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CONVENÇÃO DE NOVA IORQUE

Disciplina – Práticas Arbitrais


Docente – Rui Pinto Duarte
Discente- Leonor de Matos Pereira
2021/2021
A Convenção de Nova Iorque surgiu para permitir e facilitar o reconhecimento de
sentenças arbitrais estrangeiras ou de sentenças arbitrais que não forem consideradas
sentenças nacionais no Estado em que são pedidos o seu reconhecimento e execução.
(João Luís Mota Campos e Carlos Almeida, 2015, pp.72-73).
Esta convenção foi celebrada em 10 de junho de 1958 e é um elemento essencial da
Arbitragem, debruçando-se sobre o reconhecimento e execução de sentenças arbitrais
proferidas no território de um Estado que não aquele em que são pedidos o
reconhecimento e a execução das sentenças, bem como às sentenças arbitrais que não
forem consideradas sentenças nacionais no Estado em que são pedidos o seu
reconhecimento e execução (artigo I Convenção de Nova Iorque).
A importância da Convenção de Nova Iorque vem plasmada, essencialmente, no
reconhecimento das sentenças arbitrais estrangeiras.
O Estado Português fez uma reserva de reciprocidade aquando da ratificação da
Convenção, referindo que só eram aplicáveis às sentenças arbitrais proferidas nos
territórios de outros Estados Contratantes. (António Sampaio Caramelo, 2016, p.23).
Em Portugal, o reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras vem
retratado na Lei nº 63/2011 de 14 de dezembro (doravante, LAV), nos artigos 55º a 58º.
(Tito Arantes Fontes e Constança Borges Sacoto, p. 93, 2016).
Olhando para o artigo 5º/1-a) 2ª parte da Convenção, podemos verificar quais os
fundamentos de recusa de reconhecimento, sendo que, um deles é a invalidade substancial
da convenção de arbitragem perante a lei a que as partes a subordina (Luís Lima Pinheiro,
2018, p. 215).
É necessário ter em conta que uma decisão arbitral estrangeira não é automaticamente
aceite em território português, sem que antes seja analisada e confirmada pelo tribunal
competente (João Luís Mota de Campos e Carlos Almeida, 2015, p.73). Os tribunais
portugueses podem recusar oficiosamente o reconhecimento da sentença arbitral caso
estas sejam contrárias à ordem pública internacional do Estado Português.
O Professor LEBRE DE FREITAS defende que as decisões dos tribunais arbitrais estão,
quando proferidas no estrangeiro, sujeitas a revisão, nos mesmos termos das sentenças
dos tribunais do Estado, aliás, como vem estabelecido no artigo 978º do Código de
Processo Civil. Segundo FERNANDO AMÂNCIO FERREIRA, o tribunal competente
para rever e confirmar estas sentenças arbitrais estrangeiras é o tribunal de Primeira
Instância, tal como tem vindo a ser entendido pela nossa jurisprudência, contudo, alguns
autores seguem o entendimento daquilo que vem estabelecido no artigo 979º do CPC,
referindo que é o Tribunal da Relação que é competente nestes casos. (José Miguel Júdice
e António Pinto Monteiro, 2010, pp. 161-162).
Ora, após o exposto, cabe tomar posição dizendo que, não restam dúvidas de que o artigo
III da CNI não faz com que o processo de confirmação e análise da sentença arbitral
estrangeira seja dispensável, até porque são bastantes os estados signatários da mesma,
pelo que poderá sempre existir algum tipo de divergência com a legislação do país onde
a sentença foi proferida.
Há uma unanimidade na Jurisprudência Portuguesa quanto ao facto de que a
contrariedade à ordem pública internacional portuguesa se tem que avaliar de acordo com
o resultado jurídico a que a sentença em causa conduz. (Tito Arantes Fontes e Constança
Borges Sacoto, p. 93, 2016).
A LAV prevê no artigo 55º a necessidade de reconhecimento, isto é, ainda que haja uma
imperatividade imposta por parte da CNI, estas sentenças não podem produzir efeitos em
Portugal sem serem reconhecidas pelo Estado Português.
A execução da decisão arbitral reconhecida no âmbito da Convenção de Nova Iorque
rege-se pelo Direito Processual da ordem interna, sendo que, em Portugal, reger-se-á pelo
artigo 730º do Código de Processo Civil, quanto aos fundamentos de oposição à execução.
Podemos concluir que o Direito Português é altamente favorável às decisões arbitrais
estrangeiras, dado que os requisitos da lei interna portuguesa para a revisão e confirmação
de sentença são os mesmos das sentenças judiciais estrangeiras. (Nuno Salazar Casanova,
p. 2, 2009).
Bibliografia:

1. CARAMELO, António Sampaio, O Reconhecimento e execução de sentenças


arbitrais estrangeiras, Almedina, 2016
2. JÚDICE, José Miguel e MONTEIRO, António Pedro Pinto, «Do
Reconhecimento e Execução de decisões arbitrais estrangeiras ao abrigo da
Convenção de Nova Iorque», Revista internacional de arbitragem e
conciliação, 2010.
3. PINHEIRO, Luís de Lima, «Tendências de desenvolvimento no
reconhecimento de decisões arbitrais “estrangeiras” ao abrigo da Convenção
de Nova Iorque», Revista da Ordem dos Advogados, 2018
4. CASANOVA, Nuno Salazar, «A Convenção de Nova Iorque e o Direito Interno
Português», La Convención de Nueva York y el Derecho Interno Portugués,
2009 (acedido em - https://www.uria.com/pt/publicaciones/2691-a-
convencao-de-nova-iorque-e-o-direito-interno-portugues)
5. FONTES, Tito Arantes e SACOTO, Constança Borges, «O reconhecimento e
execução de decisões arbitrais estrangeiras – uma perspetiva comparada
entre a realidade portuguesa e as de Angola, Cabo Verde e Moçambique»,
Actualidad Jurídica Uría Menéndez, 2016 (acedido em -
https://www.uria.com/documentos/publicaciones/5152/documento/foro
_por02.pdf?id=6828).
6. CAMPOS, João Luís Mota e ALMEIDA, Carlos, «O Reconhecimento e a
execução de sentenças arbitrais no quadro da Convenção de Nova Iorque de
1958: alguns desenvolvimentos comparados», Estudos de Direito da
Arbitragem em homenagem a Mário Raposo, Universidade Católica Editora,
2015.

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