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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

CURSO DE PREPARAÇÃO AOS CURSOS DE ALTOS ESTUDOS


MILITARES E EQUIVALENTES – CP/CAEM

GEOGRAFIA

EUA: UMA GRANDE POTÊNCIA MUNDIAL


(ASSUNTOS 16, 17, 18 e 19)

RIO DE JANEIRO - 2022


CP/CAEM EUA: Uma Grande Potência Mundial 2

COMPETÊNCIA PRINCIPAL:

Participar dos processos seletivos de oficiais superiores para o prosseguimento da


carreira.

UNIDADES DE COMPETÊNCIA:

Formular soluções para problemas que envolvam aspectos da geografia do Brasil e


do mundo.

ELEMENTO DE COMPETÊNCIA:

- Analisar os principais problemas brasileiros nas expressões do poder nacional.

- Apresentar estudos geo-históricos com bases geopolíticas e estratégicas.

CONTEÚDO:

Estados Unidos da América: A Grande Potência Mundial.

ASSUNTOS:

16. Formação territorial dos EUA.

17. Construção da hegemonia norte-americana.

18. Ações estratégicas norte-americanas contemporâneas.

19. Imigração, composição da população e segregação nos EUA.

PADRÃO DE DESEMPENHO:

Compreender a formação da grande potência mundial e suas ações estratégicas de


poder, com base na documentação referenciada, para concluir sobre sua hegemonia
no contexto internacional.
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ÍNDICE

ASSUNTOS PG

16. Formação territorial dos EUA .............................................................. 5

17. Construção da hegemonia norte-americana ....................................... 7

18. Ações estratégicas norte-americanas contemporâneas ..................... 10

19. Imigração, composição da população e segregação nos EUA .......... 13

REFERÊNCIAS ................................................................................... 17
CP/CAEM EUA: Uma Grande Potência Mundial 4

LISTA DE FIGURAS

PG

Figura 1 – Formação territorial dos EUA ..................................................... 6


CP/CAEM EUA: Uma Grande Potência Mundial 5

16. FORMAÇÃO TERRITORIAL DOS ESTADOS UNIDOS

A exploração da América do Norte pelos ingleses só ocorreu no início do


século XVII. Neste mesmo período, espanhóis e portugueses já haviam estabelecido
muitas colônias no continente americano, concentrando-se na América Central e do
Sul. A colonização inglesa foi marcada pela heterogeneidade. Enquanto o norte teve
como base o trabalho familiar em pequenas propriedades rurais, o sul foi marcado
pela presença de grandes propriedades rurais e trabalho escravo, voltado para a
exportação de produtos tropicais.

A formação territorial dos Estados Unidos da América (EUA) se deu a partir


da colonização da Virgínia, no qual foi fundado o primeiro povoado inglês
permanente, em Jamestown (1607). Em 1624, a Virgínia torna-se colônia real e dez
anos depois surgem outras colônias. Formada por 13 colônias, a Nova Inglaterra
estendeu suas posses na região setentrional com relativa autonomia.

Após quase vinte anos (1764-1775) de autonomia, as 13 colônias recebem


um forte golpe da Inglaterra, com o aumento de impostos e limitação das atividades
econômicas, o que as levou a declararem guerra à metrópole em 1775. Contudo, o
problema não era apenas econômico. A Nova Inglaterra era fortemente influenciada
por ideais iluministas e desejava a formação de um novo país, independente e
republicano. Assim, em 04 de julho de 1776, foi lida, na Filadélfia, a Declaração de
Independência dos Estados Unidos da América, que somente foi reconhecida pelos
ingleses no ano de 1783.

Após a consolidação da independência, que custou oito anos de luta contra


os britânicos, os Estados Unidos partiram para a expansão territorial no continente,
estendendo seu território até o Pacífico. Inicialmente, compraram a Luisiana (1803)
da França e a Flórida (1819) da Espanha. Na guerra contra o México (1846-1848),
conquistam as terras do Texas à Califórnia. Por fim, a expansão chegou até o
Alasca comprado da Rússia em 1867.

As ideias expansionistas estavam expressas, sobretudo, na Doutrina Monroe


(1823) elaborada pelo presidente James Monroe e inspirada no Iluminismo. A partir
desta doutrina, o governo dos Estados Unidos defendia sua posição diante da
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Europa, em relação à América, não admitindo qualquer interferência europeia nos


assuntos políticos dos novos países recém-independentes da América. Essa
ameaça deixava claro às potências europeias que novas tentativas de recolonização
seriam rechaçadas e que o destino da América, a partir de então, seria definido na
América.

