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em Gestão Educacional e
Escolar
Disciplina: Administração e Gestão no Contexto
Histórico-Político Social Brasileiro
·_/C0i.Y ••• t © 2002 by0, autores SUMÁRIO
~ CAPA
[airo Alvarenga Fonseca
(sobre foto da Stock Fotos)
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Waldênia Alvarenga Santos Ataide
REVISÃO
Ana Elisa Ribeiro
MENEZES, J, G, C. Direção de grupos escolares: análise de a/;ividades 11(' diretores, MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA
125
124
11111NI, N" 1111\
"NI/"I,AII 1\N" 111'IAIII~ I I IlfIII" I 1I11N" III 111."
I 1111111"I .1 l'Atlll" I!IlIJl fII, Ali
. . lmente se den mina "infra- trutur ", n vo vllJ, li" H' t r na r f rma atuei. A d s ntralízs ,
umítem ao que gera . f o apr '8 .ntn n: stratégía administrativa das reformas d an
as cobrem todo o campo da tecnolog1a, q~e d !fi. om
:quele em que as rel~ções S?C~~iSde produçao se articulam 90 traz mo principal eixo a flexibilização e desregulamenta c
com a sua realização matenal . (p. 162) da gestão pública, com a justificativa de busca de melhoria no at n-
dimento ao cidadão/contribuinte, reduzindo mediações. Por i '
l' O papel da educação no contexto atual é funda-
se distingue da descentralização proposta na reforma de 1967, q I ,
Para ana isar A das Condi ões Gerais de Produ-
mental compreende-Ia como uma lena r~alização da produção segundo Bresser Pereira (1999), colocou toda sua ênfase na aut -
nomia da administração indireta, a partir do pressuposto da ri i-
çãO,.in~ispensável, po:t~n~~ ~::::v;lvimento. Só assim é possível
dez da administração direta e da maior eficiência da administraçã o
capltahsta no atual es~aglO . . bretudo dos organismos in-
entender os esforços mternaclO na1s,so bn ar os países em desen- descen tralizada.
. t 'ON U para o ng Podemos considerar que o processo de descentralização, n-
ternaciona1s pertencen es a . ' d nsino a fim de assegurar
volvimento a reformar seus sistemas ee '_ it l' t tão, começa a ocorrer, sobretudo a partir da tentativa de municipali-
, li - d produçao capl a 1Sa.
as condições necessárias a rea ízaçao a . .' zação, defendida como a possibilidade de permitir às populaçõ s
O 90 irão refletir um contexto de reformas cujo obJeh~o maior controle sobre a gestão das políticas públicas pela proximidad '
s anos derni a-o do Estado brasileiro e sua adequaçao física com os meios de decisão e gestão das mesmas. Isso porque, com
. . 1 rá a mo ermzaç
pnnClpa s.e . dial Para tanto, os referenciais perse- afirma Silva (1998,p. 352): "o processo de democratização que o p (
às exigênClas da economia mun.. ~. eren-
'dos pelos reformadores estatais serão as novas tendenClas g'd ' viveu fez aumentar, simultaneamente, o interesse por moviment
gUl . contrapartl a a descentraliza dores, como se descentralização fosse sinônimo de d •
. . d ela literatura mals recente, em 2
ciais aPdont~ adsoPmodelo weberiano de administração burocrática. mocracia". O mesmo autor nos chama atenção para o fato de que tal
chama a cnse - da Iezt movimento não se deu (nem se dá) sem conflitos, na realidade, tra-
ida oara a recuperaçao a eg1-
Para Bresser Pereira (1999 ), a sal a p ., - rbli ge- ta-se de um novo pacto federativo que encontra vivas resistência
timidade bu.ro.crática foi enc07traq~: ::t:d:;;::~çaa~~: a~~:ços na relação entre o governo nacional e os subnacionais.
cial definida como aque a "
A descentralização passa então a nortear as reformas propostas
:::lizados pelá administração de empresas, caractenzada por.
