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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
ITUVERAVA – SP
2021
UNIVERSIDADE PAULISTA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
ITUVERAVA – SP
2021
FICHA CATALOGRÁFICA
AGRADECIMENTOS
Escrever agradecimentos por concluir algo que todo o trabalho braçal foi
exclusivamente meu é sempre um sentimento meio estranho, mas como quase toda
monografia tem, eu acho válido escrever algumas palavras, no intuito de deixar registrado o
nome daqueles e daquelas que em meio a esses quatro anos de graduação ficaram em cima de
mim o tempo todo e, em sua maioria, me ajudaram a não dar pra trás quando as coisas
ficavam difíceis ou o desânimo batia.
Primeiramente, valeu mãe. Essa ideia de fazer pedagogia foi toda sua, e se nao tivesse
insistido por seis meses eu acredito que nunca teria tido o ânimo necessário para começar esse
processo longo e demorado – que viria a fazer um monte de gente a me chamar de doido por
estar iniciando uma segunda graduação concomitante à primeira.
Em segundo lugar queria agradecer de maneira mais geral e superficial aquelas pessoas
que durante minha formação me incutiram o amor pela educação como um todo. São diversas
pessoas, mas dentre elas o Pimpão foi quem mais me inspirou, ajudou e continua inspirando e
ajudando nessa carreira ingrata, mal remunerada, sofrida e desrespeitada que o professorado.
Em terceiro lugar eu gostaria de agradecer à Monise, que nesses últimos momentos de
fazedura desta monografia, foi ela quem mais de perto acompanhou esse processo chato,
custoso e cansativo, e que mais me deu força para que eu nao desanimasse escrevesse cada dia
mais parágrafo.
De maneira geral, também queria deixar um abraço especial aos meninos que moraram
comigo na Cativeiro, e que em 2018 e 2019 me ajudavam com diversas coisas do curso,
principalmente a galera que fazia História. Valeu, gente.
Quero também deixar um obrigado registrado para todos os meus familiares que de uma
forma ou de outra ficaram felizes por mim quando iniciei essa nova etapa da minha vida
intelectual, e que apoiaram dizendo que era uma boa ideia.
Por fim, apesar de ter iniciado esses agradecimentos com uma piada e ter dito que o
processo foi longo e cansativo – e foi –, além de reclamar dessa área na qual eu estou dentro,
ninguém consegue chegar muito longe sem ajuda. E cada agradecimento aqui é especial e de
coração, pois foi graças a essas ajudas, palavras de incentivo e até as piadinhas sobre eu ser
doido, que incentivaram a começar, passar por tudo, e, agora finalmente, concluir mais essa
etapa da minha vida – acadêmica, profissional e pessoal.
Muito obrigado, galera. É nois.
RESUMO
Este trabalho pretende analisar as políticas públicas voltadas para o âmbito educacional do
Brasil a partir do primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 – 1998)
até o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (2012 – 2014), com vistas a levantar
dados para que se possa observar possíveis permanências, reveses e avanços do campo
educacional neste país. Ao olharmos diretamente para o passado recente do Brasil, antes de
intentar reconstruir a história e pautar discussões ainda jovens, nós pretendemos lançar luz a
uma nova forma de perceber essas possíveis permanências até os dias de hoje e, se possível,
criticar as ações tomadas pelos governos observados, no que diz respeito, principalmente à
desigualdade social que a educação nacional carrega em si desde sua fase primária.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 10
2. MÉTODO 12
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO 14
CONSIDERAÇÕES FINAIS 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 29
7
INTRODUÇÃO
1
SILVA, Gleidson; AMORIM, Simone Silveira. Apontamentos sobre a educação no Brasil Colonial (1549-
1759). Interações (Campo Grande), v. 18, p. 185-196, 2017.
2
CASRELNAU-L’ESTOILE, C. de. Operários de uma vinha estéril: os jesuítas e a conversão dos índios no
Brasil 1580-1602. Bauru: Edusc, 2006.
