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Alfabetização e construção da escrita

Maria Aparecida Gonçalves Evangelista 1


Linguagem, construção da fala e da expressão- Linguística

Resumo
Este artigo tem por objetivo entender o processo de alfabetização das crianças através da
leitura e escrita. E analisar a prática pedagógica do professor alfabetizador diante das
dificuldades no processo de alfabetização e como sua prática pedagógica possibilita superar
esses obstáculos presentes no processo de aprendizagem, pois a alfabetização é um processo
pelo qual a pessoa se torna capaz de ler, compreender o texto e se expressar por escrito.

Palavra-chave: Alfabetização, Criança, Processo de escrita.

Introdução
Por muito tempo acreditou-se que o aprendizado da leitura e da escrita era de
responsabilidade apenas da escola, e que a solução para as dificuldades acarretadas neste
processo estava na escolha adequada do método de alfabetização, o qual garantiria ao
educador ter o domínio sobre a aprendizagem do aluno. Muito se tem discutido sobre o
assunto, fazendo-se necessário retomar algumas considerações a respeito da alfabetização no
Brasil. Ao longo dos anos tornou-se indispensável refletir sobre a complexidade do processo
de alfabetização, na perspectiva do professor alfabetizador. Entender quais as principais

1
Concludente do curso de Pós-graduação em Educação Especial com ênfase em deficiência
intelectual, física e psicomotora Institucional e Graduada em Licenciatura em História UNEB.
Email: Katehrinemary0508@gmail.com
dificuldades que o professor se depara ao alfabetizar seus alunos. Discutir como a prática
pedagógica possibilita ao docente superar as dificuldades presentes na alfabetização2.

A alfabetização é uma etapa indispensável na formação intelectual do aluno. Segundo Soares


(2002, p. 31), “[...] alfabetização é a ação de alfabetizar” e alfabetizar por sua vez “é tornar o
indivíduo capaz de ler e escrever”. Durante muito tempo, pensou-se que, codificar e
decodificar o código era o suficiente para caracterizar um indivíduo como ‘alfabetizado’ e que
o educador era o único responsável por transmitir para o aluno o conhecimento sobre o código
alfabético.

Toda via, atualmente, sabemos que o processo de alfabetização deve ultrapassar a codificação
e a decodificação. O aluno precisa apropriar-se da leitura e da escrita, e fazer uso destas nas
mais diversas situações da sociedade. Sabemos ainda, que o educando não aprende apenas na
escola. Ao iniciar sua vida escolar o aluno já possui um conhecimento de leitura de mundo,
através de jornais, revistas, livros, rótulos, outdoors, internet, televisão, etc. É com base nessa
perspectiva, que o professor tem a função de mediador desse conhecimento, através de
práticas de alfabetização que estimulem a leitura e a escrita, de maneira que aconteça a
aprendizagem efetiva na a vida dos alunos3.

Desenvolvimento

A concepção tradicional de alfabetização por meio dos métodos analítico e sintético tratava o
processo de alfabetização e letramento como independentes. Este, visto como aquisição do
sistema convencional de escrita alfabética e ortográfica, desapareceu em detrimento do
letramento, que parte da compreensão das funções da escrita. Cabe ressaltar que embora
ambos sejam processos distintos, são indissociáveis e simultâneos, “não são processos
independentes, mas interdependentes, e indissociáveis, a alfabetização desenvolve se no
2
RIOS, Aline dos Santos. A pratica pedagógica no processo de alfabetização. V seminário
Internacional sobre profissionalização docente- SIPD- UNESCO. 2015.
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RIOS, Aline dos Santos. A pratica pedagógica no processo de alfabetização. V seminário
Internacional sobre profissionalização docente- SIPD- UNESCO. 2015
contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e escrita, isto é, através de atividades de
letramento” (SOARES, 2004, p. 14).
Dessa forma, faz-se necessário a distinção entre alfabetização e letramento e o
reconhecimento do uso das duas dimensões no processo de aprendizagem da língua escrita,
sem perder a especificidade de cada processo.
A alfabetização deve ser “entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da
escrita, alfabético e ortográfico” (SOARES, 2004, p. 16). É importante que ocorra em um
contexto de letramento compreendido, como “a participação em eventos variados de leitura e
escrita, e o consequente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e escrita nas
práticas sociais que envolvam a língua escrita” (SOARES, 2004, p. 16)4.
Freire (1996, p. 25) afirma que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar
possibilidades para a sua produção ou construção”. Corroborando com essa ideia, Behrens
(2011, p. 55) enfatiza que “o ensino como produção de conhecimento propõe enfaticamente o
envolvimento do aluno no processo educativo”.

