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Riegl reunia em uma única figura as funções antagônicas atribuídas à universidade (teoria) e ao
museu (conhecimento direto das obras de arte).
“Se não existe um valor artístico eterno, isso significa que a avaliação do monumento não
repousa na memória e sim em valores presentes, que deverão ser levados em conta na definição
de uma política de preservação.” (p.12)
“No primeiro caso [produções intencionais; monumentos], o valor de memória nos é outorgado
pelo autor; no segundo [produções não intencionais; monumentos históricos], ele é atribuído por
nós.” (p.12)
Defende a manutenção das alterações ocorridas ao longo do tempo, mesmo com alteração da
forma original e em detrimento da pureza de estilo.
“O que resta de seu legado nos dias de hoje? A ideia de que toda intervenção em um monumento
não pode prescindir de um juízo crítico, já que o restauro caracteriza-se por ser uma ação
sociocultural, a requerer uma ‘investigação preliminar sobre a natureza daquilo que se conserva,
a fim de detectar, na vasta gama das preexistências, os papéis específicos e as vocações de cada
uma delas’.” (p.20)
Monumento: “obra criada pela mão do homem e elaborada com o objetivo determinante de
manter sempre presente na consciência das gerações futuras algumas ações humanas ou destinos
(ou a combinação de ambos).” (p.31)
Monumentos volíveis (valor de memória outorgado pelo autor) x Monumentos não-volíveis
(valor de memória outorgado por nós)
[mesma distinção que Françoise Choay faz entre monumento e monumento histórico]
Valor histórico: “aquilo que foi não poderá voltar a ser nunca mais e tudo o que foi forma o elo
insubstituível e irremovível de uma corrente de evolução ou, em outras palavras, tudo que tem
um sequência, supõe um antecedente e não poderia ter acontecido da forma como aconteceu se
não tivesse sido antecedido por aquele elo anterior. O ponto-chave de todo conceito histórico
moderno é formado pela noção de evolução.” (p.32)
O valor de arte não é absoluto, é sempre relativo, medido pelo modo como atende às exigências
do querer da arte moderno (p.35)
“Se não existe um valor de arte eterno, mas apenas um relativo, moderno, o valor da arte de um
monumento não é mais um valor de memória, mas um valor de atualidade.” (p.35-36)
Século XV, na Itália: surgimento de um novo valor de memória; início da apreciação dos
munumentos da Antiguidade, não mais apenas pelas lembranças patrióticas do poderio e da
grandeza do antigo Império [...], mas pelo seu valor de arte e valor histórico. (p.40). “Pela
primeira vez, os homens reconhecem os pioneiros estágios da sua própria atividade artística,
cultural e política em obras e ações das quais estão separados por mais de mil anos. (p.41) O
passado adquiriu um valor de atualidade para a vida moderna e para o trabalho. (p.41) O
interesse era restrito unicamente aos feitos da Antiguidade, que os italianos da Renascença
consideravam seus ancestrais (desprezo pela Idade Média).
“Pode-se afirmar com justeza que a partir da Renascença italiana - como despertar consciente da
apreciação dos monumentos antigos, e com a aplicação de medidas para a sua proteção -
iniciou-se a verdadeira preservação dos monumentos, no sentido moderno da palavra.” (p.42)
“Se o século XIX foi o século do valor histórico, o século XX parece ser o do valor de
antiguidade.” (p.44-45)
Valores de memória:
Valor de antiguidade
Valor histórico
Valor volível de memória ou de comemoração
Valores de atualidade:
Valor utilitário ou valor de uso
Valor de arte
Valor de novidade
Valor de arte relativo
Valor de Antiguidade
Em um primeiro momento, apresenta-se pelo aspecto inatual de um monumento.
