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Resumo
Este trabalho tem por objetivo discutir o papel da linguagem no ensino da Matemática,
lembrando que a matemática possui uma linguagem específica e complexa, tendo um mesmo
objeto matemático diversos significados e representações. O ensino da matemática se dá por
meio de enunciados orais, escritos ou concretos utilizando os gêneros do discurso como forma
de representação de diferentes realidades, ocorrendo assim a comunicação discursiva e a
interação dialógica adaptada ao contexto da atividade humana na qual o aluno está inserido.
O professor tem a importância de apresentar a seus alunos a linguagem matemática de forma
clara e conjunta com a língua portuguesa.
Introdução
Essa linguagem específica, característica da Matemática, para ser apreendida, exige processos
cognitivos de assimilação e compreensão diferentes daqueles usados na aquisição da língua
materna. De acordo com D’Amore (2006), uma razão para a Matemática possuir uma
1
Concludente do curso de Pós-graduação em Educação Especial com ênfase em deficiência
intelectual, física e psicomotora Institucional e Graduada em Licenciatura em História UNEB.
E-mail: Katehrinemary0508@gmail.com.
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SILVEIRA, Marisa Rosâni Abreu da. LINGUAGEM MATEMÁTICA E COMUNICAÇÃO:
um enfoque interdisciplinar. AMAZÔNIA - Revista de Educação em Ciências e Matemáticas
V.6 - n. 11 - jul. 2009/dez. 2009, V. 6 - n. 12 - jan. 2010/jun. 2010.
linguagem tão específica é que os seus objetos não podem ser acessados diretamente, são
objetos que remetem a ideias, conceitos, axiomas. A linguagem Matemática é caracterizada
com as marcas de precisão, de concisão e de universalidade, possibilitando seu entendimento
em diferentes lugares, independente da língua materna.
Desenvolvimento
A linguagem é o principal meio pelo qual adquirimos conhecimentos, segundo Mousinho
(2008, p. 298): “a linguagem é um importante fator para o desenvolvimento e aprendizagem.
A língua Materna seria uma base linguística indispensável para que as habilidades de leitura e
escrita se estabelecessem”.
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SILVEIRA, Marisa Rosâni Abreu da. LINGUAGEM MATEMÁTICA E
COMUNICAÇÃO: um enfoque interdisciplinar. AMAZÔNIA - Revista de Educação em
Ciências e Matemáticas V.6 - n. 11 - jul. 2009/dez. 2009, V. 6 - n. 12 - jan. 2010/jun. 2010.
Para D’Amore (2006), na busca de resolução desse paradoxo, pensando em facilitar a
compreensão da Matemática, se traduz essa linguagem específica para a língua materna e,
nesse processo, acrescenta-se outra língua no contexto escolar, o ‘matematiquês’. Essa nova
‘língua’, existente somente na escola, é constituída de um aparato linguístico de frases feitas e
de adaptações que, ao invés de contribuir para a compreensão da linguagem Matemática, em
muitos casos gera perda de sentido para os estudantes. A partir desse contexto se justifica a
necessidade de uma didática específica voltada ao ensino e à aprendizagem dessa ciência 4.
Caveing (2004), concordando com Granger, afirma que as matemáticas não constituem uma
língua de comunicação. Assim, para que haja comunicação deve haver compreensão,
entendida aqui como constructo de relações e significações pleno de sentidos, já a
interpretação é simplesmente a explicitação do ato de compreender. O sujeito lê, compreende
e interpreta, projeta sentidos na interpretação e novamente lê, compreende e interpreta; similar
ao círculo hermenêutico de Heidegger. Dessa forma, o texto matemático lido, compreendido e
interpretado com a intervenção da língua natural obtém sentidos por intermédio do diálogo do
professor e do aluno.
A comunicação através do texto escrito exige a leitura e a interpretação mencionada acima já
que a escrita matemática é mais complicada sem a intervenção da oralidade. Já para a
construção de um texto matemático pelo aluno é necessário que haja uma pré-compreensão
dos conceitos envolvidos para essa produção. A construção do texto é subjetiva e depende da
imaginação do aluno, mas deve ser validada por argumentos conceituais nascidos da
intersubjetividade e objetivada por meio da escrita. A autoria de textos matemáticos apenas se
dá quando o aluno sabe ler e interpretar a linguagem matemática5.
4
AZERÊDO, Maria Alves de. REGO, Rogéria Gaudêncio. Linguagem e matemática: a
importância dos diferentes registros semióticos. Processo ensino-aprendizagem:
complexidade, diversidade e práticas docentes. Revista Tema em educação, Joao Pessoa, v.
25, número especial, p. 157-172 2016.
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SILVEIRA, Marisa Rosâni Abreu da. LINGUAGEM MATEMÁTICA E
COMUNICAÇÃO: um enfoque interdisciplinar. AMAZÔNIA - Revista de Educação em
Ciências e Matemáticas V.6 - n. 11 - jul. 2009/dez. 2009, V. 6 - n. 12 - jan. 2010/jun. 2010.
em língua portuguesa sobre um pensamento matemático, de forma equivalente a uma
representação em simbologia matemática.
