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Resumo: Esse estudo enfoca o Projeto Político-Pedagógico (PPP) como importante elemento
de planejamento e de engajamento educacional. Apresenta breve histórico sobre o
planejamento educacional no Brasil, contribuições da literatura sobre os temas da gestão
escolar democrática, e quantitativos sobre representações e participações de professores,
alunos e funcionários de uma escola estadual de Ensino Fundamental acerca de seu PPP.
Conclui com admoestações referentes á salvaguarda do PPP como instrumento de
transformação social a partir das relações e das práticas escolares.
Introdução
1
Pedagoga. Especialista em Supervisão Escolar e Orientação Educacional e em Psicopedagogia
Professora PDE. Atua na Equipe Pedagógica da Escola Estadual Laranjeiras do Sul – EF, Laranjeiras
do Sul (PR).
2
Pedagogo. Mestre em Educação. Professor do Departamento de Pedagogia da Universidade
Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO, em Guarapuava (PR).
A realidade posta dentro do âmbito escolar revela, porém que nem todos os segmentos que
permeiam a construção do processo educativo constituem uma participação efetiva na
elaboração do PPP.
Para realização desse estudo, utilizou-se pesquisa bibliográfica e levantamento de dados por
meio de questionário fechado junto a professores, funcionários e alunos de uma escola
estadual de Ensino Fundamental. Verifica-se que embora se tenha uma farta e consistente
literatura e um correspondente discurso progressista sobre o tema do PPP e sua inserção em
um modelo escolar democrático e emancipador, a participação dos professores e funcionários
na elaboração do PPP ocorre de maneira tímida e direcionada, enquanto a participação dos
alunos é inexistente. Isso evidencia uma contradição basilar entre teoria e prática e denuncia o
comprometimento do discurso progressista. Contudo, o quadro, longe de apenas justificar
uma situação apolítica ou de redundar em desesperança, provoca para atitudes de
engajamento.
Até a década de 1920 não havia uma função educadora para o nível médio e primário,
razão pela qual eles não mereceram atenção do Estado. A educação era um instrumento de
mobilidade social e era utilizada como distintivo de classe, onde a classe média procurava
como via de ascensão social, prestígio e integração com o poder dominante.
A década de 1930 no Brasil foi marcada por dois modelos de Estado, sendo que antes
disso a estrutura econômica brasileira era baseada na agricultura e o poder político se
concentrava nas oligarquias rurais, era uma economia primário-exportadora, havendo então a
transição de uma sociedade oligárquica para urbano-industrial. A partir de 1930, surge o
modelo econômico nacional-desenvolvimentista com a participação mais ativa do Estado na
economia, passando este a desempenhar funções cada vez mais complexas no conjunto da
economia, que vão desde a formulação de regras de desenvolvimento até a criação e
manutenção de empresas estatais.
Para confirmar e concluir este esboço histórico cita-se OLIVEIRA, para quem
Dentro deste cenário, o planejamento central começa a ser substituído por formas mais
flexíveis de gestão, como a noção de planejamento descentralizado, indicando mudanças no
deslocamento do eixo de poder. Segundo OLIVEIRA,
O planejamento burocrático e centralizado deve ajustar-se à realidade imediata,
sem, contudo, abalar o equilíbrio do todo, que deve sobreviver apesar das suas
especificidades locais. A realidade emergente aponta para formas pluricentradas de
planificação, onde o poder não emana mais exclusivamente do Estado. (...) Não é
que o planejamento tenha sido descartado como um instrumento de poder, ao que
parece, ele tem se adequado à nova realidade que se apresenta de forma mais
heterogênea, móvel e flexível. (OLIVEIRA, 2003, p.88-89).
A construção do Projeto político- pedagógico sofre influência das práticas sociais e das
relações histórica desenvolvidas por seus sujeitos, pois sua origem está na construção coletiva
que só será possível se todos os envolvidos no processo educativo estiverem mobilizados a
pensar e a realizar o “fazer pedagógico” de forma coerente, cabendo a escola a tarefa de
coordenar as ações pedagógicas.
A escola irá conceber seu PPP buscando autonomia para executá-lo e avaliá-lo,
partindo de uma reflexão sobre suas finalidades sociopolíticas e culturais e sobre a
organização do seu trabalho pedagógico, tornando-se um desafio a construção de um PPP
dentro de um processo de ação-reflexão.
