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Referenciais teóricos e filosofia de cuidados de

enfermagem à criança / família


Referencial teórico: metodologia científica sistemática baseada numa filosofia de
cuidados.

Modelo teórico de Enfermagem:


✓ Uma descrição da Enfermagem, baseada numa filosofia de cuidados;

✓ Proporciona a construção de conceitos essenciais à sua prática e estabelece as


suas interligações;

✓ Forma mais simples de organizar as ideias acerca da Enfermagem e de as pôr em


prática com lógica, eficiência e eficácia.

Teorias Holísticas:

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Teoria das Transições (Meleis):

- O cliente deve ser perspetivado como um ser humano com necessidades específicas
que está em constante interação com o meio envolvente e que tem a capacidade de se
adaptar às suas mudanças, mas, devido à doença, risco de doença ou vulnerabilidade,
experimenta ou está em risco de experimentar um desequilíbrio.

- As transições pertencem ao domínio da disciplina de Enfermagem quando se


relacionam com a saúde e a doença ou quando as suas respostas são manifestadas
por comportamentos relacionados com a saúde.

A Enfermagem pretende: ajudar os clientes facilitando as transições dirigidas para a


saúde e a perceção de bem-estar; apoiar o funcionamento e conhecimento, através dos
quais a energia dos clientes pode ser mobilizada

O Modelo Teórico é organizado em:

Conceitos Teóricos: Enunciados descritivos para a


qualidade dos cuidados:
1. Saúde - A satisfação do cliente
2. Pessoa - A promoção da saúde
3. Família - A prevenção de complicações
- O bem-estar: promoção do papel
4. Ambiente
parental e o autocuidado
5. Cuidados de Enfermagem - A readaptação funcional

A qualidade de cuidados em pediatria implica:

A prestação de cuidados pensando na criança enquanto ser particular e no envolvimento


dos pais/família…

Que se baseia no reconhecimento dos direitos da criança perante a lei:

• A criança ser considerada como um ser único, pertencente a uma unidade


familiar, com necessidades individuais e peculiares de desenvolvimento físico,
emocional;

• A criança estar dependente da família para a realização dessas necessidades


dada a sua incompetência para exercício da autonomia.

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A relação profissional / criança / pais:

Trabalhar com crianças doentes:

 É reconhecer a importância dos pais/substitutos para o seu desenvolvimento e bem-


estar;

 Adequar a comunicação e atitudes.

A relação técnico de saúde-cliente é um encontro entre dois especialistas: Um é o


técnico, o outro o conhecedor da queixa e das suas implicações na sua vida
(Enfermeiros e Famílias).

Comunicação:

- Verbal

- Não – Verbal - Paralinguagem - As crianças tornam-se experts na compreensão da


paralinguagem e comunicação não verbal muito antes de saberem o significado das
palavras ou se expressarem verbalmente

PARCEIROS NOS CUIDADOS: UM MODELO DE ENFERMAGEM


PEDIÁTRICA

Anne Casey (1988): criou o seu modelo de parceria nos cuidados no âmbito da
pediatria, reconhecendo a não existência de modelos que enfatizassem os conceitos
essenciais para uma prestação eficaz de cuidados à criança doente.

Evolução Histórica:

- Biomédico – centrado na doença, focalizado para os sinais e sintomas alvo de


intervenção

- Centrado na criança e nas suas necessidades individuais

- Centrado na família e suas necessidades como um todo

O modelo de parceria é fruto da evolução e assenta no pressuposto de que a


família é o novo alvo dos cuidados, devendo estes organizar se em cuidados
centrados nas necessidades da família “doente”.

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Hospitalização – é um evento crítico:

o Relacionado com a mudança do ambiente físico e psicológico, separação dos


restantes familiares e interrupção das atividades quotidianas;

o Os pais podem deparar se com o sentimento de perda de normalidade,


insegurança no seu papel parental, dor pelo sofrimento do filho, ansiedade, culpa
e medo;

o A adaptação às mudanças decorrentes da hospitalização infantil exige da família


novas formas de organização e requer o desenvolvimento de habilidades para
lidar com as pressões, ansiedades, dificuldades e incertezas existentes.