3
NASCIMENTO, Jorge Carvalho. A cultura ocultada ou a influência alemã na cultura brasileira durante a
segunda metade do século XIX. Londrina: Ed.UEL, 1999, p. 32.
8
4
NUNES, Maria Thetis. História da educação em Sergipe. In. DA SILVA, Adailton Soares; DE SOUZA,
Aneilton Oliveira. Política educacional no Brasil: do império à República. Rios Eletrônica – Revista Científica
da FALSETE. Ano 5, n. 5, p. 71. 2011.
5
PALMA FILHO, João Cardoso. Cidadania e educação. Cadernos de Pesquisa, n. 104, p. 101-121, 1998.
6
BITTAR, Marisa; BITTAR, Mariluce. História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de
democratização da sociedade. Acta Scientiarum. Education, v. 34, n. 2, p. 157-168, 2012.
9
momento fez valer, ao menos na letra, a criação de um Sistema Nacional de Educação, porém
carregado por uma dicotomia excludente entre o ensino técnico-profissional, destinado às
camadas mais humildes, e o ensino complementar (ou secundário), destinado às elites
nacionais.
No período ditatorial compreendido entre os anos de 1964 e 1985, houve um
aumento na capilaridade das escolas públicas brasileiras. Entretanto, esse aumento no alcance
da rede, nem de longe, fora acompanhado por um aumento, nem sequer, por uma
padronização da qualidade do ensino. Muito disso está intimamente ligado à entrada do
pensamento tecnocrático, característico da sociedade militar brasileira, em vistas de uma
educação “preparatória” da mão de obra, em detrimento de uma educação crítica e de
autonomia.
De lá pra cá, muita coisa mudou, não somente no âmbito da educação per se, mas na
própria História e projeto político do Brasil. À luz da década de 1990, pouco tempo após o
processo compreendido como abertura política, o país abandonaria as políticas públicas do
período ditatorial por novas, porém não deixaria de lidar com consequências herdadas desse
período.7
A partir de então, com a consolidação de uma educação orientada pelos moldes
neoliberais este trabalho pretendo tomar como objeto as ações diretas tomadas pelos
presidentes – começando pela segunda metade da década de 1990 – e as políticas públicas
implantadas no âmbito educacional brasileiro. Este trabalho, portanto, será composto por 3
eixos de análises, sendo divididos em uma primeira parte, que pretende-se lançar luz às
políticas econômicas vigentes e compreender o lugar do Brasil dentro dessa perspectiva
globalizada de economia na qual se insere, e o papel da educação no quadro de disputas de
forças; depois, apresentar e discorrer sobre as políticas públicas que compunham o âmbito
educacional do Brasil, a partir de 1995, principalmente aquelas de caráter nacional e
governamental; por fim, antes de propor uma solução, objetivamos levantar uma perspectiva
geral tomando os dados obtidos como base, com o intuito de se olhar a realidade do presente à
luz de dados concretos do passado e, dessa forma, contribuir ao debate educacional.
7
BITTAR, Marisa; BITTAR, Mariluce. História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de
democratização da sociedade. Acta Scientiarum. Education, v. 34, n. 2, p. 164, 2012.
10
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para dar aporte teórico e metodológico a esta pesquisa lançaremos mãos de diversos
autores já consagrados dentro deste campo, amplo, de estudos, que se faz em torno das
políticas públicas educacionais brasileiras. Antes de consultar tais obras, fizemos o
levantamento de um importante corpus documental que auxiliou na orientação da pesquisa
sobre as regulmantações brasileiras.