A complexidade no processo de escrita e entendimento da linguagem matemática, segundo
Santos (2005), se dá pelo fato de a linguagem matemática não permitir ambiguidades, baseada
em “representações abstratas e muito gerais, eliminado motivações e intenções,
diferentemente do pensamento regular das pessoas” (p. 123), diferente do que a língua
portuguesa nos permite fazer. Para Pimm (1987), a linguagem matemática é usada para a
comunicação em todas as aulas de matemática, e os alunos encontram dificuldades ao lidar
com símbolos matemáticos. O autor salienta a importância de “conversar com você mesmo” e
expor suas ideias a outros, seja de forma escrita ou oral, para clarificar as ideias e aperfeiçoar
seus pensamentos (PIMM, 1987).
A matemática usa a língua materna, a oralidade e as significações das palavras como suporte
para a troca de informações. Apesar da sua característica de linguagem científica, a
matemática requer como recurso básico de comunicação a escrita. Por meio da língua materna
são lidos os enunciados, que permitem comentários para interpretar o que se ouve ou lê de
modo preciso ou aproximado. Por outro lado, “a língua materna é parcialmente aplicada no
trabalho matemático, já que os elos de raciocínio matemático apoiam-se na língua, em sua
organização sintática e em seu poder dedutivo”, afirma (SMOLE & DINIZ, 2001, p. 17).
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SOUZA, Adriane Eleutério. STADLER, Rita de Cassia da Luz. PINHEIRO, Nilcéia
Aparecida Maciel. A linguagem e a comunicação no ensino da matemática. III Simpósio
Nacional de ensino de ciências e tecnologia. Ponta Grossa – PR 2012.
não são dominadas, a oralidade é o único recurso que permite demonstrar a complexidade do
que foi pensado.
A comunicação oral favorece a percepção das diferenças estabelecendo o diálogo na classe
capacitando os alunos a falarem de modo significativo, conhecendo outras experiências,
envolvidos nas atividades propostas, apropriando-se deles revisando o que não entendeu e
ampliando o que compreendeu e ainda tendo a oportunidade de explicitar suas dúvidas e
dificuldades testando novas ideias e conhecendo o que eles realmente sabem e o que mais
precisam aprender. Dessa forma o aluno reflete sobre os conceitos e os procedimentos7.
Na missão de ensinar os alunos dentro de um contexto curricular, a escola necessita trabalhar
com os gêneros, seja na forma escrita, oral ou por gestos para estabelecer a comunicação entre
os interlocutores do processo ensino-aprendizagem. Sabendo que a aula é uma situação de
aprendizagem, desenvolvida em espaços diferentes e na qual se fazem presentes um ou mais
professores que, dominando fundamentos epistemológicos, ajudam seus alunos a aprender,
não existe uma única maneira de se ministrar uma aula. Os alunos aprendem dentro e fora da
sala de aula, logo o professor é o mediador entre o aluno e a forma estimuladora de apresentar
os conteúdos, então o gênero é utilizado como meio de articulação entre as práticas sociais e
os objetos escolares, usando da escrita, da oralidade, da música, da representação, do concreto
e outras formas de abordagens que se insiram na situação proposta8.
As dificuldades de leitura aparecem nos textos de matemática em geral e não nos enunciados
dos problemas de matemática, tais como: vocabulário exótico, ambiguidade de significados,
desconhecimento funcional do conteúdo matemático.
Sendo assim, parece urgente que professores, pesquisadores e formadores dirijam suas
atenções para o delicado processo de desenvolvimento de estratégias de leitura para o acesso
de gêneros de textos próprios da atividade matemática escolar. A leitura e produção de
enunciados de propriedades, teoremas, demonstrações, sentenças matemáticas, diagramas,
equações etc. demandam e merecem investigação e ações pedagógicas especificas que
comtemplem o desenvolvimento de estratégias de leitura, analise de estilos, a discursão de
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SOUZA, Adriane Eleutério. STADLER, Rita de Cassia da Luz. PINHEIRO, Nilcéia
Aparecida Maciel. A linguagem e a comunicação no ensino da matemática. III Simpósio
Nacional de ensino de ciências e tecnologia. Ponta Grossa – PR 2012.
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SOUZA, Adriane Eleutério. STADLER, Rita de Cassia da Luz. PINHEIRO, Nilcéia
Aparecida Maciel. A linguagem e a comunicação no ensino da matemática. III Simpósio
Nacional de ensino de ciências e tecnologia. Ponta Grossa – PR 2012.
conceitos e de acesso aos termos envolvidos, trabalho esse que o educador matemático precisa
reconhecer e assumir como de sua responsabilidade. (FONSECA & CARDOSO, 2005)9.
