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Viver o Karaté

Domingos Ambrósio, 2012


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Sobre mim
Olá, chamo-me Domingos Ambrósio e pratico karaté desde os meus 8 anos.
Comecei no extinto dojo Performance Club em Mem Martins, Sintra, pelas mãos do Mestre José
Chagas e da Mestre Cristina A. Mendes, e foi aqui que descobri o caminho e o amor pela arte.
Com paragens na prática, mas não na paixão, reiniciei em 2010 desta vez pela mão do meu
irmão de coração Cláudio Conde.
O Karaté para mim é mais que uma arte marcial, é um modo de estar na vida e de viver.
Espero que através deste pequeno livro possam entender o Karaté como eu ou pelo menos que
consigam entender toda a hstória e todos os quês e porquês desta arte e desta filosofia de viver.
OSU.

A História
O Karaté-Do
O karaté é provavelmente a arte marcial mais conhecida do Japão em todo o mundo. A palavra
em si foi traduzida para o Inglês e para outras línguas europeias como "vazio" (Kara), e "mãos"
(Te), significando "mãos vazia". O termo é frequentemente usado para se referir a uma técnica
antiga japonesa que consiste em lutar apenas com as mãos vazias, sem armas.

O Karaté é uma arte marcial de Okinawa que deve muito aos estilos de luta da China antiga. A
arte que foi introduzida no Japão na década de 1920. Como Karaté foi conhecida por séculos em
Okinawa simplesmente como Te. Mais tarde, começou a ser referida como To Te ou Tode (o To
referente à dinastia Tang da China (618-907 A.D.), significando "Mãos Chinesas”. E tal significado
permaneceu praticamente inalterado por muitos séculos, até o início do século XX, por volta dos
anos 1920.

Em 1922, Gichin Funakoshi - pai do karaté moderno, grande mestre e filósofo, nascido em
Okinawa - mudou-se para o Japão, e aí introduziu profundas mudanças no significado do karaté.
Para isso, ele tinha motivações históricas e sociológicas para a mudança, mas, num sentido mais
filosófico que reflete os princípios Zen, ele falou pela primeira vez sobre a noção de "vazio"
mostrando que esse “vazio” é mais do que apenas uma mão sem armas.

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Sobre essa noção de “vazio”, Funakoshi disse: "Tal como um vale vazio pode carregar uma voz
retumbante, assim também uma pessoa que segue o fazer (Caminho) do Karaté deve
esvaziar-se, livrando-se de toda o egocentrismo e ganância. Faz-te vazio por dentro, mas erguido
por fora. Este é o verdadeiro significado do "vazio" no Karaté. Neste sentido, o Karaté afirma
explicitamente a base de todas as artes marciais. A forma é igual ao vazio; o vazio é igual à
forma".

Embora essa mudança parecesse de alguma forma trivial, ela causou uma profunda controvérsia
em Okinawa e no Japão, envolvendo questões de identidade cultural e sociopolíticas
profundamente enraizadas. No entanto, Funakoshi estabeleceu o Karaté como um Do, ou
"Caminho", com um significado mais profundo do que uma técnica de luta rigorosa. Esta
mudança foi um ponto de viragem filosófica que tornou possível a assimilação do Karaté nas
artes marciais tradicionais japonesas, começando então o karaté moderno como Karaté-Do

O termo Karaté-Do significa, literalmente, "O Caminho da Mão Vazia". O seu princípio
fundamental afirma: "O objetivo mais importante do Karaté é fortalecer as pessoas mentalmente
e fisicamente através de treinamento forte e disciplinado para que uma melhor harmonia entre
as pessoas seja realizada. O seu objetivo final é buscar a perfeição do caráter".

Hoje, os principais estilos modernos do Karaté-Do são Itosu-Kai, Shotokan, Goju-Ryu, Shito-Ryu,
Shorin-Ryu, Uechi-Ryu, e Wado-Ryu e o Karaté adotou estilos distintos, seja dentro ou fora do
Japão. Isto foi apenas possível devido ao surgimento de vários Mestres, que fundaram diferentes
escolas, para preservar os princípios tradicionais do Karaté de acordo com suas perspetivas
individuais.

Como excelentes exemplos dessas escolas de Karaté, temos as escolas de Kyokushin de Mas
Oyama e Shotokan de Gichin Funakoshi. Ao mesmo tempo, em Okinawa, as escolas dominantes
(Ryu) eram Shorin-Ryu, Goju-Ryu, Uechi-Ryu e Matsubayashi-Ryu. Embora tivesse havido
manifestações de karaté fora do Japão no final dos anos 20 e 30, foi nos anos do pós-guerra
que o karaté chegou aos países europeus e a outros países ocidentais.

Shotokan Karaté-Do
Shōtōkan (松濤館 Shōtōkan) é um estilo de karaté, desenvolvido a partir de várias artes marciais
por Gichin Funakoshi (1868-1957) e pelo seu filho Gigo (Yoshitaka) Funakoshi (1906-1945). Gichin
nasceu em Okinawa e é amplamente reconhecido por popularizar o "Karaté do" através de uma

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série de manifestações públicas, e por promover o desenvolvimento de clubes universitários de
Karaté, incluindo os de Keio, Waseda, Hitotsubashi (Shodai), Takushoku, Chuo, Gakushuin e
Hosei.

Funakoshi tinha muitos estudantes nos clubes universitários e fora dos dojos, que continuaram a
ensinar karaté após a sua morte em 1957. No entanto, divergências internas (em particular a
noção de que a competição é contrária à essência do karaté) levaram à criação de diferentes
organizações - incluindo uma divisão inicial entre a Associação Japonesa de Karaté (liderada por
Masatoshi Nakayama) e o Shotokai (liderado por Motonobu Hironishi e Shigeru Egami), seguida
por muitas outras - de modo que hoje não existe uma única "escola de Shotokan", embora todas
tenham a influência de Funakoshi.

Shotokan foi o nome do primeiro dojo oficial construído por Gichin Funakoshi, em 1936 em
Mejiro, e destruído em 1945 como resultado de um bombardeamento aliado. Shoto (松濤 Shōtō),
que significa "pinheiro ondulante" (o movimento das agulhas de pinheiro quando o vento sopra
através delas), era o pseudónimo de Funakoshi, que ele usava nos seus textos poéticos e
filosóficos e mensagens aos seus alunos. O kan japonês (館 kan) significa "casa". Em honra do
seu Sensei, os alunos de Funakoshi criaram uma placa de leitura shōtō-kan, que colocaram por
cima da entrada do salão onde Funakoshi ensinava. Curiosamente, Gichin Funakoshi nunca deu
um nome ao seu sistema, apenas chamando-lhe karaté.