para a organização e administração dos sistemas de ensino, seguin-
a) descentralização do ponto de vista políti,c~,transf~rin~~-~~ do as orientações gerais no quadro de reformas do Estado brasilei-
. cursos e atribuições para os níveis pohtIcoS reg1~nals, ro. Ressalta-se nesse quadro o relativo recuo que o Estado nacional
çao
~eescentralização administrativa, através da delega :; a~~ vem apresentando, tanto na sua participação direta no setor produ-
toridade aos administradores públicos, tr~nsf~rmados ~os tivoquanto em outras esferas de seu domínio, provocando mudan-
a vez mais. au. to~no·mos·, c) orgamzaçoes com pou
ren teS cad " .d . . d) pressuposto ças nas formas de financiamento das políticas sociais, que passam,
íveis hierárquicos, ao invés de p1ram1 a1S,
~a confiança limitada e não da desconfiança total; e) con:o- via de regra, pelo recurso à iniciativa privada.
osteriori ao invés do controle rígido, passo a passo, os A Emenda Constitucional n. 19, de junho de 1998, reflete a lógi-
le a p dm'l'n1'strativOs'e f) administração voltada para o ca racional presente na reforma do Estado assumida pelo governo
Processos a ' f id (B SER
. do cid da-o ao invés de auto-re en a. RES de Fernando Henrique Cardoso. A instituição das Organizações So-
atend1mento o C1 a ,
PEREIRA, 1999, p. 242-3)
, ,
ciais e dos Contratos de Gestão vai interferir nos rumos que tomará
em a gestão da educação brasileira. As reformas sociais no Estado bra-
, A descentralização, como orientação para o planejament.o't -
. ovidade pois já estava prevls a na sileiro hoje e, em especial, no setor educacional aliam-se às deman-
bora não se conflgurasse como n D' t n 200 d~ 1967 ganhará das de maior acesso e às questões de ineficiência produtiva do
reforma do Estado da década de 60, no ecre o . , sistema. Dessa maneira, têm conduzido mudanças nos aspectos g -
renciais das políticas públicas, recomendando a adoção de critéri s
1 cr. ÀBRÚCIO (1999); BRESSER PEREIRA & SPINK (1999).
127
126
POLíTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO MUDANÇAS NA ORGANiZAÇÃO E NA GEST'
AO DO TRABALHO NA ESCOLA
de tempo e preparo. Se os diretores se vêem diante desse desafio, DU~RTE, M. R. T. e OLIVEIRA, D.A "P ,. . .
çao: um estudo de algumas did, olítica e admmlstração d: 'li I u I
não é menor o que se coloca para os pesquisadores da área. O mo- M' me I as recente' I
mas Gerais". Relatório técnico d . s Imp antadas no EslilLil1 d"
mento requer observações atentas e presentes na realidade das es- 2000. e pesquisa. Belo Horizonte: FJ\PI:MI ". .
colas e reflexões teóricas que possam espelhar a prática, buscando
MINAS GE~S. Lei n, 12.678. 22 ian. 199 .
rumos que sinalizem uma escola verdadeiramente democrática. ConshtUlçao do Estado o IdJ. _ 8. Regulamenta o artIg It 7 1111
dá ' qua ispoe sobre a d .
no, e a outras providências Min G' escentralIzação cio \'11, I
NISKIER A S Ad '. _ . as erats, Belo Horizonte, 1998.
, .. mmtstrução escolar Ri d J .
OLIVEIRA D A "Arrual i . o e aneiro: Tabajara, 1969.
.. ,.. qualidade total na educação' . , .
privada na gestão da escola públí "I . os cntenos da econom 11
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___ o
1 ,
I), I r bl
I.
de avaliação adotados, tudo seria matéria da organização escolar. períodos de estudos am li d . d .zutemancia regular de
, p ian o am a a aut . d
Esses dois conceitos - organização do trabalho escolar e organiza- avaliar e classificar os al di onorrua as escolas para
unos me íante a verifi - d
ção escolar - são distintos, porém interdependentes, fundamentais escolar, bem como outras di . _ caçao e rendimento
lSposlçoes no mesmo sentido.
para a compreensão das relações de trabalho na escola.
