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Como vêem, acabámos de uma forma jovial, acabámos de uma forma mais solta, uma

forma mais alegre e de uma forma de esperança de ver que, na realidade, apesar de
todas as críticas, aquilo que une os homens acaba por ser às vezes mais forte.
Então temos a dimensão aqui profana, temos a dimensão do entretenimento e a
intenção moralizadora. Faz o que deves, não faças o que vês os outros fazer. Isto é
muito claro nesta peça. Temos então, aqui, nesta parte, com os camponeses, nesta
parte, com as pessoas do povo. Temos o coloquial, temos a linguagem popular que
está de acordo com o estatuto social das personagens. Não fazia sentido ser de
outra forma, visto que aquelas personagens são pessoas do povo, camponeses,
portanto, são personagens que acabam por ter essa dimensão mais coloquial, de menor
cultura, que obviamente no Anjo, no Diabo ou em Roma era expectável. E aqui não
seria o cómico, o célebre cómico do Gil Vicente, que aparece em todas as suas
obras? Temos todo aqui, temos ali temos o cómico de linguagem com o diálogo dos
camponeses, o cómico de situação, com a tentativa de venda e de troca das mulheres
e o crómio, o cómico de caráter que os próprios camponeses manifestam. Portanto,
tu, que leste a peça toda, que leste o diálogo todo, percebes que nesse diálogo
entre estes dois homens, todos estes tipos de cómico estão presentes, o que é algo
também bastante característico da escrita do nosso Gil Vicente. Sintetizando, o
Auto da Feira não tem uma estrutura externa, portanto não há divisão em atos e em
cenas, embora para estudo se tenha feito esta divisão em três partes, por uma
questão de clarificação daquilo de que Gil Vicente falava. Na estrutura interna
temos os quadros com a entrada e saída das personagens e temos a superstição e a
imoralidade clerical com o monólogo de Mercúrio, depois a religiosidade popular e a
exaltação divina com a cantiga A Virgem Maria. Na estrutura interna. No que diz
respeito à superstição e moralidade clerical. Nós podemos lembrar nos destes
aspetos. O monólogo do Mercúrio, que faz esclarecimentos relativos a astrologia e
as superstições. A realização de uma feira cujo vendedores são o tempo, Serafim e o
Diabo. Sabendo nós que o tempo é serafim. São anjos. É Roma a compradora de bens
espirituais, a tal Roma que quer mudar de vida. E depois a denúncia da sociedade em
geral e da imoralidade clerical em particular. Portanto, no que diz respeito ao
primeiro aspeto desta estrutura interna, podemos resumi la desta forma. Mas também
fala na estrutura interna da religiosidade popular. E temos as cenas do quotidiano.
Amancio Vaz e Dinis Lourenço queixam se das mulheres e querem trocar as mulheres
para carnes. Queixa se do marido. Mulher de Amâncio Dinis. Marta Dias. Mulher de
perdão. Branca Anes, mulher de Amâncio Vaz e Marta Diniz, mulher de Marta Dias,
mulher de Dinis. Isto são dias. Compradora de coisas materiais. Há aqui, portanto,
uma denúncia da degradação dos costumes e da dicotomia da religiosidade popular. Ou
seja, eu vou louvar a Virgem. Mas antes tem de defender a mulher. Como vêem. Há
aqui mesmo uma dicotomia. E, finalmente, temos a exaltação divina. Portanto, as
moças do mundo que vêm apenas cantar são devotas de Nossa Senhora e querem entoar a
cantiga em honra de Cristo e da Virgem Maria. Elas não querem comprar nada. Os
mancebos acompanham as moças no coro. Vicente e Mateus são compradores de amores,
embora, enfim. Se eles têm sorte ou não. Li a peça toda e depois temos no final, na
cantiga final, a exaltação das virtudes. Como vês, temos aqui muito bem resumido
todos estes três aspetos da estrutura interna crítica à crença e superstições, e na
astrologia, enquanto elementos influenciadores da vida e do destino do homem. Vimos
isto no primeiro bloco em relação ao monólogo do Mercúrio Crítica dos vícios, um
mundo às avessas e a degradação dos costumes, a crise de valores sociais e a
corrupção e dissolução de costumes do clero. Portanto, a venda das indulgências e o
desrespeito pelo casamento. Tudo isto misturado numa peça que acaba por ser uma
feira muito subgéneros e uma feira onde é possível trocar, comprar e vender aquilo
que seria impensável se não fosse a escrita brilhante de Gil Vicente. E depois
temos a exaltação do bem, das virtudes, através do louvor, dos valores espirituais.