Teoria versus prática: alguns pontos de desencontro político e pedagógico
Os alunos, em sua maioria, num total de 65% responderam que não sabem o que é PPP
e 47% não souberam responder do que se trata o PPP da escola. Embora haja um
desconhecimento do seu conteúdo e da sua função, 50% dos alunos consideram o PPP
importante para a escola, sendo que 22% o consideram necessário e apenas 2% não
consideram importante. Os alunos que não souberam responder totalizam 26%.
Em relação aos funcionários foi constatado que 66,67% sabem o que é PPP, sendo que
16,67% consideram importante e 50% consideram necessário. O percentual dos que ignoram
o que seja o PPP coincide com o dos que o consideram pouco importante para a escola:
33,33%.
Quanto aos professores, todos afirmaram que já estudaram sobre o PPP em reuniões
pedagógicas e em cursos de capacitação. Porém, a valorização do PPP está longe de ser
consensual entre os professores: 53,85% o consideram necessário, e 46,15% o classificam
como importante para a escola.
Percebe-se até aqui que tanto entre os professores quanto entre os funcionários e
alunos dessa escola, a maioria vê o PPP como um instrumento importante ou necessário para
a instituição. Todavia, é preciso conhecer o nível de envolvimento dessas pessoas com o PPP,
a fim de inferir se as suas impressões sobre a importância e a necessidade do documento está
embasada em alguma experiência no âmbito escolar. Para tanto, perguntou-se sobre a sua
participação em processos de elaboração e/ou de avaliação de Projetos Político-Pedagógicos.
Entre os alunos, 58% consideram o PPP importante para os seus estudos, 6% não
consideram importante, 8% não vêem relação entre o PPP e os seus estudos e 28% não
souberam responder.
Quanto aos professores, 76,92% consideram o PPP importante para o seu trabalho;
esse percentual coincide com o dos que já participaram de elaborações e/ou avaliações de
PPPs. Há coincidência, também, entre os percentuais dos que disseram que nunca
participaram de elaborações e/ou avaliações de PPPs e dos que consideram o PPP pouco
importante para a sua prática docente: 23,08%. Há coerência entre esses percentuais e os que
se referem à atribuição de importância do PPP para a escola como um todo.
Os quantitativos expostos evidenciam que mesmo depois de mais de dez anos de base
legal e de estudos consistentes vinculados a modelos de gestão escolar participativa e de
evidência do PPP como seu documento por excelência, ainda insistem os divórcios entre
teoria e prática, e no extremo, entre educação e cidadania.
Conclusão
Cabe, nos limites desse estudo, e mediante o quadro quantitativo obtido, elencar
algumas admoestações referentes ao Projeto Político-Pedagógico. Para tanto, segue-se as
defesas contidas na literatura que dá aporte teórico a esse estudo, segundo a qual,
sucintamente, o PPP pode ser entendido como um processo de mudança e de antecipação do
futuro, estabelecendo princípios, diretrizes e propostas de ação para a organização e
sistematização das atividades desenvolvidas pela escola como um todo. Contrasta com essa
convicção a incoerência de práticas educativas que se pretendem progressistas e que são
realizadas, porém, dentro de modelos tradicionais e excludentes descartando a possibilidade
de uma articulação dialética, de apresentação de críticas, de sugestões, de presença viva, onde
professores ficam submissos ao que está instituído.
O Projeto pedagógico é um articulador das diversas ações da escola, é uma ação consciente e
organizada, devendo romper com o isolamento dos diferentes segmentos da instituição
educativa e com a visão burocrática que se tem de construção de um documento para ficar
engavetado e cumprir uma tarefa solicitada por instâncias majoritárias.
Desse modo, é nas condições reais de trabalho da escola que é preciso trilhar um
caminho dentro da coletividade reconstruindo uma relação tão necessária para a construção e
vivência de um PPP que tenha como intenção a emancipação e a democracia. O projeto deve
ser vivido em todos os momentos por todos os envolvidos no processo educativo da escola,
desde a organização escolar como um todo até a organização da sala de aula.
Referências
LÜCK, Heloísa. Gestão educacional: uma questão paradigmática. Rio de Janeiro: Vozes,
2006.
PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. 3.ed. São Paulo: Ática,
2004.
SAVIANI, Dermeval. Histórias das Idéias Pedagógicas no Brasil. Campinas, São Paulo:
Autores Associados, 2007.
VEIGA, Ilma Passos (0rg.). Quem sabe faz a hora de construir o Projeto Político-
Pedagógico da escola. Campinas, São Paulo: Papirus, 2007.