O processo de expansão territorial dos Estados Unidos, durante o qual os


povos indígenas foram praticamente dizimados, foi apoiado, entre outros fatores, por
um intenso fluxo migratório externo. O fluxo mais intenso ocorreu entre 1840 e 1900,
quando cerca de 30 milhões de europeus vindos de diferentes países (França,
Inglaterra, Alemanha, Polônia etc) chegaram aos EUA, compelidos pelas crises
sociais geradas pela Revolução Industrial e atraídos pelos estímulos oferecidos aos
imigrantes, como a distribuição de lotes de terra (marcha para o Oeste).

Figura 1 – Formação territorial dos Estados Unidos


Fonte: O Poder Americano

Nos dias atuais, os EUA são uma República Federal Presidencialista, uma
democracia liberal e capitalista composta por 50 (cinquenta) estados e 1 (um) distrito
federal. Têm uma posição privilegiada na América do Norte, sendo banhado a Leste
pelo oceano Atlântico e a Oeste pelo Pacífico. Com superfície terrestre de 9.834.000
km² em área descontínua, são considerados o quarto maior país no mundo em
extensão territorial e fazem fronteira com apenas 2 (dois) países: o México, ao Sul, e
o Canadá, ao Norte. Possuem população de mais de 331 milhões de habitantes, a
terceira maior do mundo, de diversas origens étnicas, com um alto índice de
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desenvolvimento humano (IDH) e um PIB per cápita de cerca de 70 mil dólares em


2021, segundo o Banco Mundial (BM).

17. CONSTRUÇÃO DA HEGEMONIA NORTE-AMERICANA

As motivações que contribuíram para a formação da hegemonia norte-


americana surgem antes da Segunda Guerra Mundial (2ª GM). Já a consolidação do
processo se deu ao longo da Guerra Fria.

No início do século XX, o modelo de ordem instituído pelos Estados europeus


sofreu grande desgaste pelo esforço de guerra relativo à Primeira Guerra Mundial
(1ª GM) (1914- 1918). Este desgaste provocou o declínio do poderio militar da
Inglaterra e a regressão econômica das potências europeias, enfraquecendo o
controle sobre suas colônias ou regiões dependentes política e economicamente.

Quando a 1ª GM começou, o custo das vitórias da Alemanha precipitou o


declínio inglês em favor dos Estados Unidos. No momento em que os EUA saldaram
sua dívida, o lucro obtido da venda de armamentos foi logo convertido em
empréstimos domésticos e internacionais em grande escala, modernizando o
sistema capitalista.

Os britânicos compreenderam que chegara a hora da queda do velho império


e a emergência da nova potência atlântica. Em 1940, nascia então o conceito de
superpotência. Os Estados Unidos se tornaram o centro das decisões internacionais,
sobrepujando as potências europeias tradicionais. Na 2ª GM, o país assumiu a
responsabilidade internacional de administrar, ao mesmo tempo, a crise europeia, a
contenção da emergência japonesa na Ásia e o enfraquecimento do flanco oriental
em guerra aos cuidados da União Soviética (SARAIVA, 2007).

A partir do pós 2ª GM, os Estados Unidos já assumiam sua hegemonia


ocidental. As decisões tomadas em Washington passaram a refletir em todo o
mundo. O país agora dispunha de estratégias de alcance mundial e dos meios e
instrumentos de poder (econômicos, militares e diplomáticos) necessários para a
execução dessas estratégias. São expressões desse poder em escala internacional:
o acordo de Bretton Woods (padrão-dólar), o FMI, o GATT, a ONU, a dissuasão
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nuclear, a liderança na OTAN, a participação direta ou indireta em conflitos regionais


e a alianças e abertura de bases militares ao redor do mundo.

A Guerra Fria apontou uma nova forma de exercício hegemônico no cenário


mundial. A Bipolaridade trazia duas visões contrapostas: de um lado o modelo
hegemônico norte-americano, que defendia o capitalismo liberal, e do outro lado o
modelo hegemônico soviético, que propunha um experimento socialista como
articulador de um sistema socioeconômico.

Os EUA, do então presidente Truman, estavam acompanhados de dois


instrumentos marcantes da hegemonia no século XX: um de ordem econômica, o
Plano Marshall, e o outro de caráter militar, criação da OTAN.