Congruente à tendência descentr r
As reformas educacionais dos anos 90 atuaram fortemente so- legislação educacional da décad .a izadora apresentada pela
bre a organização escolar, trazendo novas formas de ensinar e de cação, aprovado como lei .a a~tenor, o Plano Nacional de Edu-
I, em ]anelIO de 2001 sob 10
avaliar. Tais mudanças exigiram novos critérios para enturmação estabelecer como um de s b" ,o n. .172, irá
eus o letivos e prioridades a
dos alunos, novos procedimentos na avaliação, o que tem implica-
do mudanças nos métodos e instrumentos de observação e registro, Democratização da gestão do ensin ,.
mentos oficiais, obedecend . ~ pubhco nos estabeleci-
o que, por sua vez, tem resultado em dispêndio de maior tempo do
profissionais da educação ~aa~~a~nnCl~LO~ da p~rticipação dos
professor para atendimento aos alunos e reuniões com colegas para
co da escola e a participação das ~~;;ao .da xroJeto pedagógi-
planejamento e avaliação do trabalho. Essas mudanças, por sua vez, em cons lh I um a es escolar e local
. e os esco ares ou equivalentes. (BRASIL, 2001, p. 34)
repercutem diretamente sobre a organização do trabalho escolar, pois
exigem mais tempo de trabalho do professor, tempo este que, se não . TaiSmudanças trazidas pela le isla - ducaci .
aumentado na sua jornada objetivamente, acaba se traduzindo numa Irão repercutir no trabalh 1 g çao e ucacional mais recente
o esco ar, sobretudo no papel do diretor.
intensificação do trabalho, que o obriga a responder a um número
maior de atividades em menos tempo. A gestão democrática da escola pública:
Além disso, as mudanças na organização escolar tendem a
repercussões no trabalho do diretor
alterar a divisão do trabalho na escola, na extinção de algumas
rotinas e na adoção de outras, na substituição de certas hierarquias, Após a Constituição Federal de 1988 te . .
na demanda por novos procedimentos profissionais. As reformas ças nas formas de escolha do dir t d' mos assistido a mudan-
seu artigo 206 inciso VI di ue_or e escola em decorrência do
atuais, contempladas na legislação educacional em vigor, sobretu- , ,que Ispoe sobre a gestã d '
do na LDB n. 9394/96, apresenta um reforço ao trabalho coletivo e ensino público o que t ' ao emocratica do
, es ara presente també .
taduais e leis o A • ••• m nas constituições es-
a necessidade de participação e envolvimento da comunidade na rganIcas mUnICIpaIS. .
gestão da escola. O processo de escolha do diretor I . . - ;
A referida Lei, no seu Art. 12, incumbe os estabelecimentos de veio somar-se às novas fu _ drni esco ar VIa eleições diretas
f nçoes a ministrativas da es 1 A
ensino, por exemplo, de elaborar e executar sua proposta pedagó- ormações introduzidas pela eleição di t . ~o a. s trans-
gica e ainda articular-se com as famílias e a comunidade, criando giados assaram rre a e constituição dos cole-
. I P a ressaltar as características políticas do di t
processos de integração da sociedade com a escola. Para isso, a reco ocar suas condi _ ,. Ire ar e
mesma Lei, no seu artigo seguinte, incumbe os docentes de parti- ainda, que em geratçnOoess t~ctmco-operacionais. Considerando-se,
, ,SIS emas em que a I . - d'
ciparem da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimen- mitida orno a for de orovi e eiçao íreta foi ad-
r did ,~a_ e provimento do cargo de diretor pod m
to d nsino. Com relação à gestão democrática, prevê no seu artigo
n 1 atos a 1 içao todos os pr f '
14, 1 s i t mas de nsino definirão as normas da gestão demo- n Sd rv i . r mim n d
Ia, < S I. t - ignifi ativs It
cr ti' I ofli n p 'l li na IC ão bá ica. d acordo com as
MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRABALHO NA ESCOLA
POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO
1'"
N 111(IIi\NI/III, AI) 1I Ni\ (11".1 AIII ~ I 1111.111.1111) NA I'K mA
1'(11,11'11/111 CI'iIAu 1)/lII.Ill)( /l1:AI)
no perfil desse profisaional." Tal fato traz novas xi ri it~. ar (\,It'I"lll1l tlllill.). ta P anãoeraconsensualaidéiadeqLleo
,111
formação do diretor escolar e novos desafios para sua identidad din'lllI' di' (' ('01" s formado especificamente como Administrador
'S '01,11',Nus P .1,vras do próprio Anísio Teixeira (1968, p. 14):
caracterização.
