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Partimos da suposição que o uso de fontes no ensino de história pode ser uma estratégia
adequada e produtiva para ensinar história a indivíduos que não tem como objetivo se tornar
historiadores, mas para os quais o conhecimento da história pode fazer muita diferença na
compreensão do mundo em que vivem e, portanto, na construção de seus projetos de vida.
(PEREIRA; SEFFNER, 2008, p. 114)
Desse modo, o ensino de história nas escolas deve tratar de levar as novas
gerações a conhecerem suas próprias identidades, a construir relações de
pertencimento no presente a um grupo ou luta coletiva. Ainda segundo Pereira e
Seffner na escola, o ensino de história coloca os estudantes diante das
representações que as gerações anteriores criaram deles mesmos e os estimula a
elaborar a crítica das representações que elaboramos sobre nosso próprio passado,
isto é, deve formar cidadãos capazes de historicizar a própria vida. Além disso, é o
professor de história que deve discutir as diferenças entre os diversos discursos que
se propõe a “recriar o passado”, bem como as especificidades de cada uma das
fontes utilizadas para a construção do discurso da história. Nesse sentido, “o alvo
principal do ensino de história na escola é a construção da compreensão de que
estudar esta disciplina é uma ação social que se dá no presente” (PEREIRA;
SEFFNER, 2008, p. 119-120). Assim, a sala de aula de história está mais propícia a
ter discussões sobre a representações do passado vinculados pela grande mídia e é
o professor de história que deve apresentar para os alunos as problemáticas acerca
dessas representações historiográficas.
A quarta e última parte do texto, intitulada As fontes na sala de aula de
História, demonstra o papel das fontes na produção do conhecimento histórico e a
maneira como estas devem ser utilizadas em sala de aula. Dessa forma, os autores
problematizam o uso das fontes em sala de aula, que são, geralmente, utilizadas
como ilustração e prova dos argumentos e descrições da história. Como se o fato
das fontes existirem provassem aquele acontecimento como verdade absoluta. Essa
tendência é marcada por resquícios do positivismo. Quando o professor utiliza as
fontes dessa maneira, ele perde a oportunidade de ensinar aos alunos o papel que
as fontes assumem no interior de cada geração e de cada uso determinado a ela.
Assim, os autores determinam a fonte como uma disposição teórica
pedagógica dos professores, não como uma “obrigação”, visto que de nada adianta
o uso de fontes se não se sabe os fundamentos ou a importância dessa
metodologia. Conforme Pereira e Seffner (2008, p. 125), “a vã tentativa de coincidir
relato e realidade” não pode continuar tendo lugar na produção historiográfica e
muito menos na sala de aula. Ao levar fontes para a sala de aula, é necessário
saber como trabalhá-las com os alunos e não utilizá-las somente como forma de
fundamentar o discurso do professor. Na verdade, eles apontam que o uso de fontes
históricas deve servir para “suspender o caráter de prova que os documentos
assumem desde a história tradicional” (2008, p. 125) e mostrar às gerações a
complexidade da construção do conhecimento histórico. Isto é, o uso das fontes em
sala de aula só se torna produtivo se os estudantes conseguirem compreender os
porquês delas serem importantes para a História. Por isso, “ensinamos os
estudantes a ler o relato histórico e ensinamos a ler as representações sobre o
passado que circulam na sua sociedade” (2008, p. 126). O importante é que os
alunos percebam que os historiadores produzem conhecimento sobre o passado
com base nas fontes disponíveis. O que os autores defendem é que o estudante
seja capaz de reconhecer na História uma ciência, com limites e possibilidades; que
seja capaz de desconfiar do documento e percebê-lo como uma construção de
determinado tempo: “é profícuo, na medida que se apresenta às novas gerações a
complexidade da construção do conhecimento histórico e tira do documento o
caráter da prova, desloca o estudante da noção de verdade que utiliza no cotidiano
e, sobretudo, permite abordar o relato histórico como uma interpretação.” (PEREIRA;
SEFFNER, 2008, p.127).
Ao analisar o texto de Pereira e Seffner é possível perceber que os autores
trazem reflexões bastante pertinentes a respeito da fonte histórica e o seu uso na
sala de aula. Nesse sentido, constata-se que o uso de evidências e vestígios
históricos na educação básica é imprescindível em sala de aula, desde que o
professor tenha uma metodologia definida de como trabalhar com essas fontes e
não utilizá-las apenas para provar seus pontos. Ou seja, é necessário que o aluno
tenha autonomia no manejo das fontes e compreenda que elas são representações
do passado deixadas por indivíduos que viveram nesse passado, não detentoras de
verdade absoluta. As fontes devem ser utilizadas como forma de complementar o
ensino e ajudar aos estudantes a perceber como o conhecimento histórico é
construído, ao mesmo tempo que, nesse processo, devem captar, também, como as
identidades se constroem.