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Como nasceu o Karate Shotokan?

A história do estilo de Funakoshi.


Dedicatória:
Dedico este trabalho primeiramente a Deus por me guiar,
me fortalecer e está sempre comigo nas horas que mais
necessito. Ao meu primeiro Sensei Ronaldo Gonçalves do
Nascimento, por ter me iniciado nessa arte tão bela que é o
karate, por me ensinar e me fazer valorizar os princípios
educacionais, filosóficos e sociais que estão presentes no que
Funakoshi Sensei deixa como legado.
A minha esposa Juliana Taveira, por me incentivar nos
momentos difíceis, por me apoiar e ser a sustentação de nossa
família.
Ao meu amigo/aluno Sidney Mamede que trilhou desde
cedo comigo, sendo um dos amigos o qual iniciei o karate e que
sempre me motiva e apoia dentro de nossos objetivos e
planejamentos.
A todos os alunos e amigos da Fujikan, o meu enorme e
sincero agradecimento, pois sem vocês não estaria aqui e não
conseguiríamos desenvolver esse trabalho.

OSS
Prefácio:

O Karate vem evoluindo e se inserindo culturalmente em várias nações e


muitas vezes não tem acompanhado o desenvolvimento metodológico,
tecnológico e pedagógico que cada vez mais a sociedade exige. Fato como
esse tem exigido dos profissionais que atuam nessa área e dos profissionais
formados ou não formados, a utilização de diversos conhecimentos para o
desenvolvimento de uma determinada atividade ou prática pedagógica,
fundamentado em referências solidas. Não mais é possível compreender um
profissional que tenha como prática pedagógica fundamentar-se na repetição
ou simples reprodução de suas vivencias apenas do passado, ou seja,
reprodução de modelos fruto de experiências anteriores, sem com isso, refletir
os prejuízos que sua ação alienada poderá representar para os seus alunos. É
preciso compreender que ao longo dos anos, a humanidade tem produzido
diversos conhecimentos que devem ser utilizados como subsidio para orientar
a uma prática pedagógica consciente. Afinal, os conhecimentos anatômicos,
fisiológicos, biomecânicos, filosóficos, sociológicos, metodológicos,
pedagógicos etc., têm como verdadeiro propósito fornecer informações que
podem minimizar males causados por uma prática não fundamentada.

Este trabalho tem a relevante contribuição social, ao sinalizar que é


necessário um preparo dos profissionais das artes marciais, bem como, os
profissionais de Educação Física, em especial os que trabalham com crianças
e adolescentes. É preciso entender a importância da história do Karate
Shotokan e associá-la aos conhecimentos científicos produzidos pela
humanidade, resultando na formação de um profissional capacitado e formador
de uma consciência crítica e reflexiva.
“Alguém cujo espírito e força mental, se fortaleceram através das lutas com uma atitude de
nunca desanimar não deve encontrar dificuldades em enfrentar algum desafio, por maior que
ele seja. Alguém que suportou longos anos de sofrimento físico e agonia mental para aprender
um soco ou um pontapé deve ter condições de encarar qualquer tarefa, por mais difícil que ela
seja, e de executá-la até o fim. Sem dúvida nenhuma, uma pessoa com essas características
aprendeu verdadeiramente o karate-do.
Gichin Funakoshi

