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Uma conversa sobre letramento

Prof. Marco Hailer

Você se lembra de como aprendeu a ler e a escrever?

Provavelmente suas lembranças vão levá-lo a uma sala de aula, com


carteiras enfileiradas voltadas para um quadro negro e uma mesa de
professor.

As lições eram dadas a partir de cartilhas onde frases como “Ivo viu a
uva” e “O jacaré toma cajuada no jardim da jararaca” eram comuns.
O percurso pedagógico, naquela época, partia do princípio de que o
conhecimento era adquirido do simples para o complexo, e que
aprender era avançar em frente, passo a passo. Na verdade, esse
processo não foi privilégio seu ou meu.

Durante muitos séculos alfabetizar significou juntar sílabas e formar


palavras, aplicar cartilhas que utilizavam linguagem irreal e repertório
controlado; não importava entender o que era escrito e o que era lido
porque o importante era dominar o código. Assim, durante muito
tempo, o processo ensino/ aprendizagem de leitura e escrita
concentrou-se em como ensinar e deixou em segundo plano o
“aprender”.

Nas últimas décadas, educadores, psicólogos e estudiosos de várias


áreas das ciências humanas se preocuparam em desvelar e entender
como os aprendizes desenvolvem seu raciocínio e as pesquisas
desses estudiosos revelaram que o ser humano aprende assuntos
novos mobilizando conhecimentos já adquiridos: há um ponto de
referência, um enquadramento, um vai e vem de conexões que se
estabelecem. A aprendizagem não funciona em linha reta, mas sim
como uma enorme espiral.

O conhecimento não é construído por acúmulo de informações e


justaposições; a construção de conhecimentos pressupõe atividades
que ocorrem à medida que o indivíduo entra em contato com novos
conhecimentos, organiza-os e integra-os aos que já possui.

Imagine como esses estudos e reflexões alteraram ao processo de


aprender e ensinar a ler e escrever...
Parta, então, da percepção de que no tempo em que aprendemos a ler
e escrever a instituição escolar trabalhava para nossa alfabetização,
que era basicamente uma ação para aprender a decodificar e
reproduzir o código linguístico.

Hoje, reconhecendo que os grandes objetivos da Educação são


ensinar a aprender, ensinar a fazer, desenvolver as inteligências
múltiplas e transformar informação em conhecimento, o antigo
processo de alfabetização se transformou no trabalho pedagógico
que recebe o nome de LETRAMENTO.

No percurso pedagógico desenvolvido no Letramento, ler e escrever


não é juntar letras, nem decifrar códigos. A língua não é um código –
é um complexo sistema que representa uma identidade cultural. Ser
letrado significa saber ouvir, falar, ler e escrever para usar em
situações de participação social. Significa saber elaborar
conhecimentos novos, desenvolver a capacidade de interpretar textos
orais e escritos, levantar conhecimentos prévios, expressar ideias,
pensamentos e sentimentos utilizando a linguagem adequada para
cada situação.

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