A formação Shotokan é geralmente dividida em três partes: kihon (fundamentos, básico), kata
(formas ou padrões de movimentos) e kumite (combate ou luta). As técnicas em kihon e kata são
caracterizadas por posturas profundas e longas que proporcionam estabilidade, permitem
movimentos poderosos e fortalecem as pernas. O Shotokan é considerado como uma arte
marcial dinâmica, que desenvolve técnicas anaeróbicas e poderosas, bem como velocidade de
desenvolvimento. Inicialmente, a força e a potência são demonstradas em vez de movimentos
mais lentos e fluidos. As técnicas de Kumite (luta) são praticadas no kihon e kata e desenvolvidas
desde níveis básicos até níveis avançados com um adversário.

Gichin Funakoshi apresentou as Vinte Normas do Karaté (ou Niju kun), que formam os
fundamentos da arte, antes de alguns dos seus alunos estabelecerem a Associação Japonesa de
Karaté (JKA). Dentro destes vinte princípios, baseados fortemente em bushido e Zen,
encontra-se a filosofia de Shotokan. Os princípios aludem a noções de humildade, respeito,
compaixão, paciência e calma interior e exterior. Era crença de Funakoshi que através da prática
do karaté e observação destes 20 princípios, o Karateca iria melhorar a sua pessoa.

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O dōjō kun é uma lista de cinco regras filosóficas para a formação no dojo: buscar a perfeição do
carácter, ser fiel, esforçar-se para superar, respeitar os outros, e abster-se de comportamentos
violentos. Estas regras são conhecidas como as Cinco Máximos do Karaté. O dōjō kun é
normalmente afixado numa parede no dojo, e os seus praticantes recitam o dōjō kun no início
e/ou no final de cada aula, de forma a que os alunos se lembrem sempre dos princípios da arte e
pelos quais se devem reger dentro e fora do dojo.

Funakoshi também escreveu: "O objetivo final do Karaté não está na vitória ou derrota, mas na
perfeição do carácter do participante.

Tora No Maki ou O Tigre do Shotokan


Na cultura asiática, o tigre representa uma das duas grandes forças do universo, sendo a outra o
dragão. O tigre tem o poder de controlar o vento, e o vento é seu companheiro constante. O
tigre é também um símbolo tradicional chinês que significa que o tigre nunca dorme.
Apresentado pelo budismo, o tigre representa força, nobreza, coragem, fé, esforço espiritual
através da selva dos pecados, representada por uma floresta de bambu. Finalmente, em todo o
Sudeste Asiático, o tigre é considerado como um ancestral mítico, é considerado como o
iniciador, é aquele que leva os neófitos para a selva para iniciá-los, na realidade para matá-los e
ressuscitá-los.

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O Tora No Maki, ou tigre Shotokan, tornou-se o símbolo do karaté Shotokan como praticado fora
do JKA. No entanto, os clubes de karaté que são membros da Associação de Karaté do Japão
(JKA) preferem usar o Inyo como um símbolo, e às vezes o tigre dentro do Inyo. O tigre
Shotokan é geralmente usado como símbolo pelos clubes de karaté estilo Shotokai criados
pelos Egami, ou clubes pertencentes ao Karaté Shotokan da América criado por Tsutomu
Oshima, um dos últimos estudantes de Funakoshi. Ohshima é bem conhecido por seguir as
directrizes do Karaté-Dō Kyōhan à letra, como se fosse a "Bíblia" Shōtōkan, e ele usa o símbolo
da capa do livro Karaté-Dō Kyōhan no logotipo da SKA. Também traduziu este livro para inglês.
Durante a promoção All-Japan Sandan em 1952, o Mestre Funakoshi atribuiu pessoalmente

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Ohshima com a graduação de Sandan, ao mesmo tempo que o homenageou com a pontuação
mais alta dos participantes presentes. Além disso, em 1952, tornou-se capitão da equipa de
karaté da Universidade de Waseda. Em 1957, Ohshima também recebeu a graduação de Godan
de Mestre Funakoshi, a classificação mais alta atribuída por Funakoshi, e actualmente ainda o
nível mais alto alcançável dentro da SKA. O elemento que se encontra em muitos logótipos de
Shotokan, no entanto, é o círculo duplo. O círculo externo representa o oceano, o círculo branco
simboliza um Okinawa pacífico e o círculo interno em vermelho simboliza um Okinawa em
desenvolvimento.

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O Mestre - Gichin Funakoshi
A sua vida
Gichin Funakoshi (船越 義珍, é o fundador do Karaté-Do Shotokan, talvez o estilo mais
conhecido do Karaté, e é conhecido como "pai do Karaté moderno". Seguindo os ensinamentos
de Anko Itosu e Anko Asato, foi um dos mestres de Karaté de Okinawa que introduziu o Karaté
no continente Japonês em 1922. Ele ensinou karaté em várias universidades japonesas e
tornou-se chefe honorário da Associação Japonesa de Karaté após o seu estabelecimento em
1949.

Gichin Funakoshi nasceu a 10 de Novembro de 1868, no ano da Restauração Meiji, em Shuri,


Okinawa, província de Ryūkyūan Pechin. Originalmente tinha o nome de família Tominakoshi.
Funakoshi nasceu prematuramente. Depois de entrar na escola primária, Funakoshi tornou-se
amigo íntimo do filho de Ankō Asato, um mestre de karaté e de Jigen-ryū que em breve se
tornaria o seu primeiro professor de karaté. A sua entrada para frequentar a escola médica
foi-lhe negada pois a família de Funakoshi opunha-se duramente à abolição do coque japonês
(penteado samurai) pelo governo Meiji, o que significava que ele seria inelegível para prosseguir
o seu objectivo de frequentar a escola (onde os coques eram proibidos), apesar de ter passado
no exame de admissão. Todavia, uma vez que ele tinha aprendido filosofias e ensinamentos
clássicos chineses e japoneses, Funakoshi tornou-se um professor assistente em Okinawa.
Durante este tempo, as suas relações com a família Asato cresceram e Funakoshi começou a
frequentar de noite a residência da família Asato para receber aulas de karaté pela mão de Ankō
Asato. Funakoshi tinha treinado os estilos populares do Karaté de Okinawa da época: Shōrei-ryū
e Shōrin-ryū.