Nesse sentido, é necessário que exista uma simbiose entre a língua natural e a linguagem
matemática. Somente por meio do diálogo que professor e aluno podem participar do mesmo
universo discursivo. O professor por meio do diálogo compreende a lógica do aluno e, a partir
dessa aprendizagem, pode mostrar ao aluno que a lógica matemática é regida por regras que
podem não coincidir com outra lógica.10
Representações semióticas
9
OLIVEIRA, Nanci de. Linguagem, comunicação e matemática. Faculdades Integradas de
Jacareí.
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SILVEIRA, Marisa Rosâni Abreu da. LINGUAGEM MATEMÁTICA E
COMUNICAÇÃO: um enfoque interdisciplinar. AMAZÔNIA - Revista de Educação em
Ciências e Matemáticas V.6 - n. 11 - jul. 2009/dez. 2009, V. 6 - n. 12 - jan. 2010/jun. 2010.
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Idem.
Duval (2011) evidencia a grande importância e contribuição das representações semióticas de
Matemática, no processo de sua aprendizagem. Para ele, não existe compreensão cognitiva e
até conceitualização em Matemática, sem a capacidade de representação por meio de signos,
também conhecida como semiósis. Nessa perspectiva, ele investiga o papel das representações
semióticas no desenvolvimento matemático de alunos no contexto escolar.
Para o autor, as representações semióticas são externas e conscientes e se apresentam como
figuras, esquemas, gráficos, expressões simbólicas ou linguísticas, podendo ser divididas em
analógicas ou não-analógicas. As primeiras guardam relações de semelhança com o objeto,
como, por exemplo, as imagens; as segundas não conservam relação com o objeto a que se
referem, como no caso das línguas.
Outra classificação é que as representações semióticas podem ser divididas em representações
discursivas ou não-discursivas. As primeiras são expressas em língua natural ou em uma
língua formal e as segundas são explicitadas por meio de figuras, diagramas, esquemas ou
gráficos.
Tais registros semióticos compõem sistemas simbólicos que representam os diferentes objetos
da Matemática, constituindo-se em outra linguagem, que, em paralelo à língua materna,
contribuem para “[...] exprimir relações e operações, figuras geométricas, representações em
perspectiva, gráficos cartesianos, redes, diagramas, esquemas, etc. [...]” (DUVAL, 2009, p.
13).
Conforme Santaella (1988, p. 15), a Semiótica “[...] é a ciência que tem por objeto de
investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos
de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e
sentido [...]”.
Duval (2011) insiste na caracterização dos conceitos que envolvem os termos representação e
signo. Segundo o autor, o que os faz semelhantes é a função “[...] de ‘se colocar no lugar’
daquilo que eles representam ou designam e surgem da mesma exigência epistemológica
fundamental que é jamais se confundirem com os próprios objetos [...]” (p. 37). Por outro
lado, o que os distingue é a natureza da relação com os próprios objetos. “[...] A relação entre
os signos e os objetos não contém nenhuma interação, mas é apenas uma relação de referência
dependendo do sistema semiótico utilizado, a língua, um sistema de numeração, etc. [...]” (p.
37).
Nessa direção, podemos exemplificar o sistema semiótico próprio da Matemática, que
apresenta registros semióticos/signos arbitrários e abstratos, não explicitando uma relação
direta com seus significados. Devido às capacidades cognitivas de tratamento, possibilitados
pela Álgebra e a Análise, envolvendo tudo que pode ser compreendido como ‘linguagem
Matemática’, Duval (2011) considera melhor utilizar o termo representação ao invés de signo.
Para ele, as representações semióticas possuem uma característica fundamental,
diferentemente dos signos: “[...] elas têm uma organização interna que varia de um tipo de
representação semiótica para outra. A organização de uma frase simples não é mesmo a de
uma equação [...]” (DUVAL, 2011, pp. 37-38; grifos do autor). Para ele, é como se os signos
correspondessem mais às unidades elementares de sentido, como letras, siglas, algarismos, e
as representações semióticas abrangessem aspectos mais complexos, como frases em
linguagem natural, equações, figuras geométricas, esquemas, gráficos, entre outros. Nessa
direção, o conceito de representação semiótica é mais abrangente que o conceito que reduz
“[...] o papel dos signos no funcionamento cognitivo a uma simples codificação de
informações ou conceitos [...]” (DUVAL, 2011, p. 16)12.
12
AZERÊDO, Maria Alves de. REGO, Rogéria Gaudêncio. Linguagem e matemática: a
importância dos diferentes registros semióticos. Processo ensino-aprendizagem:
complexidade, diversidade e práticas docentes. Revista Tema em educação, Joao Pessoa, v.
25, número especial, p. 157-172 2016.
Considerações finais
Referência bibliográfica
AZERÊDO, Maria Alves de. REGO, Rogéria Gaudêncio. Linguagem e matemática: a
importância dos diferentes registros semióticos. Processo ensino-aprendizagem:
complexidade, diversidade e práticas docentes. Revista Tema em educação, Joao Pessoa, v.
25, número especial, p. 157-172 2016.