É natural que existam diferentes níveis de aprendizagem em uma classe de alfabetização, pois
a aprendizagem da escrita é um processo que se dá em diferentes níveis para cada indivíduo.
“O ponto de partida dessa discussão é o fato de que o aprendizado das crianças começa muito
antes de elas frequentarem a escola” (VIGOTSKI, 1998, p. 110).

É nessa perspectiva que o papel da família, como parte das dificuldades no processo de
alfabetizar se torna pertinente, pois vale salientar que dentro do contexto familiar das crianças
ocorrem situações em que elas participam direta ou indiretamente do uso da escrita, desde
escrever um bilhete, ler o jornal, enviar uma correspondência, o que permite a criança
identificar a funcionalidade, o significado do ler e escrever. “Assim, o letramento é
desenvolvido mediante a participação da criança em eventos que pressupõem o conhecimento
da escrita e o valor do livro [...] aspectos esses que subjazem ao processo de escolarização em
vistas do letramento acadêmico” (KLEIMAN, 1998, p. 183).

A construção da escrita

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RIOS, Aline dos Santos. A pratica pedagógica no processo de alfabetização. V seminário
Internacional sobre profissionalização docente- SIPD- UNESCO. 2015.
Pudemos perceber que a escrita nasceu com a necessidade de comunicação na época primitiva
e tornou-se fundamental na vida das pessoas e hoje seria impossível viver sem ela, pois a
necessidade de comunicação, de estudo, de leitura é grande. O mundo gira em torno da
comunicação e como consequência da escrita. Como vimos a escrita se transformou ao longo
dos séculos e desenvolveu-se de acordo com as necessidades de comunicação da humanidade.
De acordo com Cagliari as crianças passam por um processo semelhante ao construírem a
língua escrita. Na atualidade a aprendizagem da língua escrita inicia quando a criança é muito
pequena. Para aprofundar o assunto abordaremos no próximo item como alguns estudiosos
explicam o desenvolvimento da escrita pela criança antes desta frequentar o Ensino
Fundamental. A escrita iniciou a partir da necessidade de comunicação do homem e serviu
para expressar pensamentos por meio de signos. Pode-se dizer que esta forma de comunicação
instiga e interessa crianças ainda muito pequenas5.

O desenvolvimento do grafismo infantil não deve ser considerado como


fruto apenas do treinamento específico. Ele é um processo de construção do
sistema de representação que culmina com a produção da escrita como um
instrumento de comunicação e expressão. (MARTINS, 2007, pág.01)

A criança inicia a comunicação escrita através da pictografia, ou seja, antes dela aprender o
que é escrever, apenas faz desenhos, no decorrer do desenvolvimento da escrita mistura letras
e desenhos, experimentando como se escreve. Está escrita é intuitiva, embora haja um
processo de reflexão sobre o que faz ela ainda não é capaz de compreender como o sistema da
escrita funciona. A escrita inicia-se antes da criança ir para a escola e é através dos rabiscos e
desenhos que experiência o que é escrever. Em geral, as primeiras palavras que escreve é seu
nome e o de seus amigos e familiares6.
Teberosky aponta que:
A última etapa, que ás vezes pode ocorrer antes do início da escolaridade
obrigatória, consiste numa análise que vai além da sílaba. Essa etapa
desenvolve-se a partir dos esforços da criança para interpretar ou produzir as
palavras próximas ao modelo convencional, geralmente palavras cujo
conteúdo elas conhecem e constituem como modelos fixos de escrita. É o
caso do nome próprio. (1992, p. 69).