Para tanto, podemos citar o uso da Base Nacional Curricular Comum, um documento
basilar para as pesquisas nesse campo, pois definem, de fato, a base educacional dos dias de
hoje. Além deste, utilizamos também a Lei N° 4.024, de 29 de dezembro de 1961 8; a Lei N°
5.692, de 11 de agosto de 19719; e a Lei N° 9.394 de 20 de dezembro de 199610 – dando maior
destaque a esta última –, que foram, cada qual, o marco jurídico de sua época para a
regularização da educação em território nacional. Por fim, como documentação oficial,
utilizou-se a Constituição Brasileira de 198811 no intuito de, à luz da constituicionalidade,
pudéssemos observar as incongruências que atravessam o discurso em relação à prática.
No que diz respeito à bibliografia utilizada até então, optou-se pelo trabalho divido em
temáticas para que fosse possível a construção de um melhor campo amostral para o trabalho.
Dessa forma, separamos as obras – e seus respectivos autores/ras – da seguinte forma: para os
aspectos básicos e um breve panorama histórico, usou-se de artigos referentes à consolidação
de um sistema público de educação no país e como este se tornou condição primordial para o
seu desenvolvimento econômico nas décadas passadas. Neste quesito, portanto, utilizamos da
obra 500 anos de educação no Brasil,12 que segundo Saviani13 “[...] apresenta um amplo
painel da produção historiográfica sobre educação cobrindo um largo leque de temas e
contemplando, de um modo ou de outro, os vários períodos atravessados pela educação na
história de nosso país”.
8
Esta seria depois revogada pela Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Cf. BRASIL. Lei N° 4.024, de 20 de
dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1961. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4024.htm>. Acesso em 15 de out. 2021.
9
BRASIL. Lei N° 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá
outras providências. Brasília. 1971. Disponível em: < https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-
5692-11-agosto-1971-357752-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em 16 de out. 2021.
10
BRASIL. Lei N. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm.> Acesso em: 12 out. 2021.
11
FEDERAL, Senado. Constituição. Brasília (DF), 1988. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 16 de out. 2021.
12
LOPES, Eliana Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes VEIGA, Cynthia Greive. (orgs.). 500 anos
de educação no Brasil. 2a ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 606 p.
13
SAVIANI, Dermeval. 500 anos de educação no Brasil. Revista Brasileira de Educação, n. 14, p. 187-188,
2000.
11
14
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Educação básica no Brasil na década de 1990: subordinação
ativa e consentida à lógica do mercado. Educação & sociedade, v. 24, p. 93-130, 2003.
12
2. MÉTODO
Temos plena consciência de que fatos importantes estão sendo selecionados e apresentados
enquantos alguns, até omitidos. Isso corresponde ao risco que se corre com esse tipo de
empreendimento que nos propomos realizar.
Complementando nossa estratégia metodológica, usaremos também dos estudos de
Educação Comparada, que se propõe, “ [...] partindo das formas institucionalizadas do ensino,
[...] aprofundar a análise desse processo, nas relações que apresente com as circunstâncias da
existência dos vários grupos sociais, e da integração deles na sociedade nacional”. 17 As
origens desse esses estudos a dois movimentos paralelos, que concernem ao recorte
apresentado no presente trabalho:
Dessa forma, partindo dos pressupostos estabelecidos na obra organizada por Carlos
Monarcha e Ruy Lourenço Filho, assumimos que através de uma ação educativa intencional,
seja possível, de fato que o processo educacional exerça um retorno sobre sobre condições
básicas de toda a vida social. Lançar mão dos Estudos Comparativos, portanto, nos oferece
um vasto espaço amostral para análise a partir de princípios concretos; ou seja, olhando para o
conjunto de leis e decretos que tangem a política educacional, em contraste com a realidade
de fato da educação no país, dentro do período estabelecido.
17
MONARCHA, Carlos; LOURENÇO FILHO, Ruy. Educação comparada. Brasília: MEC/Inep, 2004, p. 18.
18
Ibid., p. 27.
14
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO
19
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Educação básica no Brasil na década de 1990: subordinação
ativa e consentida à lógica do mercado. Educação & sociedade, v. 24, n. 82, p. 93-130, 2003.
