Você está na página 1de 10

CONCEPÇÕES SOBRE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Universidade de Ribeirão Preto

Leila Peres De Almeida Martins ¹

RESUMO

O presente artigo tem como o objetivo compreender algumas concepções que


fazem parte do processo da alfabetização infantil, entender qual a melhor maneira de
construir o conhecimento na criança sobre a língua escrita. Despertar nos professores
alfabetizadores a importância em perceber que alfabetização e letramento são
processos distintos e que um depende do outro para que haja sucesso no ensino-
aprendizagem da leitura e escrita. Ressaltar que para todos os alunos terem
assegurado o direito de aprender a ler e escrever, é necessário que todos professores
que alfabetiza, desenvolva as competências profissionais necessárias para realizar um
bom trabalho. Se o objetivo é formar cidadãos capazes de compreender os diferentes
textos com os quais se defrontam, é preciso organizar o trabalho educativo para que
experimentem e aprendam isso na escola.

Este artigo foi elaborado a partir de pesquisas teóricas, com base nos autores
Magda Soares, Luiz Carlos Cagliari e nos Parâmetros Curriculares Nacionais ( PCN).

Temos ainda nos dias atuais um desafio; alcançar o sucesso no processo de


aquisição da língua escrita, onde todos os alunos consigam compreender a leitura e
criar bons textos. Esse desafio não é assunto somente dos dias atuais, porque há anos
vem sendo estudado e pesquisado qual é a melhor maneira de ensino-aprendizagem
para leitura e escrita, e mesmo com tantos anos de pesquisa e mudanças no sistema
de ensino é possível perceber que existe dificuldade por parte dos alunos em escrever
texto com coesão e coerência e que também consiga ler e interpretar.

Palavras chaves: Concepções. Alfabetização. Letramento.

¹ Graduanda do curso de Pedagogia na Universidade de Ribeirão Preto.


ABSTRACT

This article has as objective to understand some concepts that are part of
children's literacy process, understand how best to build awareness in children
about the written language. Wake in literacy teachers the importance to realize that
literacy and literacy are distinct processes and that one depends on the other so that
there is success in the teaching of reading and writing. So that all students can be
assured their right to learn to read and write, it is necessary that every teacher who
teaches literacy, develop the professional skills necessary to do a good job. If the
goal is to train citizens able to understand the different texts with which they face,
it is necessary to organize the educational work to try and learn it in school.

This article was prepared from theoretical research, based on the author
Magda Soares, Luiz Carlos Cagliari and the National Curricular Parameters (PCN).

We have even today a challenge; achieve success in the acquisition of


written language, where all students can understand reading and creating good
texts. This challenge is not a matter only of today, because for years has been
studied and researched what is the best way of teaching and learning to read and
write, and even with so many years of research and changes in the education
system can realize that there difficulty for the students to write text cohesion and
coherence and can also read and interpret.

Key words: Conceptions. Literacy. alfabetizacion.


INTRODUÇÃO

O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena


participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem
acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou
constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim, um projeto
educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à
escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o
acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania,
direito inalienável de todos. (PCN, 1997, p.21).

De acordo com Magda Soares (2003), nos anos 80, houve uma nova
organização do tempo da escola, que consistia em dividir o ensino em ciclos. Essa
concepção de alfabetização está, associada ao construtivismo. O construtivismo foi
uma mudança conceitual que veio dos anos 80, e fez com que o processo de
construção da escrita pela criança passasse a ser feito pela sua interação com o
objeto de conhecimento. As autoras desta teoria construtivista são Emilia Ferreiro e
Ana Teberosky, elas defendem que através da interação com a escrita, a criança
constrói o seu conhecimento, uma vez que a criança vai construindo hipóteses a
respeito da escrita e, com isso, vai aprendendo a ler e a escrever numa descoberta
progressiva.

Diante dessa nova concepção de ensino da leitura e escrita, passou-se


equivocadamente a ignorar ou a menosprezar a especificidade da aquisição da
técnica da escrita. Codificar e decodificar passaram a ser considerados menos
importantes do que na verdade são. Magda Soares disse a esse respeito que:

“Linguisticamente, ler e escrever é aprender a codificar e a decodificar.


Esse modo de ver as coisas fez com que o processo de ensinar a ler e
escrever como técnica ficasse desprestigiado.”(p.17, 2003)

De acordo com SOARES (2003), nas concepções anteriores, as professoras


alfabetizadoras tinham um método – a cartilha, acompanhado de um manual do
professor, que dizia com detalhes o que ele deveria fazer. Não tinham uma teoria,
porque aquele método era tudo. Havia um método, mas não uma teoria. Hoje
acontece o contrário: há uma teoria construtivista da alfabetização, mas não têm
método.

Existe um conceito equivocado sobre manter o ensino da língua escrita


distante de um método por considerar que a teoria construtivista, não é compatível
com o uso do mesmo.