O Plano Marshall anunciava uma série de ações que demonstram a presença


norte-americana na reconstrução econômica da Europa Ocidental. Os empréstimos
volumosos na ordem de US$ 17 bilhões, vinculados à compra de produtos e de
outras modalidades de financiamento da produção europeia, permitiram o
soerguimento gradual da Europa Ocidental.

A criação da OTAN, datada de 1949, surgiu do acordo entre 12 nações


ocidentais em torno de um pacto de defesa contra possíveis ações militares
soviéticas. Essa aliança expressava a hegemonia militar e anticomunista dos
Estados Unidos por meio da criação de um escudo atômico sobre a Europa
Ocidental. A OTAN estabelecia, como princípio básico, a defesa coletiva das
liberdades democráticas dos países capitalistas (SARAIVA, 2007).

O Plano Colombo, por sua vez, complementou esses instrumentos


geopolíticos. O plano foi uma iniciativa lançada em 1951 com o objetivo de
reestruturação social e econômica de países do Sudeste Asiático no âmbito da
Guerra Fria. Compreendia empréstimos financeiros e cooperação comercial.
Atualmente, o plano chama-se Plano Colombo para Cooperação Econômica e
Desenvolvimento Social da Ásia e do Pacífico e reúne mais de vinte Estados
membros.

Com a queda do Muro de Berlim em 1989 e o fim da União das Repúblicas


Socialistas Soviética (URSS) em 1991, houve uma alteração do peso dos Estados
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Unidos nas relações internacionais, levando o país a engendrar uma nova fase.
Durante a década de 1990, sem a presença do antigo rival estratégico, os EUA se
mantiveram soberanos. Em 1994, entrou em vigor o Acordo de Livre Comércio com
a América do Norte (NAFTA), um instrumento de integração entre a economia dos
EUA, do Canadá e do México. Para os EUA, o NAFTA tinha o objetivo de favorecer
as exportações norte-americanas, por meio da eliminação das barreiras
alfandegárias entre os três países membros.

Atualmente, a economia norte-americana é a maior do mundo, com um


produto interno bruto (PIB) de aproximadamente 23 trilhões de dólares em 2021
(BM), o que corresponde a cerca de 23% do PIB global, sendo destaque em
diversos setores econômicos. Seu comércio exterior corresponde a cerca de 11% do
comércio internacional. Os EUA são o líder mundial em ciência, tecnologia e
inovação. Sua cultura exerce influência em todo o mundo. Grande potência nuclear,
seu orçamento militar foi de aproximadamente 700 bilhões de dólares em 2021, 39%
de todo o gasto com defesa do planeta. Essa condição respalda um poder que se
traduz no exercício de forte influência nas relações entre os Estados.

Entretanto, a ascensão de novos atores globais, como a União Europeia (UE),


a República Popular da China (RPC) e os demais países ditos emergentes e
reunidos no fórum BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) representa
alteração no equilíbrio de poder mundial.

A RPC se tornou a segunda potência econômica mundial nos anos 2000. Seu
PIB já é de cerca de 15 trilhões de dólares e analistas projetam que a economia
chinesa, em valores absolutos, pode ultrapassar a dos EUA por volta de 2028. A
China possui o segundo maior orçamento militar do mundo, condição que a colocou
como um ator cada vez mais poderoso e influente no cenário global. Hoje, a China é
percebida pelos EUA como uma rival estratégica com capacidade de ameaçar seu
status quo.

Assim, na conformação atual de predominância capitalista e liberal, os


Estados Unidos buscam manter a hegemonia por meio de diversas estratégias. Do
ponto de vista econômico, por meio do fortalecimento e da ampliação da rede de
interesses econômicos globais que alimenta a sua economia. Para tanto, adota
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táticas de contenção dos avanços de países em desenvolvimento, mais competitivos


em vários produtos de exportação. Como exemplos, pode-se citar: o protecionismo,
a pressão para abertura dos mercados e a imposição de barreiras para transferência
de tecnologias.

Do ponto de vista militar, a manutenção do status quo de potência


hegemônica e superpotência militar global, é interesse geopolítico dos EUA, que não
permitirão a ascensão de qualquer potência que possa rivalizar com o seu poder e a
sua liderança militar. Para isso, mantêm investimentos bilionários no setor bélico,
permanecendo na vanguarda tecnológica em todas as dimensões das capacidades
militares. Atualmente, desenvolve programa ambicioso de modernização de seu
arsenal nuclear. Suas bases militares, força aeronaval e alianças estratégicas lhe
proporcionam presença em todos os espaços estratégicos de interesse. (SARAIVA,
2007).