Por tais razões, não há como negar que o perfil do diretor esco- somente o educador ou o professor pode fazer Administra-
lar mudou sobremaneira nos últimos anos, pelo menos nos estados ção Escolar. Administração de ensino ou de escola não é car-
e municípios onde se passou a realizar eleições diretas. As propos- reira especial para que alguém se prepare desde o início, por
tas governamentais, a literatura espes:ífica e mesmo o.s debates na meio de curso especializado, mas opção posterior que faz o
professor ou o educador já formado e com razoável expe-
área de Administração' Escolar têm demonstrado relativo consenso
riência de trabalho.
de que houve mudanças no perfil do diretor esc~lar..~ais .mudanças
são identificadas como resultado de alterações slgmficativas na. ro- Nesse contexto contraditório, acabou predominando por al-
tina administrativa das escolas, a partir das medidas descentral~~a- guns anos um entendimento distinto do defendido por Anísio
doras na gestão educacional por parte do estado e da União, Teixeira e, nas décadas seguintes, muitos cursos de pedagogia fo-
sobrecarregando o diretor, como já mencionado. ram criados ofertando a habilitação em Administração Escolar,
formando profissionais segundo os pressupostos da chamada
Da administração escolar à gestão educacional ou "Adrnirjis tração Científica do Trabalho". O profissional assim for-
do abandono da técnica à assimilação da política mado, alçado ao cargo por nomeação do poder executivo, acabou
por revelar-se, na maioria das vezes, um burocrata. Revestido da
A Administração Escolar constituiu-se como uma discipli~a autoridade patrimonial que lhe foi assegurada pela nomeação do
específica e, nos cursos de pedagogia, uma habili.ta.ção com o obje- chefe político ou, no caso específico, de onde havia concurso para
tivo de formar os diretores de escola como administradores esco- o.preenchimento do cargo de diretor, a autoridade conferida pelo
lares. Essa disciplina organizou-se, na sua origem, à ~rr:agem e mérito, esse diretor agia como uma encarnação do poder público
semelhança da Administração empresarial, como uma cO~la adap- estatal dentro da escola, delegando responsabilidade e dando
tada das teorias desenvolvidas para a organização e gestao do tr.a- ordens aos seus subalternos. O perfil desse diretor era de autori-
balho das empresas para a escola. Nos seus trinta, ou pouco n:a~s, dade local, dedicando muito de seu tempo à representação polí-
anos de existência, nunca deixou de ser um arremedo da Adrninis- tica em eventos e momentos em que o poder público educacional
tração de Empresas. . . fosse requerido. Nesse período, confundiu-se o papel do diretor
Quando constituiu-se como uma disciplina específi~a: não ~Ol com o do administrador de empresas, o que, durante os anos 80,
de maneira unívoca. Já nos seus primórdios, encontrou senas reSIS- foi duramente criticado pelos movimentos democráticos.