20
UNICEF. Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Conferência de Jomtien – 1990). Disponível
em: <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-mundial-sobre-educacao-para-todos-conferencia-de-jomtien-
1990>. Acesso em 12 de out. 2021.
21
MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Plano Decenal de Educação para
Todos. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2001.
Disponível em <https://www.educabrasil.com.br/plano-decenal-de-educacao-para-todos/>. Acesso em 12 out.
2021.
15
22
Cf. BITTAR, Marisa; BITTAR, Mariluce. História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de
democratização da sociedade. Acta Scientiarum. Education, v. 34, n. 2, p. 163, 2012.
23
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Educação básica no Brasil na década de 1990: subordinação
ativa e consentida à lógica do mercado. Educação & sociedade, v. 24, n. 82, p. 93-130, 2003.
24
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394/96, art. 22.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm.> Acesso em: 12 out. 2021.
16
25
ANDERSON, 2002, p. 2 apud FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Educação básica no Brasil na
década de 1990: subordinação ativa e consentida à lógica do mercado. Educação & sociedade, v. 24, n. 82, p.
103, 2003.
26
DE OLIVEIRA, João Ferreira; LIBÂNEO, José Carlos; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas,
estrutura e organização. Cortez Editora, 2017, p. 123.
17
Tendo isso em vista, fica nítido que de certa forma essas políticas educacionais
mencionadas anteriormente estavam pintadas num quadro maior que compunha o campo do
novo jogo político-econômico internacional de finais do século XX. Nessa nova sociedade, a
educação e o conhecimento são vistos como bens econômicos necessários às transformações
da produção e, portanto, “Tornam-se claras, assim, as conexões educação-conhecimento e
desenvolvimento-desempenho econômico. A educação [passa a] constitui[r] um problema
econômico na visão neoliberal, já que é o elemento central desse novo padrão de
desenvolvimento”.27
A educação, portanto, torna-se uma ferramenta de qualificação do futuro profissional.
Uma qualificação que não necessariamente anda a par do pensamento crítico, ou de uma
formação cidadã, mas uma qualificação que responde ao novo mercado de trabalho, que passa
a exigir uma maior flexibilidade funcional do trabalhador. Nessa ótica, a educação está
incumbida da “[..] capacitação da mão de obra e na requalificação os trabalhadores, para
satisfazer as exigências do sistema produtivo”.28
São nesses termos que Gaudêncio Frigotto e Maria Ciavatta definem a forma como
uma educação democrática e de direito universal deveria se constituir, mesmo que suas
políticas venham há anos, seguindo em uma direção oposta. É notável as diversas forças
ideológicas que disputam o espaço político da educação brasileira desde a abertura política e,
principalmente, a partir de 1988 com a Constituição. A década seguinte, de 1990, se tornou
27
Ibid., p. 124.
28
Ibid., p. 126.
29
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Educação básica no Brasil na década de 1990: subordinação
ativa e consentida à lógica do mercado. Educação & sociedade, v. 24, n. 82, p. 122, 2003.
18
um momento-chave para que possamos analisar de uma forma mais ampla as políticas
educacionais impostas aos países periféricos da economia política e, como elas refletiram em
uma certa situação dos espaços escolares à nova realidade dessa sociedade globalizada.
Neste sentido, passemos então a olhar com mais cuidado para os planos educacionais
postos em práticas pelos governos compreendidos entre os anos de 1995 (1° mandato do
governo de Fernando Henrique Cardoso) até 2014 (também o 1° mandato de Dilma Rousseff).
Como aporte a este capítulo, usaremos principalmente da obra “Educação Escolar: políticas,
estrutura e organização” com vistas de construir um diálogo crítico entre os planos e criar
assim, as bases para nossa crítica.