Shotokan tem o nome do pseudônimo de Funakoshi, Shōtō (松濤), que significa "pinheiros
ondulantes" e Kan (館)significa sala de treino ou casa, assim Shōtōkan (松濤館) refere-se à "casa
de Shōtō". Este nome foi dado pelos alunos de Funakoshi quando colocaram uma placa na
entrada do local onde Funakoshi ensinava. Além de ser mestre de karaté, Funakoshi era um
ávido poeta e filósofo, que alegadamente fazia longas caminhadas na floresta onde meditava e
escrevia a sua poesia.

No final da década de 1910, Funakoshi tinha muitos estudantes, alguns dos quais eram
considerados capazes de transmitir os ensinamentos de seu mestre. Continuando seu esforço

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para angariar grande interesse no karaté de Okinawa, Funakoshi aventurou-se pelo Japão
continental em 1917, e novamente em 1922.

Em 1930, Funakoshi criou a associação Dai-Nihon Karaté-do Kenkyukai para promover a


comunicação e troca de informações entre as pessoas que estudam Karaté-dō. Em 1936, o
Dai-Nippon Karaté-do Kenkyukai mudou o nome para Dai-Nippon Karaté-do Shoto-kai. A
associação é hoje conhecida como Shotokai e é a guardiã oficial da herança Karateca de
Funakoshi.

Em 1936, Funakoshi construiu o primeiro dojo (sala de treino) Shōtōkan em Tóquio. No continente
japonês, Funakoshi mudou os caracteres do karaté para "mão vazia" (空手) em vez de "mãos
chinesas" (唐手) de modo a minimizar a ligação ao boxe chinês. O Karaté tinha “emprestado”
muitos aspectos do boxe chinês. Funakoshi também argumentou na sua autobiografia que uma
avaliação filosófica do uso do "vazio" parecia se encaixar na perfeição, pois implicava uma
maneira que não estava amarrada a nenhum outro objeto físico.

A reinterpretação de Funakoshi de kara em karaté para significar "vazio" (空) em vez de "chinês"
(唐) causou alguma tensão com os defensores da tradição de Okinawa, obrigando Funakoshi a
permanecer indefinidamente em Tóquio. Em 1949 os estudantes de Funakoshi criaram a Japan
Karaté Association (JKA), com Funakoshi como chefe honorário da organização. No entanto, na
prática, esta organização foi liderada por Masatoshi Nakayama. A JKA começou a formalizar os
ensinamentos de Funakoshi, no entanto, Funakoshi não apoiou todas as mudanças que a JKA
acabou por fazer no seu estilo de karaté e ele renunciou à JKA em 1956 para reduzir o atrito
entre a JKA e a Shotokai.

Funakoshi desenvolveu osteoartrite em 1948 e morreu de câncer colorretal a 26 de Abril de 1957.

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O Niju Kun - Os 20 Ensinamentos do Mestre
HITOTSU - KARATÉDO WA REI NI HAJIMARI REI NI OWARU KOTO WO WASURUNA
(1º) Não se esqueça que o Karaté deve iniciar com saudação e terminar com saudação.

HITOTSU - KARATÉ NI SENTE NASHI


(1º) No Karaté não existe atitude ofensiva.

HITOTSU - KARATÉ WA GI NO TASUKE


(1º) O Karaté é um assistente da justiça.

HITOTSU - MAZU JIKO WO SHIRE SHIKOSHITE TAO WO SHIRE


(1º) Conheça-se a si próprio antes de julgar os outros.

HITOTSU - GIJUTSU YORI SHINJUTSU


(1º) O espírito é mais importante do que a técnica.

HITOTSU - KOKORO WA HANATAN WO YOSU


(1º) Evite o descontrole do equilíbrio mental.

HITOTSU - WAZAWAI WA GETAI NI SHOZU


(1º) Os infortúnios são causados pela negligência.

HITOTSU - DOJO NO MI NO KARATÉ TO OMOUNA


(1º) O Karaté não se limita apenas ao exercício físico.

HITOTSU - KARATÉ NO SHUGYO WA ISSHO DE ARU


(1º) A aprendizagem do Karaté deve ser para toda a vida.

HITOTSU - ARAI YURU MONO WO KARATÉKA SEYO SOKO NI MYOMI ARI


(1º) O Karaté dará frutos quando associado à vida cotidiana.

HITOTSU - KARATÉ WA YU NO GOTOSHI TAEZU NETSUDO WO ATAEZAREBA MOTO NO MIZU


NI KAERU
(1º) O Karaté é como a água quente. Se não receber calor constantemente tornar-se-á água fria.

HITOTSU - KATSU KANGAE WA MOTSUNA MAKENU KANGAE WA HITSUYO


1º) Não pense em vencer, pense em não ser vencido.

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HITOTSU - TEKI NI YOTTE TENKA SEYO
(1º) Mude de atitude conforme o adversário.

HITOTSU - TATAKAI WA KYOJITSU NO SOJU IKAN NI ARI


(1º) A luta depende da aplicação dos pontos fracos (KYO) e fortes (JITSU).

HITOTSU - HITO NO TEASHI WO KEN TO OMOU


(1º) Imagine que os membros de seus adversários são espadas.

HITOTSU - DANSHIMON WO IZUREBA HYAKUMAN NO TEKI ARI


(1º) Para cada homem que sai da sua porta, existem milhões de adversários.

HITOTSU - KAMAE WA SHOSHINSHA NI ATO WA SHIZENTAI


(1º) No início seus movimentos são artificiais, mas com a evolução tornar-se-ão naturais.

HITOTSU - KATA WA TADASHIKU JISSEN WA BETSUMONO


(1º) A prática de fundamentos deve ser correta, porém na aplicação torna-se diferente.

HITOTSU - CHIKARA NO KYOJAKU KARADA NO KANKYU WAZA NO SHINSHUKU WO


WASURUNA
(1º) Não se esqueça de aplicar corretamente: (1) alta e baixa intensidade de força; (2) expansão e
contração corporal; (3) técnicas lentas e rápidas.

HITOTSU - TSUNE NI SHINEN KUFU SEYO


(1º) Estudar, praticar e aperfeiçoar-se sempre.

