussão tanto quanto os Salmos de origem inglesa. A transição
da salmodia para hinódia nos Estados Unidos deu-se de maneira lenta e a incorporação do hino
ocorreu especialmente com o Grande Despertar de 1740; considerando que até 1800 foi a
grande fase de movimentos avivalistas em solo norte-americano. As músicas são descritas no
texto caracterizadas por um forte apelo emocional, tal como as experiências nos cultos
avivalistas. Dolghie ressalta, neste contexto a importância dos acampamentos (camp-meetings)
metodistas que produziam uma música de caráter popular, concomitante ao surgimento do Hino
Evangelístico e do Hino Folclórico. Os movimentos religiosos necessitavam de uma produção
musical própria, a autora traz o questionamento: como evangelizar sem cantar as músicas do
povo? Justifica assim a entrada de estilos mais populares entre as massas, no entanto ainda
mantendo a tradição dos hinos mais clássicos e eruditos em detrimento a uma produção musical
popular considerada mais simplista.
No Brasil, o protestantismo de missão, se firmou a partir de 1850, Jaqueline Dolghie
afirma que as diferentes denominações seguiam padrões e celebrações muito semelhantes, cujo
objetivo era sempre expurgar o mal do catolicismo. Reitera que tanto a teologia quanto a música
eram importadas da Hinódia folclórica dos acampamentos e dos movimentos avivalistas. A
autora traz a importância do casal Robert e Sara Kalley para a hinódia brasileira, afirma que
seus poemas eram encaixados em melodias — tanto europeias quanto estadunidenses — já
existentes, traduções foram colocadas em melodias diferentes das compostas originalmente. O
primeiro hinário protestante brasileiro, o Salmos e Hinos de 1861, organizado pelo casal Kelley,
é apontado, conforme aponta Antônio Gouvea de Mendonça citado por Dolghie, como um
compêndio de teologia para ser cantado. Tal caracterização afirma não apenas a importância,
mas a consistência da coletânea para uma população onde poucos eram alfabetizados.
Jaqueline Dolghie destaca três aspectos que caracterizam a produção hinódica do
protestantismo brasileiro: a despreocupação com a originalidade musical; o estilo popular
estadunidense e a presença marcante da teologia dos avivamentos; evangelística e individual.
Sendo assim, a autora constata que a hinódia protestante brasileira foi toda selecionada e
desenvolvida a partir dos hinos americanos folclóricos e evangelísticos, de tradição não
litúrgica, que por sua vez eram influenciados pela balada romântica, pelo carol inglês e por
elementos simplistas dos avivamentos. Sendo assim, conclui que o repertório hinódico do
protestantismo brasileiro está todo ele calcado em composições de diversas influências
populares inglesas, alemãs, estadunidenses e mantinha-se fechado para composições que
considerassem de origem popular brasileira.