1. SURGIMENTO DAS ARTES MARCIAIS

Os primeiros indícios das lutas surgiram aproximadamente no século VI


antes de Cristo na Índia, por uma tribo de guerreiros conhecida como
kashathrya, a qual desenvolveu um estilo de luta denominada de Vajramushti,
que em sua tradução significa: “Aquele cujo punho cerrado é inflexível”.
VI séculos depois um guerreiro desta tribo, conhecido como Bodhidharma,
sai da índia e vai para a China, em busca de aprimoramento e aperfeiçoamento
de sua arte marcial, chegando assim na china, Bodhidharma se isola em uma
floresta e começa a observar e estudar os movimentos dos animais, ou seja, as
formas de defesa, ataque e controle.
Bodhidharma então começa a desenvolver uma nova arte marcial, o qual
tinha como base o Vajramushti, então ele cria o “KUNG FU”, que significa
“Trabalhar Duro”. Depois de aprimorar seu estilo de luta vindo da Índia,
Bodhidharma sai da floresta e em sua caminhada encontra dois templos
Budistas, um na cidade de Fukien e outra na cidade de Honan. Ao chegar aos
templos Bodhidharma percebe que os mosteiros eram saqueados por ladrões e
nômades que por ali passavam e também encontra monges extremamente
debilitados, pois os mesmos, só faziam meditar. Bodhidharma então decidi
ensinar o kung fu aos monges, a princípio não como método de luta, mas sim,
como método de ginástica, pois se fazia necessário fortalecer o corpo dos
monges, pois os mesmos, só faziam meditar.
Ao estarem preparados fisicamente, agora os monges começam a usar o
kung fu como método de defesa pessoal, impedindo assim, que nômades e
ladrões que saqueavam anteriormente os mosteiros, repetissem suas ações de
vandalismo nos templos budistas.
Os monges não estavam ou não se preocupavam apenas com o kung fu
como forma de luta, os monges tinham uma preocupação em poder usar sua
arte de forma pacifica, eles propagavam a paz e amor através da filosofia
Budista, esse modo de concepção social e espiritual, começou a incomodar
alguns poderosos e gananciosos que adquiriam suas riquezas através de
guerras e conflitos, indo de encontro ao pensamento e filosofia dos monges,
então foi-se mandado destruir os dois templos que se situavam na cidade de
Honan e Fukien. Com isso, os monges fogem e se refugiam em outros lugares
onde eles possam propagar seus conhecimentos e filosofias marciais.
“Corda do Oceano”, como é conhecida a ilha de Okinawa, está situada no
Oceano Pacífico, a cerca de 600 km ao sul da região continental do Japão, 600
km ao norte de Formosa e 700 km a leste da China. Okinawa iniciou, em 1371,
um intenso comércio com a China, Coréia e países do sudeste asiático, como
conseqüência, houve um intercâmbio cultural que trouxe a Okinawa outra
forma de luta procedente da China, semelhante ao “TE”, o “Kempo” (ou Boxe
Chinês).
Mediante a esse intercâmbio cultural, foi possível trazer esse conhecimento
a Okinawa, esse monge budista, desembarca na cidade portuária de Naha e
percebe que já existia uma forma de luta marcial o qual era chamada de
Okinawa-te, Tode, Tote ou apenas Te, que significava “Mãos de Okinawa”. O
monge então começa a ensinar o que ele chamava de Shaolin-Ryu, que em
sua tradução significa “Escola de Shaolim”.
Como o japonês não tem uma boa pronuncia ele começou a chamar o estilo
da escola de Shaolin-Ryu de Shorin-Ryu que hoje é um dos estilos de karate,
assim como o Shotokan. Com a presença dessa luta chinesa em Okinawa,
aperfeiçoou-se uma nova modalidade de luta, o “Karate”.
Como esse karate tinha características de movimentos trazidos da China, a
tradução de karate nesse momento era de “Mãos Chinesas”, mas, logo em
seguida houve uma briga política entre Japão e China e tudo de cultural que
era propagado em ambos os arquipélagos, foi proibido de ser divulgado ou
incentivado por ambas as partes, fazendo assim, que os caracteres do karate
mudassem de “Mãos Chinesas para Mãos Vazias”.
Houve proibição do uso de armas em Okinawa, nessa época a ilha de
Okinawa estava dividida em três estados: Nazan, Chuzan e Hokuzan. Em
1427, após muitos conflitos, o rei de Chuzan, Shohashi conquistou toda a ilha e
houve a primeira das duas proibições. Em 1670, ordenou-se novamente a
proibição do uso de armas. Este fato se deu quando o governador do Estado
de Satsuma atacou Okinawa e dominou-a. Assim o KARATÊ-DÔ assumiu
maior valor. Aqueles que não podiam usar armas, aperfeiçoaram e usaram o
KARATE, como meio de enfrentar os adversários armados. O Karate se
desenvolveu em três locais diferentes de Okinawa: Na capital Shuri,
denominando-se de “Shuri-Te”; na cidade comercial de Naha, denominando-se
de “Naha-Te” e na cidade portuária de Tomari, “Tomari-Te. Shuri-Te e Tomari-
Te deram origem ao estilo ”Shorin” e Naha-Te ao estilo “Goju”. Atualmente
existem vários estilos que surgiram devido a derivação do Shorin-Ryu, ou como
conseqüência da integração dessas duas raízes.