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Pensamentos do Mestre
· Na verdade, a essência da arte foi resumida nestas palavras: O Karaté começa e termina com
cortesia ~ Frase de Gichin Funakoshi

· Assim como um vale vazio pode ecoar o som da voz, do mesmo modo a pessoa que segue o
Caminho do Karaté deve-se esvaziar, livrando-se de todo egoísmo e ambição. Tornar-se vazio
interiormente mas reto por fora. Este é o significado verdadeiro de "vazio" no Karaté. Quando a
pessoa percebe a infinidade de formas e de elementos no universo, ele se volta para o vazio,
para o vácuo. Em outras palavras, o vazio não é outra coisa senão a verdadeira forma do
universo. ~ Frase de Gichin Funakoshi

· ...sempre existe alguém que têm como único desejo aprender Karaté para utilizá-lo numa luta.
Esses, quase todos inevitavelmente abandonam o mesmo antes do meio do ano, porque é
quase impossível que alguém com um objetivo tão tolo, continue muito tempo no Karaté ~ Frase
de Gichin Funakoshi

· Com o Karaté-do, oferecendo sua ajuda aos outros e aceitando a deles, o homem adquire a
habilidade de elevar a arte ao estado de crença, em que possa aperfeiçoar corpo e alma e assim
finalmente chegar a reconhecer o significado verdadeiro do Karaté-do ~ Frase de Gichin
Funakoshi

· O segredo da vitória está em conhecer a si mesmo e a seu inimigo ~ Frase de Gichin Funakoshi

· Tenha cuidado com as palavras que fala, pois, se for arrogante, fará muitos inimigos. Nunca se
esqueça do antigo ditado que diz que um vento forte pode destruir uma árvore robusta, mas o
salgueiro verga-se, e o vento passa sobre ele. As grandes virtudes do Karaté são a prudência e a
humildade ~ Frase de Gichin Funakoshi

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Os 3 K’s … Kihon, Kata, Kumite
Kihon
Kihon (基本 ou きほん básico, fundamental), nas artes marciais japonesas, refere-se normalmente
às técnicas básicas, consideradas princípios fundamentais, como o kendo, aikido e Karaté.
O conteúdo dos treinos são compostos actualmente de repetições das técnicas. As sessões com
prática de kihon permitem ao praticante inicial de uma arte marcial melhorar a velocidade e a
potência de suas técnicas, junto com a correção da respiração, dos movimentos de pés e da
postura. O Kihon é parte integrante do Karateca e/ou artista marcial, pelo que a sua prática
devera ser diária quando possível ou em todas as sessões de treino.

ATAQUES exemplos DEFESAS exemplos

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Kata
KATA (em japonês: 型 ou 形 forma) é um conjunto de movimentos de ataque e defesa e está
presente nas mais diversas artes marciais japonesas, sendo realizados em conjunto ou
individualmente. O significado mais usado é "forma", mas que adquire conotações diversas,
dependendo da arte em questão. No Karaté-Do, a Kata é frequentemente descrito como uma
sequência definida de movimentos de karaté organizados numa luta pré-estabelecida contra
adversários imaginários. O kata consiste em pontapés, socos, rasteiras e defesas. O movimento
do corpo em vários katas inclui pisar, torcer, virar, deixar cair no chão e saltar. No Shotokan, a
kata é uma performance ou uma demonstração, em que cada técnica é um golpe
potencialmente mortal (ikken hisatsu), e na sua execução tem de se prestar particular atenção à
forma correcta de execução e ao timing (ritmo). À medida que o Karateca envelhece, é dado
maior ênfase aos benefícios para a saúde na prática da kata, promovendo a boa forma física e
mantendo o corpo macio, flexível e ágil.

O termo kata é introduzido no livro de Funakoshi Karaté-do Kyohan, que é o Texto Mestre do
Karaté Shotokan. A Dai Nihon Karaté-do Shotokai é a representante oficial do Karaté de
Shotokan

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HEIAN SHODAN diagrama

HEIAN (Mente Tranqüila / Paz e Tranqüilidade): Há cinco formas de Heian contendo uma
grande variedade de técnicas, sendo quase todas relacionadas a posturas básicas. Alguém que
tenha aprendido estas cinco formas é capaz de defender-se com muita habilidade na maioria das
situações. O significado do nome deve ser levado em consideração neste contexto. Observa-se
que as formas indicadas aqui como Shodan (primeira) e Nidan (segunda) estão inversas em
relação à sua ordem tradicional. Esta mudança foi introduzida após considerar seus vários
pontos de dificuldade e facilidade para o ensinamento.

Heian Shodan - Paz e Tranquilidade (Nível um) - 21 movimentos

Heian Nidan - Paz e Tranquilidade (Nível dois) - 26 movimentos

Heian Sandan - Paz e Tranquilidade (Nível três) - 20 movimentos

Heian Yondan - Paz e Tranquilidade (Nível quatro) - 27 movimentos

Heian Godan - Paz e Tranquilidade (Nível cinco) - 23 movimentos

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TEKKI (Andar A Cavalo / Cavaleiro de Ferro): O nome refere-se à característica distinta deste
Kata que é sua postura Kiba-dachi, como montar a cavalo. Neste Kata as pernas são fortemente
posicionadas e bem abertas, como se fosse para sentar no dorso de um cavalo, e a tensão é
aplicada nas bordas externas das solas dos pés com a sensação de concentrar a força em
direção ao centro.

Tekki Shodan - Cavaleiro de Ferro (Nível inicial) - 29 movimentos

Tekki Nidan - Cavaleiro de Ferro (Nível dois) - 24 movimentos

Tekki Sandan - Cavaleiro de Ferro (Nível dois) - 36 movimentos

BASSAI (Romper a Fortaleza): Esta Kata contém repetições e mudanças nos braços para
defender ou fazer bloqueios, representando a sensibilidade para alterar uma posição de
desvantagem para uma mais vantajosa, uma sensação que sugere a determinação e
sensibilidade necessária para invadir a fortaleza do inimigo.

Bassai-Sho - Romper a Fortaleza (Pequeno) - 29 movimentos

Bassai-Dai - Romper a Fortaleza (Grande) - 42 movimentos

KANKU (Contemplar o Céu): O nome desta Kata deriva da kata originalmente criada por Ku
Shanku, integrante do exército Chinês. O nome refere-se ao primeiro movimento da Kata, no
qual levanta-se as mãos e olha-se para o céu. Kan significa contemplar e compreender algo mais
como um artista. Kuu, kara ou vazio pode significar o universo. Dai significa grande e Sho
significa pequeno, mas é possível interpretar uma dualidade como mundo exterior e mundo
interior.