Hoje, a continuidade da hegemonia norte-americana depende da capacidade


do governo dos EUA de perceber os ganhos estratégicos da autolimitação do uso do
poder, apostando no fortalecimento das alianças e instituições que protejam seus
interesses no futuro.

18. AÇÕES ESTRATÉGICAS NORTE-AMERICANAS CONTEMPORÂNEAS

A resposta do governo norte-americano aos atentados de 11 de setembro de


2001 representou um teste importante para a crise da hegemonia norte-americana.
Desde o início de 2001, o país vinha enfrentando uma recessão econômica. Temeu-
se que essa crise fosse agravada depois dos atentados, principalmente nos setores
de turismo e transportes aéreos, o que não ocorreu. Como consequência dos
atentados, o país incrementou os gastos com a indústria bélica e áreas ligadas ao
“complexo industrial militar”.

Em termos de segurança, os atentados consolidaram a posição favorável dos


EUA como principal responsável pela vigilância e punição dos considerados por eles
“inimigos da ordem”. A Doutrina Bush, apresentada pelo presidente George W. Bush
em janeiro de 2002, já não via os EUA como guardiões de um mundo livre, mas
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como protetores das fronteiras que separam a “civilização” da “barbárie”, dotando a


guerra declarada ao terrorismo de contornos bem amplos.

A Doutrina Bush previa o uso da força contra qualquer país que pudesse
ameaçar a segurança dos EUA de maneira preventiva e unilateral, isto é, sem
necessidade de consulta aos aliados e de autorização do Conselho de Segurança
da ONU. Essa tese serviu de justificativa para a invasão do Iraque e a derrubada do
governo de Saddam Hussein (2003).

Do ponto de vista da política externa, ficaram visíveis os conflitos existentes


entre os EUA e os demais países dentro das instituições multilaterais (ex. OMC e
ONU). O governo Bush se colocou em posição contrária a vários organismos e
acordos internacionais. Esta postura foi marcada pela preocupação com a
proeminência do interesse nacional norte-americano e a aversão em aceitar
constrangimentos em áreas consideradas como sensíveis do ponto de vista de
Washington.

Exemplos marcantes disso foram as posições do governo dos EUA em


relação ao Tribunal Penal Internacional, ao Protocolo de Kioto e aos entendimentos
sobre desarmamento (recusa do Protocolo de Verificação da Convenção sobre
Proibição das Armas Biológicas; do Tratado de Proibição de Testes Nucleares –
CTBT; do Tratado sobre Mísseis Balísticos – ABM; e do Protocolo de Montreal sobre
Minas Terrestres) (BARBOSA, 2006).

O uso da base militar americana de Guantámano, situada em Cuba,


constituiu-se em outro exemplo. Para lá foram enviados centenas de suspeitos de
terrorismo, a partir de 2002. Os detentos não gozavam de proteção de dispositivos
da Convenção de Genebra e das leis norte-americanas por serem considerados
“inimigos combatentes”. Em 2006, os prisioneiros passaram a ter o direito de
recorrer ao sistema judicial civil.

Segundo Barbosa (2006), a ascensão do terrorismo mudou o jogo das


coalizões e trouxe mais parceiros ao tabuleiro estratégico dos EUA, não tendo
mudado, entretanto, a natureza ou a estrutura das relações internacionais. A “Pax
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Americana”1 está instaurada e deverá permanecer como um referencial para as


próximas décadas, restando saber até que ponto contribuirá para assegurar a
manutenção da paz e da estabilidade internacional.

Atualmente, são temas relevantes para a política externa dos EUA a


contenção da proliferação nuclear, a contenção da Rússia e da expansão chinesa; a
promoção dos Direitos Humanos, dentre outros temas.

Conter a proliferação de armas de destruição em massa que possam ser


utilizadas contra os interesses estratégicos norte-americanos em qualquer lugar do
mundo é interesse geopolítico dos EUA que se traduz em ações estratégicas. Nesse
sentido, a “Doutrina Bush” definiu com “Eixo do Mal” o Iraque, o Irã e a Coréia do
Norte, por supostamente, desenvolverem capacidades nucleares à margem das
organizações internacionais. Atualmente, a estratégia de reforço das alianças com a
Coréia do Sul, Japão, Israel e Arábia Saudita, além de coerção política e econômica,
e até mesmo ameaça de uso da força militar, objetivam essa contenção e o
desencorajamento para que outras nações não almejem a condição nuclear.