tências. É revelador do contexto contraditório em que emerge como A década de 80, no Brasil, apresentou-se como um período mui-
um campo de formação profissional específico o de~ate que se tra- to fecundo de conquistas democráticas para a sociedade brasileira e
vou por ocasião do primeiro Simpósio daANP:-E~ reahza~o em Salva- especificamente para a educação pública. Após vinte e um anos de
dor, em 1961. A partir da leitura das conferências real~zadas pelos ditadura militar, os anos 80 representaram o momento da abertura
professores Anísio Teixeira e José Querino Ribeiro, é_possível o~s~rvar política, o que veio acompanhado de manifestações de luta dos tra-
1 . if rentes entendimentos da natureza e da funçao da AdmImstra- balhadores muito diversas nas suas formas e conteúdos. Os traba-
I 1I I'" l' I r e, por conseguinte, do perfil e da formação pretendida para lhadores da educação marcaram definitivamente essa década com
as greves que promoveram nos finais dos anos 70 e início dos 80. O
1"1 ,I 11.11IlInn
.
I r alizada pe Ia ANP'AE 50 b re a 5 formas de provimento do cargo envolvimento da comunidade nas lutas em defesa da escola pública
I 11 1.1111111111'11 11,nos anos 90.
135
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POLíTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO
ol'H nl7. tio I 01' mim' p Ia prof.a Marisa Duart , t rua r fi til' .ssa qu st, . ua ra i. nalidad ,qu mLlit, v Z S P d ntrariar int r d
I v [vi os.. j<l nas trab lh
I.
117
MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRABALHO NA ESCOLA
POLíTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO
,
idéia de que o diretor é o único responsável pela gestão escolar, concen-
trando todas as decisões e responsabilidades pelos erros e acertos.
Essa abordagem trouxe uma concepção de diretor como ges-
vos com p erfil re uerido para o diretor acarreta mu-
tor / gerente escolar que buscou resgatar, em um contexto dominado
já menClonado, o ~ovdop fi~ional12 Em meio à crítica que rejei-
danças na formaçao esse pro .' . '1 ia métodos e pela politização das ações, a separação fundamental entre os que
f ção técnica que pnvl eg mandam e os que fazem. Porém isso agora ocorre sem a efetiva cor-
tava totalmente a orrna . h bilitação
instrumentos de trabalho, os cur~os de ~::t:g~;l~:;O:-va:iamento respondência nas condições materiais das escolas e sobretudo da
em Administração Escolar, se vrram d. h bilitação autoridade que o cargo de diretor já se viu revestido. Premido pela
numérico (a demanda dos alunos de Pedagog1a p~r essa ~ 1 necessidade de ter popularidade junto à comunidade, de ser legíti-
nos estados onde realiza-se eleição direta para dl:~tores e esco a mo nas suas atitudes, que não deverão contrariar os princípios da
teve uma queda sensível) e de conteúdo programatlco. . gestão democrática, e ainda tendo que responder aos constrangi-
Em muitos casos, o que acabou ocorrendo foi um r:l~tlVo em- mentos que reforçam a necessidade do trabalho coletivo na escola, o
. nto do curso resultando numa crítica pela crítíca, o que diretor tem de trabalhar dobrado, pois encontra grande dificuldade
po b reClme' bili - seu ca-
lh falta de identidade profissional da ha 1ltaçao e em delegar responsabilidades, dar ordens, distribuir tarefas.
espe ava a . _ . te É como se tivesse passado, em
ráter inócuo ante a sítnaçao vlgen · - d Administrador Esco- De acordo com essa visão gerencial, o diretor é, novamente,
f
certos casos, a realizar-se a contra ormaçao: va é um vácuo que colocado no centro da estrutura de poder na escola, algo similar ao
lar. Passada mais de uma década, o que se o ser que fora defendido em outros tempos pelos precursores da Admi-
urge preenchimento. . nistração Científica do Trabalho na gestão escolar. Trata-se de pro-
Talvez por essa razão, nos referidos programas ddegerencfla- postas que vêm corroborar as necessidades de competência técnica
se a defen er uma or-
mento adotados mais recentemente, passou- her o gerencial frente às recentes mudanças trazidas pelo processo de des-
- o técnica que com muitos eufemismos,·procurou preenc centralização administrativa nas redes públicas de ensino, que, jus-
maça ' . terí mente No programa
. d ixado pelo processo descnto an enor . tamente por sobrecarregar o diretor na rotina burocrática, acabam
vazio el. to da Qualidade Total que tentou-se implantar na
de gerenClamen . " d s anos 90 os servindo de desestímulo ao investimento do mesmo nas dimensões
rede pública estadual de Minas bGerais no InlC10 o t: d pedagógicas de sua função.