Kanku-Sho - Contemplar o Céu (Pequeno) - 47 movimentos

Kanku-Dai - Contemplar o Céu (Grande) - 65 movimentos

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JUTTE / JITTE (Dez Mãos): Nas Katas remanescentes pertencem ao estilo Shorei, os
movimentos são um tanto mais pesados quando comparados aos do estilo Shorin. A postura é
bastante audaz. Proporcionam um bom condicionamento físico, embora sejam difíceis para
iniciantes. O nome Jutte sugere que alguém que tenha aprendido este Kata é tão eficiente como
dez homens de uma só vez.(24 movimentos)

HANGETSU (Meia-Lua): Os movimentos para frente, desta Kata, são descritos semicírculos com
as mãos e os pés de maneira característica, tendo o seu nome origem nestas movimentos. (41
movimentos)

ENPI (O Vôo Da Andorinha): A movimentação característica desta Kata é o ataque a um nível


mais acima do solo. Na sequência segura-se o opoente e o induzimos a permanecer em uma
posição específica, simultaneamente avançando e atacando novamente. O movimento
representa o vôo rápido e ágil da andorinha. (37 movimentos)

GANKAKU (Grou Sobre a Rocha): A característica deste Kata é a postura em uma só perna que
ocorre repetidamente. Representa a visão esplêndida de uma garça pousada em total equilíbrio
em uma pedra, prestes a lançar-se sobre a sua vítima. (42 movimentos)

JION (Amor e Gratidão): Este é o nome original e tem aparecido frequentemente na literatura
chinesa desde os tempos antigos. O Jionji é um famoso velho templo Budista, e há um santo
Budista bastante conhecido chamado Jion. O nome sugere que a Kata tenha sido introduzido por
alguém identificado com o Templo Jion, assim como o nome Shorin-ji Kempo deriva de uma
relação com o Templo Shorin. (Possui 47 movimentos)

CHINTE (Mãos Estranhas / Extraordinárias): Esta Kata caracteriza-se pela abundância de


técnicas circulares, apoiadas nos ombros e técnicas com as mãos abertas. É uma kata de defesa
pessoal a curta distância, sendo muito praticado pelo sexo feminino, por incluir técnicas de
grande eficácia que não precisam de muita força física. (Possui 34 movimentos)

UNSU (Mãos de nuvens / Separando as nuvens): A Kata com o estilo do Dragão por Mestre
Aragaki. Onde ele a aprendeu/treinou não se tem conhecimento, mas as grandes influências
Chinesas neste Kata sugerem que tenha sido certamente em continente chinês. O nome usado
em Okinawa é Unshou e significa Defesa Contra A Nuvem, ou seja, mesmo que os seus inimigos

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o cercarem como uma nuvem, com certeza os vencerá se tiver aprendido a Unsu. (53
movimentos)

SOCHIN (Espírito Inabalável): A base desta Kata caracteriza-se pelo Sochin dachi e Fudo dachi,
que deu o nome ao Kata, e reforça o sentido horizontal e vertical, como se criássemos raízes no
chão. É necessário fletir bem os joelhos, avançando o cento de gravidade para a frente de modo
a poder bloquear o ataque do adversário e contra atacar com grande potência. (Possui 37
movimentos)

NIJUSHIHO (Vinte e Quatro Passos): A sua origem e criador são incertos. Em muitos pontos é
muito parecida com a Unsu. O seu início possui técnicas em ritmos únicos e sua peculiaridade é
o ataque de Enpi em cinco sentidos diferentes e diversas técnicas de ataque. Acaba em
Sanchin-dachi, concentrando o kime e a respiração. (25 movimentos)

GOJUSHIHO-DAI (Cinquenta e quatro passos (Grande)): Consiste em técnicas superiores de


mãos abertas e contra-ataque de ambas as mãos na clavícula. A diferença para a Gojushiho-Sho
é que o ataque é em Shihon Nukite, mas no geral são muito parecidas, as suas técnicas deveram
ser bem aprimoradas para não serem confundidas. É uma Kata com técnicas suaves e fluentes,
posturas que exigem equilíbrio e movimentos giratórios. É exigida muita habilidade a quem a
executa para que esta seja executada de maneira eficaz. (62 movimentos)

GOJUSHIHO-SHO (Cinquenta e quatro passos (Pequeno)): Reúne uma grande variedade de


técnicas superiores desde seu início; tem uma série de ataques nas costelas, defesa contra Bo
(bastão). É Recomendado seu estudo por cintos pretos. (55 movimentos)

MEIKYO (Espelho da Alma): Este Kata é muito misteriosa. Presume-se que os japoneses a
conheciam muito antes do Mestre Funakoshi a ter introduzido no Karaté de Okinawa no Japão.
Exite uma lenda japonesa a respeito de Amaterasu, a deusa do sol. Ela tinha perdido o seu
espelho e não podia admirar-se, ficando muito aborrecida. Por causa disso, o mundo ficou nas
trevas. Finalmente os outros deuses já cansados das trevas, decidiram que alguma coisa deveria
ser feita para resolver este problema. Então enviaram um grande guerreiro para realizar a Dança
da Guerra do lado de fora da caverna. A Dança Da Guerra foi nomeada Meikyo. Meikyo é
traduzida como O Espelho da alma. O nome antigo para Meikyo era Rohai, o qual está a voltar a
ser usado. (33 movimentos)

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JIIN (Amor e Proteção): Provavelmente tem origem em Tomari-te e seu nome antigo era Shokyo.
Pertence ao mesmo grupo da Jitte e Jion. Não é uma Kata muito praticada e Funakoshi
ensinou-a muito pouco aos seus alunos, mas a mesma exige um alto nível de estudo. (34
movimentos)

WANKAN (Coroa Real): Explora o kyo (falha física ou mental) do adversário. Esta Kata tem pouco
número de kyodos e os movimentos são discretos, portanto é considerado uma Kata de muita
dificuldade, uma vez que exige poucos movimentos para expressar as três essências da Kata. (16
movimentos)

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Kumite
Kumite, é a aplicação prática do kihon e das katas a oponentes reais. As regras do kumite no
karaté Shotokan foram primeiramente instituídas por Masatoshi Nakayama onde técnicas e
regras de treino básicas, intermediárias e avançadas foram formalizadas.