Para falarmos do Plano Educacional posto em voga pelo Governo FHC, é necessário
antes, retornarmos um pouco para o contexto no qual estávamos submetidos, e tomar nota de
que este governo fora aquele que deu o pontapé inicial para a entrada – e submissão – do
Estado brasileiro na lógica internacional do capital financeiro. 30 A partir de sua posse pode-se
constatar o início do processo de concretização das políticas educacionais elencadas
anteriormente, e orientadas sob a ideologia de agentes financeiros multilaterais. Esta reforma
tomou rumo a partir de um amplo plano de ações, mas sem um investimento financeiro
concreto, e no decorrer de sua vigência, até conseguiu elevar um pouco a qualidade de ensino
das regiões mais pobres do Brasil, porém, ao custo do detrimento da qualidade do ensino,
principalmente em grandes centros.31
Segundo Toschi, Libâneo e Oliveira,
30
DE OLIVEIRA, João Ferreira; LIBÂNEO, José Carlos; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas,
estrutura e organização. Cortez Editora, 2017, p. 186.
31
Ibidem.
32
DE OLIVEIRA, João Ferreira; LIBÂNEO, José Carlos; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas,
estrutura e organização. Cortez Editora, 2017, p. 186.
19
33
Ibid., p. 187.
34
O contexto aqui citado pode ser compreendido por aquilo que Frigotto e Ciavatta denominam como
“vendaval” causado a partir da Queda do Muro de Berlim, em 1989. Para mais, Cf. FRIGOTTO, Gaudêncio;
CIAVATTA, Maria. Educação básica no Brasil na década de 1990: subordinação ativa e consentida à lógica do
mercado. Educação & sociedade, v. 24, p. 93-130, 2003.
35
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Educação básica no Brasil na década de 1990: subordinação
ativa e consentida à lógica do mercado. Educação & sociedade, v. 24, p. 96, 2003.
20
tema central, cujo tratamento, segundo seu próprio plano de governo, deveria ser diferente
daquele dado no passado recente do país. Segundo obra analisada, 36 o primeiro governo Lula
propôs uma nova abordagem no que diz respeito à administração, antes municipalizada, agora
propunha um pacto entre as federações, objetivando elevar a qualidade do ensino.
A política educacional posta em prática durante sua gestão fora estabelecida sobre
três eixos principais, sendo eles “a) democratização do acesso e garantia de permanência; b)
qualidade social da educação; c) instauração do regime de colaboração e da democratização
da gestão”.37 Tais diretrizes caminhavam na direção de organizar a educação solucionando
problemas recorrentes de períodos anteriores, dessa forma, podemos entende-las como sendo
uma ação conjunta visando um maior acesso e possibilidade de permanência dos jovens às
educação; adequar a qualidade do ensino para algo além dos muros da escola, trazendo os
interesses da comunidade escolar para as discussões em sala; e, principalmente, a busca por
reverter o processo de municipalização ostensivamente implementado pelo governo anterior.
Com o fim de seu primeiro mandato em 2006, observou-se que algumas de suas
principais metas foram alcançadas enquanto outras estavam em vias de se concretizar. Dentre
elas, podemos destacar como a de maior impacto foi a ampliação do Fundo de
Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
(Fundef), transformando-o no Fundo de Desenvolvimento e Manutenção da Educação Básica
e de Valorização do Magistério (Fundeb), cuja abrangência atingiria todos as etapas do ensino
básico.38
No ano de 2007 tem início o segundo mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da
Silva e, como esperado, ele dá continuidade às políticas aplicadas durante a gestão anterior. É
neste ano, também, que Fernando Haddad, à época Ministro da Educação, apresenta o Plano
de Desenvolvimento da Educação (PDE), indicando que este seria um plano de Estado para a
educação pública. Organizado em quatro eixos de ação,
36
DE OLIVEIRA, João Ferreira; LIBÂNEO, José Carlos; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas,
estrutura e organização. Cortez Editora, 2017, p. 188.