A contenção da Rússia é interesse Geopolítico norte-americano para


manutenção do “status quo”. A Rússia ainda é apontada por analistas internacionais
como grande potência militar por seu arsenal, inovação tecnológica e capacidade de
dissuasão nuclear. Nesse sentido, as estratégias de expansão da UE e da OTAN na
Europa Oriental por intermédio da incorporação de países da antiga União Soviética,
bem como o aumento de influência e presença militar na Ásia Central, contribuem
para reduzir a área de influência russa. A atual guerra na Ucrânia é apontada como
consequência dessa política de contenção, sendo a liderança norte-americana na
condenação da invasão, na imposição de sanções políticas e econômicas à Rússia
e na ajuda financeira e em meios de emprego militar para a Ucrânia, ações
estratégicas da contenção.

Já a contenção da expansão chinesa está no centro das atenções


geopolíticas norte-americana. A ascensão da RPC como potência regional do
extremo oriente e com interesses globais contrariam os interesses estratégicos e

1
A Pax Americana diz respeito ao período pós-2ª Guerra de relativa paz no mundo ocidental. Este momento coincide
com o domínio militar e econômico dos Estados Unidos.
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desperta reações dos EUA. Nesse sentido, os EUA reforçam sua presença militar na
região, redefinem alianças tradicionais com a Coréia do Sul e o Japão, e formam
novas alianças com a Índia, o Japão e a Austrália no âmbito do Quad. Em 2021,
anunciou a aliança estratégica de defesa com o Reino Unido e a Austrália (Aukus),
uma clara política para conter a expansão chinesa no Indo-Pacífico.

No plano econômico, desde 2018, os Estados Unidos e a China travam


disputa comercial com consequências para toda a economia global. O conflito foi
iniciado com a imposição, pelos EUA, de tarifas adicionais sobre produtos
industrializados importados da China com o objetivo de reduzir o déficit de sua
balança comercial e limitar o progresso econômico e tecnológico chinês. Atualmente,
a “guerra comercial” ganhou novos contornos com a política norte-americana de
controlar o acesso chinês às tecnologias e cadeia de produção de modernos
semicondutores.

Contudo, a paralização da economia mundial durante a crise da COVID-19


desestruturou as complexas cadeias logísticas de suprimentos e expôs a
vulnerabilidade estratégica norte-americana decorrente da grande dependência
econômica em relação à China. Em contraposição, o presidente Joe Biden assinou
decreto em fevereiro de 2021, com objetivos de estimular a indústria norte-
americana (indústria 4.0) e diversificar as cadeias de fornecimento na Ásia e na
América Latina. Os setores considerados estratégicos são: defesa, saúde pública e
biotecnologia, tecnologia de telecomunicações, energia, transporte e produção de
alimentos e produtos agrícolas.

Nesse sentido, há tendência de mudança na arquitetura produtiva mundial,


com a diversificação das cadeias de suprimento global e repatriação de fábricas da
China para os EUA, países aliados e países menos hostis.

19. IMIGRAÇÃO, COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO E SEGREGAÇÃO NOS EUA

A diversidade étnica é um dos principais elementos que compõem a ideologia


da formação da Nação norte-americana. Na prática, porém, a violência racial, a
discriminação e a segregação são elementos que marcam a sociedade do país. A
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maior diferença na composição da população está ligada às distintas origens entre


os imigrantes.

A maior parte dos imigrantes do começo do século XIX veio da Itália, Império
Áustro-Húngaro, Rússia, Canadá e Inglaterra. Na verdade, foram tantos os
imigrantes da Europa que o governo dos Estados Unidos não tabulou aqueles que
entraram no país vindos do México ou do Canadá até o ano de 1908. A partir da
década de 1920, o país recebeu um número significativo de imigrantes provenientes
do México, fluxo que mantém elevado até os dias atuais. Atualmente, além do
México, as Filipinas, a China e a Índia são os países de onde provem o maior
número de imigrantes para os Estados Unidos.