A cantiga final que nos deixa essa ideia. Em relação às personagens, as personagens
são personagens tipo, são tipos sociais. Apesar de terem nome, estes têm nome, mas
não deixam de ser personagens tipo. E depois temos as personagens alegóricas que
vimos em relação a Roma ao Tempo e ao Serafim e ao Diabo. Estavas me a esquecer do
Diabo. E temos o recurso ao cómico. E também vimos que todos os cómicos estão
presentes ao longo da peça e nomeadamente nesta parte final, no que diz respeito à
conversa entre os camponeses e a venda e compra das mulheres. Sintetizando o que
vimos hoje, vimos a cena final do campo, o início da última parte com os camponeses
e a troca de mulheres e a crítica ao matrimónio. E depois vimos mesmo o final da
peça com os cânticos de louvor. Depois fizemos uma síntese da peça toda, toda ela,
que diz respeito às texturas externa, que na realidade não existe. E depois temos a
estrutura interna, a crítica e a linguagem. Não nos podemos esquecer que se está a
tratar de Gil Vicente e Gil Vicente. Tem esta característica de não dividir as
peças em atos. Tem as entradas das personagens como se fossem quadros, mas não as
divide em atos. Só que para este tudo é mais fácil dividi la. Torna se mais conciso
poder fazer estas referências por forma a que vocês consigam entender o que é que
cada quadro ou cada conjunto de quadros é pretendido por parte de Gil Vicente. E
como não podia deixar de ser. Um desafio que eu tenho para vocês e que eu espero
que vocês queiram participar. E temos aqui uma fala de branca, lembram se? Uma das
mulheres? Do camponês. E Branca diz. Pois quanto essas que vêm depois daquilo,
afirmo outra vez que nunca as venderei. Eis porque neste signo em fundo, todos
somos negligentes. Foi assim que Deus, pelas gentes, foi a que deu pelo mundo de
que as almas são doentes. Isto diz Branca. E continua. E se o hão de corrigir
quando for todo danado, muito cedo se há de ver que já ele não pode ser mais torto
nem aleijado. Vamo nos, Marta, A carreira que as moças do lugar virão cá fazer a
feira, que estes não sabem ganhar nem tem cousa que homem queira. Portanto, temos
aqui a fala de Branca e a partir daqui eu queria que vocês fizessem este exercício,
ou seja, branca a nos confronta o Serafim quanto a a falta de adequação entre os
seus produtos, as virtudes e o mundo real. Portanto, ela confronta Serafim sem
problema absolutamente nenhum entre os produtos que ele está a querer trocar as
suas virtudes e aquilo que existe no mundo real. Portanto, será que no mundo real
aquelas virtudes servirão? Será que no mundo real alguém as utilizará? Será que no
mundo real, tudo aquilo que ele defende é possível de concretizar? Bom, explicita a
teoria exposta pela personagem nos versos apresentados anteriormente, ou seja, ela
faz esta referência aos versos anteriores por forma a que vocês possam, partindo do
que ela diz, explanar o seu ponto de vista, seu dela, o seu ponto de vista em
relação aos produtos e ao mundo real. Será que é uma oposição, um complemento? Bom,
vocês me dirão. Porque vocês lerão certamente a peça toda. É bom. E acabámos. Gil
Vicente. Acabámos o Auto da Feira. Esta foi o último bloco.

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