37
Ibidem, p. 189.
38
BITTAR, Marisa; BITTAR, Mariluce. História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de
democratização da sociedade. Acta Scientiarum. Education, v. 34, n. 2, p. 166, 2012.
21
43
PT, 2010, apud DE OLIVEIRA, João Ferreira; LIBÂNEO, José Carlos; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação
escolar: políticas, estrutura e organização. Cortez Editora, 2017, p. 205.
44
DE OLIVEIRA, João Ferreira; LIBÂNEO, José Carlos; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas,
estrutura e organização. Cortez Editora, 2017, p. 208.
45
NETO, Odorico Ferreira Cardoso; DE NEZ, Egeslaine. Governos Lula, Dilma e Bolsonaro: as políticas
públicas educacionais seus avanços, reveses e perspectivas. Interação, v. 21, n. 3, p. 128, 2021.
23
políticas educacionais nos governos Lula e Dilma são possíveis destacar: a expansão do
ensino superior seja ele presencial ou à distância, privado, público e do ensino profissional”.46
Apesar desse crescimento da oferta do número de vagas estar estritamente
relacionado com o crescimento do setor privado na etapa do Ensino Superior, é notável que
durante os governos do PT, principalmente nos anos governados por Dilma Roussef, as
universidades federais
Para além das novas unidades das IES existentes, o governo Dilma também investiu
uma grande quantidade de verbas com a criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego (PRONATEC), em 2011. Este, representou um dos maiores programas de
educação técnica e profissionalizante da história do país, ofertando cerca de 9,4 milhões de
vagas, com o intuito de estimular a inclusão produtiva. 48 Apesar de ser alvo de diversas
críticas por estudiosos do ramo educacional, o programa de ensino profissionalizante serviu
como promoção da inclusão nessa modalidade de ensino; e somando isso a iniciativas como a
lei de Cotas,49 fica nítido que as ações foram pensadas em prol de assegurar políticas de
acesso e fortalecer a democratização do ensino.
46
DE FREITAS MARQUES, Maria Alice. Políticas educacionais nos governos Lula e Dilma: impactos na
expansão do ensino superior e profissional. ID on line REVISTA DE PSICOLOGIA, v. 12, n. 41, p. 662-676,
2018.
47
NETO, Odorico Ferreira Cardoso; DE NEZ, Egeslaine. Governos Lula, Dilma e Bolsonaro: as políticas
públicas educacionais seus avanços, reveses e perspectivas. Interação, v. 21, n. 3, p. 135, 2021.
48
MERCADANTE e ZERO, 2018, apud NETO, Odorico Ferreira Cardoso; DE NEZ, Egeslaine. Governos Lula,
Dilma e Bolsonaro: as políticas públicas educacionais seus avanços, reveses e perspectivas. Interação, v. 21, n.
3, p. 135, 2021.
49
BRASIL. LEI Nº 12.711, de 29 de agosto 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas
instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Brasília. 2012. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm>. Acesso em 14 out. 2021.
24
CONSIDERAÇÕES FINAIS
50
VALENTE, 2001, apud FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Educação básica no Brasil na década de
1990: subordinação ativa e consentida à lógica do mercado. Educação & sociedade, v. 24, p. 93-130, 2003.
27
educação básica, muito menos, para assegurar um nível padronizado, tanto no que diz respeito
à estrutura quanto à qualidade do ensino nas mais diversas (e diferentes) regiões do Brasil.
É evidente que nesses quase quatro mandatos presidenciáveis do Partido dos
Trabalhadores a educação brasileira atravessou um momento de crescimento qualitativo,
principalmente, por que nesses governos a educação passa a ser uma parte central dentro do
plano de desenvolvimento nacional. Neste momento também, o Brasil volta-se para um viés
bem mais social em comparação aos momentos anteriores do governo FHC. O crescimento
econômico, o aumento do PIB e diversos outros fatores foram decisivos para que nestes treze
anos aqui analisados, o investimento bruto neste setor crescesse vigorosamente.