5
HANYCZ, Daiane Maria. KLEIN, Rejane. A construção da escrita pela criança. I Seminário
de pedagogia, IV encontro de educação infantil, II Jornada de cognição e aprendizagem.
6
HANYCZ, Daiane Maria. KLEIN, Rejane. A construção da escrita pela criança. I Seminário
de pedagogia, IV encontro de educação infantil, II Jornada de cognição e aprendizagem
A criança não nasce com uma inteligência desenvolvida, ou com conhecimentos do mundo,
mas a partir do momento em que começa a entender o que as pessoas de sua convivência
estão lhe ensinando, ela repete, e vai aprendendo, seus conhecimentos serão cada vez mais
avançados, pois ela se arrisca e com isso está cada vez mais preparada com o mundo a sua
volta.
Segundo Lúria (2001) a primeira fase da escrita acontece muito antes da criança ir para a
escola, quando ela começa a fazer rabiscos, pois esta é a imitação da escrita do adulto, mas na
realidade ela ainda não entende que está escrita serve para se comunicar, este entendimento
ela vai adquirir quando for para a escola. A criança usa o desenho como uma técnica para
lembrar coisas, só mais tarde o desenho vai servir para pensar conceitualmente. A escrita
também se apresenta como uma técnica externa, não faz parte do seu conceitual7.
Diante do exposto, é possível destacar que a prática de ensino da alfabetizadora está ancorada
em modelos tradicionais. Na sua didática, a abordagem dos métodos sintéticos de orientação
silábica é a principal responsável pelo desenvolvimento pedagógico na sala de aula. Nesse
método, o trabalho é realizado a partir da apresentação de letras, sílabas e suas famílias
silábicas, para formação de palavras e frases. Para Ferreiro e Teberosky (1985), essa
orientação educacional compreende a aquisição da escrita como um processo mecânico, em
que as informações são recebidas passivamente pelo sujeito. Todavia, se a prática pedagógica
partir do princípio de que a língua é complexa e a criança como construtora de seu
conhecimento, esse processo passa a ser encarado como um exercício interessante, que dá
lugar a momentos de reflexões e discussões em grupo (WEISZ, 1999, p.42)8.
As dificuldades de aprendizagem no processo de alfabetização é um fator existente no
cotidiano escolar, isso nos leva a refletir e analisar esse processo, e também propor que haja
uma mudança em nossas práticas pedagógicas com a finalidade de auxiliar a criança na
aquisição e no desenvolvimento de habilidades que facilitem no processo de aprender ler e
escrever. Considera-se dificuldade de aprendizagem, uma resposta insuficiente do aluno a
uma exigência ou demanda da escola. Muitos desses alunos têm sido ignorados, mal
diagnosticados e maltratados, sendo tachados pelos próprios professores como alunos
preguiçosos e desinteressados. O professor deve propiciar alternativas favoráveis para que
alunos possam superar eventuais dificuldades que apresentam. Diante disso, muitos

7
HANYCZ, Daiane Maria. KLEIN, Rejane. A construção da escrita pela criança. I Seminário
de pedagogia, IV encontro de educação infantil, II Jornada de cognição e aprendizagem
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GONÇALVES, Islayne Barbosa de Sá. O processo de alfabetização no 1º ciclo de ensino
fundamental: concepções e práticas. Revista Científica da FASETE 2016.1
professores questionam-se quanto ao que fazer. É necessário que haja um olhar voltado ao
próprio processo de ensino aprendizagem na alfabetização e no letramento9.

Alfabetização e letramento

Alfabetização e letramento apresentam uma relação muito forte, pois uma depende
exclusivamente da outra, as duas ações são distintas, mas inseparáveis, não se pode alfabetizar
sem letrar, o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e escrever de modo que a
criança se torne ao mesmo tempo, alfabetizada e letrada, saber interpretar o que lê. De acordo
com Rios e Libânio (2009, p. 33) “a alfabetização e o letramento são processos que se
mesclam e coexistem na experiência de leitura e escrita nas práticas sociais, apesar de serem
conceitos distintos”10.

Alfabetizar é muito mais do que codificar e decodificar o código alfabético, por isso
letramento se soma com a alfabetização e, o educador precisa saber o momento certo para
articular leitura e produção de texto, fazer as intervenções adequadas para o aluno progredir,
pois é uma fase de libertação, aquisição da escrita e não pode ser entendida como um recurso
memorativo, alfabetizar é oferecer ao aluno a oportunidade de se expressar dando a
oportunidade do mesmo construir o seu próprio conhecimento.

Hoje, os grandes objetivos da Educação são: ensinar a aprender, ensinar a


fazer, ensinar a ser, ensinar a conviver em paz, desenvolver a inteligência e
ensinar a transformar informações em conhecimento. Para atingir esses
objetivos, o trabalho de alfabetização precisa desenvolver o letramento. O
letramento é entendido como produto da participação em práticas sociais que
usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia (FERNANDES, 2010,
p.19).

Alfabetização e letramento apresentam uma relação muito forte, pois uma depende
exclusivamente da outra, as duas ações são distintas, mas inseparáveis, não se pode alfabetizar
sem letrar, o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e escrever de modo que a

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GONÇALVES, Islayne Barbosa de Sá. O processo de alfabetização no 1º ciclo de ensino
fundamental: concepções e práticas. Revista Científica da FASETE 2016.1
10
SANTOS, Ana Claudia Siqueira dos¹. PESSOA. Élida² PEREIRA, Maria Jose Garangau³.
SILVA, Rozilene Nascimento Lima Silva. Alfabetização e letramento: Dois conceitos, um
processo.
criança se torne ao mesmo tempo, alfabetizada e letrada, saber interpretar o que lê. De acordo
com Rios e Libânio (2009, p. 33) “a alfabetização e o letramento são processos que se
mesclam e coexistem na experiência de leitura e escrita nas práticas sociais, apesar de serem
conceitos distintos”11.