Existem diferentes regiões que são diretamente relacionadas à composição


da população. A distribuição geográfica dos grupos raciais e étnicos é importante
porque influencia o potencial para a interação econômica e social entre eles. De
acordo com as projeções de 1996 do U.S. Census Bureau, o oeste tinha a mais alta
concentração de minorias (36%), seguido do sul (30%), do nordeste (23%) e do
meio-oeste (15%). Os negros não-hispânicos se concentram mais ao sul, ao passo
que os asiáticos, os hispânicos e os indígenas no oeste.

A composição racial também varia dentro das cidades, divididas em áreas


centrais, subúrbios e áreas não-metropolitanas. Os hispânicos, os negros e os
asiáticos tendem a viver nas áreas centrais das cidades. Em 1996, mais da metade
da população de brancos não-hispânicos viviam nos subúrbios contra 48% dos
asiáticos, enquanto quase a metade da população indígena vivia fora das áreas
metropolitanas.

Muitas características demográficas afetam o status econômico e social,


influenciando nas diferenças do bem-estar social entre os cidadãos americanos. A
estrutura e a distribuição etária entre as famílias, mais particularmente o crescimento
da pobreza na infância, frequentemente tem sido associado ao aumento na
proporção de famílias que só possuem um dos parceiros do casal. Desde a década
de 1970, a fração de famílias mantidas por um único indivíduo (ou seja, um dos
elementos do casal) tem crescido em todos os grupos e atinge os seus índices mais
altos entre os negros (38%), indígenas (26%) e hispânicos (26%).
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Segundo U.S. Census Bureau (2008), as minorias, que em 2008 eram um


terço da população do país, passarão a ser a maioria em 2042. Mais da metade
dessa minoria em 2023 será composta por crianças.

Em 2008, o número de brancos não-hispânicos que respondiam por 66% da


população total, tenderá as quedas graduais nos decênios de 2030 e 2040, se
reduzindo a apenas 46% do total. Esta população também será a mais velha do que
a população como um todo. Enquanto isso, a perspectiva é de que população
hispânica duplique durante o período de 2008 – 2050, passando de 15% para 30%
do total populacional, os negros de 14% para 15%, a asiática de 5,1% para 9,1%.
Entre os demais grupos étnicos, índios americanos e nativos do Alasca projetam
aumentos de 4,9% (2008) para 8,6% (2050).

Outra informação importante divulgado pelo U.S. Census Bureau (2008), diz
respeito à diminuição da população economicamente ativa (a PEA considera a
população entre 18 e 64 anos). A PEA, que em 2008 era de 63%, segundo os
estudos, até 2050, será de 57%. Além disso, as minorias (hispânicos, negros e
asiáticos), que respondiam por 30% da PEA, em 2050 irão ser responsáveis por
50% da população economicamente ativa nos EUA.

As características relativas à distribuição e composição da população em


termos demográficos, faixa etária e diversidade étnica, refletem os desafios que se
colocam aos Estados Unidos hoje. Apesar da presença dos imigrantes desde o
início da colonização, a relação com eles passou por fases conflituosas, como a
atuação da Ku Klux Klan, contra negros e católicos; a histeria anti-germânica,
durante a I Guerra Mundial; e o confinamento de japoneses em campos de
concentração durante a II Guerra Mundial (Rua, 2001). Ainda no século XIX,
começaram os movimentos para fechar as portas do país às migrações, após 100
anos de “política de portas abertas”. Este fato demonstra o caráter ambíguo da
sociedade e do governo norte-americano com relação aos imigrantes, que por muito
tempo foram necessários ao desenvolvimento do país.

A última medida do governo norte-americano foi à construção do muro


fronteiriço entre os Estados Unidos e o México. O seu objetivo foi impedir a entrada
de imigrantes ilegais, mexicanos e centro-americanos, provenientes da fronteira sul,
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em território dos Estados Unidos. A sua construção teve início em 1994, com o
programa anti-imigração ilegal conhecido como “Operação Guardião” (Operation
Gatekeeper).

Entretanto, somente impedir a entrada de novos imigrantes não garante que


questões como o desemprego e a violência sejam resolvidas. Apesar da relativa
prosperidade dos últimos anos, ainda há muita desigualdade social no país. Entre os
pobres, grande parcela é composta por hispânicos e negros.
CP/CAEM EUA: Uma Grande Potência Mundial 17

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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industrialização da superpotência. In: ______.Geografia: volume único. São Paulo:
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Henrique Altemani; LESSA, Antônio Carlos (Org). Política internacional
contemporânea: mundo em transformação. São Paulo: Saraiva, 2006. p.31-44.

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