O que Soares (p.17, 2003) considera;

“...Absurdo é não ter método na educação. Educação é, por definição, um


processo dirigido a objetivos. Só vamos educar os outros se quisermos
que eles fiquem diferentes, pois educar é um processo de transformação
das pessoas.”

No processo de alfabetização, existe um objetivo claro que é ensinar aos


alunos o uso da escrita e leitura; para cumprir esse objetivo é necessário estabelecer
qual o melhor caminho a percorrer, neste caso a autora está se referindo a um
método de ensino que se dedicasse a ensinar as técnicas para aprender a ler e
escrever, uma vez que somente o contato com o objeto de estudo, no caso a escrita,
não é suficiente para a criança compreender como se organiza a escrita
convencional de cada palavra.

A teoria Construtivista tem grande importância para a história da


alfabetização, porque ela mostrou como a criança vai construindo aos poucos a
noção de que as palavras são escritas com letras e que não com desenhos que
represente a palavra. Permitindo então saber que os passos da criança, em sua
interação com a escrita, são dados numa direção que permite a ela descobrir que
escrever é registrar sons e não coisas. A partir daí a criança vai passar a escrever
abstratamente, colocando no papel as letras que ela conhece, numa tentativa de,
realmente, escrever a palavra, sem o recurso de utilizar desenhos para dizer aquilo
que quer.

Sobre essas etapas que a criança passa para aprender como escrever, Magda
Soares diz que a criança passa pela fase silábica para registrar o som (o som que ela
percebe primeiro é a sílaba), ela vai perceber o som do fonema e chega o momento
em que ela se torna alfabética. Esse foi um grande esclarecimento proporcionado
pelo construtivismo. Só que, quando a criança se torna alfabética, está na hora de
começar a entrar no processo de alfabetização, de aprender a ler e a escrever.
Porque quando se torna alfabética, surge o problema da apropriação, por parte da
criança, do sistema alfabético e do sistema ortográfico de escrita, os quais são
sistemas convencionais constituídos de regras que, em grande parte, não têm
fundamento lógico algum. E a criança tem de aprender isso. Ela tem de passar por
um processo sistemático e progressivo de aprendizagem desse sistema. Isso é a
importante tarefa de especificar o processo de alfabetização. Não basta que a
criança esteja convivendo com muito material escrito, é preciso orientá-la
sistemática e progressivamente para que possa se apropriar do sistema de escrita.

Nessa nova concepção construtivista, alguns alfabetizadores passaram a


trabalhar de maneira equivocada, acreditando que a criança vai progressivamente
construindo esse conhecimento através do contato com o material de estudo,
entenderam que não era necessária a intervenção pedagógica, como se a criança
naturalmente fosse aprender a ler e escrever, sem que o professor as ensine sobre o
processo que percorremos para alfabetizar.

Tem-se observado que a afirmação de que o conhecimento é uma


construção do aprendiz vem sendo interpretada de maneira
espontaneísta, como se fosse possível que os alunos aprendessem os
conteúdos escolares simplesmente por serem expostos a eles. Esse tipo de
desinformação que parece acompanhar a emergência de práticas
pedagógicas inovadoras tem assumido formas que acabam por esvaziar a
função do professor. (PCN, 1997, p.25).

É importante ressaltar que as propostas didáticas difundidas a partir de 1985,


ao enfatizar o papel da ação e reflexão do aluno no processo de alfabetização, não
sugerem uma abordagem que ocorra de forma espontânea , ao contrário, esse é um
processo que necessita das explicações e esclarecimentos de que cada palavra tem
sua escrita convencional. O conhecimento dos caminhos percorridos pelo aluno é
essencial para favorecer a intervenção pedagógica e não para consentir com a falta
de ação do alfabetizador.

Soares (2015) diz que a maior concentração em dificuldade de aprender a ler


e escrever se encontra presente nas crianças das classes populares, para ela isso é
devido o problema das diferenças dialetais. Uma criança que convive sua vida
anterior à ida para escola, se relacionando uns com os outros por intermédio do uso
da língua oral mais simples, distante daquela língua padrão vista nos livros e textos
lidos em sala de aula, sente dificuldade em escrever e ler. Porque a forma de escrita
foge da forma que a palavra é usada por essa criança oralmente. Um problema que
muitas vezes não se encontra nas classes mais favorecidas, uma vez que a
comunicação se dá com o uso da linguagem oral mais próxima da língua padrão.

Sobre esse assunto Cagliari (1982, p.10) escreveu que é principalmente


através da leitura que os alunos vão adquirir o dialeto da escola e que alfabetizar
uma criança que não fala de acordo com o dialeto padrão, pode ser tão difícil
quanto ensiná-la uma língua estrangeira, por conseguinte disto, para essa criança
ler um texto escrito na língua da escola, deve ser tão difícil quanto ler algo escrito
em outra língua.