Neste sentido, a alfabetização não precede o letramento, os dois processos podem ser vistos
como simultâneos. O conceito de alfabetização compreende o de letramento e vice-versa.
Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a
a conviver com práticas reais de leitura e de escrita, substituindo as tradicionais e artificiais
cartilhas por livros, revistas, jornais, enfim, pelo material de leitura que circula na escola e na
sociedade, como também criando situações que tornem necessárias e significativas práticas de
produção de textos12.

Para alfabetizar letrando, deve haver um trabalho intencional de


sensibilização, por meio de atividades especificas de comunicação, como
escrever para alguém que não está presente (bilhetes, correspondências
escolares), contar uma história por escrito, produzir um jornal escolar, um
cartaz etc. Assim a escrita passa a ter função social (CARVALHO, 2011,
p.69).

Desta forma, a escrita deve ser apresentada a criança como um meio que facilitará a sua vida
na sociedade e isto deve ocorrer de forma ativa. De acordo com Vigotski (2009), o processo
de construção conceitual ocorre por meio das relações entre saberes espontâneos e científicos,
processo que se dá nas relações sociais, em nosso caso, na escola, com seus processos
constituídos e sistematizados. Não se trata de um processo passivo, mas uma estrutura viva do
pensamento, que tem por objetivo comunicar, assimilar, resolver problemas13.

Considerações finais

11
SANTOS, Ana Claudia Siqueira dos¹. PESSOA. Élida² PEREIRA, Maria Jose Garangau³.
SILVA, Rozilene Nascimento Lima Silva. Alfabetização e letramento: Dois conceitos, um
processo.
12
SANTOS, Ana Claudia Siqueira dos¹. PESSOA. Élida² PEREIRA, Maria Jose Garangau³.
SILVA, Rozilene Nascimento Lima Silva. Alfabetização e letramento: Dois conceitos, um
processo.
13
GRAVA, Neivane Marize Venturi. PAULA, Joao Jesus de. SCHROEDER, Edson.
FISCHER, Julianne. Saberes científicos e saberes espontâneos: compreensões dos professores
alfabetizadores sobre o processo de escrita pela criança. IX ANPDE SUL Seminário de
pesquisa em educação da Região Sul 2012.
Desta forma o objetivo deste trabalho foi contribuir com as pesquisas da área da educação, e
letramento de crianças no intuito de se estabelecer uma concepção acerca da alfabetização e a
construção do processo da escrita. A prática pedagógica é, em suma, a ação realizada pelo
docente em sala de aula, focando o aprendizado do educando. Pudemos perceber que a escrita
nasceu com a necessidade de comunicação na época primitiva e tornou-se fundamental na
vida das pessoas e hoje seria impossível viver sem ela, pois a necessidade de comunicação, de
estudo, de leitura é grande. Para fundamentar esse trabalho de pesquisa apoiei-me nos estudos
de Piaget, Vigotsky, sobre a criança, seu desenvolvimento e o processo de construção da
escrita, isto é, na Psicogênese da escrita e sobre as influências exercidas nas crianças, no
período da alfabetização.

Referências bibliográficas
GONÇALVES, Islayne Barbosa de Sá. O processo de alfabetização no 1º ciclo de ensino
fundamental: concepções e práticas. Revista Científica da FASETE 2016.1.
GRAVA, Neivane Marize Venturi. PAULA, Joao Jesus de. SCHROEDER, Edson.
FISCHER, Julianne. Saberes científicos e saberes espontâneos: compreensões dos professores
alfabetizadores sobre o processo de escrita pela criança. IX ANPDE SUL Seminário de
pesquisa em educação da Região Sul 2012.
HANYCZ, Daiane Maria. KLEIN, Rejane. A construção da escrita pela criança. I Seminário
de pedagogia, IV encontro de educação infantil, II Jornada de cognição e aprendizagem.
RIOS, Aline dos Santos. A pratica pedagógica no processo de alfabetização. V seminário
Internacional sobre profissionalização docente- SIPD- UNESCO. 2015.
SANTOS, Ana Claudia Siqueira dos¹. PESSOA. Élida² PEREIRA, Maria Jose Garangau³.
SILVA, Rozilene Nascimento Lima Silva. Alfabetização e letramento: Dois conceitos, um
processo.

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