Entretanto, como dito, os ecos das estruturas políticas ditatoriais, mesmo que
combatidos veementemente por estes dois governos, ainda marcavam forte presença. Um bom
exemplo que podemos explicitar, é o aumento do número de escolas e universidades
particulares em território nacional, concomitante ao aumento dos cursos técnicos e
profissionalizantes. A estrutura tecnocrática do pensamento dominante desde fins do XX
ainda está fortemente presente; e apesar do número de oportunidades para as classes mais
vulneráveis que este tipo de ensino possa promover, ainda é questionável os motivos e razões
da forte divisão de classe presente entre aqueles que acessaram o ensino superior público
advindo do sistema público nacional, e aqueles que ascenderam a partir do sistema privado.
A partir desse balanço histórico e documental levantados, nao pretendíamos por criar
um novo setor de discussão dentro do âmbito educacional no país. Muito pelo contrário, este
setor já é muito bem explorado e debatido por inúmeros intelectuais de peso que atuam em
prol de uma educação mais democrática. Mas ao olharmos para essas permanências
estruturais, herdadas de um passado nao tao distante, e excessivamente elitista, o acesso de
Jair Bolsonaro à presidência em 2019 coloca em xeque, que o país consiga manter o mínimo
dessas políticas públicas, de caráter social, nos anos subsequentes.
A Reforma do Ensino Médio, aprovada para o ano letivo de 2022, por mais que ainda
nao tenha começado, já pode nos apresentar fortes indícios desse retrocesso que tentamos
lançar luz neste trabalho. Não pretendemos tomar conclusões precipitadas, mas dado o nosso
quadro social, e a crise econômica que vem assolando o Brasil, este novo modelo de ensino
médio já se propõe a funcionar com um alto nível de desigualdade. De acordo com o site G1,
“[as] escolas públicas e privadas deverão implementar mudanças no 1º ano dessa etapa do
ensino. A começar pela carga horária, que sobe de 4 para 5 horas diárias. Mas essa revolução
28
será sentida de maneira desigual a depender de onde o estudante vive.” 51 Essa desigualdade,
antes uma causa intencional que um mero descuido, pode sim estar fazendo parte de um
objetivo econômico maior que em vez de diminuir, salientará a desigualdade entre as classes
sociais, pois essa mudança, antes de representar uma valorização e melhor aproveito do tempo
de sala de aula, servirá como um filtro, que num futuro próximo poderemos observar seu
reflexo dentro da composição, não apenas nas universidades do país, mas como também nas
próprias característica da composição da mão-de-obra nacional.
Como dito, não pretendíamos por inovar esse estudo. Nosso objetivo aqui foi o de
amliar o debate para um caráter histórico, na tentativa de alertar um possível retrocesso social
na composição das nossas políticas educacionais a partir da discrepância que observamos nos
quadros que compuseram o público alvo dos diversos níveis educacionais e reformas
subsequentes aos governos. O atual governo brasileiro, junto desta nova reforma,
aparentemente não se mostra preocupado com o abismo que a educação pode ser responsável
por criar – ou diminuir –, muito pelo contrário, ao observamos as hipóteses levantadas no
decorrer deste trabalho, observa-se um certo tipo de projeto. Um projeto aliado às elites, que
em algum momento dessa nossa história, se mostrou muito incomodada que o(a) filho(a) da
empregada doméstica viria a ocupar a mesma sala que o(a) filho(a) da patroa.
51
TENENTE, Luiza. “Novo ensino médio começa em 2022 de forma desigual pelo país”. G1 Educação. São
Paulo, 10 Outubro 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/10/10/novo-ensino-medio-
comeca-em-2022-de-forma-desigual-pelo-pais.ghtml. Acesso em 02 nov. 2021.
29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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