ti muitas vezes a e e
professores eleitos diretores su me iam-se. Em pesqui a r nt c m dir tores c vi -dir tor s da R d
Muni i I d "nsin B I ri?, nt , F j s fv I
11 f.: RY (1986) L1V ·IRA (1996).
1:11)
I H
MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRABALHO NA ESCOLA
POLíTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO
ele, por seus pares, pelos discursos oficiais e pela literatura específi-
rofissionais em exercício de direção
sobrecarga de trabalho que os Pd suas J. ornadas de trabalho, ca. É curioso observar que à medida em que as dimensões políticas
.
têm sofndo na atua 1 a .
r d de Ao escrever
- ter na sua grande maio- do perfil do diretor passaram a ser valorizadas, em detrimento de
. demonstraram nao , um comportamento mais técnico e burocrático, ampliaram-se suas
esses diretores e VICes balhando sem planejamento, ten-
ria, controle sobre seu temp~, ~ra d d mandas que Ihes são obrigações administrativas, o que na prática resultou em um cer-
. d imedIabsmo as e ~ ceamento de muitas das suas atividades políticas.
tando respon er ao s manifestaram certa impoten-
AI' disso os mesmo Diante do duplo desafio de manter a escola funcionando a qual-
apresenta d as. em , . a ui i discutidas, por não con-
á
cia diante das mudanças ~c~rn.dast' azql.d~S pela nova legislação, aos quer custo, sem assumir uma postura centralizadora e autoritária,
. d r às eXIgenClaS r pesa sobre os ombros do diretor uma intensificação do trabalho, já
segUlrem respon e . , demandas requeri das por
. 1 órgãos centraIs, as . que se encontra impedido de delegar poder e dar ordens, em razão
P razoS Impostos pe os tici tiva ou ainda às necessi-
.d d . tenta e par icrpa , de que a noção de subalternidade foi substituída por uma retórica
uma comum ~ e mal:r:balhadores e usuários no exercício da ges-
dades de envo ver o~ . têm erado um sentimento de que valoriza o trabalho coletivo e as relações horizontais.
tão escolar. Tais dIficuldades ~ g ados e inibidos de to- Contudo, não é necessário ser um observador muito atento para
di t ue se veem ameaç
desconforto nos Ire ores q 1 1· .taçõ es impostas pelas condi- perceber o quão distante de uma cultura democrática e autônoma,
. - quer pe as irru
marem certas d ecisoes. de serem interpretados como envolvendo a participação de todos, estão as escolas públicas brasi-
ções de infra-estrutura, quer pelo temor leiras. Caracterizadas pelo abandono e pela carência material, sub-
dirigentes autoritários. , . d ma so- metidas a uma carga de trabalho e obrigações que só têm aumentado
t do que esta corren o u
nos últimos anos, fica difícil esperar dos profissionais da educação e
As pesq\.~is.asvê.m dem::~:a~scolar, sem uma correspondên-
dos usuários dessas escolas que tenham tempo e disposição para
brecarga admIDIstratlva na r I tem resultado em um
di - t riais da esco a, o que uma participação diferenciada e politizada no cotidiano escolar.
cia nas con içoes ma e d d· tor nessas tarefas, provocando
. bsoluto o ue , As tarefas administrativas, como já mencionado, vêm absor-
envolvlmento quase a b lho o que não só podera tra-
if - b utal do seu tra a , vendo quase todo o tempo do diretor, esvaziando de conteúdo críti-
uma intensl lCaçao r I mas principalmente para a
..~ . danosas para a esco a, co e analítico suas atitudes,· reduzindo-o à função de gerente, de
zer consequenClaS nho dessas atividades tem co-
saúde dos trabalhadores. O desempe di t r tenha uma interven- controlador da força de trabalho e de administrador de recursos es-
locado sérias dificuldades para que 0 Ire o o um profissional que cassos, em síntese: um funcionário da organização escolar. Ao contrá-
.. áti o cotidiano esco1ar com _ rio do que é alardeado como sendo seu principal papel e sua função.