Os Parâmetro Curricular Nacional também reconhece que as crianças menos


favorecidas, não são preparadas antes de freqüentar a escola, como nos casos de
crianças pertencentes à classe social mais favorecida, vejamos o que PCN diz à
respeito:

Esses trabalhos ajudaram a compreender aspectos importantes do


processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Permitiram, por
exemplo, que se começasse a desvelar as razões pelas quais as crianças
que vinham de famílias mais favorecidas pareciam ter muito mais
desenvoltura para lidar com as demandas escolares que as de famílias
menos favorecidas. Com o deslocamento do eixo da investigação das
questões do ensino para as questões da aprendizagem, foi possível
compreender que as crianças sabiam muito mais do que se poderia supor
até então, que elas não entravam na escola completamente
desinformadas, que possuíam um conhecimento prévio. Mas, as de
famílias mais favorecidas tinham maiores oportunidades de participação
em atividades sociais mediadas pela escrita, possuíam muito mais
experiências significativas com a escrita do que as crianças das classes
menos favorecidas, e essa diferença, que se expressava no desempenho,
marcou a vida escolar dessas crianças desde o seu início. (PCN,
1997,p.20)

Isso gera uma responsabilidade ainda maior para a escola e professores com
relação a essa diferença entre umas crianças e outras, quando elas chegam na escola
é preciso elevar o contato com o letramento, considerando os diferentes níveis de
conhecimento prévio, cabe à escola promover a sua ampliação de forma que,
progressivamente, todos os aluno se tornem capazes de interpretar diferentes textos
que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos
eficazes nas mais variadas situações.

Soares diz que é indispensável considerar outro fator que também contribui
para que seja relevante a diferença de casos de crianças acima de oito anos que não
saibam ler e escrever, entre a classe social baixa e alta, quando analisamos os
objetivos e as funções atribuídas à leitura e a utilização da escrita, é sem dúvida
muito diferentes. Essas diferenças alteram fundamentalmente o processo de
alfabetização, que não pode considerar a língua escrita meramente como um meio
de comunicação “neutro” e não contextualizado.

O fracasso escolar em alfabetização não se explica, apenas, pela


complexidade da natureza do processo: caso contrário, não se justificaria
a predominante incidência desse fracasso nas crianças das classes
populares. (SOARES,2015,p.21)

Segundo SOARES (2015,p.59), cabe-nos colaborar na descoberta de


soluções para o combate ao precário acesso que o povo brasileiro vem tendo à
leitura e à escrita, mas soluções que realmente levem a inserção na cultura letrada,
pois as soluções que tem sido propostas, tanto as soluções escolares quanto as
soluções adotadas em movimentos de alfabetização de adultos, na verdade
frequentemente camuflam, sob o pretenso “alfabetizado”, aquele que embora tenha
aprendido como bem simbólico de uso político, social e cultural, não se integrou
realmente na cultura letrada: ao povo tem-se permitido que aprenda ler e escrever,
não se lhe tem permitido que se torne leitor e produtor de textos.

Considerações finais

Neste artigo podemos entender que o domínio da língua, oral e escrita, é


fundamental para a participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem
se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha
ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Baseado nesta afirmação de
que aprender a ler e escrever faz parte da construção da cidadania, vemos a
necessidade de esclarecer conceitos sobre a Teoria Construtivista, que ainda nos
dias atuais não estão claros para alguns professores alfabetizadores.

Primeiramente os alfabetizadores precisam tomar consciência que, alfabetizar


e letrar são dois processos distintos, cada um com sua especificidade, sendo os dois
totalmente indispensáveis no processo de aquisição da língua escrita.

A escola tem a responsabilidade de garantir a todos seus alunos o acesso aos


saberes linguísticos, para isso é fundamental que os alfabetizadores, entendam que
sozinhas as crianças não conseguirão progredir em sua construção do conhecimento
sobre a língua escrita, é essencial a intervenção do alfabetizador neste processo.

Pelo que vimos com essa pesquisa, existe diferença entre uma criança de
classe baixa e outra de classe alta, quanto ao seu conhecimento adquirido
previamente ao início de sua vida escolar, com isso não podemos deixar que a
criança de classe social menos favorecida seja prejudicada por essa falta de
letramento no ambiente em que vive, temos que despertar em todos o desejo e o
prazer na leitura e na escrita, através do contato com livros. São inúmeras as opções
de leitura, o importante é incentivá-los a esse contato.
Acredito que neste momento da história da alfabetização, não precisamos
pensar apenas em qual é o melhor método para ensinar, mas sim o quanto estamos
fazendo para conseguir atingir esse objetivo. O que precisamos é pensar nas
concepções que existe na construção desse importante processo, que é o de
alfabetizar.
Referência Bibliográfica

CAGLIARI. Luiz Carlos. CADERNOS DE ESTUDO LINGUISTICO, n. 3, 1982,


p. 06-20

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2015.

SOARES. Magda. A Reinvenção da ALFABETIZAÇÃO . 26/05/2003, v.9 n.52


jul./ago. 2003. pacto.mec.gov.br/images/pdf/Formacao/a-reivencao-alfabetizacao.pdf

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): língua portuguesa / Secretaria de


Educação Fundamental. Brasília. 1997

Você também pode gostar