Objetivos centrados na família:

− Manter a força dos papeis; De forma a promover a


normalidade da
− Manter os laços familiares. unidade familiar

CRENÇAS E VALORES

o A criança e a família são únicos;

o Devem respeitar se os desejos da família;

o Deve ter se em consideração as suas necessidades;

o Deve respeitar se a sua sabedoria;

o A presença dos pais traz benefícios para a criança;

o A parceria é benéfica, proveitosa e envolvente para a família;

o Respeito pela experiência da família no cuidado aos filhos.

“Os cuidados às crianças, saudáveis ou doentes, são mais bem prestados pelas famílias,
com graus variáveis de assistência por parte de elementos de uma equipe devidamente
qualificada de cuidados de saúde, sempre que necessário”, (Casey, 1988).

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CONCEITOS QUE FACILITAM A ABORDAGEM DE PARCERIA:

1. Cuidados centrados na criança e na família, partilhando conhecimentos:

▪ Capacitar os pais para prestarem cuidados eficazes (criar competências


através da interação/educação para a saúde);

▪ Suscitar nos pais o desejo de cuidar da criança;

▪ Incutir-lhes a responsabilidade sobre a criança doente;

▪ Potenciar as capacidades existentes (respeito pela sua experiência);

▪ Ouvir as suas angústias e necessidades…

2. Cuidados negociados:

▪ Fruto da relação terapêutica construída na confiança e respeito mútuos;

▪ Plano de cuidados planeado e partilhado de acordo com as habilidades


e desejos da família.

NOTA: Deve determinar-se o desejo de participação dos pais, o que implica


NEGOCIAÇÃO:

- A parceria de cuidados deve envolver uma relação aberta entre enfermeiros e pais;

- São discutidos os cuidados de que a criança necessita e que papéis são estabelecidos,
resultando num mútuo acordo;

- Determinar a extensão em que os pais desejam prestar cuidados e ser incluídos nas
tomadas de decisão;

- Ajudar os pais a identificar os papéis que podem desempenhar.

É essencial que o enfermeiro procure conhecer cada criança /família e decida com
elas que intervenções são mais adequadas às suas necessidades.

No hospital o ambiente deve tornar-se o mais próximo possível do ambiente familiar.

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DESENHO CONCEPTUAL DO MODELO

Segundo o modelo de parceria de cuidados:

Existem 5 conceitos:

• Criança – é um ser em desenvolvimento, com necessidades / dificuldades /


hábitos; Necessita de proteção/sustento/estimulação/amor/conforto;

• Família – pais ou outros significativos que influenciam passivamente a criança;

• Saúde – deve estar presente a todo o tempo, se se pretende que a criança atinja
todo o seu potencial;

• Ambiente – todos os estímulos externos que envolvem e estimulam a criança


(culturais/sociais/físicos/étnicos);

• Cuidados de Enfermagem – a atividade do enfermeiro desenvolve-se em 4


áreas:

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- O Enfermeiro presta cuidados de Enfermagem quando
os familiares não têm capacidades, conhecimentos
Cuidados adequados, ou rejeitam a efetivação destes cuidados;
- O enfermeiro presta cuidados familiares na ausência
ou impedimento da família.
- Permite que os membros da família se envolvam nos
cuidados prestados à criança doente, não deixando por
isso de desempenhar as suas funções;
Apoio
- Cria um sentimento de confiança mútuo e apoio (inclui
o ato de ouvir, o contacto físico e a simples presença
do enfermeiro).
- Fornecimento de conhecimentos para ajudar a
criança/família a adquirir a sua independência da
equipa de saúde: capacitar e potenciar (ensinar, treinar
Ensino
e instruir);
- Fazer com que os pais se sintam responsáveis pela
saúde dos seus filhos.
- Em algumas situações o Enfermeiro poderá ter de
Encaminhamento recorrer a outros profissionais para que a recuperação
da saúde seja completa e o apoio aos pais também.

