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1.

DA ÍNDIA PARA A CHINA

A necessidade de defender-se para sobreviver fez com que o homem desenvolvesse diversos
gêneros de luta, em diferentes épocas e regiões do mundo. No entanto, um momento e uma
região, em especial, marcaram historicamente as artes marciais.

Em meados do século V, Bodhidarma, monge indiano, caminhou em direçãoà China para


fundar um mos-teiro budista. Seguidor do budismo de contemplação, ele desenvolveu técnicas
sem armas chamadas Shao-lin-su-kempo. O objetivo era a manutenção da saúde e a auto defesa
onde, através de exercícios penosos, pretendiam o fortalecimento do corpo para dar morada a
paz de espírito e a verdade religiosa.

Bodhidarma orientava seus discípulos para que através da observação das características de
luta dos animais, desenvolvessem técnicas que mais se harmonizassem com seu interior,
criando assim, cada um, estilo próprio.

Tempos após a morte do monge, ocorreu a invasão mongol, fragmentando a China em vários
reinos. O mosteiro foi incendiado. Os monges partiram em várias direções, transmitindo
conhecimentos e difundindo estilos.

A invasão mongol e posterior retomada do poder pela dinastia Ming (China), estimularam o
aparecimento das técnicas de luta. Neste momento, a arte de combate militar esteve sobreposta
à arte espiritual.

A arte marcial evolui segundo as características e conhecimentos de seus mestres e das


condições locais e culturais da população. Foi enriquecida pela soma de elementos reti-rados
das lutas chinesas, mongóis e do Shao-lin-su-kempo.

2 . EM OKINAWA
0 intercâmbio comercial e cultural entre a China e as ilhas vizinhas, possibilitou, especialmente
em Okinawa, que na época pertencia à China, a introdução das técnicas de lutas chinesas. Ao
final da dinastia Ming, Okinawa passou ao domínio japonês que para evitar a reação do povo
nativo, proibiu uso de armas. Sob pressão militar, a população obteve nos utensílios de uso
cotidiano e no próprio corpo, meios de defesa; cadeiras, cordas, mãos, joelhos e etc. se
transformam em armas (Nakayama, 1987).

Os treinos eram secretos e os alunos escolhidos. Cada mestre desenvolvia técnicas segundo
suas características físicas e mentais, as características dos alunos e suas zonas de influência.

O isolamento japonês no período medieval, nos séculos IX a XIX, contribuiu para que o povo
nativo criasse um estilo próprio de luta, diferente de sua origem chinesa. A perseguição
exercida pela classe dominante japonesa era tal que Okinawa (1885) chega a compará-la a
perseguição sofrida pela capoeira no Brasil imperial.

No inicio do século XIX, com a ruptura do isola-mento, surgiram as armas de fogo, inibindo a
utilização das lutas de corpo a corpo que quase desapareceram como arte guerreira.
O século XX trouxe consigo o ressurgir das artes marciais, deslocando o enfoque de luta para a
sobrevivência, para educação física, com fundamentação espiritual. Escolas como Okinawa-te,
Naha-te e Shuri-te, desenvolveram e divulgaram a arte que mais tarde passou a ser chamada
Karate-do e revelaram mestres como Ankoh Itosu, Kanryu Higashionna, e posteriormente
Funakoshi, Mabuni, Kyan, Motobu, Yahiko, Ogusoku e Miyagi.

Em 1905, 0 Karate foi introduzido nas escolas de Okinawa como educação física. 0 professor
Itosu sistematizou Kata simplificados Heian ou Pinan (Paz e Harmonia), visando iniciação ao
aprendizado.

3. NO JAPÃO

Ensinado em segredo durante tanto tempo, em 1916 um karateca fez uma apresentação pública
fora de Okinawa. Funakoshi foi convidado para fazer urna demonstração no Botoku-den, em
Kioto, centro de artes mar-ciais. Três anos mais tarde, o Ministério de Educação o convidou
para organizar uma demonstração em Tóquio. 0 sucesso foi tamanho, que Funakoshi foi
convidado a permanecer, para dar palestras e ensinar o Karate.

Funakoshi viajou por todo o Japão. Ele foi convidado a lecionar nas universidades, onde o
Karate passou a ser submetido a pesquisas científicas, tendo como conseqüências o
aprimorando das técnicas e a criação de métodos de treinamentos sistemáticos (Silvares, 1987).

Considerado o pai do Karate-do moderno, Funakoshi modificou o karate literal e


filosoficamente de "Mãos Chinesas" para "Mãos Vazias", mãos de liberdade, em que KARA e
TE passaram a ter a conotação de defender-se desarmado e ter a mente livre do egoísmo e da
maldade, adicionados à palavra DO, representando a busca de um caminho ou disciplina a ser
seguida por toda a vida, na construção da personalidade (Nakayama, 1987; Silvares, 1987).

Após estudar em diferentes escolas, Funakoshi criou o estilo Shotokan, fundamentando-o nos
princípios filosóficos do Budo e do Zen-budismo.

Essa fusão visava facilitar a evolução do espírito e do corpo conjuntamente, permitindo o


desenvolvimento da autoconfiança, auto disciplina, auto controle, auto-realização, para formar
o indivíduo humilde e cortês nos relacionamentos sociais, porém corajoso e determinado nas
situações de injustiça. Capaz de enfrentar milhares de adversários se for preciso.

Seguindo o sucesso de Funakoshi, outros mestres de Okinawa partiram da ilha para divulgar
suas técnicas. Em 1930, Mabuni partiu para Kioto, ensinando Shito-ryu. Em 1933, Motobu fez
demonstrações em Osaka. No mesmo ano Miyagi fez demonstrações de Goju-ryu por todo
Japão, seguindo em 1934 para o Hawai.

Segundo Okinawa (1885), a fusão do Karate com a concepção japonesa de arte marcial, deu
origem a quatro estilos principais conhecidos hoje: SHOTOKAN (Funakoshi), SHITO-RYU
(Mabuni), GOJU-RYU (Miyagi) e WADO-RYU (Otsuka).

4. NO MUNDO

Embora Funakoshi nunca tivesse se afastado dos valores nos quais acreditava e vivia, as
necessidades da guerra fizeram com que alguns mestres que ensinavam o Karate esquecessem
a fundamentação espiritual.

No período da segunda guerra Mundial, os solda-dos e a população japonesa, eram treinados


por mestres de Karate para resistirem ao ataque aliado. Tal fato determinou a proliferação de
vários estilos, os mais diversos.

A incrível capacidade dos pequenos japoneses defenderem-se sem armas, despertou o interesse
dos militares ocidentais. Após a guerra a emigração dos japoneses e o interesse das tropas de
ocupação em adquiri-rem as técnicas, foram os responsáveis pelo inicio da difusão do Karate
pelo mundo.

Podemos dizer que, o Karate é o resultado das observações feitas pelo homem da luta dos
animais, que por sua inteligência, adaptou as características mais marcantes às suas
possibilidades para melhor desempenho e também do acrisolamento, adaptação e
aperfeiçoamento dos diferentes gêneros de luta. Cada geração, cada grupo cultural e o estudo
científico pelos quais passou, participaram do processo de construção do Karate-do,
transformando-o na arte que conhecemos hoje. E, pela nossa participação, continuarão
evoluindo... Homem e Arte.

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