“uma casa recém-construída, com o revestimento desmoronando ou oxidando, perturba o
observador, que exige de uma casa nova uma perfeição no acabamento da forma e da
policromia.” (p.50) [valor de novidade]
“A falta de unidade de obras modernas nos desagradará, e é por isso que não construímos ruínas,
a não ser para falsificá-las, e uma casa recém-construída, com o revestimento desmoronando ou
oxidando, perturba o observador, que exige de uma casa nova uma perfeição no acabamento da
forma e da policromia. Naquilo que foi criado novo, os sinais de ruína não agem de forma
expressiva, mas de forma irritante.” (p.50)
“Em uma obra recente feita pela mão do homem, os fenômenos do decurso desagregador
(decaimento prematuro) nos incomodam tanto quanto em uma obra antiga os fenômenos da
gênese recente (restaurações que dão na vista).(p.51)
“Toda obra passa a ser entendida como um organismo natural, cuja evolução ninguém deve
contrariar. O organismo deve desenvolver-se livremente, cabendo ao homem protegê-lo da morte
prematura.” (p.51) - ciclo de criação e desagregação
“Porém, esse processo tem o seu limite; pois quando seu progresso é total não resta mais
substrato para intensificar esse efeito. Um monte disforme de pedras não é suficiente para dar ao
espectador o valor de antiguidade; deve haver pelo menos algum traço da forma original, da obra
humana da gênese passada, pois uma pilha de pedras não representa nada além de fragmentos
mortos, disformes, sem nenhum vestígio de uma criação viva.” (p.53)
Valor de antiguidade pode ser partilhado por todos e ter validade para todos, sem exceção (p.54)
Valor Histórico
Valor histórico “resulta, para nós, do fato de representar um estágio evolutivo individual de um
domínio qualquer da atividade humana”. (p.55)
Ao valor histórico não interessam os traços de degradação da natureza, mas sua criação original
como obra humana. (p.55) Para o valor histórico, não interessa conservar os traços da idade, mas
de conservar um documento, o mais autêntico possível [deter o curso da evolução natural], para
uma futura atividade de restituição histórico-artística (p.56). [conflito entre valor de antiguidade
e valor histórico]
[Solução do conflito:] “no caso em que o valor histórico, documentário, do monumento tiver
pouca importância, seu valor de antiguidade aparecerá mais fortemente, e a conservação do
documento deve corresponder às suas exigências.” (p.60)
O valor intencional de comemoração tem “o objetivo de, desde a ereção do monumento, nunca
deixar, de certa, forma, que um momento faça parte do passado, permitindo que permaneça na
consciência das gerações futuras, sempre presente e vivo”. (p.63)
Um edifício antigo, ainda em uso, “tem de ser conservado em estado tal que possa alojar as
pessoas, sem pôr em risco suas vidas e saúde” (p.66).
“É necessário considerar que o valor de bem-estar físico das pessoas é superior, sem nenhuma
dúvida, às necessidades ideais do culto de antiguidade.” (p.67)
Valor utilitário está aparentemente em conflito com valor de antiguidade, mas, “para o valor de
antiguidade, o uso prático e contínuo de um monumento é seu significado mais importante e,
muitas vezes, indispensável” (p.69).
Valor de Arte
Valor de novidade
“A integralidade daquilo que é novo e recém-surgido, que se caracteriza pelos critérios mais
simples, como forma inalterada e policromia pura, pode ser apreciada por todos, mesmo por
aqueles de pouca cultura. Por esse motivo, o valor de novidade sempre foi o valor de arte das
grandes massas com pouca cultura, ao passo que o valor de arte relativo, ao menos desde o início
dos tempo modernos, foi apreciado somente por aqueles que dominavam uma cultura estética. A
massa sempre apreciou o que obviamente parecia novo. Ela prefere enxergar nas obras humanas
a força criativa e vencedora do homem, ao invés da força destruidora e inimiga da natureza.
Apenas o novo é íntegro e belo, segundo a visão da multidão; aquilo que está velho,
fragmentado, descolorido é feio.” (p.71)
“Tratando-se de monumentos que não possuem mais valor utilitário, o valor de antiguidade
conseguiu, em grande parte, impor os seus princípios de conservação dos monumentos. O
contrário ocorre quando entram em jogo ao mesmo tempo as exigências do valor utilitário, pois
tudo aquilo que está em uso deve, aos olhos da grande maioria, apresentar-se jovem e forte,
apagados os traços da idade, da decomposição, do fraquejar das forças.” (p.72)
Edifícios civis: “Imaginemos, por exemplo, de que forma o abandono de um castelo de alta
nobreza ou de um sofisticado palácio de governo, degradado ou sujo, poderia afetar a imagem do
seu proprietário aos olhos do povo.” (p.72)
“Para obras recentes, esse direito [ à existência do valor de novidade] é não somente reconhecido
como até reivindicado com mais firmeza do que há algumas décadas.” (p.73)
“O ponto de vista moderno exige para as obras novas não apenas uma integralidade perfeita de
forma e cor, mas também no que se refere ao estilo, ou seja, as obras modernas, na concepção e
no tratamento dos detalhes de forma e cor, devem lembrar o menos possível aquelas do passado.”
(p.73)
“Ao valor utilitário se vincula esteticamente o valor de novidade. Pelo menos no seu estágio de
evolução atual, o culto de antiguidade deve abrir espaço, em certa medida e no caso de obras
modernas e ainda com possibilidades de uso, ao valor de novidade.” (p.74)
As obras das gerações anteriores podem “ser apreciadas em relação à especificidade da sua
concepção, forma e cor” (p.80).