Os praticantes de Shotokan aprendem primeiro a aplicar as técnicas ensinadas nas katas a


oponentes hipotéticos através da aplicação da mesma no bunkai. O bunkai (aplicação técnica da
kata) amadurece e dá origem ao kumite controlado.

Kumite é a terceira parte dos três K’s do Shotokan: kihon, kata e kumite. O Kumite é ensinado
numa complexidade cada vez maior, desde o principiante até aos praticantes de nível básico (1º -
2º), intermédio (3º - 4º) e avançado (5º).

Os principiantes aprendem primeiro o kumite através de exercícios básicos, de um, três ou cinco
ataques à cabeça ( jodan) ou corpo (chudan) com o defensor a recuar enquanto bloqueia e
apenas contra-ataca na última defesa. Estes exercícios usam técnicas básicas (kihon) e
desenvolvem um sentido de tempo e distância na defesa contra um ataque conhecido.

Ao chegar a cinto vermelho, o Karateca aprende o kumite de um passo (ippon kumite). Embora
haja apenas um passo envolvido, em vez de três (sanbon) ou cinco (gohon), este exercício é mais
avançado porque envolve uma maior variedade de ataques e bloqueia normalmente a escolha
dos defensores. Também requer que o defensor execute um contra-ataque mais rapidamente do
que nos primeiros tipos de treino. Os contra-ataques podem ser quase tudo, incluindo bloqueios
e projecções.

O próximo nível de kumite é o de um passo de estilo livre ( jiyu ippon kumite). Este tipo de kumite,
e anterior, foram amplamente documentados por Nakayama e são expandidos pelo programa de
treinadores de instrutor da JKA, para aqueles clubes sob a JKA. O kumite de um passo livre é
similar ao de um passo, mas requer que o Karateca esteja em movimento. A prática de kumitede
um passo melhora as habilidades de kumite livre ( jiyu kumite), e também oferece uma
oportunidade para praticar contra-ataques maiores (em oposição a contra-ataques menores).
Tsutomu Ohshima afirma que o kumite de um passo livre é a prática mais realista no Karaté
Shotokan, e que é mais realista do que o kumite livre.

Kumite livre ( jiyu kumite) é o último tipo de kumite aprendido. Neste exercício, dois parceiros de
treinamento são livres para usar qualquer técnica de Karaté ou combinação de ataques, e o
defensor em qualquer momento é livre para evitar, bloquear, contra ou atacar com qualquer

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técnica de Karaté. Os colegas de treino são encorajados a fazer contato controlado e focado
com seu oponente, mas a parar seu ataque assim que o contato de superfície for feito. Isso
permite atacar a áreas alvo sem luvas de proteção, mas mantendo um grau de segurança para
os participantes.

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O Dojo e as boas práticas
A saudação
Vamos agora abordar um pouco a parte cerimonial do Karaté, das saudações de início e
encerramento que são muito importantes pois permitem nos adquirir um estado de espírito
pnecessário para o treino, além de nos ensinar a disciplina e o respeito tão necessários à nossa
arte.

Tudo começa pela cerimônia, “Rei”, em japonês. Encontramos uma grande importância no
cerimonial. Permite-nos estar em harmonia com o Espírito dos Grandes Mestres que nos
precederam no estudo da Via (Do). Não aprender somente as práticas exteriores, mas também
compreender o espírito e as razões profundas do cerimonial, é um dos grandes objetivos da
prática das Artes Marciais.

A saudação no Japão executa-se de duas formas diferentes: uma simples e natural (Ritsu Rei) a
outra (Za Rei), mais cerimoniosa.

Vamos detalhar agora a saudação em Za Zei, executada depois de um treino.

1º – O aluno mais graduado da classe, (Senpai), dá a voz de “Segatsu”, isto é, “alinhar”. Nesta
altura, os Karatecas alinham em pé, do lado “Shimoza”, voltados para o “Kamiza”, dispostos por
graduações no sentido longitudinal do Dojo, ficando, o praticante mais novo da classe (Kohai),
numa extremidade do Dojo, e o Karateca mais graduado (Senpai), na outra, em Shimoseki.
Durante o alinhamento e à voz de “Ki otsuke” (Arranjar o Karaté-gi sempre de frente para a
parede mais próxima), os Karatecas devem assumir uma postura correta, de pernas unidas, com
o Gi (uniforme) e o Obi (cinto) devidamente compostos.

2º – O Sensei coloca-se no Kamiza, virado para a frente, para o Tokonoma e, será ele o primeiro
a assumir a posição de Zazen, como indicação de que o cerimonial se iniciou.

3º – Dá-se a voz de “Seza” (Ajoelhar) pelo Senpai, e todos os praticantes deverão assumir a
mesma posição, em ordem hierárquica decrescente;

4º – Dá-se a voz de “Mokuso” (Meditar/Concentrar), para uma breve concentração da mente,


durante este período, os Karatecas deverão abstrair-se das preocupações exteriores ao Dojo e
interiorizarem tudo o que aprenderam na aula.

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5º Após a voz de “Mokuso Yame (parar de meditar), haverá a voz de “Dojo Kun”, (lemas do Dojo).

6º Após a leitura do Dojo Kun, dá-se a voz de “Shomen Ni Rei” (Saudação para a frente, em
silêncio).

É o momento em que todos os Karatecas, incluindo o Sensei, fazem a saudação, supostamente,


à Entidade Suprema, ao Grande Mestre (Shihan), e à própria arte em si, como sinal de respeito.

7º – Seguidamente, à voz de “Sensei Ni Rei” (Saudação para o mestre), os alunos e professor


cumprimentam-se simultaneamente entre si, proferindo a palavra “Oss!”.

8º Se o Senpai estiver presente, em Shimoseki, seguir-se-á a voz de “Hidari mite” (olhar para a
esquerda), ou ” Migi mite ” ( olhar para a direita ) dependendo o lado q o sempai estiver, em que
todos devem se virar para Shimoseki, em diagonal, e à voz de “Senpai Ni Rei” (saudação para o
Senpai), estes se cumprimentam entre si, proferindo a palavra “Oss!”.

9º Terminado o cerimonial em Za Rei, o Sensei levanta-se, dando indicação ao Senpai, à voz de


“Tate Kudassai” (por favor levante-se), para que se levante também, sendo depois, a vez dos
restantes praticantes, os quais, levantar-se-ão, por ordem hierárquica decrescente, calma e
serenamente.