ção mais SIstema ica n 'ltiplas dimensoes e
- d escola nas suas mu
compreende as fu~çoes a ficialmente isso seja o que mais As dificuldades materiais, traduzidas em reduzido financiamento
relações com a sOCledade, embora o para tantas demandas apresentadas à escola pública, têm forçado os
se espera dele. . r assasse a trabalhar mais e, diretores a procurar outras formas de garantir o funcionamento em
Tais tarefas levaram a que o dbl~el.tdo dPespara com a escola. Além condições minimamente aceitáveis das escolas. Dentre as alternati-
. es responsa 1 I a vas apresentadas aos diretores, destacam-se duas: a procura por par-
sobretudo, a ter malür . ~ . de ue o diretor conseguisse fazer
disso, aumentaram as eXIgenClaS ql mesmo os multiplicasse cerias junto às empresas e o recurso ao comunitarismo.
ebidos pela esCOa, ou No momento em que as escolas se debruçam sobre importan-
render os recursos rec , .d de e a's empresas ou, ainda,
ib . - . ntoacomum a tes questões pedagógicas, como adotar os Parâmetros Curriculares
buscando contn Ulçoes~u . bIs orçamentos e melhor
1 - atrvas para ur ar o Nacionais, optar entre as formas de organização escolar em ciclos
procurando so uçoes cn id d específicas. Essas tarefas fo-
. . ,1 undo as neceSSI a es • ou séries, repensar suas formas de avaliação, elaborar seu projeto
redlstnbm- os seg . . t ti da função de diretor es-
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Educação & Sociedade
Print version ISSN 0101-7330On-
line version ISSN 1678-4626
Educ. Soc. vol.20 n.69 Campinas Dec. 1999
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73301999000400006
Dermeval Saviani**
Sistemas de ensino
f) do ponto de vista dos ramos de ensino, em: comercial, industrial, agrícola etc.
Além dos mencionados, outros critérios poderiam ser levantados. Daí derivam
expressões como: "sistema geral de educação", "sistema federal de ensino",
"sistema oficial", "sistema público", "sistema escolar", "sistema de ensino
superior" etc. Na verdade, porém, o uso dessas expressões é impróprio; um
exame mais detido revelará que, em todos esses casos, se trata propriamente
do sistema educacional, considerado sob este ou aquele prisma, nesse ou
naquele aspecto. Além do mais, o conceito de sistema denota um conjunto de
atividades que se cumprem tendo em vista determinada finalidade, o que implica
que as referidas atividades são organizadas segundo normas que decorrem dos
valores que estão na base da finalidade preconizada. Assim, sistema implica
organização sob normas próprias (o que lhe confere um elevado grau de
autonomia) e comuns (isto é, que obrigam a todos os seus integrantes). Ora, os
cursos livres são tais exatamente porque não se subordinam às normas gerais
e comuns. Dessa maneira, os cursos livres, por definição, estão fora do sistema
educacional. Logo, não parece adequado classificar o sistema educacional como
oficial, oficializado ou livre.