Cuidar da Criança – Ser em Crescimento e Desenvolvimento

Tem 2 focos principais:

➢ Papel parental:

- Processo de adaptação dos pais ao seu novo papel, pela responsabilidade de


gestão das respostas da criança, das suas próprias respostas e das da família;

- Concretiza-se em função das necessidades específicas dos filhos e na vontade


de corresponder positivamente às expectativas familiares e sociais atribuídas
aos pais.

- NOTA: Durante a hospitalização, a parceria de cuidados organiza o processo


de cuidados centrado nas dimensões do conhecimento e das habilidades dos
pais.

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Necessidades da Criança

Sustento Complexas

Essenciais ao processo de Essenciais à recuperação da


desenvolvimento infantil saúde, relacionadas com:
(alimentação; higiene; equipamento; dor;
conforto; sono; carinho; medicação; procedimentos,
segurança e diagnósticos/tratamento...
desenvolvimento das
competências).

Especial
Desenvolvimental

Papel Parental Especial


Papel Parental Normal

➢ Autocuidado: Na procura permanente da excelência no exercício profissional,


o enfermeiro maximiza o bem-estar dos clientes complementando as atividades
de vida relativamente às quais o cliente (criança/jovem) é dependente, até à sua
independência e autonomia.

PRESSUPOSTOS

✓ A participação dos pais nos cuidados não se pode resumir à sua permanência no
hospital e satisfação das necessidades básicas;

✓ Se quiserem, pode ser permitida a participação da família em algumas intervenções


técnicas;

✓ Devem ser respeitadas as rotinas da criança;

✓ As famílias devem ser orientadas e instruídas sobre os cuidados de modo a decidir


a expansão do seu envolvimento (ex.: ENG, colocar elétrodos, posicionamento e
preparação/administração de terapêutica) → Importante na criança com doença
crónica!

✓ A auto-estima e auto-confiança da família aumenta, quando estes conseguem dar à


criança tudo o que esta precisa para voltar a ser uma criança saudável.

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É importante que a equipa se lembre que:

- É muito difícil “ser se pais” em público (juízos de valor dos outros);

- As famílias têm que ser orientadas/instruídas sobre os cuidados à criança doente


para que possam decidir a extensão do seu próprio envolvimento;

- Essa orientação, deve ser direcionada para cada família dependendo das suas
necessidades, do seu nível de compreensão e vontade em participar de forma ativa
ou não.

Níveis de participação (pais e enfermeiros):

“Sócios nos cuidados” - expressão que advém da relação de confiança que se deve
estabelecer, sendo os pais encarados como sócios.

A aplicabilidade do modelo de parceria passa por:

− Acolhimento: processo continuo e flexível;

− Identificação dos fenómenos e focos de atenção – formular diagnostico consoante


a informação e a observação da família;

− Planificação dos cuidados - definição dos diagnósticos e intervenções em parceria


e adaptadas ao processo de doença;

− Implementação numa verdadeira negociação: planear de acordo com as rotinas e


desejos da família, promovendo o papel parental e garantir que as famílias estão a par
de todos os cuidados e serviços de saúde à sua disposição.

− Avaliação dos cuidados com base no contexto familiar e comunitário.

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Barreiras que se colocam à efetivação deste modelo:

Atitudes • Maior barreira no trabalho de parceria.


• A forma como o profissional aceita ou não a parceria,
Tempo
influencia a prestação de cuidados (Ex.: acabar a rotina).
• Têm que ser salvaguardados pelo cumprimento dos
direitos/deveres do utente (responsabilidade ético-legal);
Aspetos Legais
• Sigilo, privacidade, isenção e direito à informação por parte
da equipa e dos pais.
Ponto de vista dos pais
Ponto de vista da criança

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