10º Quando todos os Karatecas estiverem em pé, após a saudação, soará uma última voz “Otogai
Ni Rei” (saudação para todos) e todos voltam a fazer uma saudação entre si, proferindo a palavra
“Oss”!. O Sensei dará por terminada a aula à voz de “Sore Made” (acabou).

Esta saudação também significa um cumprimento de grande amizade que deve existir entre os
praticantes, instrutores e alunos.

Há quem diga que é desnecessário este tipo de ritual entendendo que se poderia passar
diretamente do treino para fora do Dojo, o que discordamos, pois então, teríamos que questionar
também os kimonos brancos e as faixas: a saudação não é só tradição cultural é a forma
tradicional de mostrar disciplina e respeito, pois, qualquer um que chegar e ver o início e término
da aula verá que há uma autoridade central naquele local e mesmo ela tem respeito por outra.

Numa sociedade que cada vez mais perde o respeito sobre a arte, sobre os outros e eles
mesmos, soa estranho este tipo de atitude, mas nossa sociedade não é exatamente modelo de
formação de bons caracteres e quem sabe não seja um pouco de formalismo e disciplina que
esteja faltando

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O Dojo Kun
O mestre Funakoshi, ao criar o estilo shotokan, procurou desenvolver e aperfeiçoar cada vez
mais a sua obra. E para isso, pesquisou e colocou em prática aspectos psicológicos, a fim de
aprimorar a concentração e ter um maior controle emocional por parte do praticante.

Como criou o Karaté para evitar e/ou acabar conflitos, Funakoshi chegou à conclusão de que
trinar para deixar a parte física saudável não era o suficiente e passou a preocupar-se não
apenas como praticante ser um lutador excepcional, mas que desse bom exemplo como
cidadão, pois, segundo ele, o praticante de Karaté deve manter a mente longe de sentimentos
impuros como maldade e egoísmo, buscando então a pureza do pensar, porém, alerta para
reagir de forma adequada às situações que as fizerem presentes em sua vida, sendo essa a
verdadeira doutrina, a filosofia do Karaté, deixar a mente vazia no sentido de limpa, não um vazio
mental, mas a ausência de sentimentos impuros, incitando o praticante a um crescimento interior
e para tanto, Funakoshi pesquisou e desenvolveu cinco princípios básicos para a interiorização
do praticante de Karaté.

O objetivo desses princípios não é a vitória nem a derrota e sim a lapidação do caráter de quem
os põe em prática. Os caminhos filosóficos que Funakoshi deixou e que levam a uma vida
harmoniosa são denominados de DOJUKUN e NIJUKUN, sendo esses os lemas do Karaté a
serem seguidos e sempre foi da sua opinião que nenhum dos componentes do KUN tivesse mais
importância que outro, colocando-os em linha de igualdade em importância e valor, por isso,
numerou todos os princípios com o numero um, como se todos fossem o primeiro (HITOTSU).

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HITOTSU JINKAKU KANSEI NI TSUTOMURU KOTO
Esforçar-se para formação do CARACTÉR
Todo praticante de Karaté no inicio deve começar a construção do seu caráter e aperfeiçoar suas
técnicas por meios das repetições dos treinos. Assim o espírito do guerreiro virá naturalmente
assim como a confiança, pois os treinos darão mais luz ao seu espírito para superar problemas
pessoais.

HITOTSU MAKOTO NO MICHI O MAMORU KOTO


SINCERIDADE ao verdadeiro caminho da razão
A sinceridade é um item inerente a figura do samurai. O praticante deve sempre ser sincero ao
seu dojo e ao seu mestre ao longo dos anos e ele será recompensado com a confiança do
Sensei, que lhe proporcionara mais sabedoria, fruto da confiança mutua do relacionamento
aluno/Sensei.

HITOTSU DORYOKU NO SEISHIN O YASHINAU KOTO


Criar o intuito de ESFORÇO
A dedicação completa e o esforço demonstrado pelo aluno deveser total por parte do aluno e
não superficial, o que ira gerar mais tempo disponibilizado pelo Sensei ao praticante que
demonstra tal sentimento.

HITOTSU REIGI O OMONZURU KOTO


ETIQUETA acima de tudo
O respeito para com o seu semelhante é um item fundamental e pertencente às raízes de
Okinawa, pois segundo Funakoshi “sem cortesia, não existe Dojo”. O aluno, Sensei e todos de no
geral devem demonstrar respeito em todos os seus atos, por mais pequenos que sejam em
qualquer lugar e circunstância.

HITOTSU KEKKI NO YU O IMASHIMURU KOTO


Conter o espírito de agressão e AUTOCONTROLE
Um praticante ou lutador deve ter conhecimento do seu potencial e dos ensinamentos que
aprendeu, tendo a sábia noção de que possui grande força e técnica, deve usá-los somente para
fins justos, sem se exibir e sem sujar a imagem do dojo

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Boas maneiras e regras de conduta no Dojo
À primeira vista um leigo irá pensar que é muita coisa em que prestar atenção, mas com o tempo
verifica-se que tudo isto é apenas uma questão de boa-educação.

● O Karaté é Budo:
● Sempre que o Sensei estiver a dar uma explicação, olhe para ele o tempo todo. A menos
que ele mande olhar em uma outra direção, permaneça olhando para ele.
● Não se distraia, não converse com outro aluno, não tente fazer o movimento antes que
ele dê o sinal de início.
● Nos verdadeiros dojos de Karaté, os atletas falam muito pouco e treinam bastante.
● Ao cumprimentar em pé (hitsurei), colocar os pés juntos e as mãos ao lado (homens) ou à
frente das coxas (mulheres) com os dedos juntos e dobrar a coluna no máximo 45 graus
olhando para os pés da pessoa cumprimentada, num tempo aproximado de 3 segundos e
depois voltar a posição normal.
● Não se esqueça que a espiga de milho quanto mais madura, mais baixa a cabeça, como
nas salas de chá japonesas (chanoyu) onde todos têm que se baixar para entrar,
● Comporte-se adequadamente, pois se desobedecer o subtil código de etiqueta, decoro e
conduta, quem passará vergonha é seu Sensei, que não soube ensinar corretamente
como se comportar.
● Acostume-se a efectuar o gesto formal de cumprimento (baixar a cabeça) ao entrar e sair
do Dojo, ao encontrar o seu Sensei (ou qualquer aluno mais graduado que você) ou
quando quiser lhe dirigir a palavra.
● A disciplina e a reverência sempre foram uma tônica nas artes marciais japonesas.
● A reverência não é efetuada, especificamente, para a pessoa do Sensei, mas para o que
ele representa.
● Ao entrar no Dojo, coloque sempre os chinelos ou sandálias com as pontas nitidamente,
apontadas para a parede. É nas pequenas demonstrações de etiqueta que se conhece a
verdadeira escola de Karaté tradicional e, não um amontoado de pessoas truculentas
praticando violência gratuita e sem objetivo.
● Todas as vezes que algum aluno chegar atrasado no Dojo ou depois da aula já ter
começado, diz a etiqueta que o aluno deve cumprimentar primeiramente o Tokonoma
assim que entrar no Dojo. Deve se encaminhar para a parte da frente da turma, nunca
passando pela frente da turma ou entre o Sensei e o Tokonoma e se colocar em pé ou
em seiza ao lado do primeiro aluno da primera fila e ficar a espera que o Sensei lhe
conceda permissão para treinar, após o que você pode se aquecer.