Por outro lado, nas sociedades modernas a instância dotada de legitimidade para
legislar, isto é, para definir e estipular normas comuns que se impõem a toda a
coletividade, é o Estado. Daí que, a rigor, só se pode falar em sistema, em
sentido próprio, na esfera pública. Por isso as escolas particulares integram o
sistema quando fazem parte do sistema público de ensino, subordinando-se, em
consequência, às normas comuns que lhes são próprias. Assim, é só por
analogia que se pode falar em "sistema particular de ensino". O abuso da
analogia resulta responsável por boa parte das confusões e imprecisões que
cercam a noção de sistema, dando origem a expressões como sistema público
ou particular de ensino, sistema escolar, sistema de ensino superior, primário,
profissional etc. Em verdade, a atitude que tem prevalecido entre os educadores
em geral e especialmente entre os legisladores tem sido a de evitar a questão
relativa ao esclarecimento preciso do conceito de sistema, considerando-o como
algo constantemente referido, mas cujo sentido permanece sempre implícito,
supostamente compreendido, mas jamais assumido explicitamente.
Será que, no citado artigo 211, o acento deve ser posto na competência
individual de cada ente federativo ou no regime de colaboração entre eles? Ou
seja: o plural "sistemas de ensino" deve ser lido como significando que cada um
organiza o respectivo sistema de ensino ou estaria significando que a
organização dos sistemas de ensino pressupõe sempre a colaboração entre os
vários entes federados? Assim, no Distrito Federal, que não é constituído por
municípios, a organização do sistema de ensino implicaria apenas a colaboração
entre a União e o Distrito Federal. Já nos estados essa organização envolveria
a colaboração entre a União, o estado e os seus municípios.
Planos de educação
Em 1993 foi editado o "Plano Decenal de Educação para Todos" (Brasil 1993),
cuja elaboração foi coordenada pelo MEC e que pretendeu se distinguir dos
planos anteriores seja porque não se referia à educação de uma forma geral mas
apenas à "educação fundamental", seja porque buscou não se reduzir a meras
normas de distribuição de recursos. Nesse sentido procurou traçar um
diagnóstico da situação do Ensino Fundamental e delinear perspectivas,
identificando os obstáculos a enfrentar, formulando as estratégias para a
"universalização da educação fundamental e a erradicação do analfabetismo" e
indicando as medidas assim como os instrumentos para a sua implementação.
Tendo tomado como referência a "Declaração Mundial sobre Educação para
Todos" proclamada na reunião realizada de 5 a 9 de março de 1990 em Jontien,
na Tailândia, assim como ocorreu nesse documento também o "Plano Decenal"
utiliza as expressões "educação básica" e "educação fundamental" com
significado equivalente. De qualquer modo, o foco central do "Plano" é o Ensino
Fundamental abrangendo, também, a educação Infantil, em especial a sua
segunda etapa correspondente à faixa etária dos 4 aos 6 anos, isto é, a fase pré-
escolar. Embora o referido "Plano Decenal de Educação para Todos” se
propusesse a ser instrumento que viabilizasse o esforço integrado das três
esferas de governo no enfrentamento dos problemas da educação, ele
praticamente não saiu do papel, limitando-se a orientar algumas ações na esfera
federal. Em verdade, ao que parece, o mencionado plano foi formulado mais em
conformidade com o objetivo pragmático de atender a condições internacionais
de obtenção de financiamento para a educação, em especial aquele de algum
modo ligado ao Banco Mundial.
Além das normas contidas nessa legislação cabe levar em conta, também, as
propostas de plano nacional de educação, do governo e da oposição, que se
encontram no Congresso aguardando apreciação, discussão e votação. De outro
lado, é claro, será atendida igualmente a legislação definida no âmbito dos
respectivos estados. Finalmente, se for o caso, caberá ajustar a Lei Orgânica do
Município à nova situação.
Conclusão
Bibliografia
BRASIL, MEC, CFE, "Plano Nacional de Educação", 1962. In: Revista Brasileira
de Estudos Pedagógicos, vol. XXXVIII, nº. 88, out.-dez. 1962, pp. 108-
126. [ Links ]
BRASIL, MEC, Plano Decenal de Educação para Todos. Brasília, 1993, 102
p. [ Links ]
BRASIL, MEC, INEP, Proposta para o Documento: Roteiro e Metas para Orientar
o Debate sobre o Plano Nacional de Educação. Brasília, 1997b, 61
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