2. FUNAKOSHI E SEU LEGADO

Na capital de Shuri em Okinawa, morava uma criança muito debilitada


chamada de Gichin Funakoshi, Funakoshi era muito fraco e magro, tinha uma
estatura pequena, o tornando muito franzino em relação as outras crianças.
Muito preocupado com sua saúde, o pai de Funakoshi que tinha influência com
o governador da cidade de Shuri, fala da situação de seu filho e um dos lideres
da guarda do palácio chamado de Anko Azato, pede para ensinar karate a
Funakoshi, mas naquela época, o karate só podia ser passado entre as
famílias, impedindo que outras pessoas aprendessem as formas e técnicas de
outras famílias. Com isso mestre Azato diz que só poderia ensinar a Funakoshi
na madrugada, pois isso não iria lhe trazer problemas futuros.
Azato treina incansavelmente Funakoshi, cada dia e cada aula, seu
aluno se torna extremamente dedicado, aprimorando aqueles conhecimentos
que ali estava sendo passado para ele. Através dos treinos sucessivos,
Funakoshi melhora sua condição de saúde e se torna um grande aluno de
Azato. Mestre Azato, contente com a evolução de seu pupilo, convida um
amigo que fazia parte da guarda real chamado de Anko Itosu. Agora Funakoshi
era supervisionado por dois grandes mestres do karate. Mesmo com a
supervisão destes professores, Funakoshi não se dava por satisfeito, treinava
até a exaustão, sempre procurando melhorar mais e mais a sua forma, pois ele
acreditava que nunca estava tão bem ou tão preparado para evoluir para umma
próxima forma.
Chega o dia que os mestres Anko Azato e Anko Itosu, chamam
Funakoshi e falam para ele que ele esta preparado para seguir seu caminho e
que eles não têm mais nada para ensiná-lo. Funakoshi assim, segue seu
caminho e começa a ensinar karate a um grupo de pessoas. Funakoshi nesta
época já tinha uma formação e escrevia poemas que quando assinava-os
colocava um pseudônimo chamado de “SHOTO”. Seus alunos sabendo deste
apelido, fizeram uma surpresa ao seu professor, construíram uma placa com o
nome de “SHOTOKAN”, que significa escola de “SHOTO”.
Shoto em sua tradução significa: “Vento que balança as folhas das
árvores”, Funakoshi nunca estava satisfeito com as formas de karate que eram
passadas, não havia nos treinos uma filosofia que pudesse unir as técnicas
com princípios educacionais e sociais, então preocupado com isso, Funakoshi
coloca a partícula “DÔ”, no nome karate, surgindo assim, o Karate-Dô
(Caminho das Mãos Vazias). O “DÔ” está associado ao “BUDÔ”, ou seja, veio
do “BUSHIDO”, código de ética dos Samurais, que norteia a conduta moral,
ética e filosófica de quem a prática. Agora o karate-dô se torna uma arte
marcial completa, mediante as idéias de Funakoshi, pois seu verdadeiro intuito
era formar cidadãos úteis a sociedade através do ensino do karate.
O Karate precisava então de uma filosofia que se respaldasse em
princípios éticos e morais, “Dô” que significa (caminho, via, modo, conduta), o
Karate-Dô para Mestre Funakoshi não significava apenas uma mera luta
Marcial, para ele esse estilo de luta era um modo de vida que aliado à honra,
respeito, lealdade e humildade conduziriam o seu praticante para um caminho
de formação integra, perante a uma determinada sociedade.
Devido a esses ideais de Mestre Funakoshi, ele então fora convidado
pelo MEC Japonês, que na época se encontrava Mestre e criador do Judô,
Jigoro Kano, sendo este, amigo de Funakoshi, para transmitir o Karate-Dô com
embasamentos científicos da Educação Física, com o intuito não só de
melhorar aspectos motores, mas também, para contribuir em uma formação
dos estudantes de 1º e 2º graus das escolas do Japão, cujo seu principal e
verdadeiro objetivo era que esses jovens pudessem ser úteis à sociedade
daquela época.
O Karate-Dô foi difundido pelo Mestre Funakoshi, ele o levou de
Okinawa para Tókio pela primeira vez em 1917 e depois vieram os seguintes
Mestres: Kenwa Manubi (Shito-Ryu); Kanken Toyama, Chojun Miyagui (Goju-
ryu), Choki Motobu e outros levaram o Karate-Dô para as cidades do Japão,
após a segunda Guerra Mundial onde o Karate-Dô se popularizou pelo Mundo.
3.ÀRVORE GENEALÓGICA DO KARATE SHOTOKAN

BODHIDHARMA

CHINESE SHAOLIN TEMPLE

SOKON MATSUMURA

ANKO AZATO ANKO ITOSU

GISHIN FUNAKOSHI
Referências:

Bartolo, Paulo.: karate-dô: história geral e no Brasil / Paulo Bartolo. - -


Santos, SP : Realejo Edições, 2009;

Funakoshi, G.: karate –dô kyohan : O texto mestre. São Paulo: Cultrix, 1988;

Funakoshi, g.: karate – dô nyumon: texto introdutório do mestre. são Paulo:


cultrix, 1988;

Funakoshi, g.: karate – dô: o meu modo de vida. são paulo: cultrix, 2002.

Lessa, j.e.j.: princípios e pressupostos pedagógicos no processo de


ensino-aprendizagem nas aulas de Karate na educação física escolar
(dissertação de pós graduação). esef-upe, 2009;

SASAKI, Yasuyuki.: o karate-dô e as filosofias do budô. 1. ED. São Paulo:


Van Moorsel Andrade e Cia, 1996;

http://geocities.yahoo.com.br/karateequilibrio/historia, Histórico do
Karatê, Disponível em: <http:// www.fksba.com.br, Acesso em : 29 set.
2009.

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