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● Assim que houver uma primeira pausa deverá entrar no final da turma ou, se o Sensei lhe
disser, entrar no lugar da sua graduação.
● Evite, (ainda que se saiba da curiosidade presente na nossa sociedade ocidental) fazer
qualquer tipo de perguntas que não sejam absolutamente necessárias, seja no decorrer
da aula ou fora dela. O Sensei sabe exatamente quais informações deve prestar, quando
prestar e para qual aluno. Lembre-se na prática do Karaté: “não há nada escondido que
não lhe seja mostrado nem nada oculto que não lhe seja revelado”.
● Dirija-se ao Sensei sempre de maneira educada e respeitosa.
● O Sensei tem por objetivo maior ensinar ao aluno a disciplina marcial, segundo os
princípios da filosofia zen, tornando-o apto a ser uma pessoa de bem, dotada de
capacidade de direção, comando, coordenação, controle e capacidade de decisão.
● A prática do Karaté deve sempre ser efetuada com um espírito ishinryu mushotoku (sem
almejar resultados, com a mente livre de objetivos que não sejam puramente a prática
pela prática).
● A formalidade do aluno dentro do local de prática (Dojo) permite conservar a harmonia e
a tranquilidade em todos os momentos e situações da vida.
● No reigi saho (costumes do Dojo) percebe-se claramente que o mais importante da
prática não é chegar a algum lugar, ser melhor, mais competente ou sair-se vitorioso em
campeonatos ou torneios, mas descobrir o potencial individual, a energia latente e a
natureza divina que habita todos os seres vivos.
o É o reigi saho que segura nossas emoções externas;
o Que organiza a hierarquia dos praticantes;
o A competência funcional;
o Que não permite o deslize, a arrogância e a grosseria;
o Que preserva a tradição e a mantém com o passar dos anos.
o É ele que produz para a comunidade e, naturalmente para a sociedade um
homem educado, competente e produtivo.
● A prática do Karaté deve ser entendida e praticada como um ato quase sagrado, cada
aula que acaba, coloca-nos um pouco mais próximos do fim do caminho.
● Participe das atividades externas desenvolvidas pela instituição em que você pratica, pois
elas são importantes para o convívio da comunidade e foram desenvolvidas ao longo dos
séculos para ajudar no seu desenvolvimento.
● Não vá onde não deve.
● Não escute conversa alheia.
● No Dojo caminhe lentamente, não atrapalhe quem está a treinar.
● Faça os movimentos corretos, não invente nada.

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● Não fale nem ria alto no Dojo.
● Tenha paciência com os mais velhos.
● Tenha o dobro de paciência com os mais jovens.
● Seja hospitaleiro com as visitas. Faça-as sentirem-se bem vindas, atenda as suas
necessidades.
● Quando Senseis graduados visitarem o Dojo, cumprimente-os educadamente e se
coloque a disposição do seu mestre.
● Converse sempre com consideração e respeito.
● Seja cortês, deixe as visitas passarem primeiro.
● Ajude aos iniciantes.
● Endureça o treino com os mais antigos.
● Não seja preguiçoso.
● Cuide de si mesmo, não se preocupe com os outros.
● Treine para si e não para agradar aos que estão a ver.
● Não julgue os outros.
● Seja educado.
● Não utilize linguagem vulgar.
● Não minta.
● Não exagere, ao contar factos.
● Perceba o verdadeiro significado da prática de Kata.
● Se você tem alguma pergunta, faça-a na hora certa.
● O Sensei representa uma linhagem de séculos, merece respeito. Respeite o Sensei não
como pessoa, mas como um digno sucessor do legado do Karaté.

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Dicas e truques
Como dobrar o dōgi (fato de karaté)
O fato de karaté é o dōgi (道着), onde 道 (dō) significa caminho e 着 (gi) significa roupa, uniforme.
Poderá ter também o nome de 稽古着 (keikogi), onde 稽古 (keiko) significa prática (assim, é
literalmente uniforme de praticar). Nas artes marciais, é comum usar o nome da arte marcial
seguido por 着 (gi), sendo assim para o Karaté, fica 空手着 (Karatégi). O casaco é chamado 上着
(uwagi), e as calças são chamados 下履 (shitabaki). O cinto chama-se 帯 (obi).

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Treino, os meus pensamentos!
● Faz devagar, seja kihon, seja kata, aperfeiçoando e tendo noção da postura. Se não
consegues fazer bem lento, não irás fazer bem rápido. Lembra-te que a pressa é inimiga
da perfeição.
● Treina a frente do espelho sempre que possas, irá ajudar a corrigir pequenos detalhes.
● O cérebro também é um músculo e necessita de ser trabalhado. Sempre que possas,
visualiza-te a fazer os exercícios que o Sensei te pediu. A pouco e pouco irá sendo
automático e o karaté começará a ser mais fluido.
● Ao executar uma Kata em grupo, não tentes evidenciar-te e ser “o maior”. Faz como os
outros. Lembra-te “Juntos serão mais fortes”.
● A repetição leva à perfeição.
● Presta atenção aos pormenores, são esses que irão fazer toda a diferença no teu DO
● Faz com alegria, de nada serve praticar algo se não se estivermos a ser felizes com o que
fazemos.

Obrigado por teres perdido um bocadinho do teu tempo a leres este meu “livro”. O Amor à arte
foi o que me levou a querer partilhar. Espero que tenhas gostado.

OSU,
Domingos Ambrósio, 2012

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